Ты мог бы остаться со мною, Но снова спешишь на вокзал. Не стала я близкой, родною… Не здесь твой надёжный причал. Уедешь. Я знаю, надолго: Слагаются годы из дней. Мчит серо-зелёная «Волга», - Таксист, «не гони лошадей». Не надо мне клятв, обещаний. Зачем повторяться в словах? Изношено время желаний, Скажи мне, что я не права!? Чужой ты, семей

Cores

Cores Patrizia Barrera Patrizia Barrera CORES, as vozes da alma Prefazione dell'Autrice Escrevi o livro sem pensar nisto, mas literalmente escutando as vozes que saiam do meu profundo, daquele algo impalp?vel e absorvido que defini a minha alma. S?o vozes, reflex?es e historias fora do tempo, nascidas num lugar remoto que ? a fantasia mas que chegam a partir do meu vivido e das experiencias psiquicas que colhi ao longo do percurso. Cada conto ? marcado por uma cor e por uma imagem, para vos oferecer uma experi?ncia planet?ria e arquet?pica. S?o contos intuitivos, pouco l?gicos, quase surrealistas. L?-los ? abrir uma janela sobre um mundo espiritual colectivo, que est? em cada um de n?s. Espero que possam oferecer-vos um instante de evas?o e de reflex?o com o seu coro de recorda??es das cores pungentes, patrim?nio incompar?vel da nossa exist?ncia. PATRIZIA BARRERA COPYRIGHT Copyright PATRIZIA BARRERA 2020 ALL RIGHT RESERVED RHA PRODUCTION ?GUA Sou a ?gua que gorgoleja nas vales, que toca levemente o prado com as suas humidas m?os e sou a ?gua que cai intensamente do c?u, que suavemente amontoa-se na escura cavidade das ?rvores. ?gua das pontas nevosas, ?gua ?spera e escura que chove seca nas flores. Onde quer que seja E quem quer que seja Serei sempre ?gua. As gotas amargas, as pingas incandescentes Nascidas Do teu amor para mim. CORES Azul Foi naquele ver?o que me tornei sua mulher. Lembro-me ainda das ma??s que se debru?aram nos campos como soldados em festa, e o largo caminho que nos separava do bosque. Ali havia a nossa casa, e foi ali que aconteceu. Eu era jovem e perdida naquele alarido de vozes, no turbilh?o de cores que precedem o p?r-do-sol: mas cheirava a noite como uma amiga e desejava que viesse, que a minha cama nupcial ainda imaculada se vestisse de rosa e me acolhesse num ninho, como acontece com a ?guia depenada. Trazia o seu rosto esculpido nos olhos: a testa alta, o olhar severo, os t?rgidos l?bios. E depois as m?os. Aquelas m?os incans?veis e curiosas que sabiam aprisionar o mundo numa teia, coagia o dia para aparecer a noite, transformava a velhice em juventude. Sabiam chorar, tais m?os. A minha vida e as suas m?os: para mim aquilo era todo universo. Assim continuou durante um ano, largos dias marcados pelos meus passeios no bosque e os seus quadros, os meus olhares ? torrente e as suas cores. A natureza permanecia confinada ali, prisioneira. Aquela era a cerejeira morta no inverno que continuava a viver, e aqueles fogos da noite quando na colina se dan?ava. E os desejos ocultos, as emo??es sofridas, tudo confundia-se no momento em que o pincel se expandia para descobrir ou para esconder. ?s vezes avan?ava para pintar durante horas. Depois, como se desconfiasse, reparava-se em volta e me via, e s? desta forma sabia que tinha chegado a noite. Ele agarrava-me e nos am?vamos. No meu corpo as suas m?os ainda desenhavam e nele n?o havia paix?es. Apenas fantasmas, apenas cores. Eu n?o percebia. Todavia era lindo o seu m?gico interesse nos meus cabelos, no meu seio. Reparava-me, e no fundo eu era a sua mulher. Falava para mim da sua alma confusa, dos sentimentos reprimidos que voltavam a angusti?-lo toda a noite, dos projectos para os novos quadros. Falando adormecia, como se estivesse profundamente cansado. Nao sei porqu? mas nao queria que dormisse. Parecia-me de estar a mergulhar na obscuridade e n?o estar a ver o fim. Eram os seus quadros a fazer-me companhia e, quando o percebi, resolvi que n?o devia perd?-los. Jurei para mim mesma e por fim obtive; agora eu sou a pr?pria cor. ?s vezes acontecia que partisse para expor os seus quadros e c?us ficava sozinha; ent?o vagueava ansiosa n?o sabendo o que fazer, nos meus interminaveis dias. Escrevia para a minha m?e, ou ia ao lago, ou dormia, e deixava toda coisa sem nada terminar, contagiado pela angustia. Reparava as paredes vazias, as telas despojadas, os pinceis sobre o fog?o da sala, abandonados, sem ningu?m que lhos desse vida. Era como se todo o mundo desaparecesse aos meus olhos, do universo sonhado n?o restavam que migalhas. Tinha sido roubado tudo, os seus quadros vendidos a desconhecidos que n?o sabiam que comprando-os compravam tamb?m a minha alma. Sentia-me pilhada e tra?da, tinha visto nascer um filho e n?o pudera t?-lo. Depois ele voltava, juntamente com a sua magia. Daquelas m?os nascia uma rosa, um raio de sol ou mesmo a escurid?o. Do nada apareciam anjos de rosto puro e inocente ou crian?as infelizes no ventre das mulheres, arruinadas; e corpos murchados, ta?as cheias, cenas de loucura, de satisfa??o, de amor. Reparando aqueles rostos dava-me conta de t?-los j? visto dentro de mim e, tocando aquelas telas, esperava que tudo voltasse em mim. O medo de perd?-los de novo assaltava-me, amorfa e feroz: que sentido tinha criar e n?o desfrutar daquela vida? Perscrutava enquanto inventava novas cores e em mim nascia um inconsol?vel desespero. Impontente diante dele pensava que se nada pode-se conservar muito melhor ? destruir. Lentamente rastejou no meu cora??o uma insidiosa serpente, e o criador que at? agora tinha acreditado de admirar transformou-se num tirano incensivel aos sentimentos de piedade que inspirava as minhas criaturas. Encolhia-me nos seus abra?os n?o acreditava em mais nada dele, mergulhando naquela amarga solid?o que acolhe as alamas mortas. Ele reparava-me como se n?o me visse, e agora sei que sofria; talvez era possuido por uma escolha, popr aquela d?vida horr?vel que logo depois acabou comigo. Agora compreendo que se atormentava sem saber escolher entre a mulher e as suas cores. Chegou um novo ver?o sem que nada tivesse mudado, mas um dia ele n?o pintou e alcan?ou-me no bosque: parecia prostrado por algo a que n?o sabia opor-se, e profundamente cansado. Readquiriu uma ternura e nos amamos como nunca tinhamos feito antes, deixando a parte os complexos e as inibi??es, felizes de ser simplesmente n?s pr?prios. No fim ele pareceu aliviado, como se tivesse finalmente percebido o que devia fazer. Regressamos e ele pegou de novo as cores, mas desta vez tinha um novo argumento: eu. Durante horas quieto a observar as suas ?geis m?os sobre a tela, velozes e habilidosas entre os pinceis como se n?o tivesse outro nutrimento que este. O dia apagou-se e estava ainda curvado no quadro: a mulher retratada ria, eternamente feliz na sua eterna juventude. Perscrutando-a n?o era mais eu. Atr?s dela uma porta entreaberta dava-me sinal para entrar, e eu questionei-me o que podia haver atr?s dela como grande segredo que n?o podia v?-lo. De novo aquela miser?vel tristeza possuiu-me e eu n?o pude evit?-la; e a partir da tristeza tornou-se definhamento, e depois loucura. Eu pr?prio teria perdido ainda, sem mais poder encontrar-me? E quem me teria comprado desta vez? A minha alma estava no quadro e eu podia defend?-la dos olhares dos outros. Ele levantou-se e beijou-me demoradamente: sabia talv?s que teria partido? Aquela noite n?o consegui dormir. Os meus sonhos eram estranhos chamamentos de mundos perdidos no tempo. Depois percebi que era a porta pintada a chamar-me. Corri para o jardim e o quadro tinha-se movimentado. A porta j? aberta mostrava um preto abismo de sombras e, no fundo, as cores. Com um salto fui para dentro e n?o pude mais sair: como a natureza prisioneira permanecera escolpida na tela, e estava morta. A partir daquele dia ele n?o pintou e nem vendeu outros quadros, porque n?o sabe onde refugiou-se a minha alma: e desde ent?o as ?rvores s?o cinzentas e os rostos dos anjos desaparecidos como fumo. N?o sabe reconhecer a luz da noite, e n?o pode distinguir o fogo da ?gua. E eu n?o posso mais dizer-lho, enfim, porque estou atr?s da porta, onde ele n?o conseguir? por acaso ver-me. Agora choro eu, sentindo-me desgra?ada na minha humana fraqueza. Tudo acabou. E n?o tenho mais voz para confessar-lhe que lhas roubei eu, as suas cores... A MUSICA DO DIABO Vermelho Dizia-se que aquela musica tivesse sido o diabo a comp?-la. Boatos, palha?adas, supersti??es? Mas ele a tinha tocada mais vezes, aquela m?sica, e n?o viu por acaso o diabo. E certamente estava presente como se existisse, com aqueles chifres agu?ados, o ar altivo e o chapeuzinho preto, como normalmente aparece, e ent?o faz medo visto que sentes a sua ardente respira??o nas costas. Mas uma vez que ele n?o tinha medo, ou melhor, aquela m?sica parecia elev?-lo para cima onde o diabo, como se diz, n?o devia existir. E todas as vezes lhe chegava no cora??o uma paz profunda, que nenhuma coisa terrestre est? em condi??es de dar. Era aquele amor para o universo que lhe palpitava no peito, quando tocava, a encoraj?-lo para continuar a faz?-lo; aquela estranha satisfa??o dos sentimentos. E ent?o sentia-se bem, ou melhor ansioso para fazer o bem, embora no fundo a bondade o enfadava como o mal, e todas as vezes acabava por dobrar-se sobre si e daqueles sentimentos nao fazia nada. Desta forma todos os dias: satisfeito de si mesmo e depois descontente, desejoso em concentrar-se sobre aquelas notas e cansado delas. E depois havia aquela estranha nausea para a gente e para si, depois de ter tocado, que n?o percebia mas que n?o podia prescindir de desejar. No fim habituou-se tamb?m a isto e n?o deu mais import?ncia, considerando esta coisa como uma pequena consequ?ncia por sofrer para desfrutar uma d?diva preciosa. “O diabo? N?o existe!” – dizia, invocando como prova a sua mesma felicidade. “Nunca roubei, nem feito mal a ningu?m, e sou feliz. O diabo portanto n?o arrasta mais ? perdi??o os mortais que gozam da sua companhia e das suas artes? Ent?o, se ? assim, bem-vindo dem?nio!” E acariciava o queixo da sua jovem mulher gr?vida e pesada, sinal de que a crian?a era s? e crescia bem, mas um sinal da b?n??o divina. Mas a mulher morreu na primavera dando luz tal filho. Contudo e n?o ? t?o-pouco certo, visto que a crian?a permaneceu fechada no ventre da m?e morta at? que uma desconcertante lamenta??o n?o imp?s a ningu?m de traz?-la para fora com uma cesariana improvisada. Tinha os olhos abertos e estava viva. E ent?o todos pensaram que havia algo de mal?fico nesta coisa, e que os progn?sticos eram negativos. E quando enfim se descobriu que aquela estranha criatura n?o falava, podendo muito embora, e que se limitava a reparar o mundo com os olhos destacados e furiosos, pois todos deixaram-nos sozinhos, e o pai e a filha viveram na solid?o todos os anos da sua vida. No fim desapareceram, como se tivessem sido engolidos por nada, e todos disseram que tinha sido o dem?nio a pedir a compensa??o das suas almas. Mas eu sei como foi, visto que fui o ?nico a decidir de misturar-me ? sua desgra?a, movido por um sentimento de piedade por aquela pobre criatura que crescia no nada, e a quem eu mesmo n?o podia que levar um pouco de comida. O que aconteceu assusta-me ainda, mas j? sou velho e n?o me deu de temer nada se n?o a morte. Assim, meus amigos, oi?am as minhas pobres conversas e depois esque?am-nas. De palavras j? existe tantas. Ele, portanto, continuava a tocar aquela musica, e afundando dia ap?s dia no esquecimento. Tocando-a encontrava paz, iludindo-se de n?o ser mais o mesmo e fugindo para longe daquela realidade sem esperan?a… nenhuma coisa o interessava, salvo aquela musica: e quando compreendeu que n?o podia mais prescindir, mesmo odiando-a, come?ou a odiar a si mesmo porque a odiava. N?o conseguia mais fazer nada: muito menos reparar aquela filha que derretia como uma vela, mesmo sendo s?, e que n?o proferia nenhuma palavra. “Maldita musica!” – praguejava para si mesmo. E cada dia se prometia de novo de n?o toc?-la mais, sabendo bem que n?o teria hesitado um instante depois pegando de novo na m?o os instrumentos para faz?-lo. E todas as vezes que aquelas notas subiam ao c?u num m?gico encanto no seu corpo desenhavam-se as sombras de esgotamento, aquela mancha escura que todos os dias ganhava mais forma e tornava-se pura, at? quando explodiu com o seu medonho aspecto e ele n?o p?de mais n?o v?-la. Aquela pata pelosa que lhe tinha surgido no peito era o sinal do diabo, aquele dem?nio que n?o tinha por acaso temido e que n?o temia ainda mas cheio de horrores e de ilus?es. N?o havia fuga poss?vel: aquela m?sica era o acto de sangue que lhe tinha sugado enfim a alma e que o tinha concedido como uma d?diva ao obscuro senhor. Ele o tinha enfim tocado e o mantinha no punho, nutrindo-se da sua soberba e da falta de f?. E a contamina??o passava de homem para homem atrav?s das notas daquela m?sica que solicita os sentimentos para o pecado que n?o se pode cometer mas que, no ?ntimo, mesmo por isto j? cometeste. Uma peste silenciosa que cada criatura leva para uma outra, repetindo-se o ciclo at? ao infinito. Ent?o ele questionou-se quantos massacres tinha cometido, trazendo ao mundo aquela m?sica. Quantas outras manchas esperavam para explodir, quantos pecados circulavam pelo ar ? espera de serem colhidos. Tinha sido cego mas agora via e compreendeu que aquela musica precisava destrui-la de imediato, visto que havia ainda uma possibilidade de salva??o que impedisse aos homens de seguir o seu pr?prio caminho dependia apenas dele. Levantou os bra?os para pegar a partitura… mas n?o p?de. Aquela m?sica ainda lhe dizia algo e o encantava, jogando uma f?cil partida contra a vontade do homem vencido. Compreendeu num instante que n?o queria absolutamente destrui-la, mas pelo contr?rio toc?-la, uma vez que n?o h? tenta??o mais forte para o ser humano do que aquele de arrastar ? perdi??o o pr?prio irm?o. “Deves queim?-la” – sussurrou naquele momento uma vez ?s suas costas. Era aquela filha muda que agora falava, e estava firme ? frente dele, p?lida e que sofre no rosto e toda a tremer. “Deves queim?-la” – repetiu, destapando um seio. Tamb?m ali a mancha tinha ganhado forma. Aquela pata que se tinha colocado no peito dela a tinha enfim tudo escavado e devorado, perfurando tamb?m o cora??o. “Veja como estou reduzida. Deves queimar aquela m?sica, e deves queimar a mim tamb?m.” Ent?o ele percebeu que n?o havia mais esperan?a nem tempo: amontoaram as poucas coisas que tinham na margem do mar e fizeram uma grande fogueira. Depois ele atirou-se ali sobre o corpo da sua filha e por fim aquela m?sica. E esperou silenciosamente que o fogo se apagasse totalmente, reparando os ?ltimos fragmentos da sua vida a desaparecer com ele. E, quando tudo foi efectuado, sentiu-se velho e cansado: n?o porque tivesse perdido a sua ?nica filha, mas porque n?o podia mais tocar a sua m?sica. E quando este pensamento ficou claro e n?tido na sua mente a mancha no peito come?ou a queimar-lhe e a sufoc?-lo numa morda?a, de maneira que o seu corpo ficasse consumido e a carne devorada. Assim regressou ao seu quarto e matou-se. LOUCURAS Cor de laranja Vi-a e levei logo um golpe. Algo nela atraia-me e me repelia ao mesmo tempo, algo infinitamente doce e secretamente triste sobre uma boca da mulher e um sorriso de crian?a, quase que se estivessem reunidos nela uma m?gica inoc?ncia e uma l?nguida pervers?o. Mais a reparava mais me convencia que albergasse nela uma dupla natureza e, da?, uma dupla beleza. E efectivamente linda me parecia, duma eleg?ncia rara, como duma t?mida roseira crescida entre os abrolhos selvagens. Foi assim, instintivamente, que a segui: caminhava suavemente sem virar-se, r?pida e segura como longas pernas de pantera. Mas bastava reparar durante um instante o seu perfil puro para encontrar ali a incerteza infantil que me tinha encantado e que agora mais que nunca parecia tocar mal no seu corpo perfeito. Como num sonho ainda revejo os seus morenos cabelos deixados soltos nos ombros que pareciam estar a tremer, o nariz pequenino e arrebitado, a ruga amarga e macia da sua boca. Enquanto a seguia imaginava at? o som ?spero da sua voz, que devia ser subtil como as suas ancas e harmoniosas como o tenro delinear-se das suas coxas. E me parecia conhec?-la desde sempre no momento em que me questionava o que estaria a fazer ali, sozinho naquela longa rua, perseguindo unicamente um aroma de mulher. Estes pensamentos acompanhavam o longo caminho que parecia n?o ter fim. Mas nada tinha fim naquele dia: nem o palrar submetido dos passarinhos, ou o calor das ?ridas colinas e muito menos o suor que pingava implac?vel e lento da minha testa. Mas continuava para frente, impelido pelo ?nico ardente desejo que finalmente ela virasse e durante um ?nico instante dirigisse para mim o seu olhar. De repente, quase importunada pelo barulho dos meus passos, ela virou: colhi um olhar sanguin?rio e agu?adas fei??es de fuinha. Cruel e sanguin?ria, pois! Mas o seu l?bio tremeu de medo e eu experimentei outra vez a coragem de quem se sente o mais forte. Reparei-lhe eu tamb?m, demoradamente, desejoso e atrevido, derramando outra vez nos meus olhos os pensamentos proibidos durante muito tempo adormecidos. Mas n?o avancei um passo, possu?do pelo inconsciente receio que aquela fosse uma vis?o dum instante, uma miragem perseguida por uma vida que por uma ?nica imprud?ncia pudesse desfalecer. Sentia de ter uma extrema necessidade de afundar nela, de sentir o calor da sua pele e a do?ura da sua boca. Tive a vontade de feri-la, de apertar aquelas ancas leves e dissolv?-las entre os dedos, e colocar os meus dedos nos seus seios e depois arrancar-lhos, para pisar e destruir algo bastante precioso e fr?gil para n?o ficar furioso e dar cabo o meu cora??o. Ela estava ali, firme, e n?o fugia. E por acaso por que deveria? Desconhecidos um ao outro e fixos num ?nico pensamento, ningu?m de n?s os dois moveu-se, e ficamos a repararmo-nos como alunos irrequietos ? espera do som duma campainha que n?o chegava por ventura. No fim moveu-se e eu continuei atr?s dela. Era talvez c?mplice dum misterioso subentendido escondido nos seus olhos. Desorientado e perdido segui o ligeiro ritmo dos seus batimentos, o prazer que transpirava da sua pele e a obscura voluptuosidade dos seus sentidos. Retomamos desta forma aquele eterno vagar entre campos e colinas, e o c?u parecia o mar, e todo cheiro prometia tempestade. Acompanhava-me um press?gio de morte que de repente me assolou a alma e n?o pareceu mais a abandonar-me. E eu, que nunca tinha amado o calor do meu corpo, adverti-o com macabra veem?ncia, quase como se estivesse despertado por vingan?a do longo esquecimento a que eu mesmo o tinha condenado. Eu, que nunca tinha amado uma mulher, agora abaixaria para pedir, atirar-me-ia impulsivamente de joelhos em frente daquelas am?veis ancas implorando uma hora de piedosas e am?veis car?cias. Mas era pois eu aquele homem que tivera medo de amor, e por isso tinha-se confinado para sempre nas certezas dum destino irrevog?vel, num trabalho uniformizado, negando para si pr?prio o calor da lareira dom?stica por pura covardia? Eram meus, todos aqueles pesados anos nos ombros em que tinha esquecido de ter sido crian?a, e por isso abominava ao pensamento dum toque na testa e do sorriso de pequeno amante dum rec?m-nascido? O que tinha feito da minha pobre vida se n?o um fato bastante apertado onde por pouco encontrava lugar sozinho? Sepultado por estes pensamentos dei-me conta que t?nhamos chegado nas proximidades duma casa, e que a mulher estava enfim perdida. Reparou-me e eu permaneci fora, numa in?til espera dum convite que n?o chegou por acaso. Parado na sua porta n?o sucedeu nada naquele dia, e nem sequer naqueles sucessivos, e eu fiquei em p? a respirar o poeirento ar dos campos at? quando o sol ficou incandescente, e a poeira queimou-me os p?s e um impetuoso vento obrigou-me a voltar aos meus passos. A partir daquele dia vivi o terror de mim mesmo, toquei com a m?o a inutilidade da minha vida vazia e constatei com amargura o desmoronamento das minhas ilus?es. De repente deu-me uma repulsa a minha pele leve de velho. E percebi finalmente de n?o ter por acaso amado, de ter escolhido com feroz teimosia e percorrer sozinho esta passagem na terra, absorvido em dar valor ?quilo que valor n?o tem, se n?o aquele imagin?rio e inconsciente da vaidade dos homens. Seguindo um dia aquela mulher fui durante uma hora eu mesmo: agora voltei ? minha vida, ? rua em declive que me levar? ao seu poss?vel fim. Sei que nunca serei feliz; mas talvez conseguirei convencer-me de n?o ter falhado para repreender-me e p?ssimas escolhas por renegar. Estenderei um v?u na minha alma como fazem todos e percorrerei a linha de demarca??o do tempo justificando cada minuto o meu mau acto. O esquecimento ? tudo aquilo que desejo. Mas agora sei caminhar no vazio, sem esperan?a e sem amor. M?E Branco . N?o ? verdade, m?e, o que me dizia da vida: que todos os dia s s?o iguais e que vagamente o sol ilumina um mundo ofuscado pelo ?dio. Se da minha parte ? l?cito a recorda??o posso dizer-te que j? desde ent?o amava o que n?o me foi dado, e que amargamente desejava aquela exist?ncia que tu me negaste. Desde o primeiro instante onde percebi que ali estava, ainda perdido na eternidade do meu infinito, t?o confuso no limite inviol?vel entre a vida e a morte, senti o peso dos teus remorsos sobrecarregar-me nos ombros e uma vez sem som repelir-me distante do mundo. Tinha apenas nascido e uma fa?sca de rep?dio acendeu-se no meu cora??o e me queimou. Ent?o uma dor densa e indom?vel escavou-me dentro uma ang?stia sem l?grimas, enquanto no meu cora??o j? acariciava-me a ideia de ser teu filho. N?o sabia n?o agradar-te, ainda que com terror reparavas a tua imagem no espelho, ou que tremias ao ?nico som da palavra “mam?”. N?o percebia o por qu? da minha exist?ncia se tu n?o me amavas, e n?o me dirigias por acaso uma palavra amiga. Sei apenas que esperava e sofria, e adormecia chorando entre os horr?veis fantasmas do meu temido destino. Envolvido numa t?nue neblina n?o conhecia as injusti?as e as humilha??es do teu mundo, todavia o teu choro j? era not?vel para mim e nele, como uma doce can??o de embalar, encontrava o meu repouso. Tinha aprendido a reconhecer a tua voz, e a partir da escurid?o consumia as minhas for?as na tentativa de entender-te e de encontrar um ponto firme no meu incerto universo. A tua parte exterior, o teu doce corpo, os ru?dos alcan?avam-me submissas. Mas era o batimento do teu cora??o que gostava de ouvir, t?o misterioso e absorvido, e do seu ?nico som nutria-me ? espera que todo o meu corpo se formasse. E enquanto o sangue come?ava a escorrer-me as veias e meus olhos fechavam-se, esperando de abrir-se de novo diante de ti mais tarde, empregava a eternidade do meu tempo a imaginar o teu rosto e a fantasiar sobre a vida que teria tido, questionando-me se teria sido boa ou n?o. Era t?o doce dormir sobre o teu seio e perceber a partir do teu ventre o bom aroma das flores, e escutar pingar intensamente a chuva nos vidros, e ver as horas passar embora estavas sempre triste e as tuas ?nicas palavras falavam-me de morte. O que sabia da vida? Nada. Todavia a amava e n?o desejava que entrar ali, e medir-me como homem nas minhas ac??es diante a presen?a de Deus. Mas tu agrediste-me com os teus discursos: que mesmo uma galinha come os seus ovos, que todos os animais matam os filhos que n?o podem nutrir. Que o peixe grande come o peixe pequeno e que n?o h? espa?o para as ovelhas num mundo de lobos. Que uma crian?a ? crian?a s? quando ? nascido e que antes n?o existe nada. Nada? Mas ent?o eu o que era? Eu existia. E sabia da exist?ncia desde o primeiro instante, desde quando uma for?a indescrit?vel me arruinou da minha letargia, e dividiu a minha primeira c?lula, e ordenou ao meu cora??o “Palpita!” aquela mesma for?a que impede aos planetas de chocar-se, que imp?e ao mar de permanecer confinado no seu ber?o, no ver?o de fazer crescer o gr?o e dirige enfim o curso dos rios. Aquela for?a que separou a mundo do caos e for?ou todo o universo a nascer. M?e, acreditas realmente que seja o querer do homem a mover o criado? Eu sei pelo contr?rio que tudo o que existe neste mundo ? regido pelo Amor, e que s? no seu nome no c?u brilham as estrelas. Ent?o tu falaste para mim das guerras que devastam a mundo, de fome e das pestes, e de todos aqueles males pelos quais n?o h? mais rem?dio. Todavia, m?e, todo homem ? um sopro de ar puro, um ponto interrogativo nas inumer?veis probabilidades do criado. E aqueles pintainhos que a galinha devora n?o s?o germes da pr?xima vida que se reencarnar? um dia? E eu, se tivesse sido nascido, n?o poderia amar-te? Depois mais nada. A partir daquele dia n?o me dirigiste mais a palavra. Esperaste assustado o meu inevit?vel fim, uma palavra incompreens?vel para algo que nunca teve um come?o. No fim ouvi uns passos ? minha volta e vozes duras e amea?adoras que me advertiam do meu inelut?vel destino. Tu adormeceste no momento em que as m?os invis?veis me arrancavam do teu ventre e instrumentos afiados cortavam-me as carnes. Tentaste resistir mas no fim cedeste ?quela dor e me deixaste sair. Конец ознакомительного фрагмента. Текст предоставлен ООО «ЛитРес». Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=57160526&lfrom=688855901) на ЛитРес. 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