За нить посадочных огней, Хватаясь истощенным взглядом, Уже не думаю о ней, Со мной делившей небо рядом: Провалы, реки забытья, И неожиданные "горки", Полетный транс небытия Под апельсиновые корки, Тягучий, нудный гул турбин - Сраженье воздуха и веса, В стаканах плавленный рубин, Что разносила стюардесса, Искусно выделанный страх, Под отрешенно

Apenas os Dignos

Apenas os Dignos Morgan Rice O Caminho da Robustez #1 De Morgan Rice, a autora do best-seller n?1 do O ANEL DO FEITICEIRO, chega uma nova s?rie de fantasia fascinante. APENAS OS DIGNOS (O Caminho da Robustez – Livro n?1) narra a hist?ria ?pica da transi??o da adolesc?ncia para a vida adulta de Royce, 17, um campon?s que sente que, com suas habilidades de luta especiais, ? diferente de todos os outros rapazes da sua aldeia. Dentro de si, reside um poder que ele n?o entende e um destino oculto que ele tem medo de enfrentar. No dia em que est? para casar com o seu verdadeiro amor, Genevieve, ela ? levada para longe dele. Royce escolhe arriscar tudo para enfrentar os nobres que a levaram e para tentar salvar o seu amor. Ao falhar, ele ? condenado ? infame Ilha Negra, uma ilha ?rida de guerreiros conhecidos por transformar rapazes em homens. Banido da sua p?tria, Royce tem de efetuar treinos que nem imagina enquanto ? ensinado a sobreviver ?s c?lebres Arenas – o brutal desporto sangrento do reino. Genevieve, por sua vez, desesperada pelo regresso de Royce, ? for?ada a navegar pelo mundo cruel e conivente da aristocracia encontrando-se imersa num mundo que despreza. No entanto, quando os poderes de Royce se tornam mais fortes e ele fica a saber que existe um segredo por detr?s da misteriosa linhagem do seu pai, ele come?a a perceber que o seu destino pode ser melhor do que pensava. Ele come?a a indagar-se sobre a quest?o mais terr?vel de todas: quem ? ele?APENAS OS DIGNOS tece um conto ?pico de amigos e amantes, de cavaleiros e honra, de trai??o, destino e amor. Um conto de valentia, que nos leva para um mundo de fantasia pelo qual nos vamos apaixonar e que apela a todas as idades e sexos. Morgan Rice Apenas os Dignos (O Caminho da Robustez – Livro n 1) Morgan Rice Morgan Rice ? a best-seller n?1 e a autora do best-selling do USA TODAY da s?rie de fantasia ?pica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por dezassete livros; do best-seller n?1 da s?rie OS DI?RIOS DO VAMPIRO, composta por onze livros (a continuar); do best-seller n?1 da s?rie TRILOGIA DA SOBREVIV?NCIA, um thriller p?s-apocal?ptico composto por dois livros (a continuar); e da nova s?rie de fantasia ?pica REIS E FEITICEIROS, composta por tr?s livros (a continuar). Os livros de Morgan est?o dispon?veis em ?udio e vers?es impressas e as tradu??es est?o dispon?veis em mais de 25 idiomas. Morgan adora ouvir a sua opini?o, pelo que, por favor, sinta-se ? vontade para visitar www.morganricebooks.com (http://www.morganricebooks.com/) e juntar-se ? lista de endere?os eletr?nicos, receber um livro gr?tis, receber ofertas, fazer o download da aplica??o gr?tis, obter as ?ltimas not?cias exclusivas, ligar-se ao Facebook e ao Twitter e manter-se em contacto! Sele??o de aclama??es para Morgan Rice "Se pensava que j? n?o havia motivo para viver depois do fim da s?rie O ANEL DO FEITICEIRO, estava enganado. Em A ASCENS?O DOS DRAG?ES Morgan Rice surgiu com o que promete ser mais uma s?rie brilhante, fazendo-nos imergir numa fantasia de trolls e drag?es, de valentia, honra, coragem, magia e f? no seu destino. Morgan conseguiu mais uma vez produzir um conjunto forte de personagens que nos faz torcer por eles em todas as p?ginas… Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores que adoram uma fantasia bem escrita."     --Books and Movie Reviews     Roberto Mattos "Uma a??o carregada de fantasia que ir? certamente agradar aos f?s das hist?rias anteriores de Morgan rice, juntamente com os f?s de trabalhos tais como O CICLO DA HERAN?A de Christopher Paolini…F?s de fic??o para jovens adultos ir?o devorar este ?ltimo trabalho de Rice e suplicar por mais."     --The Wanderer, A Literary Journal (referente a Ascens?o dos Drag?es) "Uma fantasia espirituosa que entrela?a elementos de mist?rio e intriga no seu enredo. A Busca de Her?is tem tudo a ver com a cria??o da coragem e com a compreens?o do prop?sito da vida e como estas levam ao crescimento, maturidade e excel?ncia… Para os que procuram aventuras de fantasia com sentido, os protagonistas, estratagemas e a??es proporcionam um conjunto vigoroso de encontros que se relacionam com a evolu??o de Thor desde uma crian?a sonhadora a um jovem adulto que procura a sobreviv?ncia apesar das dificuldades… Apenas o princ?pio do que promete ser uma s?rie de literatura juvenil ?pica."     --Midwest Book Review (D. Donovan, eBook Reviewer) "O ANEL DO FEITICEIRO re?ne todos os ingredientes para um sucesso instant?neo: enredos, intrigas, mist?rio, valentes cavaleiros e relacionamentos que florescem repletos de cora??es partidos, decep??es e trai??es. O livro manter? o leitor entretido por horas e agradar? a pessoas de todas as idades. Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores do g?nero de fantasia."     --Books and Movie Reviews, Roberto Mattos. "Neste primeiro livro cheio de a??o da s?rie de fantasia ?pica Anel do Feiticeiro (que conta atualmente com 14 livros), Rice introduz os leitores ao Thorgrin "Thor" McLeod de 14 anos, cujo sonho ? juntar-se ? Legi?o de Prata, aos cavaleiros de elite que servem o rei… A escrita de Rice ? s?lida e a premissa intrigante."     --Publishers Weekly Livros de Morgan Rice O CAMINHO DA ROBUSTEZ APENAS OS DIGNOS (Livro n?1) DAS COROAS E GL?RIA ESCRAVA, GUERREIRA E RAINHA (Livro n?1) REIS E FEITICEIROS A ASCENS?O DOS DRAG?ES (Livro n?1) A ASCENS?O DOS BRAVOS (Livro n?2) O PESO DA HONRA (Livro n?3) UMA FORJA DE VALENTIA (Livro n?4) UM REINO DE SOMBRAS (Livro n?5) A NOITE DOS CORAJOSOS (Livro n?6) O ANEL DO FEITICEIRO EM BUSCA DE HER?IS (Livro n?1) UMA MARCHA DE REIS (Livro n?2) UM DESTINO DE DRAG?ES (Livro n?3) UM GRITO DE HONRA (Livro n?4) UM VOTO DE GL?RIA (Livro n?5) UMA CARGA DE VALOR (Livro n?6) UM RITO DE ESPADAS (Livro n?7) UM ESCUDO DE ARMAS (Livro n?8) UM C?U DE FEITI?OS (Livro n?9) UM MAR DE ESCUDOS (Livro n?10) UM REINADO DE A?O (Livro n?11) UMA TERRA DE FOGO (Livro n?12) UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro n? 13) UM JURAMENTO DE IRM?OS (Livro n? 14) UM SONHO DE MORTAIS (Livro n? 15) UMA JUSTA DE CAVALEIROS (Livro n? 16) O PRESENTE DA BATALHA (Livro n? 17) TRILOGIA DE SOBREVIV?NCIA ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro n? 1) ARENA DOIS (Livro n? 2) ARENA TR?S (Livro n? 3) VAMPIRO, APAIXONADA ANTES DO AMANHECER (Livro n? 1) MEM?RIAS DE UM VAMPIRO TRANSFORMADA (Livro n? 1) AMADA (Livro n? 2) TRA?DA (Livro n? 3) PREDESTINADA (Livro n? 4) DESEJADA (Livro n? 5) COMPROMETIDA (Livro n? 6) PROMETIDA (Livro n? 7) ENCONTRADA (Livro n? 8) RESSUSCITADA (Livro n? 9) ALMEJADA (Livro n? 10) DESTINADA (Livro n? 11) OBCECADA (Livro n? 12) Oi?a a s?rie O ANEL DO FEITICEIRO em formato Audiobook! Copyright © 2016 por Morgan Rice. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos de Autor dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publica??o pode ser reproduzida, distribu?da ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recupera??o, sem a autoriza??o pr?via da autora. Este e-book ? licenciado para o seu uso pessoal.  Este e-book n?o pode ser revendido ou cedido a outras pessoas.  Se quiser compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma c?pia adicional para cada destinat?rio.  Se est? a ler este livro e n?o o comprou, ou se ele n?o foi comprado apenas para seu uso pessoal, por favor, devolva-o e adquira a sua pr?pria c?pia. Obrigado por respeitar o trabalho ?rduo desta autora. Esta ? uma obra de fic??o.  Nomes, personagens, empresas, organiza??es, lugares, eventos e incidentes s?o produto da imagina??o da autora ou foram usados de maneira fict?cia.  Qualquer semelhan?a com pessoas reais, vivas ou falecidas, ? mera coincid?ncia. Imagem da capa Copyright Dm_Cherry, usada com autoriza??o da Shutterstock.com. A palavra do Senhor veio at? mim, dizendo: "Antes de te formar no ventre eu conhecia-te e antes de nasceres eu santifiquei-te; nomeie-te profeta para as na??es." Mas eu disse: "Ai, meu Senhor, eu n?o sei falar; eu sou muito jovem." Mas o Senhor disse-me: "N?o digas: 'Eu sou muito jovem.’ Em vez disso, onde quer que eu te envie, ir?s; e tudo o que eu te ordenar, falar?s. N?o os temas, porque eu estou contigo e salvar-te-ei."     Jeremias 1: 4-7 PARTE UM CAP?TULO UM Rea sentou-se na sua simples cama, a transpirar, despertada pelos guinchos que rasgavam a noite. O seu cora??o batia com for?a e ela sentou-se no escuro, esperando que n?o fosse nada, que fosse apenas mais um dos pesadelos que a vinham a assolar. Ela agarrou a borda do seu barato colch?o de palha e p?s-se ? escuta, a rezar, desejando que a noite ficasse em sil?ncio. Por?m, Rea ouviu mais um guincho e encolheu-se. Em seguida, mais outro. Eles estavam a ficar cada vez mais frequentes – e cada vez mais pr?ximos. Em p?nico, Rea ficou ali sentada a ouvir os guinchos a aproximarem-se. Acima do som da forte chuva ouvia tamb?m o som de cavalos, fraco no in?cio. Depois, ouvia o som caracter?stico de espadas a serem desembainhadas. Mas nenhum daqueles sons era mais alto do que os guinchos. E, ent?o, um novo som surgiu, um que, se ? que era poss?vel, era ainda pior: o crepitar das chamas. Rea ficou desolada ao perceber que a sua aldeia estava a ser incendiada. Isso s? poderia significar uma coisa: os nobres tinham chegado. Rea saltou da cama, batendo com o joelho nas trempes, o seu ?nico bem na sua simples cabana de um quarto, come?ando a correr para fora de casa. Ela saiu para a rua lamacenta, para a chuva quente da primavera, que a molhou instantaneamente. No entanto, ela n?o se importava. Ela pestanejava na escurid?o, tentando ainda libertar-se do seu pesadelo. A toda ? sua volta, abriam-se persianas, abriam-se portas e os seus companheiros de aldeia saiam hesitantemente das suas casas. Ali estavam todos a olhar para a ?nica e simples estrada sinuosa na aldeia. Rea olhava juntamente com eles. Ao longe avistou um brilho. Ficou preocupada. Era uma chama que se propagava. Viver ali, na parte mais pobre da cidade, escondida atr?s dos labirintos contorcidos que golpeavam o seu caminho desde a principal pra?a da cidade, era, num momento como aquele, uma b?n??o: pelo menos ali ela estaria em seguran?a. Nunca ningu?m ia ali, ?quela parte mais pobre da cidade, ?quelas casas prestes a desmoronarem-se onde s? os servos viviam, onde o mau cheiro das ruas for?ava as pessoas a manterem-se ? dist?ncia. Tinha-se sempre parecido como um gueto de onde Rea n?o conseguia sair. No entanto, enquanto observava as chamas a alumiar a noite, Rea, pela primeira vez, sentia-se aliviada por viver ali atr?s, escondida. Os nobres nunca se dariam ao trabalho de tentar navegar pelas ruas labir?nticas e becos traseiros que iam at? l?. N?o havia nada para pilhar ali, afinal. Rea sabia que era por isso que os seus vizinhos pobres apenas estavam ali fora das suas casas, sem entrar em p?nico, mas apenas assistindo. Era por isso que, tamb?m, nenhum deles tinha tentado correr em aux?lio dos moradores no centro da cidade, aqueles ricos que os haviam olhado de cima para baixo durante toda a sua vida. Eles n?o lhes deviam nada. Os pobres ali, pelo menos, estavam a salvo e n?o arriscariam as suas vidas para salvar aqueles que os haviam tratado como menos do que nada. E por?m, Rea observava a noite, ficando desconcertada ao ver as chamas a aproximarem-se e a noite a ficar mais brilhante. O brilho estava claramente a espalhar-se, fazendo o seu caminho a rastejar em dire??o a ela. Ela pestanejou, questionando-se se os seus olhos a estariam a enganar. N?o fazia qualquer sentido: os saqueadores parecia estar a caminhar na sua dire??o. Os guinchos ouviam-se cada vez mais, ela tinha certeza disso. Ela estremeceu quando, de repente, a quase uma centena de p?s dela, chamas irromperam, emergindo das ruas labir?nticas. Ela ficou ali, atordoada: eles estavam a vir na sua dire??o. Mas porqu?? Assim que terminou de pensar, um cavalo de batalha a galope trovejou pra?a adentro, montado por um cavaleiro feroz vestido com uma armadura toda preta. A viseira estava para baixo, o elmo sinistramente em crista. Empunhando uma alabarda, ele parecia um mensageiro da morte. Mal entrou na pra?a, ele baixou a alabarda na dire??o das costas de um velho corpulento que tentava fugir. O homem n?o teve sequer tempo de gritar antes de a alabarda lhe cortar a cabe?a. Os rel?mpagos enchiam o c?u e os trov?es ressoavam, com a chuva a intensificar-se, enquanto mais uma d?zia de cavaleiros invadiu a pra?a. Um deles erguia um estandarte, que brilhava ? luz das tochas, ainda que Rea n?o conseguisse identificar as ins?gnias. Seguiu-se o caos. Os alde?es entraram em p?nico, viraram-se e correram, gritando, alguns a correr de volta para as suas casas por algum instinto remoto, escorregando na lama, alguns a fugir pelos becos. No entanto, mesmo estes n?o foram muito longe antes de as lan?as voadoras encontrarem um lugar nas suas costas. Ela sabia que a morte n?o pouparia ningu?m naquela noite. Rea n?o tentou fugir. Ela simplesmente chegou-se para tr?s calmamente, enfiou a m?o para l? da porta da sua cabana e sacou de uma espada, uma espada longa que lhe tinha sido dada h? muito tempo, um belo trabalho de artesanato. O som que a espada fez ao ser desembainhada fez o cora??o de Rea acelerar. Era uma obra-prima, uma arma que ela n?o tinha o direito de possuir, herdada de seu pai. Ela n?o sabia como ? que ele pr?prio a havia obtido. Rea caminhou lenta e decididamente para o centro da pra?a da cidade, a ?nica dos seus alde?es com coragem suficiente para resistir, para enfrentar aqueles homens. Ela, uma fr?gil menina de dezassete anos de idade, e sozinha, tinha a coragem de lutar perante o medo. Ela n?o sabia de onde vinha a sua coragem. Ela queria fugir, mas algo profundo dentro dela a proibia de o fazer. Algo dentro dela sempre a levara a enfrentar os seus medos, fossem quais fossem as probabilidades. N?o que ela n?o sentisse pavor; ela sentia-o. Era que outra parte dela permitia-lhe funcionar perante o medo. Desafiando-a a ser mais forte do que ele. Rea ficou ali, com as m?os a tremer, mas obrigando-se a manter o foco. E quando o primeiro cavalo galopou na sua dire??o, ela ergueu a sua espada, aproximou-se, inclinou-se para baixo e cortou as pernas do cavalo. Do?a-lhe faz?-lo, mutilar aquele lindo animal; afinal ela tinha passado a maior parte da sua vida a cuidar de cavalos. Mas o homem tinha levantado a sua lan?a e ela sabia que estava em causa a sua sobreviv?ncia. O cavalo soltou um guincho horr?vel que ela sabia que iria ficar consigo o resto dos seus dias. Ele caiu no ch?o, aterrando de focinho no ch?o e atirando o seu cavaleiro. Os cavalos que vinham tr?s embateram nele, trope?ando e estatelando-se no ch?o num amontoado ? volta dela. Numa nuvem de poeira e caos, Rea girava e enfrentava-os a todos, pronta para morrer ali. Um cavaleiro apenas, numa armadura toda branca, montando um cavalo branco, diferente dos outros, de repente, avan?ou na sua dire??o. Ela ergueu a espada para atacar novamente, mas aquele cavaleiro era demasiado r?pido. Ele movia-se como um rel?mpago. Assim que ela levantou a espada, ele oscilou em arco a sua alabarda para cima, apanhando a l?mina dela, desarmando-a. Ela sentiu-se desamparada quando a sua arma preciosa lhe foi arrancada, navegando num amplo arco atrav?s do ar pousando na lama do outro lado da pra?a. Poderia perfeitamente ter aterrado a um milh?o de milhas de dist?ncia. Rea ficou ali, atordoada por ficar indefesa, mas acima de tudo confusa. Aquele golpe do cavaleiro n?o tinha tido a intens?o de a matar. Porqu?? Antes de ela terminar o pensamento, o cavaleiro, ainda montado, inclinou-se para baixo e agarrou-a; ela sentiu a sua manopla de metal cravando-se no seu peito quando ele agarrou a sua camisa com as duas m?os e num ?nico movimento ergueu-a para cima do seu cavalo, sentando-a ? sua frente. Ela gritou com o choque, aterrando bruscamente no seu cavalo em movimento, firmemente plantada na frente dele, com os bra?os dele ? sua volta, segurando-a com firmeza. Ela mal tinha tempo para pensar, muito menos para respirar. Ele segurava-a com for?a. Rea contorcia-se, sacudindo-se de um lado para o outro, mas de nada valia. Ele era demasiado forte. Ele continuou, atravessando a aldeia a galope, tecendo o seu caminho atrav?s das ruas tortuosas, afastando-se da casa dela. Eles sa?ram rapidamente da aldeia para o campo e, de repente, tudo ficou calmo. Eles afastaram-se a galope para cada vez mais longe do caos, da pilhagem, dos gritos. Rea n?o conseguia deixar de se sentir culpada ao sentir-se momentaneamente aliviada por estar novamente num mundo em paz. Sentia que deveria ter morrido l? atr?s, com o povo. No entanto, quando ele a agarrou com mais for?a, ela percebeu que o seu destino podia ser ainda pior. "Por favor", ela esfor?ou-se por dizer, com dificuldade em sa?rem-lhe as palavras. Mas ele cada vez a segurava com mais for?a e galopava mais rapidamente para o prado, pelas colinas acima e abaixo, ? chuva, at? chegarem a um lugar absolutamente silencioso. Era estranho, t?o calmo e tranquilo ali, como se nada nunca estivesse estado errado no mundo. Finalmente, ele parou num amplo planalto, debaixo de uma ?rvore antiga, uma ?rvore que ela imediatamente reconheceu. Ela se havia sentado debaixo dela muitas vezes anteriormente. Num movimento r?pido, ele desmontou, continuando a segur?-la e levando-a com ele. Eles aterraram no campo molhado, a rebolar e a trope?ar. Rea sentiu-se sem f?lego quando o peso dele aterrou ao lado dela. Ao ca?rem ela reparou que ele poderia ter ca?do em cima dela, poderia t?-la realmente magoado, mas escolheu n?o o fazer. Na verdade, ele caiu de uma forma que amorteceu a queda dela. O cavaleiro rebolou por cima dela, imobilizando-a. Ela olhou para ele, desesperada para ver o seu rosto. Por?m, estava tapado, com a viseira branca para baixo. Apenas via a aparecerem por detr?s das ranhuras do seu elmo uns olhos amea?adores. Ela viu novamente aquela bandeira no cavalo dele e, desta vez, ela olhou bem para a sua ins?gnia: duas cobras, envolvidas ? volta de uma lua, um punhal no meio delas, envolto num c?rculo de ouro. Rea agitava-se, batendo-lhe na armadura. Mas era in?til. Eram umas m?os fr?geis e pequenas a baterem num fato de metal. Era como se ela estivesse a bater numa rocha. "Quem ?s tu?", perguntou ela. "O que queres de mim?" N?o houve nenhuma resposta. Em vez disso, ele agarrou-a com a sua manopla e, quase sem ela dar por isso, ele virou-a, com a cara voltada para o ch?o, puxando o seu vestido. Rea gritou, percebendo o que estava prestes a acontecer. Ela tinha dezassete anos. Ela estava a guardar-se para o homem perfeito. Ela n?o queria que aquilo acontecesse daquela maneira. "N?o!", gritou. "Por favor. Tudo menos isto. Mata-me primeiro!" Mas o cavaleiro n?o queria ouvir e ela sabia que n?o havia como par?-lo. Rea fechou os olhos com for?a, tentando afastar a situa??o, tentando transportar-se para outro lugar, para outro momento, para qualquer lugar menos para ali. O pesadelo dela tinha voltado, aquele do qual havia estado desperta, aquele que tinha tido durante muitas luas. Ela percebeu com temor que era aquilo que ela tinha andado a ver. Esta mesma cena. Esta ?rvore, estas ervas, este planalto. Esta tempestade. De alguma forma, ela havia previsto aquilo. Rea fechou os olhos com mais for?a e tentou imaginar que aquilo n?o estava a acontecer. Ela tentava perceber se era pior no sonho ou na vida real. Rapidamente terminou. Ele parou de se mexer e deitou-se por cima dela, ela entorpecida demais para se mover. Ela ouviu o som do metal a levantar-se, sentindo o peso dele, finalmente, a sair de cima de si. Ela preparou-se, esperando que ele a matasse naquele momento. Ela antecipava o golpe da sua espada. Seria um al?vio muito bem-vindo. "V?", disse ela. "Mata-me." No entanto, para sua surpresa n?o ouviu nenhum som de uma espada, mas sim o som suave de uma corrente delicada. Ela sentiu algo frio e leve a ser-lhe colocado na palma da m?o. Ela olhou, confusa. Ela pestanejou ? chuva e ficou surpreendida ao ver que ele lhe tinha colocado na m?o um colar de ouro, com um pingente na sua extremidade, duas cobras, ? volta de uma lua, com um punhal entre elas. Finalmente, ele falou as suas primeiras palavras. "Quando ele nascer", ouviu-se uma voz profunda e misteriosa, uma voz de autoridade, "d?-lhe isto. E manda-o para mim." Ela ouviu o cavaleiro montar o seu cavalo, apercebendo-se vagamente do seu som a afastar-se. Os olhos de Rea ficaram pesados. Ela estava demasiado exausta para se mexer ali deitada ? chuva. Sentindo-se destro?ada, ela sentiu um doce sono a chegar-lhe e n?o lhe resistiu. Talvez agora, pelo menos, os pesadelos parassem. Antes de deixar o sono aproximar-se, ela olhou fixamente para o colar, o emblema. Apertou-o, sentindo-o na m?o, o ouro t?o espesso, grosso o suficiente para alimentar toda a sua aldeia durante uma vida. Porque ? que ele o tinha dado a ela? Porque ? que ele n?o a tinha matado? A ele, ele tinha dito. N?o a ela. Ele sabia que ela ficaria gr?vida. E ele sabia que seria um rapaz. Como? De repente, antes de um doce sono se apoderar dela, veio-lhe tudo ? mem?ria. A ?ltima pe?a do seu sonho. Um rapaz. Ela tinha dado ? luz a um menino. Um nascimento vindo da f?ria. Da viol?ncia. Um rapaz destinado a ser rei. CAP?TULO DOIS Tr?s Luas Mais tarde Rea ficou sozinha na clareira da floresta, atordoada, perdida no seu pr?prio mundo. Ela n?o ouvia o riacho a gotejar sob os seus p?s, n?o ouvia o chilrear dos p?ssaros na densa floresta ao seu redor, n?o reparava na luz do sol que brilhava atrav?s dos ramos, ou no grupo de veados que a observava de perto. O mundo inteiro tinha-se dissipado e ela olhava apenas para uma coisa: as veias da folha de Ukanda que ela segurava entre os seus dedos tr?mulos. Ela tirou as palmas das suas m?os da ampla folha verde e, lentamente, para seu horror, a cor das veias das folhas mudaram de verde para branco. V?-las mudar era como uma faca no seu cora??o. As folhas de Ukanda n?o mudavam de cor, a n?o ser que a pessoa que lhes tocasse estivesse gr?vida. O mundo de Rea vacilou. Ela tinha perdido toda a no??o de tempo e espa?o enquanto ali tinha estado. O seu cora??o latejava nos seus ouvidos, as suas m?os tremiam e o seu pensamento voltava ?quela naquela noite fat?dica h? tr?s luas atr?s, quando a sua aldeia tinha sido saqueada, muitos dos seus mortos por contar. Quando ele a tinha levado. Ela estendeu a m?o e passou-a sobre a barriga, sentindo uma pequena protuber?ncia, sentindo uma outra onda de n?usea e, finalmente, ela entendeu o porqu?. Estendeu a m?o e tocou o colar de ouro que ela tinha andado a esconder ? volta do pesco?o, bem por dentro da roupa, ? claro, para que os outros n?o o vissem. Ela questionava-se, pela milion?sima vez, quem seria aquele cavaleiro. Por muito que ela as tentasse bloquear, as palavras finais dele n?o paravam de soar na sua cabe?a. Manda-o para mim. Subitamente Rea ouviu um ru?do por tr?s de si e virou-se, assustada, ao ver os olhos redondos de Prud?ncia, sua vizinha, a olhar para ela. Uma menina de catorze anos de idade, que perdeu a sua fam?lia no ataque, uma intrometida sempre muito ansiosa por bisbilhotar qualquer pessoa. Prud?ncia era a ?ltima pessoa que Rea queria que soubesse acerca do que se passava consigo. Rea viu horrorizada os olhos de Prud?ncia a desviaram o olhar da sua m?o para a folha em transforma??o, arregalando-se ao se aperceber. Com um olhar de desaprova??o, Prud?ncia deixou cair a sua cesta de len??is, virou-se e correu. Rea sabia que ela ter sa?do dali a correr apenas poderia significar uma coisa: ela ia informar os alde?es. Rea ficou apavorada e sentiu a primeira onda de medo. Os alde?es iriam exigir que ela matasse o seu beb?, ? claro. Eles n?o queriam nenhuma recorda??o do ataque dos nobres. Mas porque ? que isso a assustava? Ser? que ela queria realmente manter aquela crian?a, o subproduto daquele monstro? O medo de Rea surpreendia-a e, ao pensar nisso, ela percebeu que era perigoso manter o seu beb? seguro. Isso desorientava-a. Intelectualmente, ela n?o queria t?-lo; faz?-lo seria uma trai??o ? sua aldeia e a ela mesma. Isso s? encorajaria os nobres que a tinham invadido. E seria t?o f?cil perder o beb?; ela poderia simplesmente mastigar a raiz Yukaba, e no seu pr?ximo banho, a crian?a morreria. No entanto, visceralmente, ela sentia a crian?a dentro dela e o seu corpo dizia-lhe algo que a sua mente n?o dizia: ela queria ficar com ele. Proteg?-lo. Afinal, era uma crian?a. Rea era uma filha ?nica que nunca tinha conhecido os seus pais, que havia sofrido no mundo sem ningu?m para amar e ningu?m para am?-la. Sempre tinha desesperadamente querido algu?m para amar e algu?m para am?-la tamb?m. Ela estava farta de estar sozinha, de estar em quarentena na sec??o mais pobre da aldeia, de esfregar o ch?o dos outros, de fazer o trabalho ?rduo de manh? ? noite, sem qualquer sa?da. Ela sabia que nunca iria encontrar um homem, dado o seu estado. Pelo menos ningu?m que ela n?o desprezasse. E, provavelmente, nunca iria ter um filho. Rea sentiu uma s?bita onda de vontade. Podia ser a sua ?nica hip?tese, ela percebeu. E agora que ela estava gr?vida, ela percebeu que n?o sabia o quanto desejava aquela crian?a. Ela desejava-a mais do que qualquer coisa. Rea come?ou a caminhar de volta para a sua aldeia, apreensiva, apanhada num remoinho de emo??es misturadas, mal preparada para enfrentar a desaprova??o que, ela sabia, estaria ? sua espera. Os alde?es insistiriam para que nenhum filho dos saqueadores da sua cidade, dos homens que lhes haviam tirado tudo, sobrevivesse. Rea dificilmente poderia culp?-los; engravidar as mulheres era uma t?tica comum dos saqueadores para dominar e controlar as aldeias em todo o reino. ?s vezes eles eram mesmo enviados para isso. E ter um filho s? alimentava o seu ciclo de viol?ncia. Ainda assim, nada disso poderia mudar a forma como ela se sentia. Uma vida vivia dentro dela. Podia senti-la a cada passo que dava. Ela sentia-se mais forte por aquela vida. Ela podia senti-la a cada batimento card?aco, pulsando atrav?s do seu pr?prio. Rea caminhou pelas ruas do centro da aldeia, de volta para a sua cabana de uma assoalhada, sentindo o seu mundo virado do avesso, querendo saber o que pensar. Gr?vida. Ela n?o sabia como estar gr?vida. Ela n?o sabia como dar ? luz uma crian?a. Ou como criar uma. Ela mal conseguia alimentar-se a ela pr?pria. Como ? que ela poderia sustent?-la? No entanto, de alguma forma, ela sentiu uma nova for?a a erguer-se dentro dela. Ela sentia-a a pulsar nas suas veias, uma for?a que ela s? tomara vagamente consci?ncia nestas ?ltimas tr?s luas, mas que agora tinha ficado perfeitamente n?tida. Era uma for?a para al?m dela. A for?a do futuro, da esperan?a. Da possibilidade. De uma vida que ela nunca conseguiria escolher o destino. Era uma for?a que exigia que ela fosse maior do que jamais conseguiria ser. Ao caminhar lentamente pelas ruas de terra, ela come?ou a ficar vagamente consciente do que a rodeava e dos olhos dos alde?es a olhar para ela. Ela virou-se e, em ambos os lados da rua, viu os olhos curiosos e de desaprova??o de mulheres novas e velhas, de homens velhos e rapazes, de sobreviventes solit?rios, de homens mutilados que traziam as cicatrizes daquela noite. Todos transportavam nos seus rostos grande sofrimento. E todos eles olhavam para ela, para a sua barriga, como se ela fosse de alguma forma culpada. Entre eles, ela via mulheres da sua idade, de caras assombradas, olhando para ela sem compaix?o. Muitas delas, Rea sabia, tinham tamb?m sido engravidadas e j? tinham tomado a raiz. Ela conseguia ver a tristeza no seu olhar e conseguia sentir que elas queriam que ela a compartilhasse. Rea sentiu a multid?o a engrossar ? sua volta e quando olhou para cima ficou surpreendida ao ver uma parede de pessoas a bloquearem-lhe o caminho. A vila inteira parecia ter sa?do ? rua, homens e mulheres, jovens e velhos. Ela via a agonia nos seus rostos, uma agonia que ela tinha partilhado. Ela parou e olhou para eles. Ela sabia o que eles queriam. Eles queriam matar o seu filho. Ela sentiu uma repentina onda de desafio – e resolveu naquele momento que nunca o faria. "Rea", ouviu-se uma voz grossa. Severn, um homem de meia-idade com cabelo escuro e barba, uma cicatriz na bochecha feita naquela noite, estava ao centro e olhou para ela, cima abaixo, como se ela fosse um peda?o de gado. Passou-lhe pela cabe?a dela que ele n?o era muito melhor do que os nobres. Eles eram todos iguais: todos achavam que tinham o direito de controlar o seu corpo. "Tu vais tomar a raiz", ele ordenou sombriamente. "Vais tomar a raiz e amanh? tudo isto vai ficar no teu passado." Ao lado de Severn, uma mulher deu um passo adiante. Luca. Ela tamb?m tinha sido atacado naquela noite e tinha tomado a raiz na semana anterior. Rea tinha-a ouvido a gemer durante toda a noite, gritando de dor pelo seu filho perdido. Luca deu-lhe um saco, com o p? amarelo a ver-se l? dentro. Rea recuou. Ela sentiu a aldeia inteira a olhar para ela, esperando que o aceitasse e levasse. "Luca ir? acompanhar-te ao rio. Ela vai ficar contigo durante a noite.", acrescentou Severn. Rea olhava para ele, sentindo uma energia estranha a crescer dentro dela ao olhar para todos eles friamente. Ela n?o disse nada. Os rostos deles endureceram-se. "N?o nos desafies, mi?da", disse outro homem, aproximando-se, segurando a sua foice com for?a at? os seus dedos ficaram brancos. "N?o desonres a mem?ria dos homens e mulheres que perdemos naquela noite, dando vida aos seus filhos. Faz o que esperam de ti. Faz o que tens a fazer." Rea respirou fundo e ficou surpreendida com a for?a da sua pr?pria voz ao responder: "Eu n?o o farei." A sua voz soava-lhe estranha, mais profunda e madura do que nunca. Era como se ela se tivesse tornado numa mulher do dia para a noite. Rea observou os rostos deles a enraivecerem-se, como uma nuvem de tempestade a passar num dia ensolarado. Um homem, Kavo, franziu a testa e deu um passo adiante, com um ar autorit?rio. Ela olhou para baixo e viu o chicote na sua m?o. "H? uma maneira f?cil de fazer isto", disse ele, com uma voz dura como o a?o. "E uma maneira dif?cil." Rea sentiu o seu cora??o a bater com mais for?a e olhou para ele bem nos olhos. Ela lembrou-se do que o pai lhe havia dito uma vez, quando ela era uma menina: nunca recues. Perante ningu?m. Luta pelo que queres, mesmo que as hip?teses estejam contra ti. Especialmente se as hip?teses estiverem contra ti. Olha sempre para o valent?o maior. Ataca primeiro. Mesmo que isso signifique a tua vida. Rea explodiu em a??o. Sem pensar, ela estendeu a m?o, agarrou num bast?o da m?o de um dos homens, aproximou-se e, com toda sua for?a, golpeou Kavo no seu plexo solar. Kavo arfou ao cair de joelhos e Rea, n?o lhe dando outra hip?tese, golpeou-o na cara. O seu nariz partiu-se e ele largou o chicote e caiu no ch?o, segurando o nariz e gemendo na lama. Rea, ainda segurando firmemente o bast?o, olhou para cima e viu o grupo de rostos horrorizados e em choque a olhar para ela. Todos eles pareciam um pouco menos certos. "? o meu filho", ela cuspiu. "Eu vou t?-lo. Se vierem atr?s de mim, da pr?xima vez n?o vai ser um bast?o na vossa barriga, mas uma espada." Com aquilo, ela segurou com mais for?a o bast?o, virou-se e, lentamente, afastou-se, acotovelando a multid?o para passar. Nenhum deles, ela sabia, se atreveria a segui-la. N?o agora, pelo menos. Ela afastou-se, com as m?os a tremer, com o cora??o a bater com for?a, sabendo que seriam uns longos seis meses at? que o seu beb? nascesse. E sabendo que da pr?xima vez que eles viessem atr?s dela, viriam para mat?-la. CAP?TULO TR?S Seis Luas Mais tarde Rea estava encostada ao monte de peles junto da sua crepitante pequena fogueira, total e completamente sozinha, a gemer e a gritar em agonia quando as suas dores de parto chegavam. L? fora, o vento do inverno uivava e os ferozes vendavais faziam com que as persianas batessem contra as paredes da casa e a neve se desintegrasse em fluxos por cima da cabana. A tempestade combinava com a sua disposi??o. O rosto de Rea brilhava com suor. Ela estava ao lado da pequena fogueira, mas n?o conseguia aquecer, apesar das chamas furiosas, apesar de o beb? chutar e girar na sua barriga como se estivesse a tentar sair. Ela estava molhada e com frio, tremendo toda, tendo a certeza de que iria morrer naquela noite. Outra dor de parto. Ao sentir-se naquele estado, ela desejava apenas que o saqueador a tivesse matado naquele momento; teria sido mais misericordioso. Aquela longa e lenta tortura, aquela noite de pura agonia, era mil vezes pior do que qualquer coisa que ele jamais lhe pudesse ter feito. De repente, ainda mais alto do que os seus gritos, por cima dos vendavais ouviu-se outro som – talvez o ?nico som que ainda era capaz de lhe provocar uma sacudidela de medo pela sua espinha acima. Era o som de uma multid?o. Uma multid?o enfurecida de alde?es que ela sabia que vinham para matar o seu filho. Rea convocou todas as sua ?ltimas for?as, for?as que nem ela sabia que lhe ainda lhe restavam e, agitando-se, conseguiu, de alguma forma, levantar-se do ch?o. A gemer e a gritar, ela caiu de joelhos, cambaleando. Agarrou-se a uma estaca de madeira na parede e, com toda a sua for?a, com um grande grito, levantou-se. Ela n?o conseguia dizer se lhe do?a mais estar deitada ou em p?. Mas ela n?o tinha tempo para refletir sobre isso. O barulho da multid?o estava cada vez mais alto, mais perto. Ela sabia que eles iriam chegar em breve. A sua morte n?o iria incomod?-la. Mas a morte do seu beb? – isto era outra quest?o. Ela tinha que colocar aquela crian?a em seguran?a, custasse o que custasse. Era a coisa mais estranha, mas ela sentia-se mais ligada ? vida do beb? do que ? sua pr?pria vida. Rea conseguiu cambalear at? a porta e chocou contra ela, usando a ma?aneta para se conseguir erguer. Ela ficou ali, a respirar com dificuldade por alguns segundos, descansando na ma?aneta, preparando-se. Finalmente, ela virou-a. Agarrou a forquilha que estava encostada ? parede e, apoiando-se nela, abriu a porta. Rea foi recebida por uma tempestade repentina de vento e neve, suficiente fria para lhe tirar o f?lego. Ela ouvia os gritos mais altos com o vento, ficando apavorada ao ver ao longe as tochas, serpenteando o seu caminho na sua dire??o como pirilampos enfurecidos na noite. Olhou para o c?u e entre as nuvens vislumbrou uma enorme lua vermelho-sangue, enchendo o c?u. Engasgou-se. N?o era poss?vel. Ela nunca tinha visto a lua a brilhar assim e nunca a tinha visto numa tempestade. Ela sentiu um pontap? certeiro na sua barriga e, de repente, ela percebeu, sem sombra de d?vidas, que a lua era um sinal. Era um sinal do nascimento do seu filho. Quem ? ele? ela questionava-se. Rea segurava a barriga com as duas m?os enquanto outra pessoa se contorcia dentro dela. Ela conseguia sentir o seu poder, com dores para romper em sofrimento e sair, como se ele estivesse ansioso para lutar, ele mesmo, contra aquela multid?o. Ent?o eles chegaram. As tochas de fogo iluminaram a noite e a multid?o apareceu diante dela, saindo dos becos, dirigindo-se a si. Se ela estivesse no seu estado normal, forte, capaz, ela teria marcado uma posi??o. Mas ela mal conseguia andar – mal se aguentava em p? – e n?o os conseguia enfrentar naquele momento. N?o com o seu filho prestes a nascer. Mesmo assim, Rea sentia uma f?ria primitiva a percorr?-la, juntamente com uma for?a primitiva que ela sabia vir do seu beb?. Ela teve, tamb?m, uma descarga de adrenalina e as suas dores de parto momentaneamente diminu?ram. Por um breve instante, sentiu-se de volta a si mesma. O primeiro dos alde?es chegou, um homem baixo, gordo, que corria para ela, segurando uma foice. Ao aproximar-se, Rea deu um passo atr?s, agarrou a forquilha com ambas as m?os, deu um passo para o lado e lan?ou um grito primitivo, enquanto a direcionava diretamente para a sua barriga. O homem parou em choque e, em seguida, sucumbiu aos seus p?s. A multid?o parou tamb?m, a olhar para ela em choque, n?o estando claramente ? espera daquilo. Rea n?o esperou. Ela sacou da forquilha num movimento r?pido, girou-a por cima da sua cabe?a e golpeou o alde?o que se seguiu nas ma?as do rosto no momento em que ele se lan?ou para ela com o seu taco. Ele caiu, tamb?m, na neve a seus p?s. Rea sentiu uma dor terr?vel de lado quando um outro homem correu e a atacou, atirando-a para o ch?o. Eles deslizaram pela neve. Rea gemeu de dor ao sentir o beb? a dar pontap?s dentro dela. Ela lutou com o homem da neve, lutando pela sua vida e, quando ele momentaneamente aligeirou a sua for?a, Rea, desesperada, enfiou-lhe os dentes no seu rosto. Ele gritava enquanto ela mordia com for?a, tirando-lhe sangue, provando-o, n?o estando disposta a parar, pensando no seu beb?. Por fim, ele saiu de cima dela, agarrando o seu rosto e Rea viu ali a sua oportunidade. Escorregando na neve, ela conseguiu p?r-se de p?, pronta a correr. Ela estava quase a conseguir quando, de repente, sentiu uma m?o agarrar o seu cabelo por tr?s. Aquele homem quase que lhe arrancou os cabelos da cabe?a ao pux?-la para o ch?o, arrastando-a. Ela olhou e viu Severn a olhar para ela com m? cara. "Deverias ter ouvido quanto tiveste oportunidade", ele fervia. "Agora vais ser morta, juntamente com o teu beb?." Rea ouviu a multid?o a aclamar e ela sabia que tinha chegado o seu fim. Fechou os olhos e rezou. Ela nunca tinha sido uma pessoa religiosa, mas, naquele momento, tinha encontrado Deus. Eu rezo, com cada peda?o de quem sou, para que esta crian?a seja salva. Podes deixar-me morrer. Mas salva a crian?a. Como se as suas ora??es fossem atendidas, ela, de repente, sentiu que o seu cabelo se tinha soltado, enquanto, ao mesmo tempo, ouviu um baque. Ela olhou para cima, assustada, questionando-se sobre o que poderia ter acontecido. Ao ver quem tinha vindo para salv?-la, ficou atordoada. Era um rapaz – Nick – v?rios anos mais novo do que ela. O filho de um campon?s pobre, como ela, que nunca tinha sido feliz, sempre atormentado pelos outros. No entanto, ela tinha sempre sido gentil com ele. Talvez ele se lembrasse. Ela viu Nick a levantar um taco e a esmagar Severn na cabe?a, de lado, fazendo com que ele a largasse. Ent?o, Nick enfrentou a multid?o, estendendo o seu taco e bloqueando-a dos outros. "Vai depressa!", ele gritou-lhe. "Antes que te matem!" Rea olhou para ele com gratid?o e choque. Aquela multid?o iria certamente esmurr?-lo. Ela p?s-se de p? e correu, escorregando, determinada a chegar t?o longe quanto poss?vel enquanto ainda tinha tempo. Ela escondeu-se em becos e antes de desaparecer, olhou para tr?s e viu Nick a fintar selvaticamente os alde?es, batendo em v?rios com o taco. V?rios homens, por?m, atacaram-no e atiraram-no ao ch?o. Com ele fora do caminho, eles correram atr?s dela. Rea corria. Ofegante, ela fugia pelos becos, ? procura de abrigo. Levantando-se em esfor?o, com dores horr?veis, ela n?o sabia quanto mais longe conseguiria ir. Finalmente conseguiu sair para a aldeia propriamente dita, com as suas elegantes casas de pedra. Olhou para tr?s, aterrorizada ao ver que eles estavam a aproximar-se, quase a vinte p?s de dist?ncia. Ela arfava, mais a trope?ar do que a correr. Ela sabia que o seu fim estava a chegar. Outra dor de parto. De repente, ouviu um rangido agu?ado. Rea olhou para cima e viu uma antiga porta de carvalho diante de si a abrir-se. Ela ficou surpreendida ao ver Fioth, o antigo botic?rio, a espreitar para fora do seu pequeno forte de pedra, de olhos arregalados, chamando-a para entrar rapidamente. Fioth estendeu a m?o e puxou-a com uma for?a surpreendente para a sua idade avan?ada. Rea trope?ou pela porta da luxuosa torre de menagem. Ele bateu com a porta e aferrolhou-a assim que ela entrou. Um momento depois ouviram bater. As m?os e as foices de dezenas de alde?es irados tentavam derrubar a porta. No entanto, a porta aguentava-se, para grande al?vio de Rea. Tinha um p? de espessura e era s?culos mais velho do que ela. Os pesados ferrolhos de ferro nem sequer dobravam. Rea respirou fundo. O seu beb? estava em seguran?a. Fioth inclinou-se e examinou-a em compaix?o. Ver o seu olhar gentil ajudou-a mais do que qualquer outra coisa. Naquela aldeia, ningu?m olhava para ela com bondade h? meses. Ele retirou-lhe as peles e ela arfou com outra dor do parto. Era um local tranquilo, a tempestade de neve que passava pelo telhado estava sem som, e muito quente. Fioth levou-a para ao p? da fogueira e deitou-a sobre um monte de peles. Foi ent?o que tudo se abateu sobre ela: a fuga, a luta, a dor. Ela desfaleceu. Mesmo que estivessem mil homens a tentar derrubar a porta, ela sabia que n?o se podia mexer outra vez. Ela gritou quando uma dor de parto aguda a percorreu. "Eu n?o consigo correr", Rea arfava, come?ando a chorar. "Eu j? n?o consigo correr." Ele colocou-lhe um pano frio e h?mido na testa. "N?o precisas de correr mais", disse ele, com a sua voz antiga, tranquilizando-a, como se j? tivesse visto aquilo antes. "Agora, eu estou aqui." Ela gritou e gemeu quando outra dor a percorreu. Ela sentia-se como se estivesse a ser dividida em duas. "Encosta-te!", disse-lhe ele. Ela fez o que lhe foi dito e um segundo depois, ela sentiu. Uma enorme press?o entre as suas pernas. De repente, ouviu um som que a estarreceu. Um gemido. O choro de um beb?. Ela quase desmaiou de dor. Ela observava as m?os experientes do botic?rio, enquanto entrava e saia do seu estado de consci?ncia, puxando a crian?a, cortando o cord?o umbilical com algo afiado. Ela viu-o a limpar o beb? com um pano, a limpar-lhe os pulm?es, nariz e garganta. Os gemidos e o choro ficaram ainda mais altos. Rea desatou a chorar. Era um al?vio ouvir o som, penetrando no seu cora??o, mais alto mesmo do que os alde?es a bater na porta. Uma crian?a. O filho dela. Ele estava vivo. Contra todas as probabilidades, ele tinha nascido. Rea apercebeu-se vagamente do botic?rio a envolv?-lo num cobertor e, depois, sentiu o calor quando ele o colocou nos seus bra?os. Ela sentiu o peso dele sobre o seu peito e segurou-o com for?a enquanto ele gritava e gemia. Ela nunca tinha estado t?o feliz. As l?grimas corriam-lhe pelo rosto. De repente, ouviu-se um novo som: cavalos a galope. O barulho da armadura. E, em seguida, gritos. J? n?o era o som da multid?o a gritar para mat?-la – mas sim, da multid?o, ela pr?pria, a ser morta. Rea ouvia, perplexa, tentando entender. Ent?o ela sentiu uma onda de al?vio. Claro. O nobre tinha voltado para salv?-la. Para salvar o seu filho. "Gra?as a Deus", disse ela. "Os cavaleiros vieram em meu aux?lio." Rea sentiu uma s?bita onda de otimismo. Talvez ele a levasse para longe de tudo aquilo. Talvez ela tivesse uma oportunidade de come?ar a vida novamente. O seu filho iria crescer num castelo, tornar-se-ia num grande lorde e, talvez, ela tamb?m. O seu beb? teria uma vida boa. Ela teria uma boa vida. Rea sentiu uma onda de al?vio e l?grimas de alegria inundaram-lhe as ma?as do rosto. "N?o", o botic?rio corrigiu com uma voz pesarosa. "Eles n?o vieram para salvar o teu beb?." Ela olhou para ele, confusa. "Ent?o porque ? que eles vieram?" Ele olhou para ela sombriamente. "Para mat?-lo." Ela olhou para ele, horrorizada, sentindo um pavor frio a percorr?-la. "Eles n?o confiaram o trabalho a uma multid?o de alde?es", acrescentou. "Eles queriam ter a certeza de que era feito como devia, pelas suas pr?prias m?os." Rea sentiu como se fosse gelo a correr-lhe nas veias. "Mas …", ela balbuciou, tentando entender, "… o meu beb? pertence ao cavaleiro. O comandante deles. Porqu?? Porque ? que eles haviam de o quer matar?" Fioth abanou a cabe?a tristemente. "O teu cavaleiro, o pai do beb?, foi assassinado", explicou. "Muitas luas atr?s. Aqueles homens que ouves n?o s?o os dele. S?o os seus rivais. Eles querem o beb? dele morto. Eles querem-te morta." Ele olhava para ela em p?nico e com pressa. Ela sabia, aterrorizada, que ele falava a verdade. "Devem ambos fugir deste lugar!", ele insistiu. "Agora!" Assim que ele terminou de proferir aquelas palavras ouviu-se um poste de ferro a embater contra a porta. Desta vez, n?o era uma mera foice de fazendeiro – era um ar?ete profissional de um cavaleiro. Ao embater, a porta dobrou-se. Fioth virou-se para ela, com os olhos arregalados em p?nico. "VAI!", ele gritou. Rea olhou para ele, atingida pelo terror, perguntando-se, se na sua condi??o, conseguiria simplesmente ficar de p?. Ele agarrou-a, por?m, ajudando-a a levantar-se. Ela gritou de dor, o movimento era uma pura agonia. "Por favor!", ela chorava. "D?i-me muito! Deixa-me morrer!" "Olha para os teus bra?os!", gritava-lhe ele. "Queres que ele morra?" Rea olhava para o rapaz a gritar nos seus bra?os e, ao ouvir mais um embate contra a porta, percebeu que ele estava certo. Ela n?o podia deix?-lo morrer ali. "E tu?", afligiu-se ela, apercebendo-se. "Eles tamb?m te v?o matar." Ele assentiu com resigna??o. "Eu j? vivi muitos ciclos de sol", respondeu ele. "Se conseguir atras?-los para n?o te encontrarem, se conseguir dar-te uma hip?tese de ficares em seguran?a, desistirei com agrado do que resta da minha vida. Agora vai! Vai para o rio! Encontra um barco e foge daqui! Rapidamente!" Ele puxou-a antes de ela ter sequer oportunidade de pensar e, antes de ela dar por isso, ele levou-a para a entrada traseira do seu forte. Ele afastou uma tape?aria, revelando uma porta escondida esculpida na pedra. Inclinou-se contra ela com toda a sua for?a e ela abriu-se, arranhando, libertando o ar antigo. Uma rajada de ar frio entrou para o forte. Mal a porta se abriu, ele empurrou-a, a ela mais ao seu beb?, para fora. Rea deu por si imersa na tempestade de neve, cambaleando pela margem ?ngreme e cheia de neve do rio, segurando o seu beb?. Ela escorregava e deslizava, sentindo que o mundo estava a desmoronar-se debaixo dela, mal capaz de se mover. Ao correr, um raio atingiu uma ?rvore imensa perto dela, iluminando a noite e fazendo-a cair muito perto dela. O beb? chorou. Ela estava horrorizada: ela nunca acreditaria que um raio poderia atacar numa tempestade de neve. Aquela era realmente uma noite de press?gios. O terreno ficou mais ?ngreme e Rea escorregou novamente. Daquela vez, ela caiu sobre o seu traseiro. A gritar, ela escorregou pelo declive abaixo at? ? margem do rio. Ela respirou aliviada ao alcan??-la e percebeu que se n?o tivesse escorregado por ali abaixo, provavelmente n?o teria conseguido fugir. Olhou para tr?s, para cima, chocada com o qu?o longe tinha chegado e viu apavorada que os cavaleiros tinham invadido e incendiado o forte de Fioth. O fogo ardia violentamente, mesmo na neve. Ela sentiu uma enorme onda de culpa, sabendo que o velho tinha morrido por causa dela. Um momento depois, os cavaleiros rebentaram a porta de tr?s. Mais cavalos come?aram a galopar na sua dire??o. Ela conseguiu ver que eles a tinham visto e, sem pararem, correram para ela. Rea virou-se e tentou correr, mas n?o havia nenhum lugar para onde ir. E ela tamb?m n?o estava em condi??es de correr. Tudo o que conseguiu fazer foi cair de joelhos diante da margem do rio. Ela sabia que iria morrer ali. Ela tinha chegado ao fim. Por?m, a esperan?a permanecia pelo seu beb?. Olhou ? volta e viu um emaranhado de paus, talvez um ninho de castor, t?o espesso que se assemelhava a uma cesta. Impulsionada pelo amor de uma m?e, pensou rapidamente. Estendeu a m?o, agarrou-a e rapidamente colocou l? dentro o seu beb?. Testou-a e, para seu al?vio, ela flutuava. Rea preparou-se para empurrar a cesta pelas ?guas do calmo rio. Se a corrente a apanhasse, flutuaria para longe dali. Algures pelo rio abaixo. Qu?o longe e por quanto tempo, ela n?o sabia. Mas algumas hip?teses de vida eram melhores do que nenhumas. Rea, a chorar, baixou-se e beijou a testa do seu beb?. Ergue-se para tr?s e gritou de dor. Com as m?os a tremer, ela retirou o colar do pesco?o e colocou-o ? volta do pesco?o do seu beb?. Ela p?s as m?os em cima das m?os dele. "Amo-te", ela disse, entre solu?os. "Nunca me esque?as." O beb? chorava a gritar como se entendesse, um choro lancinante, que se ouvia ainda mais do que o estrondo dos novos trov?es e rel?mpagos, mais ainda do que o som dos cavalos que se aproximavam. Rea sabia que n?o podia esperar mais. Ela deu um impulso ? cesta e, em pouco tempo, a corrente apanhou-a. Ela observava-a, solu?ando, enquanto ela desaparecia na escurid?o. Assim que ela a perdeu de vista, o barulho das armaduras aproximou-se por detr?s dela – e ela virou-se e viu v?rios cavaleiros a descerem dos seus cavalos a poucos p?s de dist?ncia. "Onde est? a crian?a?", um exigiu saber, com a viseira para baixo e a sua voz cortando a tempestade. N?o era nada como a viseira do homem que a tinha possu?do. Aquele homem usava uma armadura vermelha com um formato diferente e n?o havia bondade na sua voz. "Eu …", ela come?ou. Ent?o ela sentiu uma f?ria dentro de si – a f?ria de uma mulher que sabia que estava prestes a morrer. Que n?o tinha nada a perder. "Ele foi-se embora", ela cuspiu, desafiante. Ela sorriu. "E tu nunca o vais ter. Nunca." O homem grunhiu de raiva e aproximou-se, puxando de uma espada e esfaqueando-a. Rea sentiu a terr?vel agonia do a?o no seu peito e arfou, sem f?lego. Ela sentiu o seu mundo a ficar mais claro, sentiu-se imersa numa luz branca. Ela sabia que aquilo era a morte. No entanto, ela n?o sentiu medo. Na verdade, ela sentiu satisfa??o. O seu beb? estava seguro. E, ao cair de cara no rio, com as ?guas a ficarem vermelhas, ela sabia que era o fim. A sua dura e curta vida tinha terminado. Mas o seu filho viveria para sempre. * Mithka, uma mulher camponesa, estava ajoelhada na margem do rio, com o seu marido ao lado, os dois freneticamente recitando as suas ora??es, sentindo n?o ter nenhum outro recurso durante aquela estranha tempestade. Era como se o fim do mundo estivesse sobre eles. A lua cor de vermelho-sangue era um press?gio terr?vel em si – mas aparecendo juntamente com uma tempestade como aquela, bem, era mais do que estranho. Era in?dito. Algo importante, ela sabia, estava a acontecer. Eles estavam ali juntos, ajoelhados, com a tempestade de vento e neve a bater-lhe nos rostos. Ela rezou pedindo prote??o para a sua fam?lia. Miseric?rdia. Perd?o por qualquer coisa que pudesse ter feito mal. Uma mulher piedosa, Mithka tinha vivido muitos ciclos do sol, tinha v?rios filhos e tinha uma boa vida. Uma vida pobre, mas boa. Ela era uma mulher decente. N?o se metia na vida dos outros, tinha cuidado dos outros e nunca tinha feito mal a ningu?m. Ela rezava para que Deus protegesse os seus filhos, a sua casa e os seus, apesar dos seus parcos pertences. Ela inclinou-se e colocou as palmas das m?os na neve, fechou os olhos curvando-se, tocando, seguidamente, com a cabe?a no ch?o. Ela rezou a Deus para lhe mostrar-lhe um sinal. Lentamente, levantou a cabe?a. Ao faz?-lo, os seus olhos arregalaram-se e o seu cora??o bateu com o que viu diante de si. "Murka!", sibilou. O marido virou-se e olhou, tamb?m. Ambos ficaram ali ajoelhados, imobilizados, olhando com perplexidade. N?o podia ser poss?vel. Ela pestanejou v?rias vezes. Por?m, ainda l? estava. Diante deles, trazida pela corrente de ?gua, estava uma cesta flutuante. E nessa cesta estava um beb?. Um rapaz. O seu choro perfurava a noite, ainda mais alto do que a tempestade, mais alto do que os estrondos dos trov?es e rel?mpagos. Cada grito do seu choro perfurava o seu cora??o. Ela saltou para o rio caminhando pelas g?lidas ?guas que pareciam facas na sua pele, apanhou a cesta e, lutando contra a corrente, voltou para a margem. Olhou para baixo e viu que o beb? estava meticulosamente enrolado num cobertor e que estava milagrosamente seco. Ela observou-o mais de perto e ficou perplexa ao ver um pingente de ouro ? volta do seu pesco?o, com duas cobras circundando uma lua e um punhal entre elas. Ela suspirou; era um pendente que ela reconheceu imediatamente. Virou-se para o seu marido. "Quem faria uma coisa dessas?", perguntou ela, horrorizada, segurando-o com for?a contra o seu peito. Ele s? conseguia abanar a cabe?a, at?nito. "Temos de ficar com ele," ela decidiu. O marido franziu a testa e abanou a cabe?a. "Como?", retrucou. "N?o nos podemos dar ao luxo de aliment?-lo. Mal nos podemos dar ao luxo de nos alimentar. J? temos tr?s rapazes – para que ? que precisamos de um quarto? O nosso tempo de criar crian?as j? acabou." Mithka, pensando rapidamente, apanhou o espesso pingente de ouro e colocou-o na palma da m?o do seu marido, sabendo, depois de todos aqueles anos, o que o iria impressionar. Ele sentiu o peso do ouro na m?o, parecendo claramente impressionado. "Aqui", ela retrucou, em repulsa. "Aqui est? o teu ouro. Ouro suficiente para alimentar a nossa fam?lia at? sermos velhos e morrermos", disse ela com firmeza. "Eu vou salvar este beb? – quer gostes quer n?o. Eu n?o vou deix?-lo morrer." Ele continuava a fazer m? cara, embora menos certo, quando se ouviu outro rel?mpago. Ele observou o c?u com medo. "E achas que ? uma coincid?ncia?", perguntou. "Numa noite como esta, um beb? como este vir a este mundo? Tens alguma ideia de quem est?s a segurar?" Ele olhou para a crian?a com medo. E ent?o levantou-se e afastou-se, virando as costas, por fim, indo-se embora, segurando o pingente, claramente desagradado. Mas Mithka n?o cederia. Ela sorriu para o beb? e embalou-o contra o seu peito, aquecendo o seu rosto frio. Lentamente, o seu choro acalmou-se. "Uma crian?a diferente de qualquer um de n?s", ela respondeu a ningu?m, segurando-o com for?a. "Uma crian?a que ir? mudar o mundo. E uma a quem eu vou dar o nome: Royce." PARTE DOIS CAP?TULO QUATRO 17 Ciclos Solares mais tarde Royce estava no topo da colina, debaixo da ?nica ?rvore de carvalho que existia naqueles campos de cereais. Uma coisa antiga cujos galhos pareciam chegar ao c?u. Olhava profundamente para os olhos de Genevieve, profundamente apaixonado. Eles deram as m?os e ela sorriu-lhe. Aproximaram-se e beijaram-se. Ele sentia rever?ncia e gratid?o por estar de cora??o t?o cheio. O dia amanheceu por cima dos campos de cereais e Royce desejava conseguir congelar aquele momento para sempre. Royce inclinou-se para tr?s e olhou para ela. Genevieve era maravilhosa. Aos dezassete anos, tal com ele, ela era alta, magra, com cabelos loiros e olhos verdes inteligentes, com um punhado de sardas nos seus tra?os delicados. Ela tinha um sorriso que o fazia sentir-se feliz por estar vivo e um riso que o punha ? vontade. Mais do que isso, ela tinha uma graciosidade, uma nobreza que superava, de longe, o seu estado de pobre campon?s. Royce viu o seu reflexo nos olhos dela e ficou maravilhado por parecer que se podia identificar com ela. Ele era muito maior, claro, alto mesmo para a sua idade, com ombros mais largos do que at? mesmo os seus irm?os mais velhos, com um queixo forte, um nariz nobre, uma testa altiva, uma abund?ncia de m?sculo que ondulava por debaixo da sua t?nica desgastada, e fei??es ligeiras, como as dela. O seu cabelo loiro comprido caia pouco acima dos olhos e os seus olhos cor de avel?-esverdeados davam com os dela, embora um tom mais escuro. Ele tinha sido aben?oado com uma for?a e com uma habilidade com a espada que combinava com a dos seus irm?os, embora ele fosse o mais novo dos quatro. O seu pai estava sempre a brincar dizendo que ele tinha ca?do do c?u e Royce entendia: ele n?o compartilhava os tra?os escuros dos seus irm?os ou a estatura. Ele era como um estranho na sua pr?pria fam?lia. Eles abra?aram-se. Sabia t?o bem ser abra?ado com tanta for?a, ter algu?m que o amava tanto quanto ele a amava a ela. Os dois eram, de facto, insepar?veis desde crian?as, haviam crescido juntos a brincar naqueles campos, haviam jurado, mesmo naquela ?poca, que no solst?cio de ver?o do seu d?cimo s?timo ano, se casariam. Enquanto crian?as, tinha sido uma promessa verdadeiramente s?ria. ? medida que foram crescendo, ano ap?s ano, n?o se foram afastando, como a maioria das crian?as, mas sim aproximando-se mais. Contra todas as probabilidades, o seu voto passou de uma coisa infantil para algo mais forte, solene, inquebr?vel, ano ap?s ano ap?s ano. As suas vidas, ao que parece, nunca tinham estado destinadas a separarem-se. Agora, por fim, incrivelmente, o dia tinha chegado. Ambos tinham dezassete anos, o solst?cio de ver?o havia chegado. Agora eles eram adultos, livres para escolher por si mesmo e, ali, debaixo daquela ?rvore, a ver o sol nascer, cada um deles sabia, com um entusiasmo vertiginoso, o que isso significava. "A tua m?e est? animada?", perguntou ela. Royce sorriu. "Acho que ela ama-te mais do que eu, se ? que isso ? poss?vel", ele riu-se. O riso de Genevieve atingiu a sua alma. "E os teus pais?", perguntou ele. O seu rosto ficou sombrio, s? por um momento, e ele ficou desconsolado. "Sou eu?", perguntou ele. Ela abanou a cabe?a. "Eles amam-te", ela respondeu. "Eles s? …", suspirou. "N?s ainda n?o somos casados. Para eles, nunca seria cedo de mais. Eles temem por mim." Royce compreendeu. Os pais dela temiam os nobres. Camponeses solteiros como Royce e Genevieve n?o tinham direitos; se os nobres quisessem, poderiam vir e levar as mulheres deles, reclam?-las para si. Isto ?, at? eles serem casados. Depois, ficariam em seguran?a. "Brevemente", disse Genevieve, com o seu sorriso a come?ar a brilhar. "Eles est?o aliviados porque sou eu, ou porque, uma vez casada, vais ficar a salvo dos nobres?" Ela riu-se e bateu-lhe a brincar. "Eles amam-te como o filho que nunca tiveram!", disse ela. Ele agarrou-a pelos bra?os e beijou-a. "Royce!", gritou uma voz. Royce virou-se e viu os seus tr?s irm?os a caminhar pela colina acima, num grande grupo, com as irm?s e primas de Genevieve juntamente com eles. Todos tinham foices e forquilhas, todos eles prontos para o trabalho do dia. Royce respirou fundo, sabendo que o tempo para as despedidas havia chegado. Eles eram camponeses e, afinal de contas, n?o se podiam dar ao luxo de tirar um dia inteiro de folga. O casamento teria de esperar pelo p?r-do-sol. Royce n?o estava incomodado por trabalhar naquele dia, mas sentia-se mal por Genevieve. Ele desejava poder dar-lhe mais. "Eu gostava que pudesses tirar o dia de folga", disse Royce. Ela sorriu e depois riu-se. "Trabalhar faz-me feliz. Distrai-me, especialmente, de ter de esperar tanto tempo para te ver novamente hoje", disse ela, inclinando-se e beijando o seu nariz. Eles beijaram-se. Ela virou-se com um risinho e abra?ou-se ?s suas irm?s e primas e, em pouco tempo, estava a saltar com elas pelos campos fora, todas tontas de felicidade neste dia de ver?o espetacular. Os irm?os de Royce apareceram por detr?s dele, tocando-lhe nos ombros. Os quatro foram para o outro lado da colina. "Vamos pinga-amor!", disse Raymond, o filho mais velho, que era como um pai para Royce. "Podes esperar at? logo ? noite!" Os seus outros dois irm?os riram-se. "Ele est? completamente apanhado por ela", Lofen acrescentou, o irm?o do meio, mais baixo do que os outros, mas mais encorpado. "N?o h? esperan?a para ti", Garet entrou na conversa. O mais jovem dos tr?s, apenas alguns anos mais velho do que Royce, era o seu irm?o mais pr?ximo, no entanto, era tamb?m o que mais rivalizava com ele. "Ainda nem sequer casou e j? est? perdido." Os tr?s riram-se, provocando-o. Royce sorriu com eles e seguiram todos para os campos. Ele olhou uma ?ltima vez para tr?s para Genevieve e desapareceu colina abaixo, ficando aliviado quando ela olhou, tamb?m, para tr?s uma ?ltima vez e sorriu para ele de longe. O sorriso tinha-lhe restaurado a alma. Esta  noite, meu amor, pensou. Esta noite. * Genevieve trabalhava os campos, levantando e balan?ando a sua foice, cercada pelas suas irm?s e primas, uma d?zia delas, todas a rirem-se alto naquele dia auspicioso, enquanto trabalhava frouxamente. Genevieve parava a cada poucos cortes, encostava-se ? longa haste, olhava para os c?us azuis e gloriosos campos de trigo amarelo e pensava em Royce. Ao faz?-lo, o seu cora??o batia mais r?pido. Este era o dia com que ela sempre tinha sonhado, desde crian?a. Era o dia mais importante da sua vida. Depois daquele dia, ela e Royce viveriam juntos para o resto dos seus dias; depois daquele dia, eles teriam a sua pr?pria cabana, uma simples habita??o de uma assoalhada junto ao campo, um lugar humilde que lhe fora legado pelos pais deles. Seria um novo come?o, um lugar para come?ar uma nova vida como marido e mulher. Genevieve sorria s? de pensar. N?o havia nada que ela mais quisesse do que estar com Royce. Ele tinha estado sempre ali, ao seu lado, desde crian?a, e ela nunca tinha tido olhos para mais ningu?m. Embora ele fosse o mais novo dos seus quatro irm?os, ela sempre sentiu que havia algo de especial acerca de Royce, algo de diferente nele. Ele era diferente de todos ao seu redor, de qualquer pessoa que j? conhecera. Ela n?o sabia exatamente o qu? e suspeitava que ele tamb?m n?o. Mas ela via algo nele, algo maior do que aquela aldeia, do que aquele campo. Era como se o destino dele estivesse noutro lugar. "E os irm?os dele?", perguntou uma voz. Genevieve despertou para a realidade. Ela virou-se e viu Sheila, a sua irm? mais velha, com risinhos, com duas das suas primas atr?s dela. "Afinal de contas, ele tem tr?s! N?o podes ficar com todos para ti! ", ela acrescentou, rindo-se. "Sim, do que ? que est?s ? espera?", a sua prima entrou na conversa. "Temos estado ? espera que nos apresentes." Genevieve riu-se. "Eu j? te apresentei", respondeu ela. "Muitas vezes." "N?o o suficiente!", respondeu Sheila enquanto as outras se riam. "Afinal, n?o deve a tua irm? casar-se com o irm?o dele?" Genevieve sorriu. "N?o havia nada que eu gostasse mais", respondeu ela. "Mas eu n?o posso falar por eles. S? conhe?o o cora??o de Royce." "Convence-os!", insistiu a sua outra prima. Genevieve riu-se novamente. "Vou fazer o meu melhor." "E o que ? que vais vestir?", a prima dela interrompeu. "Ainda n?o decidiste qual o vestido que…" Um ru?do repentino cortou o ar, um que imediatamente amedrontou Genevieve e a fez largar a sua foice e voltar-se para o horizonte. Ela percebeu, mesmo antes de o ouvir completamente, que era um som sinistro, um som que trazia problemas. Ela virou-se e observou o horizonte e, ao faz?-lo, os seus piores medos foram confirmados. O som do galope tornou-se aud?vel e, sobre o monte, apareceu um s?quito de cavalos. Ela ficou apavorada ao ver que os seus cavaleiros estavam vestidos com as melhores sedas e ao ver a sua bandeira, verde e dourada, com um urso ao centro, anunciando a casa de Nors. Os nobres estavam a chegar. Genevieve ficou irada com o que via. Aqueles homens gananciosos tinham o d?zimo ap?s d?zimo da sua fam?lia, das fam?lias de todos os camponeses. Eles tinham tirado tudo a todas as pessoas, at? ? ?ltima gota, e viviam como reis. E ainda assim, n?o era o suficiente. Genevieve observava-os a galopar e rezava intensamente para que eles estivessem apenas de passagem, para que n?o virassem para o seu lado. Afinal, ela n?o os via naqueles campos h? muitos ciclos solares. No entanto, Genevieve viu com desespero que eles, de repente, se viraram e se dirigiram diretamente para ela. N?o, desejou ela silenciosamente. Agora n?o. N?o aqui. Hoje n?o. No entanto, eles continuaram a cavalgar, aproximando-se cada vez mais, claramente indo na dire??o dela. A not?cia do dia do seu casamento provavelmente ter-se-ia espalhado, o que os deixava sempre ansiosos para apanharem o que conseguissem, antes que fosse tarde demais. As outras mi?das reuniram-se em torno dela, instintivamente, aproximando-se. Sheila virou-se para ela e agarrou-lhe o bra?o freneticamente. "CORRE!", ordenou, empurrando-a. Genevieve virou-se e viu uma ?rea aberta que se estendia por milhas. Ela sabia o qu?o tolo seria – ela n?o iria longe. Ela seria ainda assim levada – mas sem dignidade. "N?o", ela respondeu, com frieza, calma. Em vez disso, ela agarrou com for?a a sua foice e segurou-a diante dela. "Vou enfrent?-los de cabe?a erguida." Elas olharam para ela, claramente perplexas. "Com a tua foice?", perguntou a sua prima em d?vida. "Talvez eles n?o venham com maldade", entrou na conversa a sua outra prima. Mas Genevieve via-os a chegar. Lentamente, abanou a cabe?a. "Eles v?m", ela respondeu. Ela viu-os perto, esperando que abrandassem – contudo, para sua surpresa, eles n?o o fizeram. Ao centro cavalgava Manfor, um nobre privilegiado de vinte anos de idade, a quem ela desprezava, o duque do reino, um menino com l?bios grandes, olhos claros, cabelos cacheados dourados e um sorriso permanente. Parecia que estava constantemente a olhar para o mundo de cima para baixo. Quando ele se aproximou, Genevieve viu que ele tinha um sorriso cruel no rosto, enquanto olhava para o seu corpo como se ela fosse um peda?o de carne. A menos de vinte jardas de dist?ncia, Genevieve levantou a foice e deu um passo para a frente. "Eles n?o me levar?o", disse ela resignada, pensando em Royce. Mais do que qualquer coisa, ela desejava que ele estivesse ao seu lado agora. "Genevieve, n?o!", exclamou Sheila. Genevieve correu em dire??o a eles com a foice erguida, sentindo a adrenalina a percorrer-lhe o corpo. Ela n?o sabia como tinha convocado a coragem, mas f?-lo. Avan?ou, levantou a foice e golpeou o primeiro nobre que se aproximou dela. Mas eles eram demasiado r?pidos. Cavalgavam como trov?es e, enquanto ela dava balan?o, um simplesmente ergueu o seu taco, girou ao redor e arrancou-lhe a foice da m?o. Ela sentiu uma vibra??o terr?vel atrav?s das suas m?os e viu, sem esperan?a, a sua arma a voar e a cair nas espigas nas proximidades. Logo a seguir, Manfor passou a galopar, inclinou-se e golpeou-a na cara com as costas da m?o com a sua manopla de metal. Genevieve gritou, girou com a for?a do movimento e caiu de cara nas espigas com uma dor lancinante. Os cavalos pararam abruptamente e, enquanto os cavaleiros ? sua volta desmontavam, Genevieve sentiu umas m?os ?speras sobre ela. Foi posta de p? com um pux?o, arrebatada pelo golpe. Ela ficou ali a cambalear. Olhou para cima e viu Manfor de p? diante dela. Ele riu com desdenho, levantando o elmo e removendo-o. "Larga-me!", ela sibilou. "Eu n?o sou tua propriedade!" Ela ouviu gritos. Olhou e viu a sua irm? e primas a correrem at? ela, tentando salv?-la – e ela viu horrorizada os cavaleiros a darem-lhe com as costas das m?os, atirando-as ao ch?o. Genevieve ouviu o riso horr?vel de Manfor quando ele a agarrou e a atirou para as costas do seu cavalo, amarrando-lhe os punhos um ao outro. Um momento depois, ele montou-se atr?s dela, esporeou o cavalo e partiu, com as mi?das a gritarem atr?s dela enquanto ela se distanciava cada vez mais. Ela tentava lutar, mas era escusado reagir j? que ele a segurava como se ela estivesse presa num torno. "Como est?s errada, jovem", respondeu ele, rindo enquanto cavalgava. "Tu ?s minha." CAP?TULO CINCO Royce estava no meio dos campos de trigo, a talhar com a sua foice, alegre ao pensar na sua noiva. Ele mal podia acreditar que o dia do seu casamento tinha chegado. Ele amava Genevieve desde sempre. E este dia seria um dia que n?o rivalizaria com nenhum outro. Amanh?, ele iria acordar com ela ao seu lado, numa nova cabana s? deles, com uma nova vida pela frente. Ele conseguia sentir a excita??o no seu est?mago. N?o havia nada que ele desejasse mais. Enquanto dava balan?o ? sua foice, Royce pensava nos treinos com os seus irm?os todas as noites, com os quatro a lutar incessantemente com espadas de madeira e ?s vezes com espadas verdadeiras, com pesos duplos, quase imposs?veis de levantar, para torn?-los mais fortes, mais r?pidos. Embora ele fosse mais jovem do que os seus tr?s irm?os, Royce percebia que j? era um melhor lutador do que todos eles, mais ?gil com a espada, mais r?pido a atacar e a defender. Era como se ele fosse cortado de um pano diferente. Ele era diferente, ele sabia disso. No entanto, n?o sabia porqu?. E isso incomodava-o. De onde vinha o seu talento para o combate? ele perguntava-se. Porque ? que ele era t?o diferente? N?o fazia muito sentido. Eram todos irm?os, todos do mesmo sangue, da mesma fam?lia. No entanto, ao mesmo tempo os quatro eram insepar?veis, fazendo tudo juntos, quer fosse lutar ou trabalhar nos campos. Isso, na verdade, era a sua ?nica apreens?o acerca daquele alegre dia: seria a sua sa?da de casa o in?cio do afastamento deles? Ele prometeu, em sil?ncio, que n?o iria permitir que isso acontecesse. Os pensamentos de Royce foram subitamente interrompidos por um som no limite do campo, um som incomum para aquele momento do dia, um som que ele n?o queria ouvir num dia perfeito como aquele. Cavalos. Galopando com pressa. Royce virou-se e olhou, instantaneamente alarmado, e seus irm?os fizeram o mesmo. A sua preocupa??o aprofundou-se ao vislumbrar as irm?s e primas de Genevieve a cavalgarem at? ele. Mesmo dali Royce conseguia ver as suas express?es de p?nico, em urg?ncia. Royce tentava desesperadamente compreender o que estava a ver. Onde estava Genevieve? Porque ? que eles estavam todos a cavalgar para ele? E ent?o, ele ficou verdadeiramente preocupado ao perceber que algo terr?vel tinha acontecido. Ele largou a foice, assim como os seus irm?os e a outra d?zia da sua aldeia, correndo ao encontro deles. A primeira a chegar ao p? dele foi Sheila, a irm? de Genevieve, que desmontou do cavalo mesmo antes de ele parar, agarrando-se aos ombros de Royce. "O que ? que passa?", Royce gritou. Ele agarrou-lhe os ombros. Ele conseguia senti-la a tremer. Ela mal conseguia pronunciar as palavras por entre as suas l?grimas. "Genevieve!", ela gritou, com uma voz aterrorizada. "Eles levaram-na!" Royce sentiu o seu mundo a desabar ao ouvir as palavras dela, ocorrendo-lhe os piores cen?rios. "Quem?", ele perguntou, enquanto os seus irm?os corriam at? ele. "Manfor!", chorava ela. "Da casa de Nors!" Royce ficou apavorado e a indigna??o percorreu-lhe o corpo. A sua noiva. Levada pelos nobres, como se ela fosse propriedade deles. O rosto dele encolerizou-se. "Quando!?", ele exigiu saber, apertando o bra?o de Sheila com mais for?a do que pretendia. "Mesmo agora!", respondeu ela. "Arranj?mos estes cavalos para te vir dizer assim que conseguimos!" As outras desmontaram atr?s dela e, ao faz?-lo, entregaram as r?deas a Royce e aos seus irm?os. Royce n?o hesitou. Num movimento r?pido ele montou o cavalo dela, esporeou e foi a romper pelos campos. Atr?s dele, ele ouvia os seus irm?os a cavalgar, tamb?m, sem perderem o ritmo, todos atrav?s das espigas e na dire??o do distante forte. O seu irm?o mais velho, Raymond, cavalgava ao seu lado. "Sabes que a lei est? do lado dele", ele gritou. "Ele ? um nobre e ela ? solteira – pelo menos por agora." Royce acenou de volta. "Se invadirmos o forte e pedirmos para eles a deixarem voltar, eles v?o recusar", Raymond acrescentou. "N?o temos base legal para exigir que a devolvam." Royce rangeu os dentes. "Eu n?o vou pedir para eles a deixarem voltar", ele respondeu. "Eu vou tir?-la de l?." Loren abanava a cabe?a enquanto cavalgava ao lado deles. "Nunca vais conseguir passar por aquelas portas", ele gritou. "Um ex?rcito profissional espera por ti. Cavaleiros. Armamento. Port?es". Ele abanou a cabe?a novamente. "E mesmo que conseguisses, de alguma forma, passar por eles, mesmo que conseguisses resgat?-la, eles n?o a iriam libertar. Eles v?o perseguir-te e matar-te." "Eu sei", respondeu-lhe Royce. "Meu irm?o," disse Garet. "Eu adoro-te. E adoro Genevieve. Mas isto vai significar a tua morte. A morte de todos n?s. Deixa-a ir. N?o h? nada que possas fazer." Royce conseguia ouvir o quanto os seus irm?os se importavam com ele, o que agradecia – mas ele n?o podia permitir-se a ouvir aquilo. Aquela era a sua noiva e, independentemente do que estivesse em jogo, ele n?o tinha escolha. Ele n?o podia abandon?-la, mesmo que isso significasse a sua morte. Era assim que ele era. Royce esporeou o seu cavalo com mais for?a, n?o querendo ouvir mais, galopando mais rapidamente pelos campos, em dire??o ao horizonte, em dire??o ? extensa cidade, onde estava o forte de Manfor. Na dire??o do que certamente iria ser a sua morte. Genevieve, pensou Royce. Eu vou salvar-te. * Royce cavalgou com toda a sua veem?ncia pelos campos, com os seus tr?s irm?os ao seu lado, subindo a ?ltima colina e, depois, avan?ando para a extensa cidade que ficava l? em baixo. No seu centro havia um enorme forte, a casa da C?mara dos Nors, os nobres que governavam a sua terra com um punho de ferro, que haviam tirado tudo ? sua fam?lia, exigindo d?zimo ap?s d?zimo de tudo o que eles cultivavam. Eles tinham conseguido manter os camponeses pobres durante gera??es. Eles tinham dezenas de cavaleiros ? sua disposi??o, de armadura completa, com armas reais e cavalos reais; eles tinham grossas paredes de pedra, um fosso, uma ponte e eles vigiavam a cidade como uma mulher ciumenta, sob o pretexto de manter a lei e a ordem – mas na verdade apenas para lhes sacarem tudo. Eles faziam a lei. Eles aplicavam as cru?is leis que lhes eram passadas por todos os nobres de todo o territ?rio, leis que s? os beneficiavam a eles. Eles funcionavam sob o disfarce de oferecer prote??o, mas todos os camponeses sabiam que apenas precisavam de ser protegidos dos pr?prios nobres. O reino de Sevania, afinal de contas, era um reino seguro, isolado de outros territ?rios por ?gua dos tr?s lados, no extremo norte do continente Alufen. Um forte oceano, rios e montanhas eram as suas grossas paredes de seguran?a. O territ?rio n?o era invadido h? s?culos. O ?nico perigo e tirania vinha l? de dentro, da aristocracia nobre e do que eles sugavam dos pobres. De pessoas como Royce. J? nem os bens eram suficientes, eles tinham de ter as suas esposas tamb?m. O pensamento trouxe cor ?s bochechas de Royce. Ele baixou a cabe?a e preparou-se ao agarrar com mais for?a a sua espada. "A ponte est? para baixo!", Raymond gritou. "A grade de ferro do forte est? aberta!" Royce reparou nisso ele pr?prio e considerou isso um sinal encorajador. "Claro que est?!", Lofen respondeu. "Achas realmente que eles est?o ? espera de um ataque? Ainda por cima nosso?" Royce cavalgou mais r?pido, grato pela companhia dos seus irm?os, sabendo que todos os seus irm?os tinham um sentimento t?o forte por Genevieve quanto ele. Ela era como uma irm? para eles e uma afronta a Royce era uma afronta a todos eles. Ele olhou em frente e sobre a ponte levadi?a viu alguns dos cavaleiros do castelo, sem entusiasmo a olharem para os pastos e campos que rodeavam a cidade. Eles n?o estavam preparados. Eles n?o eram atacados h? s?culos e n?o tinham nenhum motivo para esperar serem naquele momento. Royce puxou da espada com um toque diferenciado, baixou a cabe?a e ergueu a espada. O som das espadas ecoou no ar quando os seus irm?os puxaram das suas, tamb?m. Royce saiu primeiro para a frente para assumir a lideran?a, querendo ser o primeiro na batalha. O seu cora??o batia com a excita??o e medo, n?o medo por ele mesmo, mas por Genevieve. "Vou entrar, encontr?-la e sair!", Royce gritou para os seus irm?os, formulando um plano. "Voc?s ficam todos fora do per?metro. Esta ? a minha luta." "N?o vamos deixar que entres sozinho!", Garet respondeu. Royce sacudiu a cabe?a, inflex?vel. "Se algo correr mal, n?o quero que voc?s paguem o pre?o", ele gritou. "Fiquem aqui e distraiam aqueles guardas. Isso ? o que eu mais preciso." Ele apontou com a sua espada para uma d?zia de cavaleiros que estavam na guarita ao lado do fosso. Royce sabia que, assim que ele cavalgasse por cima da ponte, eles iriam reagir; mas se os seus irm?os os distra?ssem, talvez desse para os manter alheios apenas o tempo suficiente para Royce entrar e encontr?-la. Ele calculava que apenas precisava era de uns minutos. Se ele conseguisse encontr?-la depressa, poderia agarrar nela rapidamente, fugir e ver-se livre daquele lugar. Ele n?o queria matar ningu?m se o conseguisse evitar; ele nem sequer queria mago?-los. Ele s? queria a sua noiva de volta. Royce baixou a cabe?a, galopando t?o r?pido quanto conseguia, t?o r?pido que ele mal conseguia respirar, com o vento a bater-lhe no seu cabelo e rosto. Ele aproximou-se da ponte, a trinta, a vinte, a dez jardas de dist?ncia, ouvindo o som do seu cavalo e o seu batimento card?aco. Sentia-se inquieto ao cavalgar, percebendo o qu?o louco aquilo era. Ele estava prestes a fazer o que a classe camponesa nunca sonhara fazer: atacar a aristocracia. Era uma guerra que possivelmente n?o conseguiria ganhar e uma maneira certa de ser morto. Mas, no entanto, a sua noiva estava por detr?s daquelas portas e isso era o suficiente para ele. Royce estava t?o perto agora, a apenas a algumas jardas de alcan?ar a ponte. Olhou para cima e viu os olhos dos cavaleiros arregalarem-se de surpresa e a ficarem atrapalhados com as armas, apanhados de surpresa, claramente n?o estando ? espera de nada daquilo. A sua rea??o tardia era exatamente o que Royce precisava. Ele correu para a frente e, quando eles levantaram as suas alabardas, baixou a espada e, apontando para os fustes, cortou-os ao meio. Ele golpeava de um lado para o outro, destruindo as armas dos cavaleiros que estavam em ambos os lados da ponte, com cuidado para n?o os magoar se tal n?o fosse necess?rio. Ele s? queria desarm?-los e n?o propriamente envolver-se num combate. Royce ganhou velocidade, incitando o seu cavalo. Cavalgava cada vez mais r?pido, usando o seu cavalo como uma arma, embatendo nos restantes guardas com for?a suficiente para atir?-los para o ar, na sua armadura pesada, por cima da ponte estreita e fazendo-os cair no fosso de ?gua abaixo. Seria preciso algum tempo para que eles conseguissem de l? sair, Royce apercebeu-se. E esse era todo o tempo que ele precisava. Atr?s dele, Royce ouvia os seus irm?os ajudando ? sua causa; do outro lado da ponte eles cavalgaram para a guarita, golpeando os guardas, desarmando-os antes de eles terem qualquer hip?tese de se reagruparem. Eles conseguiram bloquear e barrar a guarita, mantendo os desconcertados cavaleiros desprevenidos e dando a Royce a cobertura de que precisava. Royce baixou a cabe?a e avan?ou para a grade de ferro, que estava aberta, cavalgando mais r?pido e vendo que ela come?ava a baixar. Ele baixou a cabe?a e conseguiu passar rapidamente pelo arco aberto exatamente antes de a grade se fechar de uma vez por todas. Royce entrou no p?tio interno, com o cora??o aos pulos. Fez um balan?o, olhando ao redor. Ele nunca tinha estado l? dentro e estava desorientado, encontrando-se cercado por grossas paredes de pedra por todos os lados, com v?rios andares de altura. Servos e pessoas comuns movimentavam-se de um lado para o outro, carregando baldes de ?gua e outros produtos. Felizmente, nenhum cavaleiro o aguardava. Claro, eles n?o tinham nenhum motivo para esperar um ataque. Royce examinou as paredes, desesperado por qualquer sinal da sua noiva. No entanto, ele n?o encontrou nenhum. Ele entrou em p?nico. E se eles a tivessem levado para outro lugar? "GENEVIEVE!", gritou ele. Royce olhava para todos os lados, freneticamente a girar no seu cavalo que relinchava. Ele n?o fazia a m?nima ideia para onde olhar e n?o tinha nenhum plano. Ele n?o tinha sequer pensado que conseguiria chegar t?o longe. Royce atormentava o seu c?rebro, precisando pensar novamente. Os nobres provavelmente viviam l? em cima, ele imaginou, longe do mau cheiro, das multid?es, onde o vento e a luz do sol eram fortes. Naturalmente, seria para ai que eles levariam Genevieve. Aquele pensamento enraiveceu-o. For?ando-se a controlar as suas emo??es, Royce esporeou o seu cavalo e galopou pelo p?tio, passando por servos em choque que paravam e olhavam, largando o trabalho ? sua passagem. Ele viu uma grande escadaria de pedra, em espiral, do outro lado e cavalgou at? l?, desmontando do cavalo ainda antes de ele parar, correndo a grande velocidade pelas escadas acima. Ele correu espiral acima sem parar, subindo lance ap?s lance. Ele n?o tinha ideia para onde estava a ir, mas imaginava ter quando chegasse ao topo. Royce finalmente saiu da escadaria no patamar mais alto, respirando com dificuldade. "Genevieve!", ele gritou, esperando, rezando por uma resposta. N?o havia nenhuma. O seu pavor aprofundava-se. Ele escolheu um corredor e correu por ele fora, rezando para que aquele fosse o caminho certo. Ao passar a correr, um homem, de repente, abriu uma porta e espreitou. Era um nobre, um homem baixo e gordo, com um nariz largo e cabelo fino. Ele fez m? cara para Royce, claramente por ver o seu traje de campon?s; ele torceu o nariz como se algo desagrad?vel o tivesse invadido. "Ei!", gritou. "O que ? que est?s a fazer no nosso…" Royce n?o hesitou. Quando o indignado nobre se lan?ou para ele, Royce deu-lhe um soco na cara, derrubando-o de costas no ch?o. Royce, rapidamente, espreitou pela porta aberta, esperando vislumbr?-la. Mas n?o estava l?. Ele continuou a correr. "GENEVIEVE!", gritava Royce. De repente, ele ouviu um grito, ao longe, em resposta. Ele ficou ali quieto e alerta a ouvir, perguntando-se de onde tinha vindo. Ciente de que o seu tempo era limitado, que um ex?rcito inteiro estaria em breve atr?s dele, ele continuou a correr, com o cora??o bater com for?a, chamando por ela repetidas vezes. Mais uma vez, ouviu um grito abafado. Royce sabia que era ela. Ficou inquieto. Ela estava aqui em cima. E ele estava a aproximar-se. Royce chegou finalmente ao fim do corredor e, ao faz?-lo, por tr?s da ?ltima porta ? esquerda, ele ouviu um grito. Ele n?o hesitou. Baixou o ombro e embateu contra a porta de carvalho antigo. A porta partiu-se e Royce entrou de rompante. Ele estava numa opulenta c?mara, trinta p?s por trinta p?s, com tetos altos, janelas esculpidas nas paredes de pedra, uma enorme fogueira e, no centro, uma enorme e luxuosa cama de dossel, diferente de tudo o que j? havia visto. Ele sentiu uma onda de al?vio quando viu ali, numa pilha de peles, o seu amor, Genevieve. Ele ficou aliviado ao ver que ela estava completamente vestida, ainda a agitar-se, pontapeando, enquanto Manfor tentava agarr?-la por tr?s. Royce encolerizou-se. Ali estava ele, agarrando a sua noiva, tentando tirar-lhe as roupas. Royce estava aliviado por ter chegado a tempo. Genevieve contorcia-se, tentando corajosamente tir?-lo de cima de si, mas Manfor era demasiado forte para ela. Sem hesitar um momento, Royce explodiu em a??o. Ele correu e atirou-se a ele, exatamente quando Manfor se virou para olhar. Os seus olhos arregalaram-se em choque. Royce agarrou-o pela camisa e atirou-o. Manfor foi atirado do quarto a voar, estatelando-se com for?a no ch?o, a gemer. "Royce!", gritou Genevieve, com uma voz de al?vio ao v?-lo quando se virou. Royce sabia que n?o podia dar a Manfor a hip?tese de se recuperar. Quando ele se tentou levantar, Royce saltou-lhe para cima, prendendo-o para baixo. Cheio de raiva pelo que ele tinha feito ? sua esposa, Royce chegou o seu punho atr?s e deu-lhe um muro com for?a no maxilar. Manfor foi projetado para tr?s. Por?m, sentou-se e alcan?ou um punhal. Mas Royce arrancou-o da sua m?o e bateu-lhe sem parar. Manfor caiu para tr?s e Royce atirou o punhal para longe, fazendo-o deslizar pelo ch?o. Ele imobilizou Manfor que sorria sarcasticamente para ele, sempre desafiante e superior. "A lei est? do meu lado", Manfor fervilhava. "Eu posso ficar com quem eu quiser. Ela ? minha." Royce olhava para ele com m? cara. "Tu n?o podes ficar com a minha noiva." "Est?s louco", Manfor contrap?s. "Louco. Vais ser morto de qualquer das formas. N?o h? lugar onde te possas esconder. N?o sabes isso? N?s possu?mos este pa?s." Royce abanou a cabe?a. "O que tu n?o entendes", disse ele, "? que eu n?o quero saber." Manfor franziu a testa. "N?o te vais safar desta", disse Manfor. "Eu vou tratar disso." Royce agarrou os pulsos de Manfor ainda com mais for?a. "N?o vais fazer nada do g?nero. Genevieve e eu vamo-nos embora daqui hoje. Se vieres atr?s dela novamente, eu mato-te." Para surpresa de Royce, Manfor sorriu maleficamente, com sangue a escorrer-lhe da boca. "Eu nunca a vou deixar", Manfor respondeu. "Nunca. Vou atorment?-la para o resto da sua vida. E vou perseguir-te como um c?o com todos os homens do meu pai. Vou lev?-la e ela ser? minha. E tu ser?s pendurado na forca. Portanto, foge agora e lembra-te da cara dela – dentro em breve, ela ser? minha." Royce sentiu uma quente onda de raiva. O pior daquelas palavras cru?is era que ele sabia que elas eram verdadeiras. N?o havia para onde fugir; os nobres eram donos do territ?rio. Ele n?o podia lutar contra um ex?rcito. E Manfor, de facto, nunca iria desistir. Por puro desporto – por mais nenhuma raz?o. Ele tinha tanto e, ainda assim, n?o conseguia evitar privar as pessoas que n?o tinham nada. Royce olhou para os olhos daquele nobre cruel. Ele sabia que Genevieve seria possu?da por aquele homem um dia. E ele sabia que n?o podia deixar que isso acontecesse. Ele queria ir-se embora, ele realmente queria. Mas n?o podia. Fazer isso significaria a morte de Genevieve. Royce, de repente, agarrou Manfor e atirou-o ao ch?o. Ele encarou-o e sacou da sua espada. "Saca da tua espada!", Royce ordenou-lhe, dando-lhe uma hip?tese de lutar com honra. Manfor olhou para ele, claramente surpreendido por lhe estar a ser dada aquela oportunidade. De seguida, ele sacou da espada. Manfor atacou, dando balan?o com for?a e Royce ergueu a sua espada e bloqueou-a. Voaram fa?scas. Royce, sentindo que era mais forte, ergueu a sua espada, empurrando Manfor para tr?s. Depois girou com o cotovelo e bateu-lhe no rosto com o punho da espada. Royce partiu o nariz de Manfor, ouvindo-se um estalido. Manfor cambaleou para tr?s e olhou, claramente atordoado enquanto agarrava o seu nariz. Royce poderia ter aproveitado o momento para mat?-lo, mas, novamente, deu-lhe mais uma hip?tese. "Desiste", Royce prop?s, "e eu deixo-te viver." Manfor, no entanto, soltou um gemido de f?ria. Ergueu a sua espada e atacou novamente. Royce bloqueava-a, enquanto Manfor balan?ava furiosamente, cada um deles a golpear para a frente e para tr?s, com as espadas a ressoar quando as fa?scas voavam. Os dois andavam de um lado para o outro por todo o quarto. Manfor podia ser um nobre, criado com todos os benef?cios da classe real, por?m, Royce tinha um talento superior para o combate. Durante a luta, ouviram-se cornetas ao longe e o som de um ex?rcito a aproximar-se do castelo, com os cascos dos cavalos a baterem cal?ada abaixo. Royce ficou preocupado. Ele sabia que o seu tempo estava a acabar. Algo tinha de ser feito rapidamente. Finalmente, Royce fez girar acentuadamente a espada de Manfor e desarmou-o, atirando-a pelo ar para o outro lado da sala. Royce encostou a ponta da sua espada ? garganta de Manfor. "Recua, agora", Royce ordenou. Manfor afastou-se lentamente, de bra?os para cima. No entanto, quando chegou a uma pequena mesa de madeira, ele, de repente, girou, apanhou algo e atirou-a para os olhos de Royce. Royce gritou ao ficar, de repente, cego. Os olhos ardiam-lhe e o seu mundo ficou preto. Ele percebeu, tarde demais, ao tatear os seus olhos, que era tinta. Tinha sido uma jogada suja, um movimento impr?prio de um nobre ou de qualquer lutador. Mas, mais uma vez, Royce sabia que n?o deveria ficar surpreendido. Antes de conseguir recuperar a sua vis?o, Royce, de repente, sentiu um pontap? forte no est?mago. Desequilibrou-se, caindo para o ch?o, sem f?lego, e, ao olhar para cima, recuperou apenas a vis?o suficiente para ver Manfor a sorrir enquanto extraia um punhal escondido na sua capa – e ergueu-o na dire??o das costas de Royce. "ROYCE!", Genevieve gritou. No momento em que o punhal desceu na dire??o das suas costas, Royce conseguiu recompor-se, apoiando-se num joelho, levantando o bra?o e agarrando o pulso de Manfor. Royce lentamente ficou de p?, com os bra?os tremendo e, enquanto Manfor baixava o punhal, ele, de repente, esquivou-se para o lado e girou o bra?o dele ao redor, usando a sua for?a contra ele. Manfor continuou a mover-se, n?o disposto a parar, mas, desta vez, quando Royce se desviou, ele mergulhou o punhal no seu pr?prio est?mago. Manfor arfava. Ele estava ali, a olhar para Royce, com os olhos arregalados, com o sangue a escorrer-lhe da boca. Ele estava a morrer. Royce sentiu a solenidade do momento. Ele havia matado um homem. Pela primeira vez na sua vida, ele havia matado um homem. E n?o um homem qualquer mas sim um nobre. O ?ltimo gesto de Manfor foi um sorriso cruel, com o sangue a escorrer-lhe da boca. "Recuperaste a tua noiva", ele ofegou, "? custa da tua vida. Vais juntar-te a mim em breve." Dito isso, Manfor sucumbiu e caiu no ch?o com um baque. Morto. Royce virou-se e olhou para Genevieve, que estava sentada na cama, atordoada. Ele conseguia ver o al?vio e gratid?o no seu rosto. Ela saltou da cama, correu pelo quarto, diretamente para os seus bra?os. Ele abra?ou-a com for?a. Era t?o bom. Tudo fazia sentido no mundo outra vez. "Oh, Royce", disse ela ao seu ouvido. E isso era tudo o que ela precisava de dizer. Ele entendeu. "Vamos, temos de ir", disse Royce. "O nosso tempo ? curto." Ele pegou-lhe na m?o e os dois sa?ram a correr pela porta do quarto para os corredores. Royce correu pelo corredor com Genevieve ao seu lado. O cora??o dele batia com for?a ao ouvir soar as cornetas reais, uma e outra vez. Ele sabia que era o som do alarme – e sabia que era por causa dele. Ao ouvir o barulho da armadura abaixo, Royce sabia que o forte estava fechado e que ele estava cercado. Os seus irm?os tinham feito um bom trabalho ao conseguir mant?-los fora, mas a incurs?o de Royce tinha demorado muito tempo. Enquanto corriam, ele olhou para baixo para o p?tio e ficou aterrorizado ao ver dezenas de cavaleiros j? a passar pelos port?es. Royce sabia que n?o havia sa?da. N?o s? ele havia invadido a casa deles, como tamb?m tinha matado um deles, um nobre, um membro da fam?lia real. Ele sabia que eles n?o o iam deixar viver. Hoje seria o dia em que sua vida mudaria para sempre. Que ironia, pensou; esta manh?, ele tinha acordado t?o cheio de alegria, antecipando o dia. Agora, antes do sol se p?r naquele mesmo dia, ele provavelmente estaria, ao inv?s, enfrentando a forca. Royce e Genevieve correram sem parar, aproximando-se do fim do corredor e da entrada para a escada em espiral, quando de repente uma meia d?zia de cavaleiros apareceu, emergindo das escadas, bloqueando o seu caminho. Royce e Genevieve pararam imediatamente, viraram-se e correram para o outro lado, enquanto os cavaleiros os perseguiam. Royce ouvia a armadura deles a ressoar atr?s dele e sabia que a sua ?nica vantagem era a sua falta de armadura, o que lhe dava a velocidade suficiente para se manter ? frente deles. Eles corriam sem parar, percorrendo os corredores. Royce esperava desesperadamente encontrar uma escada traseira, outra sa?da – quando, de repente, ao viraram noutro corredor, deram por eles diante de uma parede de pedra. Royce ficou desesperado ao chegarem ao fim. Um beco sem sa?da. Royce voltou-se e sacou da espada ao mesmo tempo que colocou Genevieve atr?s dele, preparado para marcar uma posi??o contra os cavaleiros, embora ele soubesse que seria a ?ltima. De repente, ele sentiu Genevieve a agarrar-lhe o bra?o freneticamente, gritando: "Royce" Ele voltou-se e viu para onde ela estava a olhar: uma grande janela ao lado deles. Ele olhou para baixo e ficou apavorado. Era uma longa queda, demasiado longa para sobreviver. Por?m, ele viu que ela estava a apontar para uma carro?a cheia de feno que passava devagar por baixo deles. "N?s podemos saltar!", gritou ela. Ela agarrou na m?o dele e, juntos, aproximaram-se da janela. Ele virou-se e olhou para tr?s, viu os cavaleiros a aproximarem-se, e, de repente, antes de ter tempo para pensar o qu?o louco aquilo era, sentiu a sua m?o a ser puxada – e foram transportados pelo ar. Genevieve era ainda mais valente do que ele. Ela tinha sempre sido, at? mesmo em crian?a, ele lembrou-se. Eles saltaram, caindo uns bons trinta p?s pelo do ar, com Royce apavorado e Genevieve a gritar, visando o vag?o. Royce preparava-se para morrer e estava grato por, pelo menos, n?o ir morrer nas m?os dos nobres – e com o seu amor ao seu lado. Para grande al?vio de Royce eles ca?ram na pilha de feno, provocando uma enorme nuvem ? volta deles. Apesar de estar sem f?lego e magoado com a queda, para sua surpresa, ele n?o tinha partido nada. Sentou-se imediatamente e olhou para ver se Genevieve estava bem; ali estava ela, atordoada, mas sentou-se, tamb?m, e, ao escovar o feno, viu com imenso al?vio que n?o se tinha ferido. Sem dizer uma palavra, ambos, ao mesmo tempo, lembraram-se da sua dif?cil situa??o e saltaram do carro, com Royce a agarrar-lhe a m?o. Royce correu para o seu cavalo, que ainda o aguardava no p?tio, montou, agarrou Genevieve e ajudou-a a subir para tr?s dele. Com um pontap?, os dois partiram a galope, com Royce a apontar para o port?o aberto para o castelo, enquanto os cavaleiros continuavam a entrar, passando a correr por eles, sem sequer se aperceberem que eram eles. Eles aproximaram-se do port?o aberto. O cora??o de Royce batia com for?a; eles estavam t?o perto. Tudo o que tinham a fazer era transp?-lo e, com alguns passos largos eles estariam fora, no campo. L? eles poderiam reunir-se com os irm?os dele, os seus primos e homens, e, juntos, podiam todos fugir daquele lugar, e come?ar uma nova vida algures. Ou melhor ainda, eles poderiam juntar o seu pr?prio ex?rcito e lutar contra aqueles nobres de uma vez por todas. Por um glorioso momento, o tempo parou e Royce sentia-se ? beira de mudan?a, da vit?ria, da mudan?a de paradigma. O dia para a revolta tinha chegado. O dia para as suas vidas nunca mais voltarem a ser as mesmas. Ao aproximar-se do port?o, Royce ficou congelado de medo quando viu a grade de ferro, que estava aberta novamente para deixar os cavaleiros entrar, de repente, a baixar e a fechar-se diante dele. O seu cavalo empinou-se e eles pararam mesmo a tempo. Royce virou-se, olhando para tr?s para o p?tio. L? ele viu cinquenta cavaleiros, que agora percebiam quem eles eram, a aproximarem-se. Royce preparava-se para cavalgar para a frente e encontr?-los no campo de batalha, por muito imprudente que isso fosse, quando, de repente, sentiu uma corda a cair sobre ele, vinda de tr?s, ouvindo Genevieve a gritar. As cordas apertaram-se ao redor da sua cintura e, com uma sacudidela, Royce sentiu-se a ser atirado para tr?s do seu cavalo. Ele caiu com for?a no ch?o, sem f?lego, atado por tr?s. Ele olhou e viu Genevieve atada com cordas e puxada para o ch?o, tamb?m. Royce rebolava e trope?ava, tentando freneticamente libertar-se, com as cordas apertadas ? volta dos seus bra?os e ombros. Ele alcan?ou a sua cintura, agarrou no punhal e, com um empurr?o, conseguiu solt?-las. Livre, ele desviou-se a rebolar de um taco que vinha na dire??o da sua cabe?a. Agarrou a espada do seu atacante, virando-se e depois, ficou de p? no centro do p?tio, cercado por aquilo que era naquele momento quase uma centena de cavaleiros. Eles cercaram-no de todos os lados. Eles atacaram. Royce levantou a sua espada e lutou tamb?m, defendendo-se ? medida que eles golpeavam, golpeando tamb?m, sentindo-se invenc?vel, mais forte e mais r?pido do que todos eles. Ainda assim, eles cercavam-no cada vez mais, com as suas fileiras a crescerem. Royce ergueu a sua espada e bloqueou um golpe apontado para a sua cabe?a; ent?o ele girou e golpeou outra espada apontada para as suas costas, arrancando a espada das m?os do seu atacante. Ele ent?o inclinou-se para tr?s e pontapeou outro cavaleiro no peito quando ele se aproximou, for?ando-o a largar o seu taco. Royce lutava como um homem possu?do, golpeando e defendendo-se, conseguindo manter dezenas deles afastados, ? medida que as espadas soavam e as fa?scas choviam ? sua volta. Ele respirava com dificuldade, mal capaz de ver por causa do suor que lhe fazia arder os olhos. E durante todo aquele tempo, ele pensava apenas numa coisa: Genevieve. Ele morreria aqui por ela. As fileiras estavam cada vez maiores. Era demasiado at? mesmo para ele. Os bra?os e os ombros de Royce do?am-lhe, a sua respira??o estava pesada. A multid?o era tanta, t?o pr?xima, que ele mal conseguia mexer-se para dar balan?o. Ao erguer a sua espada uma ?ltima vez para golpear, de repente, sentiu uma terr?vel dor na parte de tr?s da cabe?a. Caiu no ch?o, vagamente consciente de que tinha sido atingido por um taco. Ele s? deu por estar deitado de lado no ch?o, incapaz de se mover, quando dezenas de cavaleiros se lan?aram sobre ele. Era um muro de metal a prend?-lo ao ch?o, dobrando-lhe os bra?os, com os joelhos nas suas costas e com os bra?os na sua cabe?a. Era o fim, ele percebeu. Ele tinha perdido. CAP?TULO SEIS Royce acordou, sobressaltado, sentindo ?gua gelada no rosto e ouvindo gritos e vaias. Ele pestanejou com a luz. Apercebeu-se de imediato que um de seus olhos estava fechado e o outro quase fechado, apenas o suficiente para ele conseguir ver. A sua cabe?a cambaleava por causa da dor, o seu estava corpo r?gido, coberto de incha?os e contus?es. Sentia-se como se tivesse rebolado por uma montanha abaixo. Olhou para o mundo diante de si e desejou n?o o ter feito. Uma multid?o agitada rodeava-o, alguns a gritar e a vaiar, outros a protestar, aparentemente em seu nome. Era como se aquelas pessoas tivessem irrompido numa guerra civil, com ele no centro. Ele esfor?ava-se por perceber o sentido do que via. Seria um sonho? ele questionava-se. A dor era demasiado intensa para que fosse um sonho; a dor de cabe?a dos golpes e as cordas grossas a apertarem os pulsos. Ele lutava com as cordas que lhe atavam os pulsos e tornozelos, sem sucesso, e, ao olhar para baixo, percebeu que estava amarrado a uma estaca. O seu cora??o bateu com mais for?a ao ver uma pilha de madeira debaixo dele, como se estivesse pronta para ser acesa. O medo apoderou-se de si ao perceber que estava amarrado no p?tio do castelo. Royce olhou e viu centenas de alde?es a multiplicavam no p?tio e dezenas de cavaleiros e guardas de p? ao longo dos muros; ele viu um palco de madeira improvisado, talvez a cinquenta p?s de dist?ncia e, nele, ju?zes do tribunal, todos eles nobres. Ao centro estava um homem que ele reconheceu: Lorde Nors. O chefe da fam?lia dos nobres. O pai de Manfor. Ele era o juiz presidente do territ?rio. Ele estava ao meio a olhar para Royce com um ?dio que Royce jamais havia visto. N?o era um bom press?gio. Voltou tudo ? mem?ria de Royce. Genevieve. A invas?o ao forte. O resgate dela. Matar Manfor. Saltar. Lutar contra aqueles cavaleiros. E depois… Ouviu-se v?rias vezes o bater de um martelo na madeira e a multid?o sossegou. O Lorde Nors estava de p?, olhando taciturnamente para todos. Estava ainda mais feroz, mais imponente, de p?. Fixou o seu olhar cheio de f?ria sobre Royce que percebeu que estava a ser levado a julgamento. Ele tinha visto v?rios julgamentos e nenhum tinha corrido bem para os prisioneiros. Royce observava os rostos, desesperado por ver Genevieve, rezando para que ela estivesse em seguran?a, longe de tudo aquilo. No entanto, ele n?o via nada. Isso era o que o preocupava mais do que tudo. Teria ela sido presa? Morta? Ele tentava bloquear da sua mente v?rios cen?rios de pesadelo. "?s aqui acusado do assassinato de Manfor da Casa de Nors, filho do Lorde Nors, governante do Sul e das Florestas de Segall", fez soar o Lorde Nors. A multid?o ficou completamente im?vel. "Qual ? a tua alega??o?" Royce abriu a boca, esfor?ando-se para falar – mas os seus l?bios e garganta estavam ressequidos. A sua voz ficou aqu?m e ele tentou novamente. "Ele roubou a minha noiva", Royce finalmente conseguiu responder. Ouviu-se um coro de aplausos de apoio. Royce olhou e viu milhares de alde?es, seus compatriotas, a aparecerem, empunhando tacos, foices e forquilhas. Ele ficou esperan?ado e grato ao perceber que todos os do seu povo tinham vindo para apoi?-lo. Eles estavam todos fartos. Royce olhou para o Lorde Nors e viu-o perder a sua convic??o, apenas um bocadinho. Um olhar nervoso espalhou-se pelo seu rosto. Ele virou-se e olhou para seus colegas ju?zes e eles olharam para os cavaleiros. Parecia que estavam a come?ar a aperceber-se que podiam, se condenassem Royce ? morte, ter uma revolu??o nas suas m?os. Finalmente, o Lorde Nors bateu com o martelo e a multid?o sossegou. "No entanto", ele bombardeou, "a lei ? clara: qualquer mulher camponesa ? propriedade de qualquer nobre at? ela se casar." Ouviu-se um grande coro de vaias e assobios da multid?o que avan?ou. Uma pessoa an?nima atirou um tomate em dire??o ao palco e a multid?o aclamou, pois, por pouco n?o acertou no Lorde Nors. Ouviu-se um sussurrar horrorizado entre os nobres e, quando o Lorde Nors assentiu, os cavaleiros come?aram a empurrar a multid?o, ansiosos por encontrar o agressor. No entanto, eles logo pararam, pensando melhor no assunto, ao serem cercados por mais centenas de alde?es que se movimentavam para a pra?a, tornando a passagem imposs?vel. Um cavaleiro tentou passar em frente dando cotoveladas, mas em pouco tempo ficou submerso pelas massas, empurrado de um lado para o outro e, entre gritos zangados e aclama??es, ele recuou. A multid?o aplaudiu. Finalmente, eles estavam a defender-se a si mesmos. Royce sentiu uma onda de optimismo. Um ponto de viragem tinha chegado. Os camponeses, tal como ele, estavam fartos. J? ningu?m queria que as suas mulheres fossem levadas. Ningu?m queria ser considerado como propriedade. Todos se aperceberam que poderiam estar na posi??o de Royce. Royce observou a multid?o, ainda desesperado para encontrar Genevieve – de repente, ele viu-a ao fim do p?tio, amarrada em cordas. Ao p? estavam os seus tr?s irm?os, eles, tamb?m, amarrados. Ele ficou aliviado ao ver que, pelo menos, estavam vivos e ilesos. Mas preocupado ao ver que estavam amarrados. Ele perguntava-se o que ? que lhes iria acontecer. Ele desejava mais do que qualquer coisa poder ser castigado em vez deles. ? medida que a multid?o se avolumava, os magistrados pareciam cada vez mais nervosos e olhavam para o Lorde Nors com olhares de incerteza. "? a tua lei!", Royce gritou, recuperando a sua voz, encorajado. "N?o a nossa!" A multid?o soltou um enorme rugido de aprova??o, avan?ando perigosamente, com forquilhas e foices erguidas no ar. Lorde Nors, olhando taciturnamente para baixo na dire??o de Royce, ergueu as m?os e, finalmente, a multid?o sossegou-se. "Hoje o meu filho est? morto", ressoou ele, com uma voz pesada de tristeza. "E se eu fosse fazer cumprir a lei, tu serias morto, tamb?m." A multid?o vaiou e aglomerou-se amea?adoramente. "E, no entanto", ecoou Lorde Nors, levantando as m?os, "dada a situa??o dos nossos tempos, matar-te n?o seria no melhor interesse da coroa. E assim", disse ele, voltando-se e olhando para os seus companheiros magistrados, "decidi conceder-lhe miseric?rdia!" A multid?o aclamou calorosamente, agitando-se. Royce sentiu uma onda de al?vio. O Lorde Nors ergueu as m?os. "Os teus irm?os n?o mataram nenhum dos nossos homens no vosso ataque e, portanto, eles n?o v?o mortos, tampouco." A multid?o aclamou "Eles ser?o presos!", ressoou ele. A multid?o vaiou. "No entanto, a tua noiva nunca ser? tua", disse o Lorde Nors numa voz crescente. "Ela ser? propriedade de um dos nossos nobres." A multid?o vaiou e assobiou, mas antes que se intensifica-se, Lorde Nors terminou, apontando para Royce com toda a sua ira: "E tu, Royce, ser?s condenado ? Arena!" A multid?o vaiou e correu para a frente e, em pouco tempo, uma briga irrompeu nas ruas. Royce n?o conseguiu v?-la a crescer. De repente, as cordas foram cortadas dos seus pulsos e dos seus tornozelos e ele caiu no ch?o, mole. Ele sentiu uns bra?os ao seu redor e manoplas de metal a agarrarem-no, arrastando-o para longe atrav?s do caos. Конец ознакомительного фрагмента. Текст предоставлен ООО «ЛитРес». Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=43696711&lfrom=688855901) на ЛитРес. Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.
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