Íó âîò è òû øàãíóëà â ïóñòîòó,  "ðàçâåðçñòóþ" ïóãàþùóþ áåçäíó. Äûøàòü íåâìî÷ü è æèòü íåâìîãîòó. Èòîã æåñòîê - áîðîòüñÿ áåñïîëåçíî. Ïîñëåäíèé øàã, óäóøüå è èñïóã, Âíåçàïíûé øîê, æåëàíèå âåðíóòüñÿ. Íî âûáîð ñäåëàí - è çàìêíóëñÿ êðóã. Òâîé íîâûé ïóòü - çàñíóòü è íå ïðîñíóòüñÿ. Ëèöî Áîãèíè, ïîëóäåòñêèé âçãëÿ

Quase Perdida

Quase Perdida Blake Pierce A Au Pair #2 QUASE PERDIDA (A AU PAIR – LIVRO #2) ? o segundo livro na nova s?rie de thriller psicol?gico do autor best-sellers Blake Pierce. Quando um homem divorciado de f?rias no interior brit?nico coloca um an?ncio para uma au pair, Cassandra Vale, 23 anos, sem dinheiro e ainda desequilibrada com as ru?nas de seu ?ltimo posto na Fran?a, aceita o emprego sem hesitar. Rico, bonito e generoso, com dois filhos ador?veis, ela acredita que nada pode dar errado. Mas ser? que poderia? Tratada com o melhor que a Inglaterra tem a oferecer, e com a Fran?a fora de vista, Cassandra ousa acreditar que finalmente tem tempo de recuperar seu f?lego – at? que uma revela??o surpreendente a for?a a questionar as verdades sobre seu passado tumultuoso, seu patr?o e sua pr?pria sanidade. Um mist?rio fascinante com personagens complexos, camadas de segredos, reviravoltas dram?ticas e suspense de acelerar o cora??o, QUASE PERDIDA ? o livro #2 em uma s?rie de suspense psicol?gico que vai fazer voc? virar as p?ginas at? tarde da noite. O Livro #3 da s?rie – QUASE MORTA – est? dispon?vel em pr?-venda! Blake Pierce QUASE PERDIDA Q U A S E  P E R D I D A (A Au Pair – Livro Dois) B L A K E   P I E R C E Blake Pierce Blake Pierce ? o autor best-seller do USA TODAY da s?rie UM MIST?RIO DE RILEY PAIGE, que inclui 16 livros (e contando). Blake Pierce ? o autor da s?rie de mist?rio UM ENIGMA MACKENZIE WHITE, compreendendo 13 livros (e contando); da s?rie de mist?rio AVERY BLACK, compreendendo seis livros; da s?rie de mist?rio KERI LOCKE, com cinco livros; da s?rie de mist?rio OS PRIM?RDIOS DE RILEY PAIGE, que inclui cinco livros (e contando); da s?rie de mist?rio psicol?gico CHLOE FINE, compreendendo cinco livros (e contando); da s?rie de thriller psicol?gico A AU PAIR, que inclui dois livros (e contando); e da s?rie de mist?rio ZOE PRIME, com dois livros (e contando). Um leitor ?vido e f? de longa data dos g?neros de suspense e mist?rio, Blake adora ouvir seus leitores, ent?o visite www.blakepierceauthor.com (http://www.blakepierceauthor.com/) para saber mais e entrar em contato. Copyright © 2019 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Salvo disposi??o em contr?rio prevista na Lei de Direitos Autorais dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publica??o pode ser reproduzida, distribu?da ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recupera??o, sem a autoriza??o pr?via da autora. Este e-book ? licenciado apenas para seu prazer pessoal. Este e-book n?o pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se voc? gostaria de compartilhar este e-book com outra pessoa, favor comprar uma c?pia adicional para cada receptor. Se voc? est? lendo este livro e n?o pagou por ele, ou se este n?o foi comprado apenas para seu uso pessoal, ent?o, por favor, devolva-o e adquira sua pr?pria c?pia. Obrigado por respeitar o trabalho ?rduo desta autora. Esta ? uma obra de fic??o. Nomes, personagens, empresas, organiza??es, lugares, eventos e incidentes s?o produto da imagina??o da autora ou usados de forma fict?cia. Qualquer semelhan?a com pessoas reais, vivas ou mortas, ? mera coincid?ncia. Imagem da capa Copyright Suzanne Tucker, usada sob licen?a da Shutterstock.com LIVROS DE BLAKE PIERCE A AU PAIR QUASE AUSENTE (Livro #1) QUASE PERDIDA (Livro #2) QUASE MORTA (Livro #3) S?RIE UM THRILLER PSICOL?GICO DE JESSIE HUNT A ESPOSA PERFEITA (Livro #1) O PR?DIO PERFEITO (Livro #2) A CASA PERFEITA (Livro #3) O SORRISO PERFEITO (Livro #4) S?RIE UM MIST?RIO PSICOL?GICO DE CHLOE FINE A PR?XIMA PORTA (Livro #1) A MENTIRA MORA AO LADO (Livro #2) BECO SEM SA?DA (Livro #3) VIZINHO SILENCIOSO (Livro #4) VOLTANDO PRA CASA (Livro #5) S?RIE UM MIST?RIO DE KATE WISE SE ELA SOUBESSE (Livro #1) SE ELA VISSE (Livro #2) SE ELA CORRESSE (Livro #3) S?RIE OS PRIM?RDIOS DE RILEY PAIGE ALVOS A ABATER (Livro #1) ? ESPERA (Livro #2) A CORDA DO DIABO (Livro #3) AMEA?A NA ESTRADA (Livro #4) S?RIE UM MIST?RIO DE RILEY PAIGE SEM PISTAS (Livro #1) ACORRENTADAS (Livro #2) ARREBATADAS (Livro #3) ATRA?DAS (Livro #4) PERSEGUIDA (Livro #5) A CAR?CIA DA MORTE (Livro #6) COBI?ADAS (Livro #7) ESQUECIDAS (Livro #8) ABATIDOS (Livro #9) PERDIDAS (Livro #10) ENTERRADOS (Livro #11) DESPEDA?ADAS (Livro #12) SEM SA?DA (Livro #13) ADORMECIDO (Livro #14) S?RIE UM ENIGMA DE MACKENZIE WHITE ANTES QUE ELE MATE (Livro #1) ANTES QUE ELE VEJA (Livro #2) ANTES QUE ELE COBICE (Livro #3) ANTES QUE ELE LEVE (Livro #4) ANTES QUE ELE PRECISE (Livro #5) ANTES QUE ELE SINTA (Livro #6) ANTES QUE ELE PEQUE (Livro #7) ANTES QUE ELE CACE (Livro #8) S?RIE UM MIST?RIO DE AVERY BLACK RAZ?O PARA MATAR (Livro #1) RAZ?O PARA CORRER (Livro #2) RAZ?O PARA SE ESCONDER (Livro #3) RAZ?O PARA TEMER (Livro #4) RAZ?O PARA SALVAR (Livro #5) RAZ?O PARA SE APAVORAR (Livro #6) S?RIE UM MIST?RIO DE KERI LOCKE RASTRO DE MORTE (Livro #1) RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro #2) UM RASTRO DE IMORALIDADE (Livro #3) UM RASTRO DE CRIMINALIDADE (Livro #4) UM RASTRO DE ESPERAN?A (Livro #5) CAP?TULO UM Cassandra Vale estava na longa fila para a London Eye, que se movia lentamente. Ap?s meia hora de espera, estava perto o bastante para avistar a roda gigante pairando sobre ela, sua arcada de a?o curvando-se contra o c?u nublado. Mesmo neste dia escuro de Novembro, a vista a?rea de Londres era uma de suas atra??es principais. Ela estava sozinha, mesmo parecendo que todos os demais estivessem com amigos ou familiares. ? sua frente, havia uma jovem loira, ansiosa, aparentando ter vinte e poucos anos, mais ou menos a idade de Cassie. Ela estava encarregada de tr?s meninos rebeldes de cabelos escuros. Entediados com a espera, eles come?aram a gritar e brigar, empurrando uns aos outros para fora da fila. Causavam tanta perturba??o que as pessoas come?avam a reclamar. O homem idoso ? frente da jovem virou-se para olhar, furioso. – Ser? que voc? pode dizer aos seus garotos para ficarem quietos? – ele pediu ? loira em um tom de voz exasperado, com sotaque brit?nico de classe alta. – Eu sinto muito. Vou tentar – a jovem desculpou-se, parecendo ? beira das l?grimas. Cassie j? havia identificado a loira estressada como uma au pair. Assistindo ao confronto, remetia-se diretamente para onde estivera h? um m?s. Sabia exatamente como a jovem se sentia desamparada, presa em meio a crian?as incontrol?veis que come?avam a bagun?ar e observadores que come?avam a desaprovar e criticar. Isso s? poderia terminar mal. Fique feliz por n?o estar na situa??o dela, Cassie disse a si mesma. Voc? tem a chance de curtir sua liberdade e explorar esta cidade. O problema era que n?o se sentia livre. Sentia-se exposta e vulner?vel. Seu antigo empregador estava prestes a ser julgado por assassinato e ela era a ?nica pessoa que sabia de toda a verdade sobre o que havia acontecido. Para piorar, a esta altura, ele j? teria descoberto que ela havia destru?do parte da evid?ncia que ele esperava usar contra ela. Sentia n?useas com o medo de que ele estivesse lhe ca?ando. Quem poderia saber at? que ponto se estendia o alcance de um homem rico e desesperado? Em uma cidade com milh?es de pessoas, pensava que seria f?cil se esconder, mas os jornais franceses estavam por toda parte. As manchetes gritavam em sua dire??o de todas as esquinas. Estava ciente do monitoramento intensivo das c?meras, especialmente nas atra??es tur?sticas – e o centro de Londres era basicamente uma enorme atra??o tur?stica. Olhando adiante, Cassie viu um homem de cabelos escuros na plataforma aos p?s da roda gigante. Tinha sentido o olhar dele momentos antes e via que ele olhava em sua dire??o novamente. Tentou se tranquilizar de que provavelmente seria um seguran?a ou um policial ? paisana, mas isso n?o lhe dava nenhum conforto. Ela fazia o m?ximo poss?vel para evitar a pol?cia, ainda que estivessem ? paisana, fossem detetives particulares ou mesmo ex-policiais que tivessem assumido uma linha de trabalho mais lucrativa como capangas de aluguel. Cassie congelou ao ver o homem que a observava pegando o celular, ou talvez fosse um walkie-talkie, e falando nele com urg?ncia. No momento seguinte, ele desceu da plataforma e marchou propositadamente em dire??o a ela. Cassie decidiu que n?o precisava ter uma vis?o a?rea de Londres hoje. N?o importava que j? tivesse pagado pelo ingresso – estava de sa?da. Voltaria alguma outra hora. Virou-se para ir embora, pronta para abrir caminho entre as pessoas da fila o mais r?pido que pudesse, mas, para o seu horror, viu que mais dois policiais se aproximavam por tr?s. As adolescentes atr?s dela na fila tamb?m tinham decidido ir embora. Elas j? tinham dado as costas e empurravam, cortando a fila, em dire??o ? sa?da. Cassie seguiu, grata por estarem abrindo passagem para ela, mas p?nico surgiu dentro dela quando os policiais a seguiram. – Espere, senhora! Pare, agora! – o homem atr?s dela gritou. N?o viraria para tr?s. N?o faria isso. Ela gritaria, agarraria as outras pessoas da fila, implorando e suplicando, dizendo que pegaram a pessoa errada, que ela n?o sabia nada sobre o suposto assassino Pierre Dubois e nunca trabalhara para ele. O que fosse preciso para escapar, ela faria. Mas, quando ficou tensa com a expectativa da briga, o homem passou por ela, empurrando-a com os ombros e apanhando as duas adolescentes ? sua frente. As adolescentes come?aram a gritar e se debater, exatamente como ela planejara fazer. Outros dois policiais ? paisana convergiram, empurrando os espectadores para o lado para agarrar os bra?os das garotas enquanto um policial uniformizado abria as mochilas delas. Para o espanto de Cassie, ela assistiu quando o policial tirou tr?s celulares e duas carteiras da mochila cor-de-rosa neon da garota mais alta. – Batedoras de carteira. Verifiquem suas bolsas, senhoras e senhores. Por favor, informem se algum de seus pertences est? desaparecido – o policial disse. Cassie apalpou seu casaco, aliviada ao sentir seu celular guardado em seguran?a no bolso interno. Ent?o, olhou para sua bolsa e seu cora??o afundou ao ver seu z?per aberto. – Minha carteira sumiu – ela disse. – Algu?m a roubou. Sem f?lego de ansiedade, ela seguiu a pol?cia para fora da fila, dobrando a esquina at? o pequeno escrit?rio da seguran?a. As duas batedoras de carteira j? esperavam l?, ambas em l?grimas, enquanto a pol?cia desfazia suas mochilas. – Alguma destas ? sua, senhora? – o policial ? paisana perguntou, apontando para os celulares e carteiras sobre o balc?o. – N?o, nenhuma delas. Cassie sentiu vontade de explodir em l?grimas tamb?m. Assistiu enquanto um dos policiais revirou a mochila, esperando ver sua carteira de couro gasto cair, mas a bolsa estava vazia. O policial sacudiu a cabe?a, irritado. – Elas passam os itens at? o fim da fila, tirando-os de vista muito r?pido. Voc? estava na frente das ladras, ent?o a sua provavelmente foi levada h? um tempo. Cassie virou-se e encarou as ladras. Esperava que tudo o que sentia e pensava delas estivesse exibido em seu rosto. Se o policial n?o estivesse parado l?, ela teria as praguejado, perguntado que direito elas tinham de arruinar sua vida. Elas n?o estavam passando fome; Cassie podia ver os sapatos novos e as jaquetas de marca. Deviam estar fazendo isso pela adrenalina barata, ou para comprar ?lcool ou drogas. – Pe?o perd?o, senhora – o policial continuou. – Se n?o se importar em aguardar alguns minutos, precisamos que voc? fa?a uma declara??o. Uma declara??o. Cassie sabia que isso n?o funcionaria para ela. N?o queria estar no foco de aten??o da pol?cia de forma alguma. N?o queria dar a eles seu endere?o, ou dizer quem era, ou que anotassem suas informa??es em algum relat?rio oficial aqui no Reino Unido. – Vou dizer a minha irm? que estou aqui – ela mentiu para o policial. – Sem problemas. Ele deu as costas, falando em seu walkie-talkie, e Cassie saiu depressa do escrit?rio. A carteira dela tinha virado hist?ria, j? era. N?o havia como recuper?-la, ainda que escrevessem centenas de relat?rios policiais. Ent?o, decidiu fazer a segunda melhor coisa, que era se afastar da London Eye e nunca mais voltar. Que desastre fora este passeio. Havia sacado bastante dinheiro naquela manh? e seus cart?es do banco tamb?m haviam sumido. N?o poderia ir ao banco para sacar dinheiro porque sua identidade n?o estava com ela – seu passaporte estava em suas acomoda??es e n?o havia tempo para busc?-lo, porque planejava ir direto da London Eye encontrar sua amiga Jess para o almo?o. Meia hora depois, sentindo-se abalada pelo crime, chocada pela quantia de dinheiro que havia perdido e completamente irritada com Londres, Cassie entrou no pub onde elas se encontrariam. Antecipando o movimento da hora do almo?o, pediu ? gar?onete para reservar uma mesa de canto enquanto ia ao banheiro. Encarando-se no espelho, alisou as ondas de seus cabelos loiro-avermelhados, fazendo uma tentativa de sorriso animado. A express?o parecia desconhecida. Tinha certeza de que havia perdido peso desde que encontrara Jess pela ?ltima vez e pensou, de forma cr?tica, que parecia p?lida demais, estressada demais – e isso n?o se devia somente ao trauma pelo qual passara hoje, mais cedo. Saindo do banheiro, chegou bem a tempo de ver Jess entrar no pub. Jess vestia o mesmo casaco que usara quando elas se conheceram, mais de um m?s atr?s, ambas a caminho de seus trabalhos como au pair na Fran?a. V?-la trouxe mem?rias que a inundaram. Cassie lembrou-se de como se sentira ao embarcar no avi?o. Assustada, incerta, cheia de receios quanto ? fam?lia que lhe fora atribu?da. Estes se provaram ter fundamentos. Em contraste, Jess havia sido empregada por uma fam?lia am?vel e amig?vel e Cassie achou que ela parecia estar muito feliz. – ? bom te ver – Jess disse, abra?ando Cassie apertado. – Que divertido. – ? muito empolgante. Mas estou com uma crise nas m?os – Cassie confessou. Explicou sobre as batedoras de carteiras de antes. – N?o! Isso ? horr?vel! Que azar terem encontrado as outras carteiras, mas n?o a sua. – Voc? pode me emprestar um dinheiro para o almo?o e para o ?nibus de volta at? a hospedagem? N?o consigo nem sacar dinheiro no banco sem meu passaporte. Vou transferir para voc? assim que eu entrar na internet. – ? claro. N?o ? um empr?stimo, ? um presente. A fam?lia para a qual trabalho veio a Londres para um casamento, e hoje todos est?o em Winchester com a m?e da noiva, ent?o me deram dinheiro para curtir Londres o dia todo. Depois daqui, vou para a Harrods. Jess jogou os cabelos loiros para tr?s, rindo enquanto dividia o dinheiro com Cassie. – Ei, que tal tirarmos uma selfie? – ela sugeriu, mas Cassie recusou. – Estou totalmente sem maquiagem – explicou, e Jess riu, guardando o celular. A falta de maquiagem n?o era a real raz?o, ? claro; estava tentando ao m?ximo passar despercebida. A primeira coisa que fizera ap?s chegar a Londres havia sido alterar as configura??es de suas m?dias sociais, tornando-as totalmente privadas. Amigos bem-intencionados poderiam falar alguma coisa que pudesse ser rastreada. N?o queria que ningu?m soubesse onde ela estava. Nem seu ex-namorado nos Estados Unidos, e certamente nem seu antigo empregador e a equipe jur?dica dele na Fran?a. Acreditara que se sentiria segura uma vez que tivesse sa?do da Fran?a, mas n?o tinha se dado conta de que a Europa era t?o acess?vel e interconectada como um todo. Voltar diretamente para os Estados Unidos teria sido uma escolha mais sensata. – Sua apar?ncia est? incr?vel. Voc? emagreceu? – Jess perguntou. – E as coisas v?o bem com a fam?lia que te empregou? Voc? disse que estava preocupada com eles. – N?o deu certo, ent?o n?o estou mais com eles – ela disse, cuidadosamente passando por cima dos detalhes s?rdidos nos quais n?o suportava pensar. – Ah, minha nossa. O que deu errado? – As crian?as se mudaram para o sul da Fran?a e a fam?lia n?o precisava mais de uma au pair. Cassie simplificou da melhor forma poss?vel, torcendo para que uma explica??o sem gra?a prevenisse mais perguntas, porque n?o queria ter que mentir para sua amiga. – Acontece, eu acho. Poderia ter sido pior. Voc? poderia ter trabalhado para a aquela fam?lia de que todos est?o falando, a que o marido est? sendo julgado por assassinar a noiva. Cassie baixou o olhar depressa, preocupada que sua express?o a denunciasse. Felizmente, foram distra?das com a chegada do vinho e, depois de pedirem a comida, Jess abandonou a fofoca suculenta. – O que vai fazer agora? – ela perguntou a Cassie. Cassie sentiu-se envergonhada com a pergunta, porque n?o tinha uma resposta coerente. Gostaria de poder dizer a Jess que tinha um plano e n?o estava vivendo um dia ap?s o outro, sabendo que deveria aproveitar ao m?ximo seu per?odo na Europa, mas sentindo crescente incerteza sobre sua situa??o aqui. – N?o tenho certeza. Estava pensando em voltar para os Estados Unidos, encontrar trabalho em algum lugar mais quente. Na Fl?rida, talvez. ? caro ficar aqui. Jess assentiu, compreensiva. – Comprei um carro quando cheguei. Uma pessoa na pousada estava vendendo. Isso custou a maior parte do meu dinheiro. – Ent?o voc? tem um carro? – Jess perguntou. – Que demais! – Tem sido maravilhoso. J? dirigi v?rias vezes para fora da cidade, mas o carro, com a gasolina e tudo mais, e at? mesmo os custos do dia-a-dia, est? custando mais do que eu esperava. Sangrar dinheiro sem qualquer perspectiva de gerar renda estava a estressando, fazendo com que se lembrasse das batalhas que enfrentara quando era mais jovem. Havia sa?do de casa aos dezesseis anos para escapar de seu pai violento e abusivo e, desde ent?o, havia tomado conta de si mesma. N?o tivera qualquer seguran?a, poupan?a ou fam?lia a quem recorrer, pois sua m?e estava morta e sua irm? mais velha, Jacqui, fugira de casa alguns anos antes, sem nunca mais entrar em contato. Morar sozinha havia sido quest?o de sobreviv?ncia para Cassie, m?s ap?s m?s. Algumas vezes, s? conseguira por um triz. Quem se importa em comer pasta de amendoim no fim do m?s; esta havia sido sua dieta padr?o quando as coisas apertavam e ela havia adquirido o h?bito de trabalhar em restaurantes e bares, parcialmente porque estes empregos vinham com uma refei??o gratuita para os empregados. Agora, come?ava a entrar em p?nico por estar vivendo de um p?-de-meia minguante que era tudo o que tinha no mundo e, gra?as ao dinheiro roubado hoje, este p?-de-meia estava ainda menor. – Voc? poderia procurar um emprego tempor?rio para se manter – Jess aconselhou, como se lesse sua mente. – J? procurei. Fui a alguns restaurantes, at? mesmo alguns bares e pubs, mas fui recusada de imediato. Todo mundo aqui ? rigoroso com a documenta??o correta e tudo o que eu tenho ? um visto de turista. – Trabalho em restaurante? Por que n?o como au pair? – Jess perguntou, com curiosidade. – N?o – Cassie atirou de volta, antes de se lembrar de que Jess n?o sabia nada sobre as circunst?ncias de seu emprego anterior. Ela continuou. – Se n?o posso trabalhar, ent?o n?o posso. N?o ter o visto ? n?o ter o visto, e ser au pair ? um compromisso de longo prazo. – N?o necessariamente – Jess rebateu. – N?o precisa ser assim. E eu tenho experi?ncia pessoal em fazer isso sem ter visto. – Voc? tem? Cassie sabia que sua cabe?a estava feita. N?o seria au pair novamente. Ainda assim, o que Jess dizia soava interessante. – Veja, todos os restaurantes e pubs s?o fiscalizados regularmente. N?o podem contratar sem o visto correto de jeito nenhum. Mas trabalhar para uma fam?lia ? diferente. ? uma ?rea cinza. Afinal de contas, voc? poderia ser amiga da fam?lia. Quem vai dizer que voc? est?, na realidade, trabalhando? Fiquei com uma amiga em Devon por um tempo no ano passado, e acabei trabalhando como bab? e cuidadora tempor?ria para alguns vizinhos e pessoas da ?rea. – Bom saber – Cassie disse, mas n?o tinha inten??o alguma de explorar mais aquela op??o. Conversar com Jess estava cimentando sua decis?o de voltar aos Estados Unidos. Se vendesse o carro, teria dinheiro o suficiente para se sustentar l? at? que se estabilizasse. Por outro lado, havia esperado passar muito mais tempo viajando. Tinha ansiado por passar um ano inteiro no exterior, esperando que isso lhe desse o tempo que precisava para seguir em frente, superar seu passado. Esta era sua chance de um novo come?o na vida, de voltar como uma nova pessoa. Voltar para casa t?o cedo ap?s partir pareceria como se tivesse desistido. N?o se importava com as outras pessoas pensando que ela n?o tivesse tentado – pessoalmente, era ela quem acreditaria que havia fracassado. O gar?om chegou, trazendo um prato com uma pilha de nachos. Faminta por ter pulado o caf?-da-manh?, Cassie atacou a comida. Mas Jess fez uma pausa, franzindo o cenho, e tirou o celular da bolsa. – Por falar em trabalhos de meio-per?odo como au pair, algu?m para quem trabalhei me ligou ontem para saber se eu poderia ajud?-lo outra vez. – S?rio? – Cassie perguntou, mas sua aten??o estava focada na comida. – Ryan Ellis. Trabalhei para ele ano passado. Os pais da esposa dele estavam de mudan?a e precisavam de algu?m para cuidar das crian?as enquanto estavam fora. Eram pessoas ador?veis e as crian?as tamb?m n?o eram nada mal – eles t?m um menino e uma menina. Fizemos v?rias coisas divertidas. Eles moram em um lindo vilarejo ? beira-mar. – Qual ? o trabalho? – Ele est? procurando algu?m para morar com ele por tr?s semanas, com urg?ncia. Cassie, isso pode ser exatamente o que voc? precisa. Ele pagava muito bem, em dinheiro, e n?o se importava com o visto. Disse que, se eu tinha sido aceita por uma ag?ncia de au pair, claramente eu era uma pessoa confi?vel. Por que n?o ligar para ele para saber mais? Cassie ficou tentada pela perspectiva de dinheiro no bolso. Mas outro trabalho como au pair? N?o se sentia pronta. Talvez nunca estivesse. – N?o tenho certeza se ? para mim. Jess, contudo, parecia determinada a resolver o futuro de Cassie por ela. Digitou em seu celular. – Deixe-me enviar o n?mero dele para voc? mesmo assim. Vou enviar uma mensagem para ele agora, dizendo que talvez voc? entre em contato e que eu te recomendo muito. Nunca se sabe, mesmo que voc? n?o trabalhe para ele, ele pode conhecer algu?m que precisa de uma pessoa para cuidar da casa. Ou caminhar com os cachorros. Ou algo assim. Cassie n?o podia argumentar com esta l?gica e, no instante seguinte, seu celular vibrou com a mensagem de Jess chegando. – Como vai o seu trabalho? – ela perguntou, uma vez que Jess terminou de trocar mensagens. – N?o poderia estar melhor – Jess amontoou guacamole em uma tortilha. – A fam?lia ? um amor. S?o muito generosos com as folgas e me d?o b?nus. As crian?as podem ser desobedientes, mas nunca s?o maldosas e eu acho que gostam de mim tamb?m. Ela baixou a voz. – Semana passada, com todos chegando para o casamento, fui apresentada para um dos primos. Ele tem 28 anos, ? lindo e tem uma empresa de TI. Acho que ele gosta de mim, e digamos simplesmente que ? divertido flertar outra vez. Mesmo estando feliz por sua amiga, Cassie n?o p?de evitar sentir uma pontada de inveja. Este emprego dos sonhos era o que ela secretamente havia esperado. Por que tudo tinha dado errado para ela? Era azar ou, de alguma forma, teria sido por causa das decis?es que ela tomara? De repente, Cassie lembrou-se do que Jess dissera no avi?o para a Fran?a. Contara a Cassie que sua primeira atribui??o n?o tinha dado certo, ent?o ela tinha largado tudo e tentado de novo. Jess s? tivera sorte na segunda tentativa, o que fez Cassie se perguntar se estava desistindo cedo demais. Quando terminaram os nachos, Jess olhou para o rel?gio. – ? melhor eu correr. A Harrods est? esperando – ela disse. – Vou ter que comprar presentes para todos de casa, para as crian?as e para o maravilhoso Jacques. O que eu deveria comprar para ele? O que dar de presente para algu?m com quem voc? est? flertando? Pode levar um tempo para decidir. Cassie abra?ou Jess, despedindo-se com tristeza pelo almo?o ter acabado. A conversa amig?vel fora uma distra??o bem-vinda. Jess parecia t?o feliz e Cassie via o porqu?. Ela era necess?ria e valorizada, estava ganhando dinheiro, tinha um prop?sito de vida e seguran?a. Jess n?o estava vagando sozinha, solit?ria e sem trabalho, cheia de paranoias de que estaria sendo ca?ada porque um julgamento por assassinato estava come?ando. Algumas semanas em um vilarejo remoto poderia ser exatamente o que ela precisava agora, de muitas formas. E Jess estava certa. A liga??o poderia levar a outras oportunidades. Nunca as encontraria se n?o continuasse tentando. Cassie saiu do pub lotado para encontrar um canto silencioso, olhando ao redor para o caso de algum batedor de carteira ou de celular estar passando. Respirou profundamente e, antes que pudesse pensar afundo e perder a coragem, discou o n?mero. CAP?TULO DOIS Segurando o celular com for?a, Cassie aproximou-se da parede para se abrigar do chuvisco. Agora que telefonara para Ryan Ellis, sentia-se mais e mais nervosa. Precisava ganhar dinheiro de alguma forma se quisesse permanecer no Reino Unido por mais tempo, mas, depois do que havia passado na Fran?a, ser au pair seria a decis?o certa? Mesmo que o trabalho parecesse ideal, ele estaria preparado para aceit?-la com t?o pouca experi?ncia e sem reais qualifica??es? Cassie imaginou-se reunindo a coragem para pedir o emprego, apenas para receber um “N?o” vergonhoso como resposta. A liga??o chamou por tanto tempo que ela temia que fosse para a caixa postal. No ?ltimo instante poss?vel, um homem atendeu. – Ryan falando – ele disse. Ele soava ofegante, como se tivesse corrido at? o telefone. – Ol?, ? Ryan Ellis? – Cassie perguntou. Ela encolheu-se com a obviedade de sua pergunta, mas, como nem sequer o conhecia, pareceu errado dizer “Oi, Ryan”. – Sim, sou eu. Quem est? ligando, por favor? – ele n?o soava irritado, mas bem curioso. – Meu nome ? Cassie Vale, peguei seu n?mero com a minha amiga Jess, que trabalhou para voc? ano passado. Ela mencionou que est? procurando algu?m para ajudar com as crian?as por um tempo. – Jess, Jess, Jess – Ryan repetiu, como se tentasse localizar o nome, e ent?o – Ah, sim, Jess, dos Estados Unidos! Vejo que ela acaba de me mandar uma mensagem. Que mo?a ador?vel. Ela recomendou voc?? ? por isso que est? ligando? N?o li a mensagem ainda. Cassie hesitou. Ela diria sim? Faz?-lo seria se comprometer, e ela n?o tinha certeza se queria dar aquele passo ainda. – Eu gostaria de saber mais sobre o trabalho – ela disse. – Fui au pair na Fran?a, mas minha atribui??o acabou. Estive pensando em fazer algo no curto prazo, mas n?o tenho certeza a esta altura. Fez-se um breve sil?ncio. – Permita-me te inteirar. Estou desesperado no momento. Acabei de passar por um div?rcio, que me deixou bem abalado. As crian?as nem mesmo falam sobre o que aconteceu, precisam de algu?m para anim?-los e se divertir com eles. E, para completar, eu tenho um enorme projeto de trabalho com um prazo que est? tomando todo o meu tempo. Cassie ficou chocada com as palavras de Ryan. N?o esperava que ele estivesse em uma situa??o t?o grave. N?o era de se admirar que estivesse desesperado pela ajuda de algu?m. O div?rcio devia ter sido traum?tico se havia afetado as crian?as daquela forma. Ela imaginou que, se Ryan estava cuidando delas, a esposa devia t?-lo abandonado, provavelmente por outra pessoa. Ela n?o fazia ideia de qual seria a resposta certa. – Isso parece estressante – ela disse eventualmente para preencher o curto sil?ncio. – Estive conversando por a?, porque n?o tive a oportunidade de colocar o an?ncio do emprego, e estou t?o atrapalhado que n?o acho que seria particularmente bom em selecionar algu?m novo. Todos que trabalharam para mim antes est?o indispon?veis. N?o me importo em te dizer isso, estou desesperado por ajuda. Estou disposto a pagar o triplo do sal?rio do mercado e o trabalho ser? de, no m?ximo, tr?s semanas. – Bem… – Cassie come?ou. Ela n?o conseguiu se for?ar a dizer n?o. Seria insens?vel, j? que este homem estava em circunst?ncias t?o terr?veis. Sentia pena por ele e achava que seria ego?smo recusar o trabalho de pronto. Eles claramente estavam desesperados por ajuda e o bom pagamento, combinado com o prazo curto, era tentador. – Por que n?o vem nos conhecer? – Ryan sugeriu. – Voc? tem carro? Se n?o, posso te buscar na esta??o. Pagarei pelo seu bilhete, ? claro. – Tenho carro – Cassie disse. – Isso facilita muito, deve levar cerca de cinco horas, se o tr?fego cooperar. Vou te enviar o endere?o agora, e reembolsar sua viagem caso n?o goste de n?s. – Tudo bem. Parto amanh? de manh?. Devo estar a? por volta da hora do almo?o – Cassie disse. Ela desligou, aliviada por ter uma chance de passar um tempo com a fam?lia antes de tomar sua decis?o. Se gostasse deles, poderia ter uma oportunidade de realmente fazer a diferen?a em suas vidas, oferecendo ajuda e apoio durante um per?odo dif?cil. Quando Ryan lhe contara que era rec?m-divorciado, ela n?o esperava sentia tanta empatia por ele. Crescendo em um lar recheado de conflitos e tendo perdido sua m?e t?o nova, ela entendia o que aquilo significava. Essa era uma situa??o em que sabia que poderia ser valiosa para a fam?lia. Ao fugir de casa desesperada e amedrontada aos dezesseis anos, ela estivera determinada em seguir os passos de sua irm? e se afastar dos abusos de seu pai para sempre. Mas, ap?s escapar de sua domin?ncia furiosa, ela havia acabado em um relacionamento nocivo com seu namorado t?xico, Zane. Ent?o, viajar para a Fran?a para escapar de Zane havia lhe aterrissado no pior pesadelo de todos. Fora da cidade, em um vilarejo costeiro remoto, ela estaria escondida em seguran?a e seria capaz de vivenciar um ambiente familiar onde se sentiria necess?ria, o que era uma das principais raz?es pelas quais desejara ser uma au pair em primeiro lugar. Cassie esperava poder usar este tempo para se curar. CAP?TULO TR?S A viagem at? a casa de Ryan Ellis levou mais tempo do que Cassie havia esperado. Parecia imposs?vel evitar o tr?fego pesado entupindo as rodovias na dire??o sul, e houvera duas se??es com obras na estrada onde ela teve que fazer um longo desvio. O tempo adicional na estrada implicou que ela quase ficasse sem gasolina. Teve que usar o restante do dinheiro que Jess havia lhe emprestado para completar o tanque. Preocupada que Ryan pensasse que ela havia mudado de ideia, enviou uma mensagem a ele, se desculpando e dizendo que se atrasaria. Ele respondeu imediatamente, dizendo: “Sem problemas, venha com calma, dirija com cuidado”. Uma vez fora da rodovia, na ?rea rural, as paisagens eram id?licas. Ela esticou o pesco?o, olhando por cima das cercas-vivas bem aparadas para a vista em declive dos campos em retalhos de todos os tons, desde o verde-escuro at? o marrom-dourado, com casas de campo pitorescas e rios sinuosos. A paisagem ordenada dava-lhe uma sensa??o de paz e, apesar de saber que as nuvens se aglomerando significassem chuva ? tarde, ela torcia para chegar ao seu destino antes que ela ca?sse. Mais de seis horas ap?s sair de Londres, ela chegou ao inusitado vilarejo ? beira-mar. Mesmo na luz opaca, o vilarejo era encantador. O carro chacoalhou sobre as ruas de paralelep?pedos, onde brechas entre as fileiras de casas davam-lhe vislumbres do pitoresco porto adiante. Ryan havia lhe instru?do a dirigir atravessando o vilarejo e, depois, ao longo da estrada que beirava o penhasco. A casa ficava a alguns quil?metros adiante, com vista para o mar. Parando do lado de fora do port?o aberto, Cassie ficou encarando, maravilhada, pois a casa era quase perfeita demais para ser verdade. Parecia um lugar onde ela sempre sonhara em morar. Uma casa simples, por?m deslumbrante, com linhas inclinadas e detalhes emadeirados que se misturavam harmoniosamente com os arredores, lembrando-a de um navio atracado no porto – s? que esta constru??o se aninhava em um penhasco, com uma vista incr?vel do oceano adiante. O quintal bem-cuidado abrigava um balan?o e uma gangorra. Ambos estavam levemente enferrujados e Cassie sup?s que o estado dos equipamentos oferecesse uma pista sobre a idade das crian?as. Cassie olhou para o espelho do carro e ajeitou o cabelo – as ondas estavam macias e brilhantes, gra?as a seus esfor?os naquela manh?, e seu batom coral estava imaculado. Estacionou na entrada da garagem pavimentada e caminhou at? a casa por uma trilha ladeada por canteiros de flores. Mesmo nessa ?poca do ano, os canteiros estavam iluminados por flores amarelas e ela reconheceu a madressilva plantada adiante, florescendo. No ver?o, imaginou que elas se tornariam uma explos?o de cor. A porta de entrada abriu antes que pudesse alcan??-la. – Boa tarde, Cassie. Prazer em conhec?-la. Sou Ryan. O homem que a cumprimentou era bem mais alto do que ela, com um corpo em boa forma e surpreendentemente jovem, com cabelos marrom-claros despenteados e olhos azuis penetrantes. Ele sorria, parecendo genuinamente feliz em v?-la, e vestia uma camiseta desbotada do Eminem e cal?as jeans gastas. Ela notou um pano de prato enganchado no c?s da cal?a dele. – Ol?, Ryan. Ela apertou a m?o estendida. O toque dele era firme e caloroso. – Voc? me pegou no meio da limpeza da cozinha, me preparando para a sua chegada. A chaleira ferveu; voc? bebe ch?? ? um h?bito ingl?s, eu sei, mas tamb?m tenho caf?, se preferir. – Eu adoraria um ch? – Cassie disse, tranquilizada pela recep??o despretensiosa. Conforme ele fechava a porta de entrada e os conduzia at? a cozinha, ela pensou consigo mesma que Ryan Ellis era muito diferente do que ela havia esperado. Ele era mais amig?vel do que ela pensava e ela adorava que ele se dispusesse a limpar a cozinha. Cassie lembrou-se de sua chegada em seu ?ltimo posto como au pair. Assim que entrara no castelo franc?s, pressentira a atmosfera desagrad?vel, carregada de conflito. Nesta casa, n?o sentia nada daquilo. Caminhando sobre os assoalhos de madeira polida, ela ficou impressionada com a aparente organiza??o. Havia at? mesmo flores rec?m-colhidas na mesa do hall. – Enfeitamos o lugar para voc? – disse Ryan, como se lesse sua mente. – N?o ficava t?o bonito h? meses. ? sua direita, Cassie viu uma sala de estar com enormes portas de correr que davam para uma varanda. Com m?veis de couro de apar?ncia confort?vel e quadros de navios nas paredes, o c?modo parecia acolhedor e de bom gosto. N?o podia evitar compar?-lo ? decora??o ostentosa do castelo onde trabalhara anteriormente. Parecia que uma fam?lia de verdade vivia neste lar. A cozinha estava limpa e organizada e Cassie notou a qualidade de eletrodom?sticos. A chaleira, a torradeira e o processador de alimentos eram das melhores marcas. Reconheceu as marcas de um artigo que lera na revista de bordo, lembrando-se de ter se espantado com o pre?o. – J? almo?ou? – Ryan perguntou ap?s servir o ch?. – N?o, mas tudo bem… Ignorando seus protestos, ele abriu a geladeira e tirou um prato cheio de frutas, bolinhos e sandu?ches. – Aos finais de semana, gosto de ter um estoque de lanches ? disposi??o. Gostaria de poder dizer que isso ? especialmente para voc?, mas ? padr?o para as crian?as. Dylan tem doze anos e est? come?ando a comer como um adolescente; Madison tem nove anos e pratica muitos esportes. Prefiro que eles devorem isso a porcarias ou doces. – Onde est?o as crian?as? – Cassie perguntou, sentindo outra pontada de nervos ao pensar em conhec?-las. Com um pai t?o divertido e aut?ntico, provavelmente seriam exatamente como Jess descrevera, mas precisava ter certeza. – Eles desceram a estrada de bicicleta depois do almo?o para visitar um amigo. Eu disse para aproveitarem ao m?ximo a tarde, antes que o clima mudasse. Devem estar de volta a qualquer minuto. Caso contr?rio, talvez eu tenha que busc?-los na Land Rover. Pela janela, Ryan olhou de relance para o c?u que escurecia. – De todo modo, como te expliquei, estou desesperado por ajuda, por um tempo. Sou um pai solteiro agora, as crian?as precisam do m?ximo de distra??o poss?vel e o meu prazo de trabalho ? inquebr?vel. – O que voc? faz? – Cassie perguntou. – Sou dono de uma frota de barcos de pesca e lazer que operam no porto da cidade. Esta ? a ?poca do ano em que os barcos passam por manuten??o e estou com uma equipe de reparos no local nesse momento. Eles est?o infernalmente ocupados e as primeiras tempestades da esta??o est?o quase chegando. ? por isso que o tempo est? t?o apertado; e minhas atuais circunst?ncias n?o est?o ajudando. – Deve ser terr?vel ter passado por um div?rcio, especialmente agora. – Tem sido um per?odo dif?cil. Conforme Ryan deu as costas para a janela, com a mudan?a de luz, Cassie percebeu que ele n?o era s? atraente, mas excepcionalmente bonito. Seu rosto era forte e esculpido e, a julgar pelos m?sculos definidos de seus bra?os, pensou que ele aparentava estar em extrema boa forma. Cassie repreendeu-se por cobi?ar com os olhos este pobre homem, algu?m que atravessava um inferno emocional. Mesmo assim, tinha que admitir, ele possu?a uma beleza atraente, tanto que ela precisou impedir a si mesma de encar?-lo. – Ryan, o ?nico problema ? que eu n?o tenho um visto de trabalho v?lido neste momento. Tenho um visto para a Fran?a, e fui totalmente liberada pela ag?ncia de au pair, mas n?o tinha me dado conta de que as coisas funcionavam de outro jeito aqui. – Voc? foi indicada por uma amiga – Ryan disse, sorrindo. – Isso significa que voc? pode ficar conosco como h?spede. Pagarei em dinheiro, completamente fora dos registros, ent?o voc? receber? livre de impostos, se estiver bom para voc?. Cassie sentiu uma onda de al?vio. Ryan compreendia a situa??o dela e estava disposto a acomod?-la sem problemas. Isso era um enorme peso tirado de seus ombros. Ela percebeu que poderia at? mesmo ser o fator decisivo, precisando se refrear de aceitar o emprego de imediato. Relembrou-se de ser cuidadosa e esperar at? ter conhecido as crian?as antes de se comprometer. – Por quanto tempo precisaria de mim? – No m?ximo, tr?s semanas. Isso me dar? tempo para completar o projeto, e estaremos entrando em f?rias escolares, ent?o teremos a chance de nos conectarmos enquanto fam?lia. Reconectarmos, devo dizer, como uma nova fam?lia. Dizem que o div?rcio ? a experi?ncia de vida mais estressante, e acho que eu e as crian?as podemos confirmar isso. Cassie assentiu, com empatia. Tinha certeza de que os filhos dele deviam ter sofrido. Perguntou-se o quanto Ryan e sua esposa teriam brigado. Inevitavelmente, teria havido brigas. Dependia apenas se essas brigas teriam terminado em gritos e recrimina??es, ou em um sil?ncio tenso e fumegante. Em sua experi?ncia com ambos quando crian?a, n?o tinha certeza de qual era pior. Enquanto a m?e de Cassie estava viva, ela tinha dado um jeito de manter a pior parte do temperamento de seu pai abafado. Cassie lembrava-se dos sil?ncios cheios de tens?o de quando era mais nova, o que lhe permitira desenvolver um afinado sensor de conflitos. Podia entrar em um ambiente e perceber instantaneamente se as pessoas tinham brigado. Os sil?ncios eram t?xicos e causavam desgaste emocional porque nunca havia um fim para eles. Se havia algo a ser dito em favor de brigas barulhentas era que elas eventualmente terminavam, ainda que fosse com vidro quebrado ou uma liga??o para a emerg?ncia. Por?m, isto causava outros traumas e cicatrizes duradouras. Tamb?m trazia uma sensa??o de medo, porque gritos e viol?ncia f?sica mostravam que uma pessoa era capaz de perder o controle de si mesma e, portanto, n?o era confi?vel. Em suma, este fora seu pai ap?s a morte de sua m?e. Cassie olhou ao redor da cozinha alegre e arrumada, tentando imaginar o que poderia ter acontecido aqui entre Ryan e sua esposa. As piores brigas, em sua experi?ncia, aconteciam na cozinha e no quarto. – Sinto muito por voc? ter tido que passar por isso – ela disse, suavemente. Ryan observava-lhe atentamente e ela devolveu o olhar, encarando os penetrantes e p?lidos olhos azuis. – Cassie, voc? parece compreender – ele disse. Ela pensou que ele perguntaria algo mais, mas, naquele momento, a porta de entrada se abriu. – As crian?as chegaram, bem na hora – ele soava aliviado. Cassie olhou pela janela. Gotas de chuva respingavam no vidro e, assim que a porta bateu, um aguaceiro frio de inverno come?ou a desabar. – Oi, pai! Passos bateram no assoalho de madeira e uma jovem garota magricela, vestindo bermudas de ciclismo e um agasalho verde, entrou correndo na cozinha. Ela parou ao ver Cassie, examinando-a de cima a baixo, depois caminhou at? ela para apertar sua m?o. – Ol?. Voc? ? a mo?a que vai cuidar de n?s? – Meu nome ? Cassie. Voc? ? Madison? – Cassie perguntou. Madison assentiu e Ryan bagun?ou os cabelos castanhos brilhantes de sua filha. – Cassie ainda est? decidindo se quer trabalhar para n?s. O que voc? acha? Promete se comportar da melhor forma poss?vel? Madison deu de ombros. – Voc? sempre nos diz para n?o prometer o que n?o podemos cumprir. Mas vou tentar. Ryan riu e Cassie viu-se sorrindo com a honestidade atrevida da resposta de Madison. – Onde o Dylan est?? – Ryan perguntou. – Est? na garagem, colocando ?leo na bicicleta. Estava rangendo na subida, depois a corrente caiu – Madison respirou fundo e andou at? a porta da cozinha. – Dylan! – gritou. – Venha aqui! Cassie ouviu um distante “Estou indo!”. – Ele demora uma eternidade – Madison disse. – Quando come?a a mexer nas bicicletas, ele n?o para. Notando o prato de lanches, ela tra?ou uma linha reta na dire??o dele, seus olhos se iluminando. Em seguida, olhando para o conte?do, deu um suspiro exasperado. – Pai, voc? fez p?o com ovo. – Tem algum problema? – Ryan perguntou, sobrancelhas levantadas. – Voc? sabe minha opini?o sobre ovos. ? tipo um sandu?che de v?mito. Ela selecionou cuidadosamente um bolinho na parte oposta do prato. – Sandu?che de v?mito? – a voz de Ryan combinava indigna??o e divers?o. – Maddie, n?o deve dizer esse tipo de coisa na frente de uma visita. – Cuidado, Cassie, essa gosma de ovo gruda em tudo – Madison alertou, mostrando sua cara sem arrependimento ao pai. Repentinamente, Cassie sentiu um estranho senso de pertencimento. Esses gracejos eram exatamente o que ela havia esperado. At? agora, esta parecia ser uma fam?lia normal e feliz, provocando um ao outro, cuidando uns dos outros, ainda que ela tivesse certeza de que cada um deles tivesse as pr?prias manias e dificuldades. Ela se deu conta do quanto tinha estado tensa, antecipando que algo desse errado. Cassie ainda n?o tinha comido nada porque tinha estado constrangida em comer na frente de Ryan. Agora, percebendo como estava com fome, decidiu que era melhor comer algo antes que seu est?mago a envergonhasse com um ronco aud?vel. – Vou ser corajosa e experimentar um sandu?che – ela se voluntariou. – Obrigado. Sinto al?vio por algu?m apreciar meu talento culin?rio maravilhoso – Ryan disse. – Maravilh-ovo – Madison adicionou, fazendo Cassie rir. Virando-se para Cassie, ela disse – Papai prepara toda a comida. Ele s? detesta limpar. – Detesto mesmo – Ryan disse. Madison respirou fundo outra vez e voltou-se para a porta da cozinha. – Dylan! – ela berrou. Em seguida, adicionou em sua voz normal. – Ah, a? est? voc?. Um garoto alto e esguio entrou. Ele tinha os mesmos cabelos castanhos brilhantes da irm? e Cassie imaginou se ele teria acabado de ter um surto de crescimento, porque, olhando para ele, via s? pernas, bra?os e tend?es. – Oi, prazer em conhec?-la – ele disse a Cassie, um tanto quanto distra?do. Em seu rosto de menino, ela podia ver alguma similaridade com Ryan. Eles partilhavam do mesmo maxilar forte e ma??s do rosto bem-definidas. No rosto oval e bonito de Madison, via menos de Ryan e imaginou qual seria a apar?ncia da m?e das crian?as. Haveria fotos de fam?lia em algum lugar da casa? Ou o div?rcio teria sido t?o amargo que elas teriam sido removidas? – Estenda a m?o para Cassie – Ryan lembrou seu filho, mas Dylan mostrou as m?os e Cassie viu que suas palmas estavam pretas de ?leo. – Oh-ou. Venha c?. Depressa, Ryan foi at? a pia, abriu a torneira e despejou uma generosa quantidade de detergente nas m?os do filho. Enquanto Ryan estava distra?do, Cassie pegou outro sandu?che. – O que a bicicleta tinha de errado? – Ryan perguntou. – A corrente estava pulando quando eu mudava de marcha – Dylan explicou. – Voc? consertou? –Ryan monitorava com aten??o o progresso de Dylan ao lavar as m?os. – Sim – Dylan disse. Cassie esperava que ele elaborasse melhor, mas ele n?o o fez. Ryan entregou-lhe uma toalha e ele secou as m?os, apertando a m?o de Cassie brevemente em um cumprimento formal, depois virando sua aten??o para os lanches. Dylan n?o falou muito enquanto comia, mas Cassie ficou impressionada com a quantidade de comida que ele conseguiu engolir em poucos minutos. O prato estava quase vazio quando Ryan o devolveu ? geladeira. – Voc? vai perder o apetite para o jantar se continuar comendo e estou prestes a fazer espaguete ? bolonhesa – ele disse. – Vou comer todo o espaguete tamb?m – Dylan prometeu. Ryan fechou a geladeira. – Certo, crian?as, precisam trocar de roupa agora, ou v?o pegar um resfriado. Quando eles sa?ram, Ryan voltou-se para Cassie e ela notou que ele soava ansioso. – O que voc? acha? Eles s?o como voc? esperava? S?o ?timas crian?as, apesar de terem seus momentos. Cassie tinha gostado das crian?as imediatamente. Madison, em particular, parecia uma crian?a f?cil e ela n?o podia imaginar que faltasse conversa ao redor da jovem falante. Dylan parecera mais complexo, uma pessoa mais quieta e introvertida. Mas tamb?m poderia ser o fato de ele ser mais velho, quase adolescente. Fazia sentido que ele n?o tivesse muito a dizer a uma au pair de 23 anos. Ryan estava certo, as crian?as pareciam tranquilas e, o mais importante, ele dava a impress?o de ser um pai solid?rio que ajudaria com quaisquer problemas, caso ocorressem. Decis?o tomada, ent?o. Ela aceitaria o emprego. – Eles parecem uns amores. Ficarei feliz em trabalhar para voc?s nas pr?ximas tr?s semanas. O rosto de Ryan se iluminou. – Ah, que ?timo! Sabe, Cassie, no momento em que eu te vi… N?o, no momento em que falei com voc? pela primeira vez, estava torcendo por voc? aceitar. Algo na sua energia me intriga. Adoraria saber das coisas pelas quais voc? passou, o que te moldou, porque voc? parece… N?o sei como descrever. S?bia. Madura. De qualquer forma, sinto que meus filhos estar?o em excelentes m?os. N?o soube o que dizer. Os elogios de Ryan estavam deixando Cassie constrangida. Ryan acrescentou. – As crian?as ficar?o empolgadas. J? posso ver que eles gostam de voc?. Vamos ajeitar suas coisas e eu farei um tour r?pido com voc? pela casa. Trouxe malas com voc?? – Sim, trouxe. Aproveitando a pausa na chuva, Ryan foi com ela at? o carro e pegou as malas pesadas com facilidade, carregando-as at? o corredor. – Temos s? uma garagem, que ? o dom?nio da Land Rover, mas estacionar na rua ? totalmente seguro. A casa ? simples. Temos uma sala de estar ? direita, a cozinha adiante e, ? esquerda, fica a sala de jantar, que raramente usamos, ent?o foi transformada em uma sala de quebra-cabe?as, leitura e jogos, como voc? pode ver. Espiando o c?modo, ele suspirou. – Quem ? o entusiasta de quebra-cabe?as? – Madison. Ela adora trabalhos manuais, artesanato, qualquer coisa com o que possa se ocupar. – E ela gosta de esportes? – Cassie perguntou. – Ela tem m?ltiplos talentos. – Receio que, para Maddie, o trabalho escolar seja o ponto fraco. Ela precisa de ajuda, academicamente; com matem?tica, em especial. Ent?o, qualquer assist?ncia que voc? possa oferecer, ou mesmo somente apoio moral, ser? ?timo. – E quanto ao Dylan? – Ele ? apaixonado por ciclismo, mas n?o liga para nenhum outro esporte. Ele tem a mente muito mec?nica e s? tira nota 10. N?o ? soci?vel, no entanto, e ? uma linha t?nue com ele, porque ele pode ser um garoto temperamental, caso se sinta pressionado. Cassie assentiu, grata pela informa??o sobre as crian?as sob seus cuidados. – Aqui est? o seu quarto. Vamos deixar as malas. O pequeno quarto tinha uma linda vista do mar. Decorado em branco e turquesa, parecia limpo e acolhedor. Ryan depositou a mala grande ao p? da cama, colocando a menor na poltrona listrada. – O banheiro de h?spedes fica no final do corredor. Temos o quarto de Madison ? direita, o quarto de Dylan ? esquerda e, finalmente, o meu. Depois, h? outro lugar que devo te mostrar. Ele acompanhou Cassie de volta pelo corredor, entrando na sala de estar. Adiante, atravessando as portas de vidro, Cassie viu uma varanda coberta, com mob?lias de ferro forjado. – Uau – ela respirou. A vista do oceano deste ponto era extraordin?ria. Havia uma queda dram?tica at? o oceano abaixo e ela conseguia ouvir as ondas batendo contra o rochedo. – Aqui ? o meu lugar de paz. Sento aqui todas as noites ap?s o jantar para relaxar, geralmente com uma ta?a de vinho. Voc? est? convidada para se juntar a mim a hora que quiser – o vinho ? opcional, mas vestu?rio quente e imperme?vel ? compuls?rio. A varanda tem um teto s?lido, mas n?o tem janelas. Considerei fazer isso, mas descobri que n?o era capaz. L? fora, com o som do mar e a ocasional rajada de ?gua em noites de tempestade, voc? se sente t?o conectado com o oceano. D? uma olhada. Ele abriu a porta de correr. Cassie deu um passo para fora, em dire??o ? beira, agarrando o corrim?o de a?o. Ao faz?-lo, a tontura a inundou e, subitamente, ela n?o estava mais olhando para uma praia em Devon. Estava debru?ada sobre um parapeito de pedras, horrorizada, encarando o corpo amassado l? embaixo, alagada de p?nico e confus?o. Podia sentir a pedra, fria contra os seus dedos. Lembrava-se do toque de perfume que ainda protelava no quarto opulento e a forma como a n?usea havia fervilhado dentro dela, suas pernas ficando t?o fracas que ela pensou que iria desabar. O modo como havia sido incapaz de se lembrar do desenrolar dos eventos da noite anterior. Seus pesadelos, sempre ruins, tinham se tornado ainda piores, mais v?vidos, depois da vis?o chocante, de modo que ela n?o conseguisse distinguir onde os sonhos terminavam e as mem?rias come?avam. Cassie pensou ter deixado aquela pessoa assustadora para tr?s, mas, agora, com a escurid?o engolindo-a depressa, entendia que as mem?rias e o medo se tornaram parte dela. – N?o! – Ela tentou gritar, mas sua pr?pria voz parecia vir de um lugar distante, long?nquo, e tudo o que emitiu foi um sussurro ?spero e inaud?vel. CAP?TULO QUATRO – Pronto, fique calma. S? respire. Para dentro, para fora, para dentro, para fora. Ao abrir os olhos, Cassie encontrou-se olhando para as t?buas de madeira maci?a do deck. Ela estava sentada na almofada macia de uma das cadeiras de ferro forjado, com a cabe?a entre os joelhos. M?os firmes seguravam seus ombros, apoiando-a. Era Ryan, seu novo patr?o. As m?os dele, a voz dele. O que ela tinha feito? Havia entrado em p?nico e feito papel de boba. Apressadamente, ela lutou para ficar ereta. – Calma, v? devagar. Cassie arfou. Sua cabe?a girava e ela sentiu como se estivesse tendo uma experi?ncia fora do corpo. – Voc? sofreu um s?rio ataque de vertigem. Por um minuto, pensei que voc? fosse cair por cima da grade – Ryan disse. – Consegui te segurar antes de voc? apagar. Como est? se sentindo? Como ela estava se sentindo? G?lida, tonta e mortificada pelo que havia acontecido. Ela estivera desesperada para causar uma boa impress?o e corresponder aos elogios de Ryan. Em vez disso, tinha estragado tudo e deveria se explicar. Como poderia, no entanto? Se ele soubesse dos horrores pelos quais ela passara e que seu antigo patr?o estava sendo julgado por assassinato neste exato momento, Ryan poderia mudar de ideia sobre ela, julg?-la inst?vel demais para cuidar dos filhos dele neste per?odo em que estabilidade era o que ele precisava. At? mesmo um ataque de p?nico poderia ser motivo de preocupa??o. Seria melhor prosseguir com o que ele tinha presumido – que ela havia sofrido de vertigem. – Estou me sentindo muito melhor – ela respondeu. – Sinto muito. Eu deveria ter lembrado que sofro de vertigem se fico muito tempo sem estar em um lugar alto. Mas vai melhorar. Em um dia ou dois, ficarei bem aqui fora. – Bom saber, mas, enquanto isso, voc? deve tomar cuidado. Est? bem para se levantar agora? Continue segurando meu bra?o. Cassie levantou-se, escorando-se em Ryan at? ter certeza de que suas pernas a sustentariam, depois, lentamente, caminhou de volta com ele at? a sala de estar. – Estou bem agora. – Tem certeza? – ele segurou o bra?o dela por mais um momento antes de soltar. – Tire um tempo para desfazer as malas, descansar e ajeitar suas coisas agora. Estarei com o jantar pronto ?s seis e meia. * Cassie desfez suas malas com calma, garantindo que seus pertences estivessem cuidadosamente arrumados dentro do exc?ntrico guarda-roupa branco e que seus medicamentos estivessem guardados no fundo da gaveta da escrivaninha. Ela n?o achava que esta fam?lia vasculharia seus pertences quando ela n?o estivesse presente, mas n?o queria dar espa?o para nenhuma pergunta constrangedora sobre os rem?dios para ansiedade que tomava, especialmente ap?s o ataque de p?nico que sofrera mais cedo. Ao menos havia se recuperado do epis?dio rapidamente, o que devia ser um sinal de que sua ansiedade estava sob controle. Fez uma nota mental para tomar seus comprimidos noturnos antes de reunir-se ? fam?lia para o jantar, s? por precau??o. O aroma delicioso de alho fritando e carne dourando flutuou pela casa muito antes das seis e meia. Cassie esperou at? seis e quinze, depois vestiu uma de suas blusas mais bonitas, com mi?angas no colarinho, passou brilho labial e um toque de r?mel. Queria que Ryan visse o melhor dela. Disse a si mesma que era importante passar uma boa impress?o por causa do ataque de p?nico de antes; por?m, ao pensar naqueles momentos na sacada, descobriu que o que lembrava mais claramente era a sensa??o dos bra?os musculosos e tonificados de Ryan ao redor dela, segurando-a. Ficou tonta outra vez ao se lembrar de como ele tinha sido forte, ainda que gentil, ao trat?-la. Saindo do quarto, Cassie quase esbarrou em Madison, que se encaminhava at? a cozinha ansiosamente. – A comida est? com um cheiro t?o bom – Madison disse a Cassie. – ? o seu jantar favorito? – Bem, eu amo espaguete ? bolonhesa do jeito que meu pai faz, mas n?o quando como em restaurantes. N?o fazem do mesmo jeito. Ent?o, diria que ? minha comida caseira favorita, e a segunda favorita ? frango assado e a terceira favorita ? sapo no buraco. Da?, quando comemos fora, amo peixe com batatas fritas, que tem em todos os lugares por aqui, e amo pizza, mas odeio hamb?rguer, que, por acaso, ? a comida favorita do Dylan, mas tenho nojo de hamburguerias. – O que ? sapo no buraco? – Cassie perguntou, curiosa, supondo que se tratasse de um prato tradicional ingl?s. – Voc? nunca comeu? ? um tipo de torta com salsichas, feita com ovos, farinha e leite. Voc? precisa comer com muito molho. Tipo, muito. E ervilhas e cenouras. A conversa as carregou por todo o caminho at? a cozinha. A mesa de madeira estava posta para quatro pessoas e Dylan j? estava sentado em seu lugar, servindo um copo de suco de laranja. – Hamb?rgueres n?o s?o nojentos. ? a comida dos deuses – ele rebateu. – Minha professora da escola disse que hamb?rgueres, na maior parte, s?o feitos de cereais e partes de animais que n?o comemos, mo?das bem pequenas. – Sua professora est? errada. – Como ela pode estar errada? Voc? ? est?pido por dizer isso. Cassie estava prestes a intervir, achando que o insulto de Madison era muito pessoal, mas Dylan respondeu primeiro. – Ei, Maddie – Dylan apontou um dedo para ela em aviso. – Ou voc? est? comigo, ou est? contra mim. Cassie n?o conseguiu desvendar o que ele queria dizer com aquilo, mas Madison rolou os olhos e mostrou a l?ngua para ele antes de se sentar. – Posso te ajudar, Ryan? Cassie caminhou at? o fog?o, onde Ryan erguia do forno uma travessa de macarronada borbulhante. Oferecendo-lhe uma olhadela, ele sorriu. – Tudo sob controle, espero. A hora do jantar ? dentro de trinta segundos. Vamos l?, crian?as. Peguem os pratos e vamos nos servir. – Eu gosto da sua blusa, Cassie – Madison disse. – Obrigada. Comprei em Nova Iorque. – Nova Iorque. Uau. Eu adoraria ir para l? – Madison disse, de olhos arregalados. – Os estudantes de economia do ?ltimo ano do col?gio fizeram uma viagem escolar para l? em junho – Dylan disse. – Estude economia, e talvez voc? tamb?m v?. – Envolve matem?tica? – Madison perguntou. Dylan assentiu. – Eu odeio matem?tica. ? chato e dif?cil. – Bem, ent?o voc? n?o vai. Dylan voltou sua aten??o ao seu prato, lotando-o de comida, enquanto Ryan repassava os utens?lios de cozinha na pia. Vendo que Madison parecia se rebelar, Cassie mudou de assunto. – Seu pai me disse que voc? gosta de esportes. Qual seu favorito? – Corrida e gin?stica. Eu gosto bastante de t?nis, come?amos neste ver?o. – E voc? ? ciclista? – Cassie perguntou a Dylan. Ele assentiu, empilhando queijo ralado em sua comida. – Dylan quer ser profissional e ganhar o Tour da Fran?a um dia – Madison disse. Ryan sentou-se ? mesa. – Voc? mais provavelmente ir? descobrir alguma f?rmula matem?tica obscura e ganhar uma bolsa de estudos completa para a Universidade de Cambridge – ele disse, olhando para seu filho de forma afetuosa. Dylan sacudiu a cabe?a. – Tour da Fran?a at? o fim, pai – ele insistiu. – Universidade primeiro – Ryan retorquiu, com a voz firme, e Dylan fez careta em resposta. Madison interrompeu, pedindo mais suco, e Cassie a serviu enquanto o breve momento de disc?rdia passava. Deixando que a conversa deles lhe penetrasse, Cassie comeu sua comida, que estava deliciosa. Ela nunca tinha conhecido algu?m parecido com Ryan, decidiu. Ele era t?o capaz e t?o atencioso. Ela perguntou-se se as crian?as sabiam quanta sorte tinham por ter um pai que cozinhava para sua fam?lia. Ap?s o jantar, ela voluntariou-se para a limpeza, que envolvia principalmente encher a enorme lava-lou?a de ?ltima gera??o. Ryan explicou que as crian?as tinham permiss?o para assistir TV por uma hora ap?s o jantar, se tivessem terminado a li??o de casa, e que ele desligava o Wi-Fi na hora de dormir. – ? prejudicial para estes jovens viciados em tela passarem a noite toda trocando mensagens no celular – ele disse. – E eles fazem isso, se a oportunidade estiver l?. A hora de ir para a cama ? a hora de dormir. ?s oito horas e trinta minutos, as duas crian?as foram obedientemente para a cama. Dylan deu um breve “Boa noite” e contou a ela que acordaria muito cedo na manh? seguinte para andar de bicicleta pelo vilarejo com seus amigos. – Voc? quer que eu te leve? – Cassie perguntou. Ele sacudiu a cabe?a. – Estou bem, obrigado – ele disse, antes de fechar a porta de seu quarto. Madison estava mais falante e Cassie passou algum tempo sentada na cama com ela, ouvindo suas ideias do que poderiam fazer amanh? e de como o clima estaria. – H? uma loja de doces no vilarejo que vende os pirulitos listrados mais lindos do mundo, eles parecem bengalas e tem gosto de hortel?. Meu pai n?o costuma nos deixar ir l?, mas talvez ele deixe amanh?. – Vou perguntar – Cassie prometeu antes de se certificar que a jovem menina estivesse bem acomodada para a noite, trazendo-lhe um copo de ?gua e apagando a luz. Enquanto gentilmente fechava a porta do quarto de Madison, lembrou-se da primeira noite no seu emprego anterior. Da forma como adormecera, exausta, e como havia demorado em atender aos chamados quando a menina mais nova teve pesadelos. Ainda sentia a dor e o choque do tapa ardido que ganhara como resultado. Deveria ter ido embora naquele momento, mas n?o foi. Cassie estava confiante de que Ryan jamais faria algo assim a ela. N?o era capaz de imagin?-lo sequer dando uma advert?ncia verbal. Pensando em Ryan, lembrou-se da ta?a de vinho na varanda externa e hesitou. Estava tentada a passar mais tempo com ele, mas n?o tinha certeza se deveria. Ele tinha sido sincero ao dizer que ela seria bem-vinda para se juntar a ele? Ou tinha feito o convite por gentileza? Com a indecis?o ainda se agitando em sua mente, ela viu-se vestindo seu casaco mais grosso. Poderia reconhecer o terreno, ver como ele responderia. Se parecesse que ele n?o queria companhia, ela poderia ficar para uma bebida r?pida e, ent?o, ir para a cama. Ela cruzou o corredor, ainda agonizando sobre sua decis?o. Como uma empregada, n?o era certo tomar uma ta?a de vinho com seu empregador depois do expediente – ou era? Se ela quisesse ser totalmente profissional, deveria ir para a cama. Contudo, com Ryan sendo t?o acolhedor com sua situa??o de visto, prometendo pag?-la em dinheiro, as linhas de profissionalismo j? estavam borradas. Ela era uma amiga da fam?lia, era isto que Ryan tinha dito. Compartilhar uma ta?a de vinho ap?s o jantar era exatamente o que uma amiga faria. Ryan pareceu encantado em v?-la. Alivio e empolga??o desenrolaram dentro dela ao ver o sorriso caloroso e genu?no dele. Ele levantou-se e segurou o bra?o dela, conduzindo-a pela varanda e garantindo que ela estivesse acomodada na cadeira, em seguran?a. Ela viu, com um pulo em seu cora??o, que ele havia colocado uma ta?a de vinho a mais na bandeja. – Voc? gosta de Chardonnay? Cassie assentiu. – Adoro. – Verdade seja dita, eu n?o tenho paladar para vinho e o meu favorito ? um tinto seco, mas ganhei uma caixa excelente de presente de um cliente, como gratid?o ap?s uma viagem de pesca bem-sucedida. Tem sido bom sabore?-lo. Sa?de. Inclinando-se, ele encostou a ta?a dele na dela. – Conte-me mais sobre o seu neg?cio – Cassie disse. – Comecei a Ventos do Sul Navega??es h? doze anos, logo ap?s o Dylan nascer. Quando ele veio ao mundo, fez com que eu repensasse meu prop?sito e o que eu poderia oferecer aos meus filhos. Passei tr?s anos na marinha ap?s sair da escola, eventualmente me tornando um oficial da marinha mercante. O mar est? no meu sangue e nunca imaginei viver ou trabalhar longe da costa. Cassie assentiu enquanto ele continuava. – Quando o Dylan nasceu, o turismo estava come?ando a florescer na ?rea, ent?o entreguei minha demiss?o. A esta altura, eu era o coordenador em um estaleiro na Cornualha. Depois, comprei meu primeiro barco. O segundo n?o demorou muito, e hoje tenho uma frota de dezesseis barcos de v?rios tamanhos e formatos. Barcos a motor, veleiros, at? pranchas de stand-up paddle, e a joia da coroa ? um novo iate de aluguel que ? muito popular com clientes corporativos. – Isso ? incr?vel – Cassie disse. – Tem sido fant?stico. Este neg?cio me deu tantas coisas. Uma renda confort?vel, uma vida maravilhosa e um lindo lar, que eu projetei de acordo com um sonho que eu sempre tive; embora, por sorte, o arquiteto tenha atenuado os elementos mais selvagens, ou a casa j? teria provavelmente ca?do do penhasco a esta altura. Cassie riu. – Seu neg?cio deve demandar muito trabalho ?rduo – ela observou. – Ah, sim – repousando a ta?a, Ryan encarou o oceano. – Como empres?rio, ? preciso fazer sacrif?cios constantes. Trabalho longas horas. Raramente tenho o fim de semana de folga; hoje pedi ao meu gerente para ficar no meu lugar, pois ia conhecer voc?. Acho que ? por isso que… Ele voltou-se para ela e encontrou seu olhar, com a express?o s?ria. – Acho que ? por isso que meu casamento fracassou, no fim. Cassie sentiu um arrepio de antecipa??o por ele estar se abrindo com ela sobre isso. Ela assentiu, compreensiva, esperando que ele continuasse falando e, depois de um tempo, ele o fez. – Quando as crian?as eram menores, era mais f?cil para a Trish, minha esposa, entender que eu precisava colocar o trabalho em primeiro lugar. Mas, conforme eles cresciam e se tornavam mais independentes, ela come?ou a desejar que eu… Bem, que eu preenchesse o lugar deles na vida dela, eu acho. Ela demandava meu apoio emocional, tempo e aten??o de forma excessiva. Eu sentia que isso me drenava, o que come?ou a causar conflito. Ela era uma mulher forte. Foi o que me atraiu nela, a princ?pio, mas as pessoas podem mudar, e acho que ela mudou. – Isso parece muito triste – Cassie disse. A ta?a dela estava quase vazia e Ryan a encheu novamente antes de servir a pr?pria ta?a. – Foi devastador. N?o consigo explicar como essa fase tem sido tumultuosa. Quando se ama algu?m, n?o d? para abrir m?o facilmente. E, quando o amor acaba, voc? procura por ele sem parar. Torcendo, rezando para ter de volta o que voc? tanto valorizava. Eu tentei, Cassie. Tentei com todas as for?as e, quando ficou claro que n?o estava dando certo, pareceu ser uma derrota. Cassie viu-se se inclinando em dire??o a ele. – ? assustador que algo assim possa acontecer. – Voc? escolheu a palavra certa. ? assustador. Fez com que eu me sentisse inadequado e muito ? deriva. Eu levo comprometimento a s?rio. Para mim, ? para sempre. Quando Trish foi embora, tive que redefinir minha pr?pria impress?o de quem eu era. Cassie piscou com for?a. Podia ouvir a ang?stia na voz dele. A dor pela qual ele passava soava fresca e crua. Era preciso muita coragem, ela pensou, para escond?-la debaixo de um exterior brincalh?o e alegre. Ela estava prestes a contar a Ryan o quanto o admirava pela for?a que ele demonstrava na adversidade, mas impediu-se a tempo, percebendo que este coment?rio seria muito atrevido. Ela mal conhecia Ryan e n?o tinha o direito de fazer observa??es t?o pessoais para um patr?o depois de apenas algumas horas em sua companhia. O que ela estava pensando – se ? que, de fato, estava pensando? Decidiu que o vinho estava subindo ? cabe?a e que deveria escolher suas palavras com cuidado. S? porque Ryan era bonito, inteligente e gentil n?o era motivo para se comportar como uma adolescente deslumbrada diante de um ?dolo. Aquilo precisava parar, porque ela s? acabaria se constrangendo mortalmente, ou pior. – Acho que ? melhor eu deixar voc? ir para a cama agora – Ryan disse, baixando sua ta?a vazia. – Voc? deve estar exausta depois de dirigir tanto e conhecer meus dois encrenqueiros. Obrigada por me fazer companhia aqui. Significa muito poder conversar com voc?, assim. – Foi um final agrad?vel para o dia e um jeito bom de relaxar – Cassie concordou. Ela n?o se sentia relaxada, de forma alguma. Sentia-se empolgada com a intimidade da conversa deles. Enquanto se levantavam para entrar, ela n?o conseguia parar de pensar no que ele havia lhe contado. De volta em seu quarto, ela checou rapidamente suas mensagens, sentindo-se grata porque a casa tinha conex?o com a internet. Em seu ?ltimo local de trabalho, n?o havia sinal de celular, o que a tornara completamente isolada. At? aquilo ter acontecido, n?o tinha se dado conta de qu?o assustador era ser incapaz de se conectar com o mundo externo quando precisava. Em seu telefone, Cassie viu que tinha algumas mensagens dizendo ‘oi’, e um ou dois memes de amigos que estavam nos Estados Unidos. Ent?o, viu outra mensagem que havia sido enviada mais cedo naquela noite. Era de um n?mero desconhecido do Reino Unido, o que provocou sirenes de alerta quando viu e, ao abrir, sentiu um medo g?lido apertando seu est?mago. “Tome cuidado” – a curta mensagem dizia. CAP?TULO CINCO Cassie estava esperando dormir bem em seu quarto aconchegante, com o banho da arrebenta??o do lado de fora como o ?nico som. Certamente teria dormido, n?o fosse pela mensagem desconcertante enviada de um n?mero desconhecido enquanto ela estivera sentada na varanda com Ryan. Seu primeiro pensamento de p?nico foi que se tratava do julgamento por assassinato de seu antigo empregador; que, de alguma forma, ela tivesse sido implicada e estivesse sendo ca?ada. Tentou checar as ?ltimas not?cias e descobriu, para sua frustra??o, que Ryan j? desligara o Wi-Fi. Revirou-se de um lado para o outro, preocupada com o que poderia significar e quem teria enviado a mensagem, tentando se tranquilizar de que provavelmente era o n?mero errado e que a mensagem era para outra pessoa. * Ap?s uma noite inquieta, ela conseguiu cair em um sono perturbado e foi acordada pelo som de seu despertador. Apanhou seu celular e descobriu, com al?vio, que o sinal estava de volta. Antes de sair da cama, buscou as not?cias do julgamento. Cassie descobriu que um adiamento havia sido solicitado e o julgamento seria retomado em duas semanas. Pesquisando com mais cuidado, descobriu que era devido ? necessidade da equipe de defesa de ter mais tempo para contatar testemunhas adicionais. Isso fez com que ela sentisse n?useas de medo. Olhou novamente para a estranha mensagem, “Tome cuidado”, perguntando-se se deveria responder e perguntar o que significava, por?m, em algum momento durante a noite, a pessoa devia t?-la bloqueado, porque ela descobriu que n?o era poss?vel enviar uma mensagem de volta. Em desespero, ela tentou ligar para o n?mero. A liga??o foi cortada imediatamente. Suas liga??es claramente tamb?m foram bloqueadas. Cassie suspirou, frustrada. Cortar comunica??es parecia mais ass?dio do que um aviso leg?timo. Ela aceitaria que se tratava do n?mero errado, algo que a pessoa que enviou a mensagem havia percebido tarde demais, bloqueando-a como resultado. Sentindo-se marginalmente tranquilizada, ela saiu da cama e foi acordar as crian?as. Dylan j? estava de p? – Cassie sup?s que ele tivesse sa?do de bicicleta. Torcendo para que ele n?o pensasse nisso como uma intrus?o, ela entrou no quarto, esticou o edredom e os travesseiros e recolheu as roupas jogadas. As prateleiras dele estavam abarrotadas de uma grande variedade de livros, incluindo v?rios sobre ciclismo. Dois peixes dourados nadavam em um aqu?rio na parte superior da estante de livros e havia uma coelheira sobre uma grande mesa perto da janela. Um coelho cinza comia alface de caf?-da-manh? e, em contentamento, Cassie observou-o por um minuto. Saindo do quarto, ela bateu na porta de Madison. – S? mais dez minutos – a jovem menina respondeu, sonolenta, ent?o Cassie foi at? a cozinha para come?ar o caf?-da-manh?. L?, viu que Ryan havia deixado um ma?o de dinheiro debaixo do saleiro com um bilhete escrito ? m?o: “Fui para o trabalho. Leve as crian?as para passear e divirtam-se! Volto ? noite”. Cassie colocou a primeira leva de p?es na linda torradeira floral e encheu a chaleira. Enquanto estava ocupada preparando o caf?, Madison entrou bocejando, enrolada em um roup?o cor-de-rosa. – Bom dia – Cassie a saudou. – Bom dia. Ainda bem que voc? est? aqui. Todo mundo nesta casa acorda cedo demais – ela reclamou. – O que posso te servir? Ch?? Suco? – Ch?, por favor. – Torrada? Madison sacudiu a cabe?a. – Ainda n?o estou com fome, obrigada. – O que gostaria de fazer hoje? Seu pai disse para sairmos – Cassie disse, servindo ch? conforme Madison havia pedido, com um pingo de leite e sem a??car. – Vamos para a cidade – Madison disse. – ? divertido aos finais de semana. V?rias coisas para fazer. – Boa ideia. Sabe quando Dylan estar? de volta? – Ele geralmente sai por uma hora – Madison fez uma concha com as m?os ao redor de sua caneca, assoprando o l?quido fumegante. Cassie estava impressionada com o quanto as crian?as pareciam ser independentes. Claramente, n?o estavam acostumados a serem superprotegidos. Ela sup?s que o vilarejo fosse pequeno e seguro o bastante para ser tratado como uma extens?o da casa deles. Dylan n?o tardou a retornar e, ?s nove horas, eles estavam vestidos, prontos para partir em seu passeio. Cassie presumiu que iriam de carro, mas Dylan a alertou contra isto. – ? dif?cil estacionar no fim de semana. Geralmente, descemos caminhando. S?o pouco mais de dois quil?metros, depois voltamos de ?nibus. Ele sai a cada duas horas, ent?o s? precisamos calcular bem o tempo. A caminhada at? o vilarejo n?o poderia ser mais c?nica. Cassie estava encantada pela vista deslumbrante do mar, em constante mudan?a, e as casas pitorescas ao longo do caminho. De algum lugar ao longe, ela conseguia ouvir sinos de igreja. O ar estava fresco e g?lido, e respirar o aroma do mar era puro prazer. Madison saltitava adiante, apontando as casas das pessoas que conhecia, o que parecia ser quase todo mundo. Algumas das pessoas que passavam por eles de carro acenavam, e uma mulher parou seu Range Rover para oferec?-los carona. – N?o, obrigada, Sra. O’Donoghue, estamos felizes em caminhar – Madison declarou. – Mas talvez precisemos de voc? na volta! – Vou procurar por voc?s! – a mulher prometeu com um sorriso antes de sair com o carro. Madison explicou que a mulher e o marido dela moravam costa adentro e tinham uma pequena fazenda org?nica. – Tem uma loja que vende os produtos deles na cidade e, ?s vezes, eles fazem doces caseiros tamb?m – Madison disse. – Definitivamente iremos at? l?. – Os filhos dela t?m sorte. Eles frequentam um col?gio interno na Cornualha. Eu queria ir tamb?m – Madison disse. Cassie franziu o cenho, perguntando-se por que Madison iria querer passar um tempo longe de uma vida t?o perfeita. A n?o ser, talvez, que o div?rcio tivesse tornado a garota insegura e ela desejasse uma comunidade maior ao redor dela. – Voc? est? feliz na sua escola atual? – ela perguntou, s? por precau??o. – Ah, sim, ? ?timo, tirando que eu preciso estudar – Madison disse. Cassie ficou aliviada por n?o parecer haver algum problema oculto, como bullying. As lojas eram t?o pitorescas quanto ela esperara. Havia algumas lojas vendendo apetrechos de pesca, roupas de inverno e equipamentos esportivos. Lembrando-se de como suas m?os tinham estado frias enquanto bebia vinho com Ryan na noite anterior, Cassie experimentou um lindo par de luvas, mas decidiu, em vista de suas finan?as e da falta de dinheiro dispon?vel, que seria melhor esperar e comprar um par mais barato. O cheiro de p?o assando os atraiu a atravessar a rua at? a confeitaria. Ap?s debater com as crian?as, comprou um p?o de massa azeda e uma torta de noz-pec? para levar para casa. A ?nica decep??o da manh? acabou sendo a loja de doces. Quando Madison marchou at? a porta, cheia de expectativas, ela parou, de crista ca?da. A loja estava fechada, com um bilhete escrito ? m?o colado ao vidro, dizendo: “Caros clientes, estamos fora da cidade este fim de semana para um anivers?rio da fam?lia! Estaremos de volta para servi-los de suas iguarias favoritas na ter?a-feira”. Madison suspirou com tristeza. – A filha deles geralmente abre a loja quando eles n?o est?o. Acho que todos foram para esta festa est?pida. – Acho que sim. Mas n?o importa. Podemos voltar na semana que vem. – Mas est? t?o longe. Cabisbaixa, Madison deu as costas e Cassie mordeu os l?bios ansiosamente. Estava desesperada para que este passeio fosse um sucesso. Estivera imaginando o rosto de Ryan se iluminando quando eles contassem sobre o dia feliz, e como ele poderia olhar para ela cheio de gratid?o ou at? elogi?-la. – Voltaremos semana que vem – repetiu, sabendo que este consolo era pequeno para uma menina de nove anos que tinha acreditado que pirulitos de hortel? estavam em seu futuro imediato. – E talvez encontremos doces em outras lojas – ela acrescentou. – Vamos l?, Maddie – Dylan disse, impaciente, pegando a m?o dela e a conduzindo para longe da loja. Adiante, Cassie notou a loja sobre a qual Madison havia lhe falado, cuja dona era a mulher que oferecera carona a eles. – Uma ?ltima loja, depois decidimos onde vamos almo?ar – ela disse. Com o pensamento em jantares e lanches saud?veis, Cassie selecionou algumas sacolas de vegetais fatiados, uma sacola de peras e algumas frutas secas. – Podemos comprar castanhas? – Madison pediu. – Ficam deliciosas assadas na lareira. Fizemos isso no inverno passado, com a minha m?e. Era a primeira vez que algum deles mencionava a m?e e Cassie esperou, ansiosa, observando Madison para descobrir se a lembran?a lhe deixaria chateada, ou se este seria um sinal de que ela gostaria de conversar sobre o div?rcio. Para seu al?vio, a jovem menina parecia calma. – Claro que podemos. ? uma boa ideia – Cassie adicionou uma sacola ? sua cesta. – Olhe, l? est?o os doces caseiros! Madison apontou, empolgada, e Cassie sup?s que o momento tivesse passado. Mas, ao mencionar sua m?e uma vez, ela havia quebrado o gelo e talvez quisesse conversar mais sobre isso depois. Cassie lembrou-se de permanecer sens?vel a qualquer sinal. N?o queria perder a oportunidade de ajudar qualquer uma das crian?as nesse per?odo dif?cil. As sacolas estavam expostas no balc?o ao lado do caixa, junto a outras guloseimas. Havia ma??s do amor, doce de leite, balas listradas de hortel?, pequenos saquinhos de manjar turco e at? mesmo bast?es de bala em miniatura. – Do que voc?s gostariam, Dylan e Madison? – ela perguntou. – Uma ma?? do amor, por favor. E doce de leite e um daqueles bast?es de bala – Madison disse. – Uma ma?? do amor, dois bast?es de bala, doce de leite e manjar turco – Dylan adicionou. – Acho que talvez dois doces para cada um seja o suficiente, sen?o vai estragar o almo?o – Cassie disse, lembrando-se que a??car em excesso era desencorajado nesta fam?lia. Pegou duas ma??s do amor e dois pacotes de doce de leite na prateleira. – Ser? que seu pai gostaria de alguma coisa? – Ela sentiu uma onda de calor por dentro ao falar de Ryan. – Ele gosta de castanhas – Madison disse, apontando para uma prateleira de castanhas-de-caju assadas. – Essas s?o as favoritas dele. Cassie acrescentou uma sacola ? sua cesta e foi at? o caixa. – Boa tarde – ela cumprimentou a ajudante da loja, uma jovem loira gordinha com um crach? que dizia “Tina”, e que sorriu para ela e saudou Madison pelo nome. – Ol?, Madison. Como est? seu pai? J? saiu do hospital? Cassie olhou de relance para Madison, preocupada. Tratava-se de alguma coisa que n?o haviam lhe contado? Mas Madison estava franzindo o cenho, confusa. – Ele n?o esteve no hospital. – Ah, sinto muito, devo ter entendido errado. Quando ele veio aqui, na semana passada, ele disse… – Tina come?ou. Madison interrompeu, encarando a atendente com curiosidade enquanto ela somava as compras. – Voc? engordou. Horrorizada pela falta de tato do coment?rio, Cassie sentiu seu rosto ficando vermelho, assim como o de Tina. – Sinto muito – ela murmurou, desculpando-se. – Tudo bem. Cassie viu Tina ficando cabisbaixa com o coment?rio. O que tinha dado em Madison? N?o havia sido ensinada a n?o dizer coisas assim? Era jovem demais para perceber o quanto aquelas palavras machucavam? Percebendo que mais pedidos de desculpas n?o redimiriam a situa??o, pegou seu troco e apressou a jovem menina para fora da loja antes que ela pensasse em outra coisa insens?vel e pessoal para anunciar. – ? falta de educa??o dizer coisas assim – explicou quando sa?ram do alcance de voz. – Por qu?? – Madison perguntou. – ? verdade. Ela est? muito mais gorda do que quando a vi em agosto, nas f?rias. – ? sempre melhor n?o dizer nada quando notar algo desse tipo, especialmente se outras pessoas est?o escutando. Ela pode ter algum problema hormonal ou estar tomando medicamentos que a fazem ganhar peso, como cortisona. Ou ela pode estar gr?vida e n?o querer que ningu?m saiba ainda. Olhou de canto de olho para Dylan, ? esquerda, para ver se ele estava escutando, mas ele estava remexendo em seus bolsos, parecendo preocupado. Madison franziu o cenho enquanto pensava. – Certo – ela disse. – Vou me lembrar disso da pr?xima vez. Cassie soltou o ar, aliviada por sua l?gica ter sido compreendida. – Quer uma ma?? do amor? Cassie entregou ? Madison a ma?? do amor, que ela guardou no bolso, depois estendeu a outra ? Dylan. Mas, quando ela a ofereceu, ele a dispensou. Olhando para ele em descren?a, Cassie viu que ele desembrulhava uma das balas em bast?es da loja que tinham acabado de visitar. – Dylan… – ela come?ou. – Ah, n?o, eu queria uma dessas – Madison reclamou. – Peguei uma para voc? – Dylan enfiou a m?o no fundo do bolso de seu casaco e, para o horror de Cassie, puxou diversas outras balas. – Aqui – ele disse, passando uma para Madison. – Dylan! – Cassie sentiu-se sem ar e sua voz soava aguda e estressada. Sua mente corria enquanto ela lutava para absorver o que acabara de acontecer. Tinha interpretado mal a situa??o? N?o. De jeito nenhum Dylan poderia ter comprador aqueles doces. Ap?s o coment?rio constrangedor de Madison, ela havia tirado os dois da loja depressa. N?o houvera tempo para que Dylan pagasse, especialmente j? que a ajudante n?o estivera muito apta a trabalhar na caixa registradora antiquada. – Sim? – ele perguntou, olhando para ela inquisitivamente, e Cassie arrepiou-se com o fato de n?o haver nenhum tra?o de emo??o nos p?lidos olhos azuis. – Eu acho… Acho que voc? se esqueceu de pagar por isso. – N?o paguei – ele disse, casualmente. Cassie olhou para ele fixamente, chocada al?m de palavras. Dylan friamente admitira ter roubado mercadorias. Ela nunca teria imaginado que o filho de Ryan faria uma coisa dessas. Isto estava al?m do escopo de sua experi?ncia e ela estava perdida, sem saber como reagir. Sentia-se abalada porque sua impress?o de uma fam?lia perfeita, na qual ela havia acreditado, estava longe da realidade. Como ela poderia estar t?o errada? O filho de Ryan acabara de cometer um crime. Para piorar, n?o mostrava qualquer remorso, vergonha ou sinal de que compreendia a enormidade de suas a??es. Ele a encarava calmamente, parecendo despreocupado com o que acabara de fazer. CAP?TULO SEIS Cassie estava parada, em choque, sem saber como lidar com o furto de Dylan, quando percebeu que Madison j? havia se decidido. – N?o vou comer algo roubado – a jovem menina anunciou. – Pode pegar de volta. Ela estendeu o bast?o de bala para Dylan. – Por que est? me devolvendo? Peguei para voc?, porque voc? queria um bast?o de bala e na primeira loja n?o tinha, depois a Cassie foi mesquinha e n?o quis comprar para voc?. Dylan falava em tom ofendido, como se esperasse um agradecimento por salvar o dia. – Sim, mas n?o quero nada roubado. For?ando o doce nas m?os dele, Madison cruzou os bra?os. – Se n?o pegar, n?o vou oferecer outra vez. – Eu disse que n?o. De queixo erguido, Madison marchou para longe. – Voc? est? comigo ou est? contra mim. Voc? sabe o que a m?e sempre diz – Dylan gritou atr?s dela. Com preocupa??o se agitando nela com outra men??o ? m?e deles, Cassie detectou mais do que um tra?o de amea?a no tom dele. – Certo, agora chega. Em alguns passos r?pidos, Cassie agarrou o bra?o de Madison e a girou, trazendo-a de volta para que todos estivessem de frente um para o outro na cal?ada pavimentada. Sentiu frio de pavor. A situa??o estava saindo do controle, as crian?as estavam come?ando a brigar e ela n?o havia sequer abordado o assunto do furto. N?o importava o quanto eles estivessem traumatizados ou quais emo??es estivessem reprimindo, este era um ato criminoso. Estava mais do que chocada que esta loja pertencesse a uma pessoa que era amiga da fam?lia. A dona tinha at? oferecido uma carona at? a cidade! N?o se deve roubar de algu?m que te oferece carona. Bem, n?o se deve roubar de ningu?m, mas especialmente de uma mulher que tentara ajud?-los de forma t?o generosa na mesma manh?. – Vamos nos sentar. Havia uma casa de ch? ? esquerda, que parecia cheia, mas, vendo que um casal se levantava de sua mesa, ela conduziu as crian?as depressa at? a porta. No minuto seguinte, eles estavam sentados no interior aquecido, que cheirava deliciosamente como caf? e massas amanteigadas e frescas. Cassie olhou para o card?pio, sentindo-se perdida porque, a cada segundo que se passava, ela provava ?s crian?as que n?o tinha ideia de como lidar com isto. Idealmente, ela supunha que Dylan devesse ser obrigado a voltar e pagar pelo que tinha pegado, mas e se ele se recusasse? Ela tamb?m n?o sabia ao certo qual era a penalidade por furto no Reino Unido. Ele poderia acabar em apuros se a pol?tica da loja determinasse que a balconista tivesse que denunci?-lo ? pol?cia. Ent?o, Cassie pensou novamente na linha temporal dos eventos e percebeu que poderia haver uma perspectiva diferente. Lembrou que Madison havia mencionado as castanhas-de-caju, feitas na lareira com a m?e deles, logo antes de Dylan ter roubado os doces. Talvez este garoto quieto tivesse ouvido as palavras de sua irm? e se lembrado do trauma pelo qual sua fam?lia passara. Ele poderia estar deliberadamente expressando suas emo??es reprimidas sobre o div?rcio por meio de um ato proibido. Quando mais Cassie pensava nisso, mais a explica??o fazia sentido. Neste caso, seria melhor lidar com isto de forma mais sens?vel. Olhou de relance para Dylan, que folheava o card?pio, aparentando completa tranquilidade. Madison tamb?m parecia ter superado seu surto de temperamento. Ap?s recusar o doce roubado e dizer o que pensava a Dylan, o assunto parecia ter sido resolvido de forma satisfat?ria para ela. Agora, ela estava interessada em ler as descri??es de v?rios milk-shakes. – Certo – Cassie disse. – Dylan, por favor, me entregue os doces que voc? pegou. Esvazie os bolsos. Dylan remexeu nos bolsos e tirou quatro bast?es de bala e um pacote de manjar turco. Cassie encarou a pequena pilha. Ele n?o tinha pegado muita coisa. N?o era furto em grande escala. Era o fato de ele t?-los pegado, em primeiro lugar, que era o problema – e ele n?o achar que era errado. – Vou confiscar estes doces porque n?o ? certo pegar algo sem pagar. Aquela ajudante de caixa pode ter problemas se o dinheiro no caixa n?o bater com o estoque. E voc? poderia ter acabado com um problema ainda maior. Todas estas lojas t?m c?meras. – Tudo bem – ele disse, parecendo entediado. – Vou precisar contar ao seu pai, e veremos o que ele decide fazer. Por favor, n?o fa?a mais isso, n?o importa o quanto voc? quiser ajudar, o qu?o injusto voc? achar que o mundo est? sendo com voc?, ou o qu?o chateado estiver por causa dos problemas da sua fam?lia. Poderia ter consequ?ncias graves. Entendeu? Ela pegou os doces e os guardou em sua bolsa. Observando as crian?as, ela viu que Madison, que n?o precisava da advert?ncia, parecia muito mais preocupada do que Dylan. Ele a encarava de modo que ela s? conseguia interpretar como perplexidade. Ele assentiu brevemente, e ela sup?s que era tudo o que fosse conseguir. Tinha feito o poss?vel. Tudo o que poderia fazer agora era passar a informa??o a Ryan e deix?-lo levar isso adiante. – Est? pensando em um milk-shake, Madison? – ela perguntou. – Chocolate, n?o tem erro – Dylan aconselhou e, dessa forma simples, a tens?o foi quebrada e eles voltaram ao normal outra vez. Cassie ficou aliviada al?m da conta por ter conseguido lidar com a situa??o. Percebeu que suas m?os tremiam e as colocou debaixo da mesa para que as crian?as n?o vissem. Ela sempre evitava brigas porque lhe trazia mem?rias de uma ?poca em que ela fora uma participante involunt?ria e impotente. Recordava-se de fragmentos de cenas, de vozes aos berros e gritos de pura raiva. Lou?as sendo quebradas – ela escondendo-se debaixo da mesa da sala de jantar, sentindo os cacos picando suas m?os e seu rosto. Se a escolha fosse dada, em qualquer briga, ela geralmente acabava fazendo o equivalente a se esconder. Agora, ela estava grata por ter conseguido afirmar sua autoridade com calma, mas com firmeza, e porque o dia n?o havia se tornado um desastre como resultado. A gerente da casa de ch? apressou-se em tomar os pedidos deles e Cassie come?ou a se dar conta do quanto esta cidade era pequena, porque ela tamb?m conhecia a fam?lia. – Ol?, Dylan e Madison. Como est?o seus pais? Cassie encolheu-se, percebendo que a gerente obviamente n?o sabia das ?ltimas not?cias, e ela n?o tinha debatido com Ryan o que deveria dizer. Enquanto buscava as palavras corretas de forma desajeitada, Dylan falou. – Eles est?o bem, obrigado, Martha. Cassie ficou grata pela resposta breve de Dylan, apesar de ficar surpresa por ele soar t?o normal. Ela imaginou que ele e Madison ficassem chateados com a men??o a seus pais. Talvez Ryan tivesse dito a eles para n?o discutir o assunto, caso as pessoas n?o soubessem. Aquela era a prov?vel raz?o, ela decidiu, especialmente j? que a mulher parecia estar com pressa e a pergunta tinha sido apenas uma formalidade gentil. – Ol?, Martha. Sou Cassie Vale – ela disse. – Parece que voc? ? dos Estados Unidos. Est? trabalhando para a fam?lia Ellis? Novamente, Cassie encolheu-se com a men??o ? “fam?lia”. – S? ajudando – ela disse, lembrando que, apesar de seu acordo informal com Ryan, precisava tomar cuidado. – ? t?o dif?cil encontrar pessoas boas para ajudar. Estamos com poucos funcion?rios no momento. Ontem, uma das gar?onetes foi deportada por n?o ter a documenta??o correta. Ela olhou para Cassie, que baixou o olhar depressa. O que esta mulher queria dizer com isso? Ela suspeitava, por conta do sotaque de Cassie, que ela n?o tinha um visto de trabalho? Era uma dica de que as autoridades da redondeza estavam apertando o cerco? Rapidamente, ela e as crian?as fizeram o pedido e, para o al?vio de Cassie, a gerente saiu apressada. Pouco tempo depois, uma gar?onete de apar?ncia estressada, e que obviamente era local, trouxe-lhes suas tortas e batatas fritas. Cassie n?o desejava se alongar com a comida e arriscar outra rodada de conversa fiada, j? que o restaurante come?ava a esvaziar. Assim que terminaram, foi at? o caixa e pagou. Saindo da casa de ch?, eles caminharam por onde tinham vindo. Pararam em uma loja com artigos para animais de estima??o e compraram mais comida para os peixes de Dylan, que ele contou que se chamavam Laranja e Lim?o, al?m de mantas de forro para Benjamin, o Coelho. Conforme se encaminhavam para o ponto de ?nibus, Cassie ouviu m?sica e notou uma multid?o aglutinada na pra?a de paralelep?pedos no centro do vilarejo. – O que acha que est?o fazendo? – Madison notara a atividade no mesmo instante em que a cabe?a de Cassie se virou. – Podemos dar uma olhada, Cassie? – Dylan perguntou. Atravessaram a rua e descobriram um show de entretenimento surpresa em andamento. Ao norte da pra?a, uma banda com tr?s integrantes tocava. Na esquina oposta, um artista criava animais de bal?es. Uma fila de pais com filhos pequenos j? se formava. No centro da pra?a, um m?gico, vestido formalmente em um terno e uma cartola, realizava seus truques. – Nossa, uau. Sou apaixonada por truques de m?gica – Madison soltou. – Eu tamb?m – Dylan concordou. – Queria aprender. Quero saber como funciona. Madison rolou os olhos. – F?cil. ? m?gica! Ao chegarem, o m?gico completou seu truque, recebendo aplausos e exclama??es; em seguida, enquanto a multid?o se dispersava, ele voltou-se para encar?-los. – Bem-vindos, minha gente. Obrigado por estarem aqui nesta tarde ador?vel. Que dia lindo est? hoje. Mas, diga-me, mocinha, voc? n?o est? com um pouco de frio? Ele acenou para que Madison desse um passo adiante. – Frio? Eu? N?o. – Ela deu um passo ? frente, com um meio sorriso divertido e desconfiado. Ele estendeu as m?os, vazias, depois avan?ou e bateu palmas perto da cabe?a de Madison. Ela arfou. Quando ele baixou as m?os em conchas, dentro delas havia um pequeno boneco de neve de brinquedo. – Como voc? fez isso? – ela perguntou. Ele a entregou seu brinquedo. – Estava nos seus ombros o tempo todo, viajando com voc? – ele explicou, e Madison riu em descren?a e assombro. – Ent?o, agora, vamos ver se seus olhos s?o r?pidos. Funciona assim: voc? aposta comigo – qualquer quantia que quiser – enquanto eu mudo estas quatro cartas de lugar. Se adivinhar onde a rainha est?, voc? dobra seu dinheiro. Caso contr?rio, voc? sai de m?os vazias. E ent?o, gostaria de fazer sua aposta? – Eu aposto! Pode me dar dinheiro? – Dylan pediu. – Claro. Quanto voc? quer perder? – Cassie remexeu no bolso de sua jaqueta. – Quero perder cinco libras, por favor. Ou ganhar dez, ? claro. Ciente de que uma nova multid?o se reunia atr?s dela, Cassie entregou o dinheiro a Dylan e ele pagou. – Vai ser f?cil para voc?, meu jovem. Vejo que seu olhar ? r?pido, mas lembre que a rainha ? uma senhora astuta e j? venceu muitas batalhas. Observe atentamente enquanto eu distribuo as cartas. Veja, estou as colocando viradas para cima, para total transpar?ncia. ? quase f?cil demais, como doar dinheiro. A rainha de copas, o ?s de espadas, o nove de paus e o valete de ouros. Afinal de contas, ? como o casamento, tudo come?a com cora??es e ouro, mas depois termina com paus e espadas. A multid?o urrou em risadas. A alus?o do m?gico a casamentos terminando mal fez Cassie olhar de relance para as crian?as, com nervosismo, mas Madison n?o parecia ter entendido a piada e a aten??o de Dylan estava fixa nas cartas. – Agora, eu viro as cartas. – Uma a uma, ele deliberadamente virou as cartas para baixo. – Agora, vou mud?-las de lugar. Rapidamente, mas sem acelerar demais, ele misturou as quatro cartas. Acompanh?-lo era um desafio, mas, quando ele parou, Cassie estava bastante segura de que a rainha estava na extrema direita. – Onde est? nossa rainha? – o m?gico perguntou. Dylan fez uma pausa, apontando em seguida para a carta da direita. – Tem certeza, jovem senhor? – Certeza – Dylan assentiu. – Voc? tem uma chance de mudar de ideia. – N?o, vou ficar com esta. Ela tem que estar a?. – Ela tem que estar a?. Bem, vejamos se a rainha concorda, ou se um de seus consortes conseguiu lev?-la para um esconderijo. Ele virou a carta e Dylan soltou um gemido aud?vel. Era o valete de ouros. – Droga – ele disse. – O valete. Sempre disposto a acobertar sua rainha. Leal at? o fim. Mas a nossa rainha de copas, o emblema do amor, ainda escapou de n?s. – Ent?o, onde est? a rainha? – Onde, de fato? Cassie notara, enquanto ele movia as cartas, que havia uma na qual ele sequer havia tocado – a carta na extrema esquerda. Aquela era o ?s de espadas. – Acho que ela est? l? – ela adivinhou, apontando para a carta. – Ah, temos aqui uma mo?a esperta apontando para a ?nica carta que ela sabe que n?o poderia ser. Mas querem saber? Milagres acontecem. Com um floreio, ele revelou a carta – e l? estava a rainha. Risos e aplausos ecoaram pela pra?a e Cassie sentiu uma onda de satisfa??o enquanto Dylan e Madison comemoravam com ela. – Que pena n?o ter apostado dinheiro, mo?a. Voc? estaria rica agora, mas essas coisas acontecem. Quem precisa de dinheiro, quando ? escolhida pelo amor? Cassie sentiu as bochechas se avermelhando. Bem que ela queria. – Como lembran?a, voc? pode levar a carta. Ele a colocou em uma sacola de papel?o e lacrou-a com um adesivo antes de entreg?-la a Cassie, que a guardou na lateral de sua bolsa. – Estou imaginando o que teria acontecido se eu tivesse escolhido aquela carta – Dylan observou enquanto eles se afastavam. – Tenho certeza de que seria o valete de ouros – Cassie disse. – ? assim que ele ganha dinheiro, trocando as cartas quando as pessoas apostam. – As m?os dele eram t?o r?pidas – Dylan disse, sacudindo a cabe?a. – M?gicos precisam ser naturalmente bons, mas depois treinam por anos para completar – Cassie deu seu palpite. – Suponho que precisem fazer isso – Dylan concordou quando chegaram ao ponto de ?nibus. – Tamb?m se trata de redirecionar a aten??o, mas n?o tenho certeza de como isto se aplica quando as quatro cartas est?o t?o pr?ximas. Mas deve funcionar de algum jeito. – Ok, vamos praticar. Tente desviar minha aten??o, Cassie – Madison pediu. – Farei isso, mas o ?nibus est? vindo. Vamos entrar primeiro. Madison virou-se para olhar e enquanto sua aten??o era desviada, Cassie apanhou a ma?? do amor do bolso de seu casaco. – Ei, o que voc? fez? Eu senti alguma coisa. E n?o tem ?nibus nenhum – Madison virou-se de volta, viu que Dylan tinha explodido em gargalhadas, parou por um momento enquanto repassava o que acontecera, e depois come?ou a dar risadinhas tamb?m. – Voc? me pegou! – Nem sempre ? t?o f?cil. Eu s? tive sorte. – O ?nibus est? vindo, Madison – Dylan disse. – N?o vou olhar. N?o podem me enganar duas vezes. – Ainda roncando em risadas, ela cruzou os bra?os. – Ent?o, voc? vai ficar para tr?s – Dylan disse a ela enquanto o lustroso ?nibus rural parou no ponto. Durante a curta viagem para casa, eles fizeram de tudo para tentar desviar a aten??o um do outro. Quando chegaram a sua parada, o est?mago de Cassie estava doendo de tanto rir e ela estava aquecida pela felicidade do dia ter sido um sucesso. Enquanto destrancavam a porta de entrada, o celular dela vibrou. Era uma mensagem de Ryan, dizendo que traria pizzas para casa e perguntando se havia algum recheio que n?o gostava. Ela digitou de volta: “Sou uma garota f?cil, obrigada”, e depois percebeu a conota??o quando estava prestes a apertar “Enviar”. Seu rosto esquentou enquanto apagava as palavras e as substitu?a com “Qualquer recheio est? bom. Obrigada”. Um minuto depois, seu celular vibrou outra vez e ela o apanhou, ansiosa para a pr?xima mensagem de Ryan. Esta mensagem n?o era dele. Era de Renee, uma de suas antigas amigas da escola. “Oi, Cassie, algu?m esteve te procurando esta manh?. Uma mulher, ligando da Fran?a. Estava tentando te encontrar, mas n?o disse mais nada. Posso passar o seu n?mero de telefone?” Cassie releu a mensagem e, subitamente, o vilarejo n?o pareceu mais t?o remoto ou seguro. Com o julgamento de seu antigo empregador em Paris chegando e a equipe de defesa procurando por testemunhas, ela estava aterrorizada, pois o cerco estava se fechando. CAP?TULO SETE Enquanto ajudava as crian?as com a rotina noturna de banho e pijamas, Cassie n?o conseguia tirar a mensagem perturbadora de sua mente. Tentou se convencer de que a equipe jur?dica de Pierre Dubois poderia ter ligado diretamente para ela, sem precisar rastrear uma antiga amiga de escola, mas o fato permanecia sendo que algu?m estava procurando por ela. Ela precisava urgentemente descobrir quem era essa pessoa. Depois de arrumar o banheiro, respondeu a mensagem de Renee. “Voc? tem um n?mero de telefone da mulher? Ela deu o nome dela?” Deixando o celular para tr?s, foi para a cozinha e ajudou Madison a arrumar a mesa com todos os condimentos que acompanhavam pizza – sal e pimenta, alho amassado, molho de pimenta e maionese. – Dylan gosta de maionese – ela explicou. – Eu acho nojento. – Eu tamb?m – Cassie confessou, e seu cora??o saltou quando ouviu a porta da frente abrir. Madison saiu da cozinha correndo, com Cassie logo atr?s. – Entrega de pizza! – Ryan chamou, entregando as caixas ? Madison. – ? bom estar aqui dentro. Estava come?ando a gelar l? fora, e escurecer tamb?m. Ele viu Cassie e, exatamente como ela esperara, o rosto dele se abriu em um sorriso perversamente atraente. – Ol?, Cassie! Voc? est? linda. Vejo cor nas suas bochechas depois de todo o nosso ar litor?neo. Mal posso esperar para ouvir sobre o dia de voc?s. Cassie sorriu de volta para ele, grata por ele presumir que seu rosto corado havia sido causado pelo ar fresco, e n?o pelo fato de que ela come?ara a se sentir excitada e estranhamente constrangida assim que ele entrara. Pegando as caixas dele, ela disse a si mesma que seria uma coisa boa quando esta paixonite por seu patr?o se acalmasse. Alguns minutos depois, Ryan reuniu-se a eles na cozinha e Cassie viu que ele trazia uma sacola de papel?o. – Trouxe presentes para todos – ele anunciou. – O que voc? trouxe para mim? – Madison perguntou. – Paci?ncia, docinho. Vamos nos sentar primeiro. Quando as crian?as estavam sentadas ? mesa, ele abriu a sacola. – Maddie, trouxe isto para voc?. Era uma blusa preta justa com um slogan rosa cintilante escrito de ponta cabe?a. “Esta ? minha camiseta de plantar bananeira”, o slogan dizia. – Ai, ? t?o linda. Mal posso esperar para vesti-la na gin?stica – Madison disse, sorrindo em deleite enquanto virava a camiseta, observando a luz refletindo nos brilhos. – Isto, Dylan, ? para voc?. O presente dele era uma camiseta de ciclista de manga-longa amarelo neon. – Legal, pai. Obrigado. – Espero que te ajude a ficar em seguran?a, agora que as manh?s est?o come?ando a ficar escuras. E para voc?, Cassie, eu comprei isso. Para a admira??o de Cassie, Ryan tirou da sacola um par de luvas elegantes e quentes. Os olhos dela arregalaram-se ao perceber que eram quase id?nticas ?s luvas que ela experimentara na cidade. – Nossa, elas s?o absolutamente lindas e ser?o muito ?teis. Para sua consterna??o, Cassie percebeu que estava agonizando em sua paixonite outra vez, imaginando-se com as luvas enquanto se sentava na ?rea externa e tomava vinho com ele. – Tomara que seja o tamanho certo. Fiz o melhor para imaginar suas m?os quando comprei – Ryan disse. Por um momento, Cassie n?o conseguiu respirar enquanto se perguntava se ele estaria pensando da mesma maneira que ela. – Ent?o, voc?s se divertiram hoje? – Ryan perguntou. – Nos divertimos muito. Tinha um m?gico na cidade. Ele me deu um boneco de neve, e fez um truque com Dylan e pegou cinco libras dele, mas depois Cassie adivinhou onde a carta estava e ganhou a carta, mas n?o o dinheiro. – Qual carta ela ganhou? – Ryan perguntou ? sua filha. – A rainha de copas, da? o m?gico disse que o amor est? chegando para ela. Cassie tomou um gole de suco de laranja porque n?o sabia para onde olhar, com vergonha de encontrar o olhar de Ryan. – Bem, acho que Cassie merece esta carta e tudo o que ela traz – Ryan disse, e ela quase derramou o suco ao baixar o copo. – O que fizeram depois disso? – ele perguntou. – No caminho para o ?nibus, come?amos a conversar sobre desviar a aten??o e a Cassie desviou a minha e roubou a minha ma?? do amor! As palavras explodiam de Madison e, embora Dylan estivesse ocupado demais comendo pizza para falar muito, ele assentia com entusiasmo. – Tamb?m compramos algo para voc? – Cassie disse e, timidamente, entregou as castanhas-de-caju. – Minhas favoritas! Tenho um dia cheio amanh? e as levarei comigo para o almo?o. Que mimo. Muito obrigado por este presente t?o atencioso. Ao dizer as ?ltimas palavras, ele olhou diretamente para Cassie e seus olhos azuis seguraram os dela por alguns momentos. Depois que as pizzas foram devoradas – Cassie n?o estava com muito apetite, mas os outros tinham compensado isto acabando com todos os peda?os –, ela levou as crian?as para a sala de estar para o tempo de TV permitido. Ap?s assistirem um show de talentos de que todos gostavam, ela os colocou na cama. Madison ainda estava empolgada com as aventuras do dia e com o show de talentos, que apresentara dois grupos escolares de gin?stica. – Acho que quero ser ginasta um dia – ela disse. – ? preciso trabalho ?rduo, mas, se ? seu sonho, voc? deve segui-lo – Cassie aconselhou. – Sinto que n?o consigo dormir. – Quer conversar mais? Ou eu deveria ler uma hist?ria? Cassie tentou n?o ficar impaciente ao pensar em Ryan, sentado na ?rea externa com seu vinho, esperando por ela. Ou talvez ele n?o fosse esperar e, em vez disso, fosse se recolher mais cedo. Neste caso, ela perderia a oportunidade de contar a ele sobre o furto de Dylan. A mem?ria a tomou de sobressalto. Em sua felicidade pelo presente estimado e as conversas ? mesa do jantar, havia se esquecido do incidente desagrad?vel. Era sua obriga??o contar a Ryan, mesmo que isso acabasse estragando o que havia sido um dia maravilhoso. – Eu gostaria de ler um pouco. Remexendo-se, Madison saiu debaixo dos len??is, foi at? a estante e selecionou um livro que ela obviamente lera muitas vezes, porque a lombada estava vincada e as p?ginas tinham orelhas. – Esta hist?ria ? de uma menina normal que se torna uma bailarina. Eu gosto muito, ? empolgante. Toda vez que leio fico animada. Voc? acha que isso ? estranho? – N?o, de forma alguma. As melhores hist?rias sempre nos fazem sentir assim – Cassie disse. – Cassie, ser? que ensinam gin?stica no col?gio interno? O col?gio interno, outra vez, sendo mencionado. Cassie fez uma pausa. – Sim, especialmente j? que os col?gios internos geralmente s?o maiores. T?m muitas instala??es esportivas, eu acho. Madison pareceu satisfeita com a resposta, mas depois pensou em outra coisa. – Os col?gios internos permitem que eu fique l? nas f?rias? – N?o, voc? tem que vir para casa nas f?rias. Por que voc? ia querer ficar na escola? Cassie esperava que Madison fosse responder, mas ela puxou o cobertor at? o queixo e abriu o livro. – S? curiosidade. Boa noite. Depois eu apago a luz. – Vou vir olhar voc? – Cassie prometeu antes de fechar a porta. Ela correu at? seu quarto, pegou seu casaco e colocou suas lindas luvas novas, apressando-se para a varanda. Para seu al?vio, Ryan ainda estava l?. Na realidade, ela descobriu com um choque de felicidade que ele havia esperado por ela para servir o vinho. Assim que a viu, ele se levantou, movendo a cadeira dela para perto da sua e afofando a almofada antes que ela se sentasse. – Sa?de. Muito obrigado por hoje. ? a melhor sensa??o do mundo, ver as crian?as t?o felizes. – Sa?de. Ao encostar sua ta?a na dele, ela se lembrou de que n?o fora um dia perfeito. Um incidente grave acontecera. Como ela contaria a ele? E se ele a criticasse e dissesse que ela deveria ter lidado com aquilo de outro jeito? Seria melhor abordar o assunto aos poucos, ela decidiu, em forma de conversa. Torceu para que Ryan abordasse o assunto de seu div?rcio novamente, porque forneceria a abertura perfeita para ela dizer, “Sabe, acho que este div?rcio talvez esteja perturbando Dylan mais do que imaginamos, porque logo que Madison mencionou sua m?e, ele roubou uns doces de uma loja”. Eles conversaram por um tempo sobre o clima – amanh? provavelmente seria um dia ?timo – e sobre o cronograma das crian?as. Ryan explicou que o ?nibus escolar os buscaria ?s sete e trinta, hor?rio em que ele j? teria sa?do, e que as crian?as diriam a ela a que horas a escola acabava, e se precisavam ser levados para alguma atividade. – Temos um calend?rio na parte de dentro do meu arm?rio, se quiser checar – ele disse. – Atualizo sempre que h? alguma mudan?a nos hor?rios. – Muito obrigada. Vou checar se precisar – Cassie disse. – Sabe – Ryan disse, e Cassie ficou tensa, drenando o resto de seu vinho, porque o tom de voz dele mudou, ficando mais s?rio. Ela tinha certeza que ele mencionaria o div?rcio, o que significava que era hora de abordar o dif?cil t?pico do furto de Dylan. Ele reabasteceu as ta?as antes de continuar. – Sabe, voc? ficou bastante na minha mente hoje. Assim que vi aquelas luvas, pensei em voc? e percebi o quanto gostei da nossa conversa ontem. As luvas eram apenas uma maneira de dizer que eu adoraria se voc? passasse todas as noites aqui fora, comigo. Por um momento, Cassie n?o soube o que dizer. N?o conseguia acreditar no que Ryan acabara de dizer. Ent?o, conforme as palavras dele eram absorvidas, ela sentiu a felicidade a preencher. – Ficarei feliz por fazer isso. Adorei passar tempo com voc? ontem ? noite. Ela queria dizer mais, mas se conteve. Precisava ter cuidado ao derramar as emo??es que cresciam dentro dela, pois o coment?rio de Ryan poderia ser apenas uma gentileza. – Elas serviram bem? – Ele tomou a m?o esquerda dela em sua palma e passou o ded?o gentilmente sobre os dedos dela. – Sim, servem perfeitamente. E n?o sinto frio com elas. Seu cora??o batia t?o r?pido que ela se perguntava se ele era capaz de sentir seu pulso martelando enquanto acariciava o punho dela com o ded?o antes de solt?-lo. – Admiro tanto voc?, dando um passo t?o grande ao viajar para o exterior. Decidiu fazer isso sozinha? Ou com uma amiga? – Sozinha – Cassie disse, contente que ele apreciasse o que aquilo exigia. – Isso ? incr?vel. O que a sua fam?lia pensou? Cassie n?o queria mentir, ent?o fez o melhor para contornar a quest?o. – Todos me apoiaram. Amigos, fam?lia, meus antigos empregadores. Alguns amigos me disseram que eu sentiria falta de casa e voltaria logo, mas isso n?o aconteceu. – E voc? deixou algu?m especial para tr?s? Um namorado, talvez? Cassie mal conseguia respirar ao compreender o que a pergunta implicava. Ryan estava insinuando algo? Ou era apenas uma pergunta para puxar conversa, descobrir mais sobre ela? Precisava ser cautelosa, porque estava t?o deslumbrada com ele que poderia facilmente tagarelar algo inapropriado. – N?o tenho namorado. Namorei um cara no in?cio do ano, nos Estados Unidos, mas terminamos pouco antes de eu vir embora. Aquilo n?o era verdade. Ela terminara com seu ex-namorado abusivo somente algumas semanas antes de partir e uma das principais raz?es para viajar para o exterior era ficar o mais longe poss?vel, para que ele n?o pudesse segui-la e ela n?o mudasse de ideia. Cassie n?o podia contar a Ryan a vers?o correta. Aqui e agora, assistindo a crista branca das ondas distantes rolando at? a praia, queria que ele pensasse que seu ?ltimo relacionamento pertencia a um passado distante. Que ela estava serena, sem cicatrizes, pronta para um novo amor. – Fico feliz por ter me contado isso. Seria errado da minha parte n?o ter certeza – Ryan disse, suavemente. – E eu presumo que voc? deve ter sido quem terminou, porque n?o vejo como poderia ter sido o contr?rio. Cassie o encarou, hipnotizada pelos p?lidos olhos azuis, sentindo-se como em um sonho. – Sim, terminei. N?o estava dando certo e tive que tomar uma decis?o dif?cil. Ele assentiu. – Foi o que pressenti em voc? na primeira vez que nos falamos. Sua for?a interna. Esta habilidade de saber o que voc? quer e lutar por isso, e ainda ter esta empatia incr?vel, gentileza e sabedoria. – Bem, n?o sei se “sabedoria”. N?o me sinto muito s?bia na maior parte do tempo. Ryan riu. – Isso ? porque voc? est? ocupada demais vivendo a vida para ser excessivamente introspectiva. Outra ?tima qualidade. – Ei, acho que enquanto estiver aqui, posso aprender com um especialista nesta quest?o – ela rebateu. – A vida n?o ? mais divertida quando dividimos com algu?m que a faz valer a pena? As palavras dele eram de provoca??o, mas seu rosto estava s?rio e ela descobriu que n?o conseguia desviar o olhar. – Sim, definitivamente – ela sussurrou. Isso n?o parecia uma conversa normal. Significava algo a mais. Tinha que significar. Ryan repousou sua ta?a e pegou a m?o dela, ajudando-a a se levantar da almofada funda. O bra?o dele envolveu sua cintura de forma casual por alguns instantes enquanto ela se virou para entrar. – Espero que durma bem – ele disse, quando chegaram ? porta do quarto dela. A m?o dele ro?ou na lombar dela quando ele se inclinou em dire??o a ela; por um momento, seus olhos at?nitos absorveram o formato da boca dele, sensual e firme, emoldurado pelo suave contorno da barba por fazer. Ent?o, os l?bios dele tocaram os dela por um breve momento antes que ele se afastasse, dizendo, suavemente – Boa noite. Cassie observou at? que ele fechasse a porta do quarto e, em seguida, sentindo-se como se flutuasse no ar, checou se a luz do quarto de Madison estava apagada e retornou ao seu quarto. Com um choque, ela se deu conta de que havia se esquecido de contar a Ryan sobre o furto. N?o teve a oportunidade. A noite n?o tinha seguido por aquele caminho. Fora em uma dire??o completamente diferente, inesperada, que tinha a deixado se sentindo maravilhada e esperan?osa, cheia de expectativas. Com aquele beijo, ela sentia que a porta tinha se aberto e o que ela vislumbrava adiante era algo que poderia mudar completamente seu mundo. As inten??es dele eram amig?veis? Ou queriam dizer algo a mais? Ela n?o tinha certeza, mas achava que sim. A incerteza a deixava nervosa e excitada, mas de um jeito bom. De volta ao quarto, ela checou suas mensagens outra vez e viu que Renee havia respondido. “A mulher disse que estava ligando de um telefone p?blico. Ent?o, n?o tinha n?mero. Se ela ligar outra vez, vou perguntar o nome”. Ao ler a mensagem, Cassie teve uma ideia repentina. A mulher misteriosa havia ligado de um telefone p?blico, receosa em repassar suas informa??es, e contatara uma das amigas de escola de Cassie que era uma das ?nicas que ainda morava em sua cidade natal. O pai de Cassie se mudara de onde ela havia crescido. Ele se mudara diversas vezes, mudando de emprego, de namoradas, perdendo seu telefone quase todas as vezes que entrava em uma bebedeira. Ela n?o tinha contato com ele h? muito tempo e nunca mais queria v?-lo. Ele estava envelhecendo, sua sa?de estava fr?gil e ele tinha criado a vida que merecia. No entanto, isso significava que ele n?o podia mais ser encontrado por familiares buscando entrar em contato. Ela mesma n?o saberia como encontrar seu pai agora. Havia uma chance – uma chance que parecia mais forte quanto mais ela pensava nisso – de que a mulher que havia ligado era sua irm?, Jacqui, esfor?ando-se para rastrear Cassie novamente. Uma antiga amiga de escola seria a ?nica conex?o, tirando as m?dias sociais, algo que Jacqui n?o tinha. Cassie buscava por ela com frequ?ncia, procurando sempre que tinha tempo, na esperan?a de que seu trabalho de detetive pudesse revelar uma pista do paradeiro de sua irm?. Arrepios formigaram na espinha de Cassie ao considerar a possibilidade de que havia sido Jacqui quem ligara. N?o queria dizer que Jacqui estivesse em uma boa situa??o, mas ela nunca pensara que sua irm? estivesse bem. Se Jacqui estivesse bem estabelecida, com um emprego est?vel e um apartamento, teria entrado em contato h? muito tempo. Quando pensava em Jacqui, Cassie sempre imaginava incerteza, precariedade. Visualizava uma vida oscilando em um equil?brio fr?gil – entre o dinheiro e a pobreza, as drogas e a reabilita??o, os namorados e os agressores, quem poderia saber os detalhes? Quanto mais incerta a vida de Jacqui, mais dif?cil seria para ela entrar em contato com a fam?lia que abandonara tempos atr?s. Talvez suas circunst?ncias n?o permitissem, ou ela se envergonhasse da situa??o em que estava. Poderia passar semanas ou meses na estrada ou fora de circula??o, embriagada at? perder a cabe?a ou implorando por comida, e quem sabe o que mais? Cassie decidiu que teria f? e arriscaria a chance de que era Jacqui tentando alcan??-la. Rapidamente, sabendo que Ryan desligaria o Wi-Fi a qualquer momento, enviou uma mensagem a Renee. “Pode ser minha irm?. Se ela ligar outra vez, por favor, d? meu n?mero a ela”. Esperando que seu palpite estivesse certo, Cassie fechou os olhos, sentindo ter feito o que podia para reestabelecer contato com a ?nica fam?lia com a qual ainda se importava. CAP?TULO OITO A manh? seguinte foi um caos organizado enquanto Cassie tentava ajudar as crian?as a se vestirem para a escola. Itens do uniforme estavam sumidos, sapatos estavam enlameados, meias estavam desparceiradas. Viu-se correndo de um lado para o outro, da cozinha at? os quartos, fazendo malabarismo entre preparar o caf? da manh? e todo o resto. As crian?as devoraram com gana o ch?, as torradas e geleias antes de retomar a busca por itens escolares que pareciam ter migrado para um universo alternativo durante o fim de semana. – Perdi meu distintivo! – Madison anunciou, vestindo seu blazer. – Como ele ?? – Cassie perguntou, seu cora??o afundando. Havia pensado que eles finalmente estivessem prontos. – ? redondo e verde-claro. N?o posso ir para a escola sem ele, fui capit? da classe na semana passada e outra pessoa precisa ganhar o b?ton hoje. Em puro p?nico, Cassie ficou de joelhos e procurou no quarto inteiro, eventualmente encontrando o distintivo no ch?o do arm?rio. Ap?s a crise evitada, Dylan gritou que seu estojo de l?pis tinha sumido. Foi somente ap?s as crian?as sa?rem que Cassie o encontrou atr?s da gaiola do coelho, correndo pela estrada at? o ponto de ?nibus onde as crian?as estavam esperando. Quando embarcaram no ?nibus em seguran?a, ela respirou profundamente e os pensamentos felizes da noite anterior borbulharam dentro dela outra vez. Enquanto arrumava a casa, repassou a intera??o entre ela e Ryan em sua cabe?a. Ele tinha flertado, ela tinha certeza. O modo como a tocara, pegando sua m?o, perguntando se ela tinha namorado. Por si s?, aquela era uma pergunta inocente, mas ele dissera algo a mais. “Seria errado da minha parte n?o ter certeza”. Aquilo indicava que ele estava perguntando por uma raz?o. Para ter certeza. E aquele beijo. Ela fechou os olhos ao pensar nele, sentindo o calor desabrochando dentro dela. Tinha sido t?o inesperado, t?o perfeito. Parecera amig?vel, mas como se ele quisesse dizer algo a mais com o gesto. Era imposs?vel dizer. Ela sentia-se cheia de incerteza, mas de uma forma positiva. A manh? passou voando e, como Ryan dissera que voltaria tarde, ela decidiu come?ar a preparar o jantar. Possu?a um repert?rio muito limitado de pratos, mas havia uma prateleira na cozinha repleta de livros de receitas. Cassie escolheu um livro para jantares em fam?lia. Ela presumira que o livro fosse de Ryan, mas surpreendeu-se ao descobrir uma mensagem escrita ? m?o na primeira p?gina: “Feliz anivers?rio, Trish”. Ent?o, o livro era de Trish. Ela deveria ter sido presenteada por algum amigo; talvez um amigo que n?o tivesse percebido que Ryan era quem cozinhava mais. De todo modo, ela n?o levara o livro embora com ela. Os pensamentos de Cassie foram interrompidos por uma batida alta na porta de entrada. Apressou-se para atender. Um homem com roupas de couro preto estava parado do lado de fora. Uma grande motocicleta estava estacionada na cal?ada, atr?s dele. Assim que Cassie abriu a porta, ele deu um passo adiante, de modo ? quase entrar pela porta, invadindo o espa?o pessoal dela. Ele era alto, de ombros largos, com cabelos escuros espetados e um bigode. Ela pressentiu uma leve agressividade na forma como ele entrou e na express?o dele ao olhar para ela. Ela deu um passo atr?s, perturbada com a presen?a invasiva. Desejou ter travado a porta com a corrente interna antes de atender, mas n?o tinha considerado necess?rio neste pequeno e tranquilo vilarejo. – Essa ? a resid?ncia dos Ellis? – o homem perguntou. – ?, sim – Cassie disse, perguntando-se do que se tratava isto. – O senhor Ryan Ellis est? hoje? – N?o, est? no trabalho. Posso ajud?-lo? Por dentro, Cassie estava entrando em p?nico. Para sua pr?pria seguran?a, ela deveria ter dito que Ryan tinha ido at? a casa dos vizinhos. N?o sabia quem era este homem. Ele era insistente e arrogante, e isso n?o era jeito de um entregador interagir com um cliente. – E voc? ?? – o homem sorriu de leve, apoiando uma das m?os na moldura da porta. – Sou a au pair – Cassie disse, defensivamente, lembrando-se tarde demais que deveria ter dito que era uma amiga da fam?lia. – Ah, ent?o ele te contratou? Est? te pagando, ?? De onde voc? vem? Estados Unidos? Cassie sentiu-se sem ar. N?o esperara por isto, de forma alguma, pensando imediatamente na gar?onete demitida da qual a gerente da casa de ch? lhe contara no dia anterior. Ela n?o o respondeu. Em vez disso, repetiu – Como posso te ajudar? Torceu para que ele n?o percebesse o quanto ela estava aterrorizada. – Tenho uma entrega especial para o Sr. Ryan Ellis. Êîíåö îçíàêîìèòåëüíîãî ôðàãìåíòà. Òåêñò ïðåäîñòàâëåí ÎÎÎ «ËèòÐåñ». Ïðî÷èòàéòå ýòó êíèãó öåëèêîì, êóïèâ ïîëíóþ ëåãàëüíóþ âåðñèþ (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=56037853&lfrom=688855901) íà ËèòÐåñ. Áåçîïàñíî îïëàòèòü êíèãó ìîæíî áàíêîâñêîé êàðòîé Visa, MasterCard, Maestro, ñî ñ÷åòà ìîáèëüíîãî òåëåôîíà, ñ ïëàòåæíîãî òåðìèíàëà, â ñàëîíå ÌÒÑ èëè Ñâÿçíîé, ÷åðåç PayPal, WebMoney, ßíäåêñ.Äåíüãè, QIWI Êîøåëåê, áîíóñíûìè êàðòàìè èëè äðóãèì óäîáíûì Âàì ñïîñîáîì.
Íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë Ëó÷øåå ìåñòî äëÿ ðàçìåùåíèÿ ñâîèõ ïðîèçâåäåíèé ìîëîäûìè àâòîðàìè, ïîýòàìè; äëÿ ðåàëèçàöèè ñâîèõ òâîð÷åñêèõ èäåé è äëÿ òîãî, ÷òîáû âàøè ïðîèçâåäåíèÿ ñòàëè ïîïóëÿðíûìè è ÷èòàåìûìè. Åñëè âû, íåèçâåñòíûé ñîâðåìåííûé ïîýò èëè çàèíòåðåñîâàííûé ÷èòàòåëü - Âàñ æä¸ò íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë.