Однажды какой-то прохожий чудак Мне на хранение душу отдал. Просто так. Сам же дальше пошел, запакован в пиджак, Брюки, рубаху, галстук солидный, В общем, то, что дает представление, как о мужчине. Странный такой эпизод... О нем бы забыть, да только вот вышло так, Что моя душа вслед за прохожим ушл

O Segredo Do Relojoeiro

O Segredo Do Relojoeiro Jack Benton O segundo mist?rio emocionante da s?rie de mist?rios Slim Hardy. Um rel?gio enterrado ? a chave para um mist?rio de d?cadas atr?s. De f?rias para fugir dos pesadelos de seu ?ltimo caso, o ex-soldado e agora detetive particular John ”Slim” Hardy encontra algo enterrado no mato em Bodmin Moor. Incompleto e danificado pela ?gua, mas ainda funcionando, o velho rel?gio fornece uma pista vital para um caso de pessoa desaparecida. Quando Slim come?a a fazer perguntas na pequena vila de Penleven, ele encontra um mundo de mentiras, rumores, e segredos, alguns dos quais os residentes preferem manter enterrados. Vinte e tr?s anos atr?s, um relojoeiro recluso deixou sua oficina e andou at? Bodmin Moor, levando consigo seu ?ltimo rel?gio incompleto. Ele desapareceu. Slim est? determinado a descobrir o porqu?. O segredo do relojoeiro ? a assombrosa continua??o do romance de estr?ia de Jack Benton, ”O Homem ? Beira Mar”. O segredo do relojoeiro Os Mist?rios de Slim Hardy #2 Jack Benton Contents O segredo do relojoeiro (#uc3cbfda7-f219-56dc-b186-cd0bbccd6735) Cap?tulo 1 (#u710c9655-b8e3-5195-a3f9-8f05f24cabbf) Cap?tulo 2 (#ubf2fa010-f343-58dc-8ce4-7a9186e41cc8) Cap?tulo 3 (#uc98f4757-658c-51bf-8227-e1dc181e66d6) Cap?tulo 4 (#u5f0ee79b-98b1-5c5b-9aa9-f247d94416ff) Cap?tulo 5 (#uc5cbf2b6-916a-53ee-8ecd-7fe113af7124) Cap?tulo 6 (#u40ba4de3-5946-5364-9dc2-02df2b2d7641) Cap?tulo 7 (#u07fb94c7-9c76-584c-afeb-dc956d4aac29) Cap?tulo 8 (#u9b928d43-7611-5a6b-8a69-55f1a2e587f5) Cap?tulo 9 (#ub847731e-fcdf-553d-96cd-e698b3f72bcb) Cap?tulo 10 (#ufcf7eee7-54ac-5424-a30a-45de57aab200) Cap?tulo 11 (#uabaac841-98fd-5c30-bd15-8177a6210bc9) Cap?tulo 12 (#u4b8a9ce1-0279-5735-a235-7cbf5f88deb3) Cap?tulo 13 (#u78ed4ba8-8fbc-5874-b2d4-09d6032110bc) Cap?tulo 14 (#ud5ef86b2-28db-5d76-bd79-2b1e59348961) Cap?tulo 15 (#u5bfb220c-c791-5462-9de5-6588fcf9ca4b) Cap?tulo 16 (#u1a930529-70e2-5153-b8aa-ca2f556570cc) Cap?tulo 17 (#u2307a4fa-b345-5bcc-a995-987d5c37f05f) Cap?tulo 18 (#u41fb4901-d02b-5e18-9106-95613a070c5e) Cap?tulo 19 (#u92acd4ea-fef2-5177-8091-e967a42e9a57) Cap?tulo 20 (#u5b635b10-261c-563d-84e3-eed1545ba612) Cap?tulo 21 (#u4bbfc3c2-da31-57fe-b364-d009788fac2b) Cap?tulo 22 (#u7cf40db1-52e4-5de9-a633-acfefb5f35ea) Cap?tulo 23 (#u41ee30e9-c2f4-5128-bd60-992a9da6b33c) Cap?tulo 24 (#u65a89712-c8e1-538b-be60-1a3f27f7db5a) Cap?tulo 25 (#u4065fbd8-45cf-507f-840d-c0c68186a55e) Cap?tulo 26 (#u03d0d14a-ef63-5631-b827-e7ee53e34c49) Cap?tulo 27 (#u90c91ebc-475b-57c6-9ebb-3cd6d44858a6) Cap?tulo 28 (#u7a0c299b-3f4c-5f61-be36-b7b98a8c9b01) Cap?tulo 29 (#u0ecb3758-32f8-5cdb-8280-a2bf0d19da99) Cap?tulo 30 (#u61265f0e-317c-52dc-b3a9-f5d164c87e68) Cap?tulo 31 (#u8f362aa5-b103-5809-b8f3-0edd985fc4ed) Cap?tulo 32 (#u2371f851-27a5-5848-ada3-dcb801e6ffee) Cap?tulo 33 (#u24b30ea9-0cea-577a-96ee-1a80308fd739) Cap?tulo 34 (#u90e5ea6f-eab8-5891-8b71-abc1bf2c2592) Cap?tulo 35 (#u66fbf9d1-f1c9-5bf8-8743-57d22f62521c) Cap?tulo 36 (#u0a3ed999-22e2-538c-a594-bff639805d48) Cap?tulo 37 (#u2c106206-5f5e-5864-b3ce-461ac9a46c75) Cap?tulo 38 (#u04eaaa8f-b49a-5f02-ae89-6e7084c2d9f5) Cap?tulo 39 (#u232306ef-6a8b-52c8-8fca-7e028279f7fe) Cap?tulo 40 (#u289b37b6-4425-5280-b257-c102fcf57cb7) Cap?tulo 41 (#uf18b296e-053d-5d75-acf5-f610a1418b4f) Cap?tulo 42 (#u1c3b99db-b920-5a18-a2e3-0043ee830d32) Cap?tulo 43 (#ua25b5ffb-4337-511c-a203-9e09371a0922) Cap?tulo 44 (#ud53e7652-45c9-5c1a-b605-7858b1a45665) Cap?tulo 45 (#u8f7b7db9-c8a6-5084-95ba-b7382cf8363c) Cap?tulo 46 (#u016cf085-a089-5b17-8b7c-bf498aab8471) Cap?tulo 47 (#ucd3eb754-82c1-575a-9427-e522c4d49a0e) Cap?tulo 48 (#u216e5f1b-eb41-57c0-8530-23a355190ab2) Cap?tulo 49 (#ue88d0c49-4f76-5cd6-b365-eb7a45bf6941) Cap?tulo 50 (#u0e7cf424-ce71-58e7-a22b-422441b98835) Cap?tulo 51 (#u0c2452c9-5f92-595f-bf1e-350693f1a51a) Cap?tulo 52 (#u31a0c9b9-0e3b-56e1-a62c-b0a03cd92a29) Cap?tulo 53 (#u7f480c2b-86d5-5980-844f-89b0e254d325) Cap?tulo 54 (#u18cbd396-de73-5e6c-a914-5b21eb166e36) Sobre o Autor (#udc8e8d5b-0053-54e1-873d-c7b47f53b8cd) “O segredo do relojoeiro” Copyright © Jack Benton / Chris Ward 2019 Traduzido por Leonardo Oliveira Pestana De Aguiar O direito de Jack Benton / Chris Ward de ser identificado como o Autor deste Trabalho foi afirmado por ele de acordo com o Copyright, Designs and Patents Act 1988. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publica??o pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de recupera??o ou transmitida, em qualquer forma ou por qualquer meio, sem a permiss?o pr?via por escrito do Autor. Esta hist?ria ? uma obra de fic??o e ? um produto da imagina??o do autor. Todas as semelhan?as com locais reais ou com pessoas vivas ou mortas s?o mera coincid?ncia. O segredo do relojoeiro 1 A caminhada n?o ia como planejado. As pilhas de granito saliente de Rough Tor eram um ponto de refer?ncia ruim, deslocando-se ao longo do horizonte enquanto Slim Hardy tentava se realinhar com a linha do caminho que o levara do estacionamento ? colina. ? sua direita, um pequeno grupo de p?neis selvagens bloqueava a rota direta para a cordilheira e as pilhas mais altas. Seus olhos desafiadores observavam cada passo enquanto Slim fazia o contorno, movendo-se lentamente sobre o terreno pantanoso e desigual, receoso do granito que saltava da relva. Slim suspirou. Ele estava bem fora de rota agora, o longo cume de Rough Tor subindo quase em linha reta, e o pico plano de Brown Willy com seu polvilho de rochas aparecendo em frente atrav?s de um vale largo e suave. Ele procurou, por h?bito, o frasco de quadril que n?o estava mais l?, apertou sua m?o como se para punir a si mesmo por seu esquecimento, ent?o sentou-se em uma rocha para tomar um f?lego. No cume, os dois caminhantes que ele tinha seguido do estacionamento saltaram de entre as rochas e foram em dire??o a Brown Willy. Conforme eles desapareciam de vista, Slim sentiu uma pontada s?bita de solid?o. No fundo da encosta, haviam tr?s carros no estacionamento ao lado do borr?o vermelho que era sua bicicleta, mas dos outros caminhantes n?o havia nenhum sinal. Al?m dos p?neis, ele estava sozinho. Depois de uma mordida de um sandu?che e um gole de uma garrafa de ?gua, Slim olhou para o pico, dividido pela indecis?o. Ele tinha um longo passeio de bicicleta pela frente por estradas de terra sinuosas e esburacadas, e a bateria em sua lanterna estava acabando. Quando ele se virou, por?m, o sol rompeu brevemente atrav?s das nuvens, e longe ao sul o Canal da Mancha brilhou entre duas colinas. Ao noroeste Slim procurou o Atl?ntico, mas um banco de nuvens pairava baixo sobre os campos, obscurecendo tudo, exceto um pequeno tri?ngulo cinza que poderia ser ?gua. Com um grunhido perseverante, ele colocou sua mochila nas costas e voltou para a caminhada, mas n?o tinha dado mais do que alguns passos quando uma pedra solta rolou sob sua bota, derrubando-o at? os joelhos em um po?o de ?gua suja. Com uma careta, Slim tirou o p? do p?ntano e cambaleou para a frente em solo mais seco. Ao remover e esvaziar sua bota esquerda, ele deu um sorriso melanc?lico, lembrando que um par de meias sobressalentes estava na cama de seu quarto, deixado de fora de sua bolsa para abrir espa?o para um livro velho da prateleira de empr?stimos da hospedaria. Novamente o sol emergiu brevemente das nuvens, e as pilhas de granito brilharam na luz repentina. O grupo de p?neis tinha se deslocado atrav?s da colina, deixando Slim com um caminho reto para a cordilheira. "Vamos l?," ele murmurou para si mesmo. "Voc? n?o ? de desistir, ??" Sua bota apertou quando ele a p?s de volta, mas com uma careta que raramente deixava seu rosto, ele finalmente chegou ? cordilheira quinze minutos depois, subindo as pilhas de granito at? o ponto mais alto. A neblina tinha ca?do, obscurecendo tudo, menos as encostas da colina. As antigas pedreiras de caulinita a sudoeste eram fantasmas na neblina, mas al?m delas, um v?u cinza turvo pairava sobre o mundo. Com a fric??o da ?gua como uma lixa entre seus dedos dos p?s, Slim fez uma pausa suficiente para tomar um gole r?pido antes de come?ar sua jornada de descida. Um dia quente no in?cio da primavera se transformou rapidamente em uma noite de fim de inverno, e apenas uma hora de luz restava antes da escurid?o completa. Embora a neblina ainda n?o tivesse absorvido o pequeno estacionamento de cascalho em sua paleta cinza amorfa — uma mancha de vermelho perto da parede inferior identificava sua bicicleta — o mesmo parecia muito mais distante do que o pico quando ele estava no in?cio. Ele estava olhando para longe, contando as ovelhas amontoadas em uma cavidade mais abaixo na encosta, como uma forma de se distrair das rajadas de vento frio, quando algo se mexeu sob seus p?s. Ele caiu com for?a, segurando-se com as m?os. Ele havia ca?do com o mesmo p?, mas desta vez torceu o tornozelo e uma dor lancinante subiu por sua perna. Ele rolou de costas, tirou a bota e ficou sentado esfregando o tornozelo por alguns minutos. Ao remover a meia ensopada ele descobriu o in?cio de um hematoma, e a exposi??o ao ar enviou calafrios por todo o seu corpo. O solo aqui pelo menos estava seco, e ele se sentou e olhou para cima, sentindo-se ao mesmo tempo zangado e est?pido. Errar ? humano, repetir o erro... ele se lembrou do in?cio de um ditado que sua ex-mulher gostava, embora ele tivesse esquecido o resto. Ele olhou ao redor, imaginando qual pedra o havia feito trope?ar, e franziu a testa. Algo apareceu entre dois tufos de grama, tremulando com a brisa. A ponta de um saco pl?stico, rasgado e pu?do, sua cor antiga h? muito desbotada em um branco acinzentado. Slim hesitou antes de tentar peg?-lo, lembrando-se de sua viagem ao Iraque com o ex?rcito, quando tal coisa poderia ter indicado uma mina terrestre, um marcador para militares locais que ainda usassem a ?rea. Cada peda?o de lixo poderia significar a morte, e nos sub?rbios de algumas cidades sujas e empoeiradas, Slim mal ousava dar um passo ? frente. Para sua surpresa, o objeto resistiu ao seu pux?o forte. Ele enfiou as m?os na grama e passou os dedos ao redor da forma dura e angular que a bolsa continha. O objeto se espalhava sob a relva, h? alguns palmos de dist?ncia, e seu cora??o come?ou a disparar. Materiais militares perdidos? Dartmoor, a nordeste, era usada para exerc?cios militares, mas Bodmin Moor era supostamente segura. Ele pressionou um dedo na superf?cie dura e ela cedeu um pouco. Madeira, n?o pl?stico ou metal. Ele nunca soube de uma bomba que fosse feita de madeira. Ele puxou a grama que cedeu facilmente e tirou o objeto embrulhado para fora da grama. Cantos quadrados e ranhuras esculpidas despertaram sua curiosidade. Ele desatou o n? da bolsa e retirou o objeto de dentro. "Huh...?" A bolsa continha um lindo rel?gio-cuco ornamentado. Delicados entalhes de madeira cercavam um belo rel?gio central. Para sua surpresa, ele ainda funcionava, quando um pequeno cuco saiu de repente de uma porta acima do n?mero 12, seu grito foi uma baforada cansada nos ouvidos atordoados de Slim. 2 "Voc? vai ficar mais uma semana, Sr. Hardy? A Sra. Greyson, a senhoria idosa de rosto severo da Lakeview Bed & Breakfast, um estabelecimento que fazia jus a apenas duas de suas tr?s estrelas, estava esperando no corredor sombrio quando Slim entrou pela porta da frente. Com frio e dolorido da longa viagem, e ainda assustado com o qu?o perto um Escort com o motor quebrado tinha chegado de reduzi-lo a picadinho, ele esperava evitar uma discuss?o pelo menos at? tomar um banho. "Ainda n?o decidi," disse ele. "Posso avisar amanh??" "? que eu preciso saber se posso anunciar o seu quarto." Slim n?o tinha visto nenhum outro cliente no B&B de quatro quartos. Ele for?ou um sorriso para a Sra. Greyson, mas quando come?ou a passar por ela para as escadas, ele parou. "Diga, voc? n?o conhece nenhum lugar por aqui onde avaliem bens, conhece?" "Avalia??o? De que?" Slim ergueu o pulso e acenou com o rel?gio gen?rico que comprara na liquida??o da Boots h? um ano. "Pensei em penhorar isso," disse ele. "Eu estava pensando que talvez fosse hora de um upgrade." A Sra. Greyson torceu o nariz. "Posso te dizer quanto isso vale. Nada." Slim sorriu. "Estou falando s?rio. Pertenceu ao meu pai. ? uma heran?a de fam?lia." A Sra. Greyson encolheu os ombros como se ciente de que ele estava inventando uma mentira. "Tenho certeza de que seria uma perda de tempo, mas se estiver falando s?rio, encontrar? algum lugar em Tavistock. Eles t?m uma feira todos os s?bados. Vendem todo tipo de bugiganga e, sem d?vida, voc? encontrar? algu?m disposto a tir?-lo de suas m?os por uma pequena taxa. "Tavistock? Onde ? isso?" "Do outro lado de Launceston. Em Devon." A ?ltima frase foi dita com o nariz franzido, como se existir al?m da fronteira de Cornwall fosse o mais hediondo dos crimes. "Tem ?nibus?" A Sra. Greyson suspirou. "Por que voc? simplesmente n?o aluga um carro? Que tipo de pessoa vem para Cornwall sem carro?" O tipo que n?o tem mais carteira de motorista, Slim quis dizer, mas n?o disse. Ela j? tinha preconceitos o suficiente sem o conhecimento de sua suspens?o por dirigir alcoolizado. "J? disse, estou tentando ser ecologicamente correto. Estou tentando entrar em contato com a natureza." "Que bom para voc?." Outro suspiro. "Bem, h? um cronograma pregado na porta do seu quarto, como j? te disse." Slim n?o se lembrava se ela havia dito ou n?o. ? verdade que havia algo, mas estava t?o desbotado que era ileg?vel e provavelmente desatualizado a anos. "Obrigado," disse ele, sorrindo para ela. "Honestamente, voc? n?o sabe a sorte que tem agora que a First Bus come?ou a operar em North Cornwall. Antes, havia apenas um ?nibus para Camelford por semana. Sa?a ?s duas na ter?a-feira e voc? tinha que esperar uma semana para voltar para casa. Imagine ficar preso em Camelford por uma semana? Uma hora ? o suficiente para a maioria das pessoas." "? assim t?o ruim?" A Sra. Greyson n?o percebeu o sarcasmo sutil de Slim. "Eles est?o atr?s de uma sa?da h? anos. Pelo menos agora tem dois ?nibus por dia. Foi Blair, na verdade, que resolveu isso. As coisas pioraram desde que os conservadores voltaram. Eles estavam atr?s da piscina de Bude, depois dos banheiros p?blicos em..." "Obrigado, Sra. Greyson," disse Slim. A Sra. Greyson voltou para a cozinha, a boca ainda se movendo silenciosamente como se as palavras continuassem a cair como gotas de uma torneira vazando, suas m?os desajeitadamente embaralhando um punhado de notas e envelopes de extrato banc?rio. Slim tinha apenas come?ado a torcer para que a conversa tivesse acabado quando ela parou e voltou. "Voc? vai sair para jantar novamente esta noite?" Penleven tinha uma ?nica loja que fechava ?s seis da tarde e um ?nico pub que deixava de servir comida ?s oito e meia. Ele tinha meia hora para chegar ? sua mesa solit?ria na sala de fam?lia ou seria um Cup Noodle e um sandu?che de atum pela terceira noite consecutiva. Embora Slim tivesse seus motivos para sua estadia prolongada em Cornwall, passar fome n?o era um deles. Ele assentiu com a cabe?a. "Acho que vou," disse ele. "Bem, n?o se esque?a da sua chave," disse ela, algo que havia lhe dito em todas as noites de sua estada de tr?s semanas. "N?o vou levantar para abrir a porta para voc?." 3 Em seu quarto arrumado e surpreendentemente grande para uma casa que parecia bastante pequena por fora, Slim tirou o rel?gio da mochila e o desembrulhou do saco pl?stico. Ele n?o sabia nada sobre rel?gios. Seu ?ltimo apartamento continha um ?nico rel?gio de pl?stico barato que o ocupante anterior havia deixado para tr?s, e para ver as horas ele invariavelmente usava seu velho Nokia ou uma sucess?o de rel?gios de pulso baratos que ele usava at? ficarem arranhados demais para serem leg?veis. O rel?gio era um ret?ngulo de madeira no formato de uma cabana de inverno, com um telhado pontudo e pendente e um orif?cio na parte inferior para um p?ndulo ausente. O mostrador do rel?gio, com seus n?meros romanos de metal levemente manchados, era cercado por redemoinhos e entalhes: desenhos de animais e ?rvores, s?mbolos que talvez representassem o sol e a lua ou as esta??es. Em um semic?rculo sob o mostrador do rel?gio havia uma tira fina que lembrava uma lua inclinada para cima, ou talvez uma ferradura inacabada. Alguns arranh?es ileg?veis tinham sido feitos em sua superf?cie. O rel?gio inteiro era revestido com uma camada de verniz espessa, a ser lixada e alisada conforme o design fosse finalizado e refinado. Slim balan?ou a cabe?a confuso. Ele nunca havia visto um rel?gio feito ? m?o antes. Se algu?m se deu ao trabalho de criar algo t?o complexo, por que embrulhar em um saco e enterr?-lo no mato? Curiosamente, apesar da falta de um p?ndulo, ele ainda estava funcionando, embora os ponteiros estivessem algumas horas adiantados — ele agora estava marcando quase onze — e o fundo estava seriamente danificado pela ?gua onde o saco havia se rasgado. Slim tentou tirar a parte de tr?s para olhar dentro, mas estava bem aparafusada, e sem ter ferramentas, ele n?o queria incomodar a Sra. Greyson novamente antes do amanhecer. A madeira, por?m, tinha o cheiro de terra queimada da turfa, assim como um bolor envelhecido. Slim podia facilmente acreditar que o rel?gio era mais velho do que seus pr?prios quarenta e seis anos. Slim pegou um pano ?mido na pia do canto e limpou o rel?gio. O verniz rapidamente alcan?ou um brilho majestoso quando a areia e a poeira foram embora. Os detalhes nas esculturas tornaram-se mais evidentes: camundongos, raposas, texugos e outros exemplos da fauna brit?nica escondidos entre as curvas e arcos das ?rvores. O clique firme do mecanismo do rel?gio sugeria um know-how mec?nico igual ao art?stico, quem o construiu o fez com muito orgulho e um n?vel excepcional de habilidade. Slim colocou o rel?gio na c?moda ao lado da cama e foi pegar o casaco. Era hora de sua caminhada noturna at? o pub local, com sorte a tempo de conseguir pedir um jantar. Ele n?o estava a fim de um Pot Noodle de frango com cogumelos pela terceira noite consecutiva. N?o que odiasse Pot Noodles, mas a lojinha da aldeia s? tinha um ?nico sabor. Na ?nica noite em que se deu o luxo e comprou uma lata de feij?o e salsichas, descobriu que a mesma tinha passado tr?s meses da validade. Enquanto andava pela garoa leve que era padr?o em Bodmin Moor e seus arredores ap?s o anoitecer, ele n?o conseguia parar de pensar no rel?gio. Se ele tivesse encontrado um saco de ouro, n?o teria sido mais misterioso. 4 "Ent?o, quem ? voc? realmente, Sr. Hardy?" Disse a Sra. Greyson, segurando o prato de caf? da manh? como se sua entrega dependesse de sua resposta. "Quero dizer, voc? fica aqui na minha hospedaria, no meio do nada, semanas a fio, e tudo o que faz todos os dias ? caminhar na charneca ou vagar pela aldeia. Est? aqui por algum motivo em particular?" Slim deu de ombros. "Sou um alco?latra em recupera??o." "Mesmo assim, voc? janta no Crown todas as noites?" "Chame de penit?ncia," disse Slim. "Estou confrontando meus dem?nios pessoais. Al?m disso, sempre me sento na ?rea familiar, longe da bebida." "Mas porqu? aqui? Por que Penleven? Se eu n?o tivesse percebido sua incapacidade de lembrar fun??es b?sicas, como levar a chave da porta da frente ao sair, poderia imaginar que voc? fosse um espi?o escondido." Slim deu de ombros. "Eu n?o tinha dinheiro para ir para o exterior. E sempre fui atra?do por Cornwall, principalmente pelas partes frias, escuras e inexpressivas que a maioria das pessoas evita." "Bom, n?o h? lugar mais parecido com isso do que Penleven," a Sra. Greyson disse com um leve ar de decep??o, como se ela tivesse tido uma oportunidade de ir embora, mas perdido a chance. "H? apenas algumas centenas de pessoas na aldeia, mas pelo menos n?o somos uma cidade fantasma de inverno como muitas das aldeias costeiras." "Cidade fantasma?" "Boscastle, Port Isaac, Padstow... s?o todas casas de f?rias. Prosperam no ver?o, mas ficam desertas no inverno. Podemos n?o ser uma comunidade movimentada, mas pelo menos sempre h? um rosto amigo na loja ou no pub." Nas ocasi?es em que se aventurava no bar do Crown para pedir sua refei??o, Slim vira poucos rostos amigos, mas muitos cabisbaixos, ca?dos sobre seus copos, olhando para o nada. Talvez fosse o inverno - ? noite o vento uivava, sacudindo sua janela com for?a, ele temia ?s vezes, que fosse arranc?-la da parede, e estava escuro de verdade na estrada para a hospedaria, n?o o escuro habitual que Slim estava acostumado. Ou talvez fosse que havia pouco do que se falar por essas partes. Slim n?o tinha sinal no telefone, a menos que caminhasse um quil?metro morro acima em dire??o ? A39, mas para algu?m com mais para esquecer do que esperar, era a situa??o ideal. Como que desistindo da ca?a ? fofoca que poderia elevar brevemente seu perfil entre os membros mais velhos da comunidade, a Sra. Greyson deixou o caf? da manh? de Slim e recuou, cruzando os bra?os, montando guarda por alguns momentos antes de se virar abruptamente e marchar de volta para a cozinha. Slim ficou sozinho na ?rea de jantar apertada da hospedaria: tr?s mesas t?o apertadas contra as paredes que marcavam o papel de parede, e uma flutuando no meio como se tivesse sido esquecida. A Sra. Greyson, em algum ato de rebeldia contra sua ousadia de sobrecarreg?-la com seus neg?cios, reservava o local menos desej?vel de todos para Slim a cada manh?, em uma mesa escondida atr?s de uma porta no corredor. O card?pio, com tr?s das quatro op??es riscadas, consistia apenas em repolho frito com uma por??o ocasional de feij?o cozido. Slim estava com tantos gases que precisava deixar a janela do quarto aberta ? noite. Pelo menos a torrada estava consistentemente agrad?vel, e o caf?, embora carecesse do algo extra que Slim poderia ter adicionado outrora, era forte e parecia feito ontem, do jeito que Slim gostava. Ele terminou rapidamente, gritou um obrigado ? Sra. Greyson, em seguida, saiu antes que ela pudesse encurral?-lo novamente. Ele foi saudado por um vento ?mido assobiando em Bodmin Moor, alguns quil?metros a leste, que desafiava sua jaqueta a mant?-lo seco e aquecido. Mesmo quando a charneca estava seca, Penleven ficava envolta na mesma neblina, como se fosse dona de seu pr?prio sistema clim?tico microc?smico. O ?nibus estava com um atraso aceit?vel de dez minutos e o levou por um meandro aparentemente intermin?vel por vales florestados ao longo de vielas estreitas e sinuosas at? finalmente emergir no vale da bela cidade de Tavistock. Disposta ao longo de um trecho do rio Tavy, era um agrad?vel conjunto de ruas hist?ricas ladeadas por lojas surpreendentemente cosmopolitas. Aproveitando o raro conforto das pessoas, Slim aproveitou a oportunidade para atualizar o sabonete antigo no banheiro da Sra. Greyson, comprar uma camiseta na H&M e, em seguida, almo?ar em um pub Wetherspoons. Voltando ao seu prop?sito depois de assistir um jogo de r?gbi, ele localizou o mercado interno perto do rio e indagou sobre um vendedor de antiguidades. Tr?s pessoas recomendaram Geoff Bunce, o dono de um bricabraque escondido no canto nordeste ao lado de um caf? movimentado. "Eu preciso que avalie um rel?gio," disse Slim ao Bunce de barba branca, cuja cintura e pelos faciais lhe davam a apar?ncia de um Papai Noel fora de ?poca, uma apar?ncia acentuada pelos suspens?rios que se estendiam sobre sua barriga saliente. "Deixe-me dar uma olhada." Bunce virou o rel?gio v?rias vezes, cantarolando baixinho com aprecia??o contente, de vez em quando olhando para Slim com um estreitamento suspeito de seus olhos. "Voc? se importa se eu abrir a parte de tr?s?" "Claro." Enquanto Bunce come?ava a trabalhar com uma chave de fenda, Slim se sentou ao lado de sua mesa e deixou seus olhos vagarem sobre as prateleiras e caixas carregadas com artigos. N?o eram bem antiguidades, mas lixo empoeirado de passados h? muito esquecidos. "Voc? ? amigo do velho Birch?" Bunce disse abruptamente. "O qu??" Bunce estendeu um envelope danificado pela ?gua. "O velho Birch. Amos." Slim franziu a testa, imaginando se Bunce tinha falado em algum dialeto de Corwall. Ent?o, com um toque de frustra??o, o homem repetiu: "Amos Birch. O homem que fez este rel?gio. Morava em Trelee, perto de Bodmin Moor. Tinha uma fazenda. Nos velhos tempos, costumava vender seus rel?gios aqui no mercado de Tavistock, antes de ficar conhecido. Era um amigo seu?" "Sim... um amigo." "Ent?o eu suponho que isso perten?a a voc?." O homem sacudiu o envelope como se para lembrar Slim de sua exist?ncia. Slim pegou, imediatamente sentindo a delicadeza do papel envelhecido juntamente com a umidade. Se ele tentasse abri-lo, o envelope desmoronaria em suas m?os, e qualquer mensagem contida dentro seria perdida. "Ah, ent?o ? aqui que estava," disse ele, dando ao lojista um sorriso pouco convincente. "Eu estava procurando por isso." "Claro que voc? estava, Sr.—?" "Hardy. John Hardy, mas as pessoas me chamam de Slim." "N?o vou perguntar por qu?." "N?o pergunte. N?o ? uma hist?ria que valha a pena contar." Bunce suspirou novamente. Ele virou o rel?gio mais uma vez. "Est? inacabado," disse ele, confirmando o que Slim j? supunha. "Eu suponho que seu amigo Birch deu isso para voc? como um presente? Ele n?o poderia ter vendido nesta condi??o, um homem da reputa??o dele." "Parece que voc? o conhecia bem." "Amigos de escola. Amos era dois anos mais velho, mas n?o havia muitas crian?as. Todo mundo se conhecia." "Parece que s?o assim as pequenas comunidades." "Voc? n?o ? daqui, ??" Slim sempre achou que falava com um sotaque neutro, mas isso por si s? fazia dele um estrangeiro onde fortes sotaques do oeste eram esperados. "Lancashire," disse ele. "Mas passei muito tempo no exterior." "Militar?" "Como soube?" "Seus olhos," disse Bunce. "Eu vejo fantasmas neles." Slim deu um passo para tr?s. Um rolo de mem?rias indesejadas come?ou a passar por sua cabe?a, que ele sacudiu, desligando-o. "Voc? era militar tamb?m?" "Malvinas. Quanto menos falarmos disso, melhor." Slim assentiu. Pelo menos eles tinham algum ponto em comum. "Bem, eu acho que eu j? tomei muito do seu tempo—" "Voc? conseguiria algumas centenas por isso," disse Bunce, entregando abruptamente o rel?gio. "Talvez um pouco mais se voc? coloc?-lo em leil?o. H? colecionadores de rel?gios de Amos Birch, por eles serem t?o raros. Est? inacabado, e tem algum dano est?tico, mas ainda ? um original de Amos Birch. Eles costumavam ser procurados. Amos era uma ind?stria caseira antes das ind?strias caseiras serem moda." "Costumavam ser?" Bunce franziu a testa, e Slim sentiu os olhos do homem dissecando cada fio de sua mentira. "O interesse em Amos Birch diminuiu depois que ele desapareceu." "Depois que ele...?" "Voc? sabe, n?o ?, Sr. Hardy, que seu amigo est? desaparecido h? mais de vinte anos?" 5 O Crown & Lion, o pub solit?rio que ficava bem na orla de Penleven, separado por um grupo de ?rvores da propriedade mais pr?xima como um vizinho rejeitado, nunca parecera mais convidativo. Do ?nico ponto de ?nibus do vilarejo, Slim n?o teve escolha a n?o ser passar por ele para chegar ? hospedaria, e embora ele frequentemente jantasse em seu quarto familiar surrado com pouco desejo pela bebida que apagaria os ?ltimos tr?s meses de recupera??o em um piscar de olhos, esta noite ele sentiu muito da velha tens?o, a inquieta??o nervosa que sempre o levava ao limite. As pessoas diziam que uma vez alco?latra, sempre alco?latra, e embora Slim tivesse esperan?as de um dia desfrutar de uma cerveja tranquilamente de vez em quando, aqueles dias de controle e contentamento livres de dem?nios estavam muito distantes. Ele deu uma ?nica olhada ansiosa nas luzes da janela do pub, ent?o apressou o passo e seguiu em frente. A hospedaria estava silenciosa quando ele voltou, mas por uma porta fechada veio o som abafado de uma televis?o com o volume baixo. Slim abriu a porta e viu a Sra. Greyson dormindo em sua cadeira em frente a uma lareira el?trica. O controle remoto da televis?o repousava no bra?o da cadeira ao lado dela, como se ela tivesse tido a premedita??o de diminuir o som antes de cochilar. Slim subiu as escadas. Ele colocou o rel?gio em sua cama e saiu. A oitocentos metros na estrada, em frente ? ?nica loja da vila, Slim encontrou um telefone p?blico. Ele ligou para um amigo em Lancashire. Kay Skelton era um especialista em lingu?stica e tradu??o que Slim conhecia desde os tempos de ex?rcito e com quem j? havia trabalhado. Slim explicou sobre a velha carta encontrada dentro do rel?gio. "Preciso saber o que est? escrito nela, se houver alguma coisa," disse Slim. "Mande para mim pelo correio," disse Kay. "N?o ? algo que eu possa fazer, mas tenho um amigo que pode ajudar." Depois de encerrar a liga??o, Slim ficou surpreso ao descobrir que a loja ainda estava aberta, mesmo ?s quase seis e quinze. "Estou fechando," foi a sauda??o r?spida da lojista, uma senhora idosa com um rosto t?o azedo que Slim duvidou que ela conseguisse sorrir se tentasse. "S? vou demorar um minuto," disse Slim. "Ah, todos dizem isso, n?o ??" disse ela com um sorriso e uma risada sarc?sticos que deixaram Slim sem saber se ela estava fazendo uma piada ou sendo rude. Depois de comprar um envelope, Slim descobriu que, sim, a loja tamb?m funcionava como um correio local, mas, embora pudesse providenciar uma entrega especial de correspond?ncia, era necess?rio pagar uma sobretaxa para envios fora do hor?rio comercial. "Trelee fica longe?" ele perguntou, enquanto a lojista n?o t?o sutilmente o conduzia em dire??o ? porta. "Por que voc? quer ir l?? N?o h? muito para turistas." "Ouvi dizer que existe um certo mist?rio nesse lugar." A lojista revirou os olhos. "Ah, voc? quer dizer Amos Birch, o relojoeiro. Achei que isso j? fosse passado. Por que voc? se importa com o desaparecimento de um velho?" "Eu sou um investigador particular. A hist?ria despertou meu interesse." "Porque? H? muito pouco para contar. Algu?m te contratou?" Tanto desprezo foi colocado na palavra "contratar" que Slim se perguntou se a lojista teve alguma experi?ncia ruim com investigadores particulares no passado. "Estou de f?rias," disse ele. "Mas voc? sabe o que dizem: uma vez policial, sempre policial." "Dizem isso, ??" "Ent?o... para a esquerda ou direita ao sair da aldeia?" A lojista revirou os olhos de novo. "Ao norte pela velha estrada de Camelford. Talvez voc? veja uma placa — costumava haver uma, mas o conselho j? n?o corta o mato como antes. Cerca de dez minutos de carro." "E a p??" "Uma hora. Um pouco mais, talvez. Se voc? conhece o caminho, pode cortar pela orla de Bodmin Moor e ganhar tempo, mas tenha cuidado. Costumava ser uma ?rea de minas." "Obrigado." "E leve algo para comer. Esta aqui ? a ?nica loja daqui at? o posto Shell na A39, perto de Camelford." Slim assentiu. "Obrigado pela informa??o." A lojista deu de ombros. "Se voc? quer meu conselho, eu n?o me daria ao trabalho. N?o h? muito para ver, al?m de uma velha casa de fazenda, e nem muito para saber. Quando Amos Birch desapareceu, ele garantiu que nunca seria encontrado." 6 A chuva cumprimentou Slim na manh? seguinte, mas a Sra. Greyson estava com o humor mais alegre que ele j? tinha visto quando ele contou que estava saindo. "N?o ? o melhor dia para ir para a charneca, ??" disse ela. Quando Slim deu de ombros, ela acrescentou: "Digo, eu tenho um guarda-chuva que poderia te emprestar, mas voc? n?o vai poder usar em sua bicicleta e, de qualquer forma, o vento l? vai estrag?-lo." Slim considerou pedi-lo de qualquer maneira, mas decidiu arriscar com sua jaqueta normal. A Sra. Greyson ofereceu a ele um mapa velho, por?m, com Trelee marcado como um ponto ampliado a um par de quadrados acima de onde Penleven havia recebido um pouco mais de espa?o do que seu esparso agrupamento de casas merecia. A estrada era como ele esperava de Cornwall em qualquer lugar longe da A30 ou A39: uma faixa sinuosa sem fim, que mal dava para dois ve?culos passarem, um emaranhado de esquinas cegas e converg?ncias escondidas mergulhando para dentro e para fora de vales arborizados entre as colinas de terras agr?colas e charnecas. Sebes claustrof?bicas ocasionalmente se abriam para revelar panoramas rudes e belos de um espa?o aberto enevoado, mas andando na escurid?o lan?ada por ?rvores pendentes, tendo como ?nica companhia o latido distante de um cachorro ou o canto de um p?ssaro, a imagina??o de Slim come?ou a provoc?-lo com imagens de corpos mutilados e an?ncios de pessoas desaparecidas nos jornais de domingo. Trelee, na fenda de estrada onde o mapa indicava que a aldeia deveria estar, era apenas uma d?zia de casas, espa?adas ao longo de meia milha de um trecho mais plano interrompido por port?es em campos abertos com vista para Bodmin Moor. Algumas trilhas de fazendas desapareciam em vales escondidos, aglomerados de celeiros e casas de fazenda isoladas, revelando apenas telhados por entre as ?rvores sem folhas. Slim acorrentou sua bicicleta a um port?o pr?ximo a uma placa do conselho anunciando TRELEE em letras confiantes, a grama ao redor cortada como se tivesse sido golpeada por uma vara, ent?o continuou a p?, se perguntando se ele havia perdido a viagem. As tr?s casas mais pr?ximas eram bangal?s modernos afastados da estrada. Nenhuma tinha ve?culos do lado de fora, sugerindo que os ocupantes estavam trabalhando em alguma metr?pole distante. Ele avistou alguns outros sinais de vida: alguns brinquedos de crian?a espalhados na garagem de uma casa, um gato elegante sentado na janela de outra. Depois dos bangal?s, havia tr?s chal?s mais velhos, com paredes de pedra e telhados de palha, um peda?o de um document?rio de viagem transportado para o meio do nada em Cornwell. Os dois primeiros pareciam vazios, port?es trancados e caixas de correio lacradas, mas um velho vasculhava o jardim do terceiro, esvaziando os restos de plantas mortas em uma pilha de composto antes de empilhar as bandejas velhas. Slim ergueu a m?o em resposta a uma sauda??o educada. "Gostaria de saber se eu poderia lhe tomar um minuto?" ele chamou. O homem se aproximou. "Claro. Voc? ? novo por aqui?" "Estou visitando. F?rias." O homem assentiu de forma atenciosa. "Que bom. Eu teria escolhido algum lugar um pouco mais perto da costa, mas cada um com seu gosto." Slim deu de ombros. "Estava barato." "Isso n?o ? nenhuma surpresa." "Estou procurando algu?m que possa ter conhecido Amos Birch," disse Slim, as palavras sa?ram antes dele realmente saber o que estava dizendo. "Estou ciente de que ele faleceu, mas me pergunto se ele talvez tivesse uma esposa ou um filho. Eu encontrei algo que pode pertencer a ele." O homem ficou visivelmente tenso com o nome de Amos. "Se ele faleceu ou n?o, h? controv?rsias. Quem deseja saber?" "Meu nome ? Slim Hardy. Estou hospedado na Lakeview em Penleven." "O que voc? encontrou?" Slim achou que n?o havia raz?o para esconder nada. "Um rel?gio. Ouvi dizer que ele tinha um hobby." O homem riu. "Um hobby? Quem te disse isso?" "? s? o que eu ouvi." "Bem, meu amigo, se voc? encontrou um rel?gio de Amos Birch eu guardaria, a sete chaves." "Por que isso?" "Essas coisas s?o muito procuradas. Amos Birch n?o fazia por hobby. Ele era um artes?o de renome nacional. Seus rel?gios valem milhares de libras." 7 Enquanto Slim se sentava em uma mesa com o velho que havia se apresentado como Lester "mas me chame de Les" Coates, ele se viu constantemente pensando no rel?gio que tinha deixado casualmente em sua cama na hospedaria. Ele pode valer uma pequena fortuna, algo que, na aus?ncia de qualquer trabalho, seria ?til agora. "As hist?rias, s?o muitas," disse Les durante o ch? que Slim achou frustrantemente fraco. "Ele literalmente estava aqui em um dia e sumiu no outro. V?o desde cair em uma mina em Bodmin Moor at? um sequestro por um grupo terrorista internacional. Bastante fantasioso, pode-se dizer." "Ele morava perto daqui?" "Na fazenda Worth. V? para o norte a partir da minha, e pegue a segunda entrada ? esquerda. Ele tinha pessoas que trabalhavam na fazenda para ele, mas era uma opera??o m?nima. As pessoas sempre alegaram que ele mantinha o lugar dando preju?zo gra?as a um incentivo fiscal." "Por seus rel?gios?" "Eventualmente. Ele come?ou como fazendeiro, assumiu a fazenda do pai, eu acredito. Ent?o, quando o interesse em seu trabalho paralelo cresceu, ele deixou um de lado para expandir no outro." "Voc?s eram amigos?" Les balan?ou a cabe?a. "Vizinhos. Ningu?m era mesmo amigo do velho Birch. N?o era a pessoa mais soci?vel, mas ele era amig?vel o bastante se voc? passasse por ele na rua." "Fam?lia?" "Esposa e filha. Mary viveu alguns anos a mais do que ele, mas depois que ela se foi, Celia vendeu o lugar e se mudou. O novo casal l? s?o os Tinton. Pessoas legais, reservadas. Maggie ? um pouco metida a chique, mas ? legal." "Eles sabiam a hist?ria do lugar quando o compraram?" Les balan?ou a cabe?a. "Eu n?o sei dizer. Eu nem sabia que Celia estava vendendo at? as vans de mudan?a come?arem a aparecer. Certamente n?o havia placas de venda at? que a placa de "vendido" apareceu. Teria sido bom ver algu?m daqui compr?-la, mas n?o se pode fazer nada quanto a essas coisas. Mas ningu?m ficou triste ao saber que Celia ia embora. J? ia tarde." Slim franziu a testa com a mudan?a abrupta no tom de Les. Lembrou-lhe da rea??o que ele tinha recebido na primeira vez que mencionou Amos. "Por que diz isso?" Les suspirou. "A garota n?o era flor que se cheirasse. O velho Birch tinha dinheiro. N?o faltava nada ? garota. Corria por a? como se n?o fosse da conta de ningu?m. Diziam todo tipo de coisa sobre ela." "Por exemplo?" Les parecia pesaroso, fazendo uma careta como se as palavras fossem uma fruta podre por dentro que ele n?o tivesse escolha a n?o ser engolir. "Ela gostava de homens, ? o que diziam. De prefer?ncia casados. Mais do que algumas casas foram vendidas enquanto ela estava por aqui, fam?lias que se separaram. Ela tinha apenas dezenove anos quando Amos desapareceu, e havia muitos que disseram que ele n?o aguentava mais." "Voc? acha que ela o matou?" Les bateu na mesa com for?a suficiente para fazer Slim dar um pulo, em seguida, soltou uma risada alta. "Pelo amor de Deus, n?o. Acha que ela sairia impune? A menina tinha suas habilidades, mas n?o era l? muito esperta." Slim queria perguntar se Les sabia o novo endere?o de Celia, mas o velho estava franzindo a testa enquanto olhava para o nada. Slim olhou ao redor, procurando sinais da presen?a de uma mulher e n?o encontrou nenhum. Ele se perguntou se as hist?rias do estilo de vida decadente de Celia Birch vinham de mais do que apenas boatos. "Obrigado por seu tempo," disse ele, levantando-se. "Eu vou deixar voc? aproveitar seu dia." Les levou Slim at? a porta. "Volte quando quiser," disse ele. "Mas se quer meu conselho? N?o remexa muito esse assunto." "Como assim?" "As portas por aqui est?o sempre abertas para um estranho. Mas se voc? se intrometer muito no que se passa atr?s delas, eles tendem a se fechar." 8 Slim almo?ou ao lado de uma escadaria com vista para a distante baeta verde de Bodmin Moor. Pegadas na lama macia no canto do gramado indicavam que a rota era popular, mas ele ainda n?o tinha visto nenhum outro transeunte. Ele se sentiu um pouco desconfort?vel ao bater na porta da fazenda Worth, mas a trilha que descia para o vale contornava a parte de tr?s do quintal antes de cortar um riacho e seguir para a charneca, ent?o Slim podia olhar atrav?s da sebe enquanto passava. Uma casa de fazenda dava para um p?tio de concreto cercado por constru??es externas: dois grandes celeiros de animais, um de maquin?rio e dois outros cujos usos Slim s? podia imaginar; produ??o de gr?os ou latic?nios, talvez. Na parte de tr?s do p?tio principal, um caminho de cascalho levava a um aglomerado de banheiros externos que pareciam ser de uso pessoal. Slim apertou os olhos atrav?s da cerca, perguntando-se se a maior constru??o - um galp?o de tijolos com duas janelas de cada lado de uma porta e uma pequena chamin? projetando-se do telhado - tinha sido, um dia, a oficina de Amos Birch. Com um instinto para poss?veis pistas desenvolvido ao longo de oito anos como investigador particular, Slim puxou sua c?mera digital e tirou algumas fotos do quintal. Ele o colocou de volta no bolso apenas um momento antes que a voz de uma mulher o chamasse. "Sabe, voc? pode ficar preso a?." Slim tremeu, e se virou. Ele deslizou para fora da sebe, aterrissando em um monte na lama ao fundo. Quando ele se virou, fazendo uma careta por causa da mancha marrom que ia de seu tornozelo at? a metade da coxa, ele se viu cara a cara com uma senhora idosa vestida com um traje tweed de caminhada. Ela se apoiava em uma bengala e olhava para ele, com os olhos semicerrados atrav?s dos ?culos pendurados no nariz. Slim ficou de p? e limpou a lama de suas roupas tanto quanto p?de. A mulher continuou a observ?-lo, franzindo a testa cada vez mais, a cabe?a inclinada para o lado como um artista examinando uma obra de arte de um rival. "Voc? avistou alguma coisa de interesse de onde estava?" "O qu??" "Do seu lugar naquele matagal." Ela acenou com sua bengala em dire??o ? charneca. "Voc? sabe, a maioria das pessoas neste caminho olham para o lado de l?, para aqueles rochedos espetaculares. Estava me perguntando o que voc? poderia achar t?o interessante em algumas constru??es de fazenda escondidas atr?s de uma cerca viva podada de tal forma que algu?m com um m?nimo de intelig?ncia entenderia como uma tentativa de ter privacidade. O tom da mulher mudou de interesse geral para um beirando a raiva. Slim estava se cansando de seus ares e gra?as, mas de repente percebeu com quem ele estava falando. "Sra. Tinton? Voc? ? dona da fazenda Worth, n?o ??" A mulher assentiu com firmeza. "Esperto voc?, hein? Eu sou, de fato. E vou te dizer uma coisa: N?o me importa quem morava aqui. Estou farta de voc?s, ca?adores de tesouros, bisbilhotando. H? anos venho dizendo a Trevor que construir uma cerca el?trica ? a ?nica solu??o, mas ele sempre acha que cada bisbilhoteiro que pegamos espionando nossa propriedade ser? o ?ltimo. Honestamente, ?s vezes ele ? bonzinho demais para o seu pr?prio bem." "Sinto muito." "Deve sentir mesmo. Agora, saia dessa cerca viva de uma vez. O direito de circular pode proteg?-lo no caminho, mas essa cerca viva ? parte da minha propriedade e, ao subir nela, voc? est? cometendo uma invas?o. Voc? sabe que pode ser multado em at? cinco mil libras por invas?o de propriedade, n?o ??" Em um momento de urg?ncia relacionado a um caso anterior, Slim certa vez vasculhou um guia para iniciantes das leis do Reino Unido e n?o se lembrava de nada disso, mas mencionar isso n?o resultaria em nada. Ele estendeu as m?os, deu a ela seu sorriso mais apolog?tico e disse: "Eu n?o queria fazer nenhum mal." "A fazenda Worth n?o ? uma atra??o tur?stica!" A mulher cravou sua bengala no ch?o para dar ?nfase, espirrando lama nas botas j? encharcadas de Slim. Ele considerou outro protesto, mas decidiu n?o se dar o trabalho. Ela n?o tinha percebido a c?mera, ent?o era melhor ele fugir enquanto podia. "? melhor eu ir para casa," disse ele, recuando pelo caminho enquanto ela balan?ava a bengala na dire??o dele. "Pe?o desculpas novamente. N?o queria incomodar." "V? embora!" Slim foi embora trope?ando. Uma vez entre as ?rvores na parte de tr?s do gramado, ele arriscou uma olhada para tr?s. A Sra. Tinton havia subido o caminho at? a escadaria, mas l? ela reassumiu sua posi??o de sentinela, apoiando-se na bengala com as duas m?os como um soldado faria com um rifle. Apenas a rota mais longa por tr?s da fazenda o levaria de volta ? estrada sem passar por ela. O caminho seguia por uma margem estreita e trai?oeira com uma queda ?ngreme no riacho. A sebe alta que cercava a fazenda oferecia apenas alguns punhados de amoreiras para sustent?-lo, enquanto uma fileira de ?rvores plantadas no lado da fazenda projetava uma teia confusa de sombras no solo irregular. Em alguns lugares, o riacho tinha levado parte da estrada, e uma se??o da sebe perto do canto sudeste era sustentada por um muro de pedra mais novo, sugerindo que o mesmo j? havia sido escavado e demolido. As primeiras gotas de chuva come?aram a tamborilar ao seu redor enquanto o caminho se abria para outro campo. De dentro de um conservat?rio pitoresco com um prato de bolinhos ou at? mesmo uma garrafa de u?sque ? sua frente, teria sido um som rom?ntico e bem-vindo. Agora, por?m, lembrava Slim da longa viagem de bicicleta de volta a Penleven. Ele se perguntou se n?o era hora de abandonar Cornwall e voltar para o interior, mas n?o conseguia enfrentar o inc?modo de ca?ar um apartamento ou as tenta??es que o estresse poderia trazer. Em vez disso, ele olhou furioso para o c?u turvo e saiu de baixo da ?ltima cobertura de ?rvores entrando na chuva. Ao voltar para a hospedaria uma hora depois, a Sra. Greyson repreendeu-o por sujar o capacho com lama, mas por outro lado parecia satisfeita em v?-lo de volta antes de escurecer. Em seu quarto, ele comeu batatas fritas e chocolate enquanto carregava suas fotos em seu laptop. Ele n?o esperava encontrar muita coisa digna de nota, mas quando ampliou a imagem da pequena constru??o de tijolos, algumas coisas chamaram sua aten??o. Dentro das janelas de cada lado pareciam haver grades, enquanto a porta era adornada por um cadeado pesado. 9 O desaparecimento de Amos Birch provou ser muito mon?tono para causar qualquer rebuli?o na internet. Atrav?s de uma extensa varredura e um pouco de trabalho para separar os sites de f?s e especula??es das fontes confi?veis, Slim foi capaz de determinar a data exata como sendo 2 de maio de 1996, uma quinta-feira, vinte e um anos e dez meses atr?s. De acordo com os registros meteorol?gicos, esteve nublado durante a manh? com uma garoa ligeira por volta das quatro horas. O ?nico artigo detalhado sobre o desaparecimento em si estava em um blog para entusiastas de rel?gios, um post no estilo "onde est?o agora" sobre relojoeiros amadores que cobria pouca coisa que Slim j? n?o soubesse. Na noite de quinta-feira, 2 de maio de 1996, Amos Birch jantou com sua esposa e filha, depois se retirou para sua oficina para continuar trabalhando em seu ?ltimo rel?gio. Ele nunca mais foi visto. A especula??o variava de assassinato a fuga. Ele tinha 53 anos na ?poca e dividia a casa da fam?lia com sua esposa, Mary, ent?o com 47, e sua filha, Celia, com 19. Uma investiga??o policial ocorreu, envolvendo uma extensa busca em Bodmin Moor, mas chegou ? conclus?o, na aus?ncia de evid?ncias que sugerissem o contr?rio, que Amos Birch simplesmente resolveu fugir de sua pr?pria vida. A oficina foi deixada destrancada, e apenas suas botas de caminhada e jaqueta haviam desaparecido. Ele n?o havia levado nenhum documento consigo, e sua carteira foi encontrada mais tarde em uma gaveta da cozinha. No entanto, uma vez que se acreditava que ele vendia muitos de seus rel?gios em dinheiro vivo para colecionadores locais, a aus?ncia de quaisquer saques em caixas eletr?nicos nos dias seguintes significava que ele provavelmente tinha dinheiro com ele, e que mais tarde criou uma nova identidade. O artigo n?o tinha mais detalhes dignos de nota, mas a ?ltima linha chamou a aten??o de Slim. Parecia que Birch simplesmente se levantara e sa?ra pela porta, levando seu ?ltimo rel?gio consigo. N?o havia nada que sugerisse que o autor sabia sobre o rel?gio. Em nenhum outro lugar havia men??o de um rel?gio que ficou inacabado na oficina, ent?o poderia ter sido uma linha de imagina??o fantasiosa. Seria o ?ltimo rel?gio o que Slim descobrira na charneca? Geoff Bunce concordara com a avalia??o de Slim de que o rel?gio estava inacabado. E se o ?ltimo rel?gio de Amos Birch agora estivesse debaixo da cama de Slim? Slim se levantou, sentindo-se repentinamente nervoso. Ele andou pela sala algumas vezes. N?o havia como saber as circunst?ncias do desaparecimento de Amos, mas Slim n?o tinha ficado quieto sobre o que havia encontrado. E se Amos tivesse escondido o rel?gio por um motivo espec?fico? E se algu?m estivesse atr?s dele? Teria Amos desaparecido, levando o rel?gio com ele, para escond?-lo de algu?m? Slim tirou a cadeira de debaixo da pequena escrivaninha da sala, e ent?o inclinou-a e acomodou-a sob a ma?aneta da porta. Ele n?o havia considerado que a aus?ncia de uma tranca pudesse ser problema, mas o seguro morreu de velho. Ele se perguntou se deveria dizer algo para a Sra. Greyson, mas achou melhor n?o. Era prov?vel que ele apenas a preocupasse e, de qualquer modo, seria ele a pessoa procurada, n?o ela. A menos, ? claro, que Amos tivesse sido assassinado. Bodmin Moor e adjac?ncias foram supostamente ?reas de minera??o no passado, e o solo estava cheio de po?os antigos, muitos dos quais n?o eram mapeados ou identificados. Qu?o dif?cil teria sido descartar o corpo de Amos onde ningu?m jamais o encontraria? 10 No caf? da manh? do dia seguinte, Slim julgou que a Sra. Greyson estava de bom humor, ent?o ele a chamou. Com seu chamado, o assobio que vinha da cozinha como o canto de um p?ssaro envelhecido mas alegre, morreu abruptamente, e ela pisou forte, torcendo o avental como se para lembrar Slim do inconveniente que ele ousara causar. "Senhor. Hardy... espero que tudo esteja de seu agrado." Ele sorriu, cutucando o prato com o garfo. "? claro. Esses ovos me lembram minha falecida m?e e as del?cias culin?rias que eu experimentava diariamente. "Isso ?... bom. Como posso ajud?-lo hoje?" "Ontem, fui a Trelee. Eu me perdi um pouco nas charnecas, mas uma senhora teve a gentileza de me oferecer instru??es. Queria enviar-lhe uma nota de agradecimento, mas receio ter esquecido o nome dela." "E como voc? acha que eu saberia?" "Ela disse que morava na antiga casa de Amos Birch. Fazenda Worth. Suponho que voc? n?o saiba o nome dos novos propriet?rios?" "Nem t?o novos; eles est?o l? h? doze anos." Slim conteve o sorriso, mas acenou com a cabe?a para encorajar mais coment?rios. "Tinton," disse a Sra. Greyson. "Maggie Tinton. S? posso dizer que voc? deve ter pego ela em um bom dia. Uma velha t?o azeda quanto se pode encontrar por aqui. E aposto que voc? estava pensando que eu era ruim." O sorriso de Slim estava come?ando a doer em seu rosto. "O marido dela, Trevor, ? bem mais agrad?vel. Costumava beber no Crown at?... bem, j? faz um tempo." "At? o que?" A Sra. Greyson desenrolou seu avental, tirou-o e, em seguida, franziu a testa como se Slim estivesse pedindo a ela para cruzar um limite moral. "Houve boatos... as pessoas disseram que eles tiveram uma participa??o nisso." "Nisso o que?" "No desaparecimento de Amos." Antes que Slim pudesse responder, ela acrescentou: "O que ? rid?culo, ? claro. Os Tintons vieram de Londres. Eles n?o podiam ter sabido nada sobre Amos. Afinal, Mary morou l? por uma d?cada ap?s o desaparecimento de Amos. Os Tintons s? aproveitaram uma pechincha." "As pessoas realmente acham que eles t?m alguma coisa a ver com isso?" "Claro que n?o. Era apenas um boato bobo, mas os dois se ofenderam e, depois disso, se isolaram da comunidade local." "Parece que voc? os conhece bem." "Eu costumava jogar bridge no Legion Hall com Maggie, mas ela parou de vir e nunca mais voltou." "? quase como uma admiss?o de culpa." "Eles ficaram ofendidos, s? isso," disse ela. "Eles se mudaram para c? para viverem a aposentadoria no estilo de vida rural que se v? na televis?o. Acho que eles imaginaram uma comunidade de alde?es simpl?rios esperando de bra?os abertos para lev?-los ?s festas da aldeia e caf?s da manh?. Quando n?o conseguiram o que queriam, desistiram." "Mas n?o tem como eles terem algo a ver com o desaparecimento de Amos Birch?" A Sra. Greyson balan?ou a cabe?a. "Absolutamente imposs?vel." "Ent?o o que voc? acha que aconteceu?" A Sra. Greyson revirou os olhos. "Achei que est?vamos falando sobre a Sra. Tinton?" "Voc? deve pensar sobre isso. Parece que voc? os conhecia." A Sra. Greyson encolheu os ombros e suspirou. "Ele fugiu da fam?lia. O que h? para saber? Amos tinha muito dinheiro guardado e muitas vezes sa?a em viagens de neg?cios, conven??es de rel?gios e tudo mais. Quer minha opini?o? Ele teve alguma meretriz no exterior e fugiu para ficar com ela." "N?o teria sido mais f?cil simplesmente se divorciar de Mary?" A Sra. Greyson torceu seu avental novamente. "N?o tenho tempo para isso," disse ela. Ao se virar e dirigir-se ? cozinha, ela acrescentou: "Aproveite sua caminhada hoje, Sr. Hardy." Slim ficou olhando ela partir, carrancudo. Ele n?o iria arrancar mais nada dela, ele tinha certeza, mas com a men??o de outra mulher, suas bochechas tinham adquirido uma tonalidade avermelhada que definitivamente n?o existia antes. 11 Visitar a biblioteca local mais pr?xima significava voltar a Tavistock. Slim se viu sozinho em uma sala de arquivos, debru?ado sobre enormes arquivos de antigos jornais locais, desbotados pelo tempo. Cada arquivo continha os artigos semanais de um ano. Como ele esperaria de um jornal de cidade pequena dominado por an?ncios de agentes imobili?rios locais e locadoras de m?quinas agr?colas, houve pouco sensacionalismo nas breves reportagens sobre o desaparecimento de Amos Birch. Relojoeiro local desaparece sob circunst?ncias misteriosas dizia o t?tulo de um, antes de continuar com uma reportagem t?o branda que era quase uma contradi??o com seu t?tulo, focando na hist?ria de Amos como um artes?o de rara habilidade e um fazendeiro local respeitado, mas deixando de fora qualquer vest?gio de especula??o. Ele encontrou a reportagem mais interessante em um arquivo de um jornal chamado Tribuna de Tavistock: "Fazendeiro local e relojoeiro renomado, Amos Birch (53), est? desaparecido desde a noite de quinta-feira, 2 de maio, conforme reportado ? pol?cia por sua esposa, Mary (47). Bem conhecido nacional e internacionalmente por seus intrincados rel?gios feitos ? m?o, acredita-se que Amos pode ter se perdido durante um passeio noturno por Bodmin Moor. Ele era considerado de bom ju?zo e n?o tinha problemas de sa?de, mas, segundo sua esposa, estava cada vez mais agitado na semana que antecedeu seu desaparecimento. A fam?lia solicita que qualquer informa??o sobre o desaparecimento de Amos seja passada para a Pol?cia de Devon e Cornwall." Slim leu o artigo algumas vezes, ent?o franziu a testa. Agitado? Poderia significar qualquer coisa, mas sugeria que Amos estava ciente de que algo poderia estar prestes a acontecer. Isso significava que ele havia planejado fugir ou que algo aconteceu com ele? Lembrando-se de uma cita??o que um antigo colega militar lhe dissera sobre como as pistas para um crime costumam ser colocadas muito antes do crime em si, ele voltou algumas semanas, examinando as p?ginas de not?cias em busca de qualquer coisa relacionada a Amos Birch. Exceto por uma coluna de cinco cent?metros de mais de um m?s antes do desaparecimento, que reconhecia a homenagem de uma associa??o nacional de relojoeiros concedida a Amos, n?o havia nada. Quando deu a hora do almo?o, seus olhos do?am de tanto ler artigos borrados pelo tempo, ent?o ele se realocou para um caf? pr?ximo para se recuperar. L? ele ligou para Kay, mas seu amigo tradutor ainda n?o tinha informa??es sobre o conte?do da carta. A mente que ele havia dedicado ? investiga??o particular alguns anos depois de sua dispensa desonrosa do servi?o militar estava come?ando a girar com ideias fantasiosas. Ningu?m deixa um relacionamento est?vel sem motivo de repente. Ou a pessoa estava correndo para alguma coisa ou de alguma coisa. As possibilidades eram infinitas. O mais ?bvio seria ele estar fugindo para uma amante, ou de um cliente insatisfeito ou um concorrente. Sem conhecer bem o pr?prio Amos, era dif?cil fazer julgamentos. Pelas conversas de Slim at? agora, o relojoeiro tinha sido uma figura obscura na comunidade, a pr?pria obscuridade de sua profiss?o trazia consigo um r?tulo de mist?rio. At? mesmo o caminho que descia at? a fazenda Worth e as sebes altas que a cercavam davam ? fam?lia Birch um ar de reclus?o, que os Tintons tinham continuado. O caf? tinha um telefone p?blico. Slim pegou uma lista telef?nica de uma prateleira ao lado e voltou para sua mesa. Havia algumas d?zias de Birches listados, mas nenhum com C. Slim estava voltando para o ponto de ?nibus quando ouviu algu?m gritando atr?s dele. Algo em sua urg?ncia o fez se virar e ele viu Geoff Bunce acenando para ele do outro lado da rua. Slim esperou enquanto o homem atravessava. "Pensei que fosse voc?. Suas f?rias s?o bem longas." Slim deu de ombros. "Eu sou aut?nomo. Posso tirar o tempo que quiser." "Voc? o encontrou, ent?o? Seu amigo?" O sarcasmo no tom do homem causou uma onda de raiva no est?mago de Slim, mas ele for?ou um tom de casualidade em sua voz. "Amos Birch?" "Sim. Devolveu o rel?gio a ele?" "Ainda n?o. ? um trabalho em andamento." "Olha, eu n?o sei quem voc? ?, mas acho que seria mais s?bio voc? pegar aquele rel?gio e voltar para o lugar de onde veio." Slim n?o p?de deixar de sorrir. Ele era um ex-fuzileiro naval que serviu na ABH sendo amea?ado pelo Papai Noel com uma jaqueta de cera verde. Bunce podia ter alegado ser ex-militar, mas n?o parecia. "Qual ? a gra?a?" "Nada. Estou apenas intrigado como sua l?ngua ? afiada. Sou apenas um homem querendo vender um rel?gio velho." "Veja bem, Sr. Hardy, essa ? a ?ltima coisa que eu acho que voc? ?." "Voc? se lembrou do meu nome." "Eu anotei. Alguma coisa sobre voc? n?o parecia certo." "Apenas alguma coisa?" Slim suspirou, cansado dos joguinhos. "Olha, voc? quer a verdade? Estou aqui de f?rias. Encontrei aquele rel?gio enterrado em Bodmin Moor. A maldita coisa quase me fez quebrar o tornozelo. Acontece que meu trabalho atual - para o bem ou para o mal - ? de investigador particular. ? dif?cil resistir a um mist?rio." Bunce torceu o nariz. "Bom, isso muda as coisas." "Como assim?" O outro homem assentiu, e ent?o estufou as bochechas, como se preparando-se para fazer uma grande revela??o. Slim levantou uma sobrancelha. "Sabe," Bunce disse, "eu fui a ?ltima pessoa - fora da fam?lia imediata - a ver Amos Birch vivo." 12 "Ent?o, onde est? agora, aquele rel?gio que voc? encontrou?" Slim estava sentado em frente a Geoff Bunce em um caf? na esquina do mercado de Tavistock. Ele tomou um gole de caf? fraco de um copo de isopor e disse: "Eu escondi." "Aonde?" Slim sorriu. "Em algum lugar onde tenho certeza de que estar? seguro." Bunce assentiu rapidamente. "Certo, certo. Boa ideia. Ent?o, voc? tem alguma ideia do que aconteceu com Amos?" "Nenhuma." "Mas voc? ? um investigador particular, certo?" "Eu lido principalmente com casos extraconjugais e fraudes de seguro," disse Slim. "Nada muito empolgante. N?o estou ganhando dinheiro com essa investiga??o, ent?o, quando a pista esfriar, provavelmente irei desaparecer de volta para o pa?s e encontrar um caso que seja pago." "Voc? n?o tem nenhuma pista?" "O que tenho ? uma lista mental de possibilidades e, quanto mais eu riscar, mais perto chegarei de descobrir o que realmente aconteceu." "O que voc? tem na sua lista?" Slim riu. "Praticamente tudo, desde assassinato at? abdu??o alien?gena." "Voc? n?o acha mesmo..." Bunce interrompeu abruptamente, torcendo o nariz. "Ah, uma piada. Entendo." "Eu realmente n?o tenho ideia. No momento, estou apenas tentando estabelecer as circunst?ncias de seu desaparecimento. Talvez voc? possa me ajudar com isso." "De que jeito?" "Voc? disse que foi a ?ltima pessoa a v?-lo vivo al?m da fam?lia. Que tal voc? me contar sobre isso?" Bunce deu de ombros, parecendo subitamente inseguro. "Bem, foi h? muito tempo, n?o foi? Fomos dar um passeio nas charnecas, at? Yarrow Tor, passando pela casa de fazenda abandonada ali." "Voc? se lembra por qu??" Bunce encolheu um ombro em um gesto estranho e assim?trico. "Era um caminho comum. Faz?amos isso a cada dois meses. N?o tinha motivo especial." "Voc? se lembra do que ele falou?" Bunce balan?ou a cabe?a. "Ah... teriam sido as coisas de sempre. N?o ?ramos muito de conversas aprofundadas. N?s nos v?amos muito, sabe. Sempre fal?vamos sobre o tempo, uma reclama??o ocasional sobre pol?tica, esse tipo de coisa." "Voc? n?o est? me ajudando muito." Bunce pareceu desapontado. "Suponho que n?o haja muito a dizer. Digo, eu conhecia Amos desde sempre, mas n?o t?nhamos o tipo de proximidade onde contar?amos tudo um ao outro. Ele n?o era esse tipo de homem. As pessoas costumavam brincar que ele preferia rel?gios a pessoas." "Voc? me disse que aquele rel?gio valia algumas centenas de libras. Qu?o bom ele era, realmente?" Bunce sorriu, parecendo aliviado por Slim ter feito uma pergunta que ele poderia responder. "Ele era como um matem?tico com as m?os. A maioria dos artes?os tem uma habilidade particular, mas Amos era um pacote completo. Ele fazia todo o design, as esculturas, bem como constru?a todos os trabalhos mec?nicos internos ? m?o. Voc? tem ideia de como ? dif?cil fazer as pe?as de um rel?gio manualmente? Em um dia de trabalho se faz uma ou duas partes pequenas. ? muito trabalhoso e poucas pessoas hoje em dia t?m esse n?vel de concentra??o. Ele era uma pe?a rara, o Amos." "Quantos ele fez?" "N?o tantos assim. Dois ou tr?s por ano. Alguns eram comiss?es, acredito, outros vendas privadas. Ele n?o tinha pressa. Ele n?o desejava ser rico. Ele gostava da charneca, gostava da vida tranquila. Sua fazenda tinha um pequeno lucro — apesar do que muitas pessoas dizem — e a venda de seus rel?gios rendeu dinheiro extra para lhe dar aquele pequeno n?vel de luxo." "Era plaus?vel que algu?m guardasse rancor dele? Talvez uma venda fracassada, ou um neg?cio que deu errado?" "Poss?vel, mas duvido. Amos era um homem humildemente simp?tico." "Como assim?" Bunce deu um pux?o na barba. "Ele era inofensivo, essa ? a melhor maneira de dizer. Ele falava baixinho, e nunca tinha uma palavra ruim a dizer sobre ningu?m. Ele se enterrava em seu trabalho. E seu trabalho era bom. Quem poderia reclamar de rel?gios feitos com tanto amor e carinho. Quero dizer, com que frequ?ncia os rel?gios de cuco quebram? Quantas vezes voc? j? entrou em um bar e viu um quebrado em um canto na parede? Os rel?gios de Amos, por outro lado... digo, por quanto tempo aquele rel?gio ficou enterrado? Vinte anos? E ainda assim voc? pode dar corda e faz?-lo funcionar de novo, simples assim? Nenhum rel?gio que voc? compre em uma loja ter? esse tipo de durabilidade. Os rel?gios de Amos eram constru?dos para durar." Bunce n?o tinha mais nada interessante a dizer, ent?o Slim pegou o n?mero dele, desculpou-se e saiu. Ele havia chegado na rodovi?ria e estava na fila para comprar sua passagem quando um pensamento lhe ocorreu. Ele pegou o n?mero de Bunce e ligou para o negociante de antiguidades. "J? precisa de mim, de novo?" Slim sorriu. "? s? uma pergunta r?pida. Com um rel?gio como o que encontrei, com que frequ?ncia voc? sugeriria dar corda nele?" "Ah, n?o sei, uma vez a cada poucos meses. Amos costumava fazer essas molas incr?veis. Voc? dava corda e elas duravam muito tempo." "T? bem, obrigado." Quando ele voltou para a hospedaria, a Sra. Greyson estava espanando o p? do corredor. Slim deu-lhe um boa noite educado e depois correu para o quarto. L?, ele puxou o rel?gio de debaixo da cama e ficou sentado ouvindo o tique-taque por alguns minutos. Ent?o ele o virou, removeu o painel de madeira que Bunce deixara desatarraxado e olhou para o mecanismo do rel?gio. O pequeno mostrador que dava corda ao rel?gio reverberava ligeiramente a cada tique. Ele franziu a testa, tocando-o levemente com um dedo, notando a falta de sujeira em compara??o com o resto do rel?gio. A cada poucos meses, Bunce havia dito. Se o rel?gio ficou enterrado por vinte anos, a corda teria acabado h? muito tempo. Slim n?o havia dado corda, o que o deixou com a pergunta: quem o fez? 13 Algu?m sabia da localiza??o do rel?gio enterrado e se preocupou o suficiente com ele para voltar a cada poucos meses para dar corda. Tal a??o tinha que ter um motivo. Sentimentalismo seria uma possibilidade, mas isso exigia muito esfor?o, algo que provavelmente diminuiria com o tempo. Quem poderia querer que o rel?gio continuasse funcionando e por qu?? Quando Slim virou o rel?gio, sua mente estava em branco. Ornamentado, sim, mas era apenas um rel?gio. Claro, o mecanismo do cuco fazia um barulho agrad?vel, mas nada que pudesse ser ouvido do subsolo. Slim pensara que estava quebrado at? que o passarinho de madeira saiu de sua caixa e o surpreendeu. Slim recolocou o rel?gio embaixo da cama, vestiu o palet? e saiu noite afora. Era hora de entrar na coisa mais pr?xima que Penleven tinha de um bar noturno em busca de mais informa??es — o Crown. Pessoas b?badas gostam de falar, mas se Amos Birch ainda tivesse inimigos, Slim provavelmente os encontraria. Ele respirou fundo e empurrou as portas. Um rel?gio acima do balc?o marcava nove e meia. Quatro rostos se voltaram para ele. Um velho estava sentado em um banquinho, seu rosto era um pano de prato enrugado rodeado por cabelos brancos rebeldes. Dois homens jogando cartas em uma mesa perto de uma lareira crepitante: um magro e de olhos fundos, como se considerasse a comida um inimigo mortal, o outro de rosto duro e com m?sculos de pe?o de obra. Tatuagens apareciam abaixo da bainha de uma camiseta apertada contra os b?ceps inchados enquanto ele olhava para um par de setes antes de empurrar um punhado de moedas sobre a mesa. "Cerveja?" A quarta pessoa, uma mulher que Slim gentilmente chamaria de musculosa, e menos gentilmente de gorda, o observava de tr?s do bar. Sua blusa desabotoada revelava um decote triangular otimista o suficiente para desviar a aten??o de seu rosto, onde sobrancelhas excessivamente grandes e um par ligeiramente azedo de l?bios eliminavam qualquer possibilidade de beleza. Slim hesitou, os olhos fixos no copo inclinado em dire??o ? torneira de cerveja mais pr?xima. Seria t?o f?cil desfazer tanto trabalho. Com um n? no est?mago, ele disse: "Estou dirigindo," em uma voz t?mida que n?o parecia a sua. "N?o ouvi barulho de carro." Ela levantou a cabe?a do balc?o. Seu seio estremeceu um pouco e Slim se for?ou a n?o olhar. Ela estava do lado errado dos quarenta, mas provavelmente menos errada do que ele pr?prio. "Amanh?," murmurou ele. Ela assentiu com a cabe?a. "Na torneira ? de gra?a. Serve? Provavelmente est? perto da validade, mas tem gosto de mijo de qualquer maneira." "Est? tudo bem." Slim sentou-se em um banco ao lado do balc?o, deixando um espa?o vazio entre ele e o velho. Os dois homens jogando cartas estavam atr?s dele, seus contornos refletidos em uma adega de vidro atr?s do bar. "Voc? ? o rapaz que come na sala de estar," disse o velho. "? t?mido? N?o tem ningu?m de quem ter medo aqui." Slim estava preparando uma resposta quando a mulher disse: "? ele quem anda perguntando sobre o velho Amos." Antes que Slim pudesse responder, ela acrescentou: "N?o temos muito do que falar em um lugar como este. Voc? ? a maior fofoca praticamente desde que ele fugiu." Ela bateu uma cerveja espumante no descanso de copo mais pr?ximo dele. Slim olhou para o copo com suspeita. Sem ?lcool, podia ser, mas parecia muito com a de verdade. "N?o, houve o falecimento da Mary, depois teve a Celia, e depois..." "T? bom, Reg, foi jeito de dizer." "Eu gosto de um bom mist?rio," disse Slim. "Ouvi dizer que voc? era detetive particular," disse a mulher. "T? de olho em algu?m?" Ela piscou e depois caiu na gargalhada, batendo na beirada do balc?o com uma das m?os. "O marido de June a deixou," disse Reg. "Eu tomaria cuidado. Ela t? na seca." "Pode esquecer!" disse June. Ent?o, para Slim, adicionou, "Ignore ele. Metade do tempo, ele n?o faz ideia do que t? acontecendo." Slim sorriu enquanto deixava o papo correr por um tempo. Logo ficou n?tido que Reg era um cliente regular, do tipo sempre presente que mantinha um pub aberto durante o inverno longo e escuro. Depois de meia hora, um casal de meia-idade entrou, ocupou uma mesa na outra extremidade do bar e fez um pedido que manteve June ocupada por um tempo. Slim tomou um gole de sua ?gua que parecia cerveja e tinha gosto de metal, assentindo enquanto Reg contava hist?rias da vida no campo t?o facilmente esquec?veis que, quando Reg come?ou a falar sobre um trator quebrado, Slim tinha certeza de j? t?-lo ouvido antes. Eventualmente, como ele esperava, a conversa chegou em Amos Birch. "Sabe, eu era um pouco mais novo, mas n?s fomos para o mesmo prim?rio. Tinha um em Boswinnick, mas hoje n?o existe mais. Eu fui ao gin?sio em Liskeard mas Birch nunca foi l?. Alguns diziam que ele era meio estranho, sabe, mas nessa ?poca voc? n?o tinha que ir para a escola por tanto tempo. Seu pai administrava a fazenda Worth, precisava da ajuda dele. Quando o velho morreu, a fazenda era dele. Muita gente estranhou quando Celia a vendeu. Dizem que voc? pode encontrar Birches na fazenda Worth at? no livro de Domesday. Vendeu um legado, foi o que essa menina fez." "Porque?" Reg suspirou. "Ah, quem sabe? N?o gostavam muita da menina por aqui, por um motivo ou por outro. N?o se encaixava no lugar, como voc?s da cidade dizem." Slim tinha mais perguntas, mas Reg tomou o ?ltimo gole de sua bebida e se levantou. "Bem, para mim j? deu. Boa noite para voc?." Slim viu ele sair. Atr?s dele, os dois homens continuavam seu carteado. June voltou depois de servir a comida e pareceu surpresa ao ver que Reg tinha ido embora. "Ele acabou de sair," disse Slim. June franziu a testa. Ela ia dizer alguma coisa quando uma cadeira foi arrastada e o homem tatuado se levantou. Slim escutou seus passos conforme ele andou at? o balc?o. O sexto sentido militar de Slim detectava tens?o, uma amea?a. Ele n?o se moveu quando o homem se inclinou perto dele. Um h?lito morno de cerveja soprou em sua orelha. "? melhor tomar cuidado para n?o fazer perguntas demais," disse o homem. "Alguns pessoas podem gostar de falar, mas outros podem preferir que o passado fique onde est?." "Michael, j? chega," June disse em voz baixa. Slim ficou tenso. Seus m?sculos do ex?rcito tinham amolecido nos dezoito anos desde sua despensa desonrosa, mas conhecia ainda um truque ou outro se viesse a uma luta. Esperou para ver o que aconteceria. Michael manteve sua pose amea?adora por mais alguns instantes, ent?o se virou e voltou para sua mesa. Slim bebeu o resto de sua cerveja e se levantou. "Acho que eu vou indo," disse ele. June lan?ou-lhe um olhar triste e, em seguida, desejou-lhe boa noite. Do lado de fora, um vendaval havia come?ado, sacudindo as sebes, lan?ando rajadas de chuva do escuro que atingiam o rosto de Slim antes de recuar como um animal predador. Slim levantou o palet? ao redor do pesco?o e se abaixou, se perguntando o que ele havia ganhado, se alguma coisa, de sua visita ao pub. As luzes da hospedaria apareceram por entre as ?rvores quando Slim fez uma pausa. Um som constante de batida vinha mais alto que o vento. P?s correndo. Slim amaldi?oou suas pr?prias rea??es lentas. O rec?m-chegado estava perto demais para ele se esconder; sua silhueta seria vis?vel contra o c?u cinza para algu?m com olhos acostumados ao escuro. Ele se virou, erguendo os punhos, esperando o ataque de Michael, esperando que o homem n?o tivesse tido tempo de encontrar uma arma. O grito baixo de uma mulher veio de uma forma feminina que parou trope?ando atr?s dele. "Slim?" "June?" A m?o dela tocou seu ombro. "Slim, n?o posso demorar. Tenho que voltar logo. Eles acham que eu estou na cozinha. Eu s? queria pedir desculpas pelo Michael." "J? passei por coisa pior." "Ele normalmente n?o ? assim. ? s? que... ele e Celia estavam juntos. Voc? sabe, naquela ?poca." "Que ?poca?" "Quando Amos desapareceu. Michael era namorado de Celia na ?poca." "E o que isso importa?" "O desaparecimento de Amos... eles estavam noivos na ?poca, mas depois ela rompeu com ele e ele nunca se recuperou." Конец ознакомительного фрагмента. 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