Ðóññêèé ÿçûê – àçû ìèðîçäàíèÿ, Ìóäðûé ñîâåò÷èê, öåëèòåëü è ìàã Äóøó ñîãðååò, îáëåã÷èò ñòðàäàíèÿ Îò ìóñîðà â í¸ì îñòà¸òñÿ ëèøü øëàê. Ñ àçîâ íà÷èíàëè è âåäàëè áóêè, Ñìûñëîì âñåãäà íàïîëíÿëèñü ñëîâà, Àçáóêà – ýòî íå òîëüêî çâóêè, Îáðàçû, öåëè, ïîñòóïêè, äåëà. Âåäàé æå áóêâû – ïèñüìà äîñòîÿíèå, Ìóäðîñòü ïîñëàíèé ïðåäêîâ ñëàâÿí, Ãëàãîë Áîæèé äàð – ïîçíà

Heran?a Perdida

Heran?a Perdida Robert Blake Um thriller vibrante de aventura, suspense e mist?rio ambientado no ?ltimo quartel do s?culo XIX e na Primeira Guerra Mundial. Um arque?logo proeminente desaparece em circunst?ncias estranhas durante a Primeira Guerra Mundial, enquanto os ex?rcitos lutam contra uma frente intermin?vel em batalhas sangrentas e enormes dificuldades que causam estragos nos dois lados. No final da guerra, um jornalista perspicaz, intrigado com o surpreendente desaparecimento do arque?logo, assumir? uma investiga??o complexa, que o levar? a viajar por diferentes continentes em uma busca r?pida at? que ele possa desvendar um epis?dio incomum na hist?ria do Imp?rio Brit?nico. Mergulhe em um thriller em ritmo acelerado, onde voc? poder? descobrir alguns dos achados mais famosos da era de ouro da arqueologia. Heran?a Perdida Robert Blake T?tulo original: El legado perdido © 2021 Robert Blake © Imagem da capa: Retirada dos common wells do Flickr Tradu??o de Susana Franco (Sem restri??o de direitos de autor) Todos os direitos reservados N?o ? permitida a reprodu??o total ou parcial deste trabalho, nem a sua incorpora??o a um sistema de computador, ou transmiss?o em qualquer forma ou por qualquer meio, seja ele eletr?nico, mec?nico, de grava??o ou qualquer outro, sem autoriza??o pr?via e escrita pelo autor. A infra??o dos direitos acima mencionados pode constituir um delito contra a propriedade intelectual (Art.270 e seguintes do C?digo Penal). ?ndice Pr?logo (#ulink_9badcb27-2a45-5b24-b44d-f3a697192deb) Cap?tulo I (#ulink_d941776a-5857-523f-a88b-8a1cd64bb930) Cap?tulo II (#ulink_a018a26c-6612-5663-87d4-e871359dbe92) Cap?tulo III Cap?tulo IV Capitulo V Pr?logo Tessal?nica, 1912 — Mais de meia hora ? espera neste calor sufocante — rosnou o diretor do museu enquanto mantinha o rel?gio de bolso no colete — Quando ? que o barqueiro vai aparecer? Ele continuou a andar ?s voltas para cima e para baixo enquanto a n?voa do amanhecer n?o permitia ver nem um metro de dist?ncia; apenas o leve ru?do de algum p?ssaro alterou o profundo sil?ncio. — Penso que n?o deve demorar muito — respondi enquanto folheava o pergaminho mais uma vez. — Achas que vamos encontrar o lugar exato com esta n?voa? — Acrescentou o velho. Kalisteras pareceu morder o l?bio; estava a come?ar a ficar cansado das queixas do velho. — Assim que os primeiros raios de sol nascerem, a n?voa come?ar? a dissipar-se e o lago ficar? vis?vel. — Tens a certeza? — Eu j? percorri este caminho muitas vezes — ele respondeu presun?osamente. O diretor olhou-o de cima a baixo, n?o suportava os presun?osos. — Espero que estejas certo — eu disse a olhar nos olhos dele. — ? preciso estar um dia claro e n?tido para poder interpretar este mapa. — Enquanto n?o for uma c?pia grosseira feita por alguns manuacenses nos s?culos seguintes, — acrescentou o diretor com um meio sorriso. — Ent?o a nossa jornada ? Sal?nica ter? sido em v?o. — Respondi ironicamente. — Nunca fa?o uma investiga??o sem provas suficientes. Este pergaminho ? do s?culo IV. — Eu sei amigo. Por isso ? que decidi sair da minha biblioteca. Ainda assim tenho as minhas d?vidas — ele suspirou suavemente. Imediatamente a figura do barqueiro apareceu na neblina sem que estiv?ssemos conscientes da sua presen?a. Ele cumprimentou Kalisteas e acenou para entrarmos no barco. — Eles j? pensavam que voc? n?o vinha, — Kalisteas o repreendeu. — Os meus amigos estavam a come?ar a ficar nervosos. O barqueiro olhou para ele; n?o parecia gostar de receber ordens. — Com este nevoeiro, at? para mim, ? dif?cil navegar, — respondeu ele. Kalisteas olhou para ele surpreendido. — Vamos l?, — ele acrescentou sem rodeios. — Levaremos o dobro do tempo para chegar ao nosso destino nestas condi??es. O barqueiro, com um joelho na madeira lascada, come?ou a brandir o seu longo remo de cima para baixo, enquanto n?s est?vamos sentados ? sua frente, tentando decifrar algo naquela manh? quente em que a ?gua parecia uma jangada de azeite e somente o som dos p?ssaros quebrava o inquebr?vel sil?ncio do amanhecer. Os primeiros raios de sol finalmente come?aram a aparecer, penetrando nas nuvens e diminuindo a n?voa que come?ou a deixar-nos ver uma manh? espl?ndida naquele vasto pantanal. A gruta para a qual est?vamos a ir, que ? dist?ncia parecia um simples buraco, tamb?m come?ou a tornar-se mais vis?vel quando nos aproxim?mos. — O n?vel da ?gua n?o baixou o suficiente! — Gritou Kalisteas, apontando com a m?o. — Meia caverna ainda est? inundada! Apenas o topo estava seco. A ?gua alcan?ou at? tr?s quartos da gruta. — O pergaminho garante que este ? o ?nico m?s do ano em que o n?vel da ?gua torna a caverna vis?vel, — respondi. — No m?s passado choveu muito. Portanto, o n?vel da ?gua est? mais alto do que o normal. — E agora? — O diretor rosnou novamente. — Toca a nadar, amigo, — Kalisteas anunciou com um sorriso ir?nico. A situa??o parecia diverti-lo. O barqueiro deixou-nos bem ? entrada do buraco, ent?o s? tivemos que pular para a ?gua e nadar uma curta dist?ncia dentro da caverna at? chegarmos a uma borda rochosa ao fundo dela. — Pagaste ao barqueiro? — Perguntou o grego quando chegamos ? costa. — N?o tivemos tempo. Pul?mos rapidamente para a ?gua. Kalisteas abanou a cabe?a v?rias vezes. — Pagaremos no regresso — respondi. — Ele esperava o pagamento agora. Quem garante que voltaremos? — Ele acrescentou com raiva e come?ou a caminhar em dire??o a um pequeno t?nel ? sua esquerda. — Porque ? que ele est? furioso? — O professor sussurrou ao meu ouvido alguns metros depois, quando o grego se afastou um pouco. — D? azar n?o pagar a portagem — respondi, virando a cabe?a. — Os gregos s?o muito supersticiosos. Kalisteas levou-nos por um corredor estreito que serpenteava da esquerda para a direita quando come??mos a descer e o calor ficou ainda mais sufocante. Cheg?mos a uma encruzilhada onde dois t?neis bloqueavam o caminho e uma pequena cavidade continuava a descer. — Guiei-vos at? onde sei, — disse Kalisteas em voz baixa. — Agora ? a vossa vez. Analisamos cuidadosamente aquela encruzilhada, at? que o professor reconheceu umas inscri??es gravadas no fundo da rocha num dos t?neis e virou-se para n?s com um sorriso triunfante no rosto. — ? esta a marca que procuramos, — anunciou. — N?o tenho d?vidas. Continu?mos por uma passagem estreita, iluminando com l?mpadas de querosene enquanto ouv?amos o bater de morcegos atr?s de n?s, at? que o caminho parou de repente. Depois de iluminar trezentos e sessenta graus, vimos como ? nossa esquerda havia uma abertura estreita pela qual quase ningu?m podia passar. — A entrada secreta, — anunciou o professor. Kalisteas curvou-se e entrou na passagem, enquanto o segu?amos. O t?nel continuava em linha reta enquanto n?s rastej?vamos agachados para que as cabe?as n?o tocassem no teto. As nossas pernas come?aram a ficar dormentes at? que finalmente chegamos ao p? de uma escada de pedra em espiral, que descemos cuidadosamente. Ao chegar ao fundo, o professor estava ofegante. — Est?s bem? — Claro. N?o te preocupes comigo. Sou um velho viciado em livros e n?o estou acostumado a fazer esfor?os, mas n?o vou desistir. Kalisteas finalmente sorriu, parecia ver um esp?rito aventureiro no professor curvado. — Acho que chegamos ao fim do nosso caminho, — anunciou o grego enquanto apontava para a frente. Diante dos nossos olhos havia uma lagoa escura subterr?nea que impedia a nossa passagem. Quando nos aproxim?mos da costa, havia um pequeno altar que parecia pouco vis?vel da nossa posi??o no fim da gruta. — S? h? duas op??es, — exclamei, virando-me para os meus companheiros. — Atravessar a lagoa ou voltar e tentar outro t?nel. — H? algo nesta caverna que n?o me agrada — disse o professor. — H? muito sil?ncio. Come?amos a inspecionar a costa, era apenas um pedacinho de terra, cercado por um imenso muro de pedra com cerca de dez metros de altura que atravessava a lagoa da esquerda para a direita. — A outra margem n?o parece t?o longe, — disse Kalisteas. — Sou um bom nadador. Acho que poderia atravessar sem nenhum problema. — N?o h? vest?gios de presen?a humana nesta caverna. ? como se ningu?m tivesse aqui estado h? centenas de anos — acrescentou o professor. N?s dois o encaramos como se ele tivesse lido os nossos pensamentos. O grego come?ou a tirar a roupa e preparou-se para entrar na ?gua. — Tens a certeza que consegues nadar at? l?? Ele sorriu com um aceno de cabe?a. Ele entrou na ?gua e come?ou a remar enquanto tremia e a n?voa sa?a-lhe pela boca. Ele estava a nadar h? pouco tempo quando ouvimos um respingo na ?gua e uma pequena onda se formou a poucos metros de onde ele estava. — Olha para aquilo, — disse o professor. — Nada at? ? costa o mais r?pido que puderes! — Gritei para ele instantaneamente. — H? algo na ?gua! Kalisteas olhou para a esquerda e viu-o aproximar-se a alta velocidade. — Ilumine para ali, professor! — Eu disse enquanto tirava o meu rev?lver da mochila e come?ava a atirar naquela dire??o. O som dos tiros pareceu assustar a criatura do lago e Kalisteas conseguiu alcan?ar a costa s?o e salvo. — Agora j? sabemos porque ? que ningu?m atravessa esta lagoa h? anos, — disse o grego, tentando secar-se e voltar a vestir-se. — E agora? — Observou o professor. — N?o fa?o a m?nima ideia — respondi, olhando para aquela caverna sinistra mais uma vez. Pass?mos algum tempo a examinar cada canto tentando encontrar uma solu??o. A princ?pio, pens?mos que a melhor ideia era regressar e voltar noutro dia com o equipamento certo, mas est?vamos longe da cidade mais pr?xima e a entrada da caverna ficaria submersa novamente em alguns dias, por isso ter?amos que esperar um ano inteiro para tentar novamente. Exaustos, sent?mo-nos num conjunto de pedras na beira da ?gua. Apesar da escurid?o, as tochas que t?nhamos colocado na costa refletiam-se nas ?guas da lagoa, desenhando um c?u estrelado sobre a ab?bada da caverna. Foi essa vis?o que me fez lembrar de quando, h? anos atr?s, me levantei antes do amanhecer para empreender a ?rdua subida dos picos alpinos durante as minhas f?rias na Su??a. — Quanta corda trouxeste? — Perguntei a Kalisteas, levantando-me do assento como uma mola. — A quantidade que pediste. Tem v?rios metros. — V?s a parede que atravessa a gruta da esquerda para a direita? — Eu falei, apontando para ela — Come?a nesta ponta e vai dar ao pequeno altar. Se eu conseguir passar, n?o preciso molhar um dedo. — Enlouqueceste? — O professor repreendeu-me como se estivesse a ensinar na sua sala de aula em Oxford. — Eu consigo atravessar aquela parede de uma ponta ? outra. — Vejam — apontei — a humidade formou in?meras cavidades na rocha. Pode ser escalada sem grandes problemas. S? espero ter metros de corda suficientes. — ? muito arriscado — acrescentou Kalisteas. Foi a primeira vez que notei o medo nos seus olhos. — N?o vim at? aqui para dar meia-volta quando estamos prestes a fazer a maior descoberta da hist?ria — respondi com raiva. Ambos olharam para baixo e n?o abriram a boca. Preparamos todo o equipamento necess?rio e, ap?s pensar pela ?ltima vez, iniciei a subida. O primeiro trecho era f?cil, a altura n?o era excessiva, podia ficar uns seis metros acima do n?vel da lagoa, alto o suficiente para que nada me pudesse atacar da ?gua. Eu cravava pregos na rocha enquanto amarrava a corda neles e passava ao redor da cintura para evitar qualquer queda. Avancei assim ao longo da parede em dire??o ? outra margem, dando um passo atr?s do outro com muito cuidado, aproveitando os buracos naturais que a humidade formou ao longo dos anos. Quando cheguei ? media??o, come?ava a sentir-me exausto. Olhei para baixo uma vez e pensei ter visto a ?gua a agitar-se suavemente no centro da lagoa. Depois de quase meia hora eu estava exausto, embora a proximidade do altar me desse for?as para continuar. O maior inc?modo veio um momento depois, porque a corda estourou quando faltavam apenas alguns metros para chegar ? outra margem e j? conseguia distinguir aquela rel?quia com total clareza. — O que foi, amigo? — Kalisteas gritou enquanto me via levantar. — A corda acabou! — Respondi, voltando-me para a sua posi??o. — Devias ter pagado ao barqueiro, — ele rosnou com raiva. — Voltas a tentar para o ano. Fingi n?o ouvir e soltei o resto da corda que ainda me restava at? ? beira da ?gua. Deslizei suavemente sobre ela at? que introduzi silenciosamente o meu corpo e o l?quido frio atingiu o meu pesco?o. N?o havia como voltar atr?s, comecei a nadar em dire??o ? costa com todas as minhas for?as. A dist?ncia era curta, mas cheguei exausto pelo esfor?o de escalar. Quando pisei na margem, virei-me quando ouvi um rangido atr?s de mim e, sem pensar duas vezes, tirei o rev?lver e esvaziei o carregador sem ver do que se tratava. S? pude observar algumas ondula??es na ?gua que se afastaram novamente na dire??o oposta. Recuperei a calma e finalmente consegui chegar ao pequeno altar que estava localizado sobre uma rocha composta por uma l?pide no meio de um cub?culo e em cuja pedra havia sido entalhada uma prociss?o de carpideiras. Debaixo delas havia um t?mulo onde havia algumas letras que mal podiam ser lidas, desgastadas pela humidade e o passar do tempo. Passei a minha m?o sobre elas e tive uma sensa??o que hoje ainda n?o consigo descrever em palavras. Fiquei paralisado a olhar para elas por alguns momentos, at? que um som alto come?ou a zumbir nos meus ouvidos, sem saber de onde vinha. Olhei para a lagoa e n?o vi nada fora do comum. — Tens que voltar r?pido! — Kalisteas come?ou a gritar com toda a for?a. — Agora n?o, amigo! Finalmente encontrei! — Eu respondi. — Esquece isso se n?o queres que seja a ?ltima coisa que fazes na vida! Est? a formar-se uma tempestade sobre a lagoa e em alguns minutos a caverna ser? completamente inundada com ?gua! Estas palavras apunhalaram-me no cora??o. — Tudo bem! — Respondi com resigna??o. — S? h? uma op??o para voltar com voc?s! — Estou a ouvir! — Atira pedra para a ?gua para atrair a aten??o do nosso amigo! Assim que o vires aproximar-se, faz-me sinal com a tocha! — Entendido! Kalisteas balan?ou a tocha de um lado para o outro, momentos depois. Naquele momento entrei na ?gua e comecei a nadar at? ? corda, agarrei-a com as duas m?os e comecei a pulsar o mais r?pido que pude. Quando cheguei ao primeiro prego, enrolei a corda em volta da cintura novamente e fiz todo o caminho at? a outra margem como um cavalo a cavalgar ao vento. A tempestade n?o parava de trovejar l? fora com mais for?a, quando cheguei ? outra margem as minhas m?os estavam ensanguentadas pelo grande esfor?o que havia feito. O grego conduziu-nos ? pressa pelos t?neis at? chegarmos ? cavidade de entrada, onde a ?gua havia subido quase at? ? altura do teto. Nad?mos rapidamente para o lago enquanto as nossas cabe?as mal sa?am da ?gua. J? pod?amos ver a sa?da quando a caverna ficou completamente alagada, respir?mos fundo e tivemos que mergulhar no trecho final at? que finalmente imergimos no lago ? mesma altura onde o barqueiro nos esperava. A viagem de volta teve um gosto agridoce. Hav?amos feito a maior descoberta da hist?ria, mas n?o t?nhamos nenhuma evid?ncia que o confirmasse. E o pior de tudo, ter?amos que esperar um ano inteiro para tentar novamente. Cap?tulo I Londres, 1922 Estava a caminho do Museu Brit?nico num t?xi que apanhara na esquina da White Hurtline e j? estava atrasado para a exposi??o que acontecia naquela noite na sua sala principal. Todos os editores dos jornais mais importantes da cidade foram fazer a cobertura das not?cias do ano. Pela primeira vez, a descoberta arqueol?gica mais aclamada dos ?ltimos anos podia ser vista em Londres. Nenhum jornalista que se preze poderia perder o evento. Quando cheg?mos a Piccadilly Circus, deparamo-nos com um monumental engarrafamento que bloqueou o nosso caminho e, por dez minutos, mal avan??mos vinte metros. Se me atrasasse, poderia considerar-me despedido. — Quanto lhe devo? — Perguntei ao motorista. — Uma libra e dez, — respondeu ele, virando-se para mim. Paguei a conta e sa? do ve?culo. Atravessei a Trafalgar Square debaixo de chuva fraca e subi apressadamente v?rias ruas adjacentes at? chegar a Great Russell. A expectativa era ainda maior do que ele havia imaginado. Cem fot?grafos, pol?cias e uma multid?o de curiosos lotaram o port?o de entrada do Museu Brit?nico. Apesar das suas enormes dimens?es, parecia pequeno demais para a ocasi?o. Os Rolls-Royces e os Duesenbergs n?o paravam de chegar ? sua porta. Ele n?o se lembrava de haver tanto barulho desde que Valentino apareceu no Albert Hall alguns anos antes. Duas grandes fontes de luz faziam brilhar as imponentes colunas d?ricas da sua fachada, e a deusa Atenas parecia ganhar vida no front?o. O pr?dio brilhou naquela noite como se fosse a mais bela joia do Neocl?ssico. Fui ao controle de acesso, apresentei o meu crach? da imprensa e, ap?s uma busca minuciosa, deixaram-me passar. Durante o dia, eles tentaram infiltrar-se com alguma autoriza??o falsa. Subi as escadas e parei no local designado para o meu jornal. — Ei, Paul! Est?s todo encharcado! — Exclamou Tom, o correspondente do Northen Star. — Era imposs?vel chegar c? de t?xi e esqueci-me do guarda-chuva em casa, — respondi com resigna??o. — Chegou algum figur?o? — S? o presidente da c?mara. Mas isso j? n?o ? novidade — respondeu ele sorrindo. Um grande murm?rio foi ouvido ao fundo e as pessoas come?aram a se aglomerar na entrada principal. — Acho que vem a? o nosso homem, — anunciou Tom enquanto recarregava a c?mara fotogr?fica. N?o tivemos que esperar muito, alguns momentos depois o Aston Martin descapot?vel que carregava o protagonista do dia parou pr?ximo ? escada. Uma chuva de flashes imortalizou o momento enquanto as pessoas gritavam o seu nome e o homem mais procurado do planeta sa?a do carro. Howard Carter, acompanhado da sua bela e elegante parceira, atravessou o tapete azul-marinho que havia sido instalado para a ocasi?o, acenando da esquerda para a direita como se fossem duas estrelas do cinema mudo. — Sr. Carter! Sr. Carter! — Todos os correspondentes gritaram em un?ssono. — Algumas palavras para o Daily Telegraph! — exclamei quando ele se aproximou da minha posi??o. Howard Carter parou ? minha frente e eu baixei a c?mara e tirei o caderno do meu casaco. — Diga-nos, Sr. Carter, qual foi a coisa mais dif?cil sobre a descoberta? — O mais dif?cil foi encontrar o t?mulo, — brincou. Todos os presentes riram alto. — Agora a s?rio, — acrescentou ele. — A parte mais dif?cil foi manter const?ncia suficiente durante anos de intensa busca. — Obrigado, Sr. Carter. Carter e a sua companheira subiram as escadas onde o diretor do Museu Brit?nico os esperava com o primeiro-ministro e outras autoridades para apertarem as m?os. Durante a visita, ele explicou a todos os presentes como descobriu o quarto que abrigava o t?mulo de Tutankhamon. Eles puderam admirar fotografias e r?plicas da descoberta, pois as pe?as originais ainda estavam no Egipto. Mais tarde, as autoridades e o pr?prio Carter foram a um coquetel preparado em sua homenagem num dos restaurantes mais famosos da cidade. Enquanto isso, pudemos conferir mais de perto a incr?vel descoberta que ele fez. Todos os objetos da c?mara mortu?ria estavam em perfeitas condi??es. Foi um verdadeiro milagre que os ladr?es de t?mulos n?o profanassem um tesouro t?o incr?vel durante s?culos. Naquela noite, voltei ? reda??o para preparar a mat?ria que seria a primeira p?gina de todos os jornais da cidade. Procurei dar um toque pessoal para que diferisse das cr?nicas dos meus colegas de profiss?o. Na manh? seguinte, voltei cedo ao jornal, que era um pr?dio modernista de cinco andares constru?do no in?cio do s?culo. Subi a sua ampla escadaria at? ao segundo andar e encontrei a mesma rotina que respirava diariamente. Um movimento incessante de pessoas que entravam e sa?am dos escrit?rios com algumas novidades para contar. Atravessei o corredor em meio ao barulho ensurdecedor das m?quinas de escrever, o som dos telefones a tocar sem parar, os gritos cont?nuos dos correspondentes e um cheiro forte de tabaco que tornava o ambiente irrespir?vel. Abri a porta e entrei na sala do diretor, um escoc?s de sessenta anos de nariz comprido, costelas grossas e rosto magro. Ele reuniu v?rios editores em quem confiava naquela manh?. — Entra e fecha a porta, — disse ele mal-humorado —. Como fui proibido de fumar, n?o suporto esse cheiro. — ? para j?, senhor, — disse Sarah, a editora-chefe. Naquele dia ela abusou do seu perfume franc?s e n?o deixou ningu?m indiferente. — Temos muito trabalho a fazer esta manh?. As vendas de domingo ca?ram de forma alarmante nos ?ltimos dois meses, — disse ele, batendo na mesa. — Se continuarmos assim, o jornal vai ? fal?ncia. Precisamos de algo novo que coloque o Daily Telegraph na vanguarda desta cidade. — Poder?amos acrescentar um relato policial, — comentou um rec?m-chegado da competi??o. — Muito banal, — disse ele, colocando os bra?os na cintura. — J? tentaram noutros jornais e foi um fracasso. Todos os escritores desta gera??o consideram-se uns Conan Doyle. Um jovem correspondente que havia come?ado a trabalhar na semana anterior tirou o seu cachimbo, colocou tabaco nele e riscou um f?sforo. O escoc?s foi at? ele e tirou-lhe o cachimbo da boca. — N?o me ouviste antes? O rapaz ficou p?lido e todos n?s contemos o riso. Ele n?o sabia com quem estava a brincar. — Mais alguma ideia? — Rosnou. — Talvez um manual de bricolage ou jardinagem, — acrescentou Sarah. — Toda a gente neste pa?s entende de jardinagem, — respondeu ele com um gesto de desprezo. — Se s? pensam dizer coisas est?pidas, ? melhor ficarem calados, — ele acrescentou com um olhar amea?ador. — Precisamos de algo inovador. Todos n?s fic?mos em sil?ncio por alguns minutos sem saber o que dizer. Fui at? ? cafeteira e servi-me de uma caneca cheia. Tinha uma ideia a assombrar-me desde a noite anterior, mas n?o sabia se deveria compartilh?-la. — Acho que tenho algo interessante, — anunciei enquanto largava o caf? na mesa. — Estou a ouvir. — A descoberta de Carter no Egipto pode ser uma mina de ouro. Fez com que as pessoas se esquecessem dos desastres da guerra. — Onde queres chegar? — As pessoas continuam a ter um desejo insaci?vel pelas hist?rias dos nossos grandes exploradores. — Essas expedi??es podem ser encontradas em qualquer biblioteca p?blica. — ? verdade. Mas podemos surpreend?-los com uma hist?ria menos conhecida. Existem milhares de hist?rias interessantes ? espera para serem publicadas. — N?o sei se vai funcionar, —respondeu ele duvidoso. — E onde pensas consegui-las? — Podemos come?ar pela biblioteca do Museu Brit?nico. Ele ficou em sil?ncio por alguns momentos, cabisbaixo e acrescentou: — Se ningu?m tiver uma ideia melhor, tentaremos por alguns dias. A reuni?o deu-se por encerrada. Sa?mos do escrit?rio e continu?mos com o nosso trabalho di?rio. Quando acordei, a janela estava coberta por um manto branco. Nevara ap?s um ano e as ruas estavam cheias de crian?as que n?o paravam de jogar bolas de neve. No caminho para o Museu Brit?nico, vi como um casal de transeuntes escorregou desamparadamente; o gelo tornou v?rias ruas intransit?veis e alguns trabalhadores come?aram a adicionar sal para evitar males maiores. Apesar disso, a biblioteca do Museu estava lotada como sempre, pelas suas portas entrava e sa?a uma enxurrada incessante de gente: estudantes, leitores, turistas e pesquisadores que passavam horas dentro das suas paredes. Subi as escadas, tomando cuidado para n?o escorregar, atravessei o corredor e cheguei ao ?trio: uma grande sala de leitura circular com espa?o para mais de mil pessoas. Ali estavam os volumes mais antigos da Inglaterra. Tive que ficar na fila da rece??o at? que uma bibliotec?ria de cabelos louros e fato azul-marinho me mostrasse onde poderia come?ar a procurar. — Temos tr?s tipos de invent?rios — explicou ela, erguendo os seus preciosos olhos acima de uns min?sculos ?culos redondos — :topogr?ficos, cronol?gicos e por assunto. — Estou ? procura dos di?rios de explora??o dos ?ltimos cinquenta anos. A funcion?ria suspirou. — Inicie a sua pesquisa por «Assuntos». Depois pode fazer um estudo cartogr?fico e, por fim, expandi-lo cronologicamente. — Isso significa que posso encontrar informa??es em todos os tr?s invent?rios? Ela assentiu com um meio sorriso. Ouvindo isto, cobri o rosto com as m?os. Fui ao segundo andar e, ap?s passar por v?rios corredores cheios de estantes, encontrei uma sec??o com v?rios manuscritos. Pedi a documenta??o ao respons?vel e este foi depositando sobre a mesa uma montanha de arquivos que ultrapassava a minha altura. — ? tudo por hoje? — Perguntou. — Espero que sim, — respondi resignado. — Se n?o terminar, temos prateleiras na rece??o onde os investigadores guardam as informa??es para o dia seguinte. — Muito obrigado. Foi muito gentil. Liguei o pequeno candeeiro verde que cada mesa tem e abri a primeira pasta, como faria nos dias seguintes. Depois de alguns dias de pesquisa, comecei a arrepender-me da minha proposta, aquele assunto n?o ia ser nada f?cil. As informa??es eram infinitas, levaria anos para estud?-las em detalhes. Encontrei desde exploradores que descobriram os lugares mais remotos da ?frica e da ?sia, at? arque?logos que desenterraram o legado hist?rico do Oriente. A meio da manh?, enquanto folheava algumas p?ginas, vi como um tipo n?o parava de olhar para mim algumas mesas ? frente. N?o sabia se o conhecia de algum lugar ou se ele estava ? minha procura por algum motivo. Procurei lembrar-me e n?o devia dinheiro a ningu?m. Um momento depois, olhei novamente e ele j? n?o estava mais l?. Depois do almo?o, vasculhei as estantes da Biblioteca. Senti-me verdadeiramente privilegiado enquanto corria os meus dedos por aqueles volumes com tantos s?culos de hist?ria: o di?rio pessoal de Stanley na sua odisseia pela ?frica para encontrar as nascentes do Nilo e o seu subsequente encontro com Livingstone. As dificuldades pelas quais os exploradores ?rticos liderados por Shackelton passaram quando o seu navio ficou preso no gelo por meses e eles quase perderam a vida; a corrida para conquistar o Polo Sul entre Amundsen e Scott, na qual ele tragicamente acabou a perder a sua vida e as v?rias descobertas arqueol?gicas dos nossos mais aclamados exploradores. Esta investiga??o n?o me levava a lado nenhum e eu precisava mudar isso. — Com licen?a, menina, voc? disse-me que al?m da documenta??o escrita tamb?m ? poss?vel consultar os mapas. — N?o temos apenas mapas, tamb?m temos jornais e fotografias. O meu rosto empalideceu como no primeiro dia; esta rapariga era uma fonte inesgot?vel de boas not?cias. Desta vez, tive que descer para o por?o. L?, estudei diversos mapas e jornais do s?culo XIX. Embora as suas leituras fossem interessantes, a maior parte das informa??es j? era conhecida do p?blico em geral. O meu trabalho era descobrir algo novo e em quatro dias eu havia encontrado apenas algumas hist?rias que valessem a pena descrever. Estava absorto em jornais que ainda cheiravam fortemente a tinta quando taparam os meus olhos e a tinta deu lugar a um perfume agrad?vel. — Adriana! — Exclamei n?o convencido. — Agora ?s bruxo ou qu?? — Ela perguntou, sorrindo. Adriana era uma siciliana de olhos verdes intensos, sorriso f?cil e a melhor dan?arina que j? conheci. Emigrara com os pais quando era crian?a. — O que te traz c?? — Ela perguntou, sentando-se ? minha frente. — Sabes como ?. No jornal, um dia est?s no Parlamento e no outro ? procura de informa??es numa biblioteca. — Que inveja. Passo o dia todo no cabeleireiro. Balancei a cabe?a com um sorriso. — Vais ao sal?o este s?bado? — Claro. Estou muito contente com a minha professora. — Conhe?o-a? — Agora que penso nisso, ela parece-se muito contigo. Ela riu e da mesa ao lado come?aram a olhar para n?s. — Vou deixar-te trabalhar. Esta noite vou ver o ?ltimo filme da Gloria Swanson, alinhas? — Imposs?vel. Estou cheio de trabalho. Vemo-nos no s?bado. Ela deu-me um beijo na bochecha e foi embora a sorrir. Depois de um tempo, descobri entre as prateleiras o tipo que me observava tr?s dias antes. Sem pensar duas vezes, levantei-me e fui pedir-lhe uma explica??o, mas quando cheguei n?o havia ningu?m l?. Passei por alguns corredores e n?o o encontrei, parecia que a terra o havia engolido; isto come?ava a cheirar mal. Rumores chegaram at? mim na sexta-feira de que o meu chefe n?o estava satisfeito com o meu trabalho. Repeti ad nauseam que ele precisava de mais ajudantes de pesquisa, mas ele n?o levou o meu conselho a s?rio. Todo o trabalho recaiu sobre mim. O mais frustrante ? que, se a publica??o fosse um sucesso, todo o cr?dito iria para o jornal e o seu editor. Para mim, haveria apenas uma pequena resenha no final de cada artigo com o nome impresso, mas se fosse um fracasso o ?nico culpado seria eu. Ap?s uma semana de investiga??o, o Sr. Dillan mandou chamar-me. Quando cheguei ? sua porta, notei que as vidra?as do seu escrit?rio haviam sido alteradas e o seu nome podia ser lido numa enorme placa. — O que me trazes hoje? — Ele perguntou c?tico. Eu sabia pelos meus colegas que n?o havia encontrado nada de novo. — Encontraste algo que possa ser publicado? Tirei a gabardina e o chap?u e coloquei no cabide ao lado do porta-guarda-chuvas. De seguida, sentei-me numa cadeira de carvalho gasta. — Tenho algumas hist?rias de exploradores africanos que descobriram pequenos rios na costa oeste. O escoc?s abanou a cabe?a repetidamente. Foi at? ao r?dio e desligou um discurso enfadonho do primeiro-ministro. — Adicionando um pouco de aventura e embelezando um pouco o artigo, poder?amos public?-lo. — E s? me trazes isso depois de uma semana? — Ele respondeu, olhando para mim. — N?o foste ao pub com aquela morena? Abanei a cabe?a. — Passo o dia todo a trabalhar no museu, — respondi. — A italiana ? uma boa amiga que me ensina a dan?ar charleston. — Aquela dan?a americana descarada? — ? divertido, — eu disse, sorrindo. — Deveria experimentar. O Sr. Dillan olhou para mim com cara de poucos amigos e eu olhei para baixo. — Recebi permiss?o da Sociedade Geogr?fica para investigarmos nas suas instala??es, — anunciou, entregando-me o documento. — A partir de amanh? vais trabalhar l?. — ?timas not?cias, senhor. — Espero que tragas not?cias melhores da pr?xima vez. Agora sai daqui. Estou cheio de trabalho. Dei a volta ? almofada algumas vezes, levantei-me e fiz um caf? forte. Naquela manh?, senti-me revigorado. Foi o meu primeiro dia na biblioteca da Real Sociedade Geogr?fica Brit?nica, a mais alta autoridade nestes assuntos. L? era apenas permitido investigar a pessoas muito influentes no campo das universidades de Oxford e Cambridge. Felizmente, o Sr. Dillan era sobrinho de um dos patrocinadores mais influentes da institui??o e obtivemos uma licen?a para investigar por duas semanas. A biblioteca da Sociedade era menor que a do Museu Brit?nico, mas continha verdadeiros tesouros. Nos primeiros dias a investiga??o continuou na mesma linha da semana anterior. Todos eram nomes familiares de exploradores famosos que escreveram p?ginas gloriosas da hist?ria do Imp?rio Brit?nico. A minha surpresa veio quando menos esperava: revia expedi??es ao M?dio Oriente quando descobri um nome que se repetia tanto nas descobertas da Mesopot?mia quanto do Egito: o seu sobrenome era Henson. O que chama a aten??o no caso ? que s? apareceu em documentos anexados ao original, nunca no di?rio oficial da expedi??o, o que me chamou especialmente a aten??o. Continuei a investiga??o por dois dias sem encontrar o seu nome em mais nenhuma explora??o; n?o sabia se o motivo era a sua morte ou o desaparecimento em algum deles. O meu interesse continuou a crescer num caso t?o incomum e decidi concentrar-me nele. Fiz uma pesquisa detalhada, primeiro em ordem alfab?tica por ?ndice do navegador e depois em ordem cronol?gica por data, mas nada permaneceu l?. Decidi tentar um novo caminho e perguntei ao gerenciador de arquivos se ele conhecia esse Henson. Infelizmente, ele estava no cargo h? apenas alguns anos e nunca na vida ouvira falar dele. Depois de almo?ar um rodo de carne com legumes, voltei ? reda??o e perguntei aos colegas que j? estavam h? mais tempo no jornal se o nome lhes era conhecido. Ningu?m ouvira falar dele. Naquela tarde, voltei ? Biblioteca da Sociedade Geogr?fica e continuei a procurar por horas. Novamente procurei pelo ?ndice de exploradores, depois fui aos di?rios pessoais que existiam de alguns exploradores e, por fim, fiz uma busca pelo ?ndice topogr?fico. Foi neste ?ltimo ?ndice que voltei a encontrar o seu nome, mas desta vez associado a uma expedi??o ? Am?rica do Sul. Isto era ainda mais improv?vel, pois poucos exploradores brit?nicos jamais se aventuraram nestas terras remotas. O incomum ? que o encontrei novamente num documento anexo; n?o apareceu no registo da expedi??o. Ele agora tinha tr?s refer?ncias: duas no M?dio Oriente e uma no continente americano, mas as informa??es ainda eram insuficientes. Passei o dia todo a tentar encontrar algo novo, mas esse Henson havia sido engolido pela terra. Come?ava a ficar desmoralizado com o assunto: os leitores do nosso jornal deviam contentar-se com alguma pequena descoberta no continente africano que fosse minimamente interessante depois de ser adornada por um bom editor. Sa? naquela tarde pela porta do edif?cio com a cabe?a baixa. Uma forte chuva ca?a do lado de fora e abri o guarda-chuva. V?rias po?as se formaram e o poste de luz em frente ao pr?dio n?o parava de piscar. O porteiro com quem eu fizera amizade aproximou-se de mim. — Como correu a investiga??o? — Ele perguntou enquanto gotas de chuva ca?am no guarda-chuva. — Mal. N?o consigo encontrar nada de not?vel no tal Henson. — Ontem cruzei-me com o antigo porteiro da Sociedade Geogr?fica. Lembre-se de que, h? anos atr?s, havia um Henson na Sociedade Geogr?fica. — Claro! Como n?o pensei nisso antes? Eu deveria ter perguntado entre os ex-funcion?rios. Samuel foi at? ao poste, bateu algumas vezes na base e corrigiu o problema. Em dias chuvosos, os apag?es eram frequentes. — Quanto tempo falta para fechar? — Meia hora. ?s sextas-feiras fechamos mais cedo. — Eu preciso encontrar alguma coisa para continuar a investiga??o. Corri escada acima e procurei nos volumes anteriores ? data que havia pesquisado. A atividade mais fecunda da Sociedade Geogr?fica come?ou em 1850, data a partir da qual comecei as minhas pesquisas. Mas foi fundada em 1830, o que significava que havia vinte anos que eu n?o tinha visto. Pude constatar que os volumes desse per?odo nada tinham a ver com os que havia estudado anteriormente: nos primeiros anos a atividade de explora??o era menor. Decidi come?ar pela funda??o da Sociedade Geogr?fica e tudo aconteceu mais r?pido do que esperava. Nas primeiras p?ginas encontrei o seu nome: o seu nome era Philip Henson e havia sido um dos cofundadores da Sociedade Geogr?fica; veio do norte da Inglaterra, mais especificamente da cidade de Newcastle. Depois de um tempo, Samuel veio avisar-me sobre o hor?rio de encerramento. Apreciei muito a sua informa??o, porque sem ele n?o teria sido poss?vel continuar. Agora eu tinha algo s?lido em que me apoiar e poderia ganhar tempo para investigar mais a fundo. Passei os dias seguintes na biblioteca a estudar as origens desse Henson, que era de uma fam?lia rica da ind?stria do carv?o do norte da Inglaterra. Ele havia servido na ?ndia no destacamento de Janipur, onde conheceu a sua esposa Maureen, cuja fam?lia tamb?m servia l?. Ap?s retornar ? Inglaterra, ele continuou com o neg?cio de minera??o familiar e dedicou o seu pouco tempo livre ? sua grande paix?o: a Geografia. Manteve contacto com os seus colegas universit?rios, que o convenceram a ingressar na rec?m-criada Sociedade Geogr?fica. Mas tornou-se um parceiro simb?lico devido ? sua dedica??o ao neg?cio e s? comparecia ?s reuni?es do Conselho quando o tempo permitia. Ele tinha voz e voto nelas, mas n?o participou de nenhuma expedi??o organizada em territ?rio brit?nico. S? quando se mudou para o norte da Espanha ? que fundou uma Sociedade Geogr?fica na Pen?nsula Ib?rica e participou de uma expedi??o. Isto n?o fazia sentido, j? que ele havia encontrado o seu nome em tr?s expedi??es, mas a sua biografia apenas falava de comparecer ?s reuni?es do Conselho. Sa? da biblioteca e fui procurar o Samuel, que verificava o registo de visitantes. — Preciso do endere?o do antigo porteiro. Gostaria de fazer-lhe uma visita esta tarde. — N?o ser? necess?rio. O Sr. Mason passa o dia todo no Dois Cisnes. Um pub ao final da Kensington Road. N?o pensei nisso por um momento e decidi ir ao bar conversar com Mason. De passagem, aproveitaria para comer um bom guisado. Era um estabelecimento subterr?neo com uma fachada preta antiquada. Ao entrar, descobri que ele estava bastante animado apesar das horas do dia. L? eles destilavam um gin que derrubaria um cavalo. ? medida que me aproximava do bar, o cheiro era mais intenso. — Conhece o Sr. Mason? — Perguntei ao gar?on. — Ei, amigo! Est? a perguntar pelo Mason? — Gritou um sujeito alto e magro com sobrancelhas profundas sentado numa mesa perto do bar. — ? voc?? — Perguntei. — Depende de quem quer saber. Quem me pagar uma caneca de cerveja ? bem-vindo. Virei a cabe?a e pedi ao gar?on que nos servisse duas canecas. O empregado acenou com a cabe?a com um sorriso. Da cozinha vinha o aroma de um ensopado fresco. Eu estava com fome. Peguei nas cervejas e sentei-me ? mesa. — O meu nome ? Paul e sou correspondente do Daily Tel... — Eu sei quem voc? ? — ele interrompeu. Ele tomou um grande gole da cerveja e colocou-a sobre a mesa. — S? me lembro de um Henson. Via-o uma vez por ano. — Porque n?o compareceu ?s reuni?es? — Perguntei. — Pelo que sei, voc? foi um dos cofundadores. — ? muito simples. A empresa mineira para a qual trabalhava transferiu-o para o norte da Espanha. Ele s? ia para a Sociedade Geogr?fica quando estava de f?rias. Numa mesa pr?xima, houve uma grande como??o num jogo de bridge. Um pouco mais adiante podia-se ouvir o som incessante de dardos a acertar o alvo. — Sabe de mais alguma coisa? Mason abanou a cabe?a. — Muito obrigado. Tenho trabalho a fazer — apertei a sua m?o e voltei para a biblioteca. Eu estava num beco sem sa?da. A vida de Philip Henson n?o era interessante. Depois de uma semana de pesquisa, n?o tinha nada decente para publicar. Perguntei ao meu chefe se seria poss?vel uma entrevista com o seu tio, pois ele era a ?nica pessoa que o conhecia. Ele disse-me que era imposs?vel, pois tinha cerca de noventa anos, estava com a sa?de debilitada e havia perdido a mem?ria; as visitas eram totalmente proibidas. Ainda faltava uma semana de pesquisa, mas n?o sabia onde continuar a procurar. A ?nica pista que tinha era que a sua fam?lia era de Newcastle e que ele fazia parte da empresa mineira Fundi??es em escala norte. Depois do ch?, fui para a sede da funda??o mineira em Londres. Era um pr?dio ?s margens do T?misa, de onde havia excelentes vistas do Big Ben. L? fui recebido num elegante escrit?rio da era vitoriana pelo Sr. Harris, um contabilista azedo com olheiras profundas. A sala estava cheia de fotos de ind?strias de minera??o e alguns vasos de porcelana. — Entre e sente-se, — disse ele educadamente. — Em que posso ajud?-lo? Tirei o chap?u e o cachecol e sentei-me. Estava um vento forte naquele dia. — Procuro informa??es sobre um membro s?nior da sua empresa, o Sr. Philip Henson. — Receio n?o ter tido o prazer de conhec?-lo. O Sr. Henson faleceu h? v?rios anos. Sobre a mesa estava um capacete de mineiro reluzente e um enorme peda?o de carv?o dentro de uma urna. Fingi toc?-la, mas desisti quando vi que o tipo estava carrancudo a olhar para mim. — Poderia dizer-me algo sobre ele? — Tudo o que sei ? que a fam?lia dele veio do condado de Melvintone, nos arredores de Newcastle. Abriram a porta e a sua secret?ria disse-lhe que esperavam por ele. — A sua esposa vive l?? — Eu n?o sei de mais nada. — Muito obrigado, Sr. Harris. Foi muito gentil. Despedi-me com um aperto de m?o e sa? do escrit?rio. Ao sair dos escrit?rios, vi ao final da rua a paragem do el?trico que me levaria de volta para casa. Quando os passageiros entraram na carruagem, tive a impress?o de distinguir o mesmo tipo que me observava no Museu. Sem pensar duas vezes, corri at? ? paragem; alguns transeuntes repreenderam-me quando os afastei. A dist?ncia parecia curta, mas, ? medida que avan?ava, senti-me sufocado; estava a envelhecer sem perceber. Consegui agarrar-me ao parapeito traseiro da carruagem assim que o el?trico come?ou a andar. Entrei exausto, abaixei-me e comecei a tossir tanto que quase vomitei. Uma pequena como??o surgiu ao meu redor, levantei a cabe?a e vi o tipo a sair pela outra porta quando se apercebeu da minha presen?a. N?o tive for?as para voltar a segui-lo. Antes do sol nascer, dirigi-me ? esta??o Victoria e comprei um bilhete de comboio para Newcastle. Era a minha ?ltima op??o e n?o iria desperdi??-la. A viagem parecia curta. Fora apenas quatro horas de viagem nas quais foi poss?vel contemplar as grandes cores que as paisagens do campo ingl?s ofereceram durante a primavera. Newcastle ? uma cidade cinzenta, com casas baixas, onde as pessoas s?o um tanto taciturnas e n?o recebem bem os estrangeiros. Felizmente, eu n?o estava ali de f?rias e passaria apenas um ou dois dias no m?ximo. Naquela manh?, aluguei um carro e sa? da cidade. As paisagens eram como Emily Bront? as retratava nos seus romances: charnecas enevoadas com vegeta??o esparsa, p?ntanos fedorentos abundantes e pequenas colinas erodidas pelo vento forte e pelo frio ao longo do ano. Tudo isso acompanhado de uma chuva incessante ainda mais intensa que no resto do pa?s. Passei a noite na pens?o da cidade mais pr?xima da aldeia dos Henson. O jantar estava delicioso e o dono mostrou-me o caminho que eu deveria seguir para chegar ? sua terra. Os Henson viviam num rancho com v?rios quil?metros de extens?o a uma curta dist?ncia de onde me havia hospedado: uma formid?vel mans?o de dois andares constru?da no s?culo XVIII em granito escuro com grandes vinhas a subir at? ?s suas amplas janelas. Na margem direita, avistava-se um pequeno p?ntano rodeado por b?tulas onde v?rios pares de cisnes brancos nadavam majestosamente. O mordomo fez-me esperar muito tempo na porta, depois fez um sinal para que eu o seguisse at? aos fundos da mans?o; havia uma velha a cuidar de umas roseiras espl?ndidas. Era a sua irm?, Emma Henson, uma velha com cabelos grisalhos e um largo sorriso, que usava um elegante vestido branco. — Prazer em conhec?-lo — ela tirou a sua luva de jardinagem e apertou a minha m?o. — Igualmente. — Fui informada de que voc? veio de Londres ? procura do meu irm?o. — Isso mesmo. Sou correspondente do Daily Telegraph. Estamos a fazer uma s?rie de relatos sobre a Sociedade Geogr?fica. A Sra. Henson gesticulou para o mordomo e em poucos minutos foi-nos servido ch? com uma fatia de torta de framboesa. — Sabemos que o seu irm?o foi um dos cofundadores da Sociedade Geogr?fica e que depois partiu para a Espanha. — L? ele fundou uma filial da Sociedade Geogr?fica de Londres. Era comum naqueles anos que muitos ge?grafos colocados em outros pa?ses fundassem novas associa??es como a original. Do outro lado do jardim, ouvia-se o som das pin?as do jardineiro a podar uma bela cerca viva. — Poderia dizer-me quais expedi??es foram realizadas pela Sociedade Espanhola? Ela negou com a cabe?a. — E as expedi??es para a Am?rica do Sul e M?dio Oriente? — N?o estou ciente de tais expedi??es. ? a primeira not?cia que tenho. Os insetos come?aram a pairar sobre a nossa mesa atra?dos pelo cheiro dos bolos e a Sra. Henson rapidamente os enxotou. — Poderia falar com a sua cunhada? Talvez ela tenha mais informa??es. — A esposa do Philip faleceu h? muito tempo. Ela esteve doente durante a maior parte da sua vida, mal conseguiu passar tempo com o marido. Coloquei um peda?o de bolo na boca e cheirei o ch? de jasmim. Decidi aproveitar o lanche, pois aquela conversa n?o me levava a lugar nenhum e era cada vez mais dif?cil ter algo claro sobre o assunto. Naquele momento, vi como Emma sorria. — Acha que h? um erro nos dados da Sociedade Geogr?fica? — Mais do que nos dados, talvez tenha na pessoa, — respondeu. — De certeza que est? ? procura do Henson certo? —N?o estou a entender. — Talvez esteja ? procura do James. — Quem ? o James? — O James ? o filho do Philip. Desde muito jovem sentiu uma paix?o pela Hist?ria e Geografia. Viveu na Espanha por uma temporada quando era adolescente e mais tarde voltou a estudar arqueologia na Universidade de Oxford. Ele tinha um grande esp?rito aventureiro. Um grande sorriso se espalhou pelo meu rosto. Agora entendia tudo. Os dados que encontrei foram de expedi??es da primeira d?cada do s?culo XX. — As datas que encontrei coincidem com a idade do filho de que me fala. N?o conseguia encontrar nenhuma conex?o entre Philip e as informa??es das ?ltimas semanas. Ela riu de satisfa??o. — E diga-me: onde posso encontr?-lo? — N?o tenho not?cias do rapaz desde que ele foi para a faculdade. Perdemos o contacto com ele durante anos. A ?ltima not?cia que tivemos ? que ele ficou ferido na Grande Guerra. — Poderia descrever-me como ele era? — Era um mi?do moreno com olhos azuis t?o intensos quanto os do seu pai. Alto e bonito, com fei??es angulosas — ela parou por um momento; ficou emocionada ao lembrar-se do sobrinho. — Ele sempre foi um menino brilhante e inteligente. — Muito obrigado, Lady Emma. ? uma grande ajuda. Tenho que apanhar o primeiro comboio de volta para Londres. Na viagem de volta n?o parei de pensar no assunto. Isto finalmente come?ava a tomar forma, com certeza o meu chefe agora concordaria em financiar a pesquisa. Fui ao escrit?rio do Sr. Dillan e contei-lhe a hist?ria. Ele achou surpreendente o curso dos acontecimentos e disse que levasse todo o tempo que precisasse para resolver o mist?rio. Sem perder tempo, parti para Oxford, que ficava a apenas uma curta caminhada de Londres. Ao contr?rio de Newcastle, esta ?rea do interior da Inglaterra era dominada por uma cor verde intensa. Ela estendia-se por quil?metros intermin?veis, atravessados por uma infinidade de canais de rios constru?dos durante a revolu??o industrial em diferentes partes do pa?s. As suas casas centen?rias eram verdadeiras joias arquitet?nicas. Foi um prazer perder-me nas suas ruas e respirar aquele clima universit?rio por onde passara estudantes de todo o mundo. Cheguei na hora do almo?o e comi umas sandes e uma caneca de cerveja num bar movimentado no centro da cidade. A Universidade era composta por um conjunto de edif?cios de estilo g?tico, com grandes janelas que inundavam o seu interior com claridade. Ao cruzar o jardim do campus, encontrei ? minha direita v?rios grupos de alunos a conversar sob a sombra de uma ?rvore, ? minha esquerda estava uma equipa a jogar r?guebi numa ampla campina e, no final do caminho, v?rios atletas carregavam nos ombros algumas canoas. Eu j? conhecia o porteiro de investiga??es anteriores. Era um irland?s atarracado, de meia-idade, com maneiras requintadas, que sempre me cumprimentou calorosamente. — Boa tarde, Richard. — Como vai isso? — Muito bem. O que o traz aqui desta vez? — Estou a procurar a biografia de um aluno que estudou na ?ltima d?cada do s?culo passado. — Isso ser? f?cil de encontrar. Sabe o seu nome e apelidos? — Sim, James Henson. — V? para a secretaria e preencha o formul?rio. Ao entrar no pr?dio, passei por uma sala onde um professor se fazia ouvir numa aula de Filosofia. Depois de alguns minutos, consegui o arquivo do James. Estudara arqueologia entre os anos noventa e noventa e cinco. Era um orientalista realizado, especializado em escrita cuneiforme. Isso explicava as suas expedi??es ao M?dio Oriente, embora eu ainda n?o entendesse as suas expedi??es ? Am?rica do Sul. Perguntei novamente a Richard se algu?m me poderia ajudar com esse assunto. — O departamento de orientalistas ? o maior do campus. Todos os alunos querem descobrir os mist?rios da civiliza??o eg?pcia. Eu assenti com a cabe?a. — O mais adequado seria o Professor McKingley. ? da mesma promo??o. Pode ser que o conhe?a. Mas esta semana ele participa do Congresso de Arqueologia do M?dio Oriente em Berlim. Ter? que esperar por ele. Naquele momento tocou a campainha que encerrou as aulas e a maior parte dos alunos come?ou a sair com grande alvoro?o. — Quem me poderia informar da expedi??o ? Am?rica Latina? — Perguntei, levantando a voz. Ningu?m ouviu nada por alguns momentos. — Vai ter mais sorte com essa parte. N?o h? muitas pessoas especializadas nesse assunto na nossa Faculdade. A maior especialista nesse campo ? Lady Margaret. O seu escrit?rio fica no segundo andar, na ala oeste. Fui at? ao pr?dio e, ap?s atravessar o imponente ?trio, subi ao escrit?rio e bati na porta. Ela recebeu-me com cortesia e fui ao seu escrit?rio. Lady Margaret usava um vestido verde que real?ava ainda mais os seus olhos penetrantes; o seu cabelo loiro estava preso num coque elegante que embelezava o seu rosto, destacando as suas ma??s do rosto proeminentes. — James? Sim, claro que o conhe?o. Fomos juntos numa expedi??o ? Am?rica do Sul. Est?vamos a procurar vest?gios de civiliza??es pr?-colombianas. — Quando foi isso? — Perguntei com um sorriso. — No in?cio do s?culo. — Estive a pesquisar aquela expedi??o na Sociedade Geogr?fica e quase n?o encontrei nenhuma informa??o. Somente no verso de um documento ? que estava o seu sobrenome. — Talvez n?o tenha feito a pesquisa adequada, — respondeu ela, muito surpresa. — Agora que mencionou, a ?ltima vez que verifiquei o registo, ele s? mostrava os meus dados. Tamb?m foi muito estranho para mim. Ouvi as suas palavras intrigado; n?o esperava aquela resposta. — Vai ter que me desculpar, mas tenho uma aula daqui a nada, — disse ela, levantando-se da cadeira e pegando em alguns livros. Se quiser saber mais, pode passar na minha casa esta tarde. — Isso seria formid?vel, Lady Margaret. — O endere?o ? Corton Road n?mero cinco. Fica no sul, fora da cidade. ?s quatro horas parece-lhe bem? — L? estarei. — ? a ?ltima casa do quarteir?o. A das tulipas na entrada, — ela acrescentou quando sa?mos para o corredor. — N?o tem como errar. Êîíåö îçíàêîìèòåëüíîãî ôðàãìåíòà. Òåêñò ïðåäîñòàâëåí ÎÎÎ «ËèòÐåñ». Ïðî÷èòàéòå ýòó êíèãó öåëèêîì, êóïèâ ïîëíóþ ëåãàëüíóþ âåðñèþ (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=64262977&lfrom=688855901) íà ËèòÐåñ. Áåçîïàñíî îïëàòèòü êíèãó ìîæíî áàíêîâñêîé êàðòîé Visa, MasterCard, Maestro, ñî ñ÷åòà ìîáèëüíîãî òåëåôîíà, ñ ïëàòåæíîãî òåðìèíàëà, â ñàëîíå ÌÒÑ èëè Ñâÿçíîé, ÷åðåç PayPal, WebMoney, ßíäåêñ.Äåíüãè, QIWI Êîøåëåê, áîíóñíûìè êàðòàìè èëè äðóãèì óäîáíûì Âàì ñïîñîáîì.
Íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë Ëó÷øåå ìåñòî äëÿ ðàçìåùåíèÿ ñâîèõ ïðîèçâåäåíèé ìîëîäûìè àâòîðàìè, ïîýòàìè; äëÿ ðåàëèçàöèè ñâîèõ òâîð÷åñêèõ èäåé è äëÿ òîãî, ÷òîáû âàøè ïðîèçâåäåíèÿ ñòàëè ïîïóëÿðíûìè è ÷èòàåìûìè. Åñëè âû, íåèçâåñòíûé ñîâðåìåííûé ïîýò èëè çàèíòåðåñîâàííûé ÷èòàòåëü - Âàñ æä¸ò íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë.