Когда дано вначале было слово, В нем жизнь была сама и дивный свет. Все, чтобы не сказали, было ново. В дела был преосуещствлен завет. В чести бывал слагавший изреченья Философ, иль оратор, иль поэт. Увы, словес сакральное значенье Ушло в небытие з много лет лет. Вся фальшь неисполнимых обещаний, Все, сказанное «к слову», невзначай, Повисло в тя

Yellow Peril: Aquela Horr?vel Cara Amarela

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Yellow Peril: Aquela Horr?vel Cara Amarela Patrizia Barrera Dois eventos tr?gicos, o massacre de Los Angeles em 1871 e o tr?fico das pequenas escravas, que resumem a dif?cil rela??o entre os Estados Unidos e a China nos anos entre 1820 e 1945. Um livro de cr?ticas espirituosas e inteligentes que exp?e verdades ocultas com um estilo simples e eficaz. Patrizia Barrera YELLOW PERIL: O PERIGO AMARELO As Origen Os Estados Unidos sempre foram racistas. A fim de autorizar e realizar os massacres dos nativos e submeter ? escravid?o os africanos, era necess?rio um forte sentimento de prevarica??o e uma plena convic??o da pr?pria superioridade. ? necess?rio enfatizar que tais sentimentos foram universalmente compartilhados entre os s?culos XVIII e XIX e que nenhuma das grandes pot?ncias europeias poderia ser considerada isenta. No entanto, nos Estados Unidos, o poder exercido sobre as classes menos favorecidas e os diferentes grupos ?tnicos alcan?aram n?veis exorbitantes e, em certo sentido, o racismo tornou-se quase institucionalizado. A ponto de o linchamento n?o ser apenas tolerado, mas sim ter se tornado, por muito tempo, um verdadeiro instrumento de justi?a utilizado e sugerido pelo governo e pela pol?cia. Os C?digos Pretos e, mais tarde, as leis de Jim Crow (ver ap?ndice) s?o exemplos ?bvios e emblem?ticos do sentimento racista popular. S?o exaustivamente citados pela hist?ria no tocante aos afro-americanos, que certamente foram os mais afetados pelo sistema legislativo americano. O p?blico em geral, por?m, pouco sabe sobre tal grau (e em muitos aspectos ainda pior) de discrimina??o dos Estados Unidos contra emigrantes chineses. Originalmente recrutados como trabalhadores de "baixo custo" e usados para os servi?os mais cansativos e mal pagos do pa?s durante o per?odo que vai desde o auge da corrida do ouro, em 1848, at? 1880. Neste livro, n?o vou tra?ar a hist?ria do extremo e conturbado relacionamento entre os Estados Unidos e a China, um discurso longo e amb?guo. Estou convencida de que a clareza reside na simplicidade e na exposi??o de fatos incontest?veis que, em certo sentido, s?o capazes de falar por si mesmo. Por essa raz?o, selecionei duas p?ginas obscuras da hist?ria norte-americana, pouco comentadas, mas exemplares: o epis?dio de linchamento mais atroz de todos os tempos e a trag?dia das pequenas escravas chinesas. Dois eventos ignorados e at? agora perdidos no esquecimento, mas que, no entanto, marcam com sangue o livro maldito da hist?ria dos Estados Unidos, talvez at? mais do que o genoc?dio dos nativos. ? um per?odo extremamente delicado para os Estados Unidos, que expandem as ferrovias por todo o seu territ?rio e, ao mesmo tempo, descobrem os imensos dep?sitos minerais que os enriqueceriam. Ap?s terem expulsado do campo os nativos, que agora passam fome ou est?o envolvidos nas mais recentes guerras ind?genas, o Novo Continente deve ser reconstru?do ? moda dos ianques. Se nos estados do Sul a escravid?o come?ava a tremer sob o impulso ideol?gico — e pol?tico — do abolicionismo, no Norte o n?mero de oper?rios dispostos a enfrentar as jornadas exaustivas de trabalho impostas pelas companhias era muito pequeno. A verdadeira onda de imigra??o, aquela que levaria milh?es de cidad?os de todo o mundo a desembarcar nos Estados Unidos seduzidos pela promessa de uma riqueza hipot?tica, s? aconteceria muito mais tarde, no in?cio do novo s?culo. Portanto o Novo Continente estava, em meados do s?culo XIX, desprovido da m?o de obra indispens?vel para dar um salto de qualidade e coloc?-lo em uma posi??o dominante em rela??o ? Europa. ? verdade que a corrida do ouro atraiu centenas de milhares de alucinados ao local, estimulando o crescimento das ferrovias e das importa??es e exporta??es, mas ficou logo evidente que se tratava de um fen?meno tempor?rio que esgotaria juntamente com os veios do metal precioso, como de fato aconteceu. As centenas de cidades constru?das sobre as areias da noite para o dia n?o estavam destinadas a durar — e sim, os garimpeiros eram trabalhadores incans?veis, mas s? quando trabalhavam para si mesmos. Assim que acumulavam seu ovos dourados, retornavam para suas casas na Europa, um ninho "civilizado" em compara??o com a vida dura e perigosa na Am?rica. Com a proibi??o oficial da escravid?o, os estados do Norte viram-se necessitados a retornar ? servid?o e a importar carne fresca que pudesse servir como m?o de obra. Milhares e milhares de chineses foram empregados, a partir de 1848, pelas empresas ferrovi?rias que os usavam como trabalhadores n?o qualificados e, portanto, mal remunerados. Eram geralmente fazendeiros pobres que haviam emigrado para se salvar da fome e das pestil?ncias que assolavam a China na ?poca. Adaptaram-se para sobreviver na escassez e dormir no meio do deserto ou nas pradarias e para ganhar os poucos centavos que enviavam ?s suas fam?lias em seu pa?s natal. Mas de onde vinham? Pensou-se quase imediatamente na ?sia e especialmente na China, que vivia um per?odo extremamente conturbado com a queda da dinastia Qing. Agita??o interna, guerras e revoltas populares levaram os chineses a fugir de sua terra natal, devastada pela fome e por doen?as. Se se voltavam para a Am?rica, era apenas por acaso e n?o por escolha. As fronteiras para a ?sia eram fechadas com frequ?ncia e foram controladas pela Inglaterra durante a mais importante das Guerras do ?pio, a que ocorreu entre 1839 e 1842 e que coincidiu precisamente com a onda da imigra??o chinesa nos Estados Unidos. Os n?meros n?o mentem: entre 1820 e 1840, havia ao todo onze emigrantes chineses registrados nos estados do Norte. Em 1848, o n?mero subiu para dois milh?es e depois aumentou tragicamente para quatorze milh?es entre 1853 e 1873, justamente por causa dos norte-americanos. Com a primeira onda real de imigra??o, descobriu-se que os trabalhadores chineses eram uma verdadeira d?diva para a economia norte-americana. Eram descritos como "incans?veis, despretensiosos e capazes de viver com pouco”. Contra um sal?rio m?dio de dois d?lares, os chineses conseguiam sobreviver com 40 centavos, metade dos quais acabava indo para suas fam?lias na China. Outro ponto positivo era que os chineses emigravam sozinhos, sem uma fam?lia a tiracolo e sem muitas distra??es, tendo que economizar o m?ximo poss?vel. Al?m disso, os s?culos da dinastia imperial chinesa forjaram neles uma completa obedi?ncia e submiss?o total ao empregador. Ou seja, eram os escravos perfeitos. E os Estados Unidos tiraram o m?ximo de proveito da situa??o. Um dos trabalhos mais humildes na China era o de puxador de riquix?s. Era exercido por homens jovens que acabavam envelhecendo precocemente e que ganhavam a vida trabalhando como se fossem animais de carga. Maltrapilhos, descal?os e em troca de uma tigela de arroz por dia, aceitavam essa fun??o humilde por necessidade. Muitos becos chineses, constru?dos em estilo medieval, eram estreitos demais para a travessia de cavalos. Servos ou escravos eram ent?o usados para transportar os nobres de uma parte a outra das cidades, durante dez horas por dia. A maioria morria de ataque card?aco antes dos 35 anos. No in?cio, os chineses formaram uma comunidade ? parte, usada para servi?os de lavanderia ou para trabalhos n?o qualificados na constru??o de ferrovias. Posteriormente, de 1848 a 1860, as companhias de minera??o come?aram a solicit?-los com frequ?ncia, porque, diferentemente dos demais, os chineses aceitavam trabalhos ingratos e perigosos e, al?m disso, seus corpos pequenos permitiam que entrassem em t?neis estreitos onde apenas uma crian?a caberia. Posicionar cargas de dinamite ou escorar os tetos de t?neis perigosos tornaram-se atividades rotineiras para eles. V?rios acabavam morrendo, mas paci?ncia. Por isso muitos outros eram necess?rios e, como a onda de imigra??o espont?nea parecia esgotada, o governo decidiu recrutar um bom n?mero de chineses, entrando em acordo diretamente com a China. Em 1868, foi elaborado o Tratado de Burlingame, uma das manobras mais sutis e odiosas dos Estados Unidos para obter m?o de obra tempor?ria. O documento em quest?o sancionava o direito inalien?vel do homem de mudar de casa e alian?a e o benef?cio m?tuo da livre expans?o e imigra??o de seus cidad?os por raz?es de CURIOSIDADE, COM?RCIO ou como RESIDENTES PERMANENTES, garantindo-lhes os mesmos direitos, privil?gios e imunidades que outros residentes, protegendo-os de atos de EXPLORA??O, DISCRIMINA??O e VIOL?NCIA. A hist?ria das jovens escravas sequestradas de suas fam?lias, geralmente de camponeses, para serem enviadas ? Am?rica e usadas como prostitutas come?a em 1865. Foi a m?fia chinesa nos Estados Unidos, com acordos diretos com o governo chin?s, respons?vel por estabelecer e manter esse tipo de tr?fico, a fim de evitar "confus?es" entre chineses e norte-americanos. Mais tarde, os servi?os foram estendidos aos ianques, que podiam ent?o desfrutar das garotinhas chinesas em lojas especiais por alguns centavos. Ao contr?rio dos homens do campo, que ap?s dez anos de trabalho duro podiam voltar para casa, as escravas chinesas morriam nos Estados Unidos sem nunca mais ver a luz do dia. Viviam completamente separadas do mundo exterior, em celas isoladas, cuidadas apenas por uma velha matrona, que muitas vezes as ajudava a dar ? luz ou a se livrar das numerosas crian?as bastardas. Elas s? sa?am de suas celas ap?s a morte, depois de terem se deitado com milhares de homens. A m?fia desfazia-se de seus corpos, despejando-os nos rios ? noite ou cimentando-os sob a terra. Na imagem, uma jovem de Hong Kong com roupas tradicionais, na d?cada de 1860. Na pr?tica, tratava-se de um pacto comercial que a China, que j? era obrigada a suportar que a Inglaterra introduzisse ?pio das ?ndias em seu territ?rio, foi claramente for?ada a aceitar. Toda a ideologia milenar do imperialismo chin?s baseia-se na recusa em expandir suas fronteiras ao estrangeiro, a quem s? ? permitido negociar e, ?s vezes, viajar em seu territ?rio. A ideia de misturar-se com o Ocidente, tanto cultural quanto praticamente, sempre foi impens?vel para a China, que tamb?m imp?s vetos inflex?veis ? emigra??o nacional, preferindo sistemas sangrentos de controle demogr?fico ? perda de sua capacidade de regulamenta??o. As motiva??es n?o eram apenas pol?ticas e hegem?nicas, mas constitucionalmente religiosas. O Ocidente era considerado um recept?culo de perdi??o e culturalmente atrasado em rela??o ao Colosso, que sempre dominou a ?sia. Foram, portanto, apenas a debilidade interna e a interfer?ncia europeia que a levaram a firmar esse tratado, que de fato vendeu seu patrim?nio humano, entregando-o em m?os inimigas. Um acordo com uma promessa de bilateralidade, mas que na pr?tica for?ou milh?es de chineses, por bem ou por mal, a emigrar para a Am?rica. A China ocupou-se inicialmente da realiza??o de recrutamentos for?ados, elaborando listas e mais listas de "escolhidos"; depois, muitos foram "sequestrados" ou "desaparecidos", provavelmente sob encomenda. Eram claramente homens jovens e saud?veis arrancados de suas fam?lias, que permaneciam em casa como ref?ns para garantir a boa conduta do indiv?duo. Uma amea?a impl?cita que surtiu efeito nos imigrantes e explica o porqu? de seu comportamento servil e submisso. Desde ent?o n?o demorou muito at? o estabelecimento de uma m?fia chinesa que controlava o tr?fico humano nos Estados Unidos, acobertada pela pr?pria China. Como uma forma de retribui??o, ela introduziu ?pio, escravos e prostitui??o, chegando a administrar tais atividades completamente ?s custas do pa?s americano. Quase como quem diz, "Quem procura acha". No final das contas, todos acabaram perdendo, sem exce??o. Mesmo que o preju?zo maior fosse sempre o do mais fraco, come?ando pelos pobres e miser?veis ex-agricultores, obrigados a trabalhar quinze horas por dia em condi??es desumanas at? morrer. Havia tamb?m as pequenas escravas que, aos sete anos de idade, iniciavam uma vida de prostitui??o e n?o sobreviviam at? os vinte anos. Essa era a primeira Chinatown, de 1860. Consistia em algumas casas de madeira, alguns emp?rios e algumas coisas relacionadas ? vida cotidiana. Mas em apenas trinta anos o bairro mudou completamente, tornando-se um ponto de refer?ncia para as noites insanas dos estadunidenses ricos. Al?m de todas as expectativas, os chineses mostraram-se extremamente eficientes, a ponto de, em 1880, suas atividades terem sido difundidas e dado vida ? economia norte-americana. Seu com?rcio florescia e, assim como hoje, eram capazes de cobrar pre?os extremamente competitivos. Os objetos chineses estavam na moda, assim como suas especiarias, roupas e perfumes. Gra?as ? m?fia, eles conseguiam vender frutas e legumes, mesmo do exterior, a pre?os ridiculamente baixos e suas habilidades estendiam-se a todos os setores, do artesanato ? fabrica??o e at? ao servi?o privado. Eles tamb?m puxaram o tapete dos circos ambulantes nacionais, inventando acrobacias espetaculares que os circenses norte-americanos n?o eram capazes de reproduzir por serem mais altos. Como trabalhadores, eram impec?veis e n?o davam ouvidos ?s ideias liberais que circulavam por volta de 1880 reivindicando redu??o das jornadas de trabalho e condi??es de vida mais dignas. Acima de tudo, custavam metade do pre?o dos trabalhadores europeus, que acabavam sem condi??es de sustentar suas fam?lias e rangiam os dentes em protesto contra aqueles que "roubavam seus empregos". Enquanto esses males diziam respeito aos imigrantes, geralmente europeus, ningu?m reclamava; eles que rastejassem entre si, visto que seu baixo custo era uma d?diva para os empregadores. Mas quando esse fen?meno explodiu entre comerciantes e trabalhadores da "ra?a pura norte-americana", come?aram os problemas. Na d?cada de 1850, os chineses haviam-se reunido em uma ?rea da antiga Portsmouth Square, uma das primeiras a ser estabelecida durante a corrida do ouro. L? deram in?cio ?s atividades independentes de lavanderia — um trabalho "sujo" que ningu?m na ?poca, nem mesmo a pior lavadeira, queria fazer —, seguidas rapidamente de outras, como floricultura, varejo de frutas e legumes, com?rcio de arroz e emp?rios para atender ?s necessidades di?rias de uma cidade em crescimento. Em dois anos, a ?rea, anteriormente denominada "Little Canton” havia-se expandido drasticamente, a ponto de abrigar at? 33 lojas de varejo, quinze espa?os fitoter?picos e farmac?uticos e cinco restaurantes. Toda a ?rea chinesa estava em pleno desenvolvimento, para o agrado das autoridades locais, que muitas vezes a elogiavam publicamente, apresentando-a como um modelo de seriedade e dilig?ncia. Fortalecidos pelo consenso geral, os chineses mudaram o nome da ?rea original para Chinatown e, para muitos deles, era quase como se sentir em casa. Para animar as horas quentes dos desesperados em busca de riqueza, a comunidade chinesa construiu tamb?m um teatro que hospedava empresas itinerantes e, gradualmente, a pequena cidade tornou-se um centro de recrea??o com a ambi??o de transformar-se na nova S?o Francisco. Na realidade, o novo nome foi cunhado pela imprensa, para exemplificar um conceito bastante banal, por?m, mais tarde, os EUA viram ou quiseram ver nesse gesto um ato de arrog?ncia que afetaria gravemente a comunidade chinesa. Em alguns anos, Chinatown cresceu e tornando-se o s?mbolo de uma cidade dentro de uma cidade e de um povo dentro de outro povo. Das doze casas de madeira chamuscada dos primeiros anos, restava apenas uma vaga lembran?a. Em 1880, toda a ?rea havia-se tornado um bairro elegante que acolhia 22 mil pessoas — praticamente apenas homens —, com sal?es de jogos e casas de ?pio onde os norte-americanos ricos e os amantes aflitos poderiam esquecer suas dores. Um mundo multicolorido no qual a "chinesidade" estava em alta, induzindo as fam?lias burguesas estadunidenses e europeias a entregarem-se ao luxo de porcelanas e espelhos chineses, suas especiarias e at? mesmo seus adornos "amadores". Em resumo, tratava-se de uma evidente onda de crescimento que instigou no governo dos Estados Unidos o terror de um futuro capitalismo chin?s capaz de tornar-se uma amea?a, pondo em cheque inclusive a moralidade dos costumes norte-americanos. O "perigo amarelo" invadiu o pa?s, que passava por uma situa??o hist?rica dif?cil ap?s as reviravoltas da Guerra da Secess?o; a desestabiliza??o econ?mica do Sul, as reformas pol?ticas, a demanda por mudan?as e o desejo de domina??o absoluta sobre a Europa produziram um efeito em cadeia totalmente devastador. Grande parte da popula??o norte-americana havia sofrido negativamente com as consequ?ncias da "restaura??o" do sistema, que condenou milhares de fam?lias ? fome. Os comerciantes fechavam suas lojas e os imigrantes morriam de frio nas ruas ou acabavam linchados por multid?es ao serem pegos roubando nos estabelecimentos comerciais. As pris?es estavam superlotadas e a batalha pela sobreviv?ncia assumia os tons das antigas lutas de classe europeias. O que prosperava era a m?fia: em primeiro lugar a irlandesa, que funcionava para "al?m" do Estado, impondo aos seus "protegidos" a obriga??o de votar nas elei??es e apoiando as atividades clandestinas relacionadas ao ?lcool e drogas no pa?s. Em segundo, a chinesa, que apesar de permanecer "fora" do Estado, ocupava-se de seus compatriotas e agia exclusivamente de acordo com as regras da sua ideologia nacional, que ditava que o inimigo deveria ser combatido com suas pr?prias armas e que eles deveriam trabalhar incansavelmente para que um dia pudessem tomar o seu lugar. DidascaliaA mesma Chinatown, ao estilo de S?o Francisco, em 1872.... O perigo amarelo era uma consequ?ncia direta do comportamento norte-americano, que havia explorado seus escravos a ponto de ser dominado por eles. Ao contr?rio do afro-americano que, por mentalidade e cultura, havia-se integrado ao inimigo, compreendendo e utilizando o que lhe era funcional, o chino-americano expressava unicamente sua natureza imperialista, dominada pelo senso de dever, pela de honra e por um sentimento exacerbado de reden??o. Ao adaptar-se ?s piores condi??es de vida, esperava por uma melhora da sua pr?pria exist?ncia e por uma ascens?o social que lhe permitiria colocar-se no mesmo n?vel de seus empregadores. Era um sentido inato, consequ?ncia de mil?nios de hist?ria que n?o podiam ser apagados simplesmente com a "deporta??o" para um pa?s estrangeiro e que se transformou, em vez disso, em uma vers?o sublime de castidade for?ada, solid?o e avers?o social. Por tr?s do sorriso inabal?vel, o povo chin?s escondia uma for?a tr?gica e uma impressionante teimosia. Seu lema era: "sobreviver a todo custo e prosperar". Eu poderia ficar aqui por horas discutindo a diferen?a entre intelig?ncia e ast?cia, sem nunca chegar a uma conclus?o. Na realidade, existem comportamentos errados que, embora produzam uma vantagem efetiva no curto prazo, s?o danosos e prejudiciais ao longo do tempo. Se adicionarmos a isso uma motiva??o ego?sta e uma indiferen?a ao mal a que somos submetidos, acabamos inevitavelmente com um efeito bumerangue, que mais cedo ou mais tarde sair? pela culatra. Se, no final das contas, a natureza da nossa v?tima n?o for inclinada ao perd?o f?cil, o eco das nossas a??es aumentar? de forma dr?stica, com resultados certamente destrutivos. Essa era, de maneira simplificada, a rela??o entre os Estados Unidos e os imigrantes chineses e, por essa raz?o, uma vez entendidos os poss?veis mecanismos de causa-efeito, o pa?s inteiro gritou diante do "perigo amarelo". Na turbul?ncia do per?odo de 1880 a 1882, encontrar um bode expiat?rio foi muito f?cil. Como j? se podia imaginar, os chineses foram acusados de concorr?ncia desleal, roubo de trabalho e rivalidade social. Surgiu, ent?o, a primeira lei racial, de 1861, que proibia todos os orientais, sob as categorias mal definidas de "chineses" ou "mong?is", de casarem-se com brancos — pr?tica que os pr?prios chineses abominavam. Outras leis foram promulgadas, restringindo cada vez mais seus direitos humanos e legais. Apesar das Leis de Direitos Civis de 1866, que estabeleceram que "todos os cidad?os de todas as ra?as e cores nascidos nos Estados Unidos gozavam plenamente da cidadania norte-americana", os legisladores exclu?ram os chineses. Apelaram para uma manobra jur?dica sutil, afirmando que n?o era poss?vel classificar um oriental de acordo com um padr?o fixo. A lei de 1875 de fato definia a diferen?a entre uma pessoa "branca e uma afro-americana", concedendo direitos iguais a elas e a seus descendentes norte-americanos. No entanto, n?o foi capaz de definir uma separa??o substancial entre "branco e amarelo", tamb?m porque os orientais tinham cromaticidades mais heterog?neas do que os africanos e tra?os som?ticos menos evidentes. Limitava-se a classific?-los como "n?o brancos" e, portanto, exclu?dos do direito de cidadania. Logo, qualquer chin?s naturalizado norte-americano continuava sendo um estrangeiro. Por?m, j? havia outras leis que limitavam os direitos dos asi?ticos nos Estados Unidos, especialmente dos chineses. Por exemplo, em 1858, a Calif?rnia promulgou uma lei que proibia o acesso a cargos estaduais aos chineses. Tamb?m a Calif?rnia, em 1879, aprovou uma nova Constitui??o a partir da qual o governo apropriou-se do direito absoluto de determinar os requisitos fundamentais para a resid?ncia no estado. Mais uma vez apegando-se ? advert?ncia da indetermina??o da ra?a, negou o direito de resid?ncia aos chineses, expulsando os que j? residiam em seu territ?rio. Mas, anteriormente, em 1875, o congresso havia bloqueado a imigra??o de trabalhadores e prostitutas chineses por uma d?cada, com o objetivo oficial de conter a m?fia e reabilitar o territ?rio norte-americano. Para resumir, entre 1856 e 1880, at? trinta leis diferentes limitaram ou negaram os direitos fundamentais dos chineses em solo estadunidense, contrariando os acordos do famoso Tratado de Burlingame, sem qualquer manifesta??o da imprensa ou da opini?o p?blica. O descontentamento gerado pela crise econ?mica abriu um sulco entre os Estados Unidos e os imigrantes chineses, cujas atividades continuaram a florescer. Visados pelo governo e pelo povo, fechados em sua comunidade, apegados aos costumes ancestrais e desdenhosos de misturarem-se com os brancos, logo tornaram-se os bodes expiat?rios ideais. Suportando estoicamente as amea?as, o saque e a destrui??o de suas lojas, o corte de suas tran?as em p?blico, as provoca??es e at? os primeiros avisos dos linchamentos que se seguiriam, os chineses continuaram seu trabalho silencioso, conscientes de estarem pisando em um campo minado. A situa??o degenerou lenta mas inexoravelmente at? o golpe de 1871, ano em que se viram protagonistas do maior linchamento em massa da hist?ria dos Estados Unidos, que infelizmente ficou conhecido como "O Massacre Chin?s de Los Angeles". O MASSACRE DE LOS ANGELES A trag?dia come?a O triste epis?dio foi realmente um espelho daqueles tempos e lan?ou uma luz opaca e terr?vel sobre a cidade em crescimento. Aconteceu na "Calle de los Negros", o gueto mais pobre de Chinatown, onde, misturados ?s lavanderias, emp?rios e pequenas atividades comerciais, mexicanos e chineses, os imigrantes menos apreciados pela popula??o norte-americana, viviam em contato pr?ximo. Os anais da ?poca descrevem-na como “uma zona dura, com uma longa estrada de terra com cerca de doze metros de largura repleta de bord?is, casas de apostas, emp?rios e resid?ncias de lama e palha”. A popula??o era predominantemente masculina, dadas as leis norte-americanas que limitavam a imigra??o de mulheres chinesas. Por?m, a m?fia conseguia infiltr?-las, quase sempre com a ajuda das autoridades locais. Desse modo, entre fam?lias e prostitutas, a popula??o chinesa da Calle de los Negros cresceu cerca de 200 vezes em apenas dez anos e prosperou maravilhosamente. Gerando um forte clima de descontentamento entre a popula??o branca, afligida pela recess?o do p?s-guerra e ciente de n?o conseguir acompanhar os pre?os baixos e as exaustivas horas de trabalho dos comerciantes chineses, que tamb?m mergulharam toda a ?rea no v?cio. A trag?dia batia ? porta e estourou pontualmente em 24 de outubro de 1871. Fontes oficiais relataram a desculpa usual como a causa do linchamento. Ou seja, o assassinato de um xerife local, Robert Thompson, durante um conflito com a m?fia chinesa. O que aparentemente despertou a raiva da multid?o (!) a ponto de torturar, mutilar e enforcar cerca de vinte pobres miser?veis chineses pegos ao acaso. As justificativas j? n?o se sustentavam e, se adicionarmos ainda que, ap?s um julgamento rid?culo, apenas oito pessoas foram identificadas como culpadas do massacre, inicialmente acusadas de "homic?dio culposo" e ent?o completamente absolvidas — embora testemunhas tenham indicado elas e trinta outros sujeitos como respons?veis pelo ocorrido —, fica claro que algo estava errado. Comecemos dizendo que o massacre n?o foi um evento repentino, mas sim que alguns fatos anteriores contribu?ram para alimentar as tens?es e o ?dio entre norte-americanos e chineses. Reuni muitas informa??es do livro The Chinatown War, que recomendo que voc? leia. Poucos dias antes, o chefe de um dos v?rios cl?s da m?fia chinesa, um certo Yo Hing, havia organizado o sequestro, motivado por dinheiro, de uma das poucas mulheres casadas em Chinatown. Chamava-se Yut Ho e diziam ser bel?ssima. Isso foi poss?vel, porque Yo Hing tinha estreitas rela??es financeiras com as administra??es locais, principalmente os xerifes e os oficiais da lei, que n?o apenas fechavam os olhos aos crimes, como tamb?m recebiam uma grande porcentagem dos lucros. ? claro que a fac??o rival, representada pelo chefe e comerciante de tecidos Sam Yuen, n?o engoliu o insulto, que minava seu poder local. Com a ajuda de outras autoridades norte-americanas, Yuen conseguiu desembarcar em S?o Francisco uma gangue de guerreiros Tong rec?m-chegada da China e armada at? os dentes. Na noite de 23 de outubro, o esquadr?o de assassinos liderado por Ah Choy, irm?o da mulher sequestrada, iniciou um tiroteio contra Yuen. Sam Yuen saiu ileso, mas Choy foi mortalmente ferido e abandonado em agonia em um dos becos de Chinatown. Apesar de ter ordenado o sequestro com forte apoio da pol?cia local, Yo Hing denunciou Yuen como o mandante da tentativa de assassinato e o mandou para a pris?o. Foi estabelecida uma fian?a no valor de dois mil d?lares, uma quantia anormal para a ?poca, especialmente para um chin?s. A inten??o era fazer seu rival apodrecer na pris?o pelo tempo necess?rio para engordar os bolsos de ju?zes e advogados, conden?-lo ? morte e apropriar-se de seu territ?rio. Mas Yuen percebeu o esquema e alegou ser capaz de pagar a imensa quantia. Ele foi ? sua casa acompanhado pela pol?cia, que descobriu que o dinheiro estava escondido no tronco de uma ?rvore, onde havia muito mais que o valor da fian?a! Uma enorme riqueza resultante do tr?fico clandestino, que atraiu n?o s? os oficiais da lei. Um dos agentes presentes naquela manh? de 24 de outubro de 1874 era um certo Jesus (!) Bilderrain, um policial de reputa??o macabra conhecido por ser ganancioso, ladr?o e profundamente racista. Houve tamb?m v?rias queixas contra ele por crimes de roubo, principalmente de galos de briga. Ele tamb?m era um apostador inveterado e, junto com seu irm?o Ygnacio, controlou e organizou os famosos blocos eleitorais contra a comunidade latina de Los Angeles em nome do Partido Democrata por anos, evitando assim que a minoria ?tnica votasse. No entanto, esse sujeito foi visto como um exemplo de excel?ncia. Jesus foi reverenciado como um her?i pelos ju?zes e pela imprensa quando a investiga??o sobre o massacre teve in?cio e suas palavras passaram a valer como ouro. Ao contr?rio do que se acredita, na China, o ?pio n?o era utilizado com as mesmas finalidades patol?gicas e viciantes como no Ocidente, mas sim para fins terap?uticos e religiosos. Foi apenas depois da queda do imp?rio Qing e das guerras anglo-chinesas de 1830 a 40 que a subst?ncia foi deliberadamente distribu?da pela pr?pria Inglaterra em grandes quantidades entre a popula??o chinesa, a fim de aumentar seu monop?lio e converter a maior parte das safras agr?colas necess?rias em planta??es de ?pio, adequadas para exporta??o em todo o mundo. A China tentou conter a propaga??o, mas sem sucesso. Ap?s as migra??es para a Am?rica, o mau h?bito e os tr?ficos a ele associados desembarcaram no Novo Continente administrados, de comum acordo, tanto pela m?fia chinesa quanto pelo pr?prio governo dos Estados Unidos. Na foto, um sal?o de ?pio chin?s cl?ssico de 1890. ia... Bilderrain afirmou que, na noite de 24 de outubro, havia ido ao Negro Alley com outros homens, porque haviam sido atra?dos por alguns tiros. Entrou em um beco, foi ferido e pediu a ajuda do agente Thompson, que foi morto por tiros disparados pelo pr?prio Yuen. O assassinato a sangue frio parece ter ent?o incitado a multid?o, que se organizou em pouco tempo e invadiu a ?rea, levando ao massacre. Embora atroz, todo o epis?dio foi tratado como uma loucura generalizada causada por uma rixa contra os chineses, que aparentemente afundavam a cidade na fome e no v?cio, enquanto obtinham quantias fabulosas de dinheiro. Foi inclusive desenterrada a hist?ria de que os chineses estavam coletando essas somas em nome de um mandarim que tinha a ambi??o de tornar-se governador da Calif?rnia. Uma farsa que remonta ? corrida do ouro, mas que foi considerada verdadeira por alguns livros da ?poca e que infelizmente j? havia sido usada como argumento para as famosas Leis Raciais, que determinavam que “nenhum chin?s poderia testemunhar em julgamento contra um branco" . Embora o massacre tenha ocorrido praticamente diante dos olhos de todo o mundo, gra?as tamb?m aos relat?rios implac?veis escritos em tempo real por H.M. Mitchell, rep?rter do Star, o julgamento terminou rapidamente, absolvendo a cidade como "v?tima do horrendo com?rcio chin?s e do clima de viol?ncia de sua m?fia". N?o h? d?vida de que poderes pol?ticos influentes levaram ao arquivamento do caso, os mesmos que mais tarde usaram a mem?ria do massacre para fazer cumprir a infame "Lei de Exclus?o Chinesa", de 1882. A verdade dos fatos, como sempre, ? muito mais amarga e at? banal. Na origem do massacre, que feriu profundamente a alma estreita e racista dos falsos moralistas da ?poca, h? gan?ncia e roubo. As autoridades estadunidenses, principalmente a pol?cia local, sempre mantiveram rela??es ?ntimas com a m?fia chinesa. Detinham o controle exclusivo n?o apenas sobre o ?pio e especiarias, mas, acima de tudo, sobre o com?rcio — oficial ou clandestino — de m?o de obra e produtos chineses que eram importados para os Estados Unidos a baix?ssimo custo. O que afetava negativamente os pre?os dos produtos nacionais, que, portanto, despencavam. Al?m disso, os grandes empreendimentos, como as ferrovias, que recebiam enormes subs?dios do Estado, costumavam recorrer a trabalhadores chineses, preferindo-os aos americanos e europeus, porque custavam menos e trabalhavam em dobro. Durante a era dos primeiros sindicatos, os chineses foram usados como “fura-greves” pelos pr?prios empres?rios para vetar as reivindica??es da classe trabalhadora. Tudo isso inflamou enormemente a opini?o p?blica, que passou a ver os chineses como perigosos e inclinados ? pr?tica de concorr?ncia desleal. A foto mostra a parte de tr?s de uma cl?ssica loja de especiarias em Chinatown, na d?cada de 1880. alia... O esc?ndalo que se seguiu ? trag?dia evidenciou o qu?o pobre e cruel era a alma dos protagonistas. Gra?as ?s in?meras investiga??es e depoimentos de sobreviventes, sobretudo do pr?prio Hing, que colocou nas ruas provas documentais do conluio e de “favores” entre ele, a m?fia e a pol?cia local. Em seguida, toda a documenta??o e as pe?as processuais foram arquivadas e todo a matan?a foi varrida para debaixo do tapete. Elas s? tornariam a aparecer muitos anos depois, gra?as ?s pesquisas exaustivas dos historiadores e ?s conjun??es favor?veis, que veem a China hoje como a grande pot?ncia econ?mica do futuro. Para al?m de qualquer considera??o poss?vel, o interesse principal deste livro ? informar e ajudar a tornar conhecidos os grandes acontecimentos do passado, ligados ? velha Am?rica do Norte e sua rela??o primitiva com a comunidade chinesa. Portanto, direi apenas como as coisas realmente aconteceram naquela noite de 24 de outubro de 1882 em Chinatown. Bilderrain e seus companheiros foram ao Negro Alley naquela noite para roubar o ouro de Yuen, um "favor" pedido pelo pr?prio Hing a fim de acertar as contas com o canalha do Yuen. A alian?a e prote??o de Hing, no entanto, n?o foram suficientes para salvar Bilderrain dos tiros dos capangas de Yuen que guardavam o beco. ? preciso dizer que Bilderrain n?o era um xerife oficial, mas um dos muitos vigilantes autorizados pela pr?pria pol?cia a "manter a ordem" no gueto. Por isso, as autoridades fechavam os olhos para os acordos privados entre os vigilantes e a m?fia chinesa. Mais ainda quando tratavam-se de promover o tr?fico clandestino ou assassinatos privados. Por outro lado, a pol?cia recebia grande parte dos lucros e controlava todos os eventos programados, gra?as a uma densa rede de informantes. Sendo assim, a pol?cia tamb?m havia sido informada das inten??es dos vigilantes naquela noite. Sua ?nica tarefa era observar, deixar acontecer e, se necess?rio, liberar o local de quaisquer obst?culos. O pr?prio marechal Frances Baker, chefe da pol?cia de Los Angeles, tinha acordos pessoais com a m?fia. Sua especialidade era a recupera??o de escravas chinesas que, ?s vezes, conseguiam escapar e tentavam embarcar clandestinamente rumo ? Europa. As recompensas pelo ato heroico de resgate das mulheres pobres, legalmente acusadas de furto, eram muito altas. Assim, a gan?ncia amarrou com um n? duplo a pol?cia a uma ou outra das gangues rivais, geralmente a que pagasse mais. Com base nas declara??es subsequentes de Yuen, que havia escapado do massacre, Bilderrain estava mesmo na companhia de Hing naquela noite e, por causa disso, abriram fogo contra ele. Em retrospecto, h? de se acreditar nele. As duas fac??es da m?fia viram-se ent?o diante de um acerto de contas e a ?nica tarefa da pol?cia era permanecer neutra. Para isso, foram postos ? espreita dois velhos conhecidos de Los Angeles. Policiais heroicos que j? haviam se destacado em a??es perigosas durante os dist?rbios mexicanos, como a captura e o assassinato do bandido Tiburcio V?squez. Chamavam-se Emil Harris e George Garde. A tarefa deles era ficar ? vista sem se intrometer, aconte?a o que acontecesse. Diante da multid?o enfurecida, n?o s? n?o levantaram um dedo, como amea?aram aqueles que tentaram fazer algo para impedir os linchamentos, conforme testemunhos confi?veis. No entanto, eles nunca sentaram no banco de r?us e mais tarde foram promovidos aos cargos mais altos da pol?cia. Sabe-se que Thompson foi morto a tiros quase imediatamente. Um evento frequente e nada surpreendente em Chinatown, onde, na semana anterior ao massacre, foram registradas 44 v?timas nos becos, incluindo quatro policiais. Robert Thompson n?o era nenhum santo. Pelo contr?rio, a maioria o conhecia como um tratante, vigarista e agiota, bem como o dono do infame sal?o Blue Wings, cujo imperativo era sexo e drogas. Ent?o O QU? desencadeou a ira de 500 pessoas naquela noite? Uma loucura que permitiu ao povo torturar, matar e mutilar a sangue frio dezenove pobres chineses capturados aleatoriamente, al?m de saquear, demolir e queimar grande parte do Negro Alley diante dos olhos da pol?cia e da cidade de Los Angeles? O que ? surpreendente naquela noite n?o ? apenas o eco de um homic?dio cometido ? luz do dia, mas tamb?m a extrema velocidade com que a multid?o se organizou e como um s? homem invadiu o bairro e a dividiu em grupos, cada um com uma tarefa espec?fica. Saltou imediatamente aos olhos do mundo o fato de o massacre ter sido um evento premeditado em que v?rias figuras ilustres da cidade, bem como pol?ticos proeminentes, haviam admitido por conta pr?pria estarem envolvidos. Vamos a alguns nomes. A come?ar por H.M. Mitchell, rep?rter do Star, antigo xerife do condado e que depois se juntou ? riqu?ssima fam?lia Glassel. Em suma, diz-se que ele havia se tornado l?der do Partido Democrata tamb?m gra?as ao seu artigo sobre o massacre, o qual justificava ressaltando que a cidade era "v?tima dos chineses e da ilegalidade". E o que dizer do rico comerciante J.H. Weldon? Que logo ap?s o epis?dio, foi beber em um bar local com a camisa ensanguentada e gritando de alegria: "T? feliz! Esta noite matei tr?s chineses”! Harris Newmark, um dos maiores e mais afortunados empres?rios de Los Angeles, confessou abertamente que viu Thompson no ch?o e foi para casa festejar. O QU?, ningu?m sabe. Por?m, o empres?rio n?o parecia alheio aos fatos. Principalmente quando foi descoberto durante o julgamento que ele tinha rela??es pr?ximas com os policiais Celis e Kerren, por sua vez suspeitos de terem atirado em Thompson ou o jogado no beco onde sabia-se que os mafiosos estavam escondidos. E o que pensar do chefe de pol?cia Francis Baker? Afirmou no julgamento que em todo aquele alvoro?o de gritos, torturas e inc?ndios, "naquela noite, depois de ter rodeado o edif?cio Coronel, onde os mafiosos haviam se refugiado, foi se deitar", deixando a cidade ? merc? da multid?o. Uma imagem rara do massacre de Chinatown. As v?timas oficiais dos linchamentos foram dezenove, mas toda a ?rea foi saqueada e queimada e muitos ficaram feridos. a... A verdade dos fatos, os documentos processuais e toda a documenta??o de um julgamento simulado que mostrou a alma podre de uma cidade inteira s? vieram ? tona gra?as ao ?rduo trabalho de John Johnson Jr., que, 140 anos ap?s o massacre, conseguiu obter acesso ? famosa biblioteca de Hungtington. Os dados mostram inequivocamente que a pol?tica, as institui??es e os interesses privados estiveram na origem n?o s? do massacre, mas tamb?m da crise econ?mica, do clima de desespero generalizado e do caos total no qual a Calif?rnia, e sobretudo a cidade de Los Angeles, havia mergulhado. Baseando-se em um substrato de racismo constitucional que privou os chineses de qualquer direito humano e de uma dimens?o jur?dica, foi f?cil identific?-los como inimigos da comunidade e, consequentemente, manipular a opini?o p?blica. A VERDADE SOBRE O MASSACRE Os antecedentes Tudo come?ou em 1869, quando foi conclu?da a ferrovia transcontinental de Utah, a Pacific Transcontinental, que estava no centro de um gigantesco plano de reconstru??o do governo dos Estados Unidos para impulsionar a economia ap?s o desastre da Guerra Civil. As transcontinentais, ou seja, a uni?o da costa do Pac?fico com o Atl?ntico, significavam com?rcio, expans?o e riqueza em um per?odo em que as grandes ferrovias come?avam a espalhar-se timidamente pela Europa. O setor empresarial norte-americano era, conforme seu hist?rico, gigantesco e muito respeitado e foi um modelo para o sistema capitalista que se espalhou a partir de ent?o. ? claro que para tal neg?cio era necess?rio investir rios de dinheiro e o governo contraiu uma enorme d?vida p?blica, contando com o fato de que voltaria a poder gastar com a venda do ouro. Gra?as ao sistema New York Gold Exchange, que tinha a fun??o n?o s? de favorecer o mercado livre, mas tamb?m de controlar o pre?o do ouro e mant?-lo est?vel. Isso atraiu um bando de especuladores, como James Fisk e Jay Gould e outros canalhas como eles, que manipularam o ent?o presidente Ulysses Grant. Fizeram-no confiar a tarefa principal de comprar e vender o metal amarelo a um de seus comparsas, o tal general Daniel Butterfield, que se tornou ent?o o tesoureiro-chefe dos Estados Unidos. Ele convenceu Grant de que era necess?rio que o governo comprasse o metal, que ent?o deveria ser colocado de volta em circula??o para que a economia permanecesse est?vel. No entanto, Butterfield n?o o vendeu, mas comprou-o em nome de Gould e Fisk, o que causou uma forte alta dos pre?os e uma infla??o perigosa. Percebendo o golpe, o governo ent?o vendeu quatro milh?es de d?lares em ouro em 24 horas, causando o colapso de seu valor. Obviamente, o infame mecanismo ? muito mais complicado do que isso, mas espero que essa narrativa simples dos fatos d? uma ideia da tremenda crise econ?mica que ele gerou. Agravada ainda pelo subsequente esc?ndalo da Paci?c Transcontinental Railroad, que se descobriu, por sua vez, ter sido especulada com base em subs?dios estatais, inflando absurdamente os relat?rios de despesas e estabelecendo um verdadeiro monop?lio sobre os territ?rios de sua compet?ncia, dos quais o Estado foi exclu?do. A crise atraiu um grande n?mero de investidores, bloqueou ind?strias e for?ou o fechamento de milhares de empresas. Entre diversos estados, a Calif?rnia, que havia acabado de concluir sua ferrovia, deixando milhares de desempregados nas ruas, foi um dos mais afetados. A maior parte dessa m?o de obra era de chineses, contratados em massa pelas empresas gra?as ?s a??es do governo, que, como vimos, organizava o tr?fico da China, aliciando trabalhadores a pre?os baixos. Juntamente com os desempregados da ferrovia de Utah, eles amontoaram-se em Chinatown, o ?nico lugar nos Estados Unidos capaz de receb?-los. Ali, a m?fia providenciou para que fossem acomodados e passassem a trabalhar para ela. Exceto para o mercado clandestino e a importa??o de produtos orientais. Entretanto, havia pouco trabalho dispon?vel e os ?nicos a sobreviver foram mais uma vez os chineses, que se adaptaram a trabalhar quinze horas por dia por alguns centavos. Didascalia...Inaugurada em 1869, a Paci?c Railroad era uma joint venture que envolvia duas grandes empresas criadas para esse prop?sito: a Union Paci?c e a Central Paci?c. Havia tamb?m um grande envolvimento do governo dos Estados Unidos. A constru??o da ferrovia, que unia dois pontos estrat?gicos para o com?rcio norte-americano, a saber, a costa atl?ntica com a Calif?rnia e o Pac?fico, representou o in?cio da era moderna n?o s? para o pa?s, mas para todo o mundo, abrindo caminho para o sistema ferrovi?rio. Foi um empreendimento gigantesco, mas o esc?ndalo que se seguiu sobre or?amentos "inflacionados" e subs?dios estatais quase causou o colapso do sistema democr?tico americano, dado o envolvimento comprovado do presidente Ulysses Grant. Pouqu?ssimas pessoas nos Estados Unidos estavam cientes das condi??es terr?veis em que esses escravos modernos eram mantidos. Vinham sequestrados de sua terra natal, muitas vezes em nome dos Estados Unidos, ou imigravam para a Am?rica para escapar da fome. Com a fam?lia ref?m na China e as leis estadunidenses que, com a desculpa de coibir a introdu??o clandestina de mulheres destinadas ? prostitui??o, proibia as esposas de juntarem-se aos maridos, esses pobres coitados n?o tinham vida pr?pria e estavam ? merc? de tr?s inimigos: a p?tria, os Estados Unidos e a m?fia, que trabalharam em un?ssono para melhor explor?-los. A prosperidade das lojas em Chinatown era frequentemente fict?cia e pouqu?ssimos realmente beneficiaram-se delas. Os rendimentos dos jogos de azar, das casas de ?pio e das bebidas iam diretamente para as m?os da m?fia, que por sua vez pagava uma boa parte ?s autoridades locais. Os pr?prios Estados Unidos engordavam os bolsos com o com?rcio de produtos chineses, que em 1870 passou tamb?m a incluir frutas, verduras, peixes e g?neros de primeira necessidade que eram "adquiridos" no exterior a custo baix?ssimo. Diversas empresas locais fecharam as portas, porque n?o podiam competir com esses pre?os. Por volta de 1880, toda a economia nacional passou a depender das importa??es e exporta??es com a China. O pa?s asi?tico, com base em uma filosofia oriental, segundo a qual “se n?o se pode derrotar o inimigo por fora, derrote-o por dentro," imp?s um comiss?rio para verificar "as condi??es de seus s?ditos em uma p?tria estrangeira". Na pr?tica, gra?as a sua m?fia, a China garantiu o controle total da imigra??o chinesa nos Estados Unidos, a fim de superlot?-los com seus cidad?os e manter o pa?s americano em uma esp?cie de sujei??o velada. Para dar fim ao golpe e retomar o controle sem perder os benef?cios do tr?fico com a China, foram promulgadas as famosas Leis Raciais, ?s quais seguiu-se toda uma onda de livros, p?steres e semin?rios sobre a “amea?a chinesa". Didascalia...Afiado e incisivo, Thomas Nast criticou abertamente o sistema pol?tico norte-americano e suas leis raciais em um dos jornais de maior audi?ncia da ?poca, o Harper's Weekly. Aqui est? um de seus desenhos, intitulado Go West Go East, no qual ele exp?e as nocivas leis de Jim Crow. Confiando no desejo inerente de manipula??o do povo e e em seu racismo arraigado, o governo norte-americano definiu categoricamente os chineses como "indesej?veis". Privando-os assim de qualquer personalidade jur?dica e concedendo total imunidade ao indiv?duo, que, portanto, sentia-se autorizado a "fazer justi?a por si mesmo". O massacre de Los Angeles foi uma consequ?ncia direta desse mecanismo perverso. Como sempre acontece em tempos de crise, os mesmos governos que apontam um bode expiat?rio para encobrir seus erros s?o os ?nicos que acabam se beneficiando das guerras entre os pobres. O inc?ndio de Chicago de 8 de outubro de 1871 completou o quadro. Foi um dos desastres mais tr?gicos dos Estados Unidos, em que toda a cidade de madeira foi arrasada, deixando os corpos carbonizados de 300 pessoas, 110 mil desabrigados e 18 mil edif?cios, em mem?ria dos quais restou apenas uma parede. A investiga??o que se seguiu determinou que tratava-se de um daqueles eventos nefastos desencadeados unicamente pela ira de Deus. Ap?s terem abafado o suposto descuido de uma vaca (irlandesa), que dizem ter causado o inc?ndio ao derrubar uma l?mpada, o caso foi encerrado. Na verdade, boatos afirmavam que N?O FOI a m?o do destino, mas sim a m?o humana que causou o inc?ndio, motivada por dinheiro e poder. Muitas coisas n?o batem sobre esse inc?ndio, como a interven??o do corpo de bombeiros, que era considerado um exemplo de organiza??o e vigil?ncia para os Estados Unidos. Como eram empenhados em defender do fogo uma cidade de madeira em pleno desenvolvimento onde a m?dia de inc?ndios era de dois por dia! O departamento estava muito bem equipado: em 1866 contava com onze caminh?es completos, dois extintores manuais, treze carrinhos flex?veis, empilhadeira com escada, 120 brigadas em tempo integral, 125 volunt?rios e 53 cavalos. Em 1871, tamb?m foi equipado com o modelo ?nico do elevador de mangueiras Knocke-Pattent, uma torre d'?gua capaz de disparar e direcionar um jato de alta pot?ncia. Isso mostra o qu?o experiente e equipado era o corpo de bombeiros, que combateu as chamas do famoso inc?ndio na noite de 8 de outubro de 1871. No entanto, existem pelo menos dois erros grosseiros e imperdo?veis do departamento, como perder completamente o controle sobre as chamas. DidascaliaO grande inc?ndio de Chicago custou aos Estados Unidos cerca de 200 milh?es de d?lares na ?poca. Aqui est? uma imagem do Harper's Weekly de autoria de John Chapin, mostrando a ponte na Randolph Street completamente destru?da pelas chamas.... O primeiro diz respeito ao atendimento emergencial: sabe-se que a brigada foi acionada SOMENTE duas horas ap?s a primeira chamada e apenas porque muitas outras vieram em seguida. O departamento justificou-se dizendo que “pensaram que a nuvem de fuma?a relatada pertencia a outro inc?ndio, que havia sido apagado na mesma ?rea no dia anterior”. Muito estranho e quase grotesco, para bombeiros experientes. Al?m disso, nos anu?rios do departamento n?o h? men??o a um inc?ndio semelhante que, mais estranho ainda, tivesse sido originado em um dep?sito de madeira. O erro seguinte foi absurdo: ao perceber que se tratava de um novo inc?ndio, o departamento enviou o socorro, mas em uma dire??o completamente diferente! Falou-se de "erro de comunica??o" entre os funcion?rios, o que ? incompreens?vel para pessoas acostumadas a trocar esse tipo de informa??o com rapidez e precis?o! Outro detalhe, e um que n?o me cheira nada bem, ? que o departamento interveio durante toda a manh? para resolver quatro pequenos inc?ndios criminosos na mesma ?rea. Logo, eles a conheciam muito bem. COMO poderiam n?o ter pensado que o quinto inc?ndio do dia tamb?m pudesse ter sido originado ALI? Seja como for, os erros foram fatais e, apesar dos esfor?os subsequentes e da colabora??o das cidades vizinhas, a f?ria do inc?ndio destruiu tudo. Quando inclusive o aqueduto foi queimado, a popula??o percebeu que havia perdido a batalha contra o fogo. Nesse ponto, fica a d?vida: se o inc?ndio foi realmente criminoso, QUEM e POR QU? teria feito isso? Didascalia..Uma foto rara do corpo de bombeiros de Chicago com uma das v?rias esta??es equipadas, em 1871, poucos meses antes do grande inc?ndio. O equipamento era muito moderno e de ?ltima gera??o para a ?poca. ? de se perguntar O QUE poderia ter originado esses erros grosseiros e fatais para a cidade.. Voc? deve saber que a grande maioria dos pr?dios no cora??o da velha Chicago eram decr?pitos, formavam guetos e eram ocupados pela chamada esc?ria, ou seja, todas as pessoas pobres de diferentes etnias que haviam encontrado ref?gio ali. O v?cio, a m?fia e a prostitui??o estavam presentes nesses edif?cios e muitas vezes por meio dos cl?s irlandeses, que eram bastante odiados e temidos. Frederick Law Olmsted, o pai da arquitetura de Nova York, torcia o nariz para os pr?dios de Chicago, chamando-a de uma "cidade retr?grada feita de imigrantes, bares e casas de madeira, afogada em seus del?rios de grandeza que a levaram a construir gigantescos blocos de apartamentos de estilo grosseiro e question?vel“ (the Nation, 1870). Al?m disso, Chicago estava muito atrasada em seu processo de industrializa??o, o que prejudicava os Estados Unidos. Como na era de Nero, o inc?ndio permitiu varrer tudo de feio, indesej?vel e prom?scuo que atrapalhava Chicago em sua corrida rumo ? modernidade e de que ela jamais poderia se ver livre sem aquele acontecimento fortuito. No final, o inc?ndio representou uma pechincha para a cidade, que se beneficiou da ajuda financeira do Estado e da iniciativa privada, que a reconstru?ram da cabe?a aos p?s e que no mesmo ano sediou a primeira escola de arquitetura dos Estados Unidos — cujas figuras proeminentes haviam atuado como engenheiros militares na Guerra Civil — e finalmente inauguraram o Home Insurance Building em 1885, o primeiro arranha-c?u do pa?s! Didascalia...O primeiro arranha-c?u norte-americano em toda a sua majestade, o Home Insurance Building, conclu?do em Chicago em 1888. A grande obra de William LeBaron Jenney inaugurou a moda de edif?cios alt?ssimos, um s?mbolo do poder estadunidense. Em todo o caso, os tr?s infelizes acontecimentos criaram o substrato favor?vel ? trag?dia de 24 de outubro de 1871, do qual mais da metade da cidade teve participa??o ativa, j? no limite do descontentamento com os imigrantes chineses, agora taxados de fura-greves pela opini?o p?blica. Naquela noite, al?m das declara??es de protagonistas como Bilderrain, que se retrataram e modificavam cada vez mais suas vers?es, os fatos deram-se da seguinte forma: Bilderrain, armado at? os dentes e junto com um pelot?o de outros vigilantes — lembre-se, N?O POLICIAIS, mas sim cidad?os comuns autorizados pelo xerife local a manter a ordem —, esgueirou-se at? o beco da Negro Alley em dire??o ? casa e ? loja de Yuen. Algumas fontes citam a presen?a do pr?prio Hing entre eles, provavelmente como um guia. A inten??o clara de Bilderrain era roubar o ouro escondido em um tronco, do qual todos haviam ficado sabendo apenas pela manh?. O esquadr?o viu-se diante dos guarda-costas de Yuen, que, como sabemos, era um mafioso. Os guerreiros Tong come?aram ent?o a atirar em autodefesa e, de acordo com as regras j? definidas entre a m?fia e a pol?cia local, sem nunca sair do beco. Os confrontos privados, ali?s, faziam parte da rotina e por isso eram regulamentados. A regra era que podiam “atirar uns nos outros o quanto quisessem, contanto que o fizessem em casa” e, na Negro Alley, isso acontecia TODOS OS DIAS. Havia tamb?m uma esp?cie de toque de recolher para todos os habitantes de Chinatown, que, de qualquer maneira, preferiam ficar bem trancados em casa depois das 20h. Apenas os estabelecimentos voltados aos v?cios permaneciam abertos e o acesso a eles tamb?m era baseado em outras regulamenta??es, destinadas a preservar a seguran?a dos fregueses. Os chineses, pela paz e porque n?o eram burros, dificilmente transgrediam essas regras que permitiam a todos uma coexist?ncia pac?fica, embora dif?cil. N?o ? por acaso que a invas?o dos vigilantes organizou-se por volta das 20h30, ainda que durante o julgamento tenha se falado inicialmente de 18h e at? 16h. Contudo, a verdade sobre o hor?rio veio ? tona quase imediatamente, tamb?m gra?as ao depoimento direto de um rep?rter e advogado de Los Angeles, um certo Horace Bell. Entretanto, seu testemunho n?o foi admitido nas atas do processo. Bell escreveu v?rios artigos sobre o assunto, sempre rejeitados pelos historiadores como "n?o confi?veis". Dado seu passado, certamente n?o exemplar. No entanto, Bell continuou a sustentar sua vers?o, descrevendo em detalhes substanciais o conluio entre o chefe de pol?cia Baker e a m?fia chinesa, bem como a afirma??o das autoridades locais quanto a uma pol?tica decididamente podre. Seu testemunho s? p?de ser respaldado ap?s a documenta??o ter vindo ? tona, 140 anos depois. Didascalia...Horace Bell em 1880. Trata-se de um personagem realmente interessante. Indico a leitura de sua hist?ria na internet. Bilderrain foi ent?o atingido no ombro e caiu de joelhos, chamando ofegante por refor?os, mas o grupo havia recuado dada a recep??o pouco convidativa. Mesmo para homens treinados, n?o era aconselh?vel ficar cara a cara com os guerreiros Tong, especialmente em seu territ?rio. No entanto, Bilderrain afirmou que Thompson, empunhou heroicamente a pistola e como o "carrasco da noite" parece ter dito "L? vou eu”! Enquanto, na esquina do edif?cio Coronel, o policial Celis gritava: "Cuidado, eles est?o armados”! Assustado com o perigo, Thompson entrou SOZINHO no beco escuro, abriu a porta da casa de onde vinham os disparos e l? levou um belo tiro no peito, que o levou ? morte cerca de duas horas depois. Nesse ponto, os policiais Celis e Kerren, abrindo caminho em meio ?s balas, puxaram o corpo sem vida de Thompson para fora do beco e levaram-no para a rua a fim de prestar-lhe cuidados p?fios. A not?cia do ferimento do homem e sua subsequente morte parece ter exacerbado a multid?o que deu ent?o in?cio ao massacre. O resto ? hist?ria. Essa foi a vers?o oficial levada a julgamento, e a ?NICA a que os ju?zes deram cr?dito, embora muitos depoimentos de cidad?os respeit?veis a tenham negado v?rias vezes. ? evidente que se trata de um laudo c?modo, que justifica plenamente a atua??o dos policiais e exonera a f?ria assassina da multid?o, permitindo que o infeliz acontecimento seja considerado “uma loucura coletiva resultante da gravidade do per?odo de crise econ?mica e da concorr?ncia desleal dos chineses”. Mas ? t?o f?cil provar que as coisas ocorreram de modo muito diferente. Em primeiro lugar, os testemunhos. O protagonista absoluto e her?i p?blico foi Bilderrain, que durante o julgamento afirmou ter “visto claramente Thompson abrir a porta e cair no ch?o com a bala no peito”. Nada poderia ser mais falso. Segundo seu pr?prio depoimento, posteriormente modificado, Bilderrain estava na entrada do beco quando pediu socorro, enquanto a casa de Yuen, de onde come?aram os tiros, ficava dentro do Negro Alley, em uma ?rea invis?vel do beco. Al?m disso, a menos que Bilderrain estivesse equipado com vis?o infravermelha, n?o era fisicamente poss?vel ver nada no Negro Alley, porque a ?rea n?o tinha ilumina??o. Tamb?m por essa raz?o, a pol?cia tinha muito cuidado em intervir em casos de tiroteio e, quando o fazia, ia equipada com luzes. O que parece muito estranho ? a interven??o de Celis e Deck, que foram ordenados a n?o se mover do edif?cio Coronel. Poderia se dizer que transgrediram a ordem para salvar o amigo, mas mesmo assim n?o faz sentido. Em geral, os guardas atingidos eram abandonados por terra, principalmente se houvesse tiroteio na ?rea. Al?m disso, n?o esque?amos que Thompson N?O ERA um policial, mas sim um vigilante — e um canalha, ali?s — e, normalmente, havia rixas entre a pol?cia e os cidad?os que faziam a vez de combatentes improvisados. Geralmente, a pol?cia fazia quest?o de manter uma certa dist?ncia deles, e com grande desprezo. ?, portanto, impens?vel que os dois tivessem violado uma ordem, arriscando a vida para salvar um homem que, provavelmente, tamb?m n?o deveria estar ali. S? para lev?-lo para a rua e v?-lo morrer. Em vez disso, presume-se que os dois assassinaram Thompson ou que o empurraram em dire??o aos mafiosos, disparando primeiro para estimular o fogo direto sem lhe dar cobertura. Alguns depoimentos tamb?m mencionaram um terceiro policial, chamado Richard Kerren, que parece ter sido posicionado no beco em frente ? loja de Yuen. Mais tarde, quando o processo foi arquivado, muitas testemunhas oculares lembraram-se de t?-lo visto pular para fora do beco logo ap?s os primeiros tiros gritando: “Eles mataram Thompson"! Alguns momentos depois, Celis e Deck apareceram carregando o homem gravemente ferido. Portanto, os dois estavam DENTRO do Negro Alley e, logo, n?o entraram correndo AP?S terem ouvido os tiros, como testemunharam. Por fim, n?o podemos esquecer que os heroicos policiais Harris e Gard tamb?m estiveram presentes na ?rea e que tinham como tarefa ficar de guarda no pr?dio. Como ? poss?vel que cinco deles n?o tenham conseguido defender Thompson, que levou dois tiros no peito ? queima-roupa? Sendo assim, tudo sugere que o assassinato de Thompson foi um pretexto para justificar um massacre premeditado e organizado, que certamente envolveu tamb?m uma multid?o de bandidos que agiu sob o olhar atento da pol?cia e de muitas figuras influentes do pa?s. Que, naquela noite, estavam em suas posi??es e, de uma forma ou de outra, guardavam velhos rancores contra os comerciantes chineses. Muitos empres?rios foram acusados pelo juiz de terem participado ATIVAMENTE no massacre e, entre eles, havia homens proeminentes, como o vereador George Fall, que foi visto quebrando uma mesa de madeira e, em seguida, uma clava de ferro nas cabe?as de dois chineses. A multid?o enfurecida era composta principalmente de pais de fam?lia honestos que praticavam as profiss?es mais d?spares e de maior concorr?ncia com os chineses, como fazendeiros, criadores de bicho-da-seda, comerciantes de especiarias e agricultores. Mas n?o faltaram ferreiros, carpinteiros, a?ougueiros e gerentes de sal?es que, de uma forma ou de outra, tiveram rela??es comerciais diretas com os mafiosos chineses. Estima-se que cerca de 500 pessoas participaram do massacre, um d?cimo da cidade. As a??es conduzidas t?m um qu? vagamente militar. N?o se tratou de um grupo exaltado que, armado de fuzis e forcados, entrou em massa no Negro Alley, arrancando ? for?a os chineses, mas sim de um assalto organizado e dirigido por poucos indiv?duos. Os quais, portanto, poderiam ter sido facilmente reprimidos pela pol?cia, ao contr?rio do que o comandante Baker declarou em julgamento. Imediatamente ap?s a morte de Thompson, que N?O FOI socorrido, mas apenas levado em agonia para a rua para que todos o vissem, um esquadr?o de homens experientes penetrou no Negro Alley atirando para chamar a aten??o da m?fia, por?m mantendo uma dist?ncia segura. Isso permitiu que outros escalassem o telhado do edif?cio Coronel para posicionar pranchas de madeira. Dessa forma, os tiros de rifle puderam perfurar o alcatr?o e almejar diretamente os chineses do lado de dentro, que foram rapidamente exterminados pela chuva de proj?teis. Os disparos cont?nuos duraram cerca de dez minutos, at? que algu?m gritou do telhado: “Est? feito, vamos entrar"! Com esse sinal, a multid?o precipitou-se para dentro do edif?cio e atrav?s dos becos fracamente iluminados por l?mpadas chinesas, arrombando ? for?a as portas das casas onde a popula??o amedrontada tinha se barricado. Конец ознакомительного фрагмента. Текст предоставлен ООО «ЛитРес». Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=63011728&lfrom=688855901) на ЛитРес. Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.
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