Ìíîãî ìîë÷èò â ìîåé ïàìÿòè íåæíîãî… Äåòñòâî îòêëèêíåòñÿ ãîëîñîì Áðåæíåâà… Ìèã… ìîë÷àëèâûé, òû ìîé, èñòóêàíèùå… Ïðîâîçãëàñèò,- äàðàõèå òàâàðèùùè… Ñòàíåò ñåêóíäîé, ìèíóòîþ, ãîäîì ëè… Ãðîõíåò êóðàíòàìè, âûñòóïèò ïîòîì è… ×åðåç ñàëþòû… Óðà òðîåêðàòíîå… ß ïîêà÷óñÿ äîðîãîé îáðàòíîþ. Ìÿ÷èêîì, ëåíòî÷êîé, êîòèêîì, ï¸ñèêîì… Êàëåéäîñêîïîì çàêðÓæèò êîë¸ñèêî,

ANTIAMERICA

ANTIAMERICA T. K. Falco Alanna Blake ? uma adolescente em fuga que se iguala a um grupo extremista de hackers em ANTIAMERICA. Dispon?vel em ebook, audiolivro e livro de bolso. AntiAmerica situa-se no centro do maior levante anarquista dos Estados Unidos em 100 anos. Quando o grupo hacktivista AntiAmerica invade os maiores bancos do pa?s, o setor financeiro fica ? beira do colapso. A pirata inform?tica e adolescente em fuga Alanna Blake ? recrutada ? for?a pelo governo para rastrear o ?nico link com a AntiAmerica, o seu ex-namorado desaparecido Javier. Ela confia em cada peda?o da sua ast?cia de engenheira social para navegar numa conspira??o de mentiras e enganos, que p?e em perigo a vida de todos os que lhe s?o mais pr?ximos e os segredos de um passado que anseia manter a sete chaves para sempre. AntiAmerica ?ndice 1. Engenharia Social (#u4d3031c7-9172-57a3-a931-85d236906e98) 2. Phishing (#uc5f06243-1949-5f70-bfca-4b6f76b90e5e) 3. Drogas (#u3772cc6e-c94c-50ac-a50f-9d2ba836190b) 4. Falsifica??o (#u36fe66c7-c42f-54f7-a80e-cb8645f8dfb2) 5. Smishing (#u3e0fcd09-5b0b-50fc-95a0-cb066b0d7965) 6. Linguagem Corporal (#ua77c8d76-f301-55ed-8c75-b1499ffc4782) 7. Sexo (#u2d193101-2d62-5e4b-bd33-c785469a972e) 8. Shoulder Surfing (#u89f02522-0479-571b-bd3b-ac92561015c0) 9. Fraudes (#u47dcd159-bb29-5cd5-a1eb-12509260315a) 10. Isca (#u96fb322f-61f5-5ad5-8d4a-145d22a35f3f) 11. Pretexto (#u1af648a3-d712-5928-8bea-17d86659231e) 12. Doxxing (#u5703d7ed-d2aa-5a30-8ae1-5abd7af6c872) 13. Coisas t?cnicas (#uf9e9f955-6d83-5d6f-9bcb-2b3dbbeb2b49) 14. Vasculhar na lixeira (#u9c3747f5-5958-59a1-8584-786172940c8a) 15. Vishing (#u914a0262-db3f-5c86-a633-98a305fcef00) 16. Quid Pro Quo (#u71c87275-e25d-5ef5-bab7-828b3a3641e0) 17. Personifica??o (#uad23e77d-4134-5787-982c-89d53cb0417f) 18. Engenharia Social Reversa (#u9ac3a2cc-e3c2-5159-92f9-b3cf9e70992d) 19. Roubo de Desvio (#u861f41c2-2ea1-56c0-bf5c-8d741cd7cc85) 20. Tailgating (#u3eeae307-8ccc-522e-b805-890b4aad5431) 21. Baleeiro (#u7f8ff18b-20d4-5a74-a157-43da774c9772) 22. Ep?logo (#u1c9cf974-8a03-5976-966b-6b3943b0ac7e) Notas (#u3f42d1df-6d4e-5699-99e4-df65a7be1a7e) 1 Engenharia Social Alanna n?o gostava de enganar o seu melhor amigo. Mesmo quando n?o conseguia livrar-se da sensa??o de que ele lhe escondia segredos. Ela espiou Brayden do banco do passageiro. Ele permaneceu calado enquanto conduzia o seu Kia Soul pelas ruas encharcadas da chuva da US1. Por baixo das grossas mechas de rastas penduradas sobre o seu ombro, a sua tatuagem de caracteres chineses era vis?vel atrav?s da sua camisola verde. Uma refer?ncia ao seu quarto de chin?s do lado paterno. Quando pegaram num peda?o de comida no Pollo Tropical fora da Bird Road, ela questionou porque ? que ningu?m vira ou ouvira falar de Javier na semana passada. Os dois eram muitos unidos desde a inf?ncia. Se algu?m sabia o motivo do seu desaparecimento, era Brayden. Mas ele alegou o contr?rio e passou o resto da refei??o a mastigar bocados da sua sandes de frango em completo sil?ncio. Ele n?o era nem metade da mentirosa talentosa que ela era. Quando ela o assediou para que parasse no apartamento de Javier, ele aceitou a sua desculpa ? letra: ela estava preocupada em saber se Javier estava bem. Falhou em revelar a sua verdadeira motiva??o por tr?s do desvio. Se Brayden estava a esconder a verdade, ela tamb?m o faria. Quando entraram na Brickell Avenue, ela resistiu ao impulso de verificar o seu iPhone pela cent?sima vez. Depois da mensagem de ontem de Javier, mal conseguiu dormir na noite anterior. Brayden estacionou em frente ao arranha-c?us. Enquanto ele pegava no telem?vel para ligar a Javier, ela olhou para o exterior de vidro frio do edif?cio. “Voice-mail,” disse ele com o seu forte sotaque jamaicano. “J? me podes ouvir? Algo n?o bate certo. Tenho a certeza.” “Est?s a exagerar,” disse ele com o telefone ao ouvido. “Surpreende-me que, durante este tempo em que namoraram, nunca lhe tenhas feito phishing… como fazes com toda a gente. Isso ter-nos-ia poupado a viagem.” Ela lan?ou um olhar amea?ador a Brayden. Ele descarregara mais tretas nela do que qualquer outra pessoa devido aos seus esquemas. N?o que ele tivesse moral para falar. De acordo com Javier, ele e os seus amigos hacktivistas haviam outrora invadido o site do IRS. Ele autodenominou-se hacker de chap?u cinzento. O termo pouco significava para ela. O seu mundo era a preto ou branco sem nada no meio. Ambos eram criminosos. Dar as melhores voltas na vida n?o apagava o passado. Para nenhum dos dois. Ap?s deixar uma mensagem a dizer que estavam c? fora, ele passou a m?o direita pela barriga dela para lhe abrir a porta. “Vou estacionar na pr?xima rua. N?o demores.” O objetivo de traz?-lo aqui era para que ela n?o subisse sozinha para o apartamento. “N?o vais subir comigo?” “Para qu?? Se ele n?o atende ? porque n?o est? ou n?o quer que ningu?m o incomode.” “Sobe comigo. N?o demora nada.” As rastas dele ca?ram quando ele baixou a cabe?a. “Tenho de arranjar um lugar para estacionar. Al?m disso, n?o percebo para qu? tanto alarido. J? sabes como ele ?. Deve estar em modo de hack profundo a trabalhar em alguma recompensa por dete??o de bugs.” Ela esfregou a nuca. Em circunst?ncias normais, Brayden teria raz?o sobre Javier estar possivelmente agarrado ? sua ?tica hacker, mas n?o agora, com tanto mist?rio a rondar a sua aus?ncia. Os seus amigos da faculdade n?o tinham not?cias suas h? dias. Disseram que ele faltou ?s aulas a semana toda. Ele n?o era do tipo que desaparecia de uma hora para a outra. Se precisasse fugir da cidade para uma emerg?ncia, teria contado a algu?m. “N?o est?s nem um pouco preocupado?” “Pffft. O rapaz sempre teve o ju?zo. Se estivesse a roubar pessoas cegas como tu, eu preocupar-me-ia.” “Como queiras. Espera no carro.” “N?o entres sorrateiramente na casa de algum velho para lhe roubares o dinheiro e as joias.” Alanna saiu para o calor sufocante sem reconhecer a sua piada. O carro cor de laranja dele prosseguiu at? ao sinal de stop. Ap?s v?-lo virar ? esquerda no cruzamento, ela seguiu para a entrada da porta girat?ria. Ela n?o roubou o dinheiro das pessoas. Apenas os seus dados pessoais. Registos de identidade e financeiros. N?meros dos cart?es de cr?dito. ID e passwords. Relat?rios m?dicos. Peda?os de informa??o com cifr?es anexados. Obteve os dados da mesma forma que pretendia passar pelo seguran?a que estava sentado a meio da entrada — engenharia social. Pirateando pessoas. Uma das muitas habilidades que o seu pai lhe passou. Ele n?o lhe dava grande utilidade como hacker de chap?u branco, por isso instruiu-lhe apenas o b?sico. O resto ela aprendeu sozinha enquanto sobrevivia como uma solit?ria em fuga em Miami. Enquanto Alanna atravessava o ch?o de m?rmore brilhante, o seguran?a permanecia curvado atr?s da rece??o. Ela aproximou-se mais do lado dele da rece??o circular, e em seguida, lan?ou um olhar na sua dire??o. Os olhos do seguran?a estavam grudados no v?deo de um protesto anarquista transmitido no seu smartphone. Ela espreitou uma vez mais o seu iPhone. N?o havia mensagens novas. Ap?s bater com a ponta dos dedos no balc?o por v?rios segundos, ela pigarreou de forma aud?vel. O jovem na casa dos vinte e bem-vestido olhou para ela boquiaberto atrav?s da sua cadeira de couro. Ap?s examin?-la, ajeitou a gola da sua camisa polo branca. At? que enfim: um p?blico cativo. “Quero alugar um est?dio. Posso falar com algu?m da imobili?ria?” “Tem marca??o?” “N?o. Eu andava a ver outros apartamentos na ?rea e pensei vir dar uma vista de olhos. Pode ser?” Enquanto ele procurava uma resposta, ela deu um sorriso radiante e piscou os c?lios. Ele devolveu o sorriso, colocou uma folha de papel e uma caneta no balc?o e instruiu-a a assinar. Quando ela preencheu “Alanna Blake” e a hora na linha superior, o seguran?a levantou-se da cadeira e encaminhou-se para o elevador. Ap?s pressionar o chaveiro contra um bloco preto na parede, ele pressionou o bot?o para subir que estava por baixo. Semicerrou os olhos quando voltou a sua aten??o para ela. Os bra?os dela ficaram r?gidos. T?-la-ia reconhecido? Ela reparara nele atr?s da secret?ria na sua ?ltima visita. Ele parecia prestar-lhe pouca aten??o com Javier l? para escolt?-la. Quando ainda estavam juntos. Ela reconheceu brevemente o seu olhar antes de se virar para os elevadores. Seria melhor para ela se n?o exagerasse. Muitos tipos ficavam de boca aberta. Ou faziam coment?rios sobre a sua apar?ncia. Ela perdeu a conta de quantas vezes surgiu a palavra ex?tica. A forma educada de dizer que n?o conseguiam adivinhar a sua etnia. De todas as vezes que a pergunta surgiu, ningu?m jamais adivinhou que ela era irlandesa-malaia sem que ela divulgasse a resposta. As sobrancelhas dele se ergueram quando deu um passo para tr?s em dire??o ? secret?ria. “A imobili?ria fica no piso superior. D?cimo segundo andar. Basta atravessar a piscina para chegar ao escrit?rio. Eles responder?o ?s suas perguntas.” No elevador, ela apertou os bot?es doze e tr?s… o andar de Javier. O seu pequeno truque funcionou. N?vel de dificuldade na sua escala de engenharia social? Um dois. Sem necessidade de grandes habilidades. Apenas umas mentirinhas e um sorriso sedutor. O sangue de Alanna ainda bombeava. Preferia manipular os seus alvos por telefone ou e-mail, em vez de cara a cara. Ap?s dar uma ?ltima olhadela ao seu iPhone, escondeu-o na sua bolsa de couro preta. Desde a manh? de ontem que se agarrara ? esperan?a de que Javier lhe responderia. Ele nunca respondeu ?s suas mensagens de voz de acompanhamento… ou ?s suas mensagens e e-mails. Tudo acionado pelo sinal de socorro vermelho a piscar numa mensagem que ele enviara para o iPhone dela: “Alanna. Estou metido em sarilhos. Vem ter comigo.” Sem quaisquer pormenores. A sua imagina??o hiperativa era uma loucura. Manteve Brayden no escuro porque a mensagem estava dirigida exclusivamente a si. J? para n?o falar de que ele havia permanecido calado sobre qualquer coisa que estivesse relacionada com Javier desde que a sua separa??o a deixou sem vontade de compartilhar. Quando as portas do elevador se abriram, ela caminhou agilmente at? ao apartamento dele. O edif?cio estava projetado para parecer moderno… n?o aconchegante. Era bem melhor que o seu covil em Olympia Heights. Mas muito mais assustador. At? hoje, ela nunca passara por este corredor sozinha. Estava mais consciente dos ecos dos seus passos ao baterem no ch?o de cer?mica fosca. A sua sombra tomava conta das paredes em tom bege. Com a luz do teto queimada, as paredes pareciam aproximar-se. Ao chegar ? porta de Javier, bateu com os n?s dos dedos na moldura de metal branca. Ningu?m respondeu. Bateu mais duas vezes antes de colocar o ouvido na porta. Sil?ncio. Descansou a testa contra a superf?cie fria da porta. Durante seis semanas, Alanna n?o fazia ideia de como poderia ter afastado Javier. Ou, porque ? que ap?s dois anos ele acabara com o relacionamento de ambos e cortara todo o contacto com ela. Ela n?o podia afastar-se agora. Pressionou a ma?aneta. Trancado. Enquanto os seus dedos permaneceram em volta do lat?o frio, os seus l?bios se curvaram num sorriso malicioso. A grande vantagem de escolher a engenharia social como o seu sustento era poder desfrutar da liberdade de vagar por onde quisesse… quer fosse online ou no mundo real. As portas s? se mantiveram fechadas porque ela deixou. Enfiou a m?o no bolso de tr?s das cal?as de ganga para tirar a sua gazua e a chave de tor??o. Estava na hora de obter respostas. Enquanto puxava o casaco com capuz cinzento-escuro sobre a cabe?a, pressionou o torso contra a porta. Espiou o corredor enquanto enfiava a gazua e a chave de tor??o na fechadura da porta. Arriscava uma chamada para o 112 e um compromisso com o banco de tr?s de um carro da pol?cia de Miami. Anos atr?s, ela fez uma promessa ao pai. Deixar-se ser presa quebraria essa promessa. N?o tinha inten??o de deixar isso acontecer. Parou para afastar a franja tingida de vermelho da frente dos olhos. Cada pequena distra??o perturbava-a. As batidas no seu peito. A sensa??o de formigamento da cabe?a aos p?s. Os pensamentos de Javier inundaram o seu c?rebro. Ela lembrou-se das palavras do seu pai. Fecha os olhos. Respira fundo. Ignora o que te rodeia. Levanta as p?lpebras. Destranca esta porta. Ela tinha seis anos quando ele lhe forneceu as ferramentas para abrir fechaduras e as instru??es para us?-las. Sondar o buraco da fechadura com a gazua at? que a ponta afiada encoste na cabe?a de um pino de bloqueio. Empurrar a gazua para cima com a chave de tor??o at? que o pino se encaixe no lugar. Fazer o mesmo com os pinos de bloqueio restantes. Em seguida, girar a ma?aneta da porta e dizer as palavras m?gicas abre-te s?samo. Ela colocou as ferramentas no bolso e apressou-se a entrar. O apartamento estava escuro como breu. As cortinas estavam fechadas. Alanna ficou na porta, permitindo que os seus olhos se ajustassem. Tirou o capuz da cabe?a. O ar condicionado estava desligado h? algum tempo. Tateou a parede at? que as pontas dos dedos tocaram o pl?stico. Ap?s acionar o interruptor da luz, correu em dire??o ? l?mpada bruxuleante ao lado do sof? cinzento. A cozinha e a sala de estar estavam em total desordem. As gavetas e arm?rios abertos. Roupas, pap?is e livros espalhados pelo ch?o de madeira. Um pressentimento atingiu o seu intestino. Javier jamais deixaria o seu apartamento nestas condi??es. Cerrou os punhos tr?mulos. N?o fazia ideia de quando esta carnificina acontecera. Pode ter sido uma quest?o de dias. Ou minutos. No ch?o da cozinha, havia um martelo entre as ferramentas. Ela arrancou-o do azulejo de lin?leo. Os seus dedos agarraram a al?a de borracha enquanto ela se arrastava at? ? parede, em seguida, deslizou de costas ao longo da sua superf?cie. Na porta do quarto, susteve a respira??o para evitar hiperventilar. Deixou-se l? ficar por um momento de olhos fechados antes de enfiar a cabe?a l? dentro com o martelo levantado no ar. Mais da parafern?lia de Javier havia sido espalhada pelo ch?o. Depois de uma exala??o profunda, descontraiu e examinou a ?rea em volta. Quem quer que tenha entrado aqui, n?o teve escr?pulos sobre desfazer cada cent?metro deste lugar. Ela nem queria imaginar que dano infligiriam a quem se intrometesse no seu caminho. O seu cora??o ficou acelerado. A mensagem de Javier. Os intrusos devem ter sido o problema do qual a alertou. Ela acendeu todas as luzes enquanto vasculhava cada canto do apartamento. Os arm?rios e a casa de banho haviam sido revirados. O monitor do computador estava virado para baixo sobre a mesa. Faltava o port?til e o desktop de Javier. N?o havia sangue, nem corpos. A vida ensinou-a a esperar o pior. Estava feliz por poder provar que pela primeira vez, os seus medos estavam errados. Pelo menos para j?. N?o ficaria descansada at? que tivesse a certeza de que ele estava s?o e salvo. Javier n?o deixou transparecer haver problemas da ?ltima vez que falaram, h? um m?s. Estava menos falador do que o normal, o que ela atribuiu ? separa??o na semana anterior. Quando ela lhe pediu uma explica??o, ele n?o deu uma resposta direta. Ela ligou-lhe de volta para exigir que ele lhe dissesse as raz?es na cara. As suas ?ltimas palavras antes de desligar: “Precisamos de uma pausa um do outro.” Ter? ele acabado com ela porque a sua vida estava em perigo? Ela colocou as m?os em volta do nariz. A situa??o era t?o surrealista. Ela ? que era a cibercriminosa. Javier era o hacker ?tico. A pessoa mais decente que ela conhecia. O problema deveria bater ? porta dela, n?o ? dele. Um bipe no seu iPhone f?-la sair do seu entorpecimento. Apenas uma mensagem de texto. Provavelmente de Brayden para saber se estava tudo bem… ou talvez fosse Javier. Ela enfiou o martelo debaixo da axila enquanto lutava para tirar o telefone da bolsa. Quando puxou a tela at? aos olhos, o identificador de chamadas listava o n?mero de Javier. A mensagem dizia: “Tenho de te contar o meu segredo, Alanna. Vem ter comigo.” O martelo deslizou para o cotovelo enquanto ela estremecia. Tinha inten??es de enviar uma mensagem de texto a Javier a perguntar o que diabos se passava… assim que sa?sse do pr?dio. Voltou a colocar o telefone na bolsa. Os intrusos podiam voltar. Mas ela n?o queria ir embora de m?os vazias. Faria mais uma passagem pelo apartamento em busca de alguma pista conectada ao paradeiro de Javier, ent?o depois iria embora. Uma varredura r?pida pela sala de estar foi infrut?fera. Enquanto vasculhava a desordem no quarto, por pouco evitou pisar num porta-retratos. Alanna puxou o retrato em formato oval para o rosto. Uma foto de fam?lia de Javier magro com um sorriso vazio ao lado dos seus pais e irm? mais nova. Ela acariciou o seu rosto com as pontas dos dedos antes de colocar a moldura na c?moda branca ao lado da cama. Deu outra olhadela ? sala, mas sem sorte. Nada nesta bagun?a oferecia qualquer resposta. Parou para impedir o tremor nas pernas. Estava na hora de bazar. Agora que tinha a certeza de que a vida de Javier estava em risco, poderia compartilhar tudo com Brayden. Talvez ele finalmente estivesse disposto a fazer o mesmo. Foi do quarto at? ? porta da frente, em seguida, apagou as luzes antes de sair do apartamento. Alanna correu pelo corredor vazio. O elevador mais pr?ximo estava a v?rios metros de dist?ncia quando o seu ding estridente a fez parar. Saiu um tipo careca que vestia um fato escuro e feito como se pertencesse a uma arena de luta livre profissional. No momento em que ele voltou a sua aten??o para ela, o seu queixo caiu. Enquanto ele ria, ela resistiu ao impulso de recuar. Ela inclinou a cabe?a enquanto tentava parecer educada e composta. “Ol?.” Ele acenou com a m?o direita. “N?o saia da?. N?o se mexa.” Os m?sculos dela endureceram. O seu reflexo inicial foi obedecer ao seu comando. Mas o seu bom-senso falou mais alto. Correu na dire??o oposta. “Eu disse 'n?o se mexa'!” Ele gritou. Quando ela alcan?ou o sinal de sa?da vermelho, abriu a porta. Agarrou-se ao corrim?o enquanto descia as escadas a correr. A porta a fechar-se acima dela cortou os sons de p?s a bater e gritos no corredor. No momento em que o seu perseguidor entrou na escada, ela estava a descer o ?ltimo lan?o de escadas. Quando ela atingiu o andar de baixo, disparou pela porta em frente. Uma rajada de ar h?mido percorreu o seu rosto enquanto corria para o estacionamento. A entrada do ve?culo estava localizada na extremidade oposta. Fez um caminho mais curto em dire??o ? porta de sa?da ? sua direita. Quando girou a ma?aneta, esta cedeu meros cent?metros. Algo foi empurrado contra ela do outro lado. Ela recuou alguns passos antes de bater com for?a na porta com o ombro. L? fora, uma mulher com um rabo-de-cavalo loiro, camisa social branca e cal?as escuras recuperava o equil?brio. A mulher olhou para ela, como se tamb?m quisesse apanh?-la. Alanna precisava agir depressa, antes que o careca a alcan?asse. O rabo-de-cavalo abriu-se quando ela esticou o bra?o direito. Ela sabia o que ela estava a pensar. "Nem penses nisso." Tarde demais. Alanna investiu contra ela, atirando-a para a grama. Enquanto ela corria em dire??o ao concreto adjacente, a mulher rugiu de frustra??o. Alanna seguiu a fileira de palmeiras em frente ? marina ? sua esquerda at? a frente do pr?dio. Esta se??o de Brickell consistia em arranha-c?us e concreto de frente para a ba?a. Pouco tr?nsito na estrada. Sem pessoas na cal?ada. Estava a c?u aberto. O Kia de Brayden estava a um quarteir?o de onde ela estava. Virou ? direita na esquina, correndo a toda a velocidade com um sorriso nos l?bios. A adrenalina a aumentar. No cruzamento, a sua cabe?a girou em dire??o ? rua transversal. Uma van azul acelerava pela estrada alguns quarteir?es ? frente. A rua onde Brayden estacionara encarou-a. Se ela corresse para o carro, eles poderiam sair de l? no minuto seguinte. Mas ela n?o conseguiu. Suponha que os seus perseguidores eram pol?cias ou federais. Nem pensar que o arrastaria para esta trapalhada. Ela olhou em frente e continuou a correr na mesma dire??o de antes. Quando Alanna olhou para tr?s, viu o tipo careca passar a correr por um rabo-de-cavalo em p?. Ela precisava de um lugar para se esconder. Na rua seguinte, um estacionamento vazio e um restaurante fechado estavam ? sua direita e um arranha-c?us e um beco sem sa?da ? sua esquerda. Mais ruas abertas em frente. Ela correu em dire??o ao estacionamento, na esperan?a de encontrar alguma cobertura al?m do restaurante. Ap?s virar a esquina, parou para limpar o suor da testa. Ao longo da lateral havia uma parede de madeira branca muito alta para escalar. Do outro lado, grandes ?rvores e um pr?dio de tijolos castanhos. Atirou as suas ferramentas de abrir fechaduras para a ?rvore mais pr?xima. Eram a evid?ncia da invas?o, que poderia ser usada para incrimin?-la. Assim que as suas preciosas recorda??es desapareceram por entre as folhas, ela cerrou os dentes e retomou a fuga. Cortou caminho pelo asfalto. O barulho de passos a aproximar-se dos seus calcanhares. Estava a meio do caminho para o restaurante quando come?ou a perder o f?lego. Os seus pulm?es em chamas a for?aram a abrandar. Momentos depois, ela foi arrastada por uns bra?os poderosos que rodeavam a sua cintura. O seu corpo bateu com for?a contra o estacionamento. Todo o seu lado direito latejava de dor. O pavimento raspou contra a sua bochecha enquanto ela ofegava por ar. O seu agressor levantou-a. As costelas partidas, a perna e o cotovelo arranhados fizeram-na estremecer ao erguer o est?mago do ch?o. Quando girou a cabe?a para cima, o careca colocou o joelho nas suas costas. Ela entrou em colapso sob a for?a absoluta. Ap?s permanecer de bru?os e gemer alto por alguns momentos, ela levantou-se mais uma vez. O peso dele puxou-a para baixo at? que o seu corpo estivesse espalhado. Pessoas gritaram atr?s deles. Toda a sua esperan?a morreu ao ver a rabo-de-cavalo e outros dois tipos a correr na sua dire??o. O mundo inteiro come?ava a fechar-se. “Saia de cima de mim!” ela gritou. Uma dor aguda atravessou o seu ombro direito quando o seu bra?o foi torcido atr?s das costas. Uma faixa de metal estrangulou o seu pulso. Em seguida, o mesmo com o bra?o esquerdo. Ela lutou at? n?o poder suportar mais as algemas cravadas na sua pele. O sangue na sua cabe?a latejava. Ela fechou os olhos para bloquear a agonia e os gritos dos seus captores. Desculpa, pai. Desiludi-te…uma vez mais. 2 Phishing As pessoas sugar-te-?o se tu deixares. Promete-me que n?o acabar?s como eu… uma v?tima. O seu pai segurava uma garrafa de whiskey na m?o quando ela lhe deu a sua palavra aos onze anos de idade. B?bado ou n?o, ele estava a dizer a verdade. Quando ela chegou a Miami pela primeira vez, testemunhou com os seus pr?prios olhos que ele estava certo. Os patifes faziam fila para apanhar fugitivos como ela, viciados em drogas pesadas. Explorando-os at? ao tutano. Ela saiu-se melhor que a maioria. Agora a sua sorte acabara. Estava sentada despreocupadamente numa fria sala de interrogat?rio h? mais de uma hora. O tipo careca leu-lhe os direitos enquanto lhe esmagava a espinha. Ap?s receber instru??es da rabo-de-cavalo, ele e um tipo de cabelos grisalhos empurraram-na para o banco de tr?s de um carro federal e arrastaram-na para o seu escrit?rio no centro de Miami. A sua carteira com dinheiro e a sua identidade foi confiscada. O seu nome, foto, impress?es digitais e ADN foram registados no banco de dados deles. Estava oficialmente no sistema. A ?ltima coisa de que precisava… quando o pior ainda estava certamente por vir. Menosprezou o seu reflexo no espelho da parede cinzenta enquanto batia com o p? no ch?o de mosaicos pretos. Se os federais estivessem a espi?-la, precisavam perceber que ela estava cansada de esperar. Os agentes que a prenderam autodenominaram-se FCCU - Unidade Federal de Crimes Cibern?ticos. Era a primeira vez que ela ouvia falar deles. Havia tantas unidades de crimes cibern?ticos, equipas e for?as-tarefa que ela j? perdera a conta. Parecia que os seus golpes de engenharia social a tinham tramado. Os avisos de Brayden provaram estar certos. Ela rezou para que os seus captores da FCCU n?o o tivessem apanhado tamb?m a ele. Quinze minutos se passaram antes que um tipo alto de meia-idade entrasse na sala. De bronzeado escuro, cabelo preto curto e terno cinzento. Ele pousou uma pasta castanha, um bloco de notas amarelo e uma caneta na mesa de madeira entre eles. O seu olhar recaiu sobre ela quando se sentou na cadeira de metal diante dela. “Menina Blake. Chamo-me Ethan Palmer. Sou um agente especial dos Servi?os Secretos.” Ela permaneceu im?vel com os bra?os pendurados nas laterais da cadeira. Os Servi?os Secretos e a FCCU. Um exagero para um simples arrombamento e invas?o. Ela imaginou qual dos seus crimes aparecera no radar deles. Ou h? quanto tempo a vigiavam. Independentemente das provas que tivessem, ela n?o fazia inten??o de revelar nada sobre os seus golpes ou invas?o. Ele pousou a m?o direita sobre a pasta. “O seu arquivo diz que voc? foi dada como desaparecida na Carolina do Norte pouco depois do seu d?cimo sexto anivers?rio. N?o h? registo de atividade desde ent?o. Importa-se de nos dizer o que tem feito nos ?ltimos dois anos?” Ela olhou para o lado. Cada cent?metro da parede estava pintado no mesmo cinzento mon?tono e deprimente. Ele pegou na caneta com um sorriso afetado. "Os seus pais foram dados como mortos. Tem algu?m que gostaria que contat?ssemos? Um amigo ou familiar?" “N?o.” “Lamento ouvir isso. Deve ser dif?cil… uma rapariga da sua idade a viver sozinha.” A ?ltima coisa de que ela precisava era deste tipo a ter pena dela. “Tem muita experi?ncia com raparigas da minha idade?” “Na verdade, a minha filha mais velha ? alguns anos mais nova do que voc?.” Quando os cantos dos l?bios dele se suavizaram num sorriso, ela fez um esfor?o consciente para n?o retribuir com qualquer sinal de emo??o. O sil?ncio fugaz foi quebrado quando a rabo-de-cavalo surgiu com um blus?o azul-escuro sobre a sua camisa branca de mangas compridas. Mascava uma pastilha el?stica enquanto passava pela mesa e ia para o fundo da sala. O tipo fez um gesto na sua dire??o enquanto mantinha contato visual com Alanna. “Suponho que j? conhece a agente especial da FCCU, Sheila McBride.” Ele lan?ou um olhar r?pido ? agente, que ela ignorou. “Desculpe, come??mos sem si.” A mulher descansou contra a parede, amuada, com as duas m?os nos bolsos do casaco. Tinha todas as qualidades de uma man?aca por controlo. Alanna percebeu isso pela forma como esta agente McBride dava ordens no momento da sua deten??o. Tamb?m estava bem familiarizada com o brilho penetrante que a agente lhe lan?ou na altura e agora. Durante toda a sua vida cresceu em torno de pessoas que a rotularam de delinquente. Respondeu com um sorriso largo e zombeteiro. O agente dos Servi?os Secretos acenou com a m?o para chamar a aten??o dela. “Ent?o, quer nos dizer o que estava a fazer naquele pr?dio? Ou porque fugiu dos agentes da FCCU que a abordaram?” Ele pressionou as pontas dos dedos, enquanto ela descansava os ombros contra o encosto da cadeira. “Importa-se de nos dizer como chegou l?? Localiz?mos o seu carro no seu apartamento.” Ela cerrou a mand?bula. Se eles n?o sabiam do Brayden, com certeza que ela n?o lhes iria dizer. A agente McBride avan?ou para a mesa. Definitivamente ainda estava dorida do empurr?o fora do apartamento de Javier. A hostilidade corria para os ambos os lados. Alanna nutria pouca simpatia pelas pessoas com quem se cruzava. Especialmente tipas com atitude. Ela atribuiu isso aos anos de raiva reprimida de viver com uma figura materna disfuncional. O suficiente para durar uma vida inteira. A agente McBride inclinou-se de forma amea?adora. “Adivinha o que descobriram no teu port?til ap?s uma busca judicial ao teu apartamento?” Os dados dos seus ataques de phishing – o maior campe?o de vendas de todos os seus golpes. Ela enviou montes de e-mails que pareciam vir do Instagram, Facebook ou qualquer outra fonte amplamente confi?vel. Alguns alvos desavisados os abririam, clicariam nos links da mensagem e inseririam as suas informa??es pessoais em p?ginas falsas da web que ela criou. Ela baixou o queixo antes de responder. “O Minecraft?” Os olhos azuis da agente McBride se estreitaram. “Informa??es pessoalmente identific?veis. Roubo de identidade. Resist?ncia ? autoridade. B&E . Voc? est? prestes a fazer o sortudo de um procurador federal muito feliz.” A pulsa??o de Alanna disparou. A maioria dos dados estava encriptada no seu servidor privado. Exceto os e-mails que ela enviou esta manh?. Poderia ter sido mais cuidadosa, mas n?o contava com uma emboscada dos federais ao in?cio da tarde. Se n?o estavam a fazer bluff, ela estava tramada. Mas ela n?o cometeria o erro de mostrar algum sinal de p?nico. O jogo da agente McBride era entrar no seu psicol?gico. Alanna suportara ser a v?tima tantas vezes, que isso j? n?o a incomodava mais. Ela mudou sua aten??o para o agente Palmer. O tipo devia estar na casa dos quarenta. As rugas come?avam a aparecer no seu rosto. “Quero um advogado.” “Tem um advogado a quem possa ligar? Se n?o, ter? que esperar horas at? que o tribunal lhe atribua um.” Ela franziu a testa para a sua pequena tentativa de intimida??o. “Eu espero. At? l?, n?o v?o conseguir arrancar nada de mim.” Ele interrompeu a agente McBride antes que ela pudesse ripostar. “Tudo bem. N?o fale. Primeiro vai ouvir o que temos a dizer?” “Esteja ? vontade.” Ele abriu a pasta e, em seguida, meteu-lhe um papel debaixo do nariz. “Est? familiarizada com este grupo?” Ela reconheceu imediatamente a captura de ecr?. No topo havia uma bandeira vermelha e preta da anarquia com uma estrela no centro. Por baixo havia uma imagem a preto e branco do Che Guevara — a que ela viu nas t-shirts. O Javier n?o ficou muito contente ao ver o rosto dele quando Brayden mostrou aquele site pirateado. Ao lado da imagem havia uma cita??o: “Est? na hora de se livrar do jugo, for?ar a renegocia??o de d?vidas externas opressoras e for?ar os imperialistas a abandonar as suas bases de agress?o.” Ela rolou a cabe?a sobre o ombro esquerdo. “Sim. Eu conhe?o o AntiAmerica. Eles est?o nas not?cias todos os malditos dias.” N?o que ela estivesse de olho por vontade pr?pria. Fora submetida a repescagens n?o solicitadas e a coment?rios de cortesia por Brayden. Hacktivista de longa data e apoiante incondicional das causas sociais na Internet e profetante de discursos anticapitalistas. Assim que ele come?ou a perceber como “o sistema ? manipulado para que os ricos explorem as massas,” ningu?m o conseguiu calar. O agente Palmer pegou na p?gina da captura de ecr? e abanou-a enquanto a sua parceira andava de um lado para o outro no canto. “Isto era o site do Nexus Bank ap?s o primeiro ataque do AntiAmerica no 1? de maio – Dia do Trabalhador – a comemorar os ataques da Amea?a Vermelha de 1919 h? um s?culo atr?s. Seguido por ataques contra o Dom?nio e a Primeira Reg?ncia. Os tr?s maiores bancos do pa?s pirateados nos ?ltimos dois meses.” Os agentes agiam como se o seu discurso fosse relevante para ela. “? por isso que est?o aqui os dois a falar comigo?” O agente Palmer assentiu com a cabe?a. “A agente McBride e eu fazemos parte de uma for?a-tarefa interag?ncias designada para os investigar.” “Bom para voc?s.” “Qual ? a sua opini?o sobre o AntiAmerica?” Os ouvidos de Alanna j? estavam fartos do som da agente McBride a mascar a pastilha el?stica no canto da sala. “N?o tenho uma. Estou-me a borrifar. Qual ? a sua?” “Eles n?o s?o hacktivistas que lutam por causas como um LulzSec ou NullCrew . S?o anarquistas. O objetivo final deles ? deixar este pa?s de rastos. E quanto mais seguidores atraem, mais perigosos se tornam.” Desde que o AntiAmerica fez um post online de um manifesto ap?s o primeiro ataque, que eles andavam a reunir todos os anarquistas mais reservados em f?runs, salas de bate-papo e no Twitter. Ela n?o fazia ideia de quantos. Mas sempre que ligava a TV, eram abundantes as not?cias sobre novos protestos que surgiam nas principais cidades do mundo. “Ok. Melodrama ? parte — o que tem isto a ver comigo?” Ele inclinou-se para tr?s e juntou as m?os. “Conhece um hacker chamado Paul Haynes?” Alanna apoiou o pesco?o nas costas da cadeira. O facto de os federais terem mencionado o nome de Paul significava que sabiam que ele era um chap?u preto. Ela teria de ser mais cuidadosa. Sem saber que provas eles tinham que a ligava a Paul, n?o poderia ser demasiado ?bvia ao negar qualquer liga??o a ele. Ele inclinou a cabe?a. “Pode responder a uma simples pergunta de sim ou n?o. Conhece-o ou n?o?” O sil?ncio s? consolidaria a sua culpa nas mentes deles. Talvez se ela respondesse, ele finalmente fosse direto ao ponto. “Conhe?o. Mas n?o muito bem. Convers?mos algumas vezes.” “Quando foi a ?ltima vez que falou com ele?” “H? alguns meses. Porqu??” Era melhor faz?-lo passar por conhecido. J? estava em apuros pelos seus pr?prios crimes sem se filiar aos dele. “O colega de quarto dele foi encontrado morto.” O est?mago de Alanna deu um n? enquanto ela se contorcia no seu assento. Os dois agentes estudavam a sua rea??o com interesse — ela teve de controlar as emo??es. Mas n?o podia deixar de sentir pena de Paul. N?o importava o que pensava dele, n?o podia suportar a ideia do qu?o doloroso devia ter sido essa perda. “?amos traz?-lo h? algumas semanas para discutir um exploit que ele criou e que foi usado no primeiro ataque do AntiAmerica. Os agentes enviados ao seu apartamento em South Beach encontraram o corpo do colega de quarto. Tinha sido amarrado, espancado e estrangulado.” Ela mordeu o l?bio inferior. “Caramba. Nunca conheci o colega de quarto dele. Mas o Paul sempre pareceu ser um tipo porreiro. Acham que ele o matou?” “N?o sabemos. Mas ele ? com certeza um potencial suspeito, visto que desapareceu na ?poca do assassinato do colega de quarto.” O Paul e o Terry eram um casal — n?o colegas de quarto. Mas os federais n?o saberiam isso por Alanna. Mesmo que ela n?o estivesse a afastar-se de Paul, n?o havia quem mais apreciasse manter a vida privada em segredo do que ela. Ela agarrou-se ao est?mago por baixo da mesa. Ele falara sobre a rela??o de ambos como se tivesse encontrado o amor da sua vida. Ela estava c?tica de que tivesse terminado em tortura e homic?dio. O agente Palmer inclinou-se para a frente no seu assento. “Onde o viu pela ?ltima vez?” “No Mechlab.” O hackerspace local. Um centro recreativo/ biblioteca/ oficina/ laborat?rio de inform?tica. Paul foi uma das primeiras pessoas que ela conheceu quando se tornou cliente habitual h? alguns anos. Brayden e Javier conheciam-no h? mais tempo. “Tem alguma informa??o sobre onde podemos encontr?-lo?” “Lamento. N?o o tenho visto ou ouvido falar dele.” A agente McBride interrompeu: “E o Javier Acosta? Quando foi a ?ltima vez que o viu ou ouviu falar dele?” Alanna olhou para ela, mas ela estava camuflada pelas sombras no canto. “Javier? O que tem ele a ver com isto?” O rosto presun?oso da agente da FCCU apareceu. “Ele est? desaparecido h? algumas semanas, n?o ?? Ele tamb?m n?o ? amigo do Paul Haynes — que desapareceu na mesma ?poca?” Merda! Os federais andavam atr?s do Javier. Estavam a vigiar o apartamento dele — n?o ela. A agente McBride inclinou a cabe?a at? que os seus olhos estivessem alinhados com os dela. “Alanna? Javier Acosta — o que nos pode dizer sobre o seu desaparecimento?” “Ele nunca faria mal a ningu?m — ou juntar-se-ia ao AntiAmerica.” “A vulnerabilidade explorada pelo AntiAmerica contra o Nexus Bank foi descoberta pelo Paul — e pelo Javier. Est? a dizer que ? uma coincid?ncia?” Se os feds vasculharam o apartamento de Javier significa que o consideram suspeito dos ataques AntiAmerica. Manter o sil?ncio j? n?o era uma op??o. Ela tinha de atestar a inoc?ncia dele. Ou pelo menos apontar a culpa noutra dire??o. “O Javier ? um hacker ?tico. As empresas pagam-lhe para consertar os seus erros. Ele n?o as rouba.” A agente McBride pavoneou-se at? ? ponta da mesa. “Ele investiga vulnerabilidades de software e invade redes corporativas por dinheiro. Soa mesmo muito aos hackers do AntiAmerica.” “Falem com o Paul. Provavelmente foi ele. Ou talvez ele o tenha vendido para seu proveito.” O agente Palmer enfiou a cabe?a entre a linha de vis?o das duas. “Mesmo que isso seja verdade, gostar?amos de entrevist?-lo. Mas ele desapareceu, por isso pedimos-te que preenchas as lacunas. Ele alguma vez expressou insatisfa??o com alguma institui??o financeira? Ou apoio pelo AntiAmerica?” “N?o. O Javier n?o ? um hacktivista. Ele n?o se importa com pol?tica. E nunca cometeu um crime na vida. Sabem a diferen?a entre um hacker de chap?u branco e um de chap?u preto, n?o sabem?” O peda?o de pastilha el?stica verde rodou na boca da agente McBride. “Se o conhece t?o bem, porque invadiu o apartamento dele?” Alanna dirigiu o seu olhar errante para longe do teto. As luzes ofuscantes no teto faziam com que visse manchas. “Fomos namorados. Ele n?o estava a atender o telefone. Passei pela sua casa. Ele n?o respondeu. Fui embora.” A agente da FCCU abanou a cabe?a e deu uma risada. “Mentir s? faz com que acreditemos que tem algo a esconder. Quer falar-nos sobre todos os dados encriptados no seu disco r?gido? H? alguma coisa l? que esteja relacionada com o AntiAmerica?” Alanna conteve uma risada. “Acredita mesmo que estou envolvida com aqueles anormais? Voc?s devem estar mesmo desesperados.” Agente McBride agarrou-se ? mesa com tanta for?a que os n?s dos seus dedos come?aram a ficar brancos. “O seu ato poderia ser mais convincente — se j? n?o tiv?ssemos provas de que voc? roubou dados que n?o lhe pertencem.” “Vou dizer-lhes com toda a franqueza: jamais me envolveria com o AntiAmerica ou qualquer outro bando de malucos. Procurem o quanto quiserem. N?o v?o encontrar nada que me ligue a eles.” “Talvez o teu namorado seja um membro do AntiAmerica. E tu sejas sua c?mplice.” Alanna saltou da cadeira. “Voc? ? surda? N?o temos nada a ver com eles. Se voc? fosse realmente boa no seu trabalho, saberia que eu estava a dizer a verdade.” “Vou-lhe dizer o que eu sei.” A agente da FCCU avan?ou na dire??o de Alanna, batendo com o seu dedo indicador no rosto dela. “Tu ?s uma ladra e uma mentirosa. Se n?o parares de te armar em idiota, vais acabar como uma criminosa condenada.” "Eu sei o que se passa. O AntiAmerica est? a fazer-vos passar por idiotas. Por isso ? que querem prender o primeiro hacker que encontrarem.” A agente McBride empurrou as mechas do seu cabelo para o lado. “N?o te deixes iludir. ?s uma ladra de identidades. Achas mesmo que nos importamos com uma aproveitadora como tu?” “Ent?o porque continua a inventar tretas sobre mim e o AntiAmerica?” "Queremos que nos fales do Javier Acosta. Que diabos fazias no apartamento dele? ?s o qu? — a sua ex-namorada psicopata?” Alanna olhou precipitadamente para a agente da FCCU. “O que me chamou? Estou farta de si…” Ela atravessou metade da mesa antes que a Agente McBride a agarrasse pelo bra?o e a jogasse de costas contra a parede. Enquanto a agente sarc?stica prendia o seu antebra?o contra o esterno de Alanna, o seu h?lito quente ro?ava o lado da sua bochecha. O agente Palmer colocou os bra?os estendidos entre as duas at? ela ser for?ada a se afastar. Alanna voltou para o seu lugar, sem tirar os olhos da agente McBride, que estava a reinar com a interven??o do seu parceiro. O agente Palmer apontou na dire??o de Alanna. “Tenha calma. N?o piore ainda mais as coisas para si.” Ele tinha raz?o. Homic?dio. Ataques a bancos. Os federais j? haviam posto hackers na rua da amargura por muito menos. N?o importava se Alanna n?o estivesse ligada ao AntiAmerica, a Javier ou a Paul. Ou que n?o tivesse o conhecimento de seguran?a de rede para executar os ataques. Os federais preocupavam-se em manter o p?blico contente e conseguir promo??es — n?o em prender a pessoa certa. O agente Palmer voltou a sentar-se, enfiou a m?o no bolso e bateu com um saco de pl?stico com o iPhone dela em cima da mesa. “Vamos diretos ao motivo de estarmos aqui. Voc? recebeu mensagens do Javier ontem e hoje. H? quanto tempo n?o o v??” “H? algumas semanas.” “Todos que o conhecem dizem o mesmo. Ele desapareceu da face da terra. Faltou a todas as aulas. Ningu?m sabe dele.” “Foi por isso que estavam a vigiar o apartamento dele?” Ele franziu os l?bios. “N?o tenho liberdade para compartilhar essa informa??o. Tudo o que precisa saber ? que o Javier ? suspeito.” “Voc?s n?o sabem onde ele est?, por isso ele deve andar a atacar bancos pelo AntiAmerica, n?o ??” "Tudo o que queremos ? que ele apare?a e fale connosco, para que possamos elimin?-lo como suspeito. Se ele ? t?o inocente como voc? diz, n?o h? problema.” A perna dela tremia por baixo da mesa. “Querem que eu o encontre por voc?s.” “? assim: n?s temos provas suficientes da sua pequena opera??o de phishing para a prender. Felizmente para si, precisamos falar com o Javier. J? que voc? ? a ?nica pessoa com quem ele se comunica, voc? ? a nossa ?nica pista. Queremos que fale com ele e nos ajude a traz?-lo para ser interrogado.” “Estou livre se denunciar o Javier?” “Estamos a oferecer que todas as acusa??es sejam retiradas sob a condi??o de que voc? trabalhe como informante confidencial at? que os seus termos de servi?o sejam cumpridos. Come?ar? por rastrear a localiza??o do Javier e qualquer informa??o em torno do AntiAmerica.” Uma informante. Os federais domin?-la-iam. Ela passaria os seus dias a denunciar Javier e outros at? que eles se fartassem dela. Poderia dizer adeus a todo o dinheiro dos seus esquemas. Por mais que Alanna n?o pudesse suportar o que lhe ofereciam, a alternativa era bem pior. As pessoas destruir-te-?o se tu deixares. Ela prolongou o sil?ncio antes de responder. “Digamos que eu vos ajudo. O que acontece se o Javier n?o for encontrado? Ainda fico livre?” Agente Palmer abanou a cabe?a. “Lamento. N?o ? assim que funciona. Para te ajudarmos, ter?s de nos ajudar na nossa investiga??o. Levando-nos at? ele ou dando-nos informa??es que nos ajudem a encontr?-lo.” A agente McBride aproximou-se at? estar praticamente em cima dela. "Espero que digas que n?o. Pelas provas que vi, uma ladrazinha como tu n?o tem o direito de andar livre.” O parceiro levantou-se do seu assento e aproximou-se do lado oposto da mesa. “Se disser n?o, estar? a desperdi?ar a sua vida. Por isso, pense bem antes de responder.” O sangue de Alanna ferveu enquanto os agentes a encaravam. Recusar-se a ser o rato deles significava p?r as suas esperan?as num juiz aleat?rio que tivesse pena de si. Caso contr?rio, o tempo de pris?o e uma ficha criminal a destruiriam. Os chap?us pretos tinham de estar constantemente a vigi?-la contra delatores exatamente por este motivo. A maioria dos mi?dos da sua idade deixar-se-ia dobrar ao menor ind?cio de um per?odo atr?s das grades. Mal sabiam estes dois que ela tinha uma terceira op??o em mente. Ela fixou-se nos seus sapatos de couro preto para manter a apar?ncia de pesar a decis?o. “Tudo bem. Eu fa?o-o.” O rosto do Agente Palmer iluminou-se. “Tomou a decis?o certa. A agente McBride e eu vamos sair para tratar dos acordos. Algu?m vir? interrog?-la em breve.” Ela mostrou um ?ltimo sorriso afetado. “Mal posso esperar.” Depois que ele saiu da sala, a agente McBride pairou sobre ela para lhe dar uma ?ltima palavrinha. “Ele pode ter-te deixado escapar, mas eu n?o. Se encontrarmos uma liga??o entre ti e os ataques do AntiAmerica, o acordo fica sem efeito e tu vais para a pris?o. Se chegarmos ao teu namorado sem a tua ajuda, tu vais para a pris?o. O tempo est? a passar.” Alanna inclinou-se na cadeira assim que a porta se fechou atr?s dela. Com alguma sorte, a sua coopera??o a afastou dos holofotes. N?o podia arriscar que a agente McBride ou os outros federais investigassem a sua vida mais a fundo. O Phishing n?o era o ?nico golpe que usava. Se tudo corresse mal, eles n?o podiam saber sobre o trunfo que tinha na manga. 3 Drogas Jessica Bright. Nascida em Birmingham, Alabama, a 3 de fevereiro de 2001. Carta de condu??o emitida aos dezasseis anos. Sem antecedentes criminais. Sem federais a vigi?-la. Era mais confi?vel do que Alanna Blake, ladra de identidades. Tamb?m n?o fazia ideia de que os seus dados pessoais haviam sido roubados de uma empresa de registos m?dicos aqui no Sul da Fl?rida. Na palma da m?o de Alanna repousava um cart?o plastificado com o rosto e o nome de Jessica. No in?cio desta tarde, ela apareceu na sua ag?ncia banc?ria local para limpar o seu stock de emerg?ncia. Do compartimento oculto na escova de cabelo do apartamento dela, ela removera a chave de um cofre do banco. A caixa de metal retangular continha tudo o que ela precisaria para recome?ar a sua vida: identidades e cart?es banc?rios de Jessica, dinheiro extra, um telefone pr?-pago, um port?til de backup e uma pen drive. O stock foi originalmente deixado de lado no caso de as coisas correrem mal com a pol?cia ou com um dos seus clientes do mercado negro. Agora era um meio de esconder mensagens dos federais. A FCCU mantinha-a sob vigil?ncia. Instalaram um spyware no seu port?til e iPhone, incluindo rastreamento GPS. Portanto, nada de e-mails privados, navega??o na web ou chamadas com o seu iPhone ou port?til. Ela s? podia se comunicar em particular atrav?s de telefone descart?vel, port?til de backup ou cara a cara. Ela guardou o pr?-pago no bolso e inseriu as identidades, cart?es e dinheiro na sua carteira. O port?til de reserva ela deixou na sua mochila de couro castanha. Antes de conduzir para esta esquina, ela carregara o seu computador com um kit de software que comprou para esta reuni?o secreta. O resto do stock guardou no porta-luvas. Ela saiu do seu Toyota Corolla preto com sacolas na m?o. Duas filas de carros estavam paradas atr?s de um sem?foro vermelho. Ela deslocou-se por entre eles para atravessar a rua, em seguida, examinou a cena ao seu redor. T?pica noite da semana em South Beach. O tr?nsito na Avenida Washington arrastava-se constantemente. Ainda n?o havia multid?o fora dos clubes e lojas iluminadas por n?on. As poucas pessoas nas cal?adas estavam a cuidar das suas pr?prias vidas. Ao que parecia, ningu?m da FCCU a seguia. A agente McBride jurou que o seu pessoal estaria a vigi?-la o tempo todo. Alanna n?o tinha certeza se a declara??o era verdadeira ou se se tratava de mais um dos seus jogos mentais. Uma coisa que a agente da FCCU deixou claro foi o qu?o pouco confiava nela. Alanna foi recordada desse facto at? o momento em que foi deixada do lado de fora do seu complexo de apartamentos. O ?nico aspeto positivo foi que os federais deixaram o seu apartamento em muito melhor estado do que o de Javier. Uma vantagem de trabalhar como rato deles. Gostasse ou n?o, faz?-los felizes agora era o seu trabalho a tempo inteiro. Ela deixou mensagens a perguntar por Javier no telem?vel dele e dos pais dele, primos e amigos. Para manter as apar?ncias de que estava a cumprir a sua parte do acordo. Ela foi at? ? placa de rua e depois virou a esquina. O seu ritmo diminuiu quando a placa com letras cursivas num rosa-brilhante a dizer Feliz Acaso apareceu. Era in?cio da noite. N?o havia ningu?m na fila fora do clube. O seguran?a musculado do lado de fora da porta afagou a sua equipa e endireitava o seu casaco de fato cinzento quando ela se aproximou. Alanna tirou a carta de condu??o de Jessica da carteira. O gorila arrancou-lhe a identifica??o da m?o. Ele segurou o cart?o contra a luz de n?on a piscar sobre a entrada. Os seus olhos alternaram entre a foto da carta de condu??o e o seu rosto. Podia olhar o quanto quisesse. Jamais algu?m perceberia que era falsa. Ela inscreveu-se no DMV enquanto se fazia passar pela verdadeira Jessica. As contas banc?rias que criara em nome de Jessica usavam o n?mero de seguran?a social de uma menina de cinco anos. O n?mero fora roubado da mesma empresa de registos m?dicos. As ag?ncias de cr?dito n?o verificam os n?meros. Alanna n?o estava a usar as contas para roubar mais ningu?m, ent?o eles n?o tinham raz?es para suspeitar. Quanto ? menina, levaria anos at? que tivesse idade suficiente para se preocupar com o seu hist?rico de cr?dito. O seguran?a devolveu-lhe a carta de condu??o e abriu a porta para ela. Ela apercebeu-se da express?o estoica do seu rosto no espelho na parede da entrada. A adrenalina da emo??o de ontem era uma mem?ria distante. O resultado fora um estado de entorpecimento emocional que a deixou isolada do resto do mundo. O estado de esp?rito perfeito para passar algum tempo numa casa de narguil?. O interior do sal?o estava banhado por uma luz roxa. Sof?s de veludo vermelho e mesas pretas alinhavam nos dois lados da passagem do tapete vermelho, com o bar na outra extremidade. O propriet?rio optou por uma atmosfera europeia opulenta em vez da decora??o usual do M?dio Oriente, que a tornou popular entre turistas estrangeiros ricos, bem como a m?fia russa. A sala estava vazia, exceto por dois casais sentados com um narguil? prateado ? mesa ? sua esquerda e Natalya no bar. Quanto menos pessoas, melhor. Menos hip?teses de a FCCU se aproximar dela. Guardou a carta de condu??o de Jessica na carteira e retirou duas notas de vinte. Ap?s colocar a carteira na mochila, deu uma espreitadela ? palma da m?o direita. A vis?o de sangue seco provocou-lhe um leve arrepio. Alanna estivera a cavar a sua pele com as unhas durante a maior parte da tarde. Estabelecera um plano para manipular o seu melhor amigo. Em dias calmos como o de hoje ela era incapaz de sentir verdadeiros remorsos, por isso contentou-se com a variedade autoinfligida. Enquanto caminhava at? ? extremidade esquerda do bar, deixou cair os bra?os para os lados. Natalya observou-a enquanto colocava os copos numa bandeja. Andava na casa dos trinta, mas parecia jovem o suficiente para o vestido preto decotado que usava. O novo penteado castanho encaracolado curto f?-la parecer mais velha. Ap?s colocar gelo num copo, encheu-o com Coca-Cola de uma pistola de refrigerante. Era a ?ltima pessoa na Terra que lhe serviria ?lcool. N?o que Alanna tivesse qualquer desejo de provar uma ?nica gota. Natalya bateu com o copo no balc?o com uma carranca. “?s uma mi?da muito imprudente. N?o leste a minha mensagem a dizer para n?o vires c??” “? uma emerg?ncia. N?o tenho outro lugar.” O rosto de Natalya iluminou-se. “E se o Bogdan aparece aqui e v?-te?” “Disseste que ele n?o vem c?.” “Ele ainda aparece de vez em quando. Assim como os seus amigos.” Alanna bebeu um gole do copo e limpou a boca. “Eles n?o sabem que estou aqui. Contanto que n?o me vejam, eu estarei segura.” “Menti na cara dele quando me perguntou por ti. Percebes em que situa??o me est?s a meter?” Alanna ergueu as m?os no ar. “Desculpa. Eu compenso-te. Se quiseres, posso voltar a espiar a tua namorada.” “Ela j? n?o ? minha namorada.” “Est?s melhor assim. ?s boa demais para ela. Se ela te voltar a arranjar problemas, avisa-me. Mando a pol?cia atr?s dela.” “N?o preciso da tua ajuda para lidar com ela. N?o precisas de outra desculpa para te meteres em problemas.” Alanna apontou para o corredor ? esquerda do bar que levava ? sala VIP. “Posso us?-la, certo?” Natalya revirou os olhos. “Podes ficar com o quarto at? ?s nove.” “Obrigada. O meu amigo deve estar a? a chegar.” “Nem um minuto mais. O meu chefe vem c? por volta das dez. Estarei metida em problemas se ele te vir l?. Ele ? muito rigoroso.” “Rigoroso? Andas a traficar mesmo debaixo do nariz dele.” Natalya apoiou as duas m?os no balc?o. Ele n?o sabe porque eu sou cuidadosa. Devias tentar um dia destes. Trouxeste o dinheiro?” Alanna colocou a m?o esquerda no balc?o. Natalya fez deslizar um saco de pl?stico em troca das notas dobradas. Ela levou o dinheiro ao bolso sem se preocupar em contar. As drogas recreativas eram destinadas aos clientes que a espancaram enquanto ela trabalhava no bar. Alanna j? n?o era mais uma cliente habitual, mas ambas ainda se protegiam uma ? outra. Alanna p?-la em contacto com fornecedores baratos na Zona Fantasma — o site do mercado negro onde ela vendia os seus dados de identidade. Natalya mantinha-a informada sobre Bogdan e os seus comparsas da m?fia russa, vendendo-lhe ocasionalmente um saco de erva sem cobrar nada e protegia-a nas suas escolhas irracionais de vida. Desta vez, Alanna estava sem energia para lutar. Guardou o saco no bolso antes de falar ao ouvido de Natalya. “Se o Bogdan aparecer, avisa-me. Fujo pelos fundos.” “Vou ficar de olho nele. Mas n?o demores. ? melhor n?o estares aqui quando isto encher.” Alanna piscou o olho antes de pegar o copo do balc?o. “Fico a dever-te uma. Liga-me um dia destes. Agora que est?s solteira, podemos ficar no teu sof? a ver a Netflix.” Natalya sorriu timidamente. Tinha raz?o em estar preocupada. N?o s? por ter mentido a Bogdan. Ela era a competi??o dele. Ele dirigia uma empresa de drogas para os seus chefes russos. B?lgaros. Rijos. Um sociopata com um temperamento mil vezes pior que o da m?e de Alanna — tirando os gritos e berros. Todo queimado ? superf?cie, nos seus olhos e carranca quase permanente. N?o era algu?m com quem se quisesse estar quando entrou em erup??o. Bogdan era a raz?o pela qual Alanna mostrou a identifica??o de Jessica ? porta. Ele pode n?o se lembrar que ela existiu. Ou pode mat?-la ? primeira vista. ? melhor errar por precau??o. Ela n?o teria c? vindo, exceto por ter de assumir que a FCCU vigiava cada movimento seu. Qualquer pessoa com quem ela se encontrasse em sua casa ou na deles, levantaria a suspeita dos federais. O Feliz Acaso serviu de lugar p?blico para onde ela poderia ir com um pouco de privacidade. A ilumina??o fluorescente do clube no teto guiou-a pelas casas de banho at? ? sala VIP. Um cheiro forte a purificador de ar inundou as suas narinas quando ela entrou pela porta. A c?mara acendeu-se no mesmo n?on roxo foleiro do exterior. Um sof? circular de couro vermelho com almofadas de tecido ocupava metade do quarto. Cadeiras de couro a combinar e duas mesas pretas cobriam ambas as paredes. Cortinas escarlates finas penduradas nas bordas do sof?, com uma mesa preta no centro. Ap?s colocar a bebida e o pacote de Natalya na mesa central, deixou-se cair no sof?. Retirou alguns de erva do saco de pl?stico. A erva era outra das raz?es para ela ter escolhido este local para a reuni?o. A FCCU n?o reagiria bem se a visse comprar a um traficante de rua. Pegou no rolo de papel que tinha na bolsa, em seguida, colocou-o na mesa ao lado dos sacos de erva antes de meter m?os ? obra. Minutos depois, foi interrompida por uma mensagem de Brayden no seu pr?-pago. Ele estava a reclamar do seu atraso devido ao tr?nsito e perguntou-lhe por que ela escolheu encontrar-se com ele em South Beach. Mal sabia ele o problema em que ela se estava a meter para mant?-lo fora do alcance dos federais. Eles j? andavam a ca?ar uma pessoa que era importante para ela. Nem pensar que iria p?r o seu melhor amigo no radar deles. Quando acabou de enrolar, acendeu uma das pontas com o isqueiro para acalmar os nervos. Normalmente s? fumava nos seus dias de maior ansiedade. Se automedicar-se sempre que a sua vida se descontrolava fazia dela uma viciada, paci?ncia. N?o fazia muito tempo que ela estivera viciada em drogas bem piores. Outra caracter?stica que herdou do pai. Nos seus ?ltimos anos de vida, esteve propenso a revelar a sua alma enquanto estava sozinho com ela e embriagado. Quase todos os dias lhe contava o abuso que sofreu por parte do seu chefe e colegas de trabalho ou a ?ltima bronca da sua m?e. Mas na sua cabe?a ficou-lhe marcada uma confiss?o que se destacou das outras: “Tu ?s minha filha. Eu amo-te mais do que tudo no mundo. Mas ?s vezes gostaria que nunca tivesses nascido.” Ap?s uma profunda inala??o, ela deitou-se no sof? com o seu grito de ajuda a marinar no seu c?rebro. Qu?o diferentes teriam sido as suas vidas se ela tivesse entendido a dor dele como fez agora? Direcionou a sua aten??o para os dois charros que guardara para Brayden. Com alguma sorte, ele compartilharia o h?bito do seu pai de confessar sob a influ?ncia de drogas. Se estivesse disposto a partilhar o paradeiro de Javier voluntariamente, j? lhe teria dito. A sua erva favorita deveria dissipar qualquer d?vida. N?o era a sua primeira tentativa de arrancar informa??es a algu?m que estava pedrado. O truque era apertar os bot?es certos em vez de interrogar. Dar-lhe desculpas para confessar. “Tenho algo para te dizer.” Alanna girou a cabe?a para a voz em frente ao sof?. Brayden estava acima dela com uma camisa vermelha desbotada e cal??es c?qui. Ela abriu um sorriso para a carranca profunda no rosto dele, em seguida, inclinou a cabe?a em dire??o ? mesa central para que ele pudesse servir-se. “Primeiro senta-te e relaxa.” Ele abanou a cabe?a antes de cair do outro lado do sof?. Ap?s pegar num dos charros, apontou para ela com a m?o livre. Alanna tirou o isqueiro do bolso e deu-lho. Ap?s acender o charro e dar uma passa, ele examinou a pe?a retangular lisa de prata. “Fixe.” “Gostas?” Ele acenou com a cabe?a antes de lhe atirar o isqueiro de volta. “? a ?nica bugiganga chique com que j? te vi por a?.” Ela levantou-o em dire??o da luz antes de enfi?-lo no bolso. “O resto do meu brilho eu perdi ou penhorei.” “Heran?a de fam?lia?” “N?o. Roubei.” Ele exalou uma nuvem de fumo cinzento. “Por que n?o me surpreende? Enfim, tenho uma mensagem do AntiAmerica.” “Do AntiAmerica?” “Eles querem saber porque invadiste o apartamento do Javier.” Alanna sentou-se no seu assento. “Onde ? que eles ouviram isso?” “Foi por isso que os federais te algemaram ontem, n?o foi?” “Mas eu n?o disse a ningu?m.” “Eles tamb?m querem saber o que disseste aos federais.” “Espera a?. Como ? que andas a falar com o AntiAmerica?” Os ombros dele cederam. “Eles enviaram-me uma mensagem atrav?s do Javier.” Finalmente, a verdade. “Ent?o tens falado com ele.” “Eu queria te dizer, juro. Mas ele fez-me prometer que n?o dizia nada a ningu?m.” Noutras circunst?ncias, ela gritaria com ele. Durante semanas, ele ouviu o desabafo dela sobre o fim da rela??o de ambos. Se ele tivesse revelado a verdade antes, ela n?o teria entrado no apartamento de Javier e sido presa pela FCCU. Mas ela n?o se poderia deixar levar com ele a esconder a verdade. Um pouco hip?crita dada a situa??o. “Ele disse-te o que aconteceu?” Ele olhou para as cortinas penduradas. “Ele n?o quis dizer. Tudo o que sei ? que ele precisa ficar quieto por um tempo.” “Diz-me onde ele est?.” “Eu n?o sei. O AntiAmerica ofereceu-lhe um lugar para se esconder ap?s adverti-lo que as pessoas pr?ximas a ele estavam em perigo.” “Porque ? que eles o est?o a ajudar?” Ap?s exalar ele encolheu os ombros. “N?o fa?o ideia. Falo deles o tempo todo. N?o sabia que ele tinha alguma coisa a ver com eles at? recentemente.” “O pessoal da FCCU acha que ele est? ligado ao AntiAmerica.” A voz dele subiu para um guincho. “Falaste com a FCCU?” “Eles pensaram que eu tamb?m estava ligada ao AntiAmerica.” Ele deu uma gargalhada enquanto levava a m?o ? boca. “Ha! Tu — e o AntiAmerica? Disseste-lhes que s?o uns grandes idiotas?” “O AntiAmerica ? a raz?o pela qual eles estavam a vigiar o apartamento do Javier. Os federais perguntaram sobre eles e sobre o Javier.” Ele olhou para o charro entre as pontas dos dedos. “Eles pediram-te que os ajudasses a encontr?-lo?” “Est?s a perguntar-me se sou uma chiba?” “O AntiAmerica diz que ?s.” “E tu acreditas neles.” Ele levantou os bra?os ossudos no ar. “Bem, foste apanhada a invadir a casa do Javier. E agora andas por a? como uma mulher livre a fazer-me perguntas sobre ele.” “Eu n?o ando a passar-lhes informa??es. Trouxe-te aqui porque estou a agir nas costas deles. As pernas de Brayden tremeram enquanto pesava as palavras dela. Ela ainda n?o o tinha convencido. “Quero falar com o Javier. O pessoal da FCCU acredita que ele e o Paul fazem parte do AntiAmerica.” “O que os faz pensar isso?” “O AntiAmerica usou um exploit em que ambos trabalharam. Quando a FCCU foi ao apartamento do Paul, encontraram o Terry assassinado.” Ele arregalou os olhos. “? meu Deus. Est?s a falar a s?rio?” “O Paul ? um suspeito. Tu sabes as porcarias em que est? metido. O facto de ele e o Javier terem desaparecido ao mesmo tempo faz parecer que est?o a trabalhar juntos.” Ele resmungou: “Talvez tenha sido bom o Javier ter fugido quando teve oportunidade.” “Ele n?o se pode esconder dos federais. Sabes como ele confia nas pessoas. O Paul pode estar a aproveitar-se dele. Falaste com o Paul?” Ele abanou a cabe?a. “N?o. E tu?” “O Paul n?o vai atender as minhas chamadas. Preciso de falar com o Javier para saber o seu lado da hist?ria.” “Est?s a perder o teu tempo. Ele n?o quer falar. Nem contigo, nem com ningu?m.” “Por favor, Brayden.” A voz dela estava embargada. “Estou preocupada com ele. Ele enviou uma mensagem a dizer que a sua vida corria perigo.” “O Javier mandou-te uma mensagem?” “Do telem?vel dele. Ele disse que eu deveria vir ter com ele.” Ele co?ou o queixo com o dedo indicador. “O Javier deixou o telem?vel no seu apartamento. Ele temia que algu?m usasse o GPS para rastre?-lo. Est? a usar um telefone descart?vel, tal como tu.” Alanna n?o vira o telefone quando vasculhou a casa dele. “Tens a certeza?” “Vi com os meus pr?prios olhos. Al?m disso, ele n?o contatou ningu?m, exceto eu e a sua fam?lia. N?o poderia ter sido ele.” “Ok. Isto ? sinistro. Brayden, deixa-me falar com ele. Por favor. Ele precisa que cuidemos dele.” Ele olhou para ela. “Eu estou a cuidar dele.” Ela girou o corpo at? que os dois estivessem cara a cara. “Ouve-me. Eu nunca denunciaria o Javier. Estou a tentar proteg?-lo.” “Tu proteg?-lo do teu jeito. Eu vou proteg?-lo do meu.” Ele fez uma pausa antes de baixar os olhos em dire??o ? mesa laminada preta. “Eu ligo-lhe. Com uma condi??o. Fazes o que a AntiAmerica pede. Promete que te vais afastar.” Ela mostrou uma careta furiosa. “Est?s do lado deles.” “Estou do lado do Javier. Ele acredita que eles o v?o mant?-lo em seguran?a.” “Tu n?o confias em mim. Por isso ? que me tens guardado segredos sobre o Javier.” As acusa??es n?o o incomodaram nem um pouco. “Ambos temos guardado segredos um do outro. Prometes ou n?o?” Ela suspirou. “Prometo.” “Vou avisar o Javier. Se ele concordar em falar, mando-te uma mensagem.” Ela estendeu a m?o para agarrar na m?o direita dele. “Diz-lhe tudo o que eu disse sobre os federais e o Paul.” “Vou dizer.” O seu queixo tremeu. “Desculpa por n?o te ter dito do Javier. N?o queria esconder-te segredos. Mas ele convenceu-me que era mais seguro para todos.” “S? estou a olhar por ele, juro.” “N?o tens de me convencer. Sei que n?o consegues pensar direito quando se trata dele. Ent?o vais ajudar os federais a derrubar o AntiAmerica?” “Diz-lhes que eu n?o. Contanto que mantenham o Javier em seguran?a. Se o lixarem, farei com que cada um deles v? para a cadeia.” “Vou passar a mensagem.” O olhar dela desviou-se para o brilho roxo das luzes acima dela. “Esta ? a ?ltima vez que te vejo por um tempo. N?o quero que os federais cheguem a ti por mim.” “Nem eu. Nunca teria aparecido se soubesse que o Homem te tinha na m?o.” Brayden sorriu quando ela lhe mostrou o dedo do meio. Ele deu outra tragada e depois exalou. Alanna fez o mesmo. Acomodaram-se nos seus assentos no sof? sem dizer uma palavra. Como ele lhe disse uma vez: N?o havia sil?ncios estranhos quando se est? pedrado. Sorte a dela. Estava claro que o amigo j? n?o confiava nela. E quebrar a promessa que ela acabara de fazer s? provocaria um afastamento ainda maior. 4 Falsifica??o Alanna acordou com o toque do iPhone. O seu pesco?o endureceu quando levantou a cabe?a da almofada do sof?. Que estupidez. Desmaiar num estupor induzido por drogas n?o fazia parte do plano. Quando o toque parou, ela olhou para Brayden, que estava deitado de bru?os do seu lado do sof?. Ela saiu a cambalear da sua n?voa para tirar o telefone da sua bolsa que estava no ch?o. Ap?s pux?-lo para o rosto, viu o interlocutor deixara uma mensagem de voz. O agente Palmer. Estava a contact?-la para lhe assegurar que, independentemente do interesse do seu pessoal em Javier, a seguran?a dela era de extrema preocupa??o. Ele avisou-a que os AntiAmerica eram fan?ticos anti governo capazes de recorrer ? viol?ncia para alcan?ar os seus objetivos. No final da mensagem afirmou que se ela sentisse que a sua vida corria perigo, que deveria ligar para ele, quer fosse de dia ou de noite. Ela levantou-se do sof? com o telefone na m?o. Ele parecia porreiro. N?o era como aquela idiota fascista. Mas at? os marginais parecem bonzinhos. At? precisarem de alguma coisa. Depois preocupam-se menos com o teu bem-estar e mais com o deles. Era s? uma quest?o de tempo at? serem um meio para atingir um fim. O lado negro da natureza humana. Todos o enterraram, mas ele estava l?, pronto para sair. O seu iPhone fez um bip. Chegara uma mensagem enquanto estivera desmaiada. Ela engasgou-se quando o n?mero do telem?vel de Javier apareceu no visor. Com a FCCU a ler-lhe as mensagens, ela tinha de se preocupar com as mensagens que continham informa??es prejudiciais sobre ela ou Javier. Rapidamente tocou no ecr? para ler o seu conte?do: “Alanna. Tenho um segredo para partilhar contigo. Por favor, vem ter comigo. Vou contar-te tudo.” Tr?s mensagens em tr?s dias. Javier jamais lhe enviara mensagens enigm?ticas como estas antes. Se ele n?o tinha o telem?vel, ent?o quem estava a enviar mensagens? A agente McBride e o FCCU? A primeira mensagem poderia ter sido feita para apanhar Alanna como informante. Talvez estivessem a enviar mais mensagens como motiva??o extra para encontrarem Javier. Quem quer que fosse, o remetente precisava saber que ela n?o se deixaria enganar. Ela martelou uma resposta. “Prova que ?s o Javier. O que me deste no meu ?ltimo anivers?rio?” Cinco minutos se passaram antes que recebesse uma resposta. A mensagem n?o tinha palavras. Apenas um anexo JPEG. Ela abriu um close-up de si mesma com o seu biqu?ni preto. A foto fez a sua pele arrepiar. Compartilhara-a com uma pessoa: Javier. Pouco depois recebeu outra mensagem: “Sou o Javier. Se queres que compartilhe mais segredos teus, posso faz?-lo. Vem ter comigo. Ou eu vou ter contigo.” A agente McBride n?o ganhava nada em enviar-lhe esta foto. S? poderia ter sido roubada de tr?s fontes poss?veis: Javier, a FCCU ou o pr?prio disco r?gido de Alanna. De qualquer forma, este tipo era um ?timo hacker. Tinha de ser um tipo. A foto do biqu?ni fora reveladora. A dark web estava cheia de pervertidos como ele a postar fotos nuas e feeds de discos r?gidos e webcams infetados. Para eles o voyeurismo era preliminar. A humilha??o era o fim do jogo. Este idiota, sem d?vida, gozaria com qualquer indica??o de sofrimento ou desamparo da parte dela. Ela enfiou o telefone no bolso. Uma resposta furiosa indicar-lhe-ia que tinha entrado na sua cabe?a. O seu olhar girou para a porta quando ela imaginou Bogdan, a FCCU ou o mensageiro a irromper a qualquer momento. Foi at? ? mochila e retirou o port?til de reserva. Enquanto iniciava, ela desligou o GPS do iPhone antes de limpar a cache de localiza??o. N?o poderia ter este louco a rastrear cada movimento seu. A foto fora infetada com um v?rus. Disso tinha a certeza. Mas as mensagens e o GPS desativado atrairiam a aten??o da FCCU. Ela tinha de acabar a sua cena com Brayden e depois bazar. Ele continuava desmaiado com a cabe?a perto da borda do sof?. Ap?s clicar no aplicativo do kit de explora??o na tela do seu port?til, ela rastejou at? ao lado dele. O seu smartphone estava na almofada do sof? ao lado da sua m?o esquerda. Enquanto se esticava para ele, ela verificou se os olhos dele estavam realmente fechados. Uma vez que o telefone estava nas suas m?os, p?s-se em bico de p?s para o port?til, em seguida, digitou uma mensagem no teclado para enviar para o n?mero de telem?vel dele. Quando clicou no link da mensagem, o malware foi baixado para o telem?vel dele. A configura??o para o Plano B estava conclu?da. Ela apagou a mensagem. A mensagem mais recente listava um n?mero desconhecido. A sua curiosidade levou-lhe a melhor. Quando as palavras apareceram no ecr?, ela cobriu a boca com os dedos. Brayden estalou os l?bios. Ela esfor?ou-se por colocar o pr?-pago e o port?til na mochila antes de voltar para o lado dele do sof?. Quando ela o sacudiu pelos ombros, ele sentou-se com os olhos semiabertos. “O que est?s a fazer?” Ela enfiou-lhe o telefone na m?o. “Temos de sair daqui.” “Porqu?? O que aconteceu?” “N?o h? tempo. Explico l? fora.” Brayden praguejou-a enquanto ela o instigava a levantar-se. Agarrou-se ao bra?o dele para o ajudar a apoiar-se nos seus p?s, em seguida, saiu a correr com ele porta fora. A sua m?o apoiava a omoplata dele enquanto ele arrastava os p?s pelo corredor. Ao passarem ao lado do bar, ela apanhou Natalya a olhar para os dois enquanto misturava uma bebida antes de murmurar “desculpa” em resposta. Alanna olhou em volta da ?rea principal do sal?o. A m?sica trance aumentava nas colunas. A multid?o era uma mistura internacional de jovens da gera??o Y que se vestiam como se pudessem pagar pelas bebidas caras. N?o havia nenhum lugar vazio. Metade das pessoas estavam de p?. A neblina no ar era muito mais espessa do que quando ela chegou. Ela acenou para afastar os aromas das saborosas shishas que enchiam as suas narinas. Brayden sorria enquanto movia os quadris ao ritmo da m?sica. Ela lan?ou-lhe um olhar de esgueira, em seguida, gritou-lhe ao ouvido que se despachasse a sair pela parte da frente da porta de entrada, enquanto ela sa?a pela parte de tr?s. Ele levantou o queixo em reconhecimento, em seguida, desceu cautelosamente pela passagem principal em dire??o ? pequena multid?o reunida no centro. Quando uma mulher esbarrou nele, ele perdeu o equil?brio. Caiu num sof? de couro ao lado de um europeu de leste bem-vestido e do seu par. Em seguida come?ou a rir. Alanna olhou para Natalya, que franziu a testa e acenou com a cabe?a para que ela resolvesse a situa??o. O europeu de um metro e oitenta e barba por fazer ergueu-se de punhos cerrados. Brayden sorriu — alheio ? amea?a que o encarava — enquanto ela corria para o seu lado. Enquanto o levantava pelo bra?o, ela desculpou-se com o europeu, que fez uma careta. Ela colocou o bra?o ? volta de cintura dele e conduziu-o para a entrada principal. Ele riu-se enquanto se espremiam pelo ch?o lotado. Estavam a meio caminho da porta quando o seguran?a apareceu diante deles. Este zombou deles com os olhos em chamas. Alanna pediu desculpa em nome de Brayden e explicou que estavam a ir embora. O seguran?a fumegou antes de lhes ordenar que sa?ssem os dois imediatamente dali. Ela assentiu com a cabe?a repetidamente antes de arrastar Brayden para a porta da frente com o seguran?a a reboque. Todos os olhos estavam focados neles o resto do caminho at? ? entrada. O seguran?a segurou a porta para eles e depois deu uma bronca a Brayden para que nunca mais pusesse os p?s ali. Do lado de fora, ela descansou o ombro dele contra a lateral da entrada antes de enfiar a cabe?a para fora para observar a rua. Olhou al?m dos vagabundos perto do clube para todas as pessoas na cal?ada. Ele puxou-lhe a manga direita por tr?s. “Diz-me o que se passa.” Quando se deu conta de que n?o havia amea?as ? espreita, ela apontou para o Starbucks na mesma rua. “Mais tarde. Espera por mim acol?.” “Tu vais falar...” Ela grunhiu enquanto o i?ava pelo bra?o. Quando ele ficou de p?, ela empurrou-o por tr?s. “Vou logo atr?s de ti.” Brayden balan?ou-se, mas moveu-se com firmeza suficiente para andar sem ajuda. Ela n?o tinha grandes op??es. Arriscava-se a ser vista com ele pelos federais. Ou deixava o amigo pedrado e sozinho. Ap?s esperar cinco minutos, ela ficou atenta a ver se havia algu?m a espi?-la enquanto seguia os passos dele. Alguns universit?rios mais ? frente examinavam-na. Quando passaram por ela, ela evitou o contato visual. No Starbucks quase todas as mesas e cadeiras de couro estavam cheias. Ela avistou Brayden sentado num dos bancos altos de madeira que revestiam a janela. O seu cotovelo direito estava apoiado na mesa alongada, com a m?o a carregar o peso total da sua cabe?a. As pessoas ao seu redor estavam demasiado ocupadas com o seu caf? e os seus port?teis para prestarem aten??o nele. Alanna deu-lhe uma palmadinha no ombro e estendeu a m?o. “D?-me o teu telem?vel.” Quando ela balan?ou os dedos, ele puxou o telefone do bolso da frente. “Para que o queres?” Ela arrancou-lhe o telefone e come?ou a navegar nos seus aplicativos. “Eu consigo conduzir…” “Nem sequer consegues andar em linha reta sem cair em cima de estranhos.” Ele levantou a m?o direita na dire??o dela. “Isso foi por tua culpa. Por que diabos me estavas a empurrar de l? para fora?” “Recebi uma mensagem amea?adora do telem?vel do Javier.” “O que dizia?” Ela digitou a localiza??o dele no aplicativo sem reconhecer a pergunta. Os l?bios dele curvaram-se num sorriso de esc?rnio enquanto recuava na mesa. “Aprende a diferen?a entre misterioso e rude.” Alanna estava menos preocupada com a foto do que com o coment?rio sobre a partilha de informa??es privadas. Nem pensar que amea?aria compartilhar segredos por Brayden. Ela nunca esclarecera a sua hist?ria pessoal com ele ou qualquer outra pessoa. Embora ele fosse o seu melhor amigo, o qual esteve do seu lado nos seus piores momentos e desde sempre. Se ele soubesse do seu passado, deixariam de ser amigos ?ntimos. Ela devolveu-lhe o telefone. “Sentes-te melhor?” Ele semicerrou os olhos brevemente. “Sim. A minha cabe?a est? a melhorar.” “? melhor esperares l? fora. A tua boleia deve estar a? a chegar. Posso confiar em ti de que n?o te vais meter em problemas?” Ele afastou-se da mesa para ficar de p?. “Se podes confiar em mim? Diz-me tu.” A mand?bula da Alanna tremeu. Fora apanhada desprevenida. Quando ele se arrastou em dire??o ? entrada, ela deixou escapar as ?nicas palavras de despedida de que fora capaz. “Liga-me quando tiveres not?cias do Javier.” Pediu um caf? gelado ao balc?o enquanto Brayden esperava ao lado de uma placa de rua. Ap?s pegar a sua bebida, viu-o entrar num Civic branco. Ela bebeu do seu copo de pl?stico frio enquanto voltava para a sua vaga de estacionamento. Ao atravessar a rua em dire??o ao Corolla, uma van preta ligou o motor ao fundo do quarteir?o. Ela parou um minuto para procurar pelas chaves na sua bolsa antes de lan?ar um olhar de esgueira para a van. Estava a afastar-se do passeio. Alanna permaneceu calma ao entrar no seu ve?culo. Guiou o seu Corolla para longe do passeio antes de acelerar a fundo para cortar em frente a um carro que se aproximava. Enquanto acelerava pela faixa da direita, espiava pelo espelho retrovisor a cada poucos segundos. A van preta estava atr?s de alguns carros. Ela quase que apostava que se tratava da FCCU. Mas n?o arriscava. A van seguiu-a por mais alguns quarteir?es antes de ela acelerar para um tr?fego mais lento ? frente. Ela acelerou para a faixa aberta ? esquerda. Um jipe desviou-se para o espa?o atr?s dela. A van alcan?ou-a e acomodou-se atr?s dela. Os carros ao lado dela diminu?ram quando o sem?foro em frente mudou para amarelo. Ela cerrou os dentes antes de passar o sinal vermelho. N?o havia sinal do seu perseguidor quando subiu na rampa para a A1A, em dire??o ao oeste. Assim que se fundiu no passeio, o seu iPhone voltou a tocar antes que ela o desligasse. N?o iria falar com ningu?m at? estar em seguran?a dentro do seu apartamento. Se a FCCU perguntasse, ela explicaria o seu comportamento por estar assustada com as mensagens. N?o exigiria muita representa??o da sua parte. O leve tr?nsito e a brisa quente do oceano ao longo da ba?a de Biscayne pouco fizeram para aliviar o seu humor enquanto passava pelo centro a caminho de Dolphin Expressway. O seu p? descansou no acelerador o resto do caminho at? ? rua que dava para o seu pr?dio de tijolos laranjas. Travou ao ver algu?m entrar a meio da estrada. Os far?is do seu carro iluminaram a agente McBride. Ap?s parar do lado dela, Alanna abriu a janela. Antes que pudesse cuspir uma frase, a agente McBride agarrou a porta e entrou. “Por que diabos n?o atendeu o telefone?” “Desliguei-o. N?o viu as mensagens?” Ela mascou a pastilha el?stica algumas vezes antes de responder. “Sim. Da pr?xima vez que o seu namorado entrar em contato consigo, fa?a um trabalho melhor para pescar informa??es.” Alanna agarrou-se ? borda do assento do carro. “Aquela n?o era o Javier.” “Era o n?mero do telem?vel dele.” “Ele n?o conseguiu responder ? minha pergunta sobre o anivers?rio.” Os dedos da agente McBride bateram contra a porta. “Ele deu-lhe uma prova. A foto.” “Outro hacker a fazer-se passar por ele.” Primeiro Alanna pensou que o n?mero poderia ter sido falsificado. Com um aplicativo de spoofing como o que ela havia baixado anteriormente para o seu pr?-pago, os dados do remetente poderiam ser alterados para exibir qualquer endere?o de e-mail ou n?mero que ele quisesse. Mas ele foi capaz de enviar e receber mensagens do mesmo n?mero, o que significava que provavelmente tinha acesso ao telem?vel de Javier. “E ent?o? Voc? desativou o GPS por causa de uma mensagem assustadora?” Os olhos de Alanna se estreitaram ap?s ver a express?o presun?osa da agente McBride. “Desativei o GPS porque o meu telefone est? infetado com um v?rus.” “Reage sempre de forma exagerada quando recebe mensagens estranhas?” “Eu conhe?o o tipo dele. Ando ? volta deles noite e dia.” A agente McBride desviou o olhar e abanou a cabe?a. “Ok. Digamos que tem raz?o. Quem, al?m do seu namorado se incomodaria em infetar o seu telefone?” “O AntiAmerica.” “Como pode ter tanta certeza de que ele n?o ? o AntiAmerica? Se for, voc? deve estar cheia de medo. S?o assassinos a sangue-frio. Temos testemunhas que os colocam no apartamento do Paul antes do seu colega de quarto ser espancado at? ? morte.” “T?m provas de que o Javier faz parte do AntiAmerica?” “Porque continua a proteg?-lo?” Ela levantou a voz. “Ele amea?ou vir atr?s de si. Sabia o seu n?mero. Tinha a sua foto. E disse que poderia partilhar mais segredos. De que segredos estava ele a falar?” Era exatamente a conversa que Alanna n?o queria ter com ela. “Como diabos vou saber? N?o me importa que n?o acredite em mim. Algu?m sem ser o Javier enviou aquela mensagem. E infetou o meu telefone com um malware.” “Ou voc? anda a espalhar mais mentiras. O que a faz ter tanta certeza de que o seu telefone est? infetado?” “Qualquer pessoa boa o suficiente para roubar aquela foto pode infet?-la com um v?rus sem problemas.” “Aposto que o seu namorado ? bom o suficiente.” Ela revirou os olhos. “Voc? deveria estar a perseguir o Paul. N?o o Javier.” “Deixe que eu me preocupe com a minha investiga??o. Os dois trabalharam juntos. Estamos a investigar os dois.” “Pode ouvir-me? O Paul est? a tramar o Javier.” “N?o sou o agente Palmer. N?o estou interessada nas desculpas que voc? inventou. Voc? tem mentido desde o momento em que abriu a boca. O seu namorado ? a ?nica raz?o de voc? n?o estar na pris?o. Fa?a o seu trabalho e encontre-o.” “E o telefone?” A agente McBride estendeu a m?o direita. “D?-mo. Daremos uma vista de olhos.” Alanna entregou-lhe o telefone do banco do passageiro. “O que devo fazer sem um telefone?” A agente da FCCU abanou a cabe?a. “A s?rio, a tecnologia tornou voc?s, crian?as, in?teis. V? para o seu apartamento. Espere que entremos em contato consigo. At? que o seu telefone seja substitu?do, n?o podemos rastre?-lo se o tarado do seu namorado tentar alguma coisa.” Alanna estava a perder a paci?ncia com esta idiota. “Parece que voc? j? decidiu que ele ? culpado.” “Pedi a sua opini?o? Preocupe-se consigo mesma.” Ela franziu os l?bios antes de falar. “J? termin?mos?” “N?o. Da pr?xima vez que fizer algo dr?stico como desligar o seu GPS, fale comigo primeiro. Percebeu? N?o serei t?o educada da pr?xima vez que tiver de ca??-la.” Alanna respondeu pressionando o bot?o para fechar a janela. Sem se preocupar em ver a rea??o da agente McBride, mudou de marcha e conduziu at? ao parque de estacionamento. Ap?s entrar para o primeiro espa?o aberto, gritou a plenos pulm?es. Estava farta que as pessoas a intimidassem o tempo todo. O pior ? que n?o podia revidar. “Promete-me que aconte?a o que acontecer, n?o acabar?s indefesa como eu — uma v?tima.” Ela bateu com a nuca no encosto de cabe?a. As palavras do seu pai evocavam mem?rias das brigas dele com a sua m?e. No seu melhor dia, Alanna n?o era nem metade da manipuladora que ela era. A m?e submeteu-a a todo o tipo de abuso emocional, a menos que ela se integrasse na sua agenda de ascens?o social. O abuso verbal que o pai sofreu foi muito pior. A mem?ria que ficou gravada na sua cabe?a foi a vez em que a sua m?e tentou vir?-la contra ele. Ap?s brigarem por n?o terem dinheiro para se mudarem para um bairro melhor, dirigiu-se a Alanna quando ele saiu furioso. “O teu pai ? louco. Sabias disso? Foi diagnosticado por um Psiquiatra com Transtorno de Personalidade Borderline. Consegues ver isso, n?o consegues? Que h? algo de errado com ele?” Quando ela ficou l? parada em sil?ncio, a m?e revirou os olhos. “Porque te estou a perguntar? Tu ?s como ele. Aposto que tamb?m ?s louca.” Nem por um segundo Alanna sentiu falta de crescer sob o mesmo teto que a tempestade perfeita de cinismo ego?sta e total falta de filtro. Abriu os olhos e tirou a pen drive e a papelada de Jessica do porta-luvas. Ao sair do Corolla com a carteira e a mochila, procurou por algu?m parecido com um federal na garagem. O seu cora??o batia forte a cada passo que dava em dire??o ao elevador. Durante toda a subida, ela tamborilou os dedos contra a coxa esquerda. Era um pouco stressante andar a arrastar-se por ali com uma identidade falsa enquanto estava sob a vigil?ncia dos feds. N?o conseguia deixar de pensar que a agente McBride ou um dos seus colegas da FCCU podia estar escondido nas sombras, pronto para atacar. Uma vez no interior do seu apartamento, ela arrancou o port?til da mochila e atirou o restante conte?do para cima da mesa de caf? de carvalho ao lado do sof?. Um cart?o de pl?stico escorregou da pilha para o tapete castanho-claro. A mancha de sangue ao longo das suas bordas provocou um arrepio a Alanna. A sua primeira carta de condu??o. Enfiou-a debaixo do resto da pilha. N?o havia tempo para reviver mem?rias dolorosas. Mesmo sem lembran?as repentinas a surgir, o inseto da nostalgia andava a mord?-la desde que terminara com Javier. Pensara mais na sua fam?lia nas ?ltimas semanas do que durante o tempo em que estiveram juntos no sul da Fl?rida. Ao contr?rio do seu pai, ela normalmente bloqueava qualquer vontade de desenterrar o passado — especialmente os momentos mais terr?veis. Os seus esqueletos n?o haviam sido pendurados num arm?rio. Haviam sido enterrados bem fundo em solo sagrado, para nunca mais serem pisados. Ela sentou-se no ponta do sof? com o port?til de reserva em execu??o na mesa de caf?. N?o fizera nada com ele al?m de baixar alguns arquivos e aplicativos h? seis meses. Ele e o pr?-pago deviam estar seguros. Precisavam ficar assim. Os dados dela deviam continuar criptografados. Os arquivos n?o essenciais seriam armazenados noutro lugar. A navega??o e as mensagens seriam limitadas a fontes em que ela confiava. Ela copiou o conte?do da pen drive para o port?til. Os registos de Jessica. As contas banc?rias e do cart?o de cr?dito. Em seguida, garantiu que todos os seus dados fossem armazenados em backup, movendo os dados que tinha no seu port?til para a unidade. Era melhor ter esses dados ao seu alcance no caso do seu acordo com os federais ir por ?gua abaixo. Depois mostraria ? agente McBride como a tecnologia in?til a fez desaparecer bem debaixo do seu nariz. Mas n?o seria necess?ria uma fuga de emerg?ncia enquanto ela pudesse falar com Javier. Convenc?-lo-ia a preencher as lacunas para todas as suas perguntas sem resposta. E com alguma sorte, ajud?-la a manter a agente McBride e o resto dos federais longe de si. Ela tivera acesso ao aplicativo spoofer no seu pr?-pago. Se Brayden estava a mentir sobre contactar Javier, ela tinha o plano B alinhado. Alanna parou de digitar no teclado do port?til e respirou fundo. Suspeitava que Brayden andava a esconder-lhe segredos. Doeu ouvi-lo questionar a sua lealdade e expressar a sua desconfian?a. Mas ela nunca esperava se deparar com a mensagem que lera no seu telefone: “Mant?m essa cabra longe de mim. Ou n?o receber?s o pagamento.” Êîíåö îçíàêîìèòåëüíîãî ôðàãìåíòà. Òåêñò ïðåäîñòàâëåí ÎÎÎ «ËèòÐåñ». Ïðî÷èòàéòå ýòó êíèãó öåëèêîì, êóïèâ ïîëíóþ ëåãàëüíóþ âåðñèþ (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=66500962&lfrom=688855901) íà ËèòÐåñ. Áåçîïàñíî îïëàòèòü êíèãó ìîæíî áàíêîâñêîé êàðòîé Visa, MasterCard, Maestro, ñî ñ÷åòà ìîáèëüíîãî òåëåôîíà, ñ ïëàòåæíîãî òåðìèíàëà, â ñàëîíå ÌÒÑ èëè Ñâÿçíîé, ÷åðåç PayPal, WebMoney, ßíäåêñ.Äåíüãè, QIWI Êîøåëåê, áîíóñíûìè êàðòàìè èëè äðóãèì óäîáíûì Âàì ñïîñîáîì.
Íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë Ëó÷øåå ìåñòî äëÿ ðàçìåùåíèÿ ñâîèõ ïðîèçâåäåíèé ìîëîäûìè àâòîðàìè, ïîýòàìè; äëÿ ðåàëèçàöèè ñâîèõ òâîð÷åñêèõ èäåé è äëÿ òîãî, ÷òîáû âàøè ïðîèçâåäåíèÿ ñòàëè ïîïóëÿðíûìè è ÷èòàåìûìè. Åñëè âû, íåèçâåñòíûé ñîâðåìåííûé ïîýò èëè çàèíòåðåñîâàííûé ÷èòàòåëü - Âàñ æä¸ò íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë.