Çàâüþæèëî... ÇàïîðîøÈëî... Çàìåëî... Ñîðâàâøèñü â òèøèíó, äîõíóëî òàéíîé... È ðàçëèëèñü, ñîåäèíÿñü, äîáðî è çëî, Ëþáîâü è ñìåðòü Íàä ñíåæíîé è áåñêðàéíåé Ïóñòûíåé æèçíè... ... Âïðî÷åì, íå íîâû Íè áåëûå ìåòåëè, íè ïóñòûíè, Íåïîñòèæèìîå, èçâå÷íîå íà "Âû" Ê áåññðî÷íûì íåáåñàì â ëèëîâîé ñòûíè: "Âû èçëèâàåòåñü äîæäÿìè èç ãëóáèí, Ñêðûâàåòå ñíåã

Meu Furac?o ? Voc?

Meu Furac?o ? Voc? Victory Storm Ap?s quatro anos de separa??o, Kira volta para seu melhor amigo em Princeton, mas aquele que ela encontrar? n?o ? mais aquele menino doce e fr?gil, submetido ? viol?ncia do pai, mas um rapaz de dezessete anos, com raiva do mundo inteiro e de si mesmo. Kira conseguir? apagar esse ?dio e ensin?-lo a amar? LUCAS. Kira foi embora h? quatro anos, me deixando sozinho no pior momento da minha vida. Nunca a perdoarei por isso. Ela voltou agora e todo o ?dio que sinto, me faz ficar longe dela. Contudo, toda vez que ela olha para mim, eu me sinto confuso, perdido e assustado, mas n?o posso esquecer quem sou: sou apenas uma mercadoria estragada e ningu?m poderia amar um cara como eu. KIRA. Ap?s quatro anos de dist?ncia e desespero por causa daquela partida for?ada, finalmente voltei para Lucas. Mas as coisas mudaram agora e me tornei v?tima do seu bullying. Quem ? aquele menino que s? conhece viol?ncia e que usa as garotas apenas para transar com elas? N?o sei o que aconteceu, mas farei o que puder para apagar o ?dio que vejo em seus olhos e que o mant?m longe de mim. Victory Storm MEU FURAC?O ? VOC? MEU FURAC?O ? VOC? Victory Storm Ap?s quatro anos de separa??o, Kira volta para seu melhor amigo em Princeton, mas aquele que ela encontrar? n?o ? mais aquele menino doce e fr?gil, submetido ? viol?ncia do pai, mas um rapaz de dezessete anos, com raiva do mundo inteiro e de si mesmo. Kira conseguir? apagar esse ?dio e ensin?-lo a amar? LUCAS. Kira foi embora h? quatro anos, me deixando sozinho no pior momento da minha vida. Nunca a perdoarei por isso. Ela voltou agora e todo o ?dio que sinto, me faz ficar longe dela. Contudo, toda vez que ela olha para mim, eu me sinto confuso, perdido e assustado, mas n?o posso esquecer quem sou: sou apenas uma mercadoria estragada e ningu?m poderia amar um cara como eu. KIRA. Ap?s quatro anos de dist?ncia e desespero por causa daquela partida for?ada, finalmente voltei para Lucas. Mas as coisas mudaram agora e me tornei v?tima do seu bullying. Quem ? aquele menino que s? conhece viol?ncia e que usa as garotas apenas para transar com elas? N?o sei o que aconteceu, mas farei o que puder para apagar o ?dio que vejo em seus olhos e que o mant?m longe de mim. ©2021 Victory Storm E-mail: [email protected] Site web: www.victorystorm.com Editora: Tektime Tradutora: Ju Pinheiro Capa: Homem elegante com torso musculoso usando um moletom com capuz Di Nejron Photo-https://stock.adobe.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro deve ser reproduzida ou divulgada em quaisquer formas, fotoc?pias, microfilmes ou por quaisquer outros meios, sem a permiss?o da autora. Esta ? uma obra de fic??o. Personagens e lugares s?o produtos da imagina??o da autora e s?o usados para dar veracidade ? narra??o. Qualquer semelhan?a com eventos, lugares e pessoas reais, vivas ou mortas, ? mera coincid?ncia. LUCAS Princeton, Kentucky, 28 de setembro de 2010 Um furac?o. Foi o que Lucas pensou diante da bravura da garota desconhecida que se interpunha entre ele e seu pai. — Tente bater nele de novo e irei denunci?-lo ? pol?cia! — gritou aquele tornado furioso, fazendo at? Lucas pular. O menino ainda estava pressionando a m?o na bochecha, inchada e vermelha por causa do ?ltimo tapa que tinha recebido. O homem riu com for?a, enfrentando aquela amea?a tola. Aquele som rouco e mordaz fez Lucas sentir arrepios nas costas, for?ando-o a se esconder de maneira covarde atr?s da sua salvadora alta, que n?o parecia nem um pouco assustada com o comportamento falsamente divertido do seu pai. Contudo, Lucas o conhecia muito bem e compreendia perfeitamente o que viria depois dessa risada de bar?tono e ainda mais depois de amea?as t?o p?blicas. Em um ?mpeto de coragem, ele pegou a mochila da sua salvadora e tentou jog?-la fora antes que seu pai perdesse a calma mais uma vez e levantasse a m?o, ou pior, seu cinto, para ela tamb?m. — Cuidado com o que voc? est? dizendo, pirralha! — advertiu o homem, ficando de repente s?rio e aproximando-se ainda mais dela. — ? voc? quem deve ter cuidado com o que faz ou vou contar a mam?e e ela o enviar? para a pris?o junto com todos os pais violentos que batem em seus filhos — desafiou ela mais uma vez, com uma voz delicada, mas, ao mesmo tempo, feroz, decidida a n?o se deixar assustar por aquele parasita. — O que voc? disse? — explodiu o homem com raiva, curvando-se sobre aquela pequena criatura que torceu o nariz para o h?lito com cheiro de ?lcool que sa?a da sua boca. E ent?o veio o suspiro do seu pai. O suspiro que Lucas conhecia muito bem: aquele sibilo vibrante e r?gido que sempre acabava em um gesto violento contra qualquer coisa ao seu redor. Ele lan?ou um olhar furtivo para o rosto orgulhoso e perfeito da garota, que n?o havia recuado nem um cent?metro, continuando a proteg?-lo e mant?-lo seguro atr?s das suas costas, que estavam ligeiramente curvadas com o peso dos livros na mochila. Os olhos dele permaneceram em seus l?bios rosados e perfeitos, a boca pequena e em formato de cora??o, sem nenhuma cicatriz ou marcas de viol?ncia. As fei??es dela eram um pouco estranhas de acordo com Lucas, mas, ao mesmo tempo, curiosas e ele gostaria de poder ver seu rosto melhor, mas a respira??o ofegante e tr?mula do seu pai o dominava. Contendo seu medo e os gemidos de dor que continuavam saindo da sua boca, ele tomou coragem e com uma for?a que nunca tinha sentido, conseguiu empurrar sua salvadora para o lado bem a tempo, antes que a m?o de seu pai voasse impiedosamente para o rosto da garota. — Deixe-a ir! — gritou seu filho, reunindo suas for?as em um grito desesperado. Ele sabia que n?o poderia fazer nada contra seu pai, mas jurou para si mesmo que faria tudo que pudesse para proteger aquela garota inocente, que provou ser tola o suficiente para enfrentar o temperamental e poderoso Darren Scott. — Voc? n?o pode me dar nenhuma ordem, entendeu? Voc? ? apenas um menino tolo que acabar? como sua m?e fracassada! — disse seu pai com raiva, agarrando-o de maneira abrupta pelo pesco?o. Apenas alguns meses haviam se passado desde que eles encontraram a m?e dele dormindo na banheira cheia de ?gua. Ele havia ficado perplexo no in?cio, quando viu sua m?e completamente vestida na banheira, mas tudo assumiu um significado diferente mais tarde, depois que seu pai entrou. Ele ainda achava dif?cil colocar suas lembran?as em ordem . Ele s? conseguia se lembrar dos gritos angustiantes e enfurecidos do pai, enquanto ele tirava a esposa da ?gua e chamava Rosalinda, a empregada, que estava chorando e gritando que a casa estava amaldi?oada, enquanto corria para chamar a ambul?ncia. Ent?o tudo ficou nebuloso at? o funeral da sua m?e. Ele n?o sabia se tinha chorado ou n?o, mas conseguia se lembrar de que, quando voltaram do cemit?rio naquela noite, seu pai havia se embebedado mais do que normalmente fazia e come?ou a gritar com ele, dizendo que ele era um perdedor igual a m?e, que fora t?o covarde a ponto de se suicidar, deixando-o sozinho para cuidar de um filho que ele nunca quis e que poderia at? ser um bastardo na sua opini?o, considerando o passado vergonhoso e devasso da cobra com a qual ele havia se casado h? dez anos. Naquela noite, trancado em seu quarto e escondido debaixo dos len??is, ele come?ou a tremer e chamar pela m?e de maneira descontrolada, esperando que ela viesse resgat?-lo. Infelizmente, seu sonho n?o se tornou realidade, como tamb?m nunca tinha acontecido quando ela estava viva, ent?o ele apenas continuou chorando at? que sentiu que sua barriga e cabe?a do?am. Agora, as palavras do seu pai o atingiam de maneira t?o violenta quanto naquela noite. Ele mordeu o l?bio inferior para evitar o choro, mas finalmente as l?grimas come?aram a fluir de maneira abundante. — Pai, n?o a machuque. Por favor — implorou ele, solu?ando e escondendo o rosto na manga da jaqueta para impedir que aquela garota, que era mais corajosa do que ele, visse. — Meu filho est? chorando por uma mulher! Isso ? que ? novidade! Voc? ? um fraco. Adivinha? Voc? vai voltar para casa sozinho, assim aprender? a n?o me desobedecer e n?o ficar contra mim! — decidiu o homem, dando meia volta e caminhando para o carro com passos inst?veis porque tinha bebido muito naquela tarde. — Espere, pai! — Lucas tentou det?-lo, assustado com a ideia de voltar para casa sozinho, mas seu pai j? tinha caminhado at? a porta do carro e entrado, sem nem olhar para ele, deixando o filho de nove anos tremendo e chorando ? beira da rua. — N?o se preocupe. Minha m?e vai lev?-lo para casa de carro — disse a jovem garota, tentando acalm?-lo. Ela havia se afastado, observando a cena toda. Sua voz doce e gentil foi capaz de acalmar o sofrimento de Lucas, ent?o ele parou de chorar. Sem proferir qualquer palavra, ele sentiu a m?o quente e macia da garota segurar a sua m?o fria e tr?mula. Com os olhos ainda emba?ados de l?grimas, ele permitiu que ela o arrastasse at? a fonte no playground vazio da escola. Ele a viu tirar um len?o Hello Kitty do seu avental rosa e umedec?-lo sob a bica da pequena fonte. Depois, com uma do?ura desconhecida para ele, ela esfregou o len?o molhado e fresco em seu rosto e olhos. — Minha m?e me faz lavar os olhos depois que eu choro, para evitar que fiquem inchados e vermelhos — explicou ela com do?ura para ele, enquanto continuava umedecendo seus olhos com o pano encharcado. Quando a jovem considerou a limpeza satisfat?ria, ela pegou outro len?o limpo e passado da mochila. Ela o desdobrou e usou para limpar o rosto dele com gentileza. Estupefato e feliz por aqueles toques inesperados e relaxantes, ele se permitiu ser lavado e enxugado, enquanto ficava parado como um boneco. O vento cortante do outono estava soprando com for?a naquela tarde, mas Lucas se viu sorrindo feliz por aquela nova car?cia que o c?u tamb?m queria lhe dar. Tranquilo como n?o se sentia h? meses, ele abriu os olhos e conseguiu olhar nos olhos da sua salvadora, naquele furac?o que havia se transformado em uma brisa fresca de primavera naquele momento, com seus gestos am?veis e gentis. Ele olhou para ela por um longo momento, at? que sua mem?ria conseguiu lembrar o nome daquela garota: Kira. Ela era a garota nova que sentava na terceira fileira atr?s dele na sala de aula. — Seu rosto ? estranho — declarou Lucas, deixando seus olhos deslizarem para aquela garota que era mais de dez cent?metros mais alta do que ele. Embora ela fosse magra e muito alta, seu rosto era largo e redondo e se destacava naquele corpo magro e pequeno que se curvava sob o peso da mochila. Sua pele era muito clara, mas as bochechas estavam avermelhadas pelo frio e sua boca pequena em forma de cora??o estava tensa e r?gida, enquanto ela estava concentrada em dobrar os dois len?os. Lucas demorou-se com curiosidade naqueles l?bios pequenos e carnudos, se perguntando se ela conseguia comer algo maior do que uma migalha. Mas a caracter?stica que mais o encantou foram os olhos ligeiramente meio abertos, com seu estranho formato amendoado. Mesmo que estivessem escondidos por uma franja preta reta, um pouco comprida demais, ele conseguiu distinguir dois olhos castanhos muito brilhantes com tons verde escuro, lembrando-o dos bosques no lago Westurian, onde seu pai possu?a uma casa que eles usavam para passar o ver?o at? dois anos antes. Com um gesto zangado e um resmungo que jogou sua franja para tr?s, a garota olhou para ele, um pouco magoada. — E voc? ? baixo para um menino — respondeu a jovem, cruzando os bra?os. — Voc? n?o parece americana. — Lucas tentou explicar, gaguejando enquanto falava. — Desculpe, mas voc? n?o prestou aten??o esta manh?, quando nosso professor me apresentou ? turma? Lucas n?o se atreveu a dizer que tinha adormecido porque seu pai o manteve acordado a noite toda com seus resmungos de b?bado. Colocando as m?os nos quadris em um gesto desafiador e enchendo os pulm?es com uma respira??o profunda, a garota resumiu seu discurso matinal, esperando que desta vez se fixasse na mente do seu novo colega de classe. — Meu nome ? Kira Yoshida. Tenho nove anos de idade. Meu pai ? japon?s e trabalha para o ex?rcito enquanto minha m?e ? americana e ? assistente social. — ? por isso que seu rosto parece estranho. Voc? ? japonesa — exclamou Lucas com alegria. — Meu rosto n?o ? estranho! M?e diz que puxei as fei??es do meu pai, mas a cor dos meus olhos e meu car?ter s?o dela. Ali?s, eu estava dizendo que sou meio japonesa e meio americana. Posso falar japon?s e ingl?s bem e frequentei a Escola Internacional em T?quio, at? meu pai ser transferido pelos pr?ximos quatro anos para treinar os novos recrutas que protegem as embaixadas americanas no mundo. Minha m?e n?o queria ficar sozinha em T?quio, ent?o nos mudamos para c? com meu pai, embora ele quase nunca fique em casa. Sou boa na escola, embora seja melhor escrevendo ideogramas japoneses do que seu alfabeto, mas minha m?e diz que normalmente aprendo muito r?pido e eu j? decidi que serei uma assistente social tamb?m quando crescer. Entrei para o clube de basquete em T?quio, mas n?o gosto muito desse esporte. Odeio esportes e adoro assistir animes e ler mang?s. — O que s?o mang?s? — Quadrinhos — explicou Kira, irritada com a ignor?ncia de Lucas. — Eu tamb?m gosto de quadrinhos! — disse a crian?a animada. — Ent?o vou te emprestar alguns. — S?rio? — Lucas ficou surpreso, porque ningu?m na cidade queria lidar com ele e muito menos com seu pai. — ? claro! Somos amigos, n?o somos? Amigos . Essa palavra fez o cora??o de Lucas dar um pulo. Ele n?o tinha amigos. Nenhuma crian?a jamais se aproximou dele com medo de topar com o poderoso e perverso Darren Scott. Al?m disso, todos os pais e professores tinham medo da presen?a do seu pai e ele havia entendido rapidamente que ningu?m seria seu amigo. Nem agora nem nunca. Mas naquele dia, em vez disso, o furac?o Kira havia entrado em sua vida. Ele n?o conseguia mais se lembrar do nome da fam?lia dela. Era muito dif?cil de soletrar. — Oh, meu Deus! Kira, aqui estou! Desculpe, desculpe, desculpe, desculpe! — disse uma mulher impaciente, correndo de modo esbaforido na dire??o deles. — M?e! — exclamou Kira feliz, correndo para ela e abra?ando-a. Assistir aquela cena fez Lucas sentir l?grimas brotarem em seus olhos mais uma vez porque ele nunca tinha apreciado o amor da sua m?e. Quando estava viva, ela dividia seu tempo entre um coquetel e um comprimido para dormir, quando n?o era agredida pelos loucos frenesis de ci?me do seu marido. — Querida, sinto muito por ter chegado atrasada no seu primeiro dia de aula, mas tive alguns problemas nesta manh?, ent?o tive que lidar urgente de alguns assuntos e lev?-los ao Tribunal Juvenil, antes que pudesse vir at? voc?. Peguei muito tr?nsito, mas vim o mais r?pido poss?vel. Sinto muito. — N?o tem problema, mas temos que levar Lucas para casa. O pai dele bateu nele e depois ele o deixou aqui — respondeu sua filha com sua franqueza ing?nua habitual, mas impiedosa, que foi como um tapa no rosto de Lucas e de sua m?e. — Kira, essas s?o acusa??es s?rias — advertiu sua m?e, pois passava todo seu tempo de trabalho lutando contra abusos ou problemas familiares que eram dif?ceis de superar sem a ajuda de uma assistente social. — Voc? deve denunci?-lo ?s autoridades, emitir uma medida liminar e coloc?-lo atr?s das grades. — A jovem se entusiasmou, repetindo em detalhas as palavras que tinha ouvido na TV na noite anterior. — Nem pense em assistir Law & Order comigo na pr?xima vez — adivinhou sua m?e, antes de se aproximar do menino. — Voc? deve ser Lucas, n?o ?? Meu nome ? Elizabeth Madis e sou a m?e de Kira. Lucas assentiu timidamente diante daquela mulher sorridente, cujos olhos verdes eram doces e corajosos. Kira estava certa: ela tinha os mesmos olhos da m?e, mas elas n?o se pareciam em mais nada. O cabelo liso e bem preto de Kira contrastava com o cabelo cor de caramelo e ondulado de sua m?e. — Kira diz que seu pai bate em voc?. Isso ? verdade? — perguntou ela de maneira gentil. — Sim, ? verdade. Sua bochecha est? toda vermelha — interrompeu Kira, recebendo um olhar de desaprova??o da m?e. — Acontece — sussurrou Lucas inquieto. Ele nem conseguia pensar no que seu pai diria se ele ficasse sabendo sobre essa conversa. — Entendo. Onde ele est? agora? — Em casa. Ele estava zangado. — E sua m?e? Lucas levou v?rios instantes antes de responder. — Ela n?o est? mais aqui. — Sinto muito, querido — confortou a mulher de imediato, acariciando seu rosto. — Voc? consegue se lembrar do endere?o da sua casa? Se voc? quiser, n?s o levaremos at? l?. Meu carro est? estacionado do lado de fora do port?o. Lucas sorriu agradecido. Algu?m veio resgat?-lo. Ele olhou para aquela mulher mais uma vez: ela parecia um anjo para ele. — Sua mochila deve estar muito pesada, Lucas. D? para mim, assim irei coloc?-la no banco de tr?s — ofereceu a mulher. O menino se virou e Elisabeth fez a mochila deslizar pelos seus ombros, mas ao faz?-lo, ela tamb?m puxou sua jaqueta e camiseta para cima. — Oh, a mochila est? presa em suas roupas. Espere, vou libert?-lo — mentiu Elizabeth e inclinou-se para o menino, que n?o estava ciente de que acabara de revelar uma marca violeta comprida, que corria de um quadril ao outro. A marca da chicotada que ele havia recebido tr?s dias antes. Os olhos estreitos de Elizabeth e seus l?bios apertados e brancos fizeram Kira recuar, j? que ela sabia que essa express?o costumava prenunciar uma repreens?o terr?vel, mas quando sua m?e se levantou, ela estava sorrindo de novo de maneira inesperada, fazendo sua filha se sentir confusa. — Vamos para casa, mas que tal um bom sorvete ou uma fatia de bolo no Chocoly's primeiro? — exclamou a mulher animada, fazendo Kira pular de alegria, pois conhecera esse lugar no dia da chegada deles, quando sua m?e comprou para ela o maior sorvete do mundo, cheio de doces e biscoitos. Lucas tamb?m conhecia esse lugar, mas nunca havia entrado. Quando chegaram ao carro, Elizabeth imediatamente dirigiu at? esse lugar, onde deixou as duas crian?as se jogarem nos doces, se entupindo de balas, biscoitos, muffins e natas, enquanto ela se retirava para o lugar mais isolado da cafeteria, para fazer algumas liga??es urgentes sobre o que acabara de ver nas costas do menino. Lucas comia como um cavalo sob o olhar atento e feliz da mulher, que o acusava de ser baixo e magro demais para sua idade. Quando chegou a hora de voltar para casa, Lucas entrou no carro com relut?ncia e deu seu endere?o a Elizabeth, que imediatamente programou o navegador, porque ainda n?o conseguia dominar muito bem as ruas de Princeton. — Seu pai queria que voc? caminhasse oito quil?metros? — disse Elizabeth nervosa ao olhar para as instru??es do navegador. Lucas ficou em sil?ncio, perguntando-se se oito quil?metros era um longo caminho. Felizmente, Kira conseguiu entret?-lo, ent?o a viagem para casa transcorreu de maneira alegre. Infelizmente, no entanto, assim que a enorme villa de seu pai apareceu do lado de fora da janela do carro, todos os tra?os de sorriso desapareceram do rosto de Lucas. Quando o port?o foi aberto, a crian?a come?ou a tremer, perguntando-se como seu pai reagiria se soubesse o que ele tinha feito. — Crian?as, esperem por mim aqui! — ordenou Elizabeth, saindo do carro e caminhando at? a porta da frente que tinha acabado de ser aberta, para deixar a forma poderosa de Darren Scott sair. — Sr. Scott, eu imagino. — Sou. Quem ? voc?? — Meu nome ? Elizabeth Madis. Encontrei seu filho sozinho na escola, no final das aulas. Peguei Lucas e o trouxe para casa. — Bem, agora voc? pode ir embora. — N?o, eu n?o vou! — Voc? n?o vai? O que voc? quer? Dinheiro? N?o pedi a voc? para traz?-lo para casa! Ele poderia andar at? aqui, no que me diz respeito! — Voc? n?o sente vergonha? S?o quase oito quil?metros! Como voc? p?de obrig?-lo a andar uma dist?ncia t?o grande e al?m disso, sozinho? — E quem ? voc? para me dizer o que posso ou n?o fazer com meu filho? — Sou assistente social e irei avis?-lo, h? motivos suficientes para tirar a cust?dia do seu filho de uma vez por todas: neglig?ncia infantil, viol?ncia f?sica e provavelmente psicol?gica e al?m disso, a crian?a parece desnutrida… embora voc? n?o pare?a viver mal! — Como voc? ousa vir ? minha casa e me atacar? — explodiu o homem, saltando sobre a mulher e parando a alguns cent?metros do seu rosto. — Voc? est? b?bado — adivinhou a mulher pela respira??o fedorenta que atingiu seu rosto. — V? embora ou chamarei a pol?cia e farei voc? perder o emprego. Vou bani-la desta cidade para sempre — amea?ou ele. — Voc? n?o me assusta. S? saiba que vou mandar o servi?o social para te fazer uma visita em alguns dias e tamb?m um dos meus colegas para verificar se n?o h? mais marcas de viol?ncia em Lucas, ou vou fazer com que joguem voc? na cadeia. Est? claro? — continuou ela implac?vel e decidida a conseguir o que queria. — Saia da minha casa! — gritou Darren para ela, assustando tamb?m Lucas, que pegou sua mochila rapidamente e saiu correndo do carro, para correr para casa e p?r fim ?quela briga. — Te vejo em breve, Sr. Scott — disse Elizabeth com uma amea?a velada, em seguida voltou para o carro e foi embora. Quando o carro saiu da enorme propriedade, Darren voltou para casa, onde encontrou seu filho assustado e solu?ando. — Voc? trouxe uma assistente social para casa, seu bastardo idiota! — trovejou ele furiosamente contra seu filho. — Eu n?o sabia. — A crian?a apenas conseguiu sussurrar, pronta para pagar as consequ?ncias. — Aquela vadia realmente acha que pode me desafiar e amea?ar… na minha cidade? Ela vai pagar caro por isso! E no que diz respeito a voc?, n?o poderei te bater pelos pr?ximos dias, mas tenha certeza de que voc? tamb?m vai pagar pelo que fez! V? para seu quarto agora! Esque?a o jantar hoje ? noite, assim voc? aprender? a n?o trazer aquela mulher desprez?vel at? minha casa. Lucas n?o deixou que ele dissesse duas vezes. Ele correu para o quarto como um tiro, grato a Kira e sua m?e, que lhe ofereceram aquele lanche especial e guloso. Seu est?mago ainda estava cheio, ent?o ele mergulhou sob os len??is, rezando para que a manh? chegasse logo. Ele gostaria de reencontrar Kira, sua amiga especial, aquele furac?o com boca em formato de cora??o e olhos verdes como madeira, que virara seu dia de cabe?a para baixo e mudaria sua vida em breve, ele tinha essa certeza no fundo do seu cora??o. KIRA Princeton, Kentucky, 12 de julho de 2014 — N?o tolero mais essa situa??o! N?o me importa se Darren Scott ? o mandachuva da cidade! Sim, eu entendi… Sim… sim… Absolutamente n?o! Com certeza n?o vou desistir… N?o me importa se essa guerra j? dura quatro anos! Estou cansada de deixar aquele monstro estragar a inf?ncia de um menino! Sei que ele j? amea?ou me demitir… Ele est? tentando h? muito tempo, mas felizmente sou muito boa no meu trabalho, ent?o ele n?o conseguiu a autoriza??o do Prefeito… Eu entendo… Sim… Ok, mas n?o aguento mais este estado de coisas! Lucas est? mais uma vez na minha cozinha. Ele est? ferido e minha filha est? cuidando dele! Ele tinha um ferimento no l?bio no m?s passado, agora tem um corte profundo na sobrancelha esquerda! — Elizabeth Madis continuava gritando ao telefone. Ela estava trancada em seu escrit?rio, certa de que os dois jovens em sua cozinha n?o poderiam ouvi-la, mas infelizmente sua raiva e frustra??o pareciam prestes a derrubar as paredes. Ela vinha discutindo com seu chefe h? alguns anos sobre as medidas que eles poderiam tomar em rela??o ao poderoso Darren Scott, mas parecia que todas as pessoas que moravam em Princeton tinham parentes trabalhando para ele ou alugando uma casa em um dos pr?dios decadentes de apartamentos. Todos deviam algo a Darren Scott, ent?o temiam as consequ?ncias. At? o chefe da Pol?cia. Apesar disso, Elizabeth nunca desistiu. Ela era famosa porque sempre obtinha os melhores resultados no seu trabalho e pelo seu incr?vel sexto sentido que a fazia descobrir o que havia de podre em cada fam?lia da cidade. Ap?s quatro anos, ela ainda estava tentando obter justi?a para aquela crian?a miser?vel que ela muitas vezes teve que hospedar e curar, junto com sua filha Kira, que nunca havia deixado Lucas sozinho desde que o conheceu. Mesmo que Kira ainda fosse muito jovem, ela havia assumido os problemas do seu melhor amigo e estava muito ocupada procurando um curativo naquele momento, ent?o n?o estava ouvindo o telefonema da sua m?e, mas ela j? sabia de cor o discurso. — Voc? provavelmente vai ter uma cicatriz. Sente-se e continue apertando a gaze — ordenou ela a Lucas, sentindo-se irritada e nervosa por n?o ter conseguido evitar aquela nova viol?ncia contra o menino. — Est? doendo! — reclamou Lucas, sentado no banquinho em frente ao balc?o da cozinha, onde todos os tipos de rem?dios, gaze, algod?o e curativos estavam espalhados. — Apenas espere um momento e sente-se confortavelmente! N?o consigo alcan?ar — continuou Kira bufando e tentando colocar o maior curativo que conseguiu encontrar na sobrancelha do menino. — N?o ? minha culpa se voc? ? pequena — provocou Lucas, enquanto achava engra?ado o olhar amea?ador de Kira: quando ela semicerrava os olhos, parecia um personagem de mang?s japon?s. — Voc? ? apenas sete cent?metros mais alto do que eu e, a prop?sito, gostaria de lembr?-lo que voc? era um verdadeiro baixinho no ano passado — enfatizou Kira de imediato. Ela percebeu recentemente que todos os seus colegas de classe tinham crescido muito e ela era a mais baixa agora, embora costumasse ser a mais alta no passado. At? suas melhores amigas Jane e Roxanne eram alguns cent?metros mais altas que ela. — ? melhor eu pegar a cesta mais uma vez — pensou ela, sentindo-se irritada por n?o ter crescido nos ?ltimos dois anos. — Tire sua camiseta agora. Est? manchada de sangue — ordenou ela logo em seguida, pensando na grande quantidade de sangue escorrendo de sua ferida quando ela foi visit?-lo naquela tarde de feriado. Ela teve que se conter e evitar se sentir mal, ap?s ter ido para cima do pai de Lucas, chamando-o de “a?ougueiro viciado em ?lcool” e “Jack, o Estripador”. Apenas a chegada de sua m?e foi capaz de salv?-los da raiva furiosa daquele homem, que estava em um atordoamento alco?lico. — Mas o que devo vestir ent?o? — Lucas ficou nervoso e incomodado por estar seminu, principalmente porque as marcas da viol?ncia do seu pai ainda estavam nitidamente vis?veis em suas omoplatas. — Minha m?e e eu compramos uma camiseta para voc? no mercado ontem. M?e queria dar a voc? no seu novo per?odo escolar, mas eu vou fazer isso agora! Eu a escolhi — exclamou Kira entusiasmada, fazendo Lucas corar at? as orelhas, mas ela apenas o ignorou e, pegando-o pelo bra?o como sempre fazia, ela o levou para o quarto dos pais, onde sua m?e havia escondido o presente na gaveta de meias do marido. Quando entraram no quarto, Kira e Lucas se trancaram l? dentro. — Aqui est?! — Obrigado — murmurou ele, sentindo-se comovido e desembrulhando o presente. Havia uma camiseta azul dentro, com o Goomba do Super Mario no centro, como no Nintendo de Kira e seu nome, Lucas, estava impresso debaixo dele. — Assim que vi, pensei em voc?, porque sempre jogamos Nintendo quando passamos o domingo juntos. Voc? realmente ama Super Mario Bros e pular sobre os cogumelos do jogo. — Eu normalmente pulo sobre eles enquanto voc? colide com eles e ? morta — lembrou Lucas. Ele considerava Kira um g?nio na escola, mas uma absoluta lerda em videogames. Como resposta, Kira mostrou a l?ngua para ele e Lucas sorriu feliz. — Ent?o, ser? que isso vai caber em mim? — perguntou ele, mudando o assunto da conversa antes que Kira come?asse a listar os campos em que n?o tinha problemas em venc?-lo. Ela odiava julgar de maneira imprudente e n?o criteriosamente, ent?o ela colocou as m?os nos quadris com seu ar altivo habitual e come?ou a olhar para ele com aten??o. A camiseta serviu nele perfeitamente e Kira n?o pode deixar de notar seus m?sculos, que n?o estavam ali pouco tempo antes. Ela sempre guardou sil?ncio sobre isso, mas havia percebido que era sempre a perdedora quando eles lutavam com os travesseiros agora, quando se empurravam no sof? ou jogavam basquete no p?tio. Embora Lucas sempre tivesse sido muito magro, n?o havia sobrado muito do menino de nove anos que Kira conhecera quatro anos antes. O tempo havia passado e Lucas estava ficando mais forte. Ele estava crescendo e ficando cada vez mais ousado e valente. Ele n?o temia mais os golpes do pai, aprendera a aceit?-los sem derramar uma l?grima. Kira ficou olhando para ele por muito tempo e ficou fascinada pelo seu rosto como sempre acontecia. Ela tinha que am?-lo, mesmo se sua apar?ncia fosse com frequ?ncia diferente por causa dos golpes do seu pai. Seus olhos castanhos eram sempre brilhantes sob a pilha de cabelos castanhos bagun?ados, apesar da sombra melanc?lica que Kira vira com frequ?ncia em seu olhar. Saber que seu amigo estava sofrendo a deixava muito triste, ent?o ela sempre tentava fazer com que ele se sentisse melhor e feliz quando passavam algum tempo juntos. Ela at? caiu no choro nos bra?os de sua m?e uma noite, pensando em Lucas. — Voc? ainda ? jovem demais para carregar esse fardo, mas como ? atenciosa o suficiente para perceber, apenas tente faz?-lo sorrir o m?ximo poss?vel. Kira, se voc? deseja ajudar Lucas, n?o deve chorar. Voc? precisa ser forte por ele! — Sua m?e havia lhe dito naquele dia. Ela n?o entendeu muito bem o que sua m?e quis dizer com essas palavras na ?poca, mas vinha se esfor?ando ao m?ximo para estar sempre alegre e carinhosa com seu melhor amigo desde aquele momento. E agora, depois de alguns anos, ela podia ver um Lucas muito diferente na sua frente: muito mais alto, mais forte e muito bonito. — Ent?o? — incitou Lucas, sentindo-se nervoso. Com certeza, ele n?o estava acostumado com o sil?ncio de Kira. Ela era a garota que falava de maneira mais mordaz e enf?tica da escola. Gra?as a ela, ningu?m jamais se atreveu a provoc?-lo, mesmo quando descobriram que ele achava a escola dif?cil por causa de uma leve dislexia, que a fonoaudi?loga e psic?loga da escola n?o conseguiram atestar porque o pai do menino abafou isso assim que come?aram a falar sobre professores de refor?o e exames facilitados para ajudar seu filho a enfrentar melhor sua defici?ncia. Essa palavra, defici?ncia, foi exatamente aquela que provocou uma confus?o, enviando a fonoaudi?loga para o hospital com um nariz quebrado Nesse dia, o poderoso Darren Scott n?o conseguiu escapar com facilidade e foi obrigado a pagar muito dinheiro a fim de evitar ser denunciado formalmente. — Voc? est? muito bonito — declarou Kira, mantendo os olhos na camiseta. — Bonito? — repetiu o menino, divertido e desconfort?vel, pois n?o estava acostumado a tais elogios. Kira se arrependeu imediatamente de usar essa palavra. — Jane diz que voc? ? bonito — enfatizou ela, muito envergonhada pois acabara de revelar o segredo da sua amiga. — Jane? Jane Hartwood? — Sim. Acredito que ela gostaria de namorar voc? — sussurrou Kira, continuando se xingando e se perguntando como diabos estava contado essas coisas para Lucas. — S?rio? — Lucas perguntou, de repente ficando s?rio. Essa mudan?a em sua voz irritou profundamente Kira, que de repente se sentiu muito irritada e zangada. — Voc? n?o gosta dela, n?o ?? Lucas, n?o me diga que voc? tamb?m quer namorar com ela! Voc? quer beij?-la e… — gritou ela, com uma voz estridente e delirante. — N?o, n?o quero! Estou apenas curioso. N?o achei que Jane gostasse de mim — interrompeu Lucas. Se essa ? a quest?o, Roxy tamb?m ? louca por voc? , Kira pensou em responder, mas um sentimento venenoso de ci?mes fechou seus l?bios. — Qual ? o problema agora? — Lucas ficou imediatamente preocupado pois sabia o que aquela pequena boca em formato de cora??o podia esconder quando ficava ainda menor e mais fina. — Nada. — Voc? est? zangada. — Lucas podia entender j? que a conhecia muito bem. — N?o estou nem um pouco zangada! — ? por culpa de Jane? Acho que ela ? legal, mas ela n?o ? a garota certa para mim. De todas as suas palavras, Kira s? conseguiu ouvir “legal”. — Ent?o, voc? gosta dela! — Apenas disse que ela ? legal, n?o que gosto dela! — Bem, ent?o consiga sua pr?xima camisa do Super Mario dela! — explodiu Kira furiosa, sua mente estava confusa e ela saiu do quarto batendo a porta. — Kira! — chamou Lucas, chateado. Kira nunca o deixou sozinho em todos aqueles anos que passaram juntos, ent?o ele estava se sentindo profundamente culpado naquele momento, como se fosse respons?vel pela sua rea??o. Kira n?o conseguia entender o pr?prio comportamento, mas se sentia sufocada enquanto seu peito do?a. Quando chegou ao seu quarto, ela come?ou a chorar. Ela se jogou na cama, sentindo-se miser?vel e perdida por causa das suas emo??es profundas. Algu?m bateu ? porta logo depois. Ela n?o respondeu, mas a porta se abriu mesmo assim. Sua m?e estava l?. — Voc? pode me dizer o que aconteceu, querida? Lucas estava chorando quando foi embora! Fazia muito tempo que eu n?o o via chorar… Kira, voc? tamb?m? Voc? est? chorando! — Elizabeth ficou imediatamente preocupada, porque n?o estava acostumada a ver sua filha derramando l?grimas. Kira sempre foi muito zen e n?o muito emotiva, exceto diante de alguma injusti?a. — N?o estou chorando! — solu?ou ela, o rosto encharcado de l?grimas. — Kira, querida, o que aconteceu com voc?? Voc? e Lucas brigaram? — N?o sei… eu… eu n?o sei o que se apoderou de mim. — Kira tentou explicar e continuou chorando. — Dei a ele a camiseta que compramos no mercado e ent?o… ele disse que acha Jane legal e eu… eu… — Voc? est? com ci?mes de Jane? — sugeriu sua m?e, tentando conter um sorriso divertido diante do que parecia ser uma cena de ci?me. Ela vinha se perguntando no fundo do cora??o em que se tornaria aquela amizade muito particular entre Kira e Lucas, quando os dois sa?ssem da puberdade e entrassem na adolesc?ncia. O carinho de sua filha por ele aceitaria a presen?a de outra garota ao lado de Lucas? Algum dia ele seria capaz de se separar da sua melhor amiga? Ela tinha ficado cada vez mais segura nos ?ltimos anos que o v?nculo entre essas duas crian?as nunca poderia se desfazer e mais cedo ou mais tarde, ela os encontraria se agarrando atr?s da cerca viva do jardim. E agora, ao ver que sua filha tinha ca?do v?tima do ci?me e estava sofrendo suas primeiras dores de amor, ela n?o p?de deixar de sorrir e sentir-se satisfeita com sua excelente intui??o que nunca a desapontou. — N?o estou com ci?me! — resmungou Kira. — Ent?o, por que voc? est? chorando? Me diga a verdade, voc? est? se apaixonando por Lucas? — sup?s Elizabeth, fingindo estar indiferente ao rubor evidente no rosto p?lido da filha. — N?o, n?o estou! O que voc? est? dizendo, m?e? — Estou apenas dizendo que ficar t?o zangada porque Lucas gosta de outra garota ? muito estranho… Ali?s, voc? cresceu e isso tinha que acontecer mais cedo ou mais tarde. Para ele ou para voc?… — provocou ela. — Lucas ? meu! — Kira ficou abatida e come?ou a chorar de novo. — N?o vou compartilh?-lo com ningu?m! — Kira — sussurrou sua m?e, comovida e preocupada. — N?o quero perd?-lo! Eu o amo, m?e. — Eu sei, querida — suspirou Elizabeth e abra?ou a filha para confort?-la. Elas continuaram se abra?ando por muito tempo, at? que a garota parou de chorar. — Lucas estava realmente chorando? — perguntou Kira ap?s um tempo. — Sim, ele estava. Fazia muito tempo que eu n?o o via chorando — disse sua m?e com tristeza, fazendo com que a filha se sentisse terrivelmente culpada. — Voc? deveria se desculpar com ele. — Sim, voc? est? certa. N?o queria faz?-lo chorar — murmurou ela, pois sentia-se muito envergonhada do seu comportamento. — Que tal fazer biscoitos de banana com gotas de chocolate e lev?-los para ele? — sugeriu sua m?e, tentando anim?-la. — Lucas adora esses biscoitos! Enxugando a tristeza, Kira e sua m?e come?aram a preparar uma grande assadeira cheia de biscoitos em forma de flor. Ao ficar ocupada fazendo os biscoitos perfeitos, Kira esqueceu a conversa com Lucas e apenas se concentrou em fazer as pazes com ele. Os biscoitos estavam quase perfeitamente assados no forno uma hora depois e Kira estava realmente ansiosa para tir?-los e lev?-los imediatamente para seu amigo. Ela mal conseguia esperar para limpar sua consci?ncia, que estava pesando sobre ela. — Que cheiro delicioso de biscoitos! — retumbou uma voz masculina atr?s delas. Elas se viraram de repente e viram a figura imponente e condecorada de Kenzo Yoshida. — Papai! — gritou Kira, que estava no s?timo c?u e correu para abra?ar o pai. Ela n?o o via h? quase um m?s. Mesmo levando apenas uma hora de carro para chegar ? base, Kenzo poderia voltar para a fam?lia apenas algumas vezes por m?s ou at? menos. — Querido! — Elizabeth a seguiu, correndo para os bra?os do marido. — Por que voc? j? est? de volta? Voc? disse que n?o voltaria para casa antes de agosto. — Estou de licen?a e tenho ?timas not?cias para todos n?s! — respondeu Kenzo sorrindo. — Conte-nos tudo, por favor. — Estamos voltando para T?quio! — exclamou o pai de Kira. — O que voc? quer dizer? — perguntou sua esposa intrigada. — Voc? me entendeu, Ely. Eles me transferiram de novo, est?o me mandando de volta para a embaixada americana em T?quio. Kira, voc? est? feliz? Voc? vai ver a vov? de novo. Tenho certeza que ela est? ansiosa para abra??-la novamente. — N?o quero voltar para o Jap?o! — explodiu sua filha assim que percebeu o que a not?cia significava. — Kenzo, eu tenho um emprego aqui e n?o acho… — Ely, voc? n?o entendeu como as coisas est?o. Isso n?o ? negoci?vel, s?o ordens de cima e voc? pode agradecer ao seu querido amigo Darren Scott — explicou o homem com uma voz gelada. — Que desg… — N?o fale assim na frente da crian?a — interrompeu seu marido, pois n?o queria que sua filha ouvisse palavr?es. — N?o sou mais crian?a e n?o quero voltar para T?quio! — Kira se intrometeu novamente, ? beira das l?grimas. — Quero partir antes que o novo per?odo escolar comece. Vou dividir meu tempo entre casa e a embaixada, enquanto voc? pode ficar na casa da minha m?e, como antes. J? entrei em contato com a antiga escola de Kira e eles t?m uma vaga para ela. Ela s? vai ter que passar no exame e poder? frequentar o ensino m?dio — continuou seu pai despreocupado, deixando sua filha muito ansiosa. Ela parecia ? beira de um colapso nervoso. — N?o, n?o, n?o, n?o, n?o! — A jovem continuava gritando, fechando os ouvidos. — Kira, voc? sabia que ficar?amos aqui apenas quatro anos! — Seu pai tentou fazer com que ela usasse a cabe?a, segurando seus ombros, mas ela come?ou a se contorcer e chorar desesperadamente. — N?o, n?o, n?o! N?o quero ir embora! Quero ficar aqui! Em Princeton! Com Lucas! — Sinto muito, meu bem. Mas isso ? imposs?vel! — N?o, eu n?o quero — gritou Kira com toda for?a, empurrando o pai com viol?ncia para longe, saindo correndo pela porta dos fundos at? a garagem para pegar sua bicicleta. Os gritos de reprova??o do pai e os gritos desesperados da m?e foram completamente in?teis. Ofegando e com terror no fundo do seu cora??o pelo que estava acontecendo, a garota pegou a bicicleta e antes que seu pai pudesse alcan??-la, ela correu para a rua e come?ou a pedalar com todas as suas for?as. Ela sabia que a casa do menino que ela amava ficava a cinco quil?metros de dist?ncia. Quando ela chegou ? suntuosa e majestosa villa da fam?lia de Scott, todos os m?sculos das suas pernas estavam queimando e ela sentia dor na garganta por causa do esfor?o. Felizmente, havia um vento fraco naquele dia, ent?o cada l?grima que amea?avam escorrer pelo seu rosto, secavam antes de cair. Usando a pequena passagem que Lucas fizera tr?s anos antes ao quebrar uma parte da cerca, Kira conseguiu entrar furtivamente na villa e correu sem f?lego at? a mans?o. Ela sabia que o pai de Lucas nunca permitiria que ela entrasse, como sempre aconteceu naqueles quatro anos, mas ela conseguiu identificar a janela do quarto do amigo, ent?o correu por baixo e o chamou, com o pouco de f?lego que lhe restava. Ap?s gritar o nome de Lucas sete vezes, ela ficou abalada pelas l?grimas e caiu de joelhos no cascalho, rezando para que fosse apenas um pesadelo terr?vel. Ela pulou e de repente se levantou assustada quando sentiu um toque leve no ombro. Ela temia que pudesse ser Darren Scott ou sua pr?pria m?e, mas, felizmente, assim que se virou, ela viu o rosto abatido e triste de Lucas. Ela olhou para ele, tentando enxugar aquelas l?grimas irritantes que faziam o mundo de verdade ao redor dela piscar. Lucas havia retirado o curativo, ent?o Kira podia ver o ferimento entre os pelos da sua sobrancelha. No entanto, ela ficou ainda mais abalada com seus olhos inchados e vermelhos, j? que n?o estava mais acostumada com eles. De maneira instintiva, ela procurou por um len?o no bolso, para que pudesse enxugar seu ar assustado, mas ela havia se esquecido de tudo quando fugiu de casa. — Kira — sussurrou o menino. Ele ficou devastado quando viu sua amiga chorando. Isso era algo inesperado e fez com que ele se sentisse muito mal novamente. — Lucas… — Kira saltou, jogando-se em seus bra?os. Ela o abra?ou com toda for?a, como se temesse que o vento pudesse lev?-lo para longe dela. Ela sentiu os bra?os de Lucas retribu?rem o abra?o, abra?ando-a completamente. — Desculpe, Kira — murmurou o menino abatido, abafando suas palavras por entre os cabelos compridos e sedosos dela. — Oh, Lucas! Por favor, me perdoe. N?o quero perd?-lo — solu?ou Kira, abra?ando-o ainda mais forte. — Nem eu — Lucas estava tremendo. Kira podia ouvir o cora??o do amigo batendo cada vez mais r?pido enquanto a respira??o ficava irregular. Ela sabia que ele estava chorando e isso a fez desmoronar. Ela esteve cuidando dele por anos e passou a conhec?-lo, am?-lo e apoi?-lo. Ent?o, naquele momento, ela n?o conseguia acreditar no que diria a ele logo em seguida. — Meu pai foi transferido de volta para T?quio. Ele quer que minha m?e e eu voltemos para o Jap?o com ele. — Ela conseguiu dizer sem se afastar de Lucas, mas, de repente, ele deu um passo para tr?s, assim que percebeu o que ela quis dizer. Kira estremeceu por causa dessa separa??o repentina. Ent?o ela viu Lucas olhando para ela com uma express?o destru?da. — Eu n?o quero, mas… — Kira tentou explicar — Ent?o n?o fa?a isso! N?o v?. N?o me deixe sozinho… voc? tamb?m n?o. Estou te implorando — gaguejou Lucas e come?ou a tremer. Ele j? tinha perdido a m?e e perderia sua melhor amiga em breve. Por que todas as mulheres que ele amava o abandonavam mais cedo ou mais tarde? — N?o quero deix?-lo sozinho — declarou Kira s?ria, tentando recuperar um pouco de clareza. — Ent?o n?o volte para o Jap?o! — implorou Lucas com uma voz t?o dolorida que pareceu uma punhalada no cora??o de Kira. A resposta escapou dos seus l?bios antes que ela pudesse pensar sobre isso. — Tudo bem — respondeu ela, come?ando a matutar para encontrar uma solu??o. O sorriso que finalmente se espalhou no rosto de Lucas valia mais do que mil presentes de Natal. — Voc? promete? Elizabeth geralmente dizia a filha para que n?o fizesse promessas que n?o pudesse cumprir, mas Kira n?o tinha d?vidas sobre o que aconteceria: ela tentaria ficar em Princeton com Lucas, por bem ou por mal. — Prometo — disse ela, fazendo uma cruz no cora??o. A felicidade crescente no rosto de Lucas tornou-se imediatamente contagiosa. Enquanto se abra?avam mais uma vez, Kira jurou para si mesma que faria qualquer coisa para ficar perto do seu melhor amigo. Infelizmente, sua m?e buzinou do seu carro, que estava estacionando no lado de fora do port?o da propriedade, interrompendo-os, ent?o Kira tinha que voltar para casa. — Coloque seu curativo de novo ou vai ficar com uma cicatriz — disse Kira preocupada, ro?ando o dedo indicador na sua sobrancelha machucada. Te vejo amanh?. Em casa. — Vamos ter uma ?tima partida de Super Mario , ok? — sugeriu Lucas, sentindo-se mais sereno, antes que sua amiga sa?sse pela passagem secreta que usou para entrar. — Vou arrasar voc?! — Kira o desafiou alegremente antes de entrar no carro, mas assim que Lucas desapareceu da sua vista, ela sentiu algo quebrando dentro de si, bem no meio do peito. Ela seria capaz de cumprir sua promessa a Lucas? ADAM T?quio, Jap?o, 11 de novembro de 2015 Quando ele alcan?ou a antiga ala do pr?dio, seu cora??o estava batendo r?pido. Ele olhou ao redor com cautela, certificando-se de que tivesse deixado para tr?s todas as garotas com tes?o que sempre o seguiam, desejando se tornar sua namorada. Ser o garoto mais bonito da escola tornou-se uma maldi??o para ele, especialmente depois do que aconteceu com Arashi. S? de pensar no que acabara de acontecer, ele podia sentir um pouco mais de energia nas suas pernas. — Existe um lugar longe o suficiente para fugir do que estou sentindo? — A mente de Adam estava gritando, quando ele alcan?ou a porta quebrada que conduzia para a sala que outrora foi a biblioteca da escola, antes que o ?ltimo terremoto tivesse tornando aquele lado do pr?dio impr?prio para uso dois anos antes. O diretor havia finalmente encontrado um pr?dio mais barato para construir uma nova biblioteca na ala leste, o que ele preferiu do que refor?ar a ala norte e torn?-la segura, ent?o esse lugar estava sempre deserto agora. Ainda abalado pelo beijo de Youra e pelo abra?o de Arashi, Adam come?ou a abrir a porta do seu abrigo secreto… quase secreto, j? que teve que dividi-lo com uma caloura no ?ltimo ano. S? quando entrou, ele se jogou no ch?o, segurando a cabe?a entre as pernas e esperando que pudesse esquecer o que estava girando em sua mente h? muito tempo. Ele se lembrou da imagem de Youra. Linda Youra. Todo garoto em sua escola faria qualquer coisa para sair com ela, mas toda garota solteira em sua escola venderia a alma ao diabo para sair com ele. Youra n?o demorou muito para procur?-lo e pedir para que ele fosse seu namorado e ele concordou s? porque era o que todos seus amigos esperavam dele. At? seu pai apertou suas m?os naquele momento, feliz e orgulhoso dele. Mas quando ela tentou beij?-lo, ele ficou nervoso e come?ou a suar frio, enquanto sua cabe?a e cora??o continuavam lembrando-lhe do sorriso de Arashi — Por que Arashi? Youra ? a garota certa para mim! Eu amo Youra! — Ele vinha dizendo a si mesmo h? mais de dois meses, mas o sorriso de Arashi, seus abra?os ou tapinhas nas costas foram suficientes para tornar Youra em ar impalp?vel se comparado ao brilho ensolarado de Arashi. Ele vinha se perguntando at? ficar exausto sobre os motivos do seu comportamento, mas sem resultados, at? aquele dia pelo menos. Era apenas algo tolo: algu?m havia feito Arashi trope?ar e ele caiu nos bra?os de Adam, mesmo que apenas por alguns instantes. Apenas por alguns instantes… mas foi o suficiente para faz?-lo correr para o banheiro para esconder a ere??o evidente que pressionava a cal?a do seu uniforme escolar. Que vergonhoso! Ele teve que correr como louco para limpar aquele instinto censur?vel e impr?prio da sua mente. At? a lembran?a do corpo nu de Youra n?o foi capaz de desviar sua aten??o disso. — Por que tudo isso est? acontecendo comigo? O que h? de errado comigo? — Adam estava abatido e tentou reprimir aqueles sentimentos que pareciam sufoc?-lo. Ele ia desmoronar mais uma vez e dar vaz?o a l?grimas de frustra??o e vergonha, quando ouviu mais algu?m gemendo dolorosamente na sala. Ele j? tinha ouvido isso v?rias vezes nos ?ltimos dias, mas parecia muito mais desesperado desta vez. Sentindo-se curioso e preocupado ao mesmo tempo, ele se levantou e moveu-se devagar at? a estante onde os romances de fantasia costumavam ficar. Sem fazer qualquer som, ele lan?ou um olhar entre os corredores at? que conseguiu ver a garota chorando. Ela estava sentada no ch?o, como de costume, os bra?os ao redor dos joelhos que estavam dobrados at? o peito e as pernas completamente nuas por causa da saia amarrotada. Ela estava chorando muito. Ele apagou da mente o lema dos seus colegas de classe, dizendo que ningu?m poderia abrir m?o da chance de ver a calcinha de uma garota e se aproximou dela. Assim que a garota percebeu que ele estava li, ela parou de chorar e de repente se levantou com um pulo, enxugando o rosto com a manga do uniforme. — Pegue — Adam disse, entregando-lhe seu len?o. A garota pegou o tecido branco com m?os tr?mulas e temerosas e enxugou o rosto com cuidado. — Obrigada… Voc? ? Adam Gramell, n?o ?? — Sim e voc? ? Kira Yoshida, n?o ?? — conjeturou ele, fingindo n?o ter certeza da sua resposta, quando sabia perfeitamente quem a garota era. Embora ela fosse dois anos mais jovem do que ele e sempre parecesse t?o infeliz, essa garota n?o conseguiu realmente escapar de nenhum radar masculino desde que entrou na escola um ano antes. Suas fei??es ocidentais apenas um pouco proeminentes atra?ram imediatamente a aten??o de todos. Seus pais vinham de dois grupos ?tnicos diferentes como os dele, mas o pai de Adam era americano e ele havia herdado seus olhos azuis, o que o tornava t?o terrivelmente charmoso, al?m do corpo imponente e musculoso. Em vez disso, Kira tinha os olhos verdes escuros incomuns da m?e, enquanto seus cabelos compridos e lisos eram como os japoneses. Contudo, havia algo terrivelmente charmoso nela e sua express?o misteriosa, discreta e sempre triste a fez objeto da aten??o de algum menino, mesmo se, certamente, ela se livrasse de todos eles muito rapidamente. — Voc? me conhece? — Pessoas mesti?as como n?s nunca passam despercebidas. Essa declara??o pareceu atingi-la, j? que ele a viu sorrir pela primeira vez. — Mas n?o sou a pessoa mais legal da escola como voc?: o famoso namorado de Youra Lee-Kuro, campe?o de basquete, ?dolo da escola e garoto da capa da Lovely . — Uau! N?o tinha percebido que era t?o famoso! — interrompeu Adam, sentindo-se desconfort?vel. — N?o d? para evitar, se voc? aparece na capa da revista para garotas mais famosa. Voc? tem futuro como um ?dolo — respondeu Kira. Ela sempre lia Lovely, desde que sua colega de classe, M i saki, lhe emprestasse. — Isso foi h? tr?s meses. — Voc? quer dizer que n?o vai se tornar um ?dolo ? — Exatamente! Nem agora nem nunca — declarou Adam com um sorriso muito amplo, que tentava esconder sua dor e tristeza por ter sido obrigado a desistir do seu sonho. Ele sempre se encantou com o mundo da moda e a ideia de se tornar um modelo o estimulou desde o come?o. Sua entrevista para a Lovely deveria ter sido a melhor plataforma de lan?amento… pelo menos at? seu pai acusar a revista de ter enganado seu filho com bobagens e ninharias gays. Ele havia gritado que preferia morrer do que ver o pr?prio filho andando como uma “aberra??o”, vestido com roupas “esquisitas” no meio de estilistas “esquisitos”. — Tem uma vaga na Academia Militar para voc?, meu filho — seu pai disse com orgulho, j? que abominava a possibilidade de que Adam pudesse fazer qualquer outra coisa com sua vida, que talvez n?o fosse algo muito “heterossexual”. Ele nunca soube se era culpa dessas palavras ou seu pavor de ser marcado como homossexual pelo pai, mas ele come?ou a sair com Youra no dia seguinte e assumiram o namoro tr?s dias depois. Ele n?o se sentia feliz, mas estava com muito medo de procurar uma solu??o diferente. — ? uma pena. N?o sei por qu?, mas sempre pensei que voc? se tornaria um modelo quando crescesse… Provavelmente porque sempre vejo voc? desfilando pelos corredores da escola — disse Kira, trazendo-o de volta ao mundo real. — Obrigado por suas palavras am?veis, mas j? decidi seguir os passos do meu pai e me tornar um militar como ele. De repente, a garota come?ou a chorar de novo e caiu aos seus p?s. — Ei, voc? est? bem? Eu disse algo errado? — Adam ficou imediatamente assustado e se inclinou na frente dela. — Odeio militares. — Kira mal conseguia solu?ar. — Pensei que seu pai fosse um militar como o meu. — Na verdade, ele ?… e eu o odeio tamb?m. Tive que deixar Princeton por culpa dele. Adam tentou falar de novo, mas ficou paralisado pelo desespero sombrio da garota. Ele podia entend?-la t?o bem: ela estava confinada em um mundo que n?o queria. — Ent?o, este ? o motivo pelo qual voc? costuma vir aqui e chorar? — sussurrou Adam, tentando conter a emo??o que a cena estava agitando dentro dele. Ao contr?rio de todas as outras garotas da escola, Kira n?o estava chorando por uma nota ruim, por uma decep??o amorosa ou por qualquer outra tolice feminina. Ele ficou muito impressionado com ela. — Voc? gostaria de voltar para Princeton? Para seus amigos? — Ele adivinhou mais uma vez. — Para Lucas. — Kira gemeu e fungou. — Lucas? Ele ? seu namorado? — N?o, ele ? meu melhor amigo. Ele est? em perigo e n?o estou mais com ele, para proteg?-lo… Nem sei onde ele est? no momento e o que est? acontecendo com ele — solu?ou ela, mostrando a Adam o envelope selado que estava segurando na m?o. Adam virou a carta de cabe?a para baixo em suas m?os. Estava endere?ada a um Lucas Scott de Kira Yoshida, mas havia sido devolvida a ela com as palavras “endere?o desconhecido”, escritas pelo correio com um grande selo vermelho. — Seu amigo pode ter mudado de casa. Seu Lucas nunca lhe disse nada? Kira parou de chorar com um esfor?o sobre-humano e tentou se concentrar na explica??o que deveria dar a ele. Ela nunca tinha confiado em ningu?m no ?ltimo ano, nem mesmo em sua colega de escola, Misaki, mas, naquele momento, estava com vontade de descarregar o fardo que estava carregando dentro de si em outra pessoa. Na verdade, ela nunca tinha falado com Adam antes, mas seus olhos a fizeram entender que poderia confiar nele. — Meu pai foi transferido para os Estados Unidos h? cinco anos, ent?o fomos morar em Princeton, perto de Davenport… Conheci Lucas l?. Ele tem a minha idade e estudava na minha mesma escola. Gosto muito dele e sempre tentei proteg?-lo daquele a?ougueiro viciado em ?lcool, mas… — A?ougueiro viciado em ?lcool? — O pai dele — explicou Kira e come?ou a chorar de novo. — Ele bate nele… Muitas vezes e eu n?o consegui impedi-lo. Minha m?e tentou tamb?m, mas sem sucesso… contudo, ajud?vamos muito Lucas com nossa presen?a e as cenas violentas se tornaram menos frequentes, mas n?o estou mais com ele agora, eu… eu… Uma nova explos?o de choro. — Ele est? sozinho no momento e n?o h? ningu?m pronto para proteg?-lo — adivinhou Adam, sentindo pena dele. — E a m?e dele? — Ela morreu h? alguns anos e deixou Lucas sozinho com o pai — respondeu Kira, com uma voz muito desdenhosa e ressentida em rela??o ?quela mulher que deveria ter cuidado do pr?prio filho em vez de fugir para o al?m, na opini?o dela. — Sou a ?nica que se preocupa com Lucas neste mundo e eu o deixei. Esse sentimento de culpa e sua dor por esse estado de coisas atingiu Adam como um soco na barriga, deixando-o absolutamente sem f?lego. — O que ele vai fazer sem mim? Tenho certeza que o pai vai bater nele de novo e eu n?o estarei l?. N?o estou mais l? com ele, voc? consegue me entender? — continuou Kira, dando vaz?o ? sua profunda frustra??o. — Minha m?e vive dizendo que Lucas nunca respondeu minhas cartas por culpa do pai e que ele provavelmente nunca as entrega para ele… mas depois desta ?ltima, n?o sei o que devo pensar. Ser? que algo s?rio aconteceu com ele? — Voc? n?o consegue ter not?cias dele de alguma maneira? — Gra?as ao seu emprego anterior, minha m?e conseguiu descobrir que Lucas est? bem, mesmo que seu pai tenha perdido muito dinheiro no ?ltimo ano por causa de algum investimento errado. Mas isso n?o ? o suficiente para mim! Quero voltar para Princeton! Eu nunca deveria ter ido embora! ? tudo culpa do meu pai. — Seu pai foi transferido de volta para a embaixada dos Estados Unidos em T?quio h? um ano, n?o foi? — Sim, eu rezei e implorei que ele me deixasse em Princeton. Eu estava pronta para ir para a faculdade, mas ele n?o permitiu que eu fizesse isso. A pior coisa ? que eu realmente tinha certeza de que ficaria l? com Lucas. Eu tinha prometido a ele que nunca o deixaria, em vez disso… n?o sei se algum dia ele ser? capaz de me perdoar. Ele vai pensar que sou trai?oeira como a m?e dele. — Isso n?o ? culpa sua. — ? tudo culpa minha: toda vez que Lucas sente dor, ? minha culpa. Meus pais est?o sempre brigando por minha culpa… — Kira deixou escapar porque havia percebido as brigas noturnas intermin?veis dos seus pais, quando eles acreditavam que ela estava dormindo no quarto. Deixar Princeton tamb?m foi dif?cil para sua m?e, porque ela teve que deixar seu emprego e sua filha estava abatida e irreconhec?vel, ent?o este tamb?m tinha sido um golpe muito dif?cil para Elizabeth. — Nunca vi nossa filha chorar tanto, nem quando era beb?! Kenzo, estou tentando faz?-la parar h? meses! Eu errei em concordar com voc? e deixar Princeton. E para qu?? Para me tornar a cuidadora da sua m?e? Oh, Kenzo, este n?o ? o tipo de vida que eu desejava. — Elizabeth sempre reclamava. — T?quio ? minha cidade natal e minha esposa deveria cuidar da minha m?e, que ? uma vi?va agora e est? sozinha. Al?m disso, j? te disse para procurar um emprego em meio per?odo, mas s? se conseguir cuidar da nossa filha. Ficar longe de voc? com tanta frequ?ncia foi um erro. Kira precisa nitidamente de um pouco de disciplina e regras morais. — Seu marido continuava dizendo. — O que voc? est? insinuando? Voc? acha que n?o assumo as minhas responsabilidades em rela??o a ela? — Eu deveria lembr?-la que nossa filha n?o fala comigo h? meses e est? se comportando muito mal com todo mundo? Sem mencionar suas notas ruins na escola! Ela nem passou no exame de admiss?o na Escola Internacional e est? frequentando uma escola japonesa muito comum no momento. — Kira sempre foi a melhor da sua turma! O que voc? esperava dela? De repente, voc? a arrastou para longe da escola, dos seus amigos e acima de tudo, de Lucas! Voc? sabe o quanto ela se preocupa com ele! — Voc? deveria cham?-lo de patife! — N?o ? culpa dele se ele tem um pai como aquele. — N?o me importa! A vida de Kira ? aqui agora e ela deve aceit?-la! — dizia seu marido todas as vezes antes de sair de casa e bater ? porta. Ao lembrar destas brigas, Kira foi dominada por uma nova enxurrada de l?grimas. Sem proferir outra palavra, Adam fez com que ela se sentasse em uma cadeira empoeirada e permitiu que ela desse vaz?o aos seus sentimentos at? que ela parasse de chorar. — Lamento pelo que voc? est? passando — disse Adam, invadindo seus pensamentos. — N?o sei o que est? acontecendo com seu amigo, mas posso dizer que voc? deveria confiar mais nele, na minha opini?o. — Eu confio nele! — Ent?o, pare de consider?-lo como a v?tima que ele costumava ser quando voc?s eram crian?as. Ele est? crescendo como voc?, ent?o logo ser? capaz de se proteger do pai, voc? vai ver. — Mas Lucas ? t?o pequeno e magro se comparado ao pai. — Provavelmente ele costumava ser assim, mas tenho certeza que logo se transformar? em um cara forte, capaz de cuidar de si mesmo. Kira olhou para ele com os olhos arregalados. Ela nunca pensou que Lucas poderia ser capaz de se proteger daquele monstro. Na sua mente, Lucas ainda era uma crian?a pequena e magra de nove anos, coberta de hematomas e arranh?es. Contudo, Adam estava certo: Lucas havia crescido e ficado mais forte, mesmo se n?o fosse o suficiente. No momento. — Obrigada — murmurou a garota, virando nas m?os o len?o que estava encharcado de l?grimas e muco. — Sem problemas. N?o estava com vontade de ser sobrecarregado com matem?tica hoje — Adam riu, tentando minimizar o clima. — Oh, meu Deus, escola! Eu tinha ci?ncias hoje! — Kira lembrou de repente quando olhou para o rel?gio. Quase uma hora havia se passado desde que fugiu para seu abrigo secreto. — Acho que ? melhor voc? limpar seu rosto antes de voltar para a escola ou sua professora vai ficar preocupada. Kira sorriu para ele agradecida. Eles caminharam juntos at? a porta. — Voc? n?o vai contar a ningu?m o que eu disse, n?o ?? — ? claro que n?o! — confortou Adam. V?-la chorar tamb?m foi uma esp?cie de catarse para ele, al?m de um al?vio, mesmo se n?o tivesse derramado nenhuma l?grima… quase. Ele gostou dessa garota. Ele foi capaz de sentir sua sensibilidade e do?ura durante aquele curto per?odo de tempo. Ele n?o tinha visto ningu?m chorar por um amigo at? ent?o. Ela queria proteger Lucas e defend?-lo das injusti?as da vida. Ele gostaria de poder ter algu?m como ela ao seu lado tamb?m! — Posso fazer uma pergunta? — perguntou Kira ap?s um tempo. — Claro. — Por que voc? normalmente se esconde na biblioteca tamb?m e ?s vezes chora? — perguntou ela com cautela. — O qu?? Eu… ? — gaguejou Adam inquieto. — Sim, eu te vi. Mas se voc? n?o quiser me contar, eu entenderei. Adam suspirou abatido e todos os pensamentos que o vinham assombrando desde que ele fugiu, afloraram de novo com viol?ncia em sua mente. Como ele deveria responder? — Acho que h? algo diferente dentro de mim — disse ele em um sussurro, percebendo o significado das suas pr?prias palavras pela primeira vez. *** Princeton, Kentucky, 11 de novembro de 2015 — Sinto muito, Sr. Lucas — disse Rosalinda, que se tornara a ex-governanta da fam?lia Scott, suspirando com tristeza. — Eu tamb?m sinto muito — murmurou Lucas deprimido, sem tirar os olhos do seu dever de casa. Ele n?o suportava as l?grimas dessa mulher. L?grimas falsas. De crocodilo. De mulher. — Voc? chora no come?o, depois trai e vai embora — disse o menino, desejando que pudesse gritar com ela, mas se conteve e agarrou a caneta com viol?ncia at? quase quebr?-la. — Voc? n?o precisa mais de mim aqui. Sua casa ? pequena e seu pai n?o me quer. — Rosalinda tentou se justificar. — Est? tudo bem. — Sinto muito. Pelo qu?? Por aproveitar a oportunidade e fugir de um patr?o violento e b?bado que com frequ?ncia tamb?m bate em voc?? Pensou ele, desejando poder responder dessa forma. — Aproveite a indeniza??o do meu pai. — Sr. Lucas, eu n?o queria ir embora. Fiquei aqui todos esses anos s? por voc?… As coisas pioraram depois da morte da sua m?e, mas eu fiquei apesar de tudo, mesmo que nunca tenha sido corajosa o suficiente para me revoltar contra o Sr. Scott. — Adeus, Rosy — interrompeu Lucas, j? que n?o suportava mais as palavras dessa mulher. Ela deveria ir e aliviar sua consci?ncia com outra pessoa! Ele tinha que estudar, pois estava cansado de ser provocado pela maneira como lia na frente de outras pessoas ou pelas suas notas ruins, mesmo se ele se esfor?asse ao m?ximo para fazer melhor. Desde que Kira foi embora, sua mente inteligente e sagaz como ela costumava cham?-la, parecia ter se aposentado. Kira… S? de pensar nela, ele podia sentir seu est?mago revirando at? que tivesse que se curvar pelos espasmos. Ele nem notou que a governanta ainda estava parada na porta do seu quarto. — Sr. Lucas. — O que mais voc? quer de mim? Eu te disse para ir embora! — explodiu o garoto, de repente furioso. — Cometi muitos erros com voc?, quando costumava apoiar seu pai… Eu estava com medo, mas… N?o, n?o tenho nenhuma desculpa, mas vou contar algo que sempre mantive em segredo. — N?o me importa — interrompeu Lucas, ficando cada vez mais furioso. — ? sobre Kira, a garota que voltou para o Jap?o no ano passado — insinuou Rosalinda, sabendo que era um assunto delicado. Kira. Mais uma vez. Um novo espasmo atingiu seu est?mago com viol?ncia. — N?o me importa — disse Lucas mais uma vez, torcendo as m?os para parar de tremer de raiva e desespero como tinha feito aquele ano todo. O pior ano da sua vida. — Sei que voc? est? mentindo. Aquela menina era tudo para voc?, Sr. Lucas. Eu vi o quanto voc? sofreu nos ?ltimos meses. Voc? tem que me entender: eu gostaria de ter contado antes, que Kira n?o o esqueceu, como o Sr. Scott fez voc? acreditar. Eu me arrependo do que fiz, mas n?o quero ir embora sem contar verdade. Kira escreveu v?rias cartas para voc? nos ?ltimos meses. Oitenta e seis, exatamente. Ela finalmente conseguiu captar a aten??o de Lucas: ele a encarava perplexo, com os olhos arregalados. — Oitenta e seis cartas? Ent?o, onde elas est?o? — Ele conseguiu perguntar, enquanto seu c?rebro estava tentando se concentrar em suas palavras. — Seu pai as pegou e queimou. Todas elas — revelou ela, enquanto evitava dizer a ele que ela sempre as lia. — Sinto muito. Lucas ficou olhando para o espa?o, com a mente confusa, por muito tempo antes que conseguisse mover um ?nico m?sculo. Ele nem reagiu quando Rosalinda continuou dizendo que sentia muito, antes de sair daquela casa, para nunca mais voltar. Quando Lucas voltou ao mundo real, ele podia sentir apenas uma raiva cega contra o homem que o trouxe ao mundo e depois tirou dele at? o pobre consolo que ele poderia obter ao ler as cartas da sua melhor amiga. Ele vinha sofrendo h? muito tempo e odiava Kira por t?-lo deixado, ap?s ter jurado v?rias vezes que nunca faria isso. Ela havia dito que estava pronta para desistir de tudo por ele e que nunca o deixaria, mas em vez disso… Nem mesmo a camiseta que ela lhe dera naquele maldito ver?o restou para ele, pois ele a rasgou em um ataque de loucura, ap?s ter recebido alta do hospital por causa de um ombro deslocado. Ele havia ca?do da escada por acidente. Ele lhes disse ap?s seu pai amea??-lo. Ele caminhou para a sala de estar em estado de transe, pois sabia que encontraria seu pai ali, b?bado como um gamb?. A casa deles era pequena, ao contr?rio da villa em que moravam no passado e que esse monstro cruel havia perdido tolamente em uma partida de p?quer um m?s antes. Ele chegou rapidamente ao piano-bar, onde encontrou uma garrafa vazia de Bourbon na bancada. Seu pai estava se abaixando e procurando outra coisa para beber, mas teve um vislumbre da chegada do filho e se levantou. — Onde est? Rosalinda? Quero que ela v? comprar mais Bourbon — o homem murmurou enquanto cambaleava at? a poltrona, mas seu filho bloqueou seu caminho. — Voc? a demitiu, n?o se lembra? Ela foi embora h? alguns instantes e me contou sobre as cartas de Kira — disse Lucas, tentando conter a raiva que estava come?ando a prostr?-lo. — Vadia idiota! Por que ela tinha que contar?! Gostaria de t?-la demitido antes. — Como voc? ousou queimar as cartas de Kira — explodiu Lucas, sem conseguir se conter mais. Seu pai olhou para ele por um instante, intrigado com o repentino ataque verbal do filho, ent?o ele se recuperou. — Sou seu pai e posso fazer o que quiser! Voc? me pertence. — Eu n?o perten?o a voc?! — gritou Lucas em resposta. — Como voc? ousa falar assim com seu pai? — O homem ficou zangado, dirigindo o punho ao peito do menino, mas Lucas conseguiu evit?-lo com um salto de felino. Contudo, ele estava muito zangado para ficar satisfeito por se proteger. Ele precisava extravasar um pouco. Ele sentiu o desejo de dar vaz?o ? sua raiva ao bater em algu?m pela primeira vez em sua vida, ent?o, antes mesmo que pudesse perceber esse novo desejo, ele podia sentir todo seu corpo se esticando na dire??o do homem que havia transformando sua inf?ncia em um inferno e acertando sua mand?bula com viol?ncia, aproveitando-se da sua instabilidade de b?bado. Ele foi trazido de volta ? realidade por uma dor aguda em sua m?o. Darren Scott ficou surpreso e chocado com o ataque, que foi mais violento do que ele gostaria de admitir: ele caiu de joelhos e sentiu uma dor imensa no rosto. Ele estava tentando se levantar, quando foi atingido de novo, por um chute poderoso que o deixou sem f?lego. — Bastardo idiota! — gritou o homem para Lucas, ofegando e tentando se proteger. — Voc? ? o bastardo aqui! — O menino respondeu, ent?o o agrediu mais uma vez. — Vou buscar meu cinto, ent?o veremos se voc? ousa falar comigo assim de novo — amea?ou ele, com uma voz tr?mula de raiva. — Apenas bata em mim! Bata em mim o quanto quiser, pai! Estas s?o as ?nicas coisas que voc? consegue fazer: ficar b?bado e bater em mim. Bem, voc? pode fazer isso, mas n?o vou mais ficar parado e esperar pelo seu golpe de cinto! — gritou seu filho para ele exasperado, enquanto continuava a soc?-lo. — Sua… mercadoria estragada… — balbuciou o homem, abalado com a agress?o do filho. — Voc? ? a mercadoria estragada! — respondeu seu filho de repente. Ele estava cansado dessa agress?o que n?o conseguia mais impedir e que parecia ficar cada vez mais forte a cada novo golpe. Seu pai come?ou a rir com desd?m. — Lucas, lembre-se disso: uma fruta nunca ca? longe da sua ?rvore. — O que voc? quer dizer? — Quero dizer que voc? ? t?o danificado e estragado quanto eu. Voc? ? meu filho e eu sou seu pai! Meu sangue corre nas suas veias! — N?o vou ser como voc?! — Voc? j? ?. ? por isso que todos continuam deixando voc?, assim como sua m?e fez comigo e com voc?. Ningu?m quer ficar com um fracasso como voc?. At? sua jovem amiga fugiu assim que conseguiu. — Isso n?o ? verdade! Kira me ama. Eles a obrigaram a ir embora. — Voc? ? um pobre idiota! Aquela garota nunca o amou de verdade ou teria ficado aqui! Sabe, Lucas, eu li as cartas que ela continuava escrevendo para voc?. Que garota lamurienta! Mas posso dizer isso: Kira n?o vai mais voltar para voc?! E ela n?o vai mais escrever para voc? porque ela desistiu de correr atr?s de um pobre idiota como voc? — disse seu pai, com desd?m. Lucas preferia ser golpeado pelo cinto do pai naquele momento do que ouvir suas palavras horr?veis, que o estavam corroendo por dentro. Ele estava se sentindo sujo e pronto para autodestrui??o. Ele chamou o nome de Kira uma ?ltima vez, mas j? sabia que sua querida amiga n?o correria para ajud?-lo e cur?-lo da dor que o atormentava. Ela nunca mais voltaria. Ele saiu correndo da sala, sentindo-se despeda?ado e nauseado pelo que era e pelo que poderia se tornar e deixou seu pai l?, tossindo e recuperando o f?lego com a ajuda de uma garrafa de Bourbon. RELACIONAMENTOS T?quio, Jap?o, 9 de janeiro de 2017 — Voc? ? t?o bonita — sussurrou sua m?e para ela, enquanto terminava de pentear seu cabelo. — Obrigada — exclamou Kira com um sorriso amplo nos l?bios, o que fez o cora??o de Elizabeth pular de alegria. Ver essa express?o feliz no rosto da filha era o melhor rem?dio que ela tinha para curar a ansiedade e ang?stia que vinha sentindo nos ?ltimos dois anos. E tudo isso estava acontecendo gra?as a Adam Gramell. Com sua do?ura e sensibilidade, esse menino foi capaz de encontrar o caminho para o cora??o de Kira, ajudando-a a esquecer Lucas Scott, aquele garoto de Princeton. Elizabeth certamente n?o havia apreciado muito o fato de que ele era dois anos mais velho do que Kira, mas o sorriso da sua filha foi o suficiente para dissipar seus temores. Al?m disso, Adam era o menino mais gentil e mais inofensivo do mundo e Kira n?o parecia se preocupar com todas as cartas de amor que ele recebia de suas colegas de classe. — Eu confio nele, m?e! Conhe?o Adam muito bem, e tenho certeza de que ele nunca me enganaria! — Kira havia dito a ela duas semanas antes. — Engan?-la? Oh, Kira, voc? j? foi t?o longe? Voc? me disse que voc?s eram apenas amigos! Voc? ainda ? t?o jovem e… — Sua m?e ficou assustada. — Fique calma, m?e! Ent?o, eu tenho quinze quase dezesseis anos! N?o sou mais uma crian?a e n?s n?o fomos t?o longe ainda, embora Adam tenha dezessete anos! — S?rio? N?o foi? Voc? me diria, se fosse… — M?e, apenas confie em mim. Adam e eu somos apenas amigos, embora n?o possa negar que temos pensado em ser um casal. — Por favor, Kira… — Eu sei: devo ir com calma. N?o devo me apressar. Como voc? sempre diz, fa?a amor e n?o sexo com um estranho. Blah, blah, blah… — Kira continuou dizendo como um rob? pois havia memorizado o conselho da m?e. Elizabeth havia entrado em p?nico cinco meses antes, quando Kira contou que sua colega de turma, Misaki, n?o era mais virgem. — Isso ? perfeito. — Contudo, Adam sabe que ainda n?o estou pronta e est? tudo bem para ele. Ele me disse que nossa amizade ? a coisa mais importante. — Espero que sim — suspirou sua m?e, rendendo-se. Felizmente, a campainha tocou naquele momento, encerrando a conversa que sempre deixava Kira desconfort?vel, tamb?m por causa do seu sentimento de culpa por todas as mentiras que continuava contando sobre Adam e si mesma. — Deve ser Adam! Voc? pode ir e abrir a porta? Ainda estou escolhendo que sapatos usar — pediu Kira, tentando arrumar as roupas que havia jogado na cama. Ela viu sua m?e hesitar por um instante antes de ir embora. — Estou muito feliz, sabe? — disse ela a Kira, depois saiu do quarto. — Eu tamb?m, m?e. Mas, por favor, se apresse agora ou Adam vai acreditar que vou mant?-lo l? fora no frio. Voc? sabe que ele ? friorento! — N?o acreditei que voc? pudesse come?ar a sorrir de novo, depois que deixamos Princeton e… Lucas — murmurou Elizabeth com cautela. Fazia meses que ela n?o falava sobre isso porque n?o queria fazer a filha chorar, mas sentia que algo estava mudando naquele momento. Kira parou de repente quando ouviu o nome do seu amigo, ent?o, sem tirar os olhos das roupas, conseguiu responder ap?s um longo momento, sem se render ? tristeza. — Vou voltar para ele, m?e. Eu prometo. Elizabeth come?ou a tremer por causa das palavras da filha e entendeu que estava errada: nada mudou. *** Princeton, Kentucky, 15 de janeiro de 2017 Assim que a boca da garota ro?ou em seu l?bio inferior, ele n?o conseguiu evitar gemer de dor. — Voc? n?o poderia esperar mais um dia antes de permitir que Kurt cortasse seu l?bio? — A garota loira disse com uma voz melodiosa, fazendo a l?ngua deslizar pelo seu pesco?o at? o peito nu. — Vamos, vista-se. Minha aula vai come?ar em vinte minutos. — Lucas ficou de repente nervoso, tentando se livrar dessa sanguessuga. — Desde quando voc? se preocupa com a escola? — A garota riu divertida, colocando o suti? com um gesto teatral, tentando atrair a aten??o de Lucas para si, mas ele n?o respondeu e sem sequer lan?ar um olhar para ela, vestiu a cal?a e foi embora. — Voc? vai me ligar amanh?? Vai ter uma festa… — Ela tentou mais uma vez. — N?o, estou ocupado — disse Lucas rapidamente com uma voz irritada, fazendo a garota ficar irritada. — Voc? est? me abandonando, seu canalha imundo? — Pense como quiser. Estou indo. — Isso ? tudo? Acabamos de fazer amor e voc? est? me deixando assim agora? — solu?ou a jovem, ? beira das l?grimas. Lucas deu uma olhada r?pida nela e sentiu vontade de quebrar alguma coisa ao ver suas l?grimas. Suas m?os ainda estavam doendo ap?s a briga com Kurt, ent?o ele esperava que pudesse acalmar seu temperamento feroz com a ajuda do corpo fabuloso de Jennifer, mas, como acontecera com ele quatro vezes antes, ele n?o sentia nada por ela, exceto um orgasmo avassalador. Ele evitou lembr?-la de que o que haviam acabado de fazer era apenas sexo, j? que ele n?o sabia nada sobre ela, apenas o tamanho do seu suti?. — Isso mesmo — respondeu ele e em seguida fechou a porta atr?s de si e correu para a sala de aula, pronto para come?ar uma bagun?a e irritar o professor Kleyton. *** T?quio, Jap?o, 23 de janeiro de 2017 — Voc? est? pronta? — sussurrou Adam para ela, aproximando os l?bios dos dela. Kira engoliu em seco e assentiu levemente. Ela se sentia como se tivesse uma corda enrolada no pesco?o e seu cora??o estava batendo r?pido, enquanto continuava se perguntando se estava fazendo a coisa certa. — Ou?a, se voc? mudou de ideia sobre isso… — Adam ficou preocupado e se afastou dela. — Claro que n?o! — disse Kira nervosa. Ela teve essa ideia porque queria ajudar seu amigo, ent?o n?o poderia recuar agora. — Estou pronta. Ela podia ver o rosto de Adam se aproximando do dela mais uma vez, at? que sentiu seus l?bios nos dela. Ela come?ou, perdida, abrindo os l?bios um pouco e se aproximando dele, como Misaki havia lhe dito. — O que voc? est? fazendo? Isso ? nojento! — exclamou Adam chocado, limpando a boca com a palma da m?o. — Obrigada — respondeu Kira com sarcasmo. — Estou tentando ajud?-lo e voc? me retribui desta maneira! Desculpe, mas nunca beijei um menino antes! Estava apenas seguindo o conselho de Misaki. — Kira, por favor! O namorado de Misaki ? Tsutomu. Ele ? apenas um monte de testosterona e grosseria. — Isso mesmo! — Kira, voc? sabe o que estamos fazendo, n?o ?? — Claro que sei. — N?o seremos nunca namorados como eles. — Eu sei. ? por isso que pensei que, para tornar nossa hist?ria mais realista, dever?amos tentar nos beijar em p?blico, pelo menos, assim n?o parecer?amos estranhos desse ponto de vista — lembrou Kira. Ela passou tr?s semanas estudando todos os detalhes do plano absurdo deles, que finalmente ajudaria seu querido amigo a se livrar de todos os avan?os das garotas que tentavam seduzi-lo (desde que Youra o deixou) e dos olhos perscrutadores e acusadores de seu pai, j? que ele queria v?-lo como uma garota. — Isso mesmo, mas, por favor, feche a boca! N?o quero que sua l?ngua fique presa na minha garganta — implorou Adam, sentindo-se um pouco enojado e em seguida tentou beij?-la mais uma vez. Kira manteve os l?bios fechados desta vez, mas eles eram macios e o beijo foi um sucesso, mesmo que a atmosfera m?gica que ela havia imaginado tivesse desaparecido alguns momentos antes. — Seus l?bios s?o maravilhosos, Kira-chan. Mas infelizmente, voc? n?o ? a pessoa certa para mim — suspirou Adam, comovido com os esfor?os da sua ?nica amiga de verdade. — Lamento um pouco, porque gra?as ? nossa hist?ria, nenhum outro menino ser? capaz de… prov?-la. De repente, as bochechas de Kira ficaram vermelhas, mas ela estava s?ria e pronta para continuar com o texto que planejara para aquele dia. Ela sabia que se fingisse ter uma hist?ria de amor com o lindo e muito requisitado Adam Gramell, n?o teria outra chance de come?ar uma hist?ria de amor de verdade, mas n?o se importava, pois havia entendido que n?o teria tempo para isso, por causa dos estudos dele e do emprego de meio per?odo que ela estava procurando. Ela n?o queria perder seu lugar como melhor aluna da sua turma, junto com a nota preta que estava guardando para sua viagem a Princeton. Êîíåö îçíàêîìèòåëüíîãî ôðàãìåíòà. Òåêñò ïðåäîñòàâëåí ÎÎÎ «ËèòÐåñ». Ïðî÷èòàéòå ýòó êíèãó öåëèêîì, êóïèâ ïîëíóþ ëåãàëüíóþ âåðñèþ (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=65495072&lfrom=688855901) íà ËèòÐåñ. Áåçîïàñíî îïëàòèòü êíèãó ìîæíî áàíêîâñêîé êàðòîé Visa, MasterCard, Maestro, ñî ñ÷åòà ìîáèëüíîãî òåëåôîíà, ñ ïëàòåæíîãî òåðìèíàëà, â ñàëîíå ÌÒÑ èëè Ñâÿçíîé, ÷åðåç PayPal, WebMoney, ßíäåêñ.Äåíüãè, QIWI Êîøåëåê, áîíóñíûìè êàðòàìè èëè äðóãèì óäîáíûì Âàì ñïîñîáîì.
Íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë Ëó÷øåå ìåñòî äëÿ ðàçìåùåíèÿ ñâîèõ ïðîèçâåäåíèé ìîëîäûìè àâòîðàìè, ïîýòàìè; äëÿ ðåàëèçàöèè ñâîèõ òâîð÷åñêèõ èäåé è äëÿ òîãî, ÷òîáû âàøè ïðîèçâåäåíèÿ ñòàëè ïîïóëÿðíûìè è ÷èòàåìûìè. Åñëè âû, íåèçâåñòíûé ñîâðåìåííûé ïîýò èëè çàèíòåðåñîâàííûé ÷èòàòåëü - Âàñ æä¸ò íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë.