Êàê ÷àñòî ÿ âèæó êàðòèíêó òàêóþ Âîî÷èþ, èëè îíà òîëüêî ñíèòñÿ: Äâå äåâî÷êè-ãåéøè î ÷¸ì-òî òîëêóþò, Çàáûâ, ÷òî äàâíî èì ïîðà ðàñõîäèòüñÿ. Íà óëèöå ò¸ìíîé âñå äâåðè çàêðûòû. Ëåíèâîå ïëàìÿ â ôîíàðèêå ñîííîì… À äåâî÷êè-ãåéøè êàê áóäòî çàáûòû Äâóìÿ îãîíüêàìè â ïðîñòðàíñòâå áåçäîííîì. Íó ÷òî âàì íå ñïèòñÿ, ïðåêðàñíûå ãåéøè? Âåäü äàæå ñâåð÷êè íåóìîë÷íû

Raz?o Para Se Esconder

Raz?o Para Se Esconder Blake Pierce Um mist?rio de Avery Black #3 Uma hist?ria din?mica que prende a aten??o desde o primeiro cap?tulo e n?o te solta maisMidwest Book Review, Diane Donovan (sobre Once Gone) Do autor de suspenses n?mero 1, Blake Pierce, a nova obra-prima do suspense psicol?gico: RAZ?O PARA SE ESCONDER (Um mist?rio de Avery Black – Livro 3) . Corpos est?o sendo encontrados nos arredores de Boston, com os cad?veres sendo queimados antes de serem reconhecidos. A pol?cia percebe que h? um novo assassino em s?rie ? solta nas ruas. Quando a m?dia descobre e a press?o aumenta, a Pol?cia de Boston procura a detetive de homic?dios mais brilhante – e controversa: Avery Black. Avery, ainda tentando juntar os cacos de sua pr?pria vida – seu relacionamento com Ramirez e reconcilia??o com Rose – de repente encontra-se colocada no caso mais desafiador de sua carreira. Com poucas evid?ncias para seguir, ela precisa entrar na mente de um assassino psicopata, tentando entender a obsess?o dele por fogo, e quais pistas sua personalidade oferece. Seu caminho a leva aos piores bairros de Boston, a confrontos com os piores psicopatas – e finalmente, a uma reviravolta que ela nunca poderia imaginar. Em um jogo psicol?gico de gato e rato, uma corrida fren?tica contra o tempo, Avery ? levada ?s profundezas do labirinto da mente de um assassino, e a lugares sombrios que ela nunca desejara ver. Uma hist?ria psicol?gica obscura com um suspense perturbador, RAZ?O PARA SE ESCONDER ? o livro 3 de uma nova s?rie fascinante e de uma nova personagem amada, que o far?o ler p?ginas e p?ginas noite adentro. O livro 4 da s?rie Avery Black estar? dispon?vel em breve. Uma obra-prima de suspense e mist?rio. Pierce fez um trabalho magn?fico criando personagens com lados psicol?gicos t?o bem descritos que nos fazem sentir dentro de suas mentes, acompanhando seus medos e celebrando seu sucesso. A hist?ria ? muito interessante e vai lhe entreter durante todo o livro. Cheio de reviravoltas, este livro vai lhe manter acordado at? que voc? chegue ? ?ltima p?gina. Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (sobre Once Gone) R A Z ? O P A R A S E E S C O N D E R (UM MIST?RIO DE AVERY BLACK – LIVRO 3) B L A K E P I E R C E Blake Pierce Blake Pierce ? o autor da s?rie de enigmas RILEY PAGE, com doze livros (com outros a caminho). Blake Pierce tamb?m ? o autor da s?rie de enigmas MACKENZIE WHITE, composta por oito livros (com outros a caminho); da s?rie AVERY BLACK, composta por seis livros (com outros a caminho), da s?rie KERI LOCKE, composta por cinco livros (com outros a caminho); da s?rie de enigmas PRIM?RDIOS DE RILEY PAIGE, composta de dois livros (com outros a caminho); e da s?rie de enigmas KATE WISE, composta por dois livros (com outros a caminho). Como um ?vido leitor e f? de longa data do g?nero de suspense, Blake adora ouvir seus leitores, por favor, fique ? vontade para visitar o site www.blakepierceauthor.com (http://www.blakepierceauthor.com) para saber mais a seu respeito e tamb?m fazer contato. Copyright © 2017 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido na Lei de Direitos Autorais dos Estados Unidos (US. Copyright Act of 1976), nenhuma parte desta publica??o pode ser reproduzida, distribu?da ou transmitida de nenhuma forma e por motivo algum, ou colocada em um sistema de dados ou sistema de recupera??o sem permiss?o pr?via do autor. Este e-book est? licenciado apenas para seu aproveitamento pessoal. Este e-book n?o pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se voc? gostaria de compartilhar este e-book com outra pessoa, por favor compre uma c?pia adicional para cada benefici?rio. Se voc? est? lendo este e-book e n?o o comprou, ou ele n?o foi comprado apenas para uso pessoal, ent?o por favor devolva-o e compre seu pr?prio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho ?rduo do autor. Esta ? uma obra de fic??o. Nomes, personagens, empresas, organiza??es, lugares, eventos e acontecimentos s?o obras da imagina??o do autor ou ser?o usadas apenas na fic??o. Qualquer semelhan?a com pessoas de verdade, em vida ou falecidas, ? totalmente coincid?ncia. Imagem de capa: Copyright Dimedrol68, usada sob licen?a de Shutterstock.com. LIVROS ESCRITOS POR BLAKE PIERCE S?RIE DE ENIGMAS KATE WISE SE ELA SOUBESSE (Livro n 1) SE ELA VISSE (Livro n 2) S?RIE OS PRIM?RDIOS DE RILEY PAIGE ALVOS A ABATER (Livro #1) ESPERANDO (Livro #2) S?RIE DE MIST?RIO DE RILEY PAIGE SEM PISTAS (Livro #1) ACORRENTADAS (Livro #2) ARREBATADAS (Livro #3) ATRA?DAS (Livro #4) PERSEGUIDA (Livro #5) A CAR?CIA DA MORTE (Livro #6) COBI?ADAS (Livro #7) ESQUECIDAS (Livro #8) ABATIDOS (Livro #9) PERDIDAS (Livro #10) ENTERRADOS (Livro #11) DESPEDA?ADAS (Livro #12) SEM SA?DA (Livro #13) S?RIE DE ENIGMAS MACKENZIE WHITE ANTES QUE ELE MATE (Livro n?1) ANTES QUE ELE VEJA (Livro n?2) ANTES QUE COBICE (Livro n?3) ANTES QUE ELE LEVE (Livro n?4) ANTES QUE ELE PRECISE (Livro n?5) ANTES QUE ELE SINTA (Livro n?6) ANTES QUE ELE PEQUE (Livro n?7) ANTES QUE ELE CA?E (Livro n?8) ANTES QUE ELE ATAQUE (Livro n?9) S?RIE DE ENIGMAS AVERY BLACK RAZ?O PARA MATAR (Livro n?1) RAZ?O PARA CORRER (Livro n?2) RAZ?O PARA SE ESCONDER (Livro n?3) RAZ?O PARA TEMER (Livro n?4) S?RIE DE ENIGMAS KERI LOCKE RASTRO DE MORTE (Livro n?1) RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro n?2) ?NDICE PR?LOGO (#u1bee08ec-c419-5d44-a184-9805995b9208) CAP?TULO UM (#ubc551a37-9bac-5c53-9e78-d855aba88e98) CAP?TULO DOIS (#u63112f55-9987-5cc1-a751-777b41738b10) CAP?TULO TR?S (#udf94b974-45c0-594a-b77e-74c0b4c91438) CAP?TULO QUATRO (#u1763d7f4-49bb-51c0-be20-a1fbbeeb6123) CAP?TULO CINCO (#ud06d773d-2f65-5ecc-8cd8-7104c0f3f59f) CAP?TULO SEIS (#u68bcf921-fc52-584d-9e79-0a0871409fdd) CAP?TULO SETE (#u97225612-c0ce-55e4-91f6-b5678cd00a29) CAP?TULO OITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO NOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZ (#litres_trial_promo) CAP?TULO ONZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DOZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO TREZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUATORZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUINZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZESSEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZESSETE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZOITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZENOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E UM (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E DOIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E TR?S (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E QUATRO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E CINCO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E SEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E SETE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E OITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E NOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E UM (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E DOIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E TR?S (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E QUATRO (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E CINCO (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E SEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E SETE (#litres_trial_promo) PR?LOGO Quando saiu pelo terreno vazio, o amanhecer estava levando embora o ?ltimo suspiro da noite. Uma chuva fina ca?ra na noite anterior, criando uma n?voa que tomava conta do lugar. Ele caminhou vagarosa e metodicamente, como se fizesse aquilo todas as manh?s. Por todos os lados havia funda??es de casas—casas que nunca seriam finalizadas. Ele sup?s que as estruturas haviam sido feitas cinco ou seis anos atr?s, e abandonadas quando a crise imobili?ria chegou. Por alguma raz?o aquilo o irritava. Foram muitas promessas para uma fam?lia e um construtor, que acabaram falhando miseravelmente no fim. Contra a n?voa, ele parecia magro—magro e alto, como um espantalho vivo. Seu casaco preto misturava-se perfeitamente com o cinza claro do local. Era uma cena et?rea, que o fez sentir-se como um fantasma. Aquilo o fez sentir-se uma lenda, quase invenc?vel. Sentia-se como se fosse uma parte do mundo, e o mundo uma parte de si. Mas n?o havia nada natural em sua presen?a ali. Na verdade, ele havia planejando aquilo por semanas. Meses, na verdade. Os anos anteriores haviam apenas passado, levando-o em dire??o ?quele momento. Caminhou pela n?voa e escutou a cidade. A confus?o e agita??o estavam, talvez, a um quil?metro de dist?ncia. Ele estava em uma parte esquecida da cidade, pobre, um lugar que sofrera um colapso econ?mico. Muitos sonhos e esperan?as espalhavam-se por aquele ch?o coberto pelo nevoeiro. Aquilo tudo o fez querer queimar. Pacientemente, ele esperou. Andou de um lado para o outro sem nenhuma raz?o aparente. Caminhou pela cal?ada da rua vazia e depois pela ?rea de constru??o entre as casas que nunca foram terminadas. Olhou em volta, esperando que outro vulto aparecesse na n?voa. Sabendo que o universo o enviaria. Finalmente, apareceu. Mesmo antes do vulto tornar-se totalmente vis?vel, ele podia senti-lo atrav?s da luz fraca do amanhecer e da n?voa escorregadia. O vulto era feminino. Era o que ele estava esperando. O destino estava o ajudando. Com seu cora??o batendo forte no peito, caminhou para frente, fazendo seu melhor para parecer calmo e natural. Abriu a boca para come?ar a chamar por um cachorro que n?o estava ali. Na n?voa, sua voz n?o parecia ser sua; estava escassa e oscilante, como um fantasma. Colocou a m?o no bolso de seu casaco longo e puxou uma guia retr?til para c?es que havia comprado no dia anterior. - Pea, querida! – Chamou. Era o tipo de nome que confundiria quem estivesse passando antes que a pessoa tivesse tempo para realmente olhar pela segunda vez. - Pea, querida! A figura da mulher chegou mais perto, caminhando pela n?voa. Ele viu que ela tinha seu pr?prio cachorro e estava levando-o para uma caminhada matinal. O animal era de uma das menores ra?as, do tipo que mais parecia um rato. Claro, ele tinha essa informa??o sobre ela. Ele sabia praticamente tudo sobre sua programa??o pela manh?. - Est? tudo bem? – A mulher perguntou. Ele conseguia ver o rosto dela agora. Ela era muito mais jovem que ele. Vinte anos, pelo menos. Segurou a guia vazia e deu um sorriso triste para a mulher. - Minha cachorra se perdeu. Tenho certeza que ela veio nessa dire??o, mas n?o consigo escuta-la. - Ah, que pena – disse a mulher. - Pea, querida! – Ele gritou novamente. Aos p?s da mulher, seu pequeno cachorro levantou uma perna e urinou. A mulher pareceu quase nem perceber. Ela estava olhando para ele agora. Seus olhos pareciam estar lhe reconhecendo. Ela inclinou a cabe?a. Um sorriso incerto apareceu em sua boca. Ela deu um pequeno passo atr?s. Ele colocou a m?o no outro bolso do casaco e segurou o martelo que estava escondido ali. Tirou o objeto do bolso com uma velocidade que surpreendeu at? a si mesmo. Usou o martelo para golpe?-la com for?a na cabe?a. O som do golpe no terreno quieto, em meio a n?voa, foi quase impercept?vel. Pou! Os olhos dela pararam. Quando ela caiu no ch?o, tra?os do sorriso t?mido ainda estavam em sua boca. Seu pequeno cachorro chorou sobre ela e olhou para ele, latindo pateticamente. Ele caminhou na dire??o do cachorro e rosnou de leve. O c?o urinou um pouco mais, recuou e depois correu pelo terreno, com a coleira balan?ando atr?s dele. Ele colocou no bolso o martelo e a guia in?til. Depois, por um momento, olhou para baixo, para o corpo dela, e vagarosamente a alcan?ou. O ?nico som que se escutava era o latido do cachorro, ecoando sem fim em meio ? n?voa da manh?. CAP?TULO UM Avery colocou a ?ltima das caixas no ch?o do novo apartamento de sua filha e sentiu vontade de chorar. O caminh?o de mudan?as tinha deixado a rua cinco minutos atr?s e j? n?o havia mais volta: Rose tinha um apartamento pr?prio. Avery sentiu um buraco crescendo em seu est?mago: aquilo era totalmente diferente de t?-la morando em um dormit?rio universit?rio, onde havia amigos em todas as esquinas, al?m da seguran?a da pol?cia do campus. Rose moraria sozinha agora. E Avery ainda n?o aceitara isso. Muito pouco tempos atr?s, Rose estivera em perigo por conta do ?ltimo caso de Avery—e aquilo era algo pelo qual ela ainda se culpava muito. Algo que a fizera sentir-se uma decep??o como m?e e a deixara muito assustada por sua filha. E n?o era qualquer coisa que assustava uma detetive de homic?dios como ela. Ela tem dezoito anos, Avery pensou. Voc? n?o pode segura-la para sempre, especialmente porque voc? n?o a segurou por perto quase nunca, para n?o dizer nunca, enquanto ela estava crescendo. Como Rose crescera t?o r?pido? Como ela se tornara uma mulher t?o linda, independente e focada? Avery certamente n?o tinha m?ritos nisso, j? que estivera ausente da maior parte da vida de sua filha. Apesar de tudo, sentiu-se orgulhosa ao ver sua filha tirar as pr?prias lou?as das caixas e coloca-las em seu pr?prio arm?rio. Apesar da inf?ncia e da adolesc?ncia tumultuadas pelas quais passara, Rose havia conseguido. O futuro havia chegado, e come?ado com ela colocando suas lou?as de lojas de 1,99 nos arm?rios de seu primeiro apartamento. - Estou orgulhosa de voc?, amor – Avery disse. Ela caminhou entre as muitas caixas que ocupavam o piso da sala. - Pelo que? – Rose disse. - Por sobreviver – Avery respondeu, rindo. – Eu sei que eu n?o tornei as coisas f?ceis para voc?. - Voc? n?o. Mas o pai tornou. E isso n?o ? uma indireta para voc?. Avery sentiu uma pontada de tristeza. - Eu sei. Avery sabia que admitir tal coisa era dif?cil para Rose. Ela sabia que sua filha ainda estava tentando encontrar uma base s?lida para a rela??o delas. Para uma m?e e filha tipicamente distantes, a reconcilia??o j? seria dif?cil. Mas ambas haviam passado por tempos horr?veis ultimamente. Rose fora perseguida por um assassino em s?rie e obrigada a mudar-se para um abrigo secreto, enquanto Avery estava lutando contra um estresse p?s-trauma depois de correr pelo resgate da filha. Havia obst?culos enormes para ultrapassar. E at? algo simples como levar caixas para o novo apartamento da filha era um passo enorme no caminho da reconcilia??o. E Avery queria se reconciliar mais do que tudo. Dar aquele passo requeria algum tipo de normalidade—uma normalidade que n?o estava sempre dispon?vel no mundo de uma detetive obcecada pelo trabalho. Ela juntou-se a Rose na cozinha e a ajudou a abrir as caixas com a etiqueta “cozinha”. Enquanto elas trabalhavam juntas para esvaziar as caixas, Avery sentiu-se quase chorando novamente. Que porra ? essa? Desde quando eu sou t?o emotiva? - Voc? acha que vai ficar bem? – Avery perguntou, fazendo o poss?vel para continuar a conversa. – Aqui n?o ? como um dormit?rio da faculdade. Voc? est? definitivamente por conta pr?pria. Voc? est? pronta depois... bem, depois de tudo que passou? - Sim, m?e. Eu n?o sou mais uma garotinha. - Bem, isso est? bem claro. - Al?m disso - Rose disse, colocando a ?ltima lou?a de lado e empurrando a ?ltima caixa, - eu n?o estou mais totalmente sozinha. Ali estava. Rose estivera um pouco distra?da ultimamente, mas tamb?m bem humorada, e um bom humor not?vel era algo raro para Rose Black. Avery havia pensado que poderia haver um garoto envolvido que abrira uma caixa completamente diferente com a qual ela n?o estava preparada para lidar. Ela havia perdido o per?odo de conversas com Rose, os detalhes de seu primeiro namoradinho, a primeira dan?a e primeira beijo. Agora que estava sabendo de um poss?vel amor da vida de sua filha de dezoito anos, ela entendeu quanta coisa tinha perdido. - Como assim? – Avery perguntou. Rose mordeu os l?bios, como se tivesse se arrependido de dizer aquilo. - Eu... bem, acho que eu conheci algu?m. Ela disse aquilo casualmente e sem muita aten??o, mostrando claramente que n?o tinha interesse em falar sobre o assunto. - Ah, s?rio? – Avery perguntou. – Quando foi isso? - Quase um m?s atr?s – Rose respondeu. Exatamente o mesmo tempo que tenho notado ela com um humor melhor, Avery pensou. ?s vezes era dif?cil entender como suas habilidades de detetive invadiam sua vida pessoal. - Mas... Ele n?o vai morar aqui, vai? – Avery perguntou. - N?o, m?e. Mas pode ser que ele venha bastante aqui. - Isso n?o ? o tipo de coisa que a m?e de uma garota de dezoito anos quer ouvir – Avery disse. - Meu Deus, m?e. Est? tudo bem. Avery sabia que deveria parar por ali. Se Rose quisesse conversar com ela sobre esse cara, faria quando achasse melhor. Pressiona-la tornaria tudo pior. Mas, novamente, seu instinto profissional se sobrep?s e ela n?o pode deixar de fazer mais perguntas. - Posso conhece-lo? - Uou, claro que n?o. Pelo menos por enquanto. Avery percebeu a oportunidade de ir mais a fundo na conversa—a estranha conversa sobre sexo seguro e o risco de doen?as e gravidez na adolesc?ncia. Mas ela sentiu quase como se n?o tivesse o direito, dada a rela??o tensa entre as duas. Sendo uma detetive de homic?dios, no entanto, era imposs?vel n?o se preocupar. Ela conhecia os homens l? fora. Havia visto n?o apenas assassinos, mas muitos casos de abuso dom?stico. E mesmo que aquele cara na vida de Rose pudesse ser um perfeito cavalheiro, era muito mais f?cil para Avery pensar que ele era uma amea?a. De alguma forma, no entanto, ela n?o deveria confiar nos instintos da filha? N?o tinha acabado de elogiar a filha por quem ela havia se tornado apesar de tudo? - Tome cuidado – Avery disse. Rose estava claramente envergonhada. Ela virou os olhos e come?ou a mexer nos DVDs na pequena sala que ficava junto ? cozinha. - E voc?? – Rose perguntou. – Voc? n?o cansa de ficar sozinha? Sabe... Papai ainda est? solteiro, tamb?m. - Eu sei disso – Avery disse. – Mas n?o ? da minha conta. - Ele ? seu ex-marido – Rose enfatizou. - E ? meu pai. Ent?o, sim, ele ? da sua conta. Pode te fazer bem v?-lo. - N?o seria bom para nenhum de n?s – Avery respondeu. – Se voc? perguntar para ele, tenho certeza que ele vai responder a mesma coisa. Avery sabia que aquilo era verdade. Mesmo que eles nunca tivessem conversado sobre retomar a rela??o, havia um acordo velado entre os dois—algo que eles sentiam no ar desde que ela perdera seu trabalho como advogada e basicamente arruinara sua vida nas semanas seguintes. Eles tolerariam um ao outro por Rose. Ainda que houvesse sentimentos m?tuos de amor e respeito, os dois sabiam que n?o havia volta. Jack s? estava preocupado com a mesma coisa que Avery. Ele queria que ela passasse mais tempo com Rose. E cabia a ela descobrir uma maneira de fazer isso. Ela passara algum tempo pensando em um plano pelas ?ltimas semanas e, mesmo que aquilo fosse requerer sacrif?cios de sua parte, ela estava pronta para tentar. Percebendo que o assunto delicado sobre Jack j? estava passando, como uma nuvem de tempestade, Avery tentou tocar no assunto do sacrif?cio. N?o havia como falar daquilo indiretamente, ent?o ela simplesmente iniciou a conversa. - Estava pensando em pedir uma carga de trabalho mais leve para os pr?ximos meses. Eu acho que deveria mesmo dar uma chance de verdade para as outras coisas. Rose parou por um minuto. Ela parecia realmente surpresa. Assentiu sutilmente e voltou a mexer nas caixas. O ?nico som que fez foi um pequeno “hum”. - O que foi? – Avery perguntou. - Mas voc? ama seu trabalho. - Amo – Avery concordou, - mas estive pensando em sair do departamento de homic?dios. Se eu fizer isso, vou ter que trabalhar um pouco menos. Rose parou completamente de mexer nas caixas. Ela fez diferentes express?es em poucos segundos. Avery ficou feliz em ver que uma delas parecia ser uma express?o de esperan?a. - M?e, voc? n?o tem que fazer isso. – A voz dela era leve e indefesa, quase como a da garotinha que Avery se lembrava facilmente. – Isso ? quase como arrancar sua vida pela raiz. - N?o, n?o ?. Estou ficando mais velha e percebendo que eu perdi um monte de coisas familiares. ? isso o que eu preciso para seguir em frente, para ser melhor. Rose sentou-se no sof?, cheio de caixas e roupas jogadas. Ela olhou para Avery, com a express?o de esperan?a ainda no rosto. - Voc? tem certeza de que ? isso o que voc? quer? – Ela perguntou. - N?o sei. Talvez. - Al?m disso - Rose disse, - eu sei de onde vem minha habilidade incr?vel de trocar de assunto. Voc? saiu rapidamente do tema de estar sozinha sempre. - Voc? percebeu, n?? - Sim. E para ser sincera, acho que meu pai tamb?m. - Rose— Rose virou-se para ela. - Ele sente sua falta, m?e. Avery congelou. Ficou parada, quieta por um momento, sem poder responder. - Eu sinto falta dele ?s vezes tamb?m – admitiu. – Mas n?o o suficiente para ligar para ele e escavar o passado. Ele sente sua falta, m?e. Avery deixou aquelas palavras a invadirem. Ela dificilmente pensava em Jack em qualquer sentido rom?ntico. No entanto, havia dito a verdade: Ela sentia a falta dele. Falta do estranho senso de humor de Jack, da maneira como o corpo dele parecia sempre um pouco gelado demais pela manh?, como a necessidade dele de sexo era quase engra?ada de t?o previs?vel. Mais do que tudo, no entanto, ela sentia falta de ver como ele era um excelente pai. Mas tudo aquilo havia passado e era parte de uma vida que Avery estava tentando fortemente deixar para tr?s. Ainda assim, ela n?o pode deixar de imaginar como tudo poderia ter sido, percebendo que tivera a chance de uma vida excelente. Uma vida com cercas de piquete, arrecada??o de fundos para a escola e tardes pregui?osas de domingo no quintal. Mas a chance para aquilo tudo j? era. Rose havia perdido aquele cen?rio dos sonhos e Avery ainda se culpava. - M?e? - Desculpe, Rose. S? n?o vejo eu e seu pai consertando as coisas, sabe? Al?m disso – ela continuou, respirando fundo e preparando-se para a rea??o de Rose, - talvez voc? n?o seja a ?nica que conheceu algu?m. Rose virou-se para ela, e Avery ficou aliviada ao ver seu sorriso. Ela olhou para sua m?e com o sorriso maroto que amigas trocavam em coquet?is enquanto falavam sobre homens. Aquilo esquentou o cora??o de Avery de uma maneira que ela n?o estava preparada, nem conseguiria explicar. - Que? – Rose perguntou, fingindo surpresa. – Voc?? Detalhes, por favor. - N?o tem detalhes ainda. - Hum... Quem ? ele? Avery riu, percebendo qu?o bobo seria aquilo. Ela quase n?o disse nada. Afinal, ela mal havia dito para o homem o que sentia. Contar algo para sua filha era um pouco surreal. Ainda assim, ela e Rose estavam progredindo. N?o fazia sentido esconder a informa??es apenas por sua vergonha de sentir algo por um homem que n?o fosse o pai de Rose. - ? um homem que trabalha comigo. Ramirez. - Voc?s j? se pegaram? - Rose! Rose deu de ombros. - Ei... Voc? queria uma rela??o aberta e honesta com sua filha, certo? - Sim, acho que sim – ela disse, sorrindo. – E n?o... n?s n?o nos pegamos. Mas eu estou afim dele. Ele ? bacana. Engra?ado, sexy, e tem um tipo de charme nele que antes me irritava, mas agora... ? atraente. - Ele sente o mesmo por voc?? – Rose perguntou. - Sente. Ou... sentia. Acho que estraguei tudo. Ele foi paciente, mas acho que a paci?ncia dele acabou. – O que ela guardou para si mesma foi o fato de que havia decidido falar a Ramirez o que sentia, mas ainda n?o havia colocado os nervos no lugar para isso. - Voc? fez ele se afastar? – Rose perguntou. Avery sorriu. - Caramba, voc? percebe as coisas. - Estou te dizendo. Isso ? gen?tico. Rose voltou a sorrir, parecendo ter esquecido das caixas por um instante. - V? em frente, m?e! - Ah, meu Deus. Rose riu e Avery a acompanhou. Aquele era facilmente o momento mais pr?ximo das duas desde que elas haviam come?ado a tentar reparar seu relacionamento. De repente, a ideia de dar um passo atr?s no esquadr?o de homic?dios e tirar algum tempo de folga do trabalho parecia uma necessidade ao inv?s de apenas uma ideia bacana. - Voc? tem algo para fazer no final de semana? – Avery perguntou. - Arrumar a casa. Talvez um encontro com o Ma—o cara que ? melhor continuar sem nome por enquanto. - Que tal um dia de garotas com sua m?e amanh?? Almo?o, cinema, sal?o. Rose torceu o nariz com a ideia, mas depois levou a ideia a s?rio. - Posso escolher o filme? - Voc? deve. - Parece divertido. – Rose disse com uma ponta de excita??o. – Pode contar comigo. - Excelente – Avery disse. Depois, sentiu um instinto—uma necessidade de perguntar algo que pareceria estranho, mas seria fundamental para que a rela??o delas seguisse adiante. Ela sabia que o que estava prestes a perguntar para sua filha seria embara?oso, mas, ao mesmo tempo, libertador. - Ent?o est? tudo bem por voc? se eu seguir minha vida? – Avery perguntou. - Como assim? – Rose perguntou. – Esquecer meu pai de vez? - Sim. Seu pai e toda aquela parte da minha vida—uma parte da minha vida que deixou as coisas dif?ceis para todos n?s. Uma grande parte de mim seguindo em frente, sem estar acorrentada pela culpa. E eu tenho que esquecer seu pai para isso. Eu sempre vou ama-lo e respeita-lo por ter te educado enquanto eu n?o estava presente, mas tem uma grande parte da minha vida da qual eu preciso me libertar. Voc? me entende? - Sim – Rose disse. Sua voz estava suave e indefesa novamente. Escutar aquilo fez com que Avery quisesse ir at? o sof? para abra?a-la. – E voc? n?o precisa da minha permiss?o, m?e. – Rose continuou. – Eu sei que voc? est? tentando. Eu estou vendo. Mesmo. Pela terceira vez em quinze minutos, Avery sentiu seus olhos se encherem de l?grimas. Ela suspirou e mandou embora a vontade de chorar. - Como voc? se tornou uma pessoa t?o boa? – Avery perguntou. - Gen?tica – Rose disse. – Voc? pode ter cometido alguns erros, m?e, mas voc? sempre foi foda. Antes de que Avery tivesse tempo para formular uma resposta, Rose deu um passo a frente e a abra?ou. Um abra?o genu?no—algo que ela n?o recebia de sua filha h? tempos. Naquele momento, Avery deixou as l?grimas ca?rem. Ela n?o conseguia lembrar da ?ltima vez em que havia se sentido t?o feliz. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu como se estivesse realmente progredindo para escapar dos erros do passado. Mais um grande passo seria dado falando com Ramirez e deixando-o saber que ela havia se cansado de esconder o que estava crescendo entre eles. Ela queria estar com ele—seja l? como fosse. De repente, com os bra?os de sua filha em sua volta, Avery mal podia esperar para conversar com ele. Na verdade, ela esperava que fosse muito mais do que uma conversa. Esperava que eles acabassem fazendo muito mais do que apenas falar, deixando finalmente de lado a tens?o constru?da entre os dois. CAP?TULO DOIS Ela encontrou Ramirez tr?s horas depois, logo depois do fim do turno dele. Ele havia atendido a liga??o ansioso, mas parecia cansado. Por isso eles escolheram encontrar-se ? beira do Rio Charles, em um dos muitos bancos com vista para a ?gua na trilha de caminhada em volta do lado leste do rio. Quando caminhou at? o banco em que eles haviam combinado de se encontar, Avery viu que ele acabara de chegar. Estava sentado, olhando para o rio. O cansa?o em sua voz tamb?m estava em seu rosto. No entanto, ele parecia tranquilo. Ela havia percebido aquilo nele em muitas ocasi?es, como ele ficava quieto e introspectivo sempre que presenciava uma vista panor?mica da cidade. Ela se aproximou e ele virou-se quando escutou os passos. Ele mostrou seu sorriso e, assim, j? n?o parecia cansado. Uma das muitas coisas que Avery gostava em Ramirez era como ele fazia ela se sentir sempre que olhava para ela. Era ?bvio que havia mais do que uma simples atra??o ali; ele olhava para ela com aprecia??o e respeito. Isso, somado ao fato de que ele dizia que ela era linda rotineiramente, fez com que ela se sentisse mais segura e desejada do que podia lembrar. - Dia longo? – Avery perguntou quando sentou-se no banco. - N?o muito – Ramirez disse. – Cheio de trabalho normal. Queixas de barulho. Uma briga em um bar com um pouco de sangue. E olha que merda, recebi at? uma chamada sobre um cachorro que tinha perseguido uma crian?a ?rvore acima. - Uma crian?a? - Uma crian?a – Ramirez disse. – A glamurosa vida de um detetive quando a cidade est? quieta e chata. Os dois olharam para o rio em um sil?ncio que, durante as ?ltimas semanas, come?ara a se tornar confort?vel. Mesmo que n?o tivessem algo s?rio, eles haviam come?ado a apreciar o tempo juntos, que n?o se limitava apenas a conversar por conversar. Devagar e de prop?sito, Avery segurou a m?o dele. - Voc? quer caminhar comigo? - Claro – ele disse, apertando a m?o dela. At? dar as m?os era algo enorme para Avery. Ela e Ramirez davam as m?os frequentemente e haviam se beijado rapidamente em algumas poucas ocasi?es—mas segurar a m?o dele intencionalmente era algo que a tirava da zona de conforto. Mas est? ficando confort?vel, ela pensou quando eles come?aram a caminhar. Uou, est? confort?vel j? faz um tempo. - Voc? est? bem? – Ramirez perguntou. - Sim – ela disse. – Tive um dia muito bom com a Rose. - Est? tudo voltando ao normal por l?? – Ele perguntou. - Longe do normal – Avery disse. – Mas estamos chegando l?. E falando em chegar l?... Ela parou, pensando porque era t?o dif?cil para ela dizer o que queria. Por conta de seu passado, sabia que era algu?m forte emocionalmente. Ent?o por que era t?o dif?cil expressar seus sentimentos em momentos importantes? - Vai parecer brega – Avery disse. – Ent?o por favor tenha paci?ncia comigo e lembre-se da minha vulnerabilidade. - Tudo bem... – Ramirez disse, claramente confuso. - Eu sei, j? faz um bom tempo, que eu preciso mudar algumas coisas. Uma grande parte disso est? em consertar as coisas com a Rose. Mas h? outras coisas tamb?m. Coisas que eu fico amedrontada em admitir para mim mesma. - Tipo o que? – Ramirez disse. Ela podia ver que ele estava ficando um pouco desconfort?vel. Eles haviam sido sinceros um com o outro antes, mas nunca a esse ponto. Estava sendo mais dif?cil do que ela esperava. - Olhe... Eu sei que eu praticamente estraguei tudo entre a gente – Avery disse. – Voc? mostrou muita paci?ncia e entendimento enquanto eu fiz tudo errado. E eu sei que eu continuei te atraindo por um tempo para depois te afastar. - Se voc? quer que eu confirme, sim – Ramirez disse com um pouco de ironia. - Eu n?o posso me desculpar o suficiente por isso – Avery disse. – E se voc? puder encontrar no seu cora??o um espa?o para perdoar minha hesita??o e meus medos... Eu realmente gostaria de ter uma nova chance. - Uma chance para o que? – Ramirez disse. Ele vai me fazer dizer, ela pensou. E eu acho que mere?o esse tratamento. A tarde estava virando noite e havia apenas poucas pessoas nas trilhas ao redor do rio. A cena era pitoresca, como naqueles filmes que ela geralmente odiava assistir. - Uma chance para n?s – Avery disse. Ramirez parou de caminhar, mas continuou segurando a m?o dela. Ele olhou para ela com seus olhos castanho escuro e seguiu fitando-a. - N?o pode ser uma chance – ele disse. – Tem que ser algo real. Algo seguro. N?o posso continuar deixando voc? ir e voltar, fazendo com que eu sempre tenha que adivinhar. - Eu sei. - Ent?o, se voc? puder me explicar o que voc? quer com n?s, eu vou pensar sobre isso. Ela n?o conseguia perceber se ele estava falando s?rio ou somente dificultando as coisas. Desviou o olhar e apertou as m?os dele. - Droga – ela disse. – Voc? vai tornar isso ainda mais dif?cil para mim, n?o vai? - Bem, eu acho que— Ela o interrompeu com um beijo. No passado, os beijos entre eles haviam sido r?pidos, estranhos, cheios de sua hesita??o habitual. Agora, por?m, ela se perdera no beijo. Juntou os corpos o mais perto poss?vel e o beijou com a maior paix?o que ela havia posto em um contato f?sico desde seu ?ltimo ano feliz de casamento com Jack. Ramirez n?o tentou evitar nada. Ela sabia que ele queria aquilo tamb?m e podia sentir sua ansiedade. Eles se beijaram como adolescentes apaixonados ao lado do Rio Charles. Um beijo macio, quente, que acabava com a frustra??o sexual que houvera entre eles por muitos meses. Com as l?nguas juntas, Avery sentiu uma onda de energia passando por ela—uma energia que ela queria usar de uma maneira muito espec?fica. Ela interrompeu o beijo e colocou sua testa em frente a dele. Eles se olharam por muitos segundos na mesma posi??o, aproveitando o sil?ncio e o peso do que haviam acabado de fazer. Uma linha fora ultrapassada. E no sil?ncio tenso, ambos sentiram que ainda havia muitas linhas para cruzar. - Voc? tem certeza disso? – Ramirez perguntou. - Sim. E eu sinto por ter levado tanto tempo para perceber. Ele puxou ela para perto e a abra?ou. Ela sentiu um al?vio no corpo, como se um grande peso tivesse ido embora. - Eu quero tentar – Ramirez disse. Ele interrompeu o abra?o e a beijou novamente, de leve, no canto da boca. - Acho que precisamos celebrar essa ocasi?o. Voc? quer jantar? Ela suspirou e sorriu. J? havia quebrado uma barreira emocional ao confessar seus sentimentos para ele. Que mal faria continuar sendo completamente honesta com ele agora? - Eu acho mesmo que n?s temos que celebrar – ela disse. – Mas agora, nesse momento, n?o estou t?o interessada em jantar. - Ent?o o que voc? quer fazer? – Ele perguntou. A pergunta foi mais do que charmosa. Ela inclinou-se e sussurrou na orelha dele, aproveitando a sensa??o de seu toque e o cheiro de sua pele. - Vamos para a sua casa. Ele se afastou e olhou para ela com o mesmo ar s?rio de antes, mas agora havia algo a mais. Era algo que ela havia visto nos olhos dele algumas vezes—algo que parecia muito com excita??o e vinha de uma necessidade f?sica. - Sim? – Ele disse, sem certeza. - Sim – ela respondeu. Enquanto caminhavam pela grama em dire??o ao estacionamento onde ambos haviam deixado seus carros, riram como crian?as. Avery n?o conseguia lembrar da ?ltima vez em que se sentira t?o animada e livre. *** A paix?o que haviam sentido enquanto caminhavam ? beira do rio ainda estava presente quando Ramirez abriu a porta de seu apartamento. Havia uma parte de Avery que queria pular em cima dele naquele momento, antes mesmo que ele tivesse tempo para fechar a porta. Eles haviam se acariciado durante todo o caminho at? o apartamento e agora que estavam ali, Avery sentia que estava ? beira de algo incr?vel. Quando Ramirez fechou e trancou a porta, Avery surpreendeu-se com o fato de que ele n?o foi diretamente na dire??o dela. Ao inv?s disso, ele passou pela sala e foi at? a cozinha, onde serviu a si mesmo um copo d’?gua. - Quer ?gua? – Ele perguntou. - N?o, obrigada. – Ela respondeu. Ele bebeu de seu copo e olhou pela janela da cozinha. A noite havia chegado e as luzes da cidade refletiam no vidro. Avery juntou-se a ele na cozinha e, brincando, tirou o copo d’?gua da m?o dele. - O que foi? – Ele perguntou. - Voc?... Bem, voc? mudou de ideia sobre mim? – Ela perguntou. – Toda a espera te fez parar de me desejar? - Claro que n?o – ele disse, e colocou seus bra?os em volta da cintura dela, enquanto Avery viu que ele estava buscando as palavras certas. - Podemos esperar – ela disse, torcendo para que ele n?o concordasse. - N?o – ele disse, rapidamente. – ? que... Merda, n?o sei. Aquilo fora uma surpresa para Avery. Com todo o flerte e as conversas sedutoras nos ?ltimos meses, ela estava certa de que ele seria at? um pouco agressivo quando e se aquela hora chegasse. Mas agora, ele parecia inseguro sobre si mesmo—quase nervoso. Ela inclinou-se e o beijou no canto do rosto. Ele suspirou e se inclinou na dire??o dela. - O que foi? – Ela perguntou, com os l?bios encostando na pele dele enquanto falava. - ? que isso tudo ? de verdade agora, sabe? N?o ? algo de uma noite s?. ? de verdade. Eu me preocupo muito com voc?, Avery. Mesmo. E eu n?o quero apressar as coisas. - N?s estivemos ensaiando esse momento pelos ?ltimos quatro meses – ela disse. – N?o acho que isso seja se apressar. - Bem pensado – ele disse, e a beijou na bochecha, depois no pedacinho do ombro que a camiseta dela mostrava. Seus l?bios depois encontraram o pesco?o dela e quando ele a beijou ali, ela pensou que fosse cair no ch?o no mesmo momento, trazendo ele consigo. - Ramirez? – Ela disse, ainda evitando, de brincadeira, o primeiro nome dele. - Sim? – Ele perguntou, com seu rosto no pesco?o dela, dando beijos. - Me leve para a cama. Ele a puxou para perto, levantou-a, e a deixou colocar suas pernas em volta da cintura dele. Eles come?aram a se beijar e depois ele a obedeceu. Devagar, a carregou para o quarto e, quando fechou a porta, Avery nem chegou a ouvir, de t?o perdida que estava no momento. Tudo o que ela conseguia sentir eram as m?os, boca e corpo em forma dele junto ao dela quando ele a colocou na cama. Ele interrompeu um longo beijo para perguntar: - Voc? tem certeza disso? E se ela precisava de mais uma raz?o para quere-lo, ali estava. Ele realmente se preocupava com ela e n?o queria estragar o que eles sentiam um pelo outro. Ela assentiu e o empurrou para debaixo dela. Depois, por um tempo, ela n?o era uma detetive de homic?dios frustrada, nem uma m?e atrapalhada ou uma filha que assistira sua m?e morrer nas m?os de seu pai. Ela era apenas Avery Black... uma mulher como qualquer outra, aproveitando os prazeres que a vida podia oferecer. Ela quase havia quase se esquecido de como era aquilo. Assim que come?ou a se acostumar novamente com aqueles prazeres, prometeu a si mesma que nunca mais se permitiria esquece-los novamente. CAP?TULO TR?S Avery abriu os olhos e viu o teto desconhecido sobre sua cabe?a. A luz fraca do amanhecer entrou pela janela do quarto, alcan?ando seu corpo quase nu. A luz tamb?m mostrou o corpo nu de Ramirez ao lado dela. Ela virou-se e sorriu, com sono. Ele ainda estava dormindo, com o rosto virado para o lado contr?rio dela. Eles haviam feito amor duas vezes na noite anterior, com um intervalo de duas horas entre cada uma para um r?pido jantar, e para discutir como aquilo poderia complicar sua rela??o profissional se eles n?o tomassem cuidado. Era quase meia noite quando eles haviam finalmente deitado lado a lado. Avery estivera sonolenta e n?o conseguia lembrar quando pegara no sono, mas lembrava-se do bra?o dele em sua cintura. Ela queria aquilo novamente... Aquele sentimento de ser desejada e estar segura. Pensou em passar seus dedos pela coluna dele (e talvez outros lugares tamb?m) apenas para acorda-lo para que ele pudesse abra?a-la. Mas ela n?o teve essa chance. O sinal de mensagem de seu telefone tocou. O de Ramirez tamb?m. No mesmo momento, em uma ocasi?o que s? poderia ter um significado: era algo relacionado ao trabalho. Ramirez sentou-se rapidamente. Naquele momento, o len?ol caiu e revelou tudo. Avery olhou, sem conseguir segurar a si mesma. Ele pegou seu telefone do criado mudo e olhou-o com seus olhos claros. Enquanto fez isso, Avery procurou seu pr?prio telefone na pilha de roupas no ch?o. A mensagem era de Dylan Connelly, o supervisor do departamento de homic?dios do A1. Do jeito t?pico de Connelly, o texto ia direto ao ponto. Corpo encontrado. Muito queimado. Pode ter trauma na cabe?a. V? para o terreno de constru??es abandonadas na Kirkley St. AGORA. - Bem, essa ? uma boa maneira de acordar pela manh? – ela resmungou. Ramirez saiu da cama, ainda completamente nu, e a puxou para o ch?o junto com ele. Puxou-a para perto e disse: - Sim, esse ? um bom jeito de acordar. Ela inclinou-se na dire??o dele, um pouco assustada pela sensa??o de realiza??o que tomava conta dela naquele momento. Resmungou novamente e levantou-se. - Merda – ela disse. – Vamos chegar atrasados na cena do crime. Preciso pegar meu carro e ir at? em casa para trocar de roupa. - Vai dar tudo certo – Ramirez disse enquanto se vestia. – Vou responder a mensagem daqui a pouco, quando estivermos indo at? o seu carro. Voc? ignora a sua. Talvez o som da mensagem n?o te acordou. Talvez eu te liguei para te acordar. - Parece ilus?rio – ela disse, colocando sua camiseta. - ? inteligente, isso sim. Eles sorriram um para o outro e terminaram de se vestir. Depois, foram ao banheiro, onde Avery fez seu melhor para arrumar seu cabelo enquanto Ramirez escovava os dentes. Eles correram para a cozinha e Avery puxou dois potes de cereal. - Como voc? pode ver – ela disse, - eu sou uma cozinheira e tanto. Ele a abra?ou por tr?s e respirou em seu pesco?o. - Vai ficar tudo bem com a gente? – Ele perguntou. – N?s vamos fazer dar certo, n?? - Acho que sim – ela disse. – Vamos sair l? fora e tentar. Eles comeram o cereal rapidamente, levando mais tempo olhando um para o outro, tentando descobrir a rea??o do outro sobre o que havia acontecido na noite anterior. Pelo que Avery podia ver, ele estava t?o feliz quanto ela. Eles sa?ram em dire??o ? porta da frente, mas antes de fecha-la, Ramirez parou. - Espere aqui dentro um pouco. Confusa, ela voltou para dentro. - Dentro – ele disse, - n?o estamos trabalhando. N?o somos oficialmente parceiros, certo? - Certo – Avery disse. - Ent?o posso fazer isso mais uma vez – ele disse. Ele inclinou-se e a beijou. Um beijo estonteante, com for?a suficiente para fazer os joelhos dela tremerem um pouco. Ela, brincando, o empurrou. - Como eu j? disse antes – ela falou, - n?o comece se voc? n?o tem a inten??o de terminar. - Est? certo – ele disse, e depois a levou para fora e fechou a porta atr?s deles. – Ok, estamos trabalhando agora. Tome as r?deas, Detetive Black. *** Eles seguiram o plano de Ramirez. Avery n?o respondeu a mensagem de Connelly pelos dezesseis minutos seguintes. Neste tempo, ela j? estava quase em seu apartamento e ainda bastante atordoada pela maneira como tudo acontecera na noite anterior. Vestiu-se, pegou um caf? e saiu novamente em menos de dez minutos. O resultado do plano, claro, era chegar na Kirkley Street cerca de meia hora depois do que Connelly queria e imaginava. J? havia muitos agentes no local. Todos rostos familiares, que ela conhecera e come?ara a respeitar desde que se tornara uma detetive de homic?dios. As express?es em seus rostos naquela manh? a deram pistas de que aquele seria um longo dia. Uma das pessoas que ela viu trabalhando foi Mike O’Malley. Ela achou alarmante o fato de o capit?o estar por l? t?o cedo. Como comandante da maior parte da pol?cia de Boston, ele raramente era visto na agita??o de crimes rotineiros, n?o importando qu?o vis fossem. O’Malley estava conversando com dois agentes, sendo um deles Finley. Avery havia come?ado a respeitar Finley como agente, mesmo que ele fosse um tanto desinteressado para seu gosto. Ela viu Ramirez ao longe. Ele estava conversando com Connelly no lado mais distante do terreno abandonado. Enquanto caminhava at? Ramirez e Connelly, ela analisou a cena da melhor maneira poss?vel. J? havia estado naquela parte da cidade muitas vezes, mas nunca tinha prestado aten??o de verdade. Era uma das muitas partes pobres daquela parte da cidade, uma ?rea onde investidores entusiasmados haviam investido muito dinheiro, e depois visto as propriedades perderem seu valor e seus potenciais compradores irem embora rapidamente. Quando os esfor?os imobili?rios acabaram, a ?rea voltara a ruir. E parecia se encaixar nas redondezas. Duas chamin?s id?nticas podiam ser vistas ao longe, surgindo como gigantes danificados. As duas soltavam peda?os de fuma?a no ar, dando ? manh? uma sensa??o sombria—mas apenas naquela parte da cidade. No outro lado do terreno abandonado, Avery podia ver a beira do que deveria ter sido um pequeno riacho promissor, que devia passar por tr?s das casas de classe m?dia alta. Agora, o riacho j? havia sido tomado pelas ervas daninhas e amoreiras. Sacolas de pl?stico, embalagens de salgadinho e outros tipos de lixo estavam em meio ?s ervas daninhas. A pequena margem estava cheia de lama e descuidada, fazendo com que o lodo tomasse conta de boa parte do local. De maneira geral, aquela havia se tornado uma parte da cidade em que quase ningu?m seria feliz. Avery conhecia aquele sentimento: quando chegou perto de Ramirez e Connelly, o local instantaneamente a fez sentir-se queimando por dentro. Uma ?rea assim n?o pode ser uma coincid?ncia, pensou. Se algu?m matou ou deixou um corpo aqui, tem que haver algum significado... ou para o crime em si ou para o assassino. Logo ao lado de Finley e Ramirez, um agente havia terminado de colocar pequenas estacas vermelhas para delimitar uma parte retangular do terreno. Quando Avery olhou para ver o que havia dentro da ?rea demarcada, a voz de Connelly surgiu a seu lado, a poucos cent?metros de dist?ncia. - Porra, Black... Por que voc? demorou tanto? - Desculpe – ela disse. – N?o escutei o som da mensagem. Ramirez me ligou e me acordou. - Bem, voc? n?o est? atrasada porque estava arrumando o cabelo ou se maquiando, disso eu tenho certeza – Connelly enfatizou. - Ela n?o precisa de maquiagem – Ramirez disse. – Essa merda ? para menininhas. - Obrigada pessoal – Avery disse. - Que seja – Connelly tomou a palavra. – Ent?o, o que voc? acha disso? – Ele perguntou, apontando para o ret?ngulo desenhado pelas estacas. Dentro da ?rea demarcada, ela viu o que pareciam ser restos humanos. A maior parte do que viu era uma estrutura de esqueleto, mas que parecia brilhar. N?o havia como identificar a idade. Era com certeza um esqueleto que fora recentemente retirado de seu corpo. Em volta dele, algo que parecia ser cinzas e p? de carv?o. Em alguns lugares, ela viu o que deveriam ser m?sculos e tecidos daquele esqueleto, principalmente em volta das pernas e costelas. - Que porra aconteceu aqui? – Ela perguntou. - Ora, boa pergunta para nossa melhor detetive come?ar o trabalho – Connelly disse. – Mas o que n?s sabemos at? agora ? o seguinte: cerca de uma hora e quinze atr?s, uma mulher que estava em sua corrida matinal nos ligou descrevendo algo que, segundo ela, parecia um ritual sat?nico. A liga??o nos trouxe a isso. Avery passou pelas marcas vermelhas e entrou na ?rea demarcada. Uma hora e quinze minutos atr?s. Isso significava que se a sujeira preta em volta do esqueleto fossem mesmo cinzas, o esqueleto estivera coberto com pele pelo menos uma hora e meia antes. Mas aquilo n?o parecia certo. Seria preciso muita determina??o e planejamento para matar algu?m e depois, milagrosamente, queima-lo at? n?o sobrar nada, apenas ossos, em t?o pouco tempo. Na verdade, ela pensou que isso seria quase imposs?vel. - Algu?m tem luvas? – Ela perguntou. - Um segundo. – Ramirez disse. Enquanto ele foi at? Finley e os outros agentes que haviam abrido espa?o para Avery, ela tamb?m sentiu um cheiro no local. Era fraco, mas percept?vel—um cheiro qu?mico que parecia ?gua sanit?ria no nariz. - Algu?m mais est? sentindo isso? – Ela perguntou. - Algo qu?mico, certo? – Connelly perguntou. – N?s achamos que um inc?ndio induzido por qu?micos ? o ?nico jeito de queimar um corpo assim t?o r?pido. - Eu n?o acho que o corpo foi queimado aqui – ela disse. - Como voc? tem certeza? – Connelly perguntou. N?o tenho certeza, ela pensou. Mas a ?nica coisa que faz sentido para mim em um primeiro momento para mim parece muito absurda. - Avery— - Connelly disse. - Um segundo – ela respondeu. – Estou pensando. - Meu Deus... Ela o ignorou, olhando para as cinzas e para o esqueleto com olhos investigativos. N?o... o corpo n?o pode ter sido queimado aqui. N?o h? marcas de queimadura em volta do corpo. Uma pessoa queimada iria se mexer e correr loucamente. N?o tem mais nada queimado aqui. O ?nico sinal de fogo s?o essas cinzas. Ent?o por que um assassino queimaria um corpo e depois o traria para c?? Talvez seja aqui que ele raptou a v?tima... Havia incont?veis possibilidades. Uma delas, Avery pensou, era que talvez aquele esqueleto fosse propriedade de algum laborat?rio, em algum lugar, e aquilo era apenas uma brincadeira est?pida e idiota. Mas dada a localiza??o e estado daquilo, ela duvidava dessa hip?tese. Ramirez retornou com um par de luvas de l?tex. Avery as vestiu e abaixou-se at? as cinzas. Ela colocou um pouco do material entre seu dedo indicador e polegar. Esfregou os dedos e os trouxe para perto do rosto. Cheirou e olhou de perto. Pareciam cinzas normais, mas com tra?os de um cheiro qu?mico. - Precisamos analisar essas cinzas – Avery disse. – Se h? algo qu?mico aqui, h? uma boa chance de ainda encontrarmos isso nas cinzas. - Tem uma equipe de peritos vindo, como conversamos – Connelly disse. Devagar, Avery levantou-se e tirou as luvas. O’Malley e Finley chegaram perto e Avery n?o se surpreendeu ao ver Finley manter dist?ncia do esqueleto e das cinzas. Ele olhava como se o esqueleto pudesse pular em cima dele a qualquer momento. - Estou trabalhando para conseguir imagens de todas as c?meras de seguran?a em um raio de seis blocos – O’Malley disse. – J? que n?o h? muitas nessa parte da cidade, n?o deve demorar. - Pode ser uma boa ideia tamb?m conseguir os n?meros de todas as empresas que vendem produtos qu?micos altamente inflam?veis – Avery disse. - Pode ser que existam milh?es de lugares assim – Connelly disse. - N?o, ela est? certa – O’Malley disse. – Isso aqui n?o foi feito s? com um produto de limpeza de casa ou um spray. Foi um produto qu?mico concentrado, eu diria. Finley, voc? pode come?ar a trabalhar nisso? - Sim, senhor – Finley disse, claramente feliz por ter um motivo para sair dali. - Black e Ramirez... Esse caso ? de voc?s agora – O’Malley disse. – Trabalhem com Connelly para formar uma equipe o mais r?pido poss?vel. - Perfeito – Ramirez disse. - E Black, nada de se atrasar daqui para frente. Seu atraso essa manh? nos fez perder quinze minutos. Avery assentiu, sem permitir a si mesma entrar em uma discuss?o. Ela sabia que a maioria dos homens acima dela ainda estavam procurando qualquer pequeno motivo para elimina-la. E lidava bem com isso. Dado seu hist?rico s?rdido, ela na verdade esperava por isso. Quando come?ou a se afastar das estacas vermelhas, ela percebeu algo muitos metros ? direita. Havia visto aquilo na primeira vez em que se aproximou do esqueleto, mas pensaraque era apenas lixo. Mas agora, caminhando at? mais perto dos detritos, viu o que pareciam ser estilha?os de alguma coisa. Parecia-se quase com vidro, possivelmente algo que fora queimado em um forno em algum momento. Ela caminhou at? os estilha?os, tendo uma vis?o melhor do riacho obscuro na parte de tr?s do terreno. - Algu?m mais viu isso? – Ela perguntou. Connelly olhou, sem muito interesse. - Apenas lixo – ele disse. - N?o acho – ela respondeu. Ela colocou novamente as luvas de l?tex e juntou um peda?o dos estilha?os. Olhando de perto, viu que o que quer que fosse aquele objeto, era feito de vidro, e n?o material de cer?mica. N?o parecia haver qualquer poeira ou desgaste nos fragmentos. Havia sete peda?os grandes, do tamanho de sua palma, e incont?veis peda?os menores por todo o ch?o. Mesmo tendo sido quebrado, o que quer que fosse aquele objeto, parecia ser bastante novo. - Seja l? o que for isso, n?o est? aqui por muito tempo – ela disse. – Os peritos t?m que analisar isso aqui e procurar digitais. - Vou mandar eles fazerem isso – Connelly disse em um tom que indicava que ele n?o gostava de receber ordens. – Agora, voc?s dois... Cheguem no A1 em no m?ximo meia hora. Vou fazer algumas liga??es e deixar uma equipe esperando por voc?s na sala de reuni?es. Essa cena est? aqui a menos de duas horas. Quero pegar esse babaca antes que ele tenha tempo para escapar. Avery olhou para o esqueleto pela ?ltima vez. Sem a carne por cima, ele parecia estar sorrindo. Para Avery, era quase como se o assassino estivesse sorrindo para ela, com um riso provocador. E n?o foi apenas a vista de um esqueleto rec?m despido que a fazia ter uma sensa??o de desgra?a. Era tamb?m o local, os montes de cinzas colocados quase perfeitamente em volta dos ossos, os restos deixados ? vista de prop?sito, e o cheiro de qu?mica. Tudo parecia apontar para algo preciso. Para algo muito intencional e planejado. E at? onde Avery sabia, aquilo s? poderia significar uma coisa: quem fizera aquilo certamente faria novamente. CAP?TULO QUATRO Quarenta minutos depois, Avery entrou na sala principal de reuni?es da sede do A1. O lugar j? estava lotado com um misto de agentes e especialistas, totalizando doze pessoas, das quais ela conhecia a maioria, apesar de n?o t?o bem quanto Ramirez ou Finley. Sup?s que a culpa por isso era dela mesma. Depois de Ramirez ter sido designado para ser seu parceiro, ela n?o havia mais feito amigos. Parecia algo bobo para se fazer enquanto detetive de homic?dios. Quando todos tomaram seus lugares ao redor da mesa—exceto por Avery, que sempre preferia ficar em p?—um dos agentes que ela n?o conhecia come?ou a passar c?pias impressas do que eles sabiam at? aquele momento—imagens da cena do crime e uma lista de t?picos do que eles havia descoberto sobre o caso. Avery viu uma das folhas e achou o material muito resumido. Ela notou que quando todos se sentaram, Ramirez escolheu um lugar a sua frente. Ela olhou para ele e percebeu que tinha, instintivamente, dado um passo para mais perto dele. Tamb?m percebeu que queria colocar sua m?o no ombro dele, apenas para toca-lo. Mas recuou, percebendo que Finley estava olhando para ela de um jeito estranho. Merda, pensou. ? t?o ?bvio assim? Voltou a ocupar-se relendo as notas. Enquanto lia, O’Malley e Connelly entraram na sala. O’Malley fechou a porta e foi at? a frente da sala. Antes que ele come?asse a falar, os murmurinhos e conversas na sala terminaram. Avery o olhou com muito apre?o e respeito. Ele era o tipo de homem que poderia tomar o comando de uma sala simplesmente limpando a garganta ou deixando as pessoas saberem que estava prestes a falar. - Obrigado por virem todos t?o r?pido – O’Malley disse. – Voc?s t?m em suas m?os tudo o que n?s sabemos sobre o caso at? agora, com uma exce??o. Eu pedi para funcion?rios da cidade juntarem tudo o que eles podiam das c?meras de tr?nsito da cidade naquela ?rea. Duas das quatro c?meras mostram uma mulher caminhando com um cachorro. E isso ? tudo o que n?s temos. - Tem outra coisa – um dos agentes na mesa disse. Avery sabia que o nome daquele homem era Mosely, mas isso era tudo o que ela sabia sobre ele. – Dois minutos antes de entrar nessa reuni?o eu fiquei sabendo de um homem idoso que nos ligou essa manh? e diz ter visto o que ele descreveu como ‘um homem alto e assustador’ caminhando naquela ?rea. Disse que ele estava enfiando uma esp?cie de saco dentro de um casaco. Nosso pessoal anotou isso, mas achou que fosse apenas um velho intrometido que n?o tinha nada melhor para fazer. Mas depois, quando esse caso de corpo queimado apareceu, eles me avisaram sobre isso. - Temos o contato desse idoso? – Avery perguntou. Connelly a fitou com um olhar irritado. Ela imaginou que ele achava que ela estava falando quando n?o era sua vez—mesmo que menos de quarenta e cinco minutos atr?s ele havia dito que aquele caso era dela. - N?s temos – Mosely respondeu. - Quero que algu?m ligue para ele assim que essa reuni?o acabar – O’Malley disse. – Finley, como est? nossa lista de lugares que vendem qu?micos que podem queimar um corpo assim em t?o pouco tempo? - Encontrei tr?s lugares num raio de vinte quil?metros. Dois deles est?o me mandando uma lista de qu?micos que poderiam ser usados para isso e se eles t?m ou n?o esses produtos em estoque. Avery escutou tudo, tomando notas mentais e tentando organiza-las da melhor maneira poss?vel. A cada informa??o nova, o estranho caso daquela manh? passava a fazer mais sentido. No entanto, na verdade, n?o havia como perceber muito sentido naquilo tudo. Ainda n?o temos ideia de quem ? a v?tima – O’Malley disse. – Vamos ter que analisar registros da arcada dent?ria, a n?o ser que possamos fazer alguma conex?o com as imagens das c?meras. – Depois, ele olhou para Avery e acenou para ela. – A Detetive Black ? a l?der desse caso, ent?o tudo o que voc?s encontrarem sobre isso deve ser diretamente encaminhado para ela. Avery juntou-se a ele na parte da frente da mesa e olhou para todos. Seus olhos pararam em Jane Parks, uma das investigadoras l?deres dos peritos. - Temos algum resultado sobre os estilha?os de vidro? – Ela perguntou. - Ainda n?o – Parks respondeu. – Mas temos certeza de que n?o h? digitais. Ainda estamos trabalhando para descobrir o que era aquele objeto. At? agora, podemos supor que era algum tipo de besteira que n?o tem rela??o com o crime. - E qual a opini?o dos peritos a respeito do fogo? – Avery perguntou. – Voc? tamb?m concordam que n?o foi um jeito comum de queimar? - Sim. As cinzas ainda est?o sendo estudadas, mas ? ?bvio que nenhum fogo comum poderia queimar a carne humana t?o r?pido. Quase n?o h? sequer restos carbonizados nos ossos e eles parecem quase intactos, sem sinais de chamas. - Voc? consegue descrever para n?s como seria o processo comum de um corpo queimando? – Avery perguntou. - Bem, nunca ? comum queimar um corpo a n?o ser que voc? esteja o cremando – Parks disse. – Mas vamos supor que um corpo est? trancado em uma casa incendiada e o fogo vai alcan?a-lo. A gordura do corpo vai agir como um tipo de combust?vel assim que a pele for queimada, o que mant?m o fogo vivo. Quase como uma vela, sabe? Mas nesse caso, foi r?pido e sucinto... provavelmente t?o intenso que a queimadura vaporizou a gordura antes mesmo de que ela pudesse agir como combust?vel. - Quanto tempo levaria para que um corpo fosse queimado at? que sobrassem s? os ossos? – Avery perguntou. - Bem, h? v?rios fatores determinantes – Parks disse. – Mas algo entre cinco e sete horas seria um bom n?mero. Inc?ndios lentos e controlados, como os usados em cremat?rios, podem levar at? oito horas. - E esse foi queimado em menos de uma hora e meia? – Connelly perguntou. - Sim, ? o que supomos – Parks respondeu. A sala de reuni?es encheu-se de murm?rios de desgosto e temor. Avery entendia a situa??o. Estava dif?cil manter sua mente focada. - Ou – Avery disse, - o corpo foi queimado em outro lugar e os restos foram colocados naquele terreno essa manh?. - Mas aquele esqueleto... Era um esqueleto novo – Parks disse. – N?o estava muito tempo sem pele, m?sculos e tecidos. N?o mesmo. - Voc? consegue imaginar h? quanto tempo o corpo estava queimado? – Avery perguntou. - Com certeza n?o mais do que um dia. - Ent?o isso tudo exigiu planejamento e conhecimento do assassino – Avery disse. – Ele teria que saber muito sobre corpos queimados. E o fato dele n?o ter tentando esconder os restos e ter matado a v?tima de uma maneira t?o assustadora... nos leva a algumas ideias. E eu temo a primeira delas. - Como assim? – Connelly perguntou. Avery sentiu que todos os olhos na sala se viraram para ela. - Quero dizer que provavelmente isso ? obra de um assassino em s?rie. Um enorme sil?ncio tomou conta do local. - Do que voc? est? falando? – Connelly perguntou. – N?o h? evid?ncia para comprovar isso. - N?o ? ?bvio – Avery admitiu. – Mas ele queria que os restos fossem encontrados. Ele n?o tentou esconde-los naquele terreno. Havia um riacho atr?s da propriedade. Ele poderia ter jogado tudo l?. Mais do que isso, havia cinzas. Por que jogar as cinzas no local quando voc? poderia facilmente te-las levado embora? O planejamento e m?todo do assassinato... Ele se orgulhou e teve prazer em fazer isso. Ele queria que os restos fossem encontrados e analisados. E tudo isso s?o marcas de um assassino em s?rie. Avery sentiu todos na sala olhando para ela com um ar s?rio, e sabia que eles estavam pensando a mesma coisa que ela: aquilo estava evoluindo de um caso estranho envolvendo uma crema??o impr?pria para uma ca?a contra o tempo a um assassino em s?rie. CAP?TULO CINCO Depois da tens?o da reuni?o, Avery ficou feliz em ver-se atr?s do volante de seu carro com Ramirez no banco do passageiro. Havia um sil?ncio estranho entre eles que a fez sentir-se incomodada. Ela fora mesmo t?o inocente a ponto de pensar que dormir com ele n?o mudaria em nada sua rela??o profissional? Teria sido um erro? Ela come?ava a sentir que sim. No entanto, era dif?cil aceitar, j? que o sexo fora algo t?o incr?vel. - Agora que temos um minuto – Ramirez disse – vamos falar sobre ontem ? noite? - Podemos – Avery disse. – Sobre o que voc? quer falar? - Bem, correndo o risco de soar como o estere?tipo masculino, estava pensando se isso foi algo de uma noite ou se n?s vamos repetir. - N?o sei – Avery disse. - J? est? arrependida? – Ele perguntou. - N?o – ela disse. – N?o me arrependo. S? que naquele momento, eu n?o estava pensando em como isso afetaria nossa rela??o profissional. - Eu sei que isso pode atrapalhar – Ramirez disse. – Brincadeiras ? parte, n?s dois estivemos bailando por essa qu?mica f?sica durante meses. N?s finalmente tomamos uma atitude, ent?o a tens?o deveria acabar agora, certo? - Se voc? diz – Avery disse com um sorriso manhoso. - Voc? acha que isso n?o ? para voc?? Ela pensou por um tempo e depois encolheu os ombros. - N?o sei. E para falar a verdade, n?o sei se estou pronta para falar sobre isso. - Tudo bem. N?s estamos no meio de algo que parece ser um caso fodido, dos grandes. - Sim, estamos – ela disse. – Voc? recebeu o e-mail? O que mais n?s sabemos sobre nossa testemunha al?m do endere?o dele? Ramirez olhou seu celular e abriu seu e-mail. - Recebi – ele disse. – Nossa testemunha ? Donald Greer, oitenta anos. Aposentado. Mora em uma apartamento a meio quil?metro da cena do crime. ? um vi?vo que trabalhou cinquenta anos como supervisor de estaleiro depois de perder dois dedos na guerra do Vietn?. - E como ele viu o assassino? – Avery perguntou. - Ainda n?o sei. Mas acho que ? nosso trabalho descobrir, certo? - Certo – ela respondeu. O sil?ncio tomou conta do carro novamente. Ela sentiu uma vontade de segurar na m?o dele, mas pensou melhor. Seria melhor manter as coisas estritamente profissionais. Talvez eles iriam terminar indo para a cama de novo e talvez as coisas progredissem ainda mais—para algo mais emocional e concreto. Mas nada disso importava agora. Naquele momento, eles tinham trabalho a fazer e nada que envolvesse suas vidas pessoais deveria ser trazido ? tona. *** Donald Greer demonstrava ter cada um de seus oitenta anos de sua vida. Seu cabelo era um desgastado emaranhado branco acima da cabe?a e seus dentes eram um pouco descoloridos pela idade e pouco cuidado. Ainda assim, ele parecia claramente feliz por ter companhia quando convidou Avery e Ramirez para entrarem em sua casa. Quando sorriu para eles, o gesto foi t?o genu?no que as condi??es desagrad?veis de seus dentes pareceram desaparecer. - Posso servi-los caf? ou ch?? – Ele perguntou quando entraram na casa. - N?o, obrigado – Avery disse. Em algum lugar da casa, um cachorro latia. Era um c?o pequeno, e seu latido mostrava que ele deveria ser t?o velho quanto Donald. - Ent?o, ? sobre o homem que eu vi hoje de manh?? – Donald perguntou. Ele sentou-se em uma poltrona na sala. - Sim, senhor. ? isso – Avery respondeu. – Fomos avisados de que voc? viu um homem alto que parecia estar escondendo algo em seu— O cachorro em algum lugar dos fundos do apartamento come?ou a latir ainda mais. Seus latidos eram altos e roucos. - Chega, Daisy! – Donald disse. O cachorro silenciou-se, dando um pequeno solu?o. Donald balan?ou a cabe?a e riu. – Daisy ama companhia – disse. – Mas ela est? ficando velha e costuma urinar nas pessoas quando fica muito animada, ent?o eu tive que tranca-la para sua visita. Eu estava caminhando com ela hoje de manh? quando vi aquele homem. - At? onde voc? caminha com ela? – Avery perguntou. - Ah, eu e Daisy caminhamos pelo menos um quil?metro e meio toda manh?. Meu cora??o j? n?o ? t?o forte como costumava ser. O m?dico diz que eu preciso caminhar o m?ximo poss?vel. Teoricamente isso faz bem para minhas articula??es tamb?m. - Entendi – Avery disse. – Voc? faz o mesmo caminho todas as manh?s? - N?o. N?s mudamos de vez em quando. Temos mais ou menos cinco caminhos diferentes. - E onde voc? estava quando viu aquele homem pela manh?? - Na Kirkley. Eu e Daisy t?nhamos acabado de passar pela esquina da Spring Street. Aquela parte da cidade sempre est? vazia de manh?. Alguns caminh?es aqui e ali, mas ? s?. Eu acho que passei por duas ou tr?s pessoas na Kirkley no ?ltimo m?s... e todos estavam caminhando com seus cachorros. Voc? n?o v? nem aqueles masoquistas que gostam de correr naquela ?rea. Era ?bvio, pela maneira que falava, que Donald Greer n?o recebia muitas visitas. Ele falava demais e muito alto. Avery imaginou se isso acontecia porque ele j? n?o ouvia bem por conta da idade ou porque suas orelhas sofriam com os latidos de Daisy o dia inteiro. - Esse homem estava indo ou vindo? – Avery perguntou. - Vindo, eu acho. N?o tenho certeza. Ele estava muito na minha frente e parecia ter parado por um segundo quando eu cheguei na Kirkley. Acho que ele sabia que eu estava l?, atr?s dele. Ele come?ou a caminhar de novo, um pouco r?pido, e depois meio que desapareceu na n?voa. Talvez ele tenha virado em uma das ruas que fazem esquina com a Kirkley. - Ele estava caminhando com um cachorro? – Ramirez perguntou. - N?o. Eu teria visto. Daisy fica louca quando v? outro cachorro ou sente o cheiro de algum ao redor. Mas ela ficou quieta como sempre. - Voc? tem alguma ideia do que ele poderia estar escondendo debaixo do casaco que voc? disse que ele estava vestindo? - N?o consegui ver – Donald disse. – Apenas o vi colocando algo dentro do casaco. Mas a n?voa hoje de manh? estava muito forte. - E esse casaco que ele estava vestindo? – Avery perguntou. – Como era? Antes que ele pudessem responder, eles foram interrompidos pelo celular de Ramirez. Ele atendeu e se afastou, falando baixo. - O casaco – Donald disse, - era um daquele longos, chiques, desses pretos que homens de neg?cio usam ?s vezes. Aqueles que v?o at? os joelhos. - Como um sobretudo. - Sim – Donald disse. – Isso mesmo. Avery estava ficando sem perguntas, tendo quase certeza de que aquele interrogat?rio com sua ?nica testemunha fora um fracasso. Ela tentava pensar em alguma outra pergunta quando Ramirez voltou ? sala. - Preciso ir – Ramirez disse. – Connelly precisa de mim como refor?o em alguma coisa perto do Boston College. - Tudo bem – Avery disse. – Acho que terminamos por aqui. – Ela virou-se para Donald e disse. – Senhor Greer, muito obrigado pelo seu tempo. Donald caminhou com eles at? o lado de fora do pr?dio e acenou quando eles entraram no carro. - Voc? vai comigo? – Ramirez perguntou quando eles sa?ram da rua. - N?o – ela disse. – Acho que vou voltar na cena do crime. - Kirkley Street? – Ele disse. - Sim. Voc? pode ficar com o carro para fazer o que for que Connelly pedir. Vou pegar um t?xi de volta para o departamento. - Tem certeza? - Sim. N?o tenho mais nada para— - Para o que? - Merda! - O que foi? – Ramirez perguntou, preocupado. - Rose. Eu combinei de sair com a Rose essa tarde. Combinei com ela um dia de garotas. E agora parece que n?o vai acontecer. Vou decepcionar minha filha de novo. - Ela vai entender – Ramirez disse. - N?o. N?o vai. Eu sempre fa?o isso com ela. Ramirez n?o teve resposta. O carro permaneceu em sil?ncio at? eles chegarem na Kirkley Street. Ramirez estacionou o ve?culo no lado da rua diretamente ao lado da cena do crime. - Tome cuidado – ele disse. - Pode deixar – ela respondeu, e surpreendeu a si mesma quando inclinou-se e o beijou rapidamente na boca. Depois, saiu do carro e come?ou imediatamente a estudar o local. Estava t?o focada na ?rea que quase n?o percebeu quando Ramirez foi embora atr?s dela. CAP?TULO SEIS Depois de olhar para o local por um tempo, Avery virou-se para olhar a rua. Seus olhos seguiram o caminho que Donald Greer possivelmente fizera, ? sua direita, onde a Kirkley encontrava a Spring Street. Ela caminhou pela rua, chegou ? esquina, e dobrou. Muitos pensamentos invadiram sua mente quando ela come?ou a caminhar. O assassino estivera a p? todo o tempo? Se sim, por que ele viera da Spring Street—uma rua t?o feia e acabada quanto a Kirkley? Ou, talvez, ele havia vindo de carro. Se fosse o caso, onde ele teria estacionado? Se a n?voa estivera forte o suficiente, ele poderia ter estacionado em qualquer lugar da Kirkley e seu carro n?o teria sido visto. Se o homem com o longo casaco preto fosse mesmo o assassino, ele teria caminhado pelo mesmo caminho menos de oito horas atr?s. Avery tentou imaginar o local a sua volta com uma n?voa forte pela manh?. N?o era uma tarefa dif?cil j? que a ?rea era t?o desolada. Enquanto caminhou devagar pelo terreno onde os ossos e estilha?os foram encontrados, manteve os olhos atentos a poss?veis lugares onde o homem poderia ter sumido de vista. Na verdade, havia muitos lugares assim. Havia seis terrenos vazios e duas ruas laterais onde o homem poderia ter se escondido. Se a n?voa fora forte o suficiente, qualquer um daqueles locais teria sido um esconderijo e tanto. Aquilo despertou uma ideia interessante. Se o homem tivesse se escondido em uma daquelas ?reas, ele teria deixado Donald Greer passar sem incomoda-lo. Aquilo eliminava a possibilidade de o assassinato ter sido um ato de pura viol?ncia. A maioria das pessoas capazes desse tipo de viol?ncia n?o teriam deixado Donald passar t?o facilmente. Na verdade, Donald teria se tornado uma v?tima na maioria dos casos. Se precisava de mais provas de que o corpo fora queimado em outro lugar, aquela ideia lhe comprovou essa hip?tese. Talvez, ent?o, o objeto que o homem estava escondendo debaixo do casaco fosse um recipiente contendo os restos que ele despejara no terreno. Aquilo fazia sentido e, aos poucos, ela come?ou a sentir um sentimento crescente de que. estava chegando em algum lugar. Caminhou pelo terreno onde os restos haviam sido encontrados. Sempre r?pido e eficiente, O’Malley j? havia retirado a pol?cia do local. Ela imaginou que ele fizera isso logo que os peritos vieram para coletar os restos. Avery caminhou at? onde os ossos e as cinzas foram derrubados e simplesmente parou ali, olhando em volta. A ?rea pantanosa atr?s do terreno era mais vis?vel do que nunca agora. Ficava perto e era muito menos aberta do que o terreno. Ent?o por que algu?m jogaria os ossos no meio do terreno ao inv?s de fazer isso em um riacho infestado de ervas daninhas? Por que algu?m colocaria os restos a c?u aberto ao inv?s de esconde-los na lama e na ?gua parada? Eram perguntas que os policiais j? tinham feito. E em sua mente, a resposta era a prova de que eles estavam lidando com um assassino em s?rie. Ele quer que as pessoas vejam o que ele fez. Ele ? orgulhoso e talvez um pouco arrogante. Ela pensou que ele poderia ser inteligente, tamb?m. O uso da n?voa para esconder-se mostrava que ele havia planejado tudo muito bem. Ele fora persistente, monitorando o tempo para ter certeza de que encontraria uma n?voa forte. Ele tamb?m teria que conhecer a ?rea relativamente bem. Aquilo tudo teria que ter sido muito bem planejado. E fogo... ele precisava entender muito bem de fogo. Queimar um corpo de forma t?o limpa, sem carboniza-lo e sem danificar os ossos, custava muita dedica??o e paci?ncia. O assassino teria que saber muito sobre fogo e processos de queima. Queima, ela pensou. Fogo. Enquanto estudava o local e imaginava o assassino ali, Avery sentiu que estava deixando algo passar—alguma pista crucial estava bem a sua frente. Mas tudo o que podia ver era a ?rea pantanosa e lameada nos fundos do terreno, bem como o pequeno espa?o quadrado onde alguma pobre v?tima havia sido deixada como se n?o fosse nada mais do que uma simples pilha de lixo. Ela olhou em volta do terreno vazio novamente, imaginando que talvez a localiza??o dos restos n?o fosse importante quanto ela pensara. Se o assassino estava usando fogo para enviar uma mensagem para algu?m (a v?tima ou a pol?cia), talvez isso era o que precisava ser focado. Com uma ideia vindo ? mente, Avery pegou seu telefone e ligou para o t?xi mais pr?ximo. Depois da chamada, olhou seus contatos e parou no nome de sua filha por cinco segundos. Desculpe, Rose, pensou. Apertou em “Chamar” e colocou o telefone no ouvido, com o cora??o partido. Rose atendeu ao terceiro toque. Ela parecia feliz. Avery pode ouvir a m?sica que tocava baixinho ao fundo. Ela pode imaginar Rose se arrumando para a tarde especial e odiou a si mesma por um momento. - Oi, m?e – Rose disse. - Oi, Rose. - Diga. - Rose... – ela disse. Sentiu as l?grimas vindo. Olhou para o vazio em volta, tentando se convencer de que tinha que fazer isso e de que, um dia, Rose a entenderia. Antes que Avery falasse mais uma palavra, Rose pareceu entender a situa??o. Ela soltou uma pequena risada de raiva. - Perfeito – Rose disse, agora sem alegria na voz. – M?e, voc? est? falando s?rio mesmo? Avery escutara aquele tom de Rose antes, mas dessa vez aquilo o atingiu como um punhal no cora??o, pois ela sabia que merecia aquela rea??o. - Rose, apareceu um caso. Um desses complicados e eu tenho que— - Eu sei o que voc? tem que fazer – Rose disse. Ela n?o gritou. Ela quase nem levantou a voz. E de alguma maneira, isso piorou ainda mais a situa??o. - Rose, eu n?o pude fazer nada. Eu com certeza n?o esperava por isso. Quando fiz aqueles planos com voc?, eu tinha uma programa??o de folga por alguns dias. Mas agora esse caso apareceu e... bem, as coisas mudaram. - Acho que as coisas mudam ?s vezes – Rose disse. – Mas n?o com voc?. Com voc?, as coisas s?o sempre iguais... Quando se trata de mim, no caso. - Rose, n?o ? justo. - Nem tente me dizer que n?o ? justo agora! E quer saber, m?e? Esque?a. Essa e qualquer outra vez em que voc? queira tentar ser a ‘mam?e boazinha’ no futuro. N?o ? mais uma op??o para n?s. - Rose— - Eu entendi, m?e. Mesmo. Mas voc? sabe o quanto ? ruim ter essa mulher como sua m?e... uma mulher foda com um trabalho t?o exigente? Uma mulher que eu respeito muito... mas que est? sempre me decepcionando? Avery n?o tinha ideia do que dizer. E n?o havia mesmo o que falar, j? que Rose tinha terminado. - Tchau, m?e. Obrigado por me avisar com anteced?ncia. Seria melhor do que n?o falar nada, eu acho. - Rose, eu— A liga??o foi encerrada. Avery colocou o telefone no bolso e respirou fundo. Uma ?nica l?grima caiu em seu rosto, do olho direito, e ela a secou o mais r?pido que pode. Depois, caminhou de prop?sito pela ?rea que havia sido demarcada mais cedo e a analisou por um bom tempo. Fogo, pensou. Talvez seja mais do que algo que o assassino est? usando em seus atos. Talvez seja simb?lico. Talvez esse fogo seja uma pista melhor do que qualquer outra. Ent?o, enquanto esperava pelo t?xi, pensou sobre fogo e que tipo de pessoa o usaria para enviar algum tipo de mensagem. No entanto, era dif?cil pensar, porque ela sabia muito pouco sobre inc?ndios. Vou precisar de mais algu?m pensando nisso, pensou. E com aquele pensamento, pegou seu telefone e ligou para o A1. Pediu para falar com Sloane Miller, a psicologista do departamento e psiquiatra dos agentes e detetives. Se algu?m poderia entrar na mente de um assassino com fogo na mente, essa pessoa seria Sloane. CAP?TULO SETE Avery estava de volta ? sede do A1 meia hora depois. Ao entrar, ela n?o pegou o elevador para ir at? seu escrit?rio. Ao inv?s disso, permaneceu no primeiro andar e caminhou at? os fundos do pr?dio. Ela estivera ali antes quando fora obrigada a conversar com Sloane Miller, a psicologista, durante seu ?ltimo grande e assustador caso, que a havia afetado de uma maneira que ela ainda n?o tinha conseguido entender. Mas agora a visita tinha outro motivo... entrar na mente de um assassino. E, daquela maneira, o encontro parecia mais natural. Ela chegou ao escrit?rio de Sloane e ficou aliviada ao ver a porta escancarada. Sloane n?o tinha uma agenda definida e trabalhava mais ao estilo “por chegada” conforme a demanda da pol?cia. Quando Avery bateu na porta, ela pode ouvir Sloane digitando algo no notebook. - Entre – Sloane disse. Avery entrou, sentindo-se muito mais ? vontade do que da ?ltima vez em que havia encontrado a psiquiatra. Ali em sua fun??o, e n?o como paciente, as coisas eram um pouco mais formais. - Ah, Detetive Black – Sloane disse com um cumprimento genu?no. – Que bom te ver! Fiquei muito feliz em ter not?cias suas quando voc? ligou. Como voc? tem passado? - Tudo bem – Avery disse. Mas, em sua mente, ela sabia que Sloane aproveitaria a oportunidade para analisar seus problemas com Rose e sua rela??o complicada com Ramirez. - Como posso te ajudar hoje? – Sloane perguntou. - Bem, eu queria que voc? me ajudasse com um tipo particular de personalidade. Estou lidando com um caso que envolve um homem que n?s temos certeza que est? queimando suas v?timas. Ele deixou apenas ossos e cinzas na cena do crime—ossos limpos, sem torr?es ou danos. Tamb?m h? uma pilha de cinzas e um leve cheiro de qu?micos no ar... vindos das cinzas, eu acho. Est? muito claro que ele sabe o que est? fazendo. Ele sabe como queimar um corpo, o que parece um conhecimento muito particular. Mas eu n?o acho que ele esteja usando o fogo simplesmente como uma ferramenta para seus atos. Preciso saber que tipo de pessoa usaria o fogo n?o apenas para queimar, mas tamb?m como algum tipo de simbolismo. - A ideia de que ele esteja usando o fogo para simbolizar algo ? uma excelente dedu??o – Sloane disse. – Em um caso assim, eu posso praticamente te garantir que ? isso o que est? acontecendo. No fundo, acho que voc? est? lidando com algu?m que tem interesse ou um passado relacionado a inc?ndios. Talvez ele j? teve um trabalho ou um hobby que lidasse com fogo. Estudos mostram muito claramente que at? crian?as que s?o fascinadas por fogueiras ou f?sforos mostram sinais de interesse em atos relacionados a inc?ndios. - Voc? pode me dizer algo sobre esse tipo de personalidade que poderia nos ajudar a chegar at? esse cara mais cedo ou mais tarde? - Eu com certeza posso tentar – Sloane disse. – Primeiro de tudo, deve haver algum tipo de problema mental, mas nada profundo. Pode ser algo t?o simples como uma tend?ncia ? raiva at? nas situa??es mais inocentes. Ele provavelmente tamb?m n?o teve muita educa??o. A maioria das pessoas que cometem inc?ndios n?o se formaram no ensino m?dio. Alguns veem isso como uma maneira de se rebelarem contra um sistema que eles nunca conseguiram entender—aquela besteira toda de alguns homens apenas querem ver o mundo queimar. Alguns v?o dizer que colocam fogo como um ato de revanche, mas nunca definem do que eles est?o se vingando. Eles geralmente se sentem isolados ou deixados de lado pelo mundo. Ent?o existe uma boa chance de voc? estar procurando um homem solteiro ou um homem que est? em um casamento sem amor. Eu imaginaria que ele vive sozinho em uma pequena casa—provavelmente passa muito tempo em um escrit?rio em casa, no por?o ou na garagem, por exemplo. - E o que acontece quando voc? junta toda essa descri??o com algu?m que claramente n?o v? problemas em matar pessoas? - Acaba sendo uma pegadinha – Sloane admitiu. – Mas acho que podemos aplicar as mesmas regras. Pessoas que causam inc?ndios geralmente t?m muito interesse em que as pessoas vejam o que eles fizeram. Colocar fogo ? uma maneira de atrair aten??o. Eles quase se orgulham disso, ? algo que eles criaram. Seu suspeito, por exemplo, deixou restos... ? um tipo estranho. Acho que podemos relacionar isso com registros de pessoas que causaram inc?ndios e visitaram a cena do crime para ver os bombeiros apagarem o fogo. Eles veem os bombeiros lutando contra o fogo e sentem que fizeram aquilo acontecer—a pessoa que causa um inc?ndio est?, de alguma maneira, controlando os bombeiros. - Ent?o voc? acha que nosso suspeito pode estar por perto, assistindo tudo? Sloane pensou por um momento, depois encolheu os ombros. - Certamente ? uma possibilidade. Mas a precis?o com que ele est? queimando os corpos, como voc? disse, deixando os ossos limpos, me faz pensar que esse cara tamb?m ? paciente e organizado. N?o acho que ele faria algo t?o idiota como revisitar a cena do crime. Paciente e organizado, Avery pensou. Isso se encaixa perfeitamente com o plano esquisito dele, usando n?voa como cobertura para pegar as v?timas e despejar os restos. Ela pensou na maneira em que os ossos haviam sido colocados, quase ? vista, praticamente t?o ?bvio e chocante quanto um inc?ndio. - Voc? j? tem alguma opini?o sobre o caso? – Sloane perguntou. - Acho que ele ? um assassino em s?rie. At? onde sabemos, essa ? a primeira v?tima, mas a maneira flagrante em que ele deixou os restos est? me irritando. Mais do que isso, tem algo de muito organizado em pegar a v?tima, queima-la desse jeito e depois jogar os restos de uma maneira espec?fica. Para mim, isso mostra tend?ncias de um assassino em s?rie. - Eu concordo com voc? – Sloane disse. - Queria que um dos homens que trabalham comigo fossem brilhantes assim – Avery disse, sorrindo. - E como vai voc? ultimamente, Avery? Sem fugir do assunto, por favor. - Eu estou realmente bem, considerando tudo. Pela primeira vez na vida, meus problemas parecem at? normais, comparados a meu passado. - Que tipo de problemas? – Sloane perguntou. - Problemas com minha filha. Uma rela??o confusa com um cara. - Ah, os riscos de ser uma mulher que trabalha muito. Avery sorriu, ainda que sentisse que uma conversa mais profunda estivesse a caminho. Por isso ela suspirou internamente quando seu telefone tocou naquele exato momento. Ela puxou-o de seu bolso e viu o nome de Connelly. - Tenho que atender. Sloane assentiu. Avery saiu do escrit?rio e atendeu a liga??o no corredor. - Black, n?o deixe que isso suba para sua cabe?a, mas voc? estava certa. Os registros dent?rios dos restos chegaram. Voc? mandou bem. A v?tima ? Keisha Lawrence. Trinta e nove anos e vivia a um quil?metro do lugar. - O que mais n?s sabemos? – Avery disse, ignorando os elogios. - O suficiente para acelerar esse caso um pouco – ele respondeu. – Tenho alguns caras trabalhando nisso, mas at? agora n?s sabemos com certeza que ela n?o tinha fam?lia por perto. A ?nica pessoa que pode interessar ? um namorado e a m?e que morreu recentemente. - Algu?m j? falou com o namorado? - Mandei algu?m l? agora. Enquanto isso, busquei a ficha dele. O babaca tem uma lista de abusos dom?sticos e brigas em bar. Um verdadeiro campe?o. - Quer que eu v? encontra-lo depois do cara que voc? j? mandou? - Sim, v? falar com esse babaca depois. Vou ligar para Ramirez para tira-lo do incidente no Boston College. Ele vai ser todo seu pelo resto do dia. Ela tinha percebido uma voz sarc?stica? Tinha certeza que sim. Ou era isso, ou estava ficando paranoica. Sua vida sexual n?o ? t?o importante assim, pensou. Ignore isso. - Se mexa, Black – Connelly disse. – Vamos pegar esse cara antes que apare?a uma nova pilha de ossos. Avery desligou e correu para a garagem para pegar um carro. Ela pensou no que Sloane havia dito sobre incendi?rios geralmente assistirem os bombeiros trabalhando, sentindo que estavam controlando os bombeiros de certa maneira. Talvez n?s temos que colocar um poss?vel voyeur na lista de caracter?sticas do suspeito, pensou. Incendi?rios queriam sentir que estavam controlando as pessoas que trabalhavam para entender seus crimes... Avery Black n?o era bombeiro e com certeza n?o gostava de sentir que algu?m estava a controlando. Ela saiu rapidamente da garagem, cantando pneus. O namorado de Keisha Lawrence era a primeira pista real nesse caso e Avery queria visita-lo antes de qualquer pessoa. Êîíåö îçíàêîìèòåëüíîãî ôðàãìåíòà. Òåêñò ïðåäîñòàâëåí ÎÎÎ «ËèòÐåñ». Ïðî÷èòàéòå ýòó êíèãó öåëèêîì, êóïèâ ïîëíóþ ëåãàëüíóþ âåðñèþ (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=43693423&lfrom=688855901) íà ËèòÐåñ. Áåçîïàñíî îïëàòèòü êíèãó ìîæíî áàíêîâñêîé êàðòîé Visa, MasterCard, Maestro, ñî ñ÷åòà ìîáèëüíîãî òåëåôîíà, ñ ïëàòåæíîãî òåðìèíàëà, â ñàëîíå ÌÒÑ èëè Ñâÿçíîé, ÷åðåç PayPal, WebMoney, ßíäåêñ.Äåíüãè, QIWI Êîøåëåê, áîíóñíûìè êàðòàìè èëè äðóãèì óäîáíûì Âàì ñïîñîáîì.
Íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë Ëó÷øåå ìåñòî äëÿ ðàçìåùåíèÿ ñâîèõ ïðîèçâåäåíèé ìîëîäûìè àâòîðàìè, ïîýòàìè; äëÿ ðåàëèçàöèè ñâîèõ òâîð÷åñêèõ èäåé è äëÿ òîãî, ÷òîáû âàøè ïðîèçâåäåíèÿ ñòàëè ïîïóëÿðíûìè è ÷èòàåìûìè. Åñëè âû, íåèçâåñòíûé ñîâðåìåííûé ïîýò èëè çàèíòåðåñîâàííûé ÷èòàòåëü - Âàñ æä¸ò íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë.