Звезды сыпались мне в ладони. Всплеском волн капли слез полны. Не встревожит тебя, не затронет Тихий стон дрожащей волны, Крик надрывный ушедшего лета, Боль тупая прошедших дней. Где ты? Где ты? Ну, Бог ты мой, где ты? Бледный свет не звезды моей! Это пошло, смешно и глупо, И я жить с этим не могу! Бьет в виски невообразимо тупо. Я бегу от себя,

Justi?a Executada

justia-executada
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Justi?a Executada Sa?a Robnik Tr?s contos, tr?s destinos sinistros, tr?s execu??es de justi?a. Podem os mortos implorar pelo perd?o de sua culpa e desejar vingan?a contra seus malfeitores? Podem os vivos buscar vingan?a no p?s-vida? As respostas s?o oferecidas em eventos aparentemente diferentes, conectados pela rede de f?ria fria, culpa insuport?vel e remorso sem limites. Sa?a Robnik Justi?a executada traduzido por Leonardo Oliveira Pestana De Aguiar copyright @ Sa?a Robnik, 2021 Po?o K -14, Azra Eu pago a conta, visto meu casaco e saio do lugar dos pregui?osos e condenados. Suas vozes persistem enquanto eu caminho pela noite ao longo da cal?ada molhada. A luz de n?on do pub se mistura com meus passos no concreto. A noite ? perfeita como o sorriso de uma crian?a rec?m-nascida. Eu inalo tanto quanto meus pulm?es podem aguentar e ? reconfortante que o ar escuro expulse os venenos que permearam meu corpo no bar, mas eu sabia e ainda sei: n?o h? veneno maior do que o arrependimento e a culpa que me assombram. O ?lcool n?o ? uma cura, apenas um paliativo para a agonia que desolava o ser interior e ainda assim, o ?lcool te faz esquecer por um momento se voc? n?o est? sozinho e se estiver, s? intensifica o veneno a cada gole. Quando destranco a porta e acendo a luz, o corredor me cumprimenta com seu vazio e sua l?mpada nua, cuja luz torna tudo estranho. Pendurando o casaco e tirando os sapatos, hesito, sabendo que est? l?, ? espreita, muitas vezes no quarto, ?s vezes na cozinha, raramente no banheiro, mas quase sempre na sala de estar. L? est? ele, com seu casaco verde, cal?a branca e bon? na cabe?a, parado em um canto, de frente para a parede. Sempre virado para a parede, nunca vi seu rosto. ?s vezes eu quero, mas simplesmente n?o consigo fazer com que ele se vire e n?o tenho coragem de toc?-lo. O medo do desconhecido ? mais forte do que minha vontade. Seu nome ? conhecido por mim, Deus ? testemunha de que implorei cem vezes a ele que me olhasse nos olhos, mas todas as vezes acabou sendo em v?o. Eu me sento no sof? e ligo a televis?o. As imagens na tela e a voz do locutor fogem da minha consci?ncia. A luz da tela ilumina a sala de estar onde estou sentado incapaz de fazer qualquer coisa, enquanto minha mem?ria salta de como era para como poderia ter sido. Um destino doentio se tornou minha culpa. E dele. Nossa. H? muito tempo deixei de notar o cheiro ao redor dele, o cheiro forte e pungente de carv?o e poeira, t?pico de todo mineiro, agora enche minhas narinas e traz lembran?as. Eu as rejeito, elas s?o indesejadas. Os comerciais se alternam na tela e o cansa?o me domina. Mal posso esperar para adormecer, o sono traz al?vio e esquecimento que desaparecem em um piscar de olhos, entre a escurid?o e o despertar. E quando meus c?lios se fecham e o sono me envolve, ou?o-o chorar. Solu?ando e chorando. ? assim que ele se despede de mim todas as noites. O despertador me acorda. Devagar e sem pressa, eu me preparo para o trabalho, mesmo assim eu nunca me atraso. O cheiro de caf? e o sol entrando pelas cortinas entreabertas me trazem um novo dia. Ele desapareceu daquele canto, provavelmente est? no corredor. Desligo o fog?o, pego minha x?cara, volto para o sof? e estico o pesco?o. L? est? ele, come?ando a sussurrar contra a parede, r?pido e inintelig?vel. Acendo um cigarro e aumento o volume. Dizem que vai ser um bom dia, sem neve. Ap?s algumas tentativas, o motor se for?a a sair da hiberna??o gelada. Com uma enorme press?o no pedal, ele consegue. Eu o deixo parado e saio para raspar o gelo do para-brisa. Enquanto meus dedos se contraem com o frio, meu olhar vai para a janela do quarto andar, e me parece que posso ver sua silhueta, iluminada pelo sol de inverno, e tenho certeza que ele est? me observando, escondido atr?s da cortina cinza. Saio do carro e encontro meus aprendizes, meninos rec?m-sa?dos da escola. Eles est?o tomando caf? e conversando sobre o Ano Novo. Ouvi dizer que eles t?m planos com algumas garotas, rindo jovens e felizes. Depois de me cumprimentar educadamente, eles me servem uma x?cara de caf? com uma express?o curiosa em seus rostos. Eu aceno com a cabe?a e mando Goran para o escrit?rio. Ele volta com uma garrafa de licor e copos, serve a todos e brindamos o novo ano. - Outra? - Eles s?o todos bons meninos, balan?am a cabe?a e come?am a falar sobre trabalho, ent?o eu distribuo as tarefas. Ivica vai fazer uma vistoria no VW Golf, o dono est? impaciente, ele tem que dirigir at? Belgrado. O Peugeot, que est? no macaco desde a noite passada, ? atribu?do a Goran. Ele tem que trocar os pedais do freio e os cabos do freio de m?o. O Fiat eu mesmo assumirei, assim que Boris remover a cabe?a do motor. Ele vai trabalhar sozinho, mas eu o supervisiono. ? um trabalho preciso, ele deve montar a correia de transmiss?o e posicion?-la corretamente para que n?o escorregue e quebre as v?lvulas. Finalmente Stojan chega. N?o estou bravo com ele por estar atrasado, o rapaz mora bem longe da oficina. Sem uma palavra, come?am a trabalhar nas tarefas. Como dito, s?o bons meninos. As can??es populares do r?dio enchem a oficina. Os meninos gostam de ouvir m?sica enquanto trabalham, n?o h? do que reclamar. ?s vezes eu n?o ou?o o telefone no escrit?rio, mas n?o h? como tudo ser perfeito. Eu lhes dou esta pequena alegria que acompanha a juventude e n?o tenho direito de tir?-la deles. Da mesma forma que foi tirada de mim. - Bom dia, patr?o! - Uma voz desconhecida ecoa pela oficina. Eu me viro e deixo Boris terminar o trabalho sozinho, minha supervis?o n?o ? mais necess?ria, a tampa da v?lvula pode ser colocada por ele. Eu cumprimento o rec?m-chegado e dou uma olhada r?pida nele. Cigano, jovem. Os ciganos s?o bons clientes, apreciam um bom trabalho e sempre deixam gorjeta. Atr?s dele eu vejo um Fiat antigo que chocalha irregularmente no ponto morto e me pergunto como o carro ainda consegue andar. O carro me encara de forma amea?adora com seu farol duplo, provocando uma inunda??o de mem?rias que me levaram aos bares, entre pessoas e bebidas, procurando uma fuga. Meu cora??o bate mais rapidamente enquanto eu me aproximo. Isto n?o pode ser, isto simplesmente n?o pode ser, grita cada poro do meu ser. Como se o pr?prio diabo tivesse levado este ve?culo ? oficina, apreciado a cena e me tivesse advertido de que n?o h? como esquecer. As laterais est?o podres, a pintura embotada e as bordas corro?das. O para-lama dianteiro e o parachoque foram substitu?dos. Uma carro?aria torta e danificada contava hist?rias de falta de aten??o e manuten??o porca. Tomei nota de tudo isso inconscientemente, os anos como mec?nico me guiaram sistematicamente mas tamb?m trouxeram mem?rias. Como se de longe, o cigano fala com uma voz suplicante sobre o motor de arranque, sobre empurrar o carro, sobre mis?ria e a v?spera do Ano Novo. Sua voz se perde na enxurrada de raiva, mem?rias e arrependimentos. Abro a porta e examino o interior. Os mesmos estofados est?o nos assentos, intocados todos esses anos. Um grande arranh?o no painel, uma bola branca com pontos pretos na marcha, e um adesivo da Smurfette sob o r?dio. O adesivo que eu tinha colocado h? muito tempo. Nuvens escuras come?am a girar na frente dos meus olhos e o sangue ferve em meus ouvidos. Respiro fundo e me viro para o cigano enquanto ele ainda fala: - ... ? dif?cil, meu amigo, n?o podemos mais empurrar o carro, eu te imploro, n?o importa qual seja o pre?o... - N?o - o grito sai espontaneamente, eu n?o quero olhar para ele ou o carro, me causa muita dor. Ele me encara assustado. - Tire esse carro daqui, agora! Eu n?o trabalho com latas velhas! - Eu grito e dou as costas para ele. Os meninos est?o parados na entrada da oficina com ferramentas nas m?os, surpreendidos pela minha repugn?ncia. Ent?o eu corro para o escrit?rio, em dire??o ? garrafa. Atr?s de mim, o cigano xinga, entra no carro e vai embora. O h?bito de beber de manh?. O trabalho me ocupa, fico perto das pessoas e n?o preciso disso. Agora, eu preciso. Enfurecido, abro uma gaveta da mesa oleosa, encontro uma foto desbotada debaixo de uma pilha de arquivos e olho para o rosto de um jovem soldado, com menos de 19 anos. Em sua cabe?a, um Titovka, o bon? com a estrela comunista, e ao fundo os vag?es de um trem. Seus olhos s?o s?rios, e negros, suas bochechas fundas. Meu pai. Uma foto tirada antes de eu nascer. Mem?rias da primeira inf?ncia chegavam a mim: Papai chega do trabalho. Estamos sentados em um cobertor no jardim de nossa modesta e pequena casa, minha irm? mais nova e eu, brincando. Ele vem atrav?s do port?o; o sorriso largo em seu rosto nos convida a correr para ele. Ele a levanta, acima de sua cabe?a, e ela ri gritando alegremente. Eu abra?o a perna dele, mas n?o consigo alcan?ar o cinto da roupa preta de mineiro. O fedor da mina exalava dele. Ele brinca com a gente, corremos pelo jardim fazendo barulhos engra?ados. Mam?e aparece na varanda e nos chama para jantar. A porta do escrit?rio se abre. Goran entra e se pergunta se eles poderiam ir para casa mais cedo para se preparar para a festa de Ano Novo. Concordo e coloco mais licor no copo. Os caras aparecem, trocam de roupa e me desejam felicidades. Posso dizer que est?o me olhando estranhamente, mas ? uma b?n??o que eles n?o possam sentir os terrores que me assombram, os terrores que vieram em uma v?spera de Ano Novo h? muito tempo. Na hora seguinte termino o trabalho, limpo a oficina e sa?do os propriet?rios dos carros. Eles pagam as contas, me desejam felicidades, e me deixam para receber o Ano Novo. O ?ltimo ve?culo sai da oficina e finalmente estou sozinho. Quando troco de roupa, a sala se enche com o cheiro de carv?o e poeira. Pensei que estava me acostumando, mas sempre em casa, nunca fora. Desde que sa? do orfanato h? tr?s d?cadas com um diploma no bolso e o endere?o da oficina onde eu trabalharia, era sempre na casa. Eu me viro lentamente e vejo suas costas. Com a cabe?a inclinada, ele fica parado contra a parede, de frente para um cartaz de uma Ferrari vermelha. - O que est? fazendo aqui? Nenhuma resposta. Em todos esses anos nunca houve uma. Minha mente corre solta, eu sirvo o terceiro copo e acendo um cigarro. Ele come?a a estalar os dedos, e o som ecoa ao redor do escrit?rio. De vez em quando ele faz uma pausa e limpa os olhos. Ou as l?grimas. A tenta??o de toc?-lo ? muito forte, eu nunca ousei, mas agora as circunst?ncias mudaram. Minha m?o se aproxima do ombro do casaco verde, e eu paro. Ele levanta abruptamente a cabe?a e o estalar de dedos para. Desesperado, saio rapidamente do escrit?rio, tranco a oficina, entro no meu carro e vou embora com os pneus cantando. Por vinte minutos estou preso em um engarrafamento. Um acidente no cruzamento, posso ver claramente as luzes azuis girando no crep?sculo emergente. Eu acendo outro cigarro, abro a janela no meio do caminho e amaldi?oo os motoristas b?bados que enchem a cara em seus escrit?rios e depois pegam no volante. Na cal?ada est? uma m?e com dois filhos. Os dois est?o carregando presentes e bal?es com express?es s?rias em seus rostos. Eles devem estar pensando freneticamente sobre o que est? nas caixas de presente que receberam no jardim de inf?ncia. Eu sorrio com suas express?es faciais e volto ao passado. Os amigos do papai est?o sentados no jardim. Mam?e serve um lanche e o papai est? se servindo de cerveja. N?s, as crian?as, jogamos futebol, somos o suficiente para dois times. Papai sorri com orgulho. Na frente da casa est? um Fiat novinho brilhando ao sol de outono, e papai est? servindo seus amigos da mina. Eles brindam, desejam boa sorte e que o carro possa servi-lo bem. Conforme o tempo passa, o papo em torno da mesa fica s?rio, como se nuvens de chumbo cercassem a mesa, enchendo os olhos de seus amigos. J? n?o brindam, nem riem, seus rostos ficam duros como as rochas nas minas. Somente o cheiro da poeira de carv?o permanece inalterado em nosso jardim. A bola cai na mesa e derruba um copo de vidro. A cerveja cai na toalha de mesa e escorre sob os pratos. Meu cora??o bate forte em meu peito e meu est?mago embrulha. Silenciosamente, eu observo meu pai pegar a bola; seus olhos est?o me chamando. Relutante, eu vou at? ele, pronto para levar um tapa na cara. O cabelo na minha nuca se arrepia com a expectativa do tapa, mas ele n?o vem. Distraidamente, ele me d? a bola; eu fico confuso e n?o me movo quando a conversa chega ao meu ouvido: - Estou dizendo, o pr?prio diabo anda por Azra. - Nusret, n?o seja idiota. O que deu em voc?? - Ele est? certo, eu estava cavando l? ontem. Este ? um neg?cio perigoso. - Voc? ? louco, como o po?o pode ser mau? Branko, voc? trabalhou l?, o que voc? tem a dizer? - Voc? sabe exatamente o que aconteceu comigo. - Balela! As crian?as me pedem para continuar o jogo e quando me movo em dire??o a elas, ou?o meu pai come?ar a falar: - Eu n?o sei o que dizer, eu fui designado para l?, eu tenho escrito, po?o K-14, chamado Azra, por dezembro todo e eu n?o me sinto bem quanto a isso. Mas, vamos brindar, para o inferno com essas hist?rias! Uma buzina impaciente berra do ve?culo atr?s de mim. Deixo as mem?rias e coloco o carro em marcha, dirigindo pela cidade decorada e respirando o ambiente animado. Todo mundo est? correndo para algum lugar, com seus sorrisos e sacolas cheias. Eu paro em frente a um supermercado; pura sorte eu encontrar uma vaga de estacionamento livre. O calor e a m?sica suave no supermercado n?o me fazem relaxar, me pergunto pela mil?sima vez se o mal do po?o de Azra, longe da S?rvia, causou o terror que marcou minha vida e tirou tudo com que me importava? Ou eram apenas hist?rias de mineiros tolos? Em v?o, tento entender o que n?o pode ser entendido. Ele est? l? esperando por mim, ele saiu do apartamento pela primeira vez. N?o estou louco, tenho certeza disso, assim como tenho certeza que amanh? ? um novo dia. Concluo que o s?bito aparecimento do nosso velho carro desencadeou esses pensamentos. E o for?ou a sair do apartamento. O celular toca. ? ela, tenho certeza. - Venha hoje a noite. ? v?spera de Ano Novo. Quero estar com ela, tenho negligenciado ela ultimamente, e fico surpreso que ela esteja ligando. - Eu n?o vou ser uma boa companhia, n?o esta noite - Eu respondo, escolhendo as compras no carrinho. N?o esque?o a bebida. - Eu entendo, mas ainda assim, venha. ? hora de esquecer as mem?rias feias, pelo amor de Deus, tantos anos se passaram! Em sil?ncio, eu ou?o a respira??o dela. Ela sabe que eu tenho d?vidas e que ? in?til tentar me convencer. Ela me faz lutar a batalha entre desejo e coragem. Uma batalha perdida. - N?o, querida, n?o posso, sinto muito. - Eu sabia, mas tinha que tentar. Voc? vem almo?ar amanh?? - Com certeza. Te desejo tudo de bom. Te amo. Ent?o eu desligo, vou ao caixa e me indago sobre a persist?ncia dela. Ela est? sozinha com o filho, e eu n?o quero estar perto de crian?as. N?o hoje ? noite. Acho que isso se chama amor. Amor cego, neg?cios femininos. ? noite eu evito o bar. Uma risada b?bada vinda de dentro me impede de entrar, mas eu n?o quero ir para casa por causa de algo que me espera l?, e por causa do que ocasiona esse algo. No entanto, vou direto para casa. Por um momento eu penso nos meninos. Eles devem estar se vestindo e se preparando para a festa. Despreocupados e felizes, longe da escurid?o que emana de Azra. Se houvesse um centro coletivo para desejos do Ano Novo, eu lhes enviaria um intitulado "Urgente": Que o po?o K-14 de Azra desmorone at? o fim dos tempos, com todos os vivos e mortos dentro dele. Quando entro no apartamento e guardo as compras, me preparo para o banho. Em um instante, o banheiro se enche de vapor. Eu me esfrego vigorosamente, o fedor do ?leo mec?nico est? em todos os poros da minha pele. O fedor do trabalho duro. Como o do meu pai. Ele est? ao lado da m?quina de lavar, de costas. Devido ao vapor, n?o consigo ver o que ele est? fazendo com as m?os, e atrav?s da ?gua n?o consigo ouvir se ele est? sussurrando. Ele sempre sussurra, nunca fala em voz alta. Na cozinha, eu sirvo uma dose para me fazer companhia enquanto preparo o jantar. A televis?o ilumina a sala onde eu nunca acendo as luzes. Eu me sinto mais confort?vel no escuro e ele tamb?m, eu acho. Ele se esconde nas sombras, ent?o n?o posso v?-lo, mesmo quando ele tenta chamar minha aten??o. Enquanto eu corto a carne com uma faca grande e afiada, um momento de descuido ? o suficiente para fazer meu dedo sangrar. Eu xingo e coloco o dedo sob a ?gua fria da torneira. Um filete de sangue fica preso ? faca. N?o houve ?gua naquela noite para lavar o sangue. A po?a de sangue estava na cozinha, e na po?a estavam eles. Todos eles. Eu balan?o minha cabe?a para dissipar esses pensamentos, coloco um curativo em volta do meu dedo, sirvo outra dose e volto a cortar a carne. Cada corte me lembra das feridas que vi e, perturbado, causei. Azra. Mau. Ele. Termino minha bebida e sirvo outra. Nunca estive no po?o, apesar dos in?meros apelos que fiz ao meu pai. Ele previu o segredo da Azra e por isso n?o me levou l?, agora sei disso. Os mineiros tamb?m podiam sentir isso e eu queria dar uma olhada no po?o depois da visita deles e da curta conversa ? mesa. E agora eu bebo da garrafa. Maldito Fiat. De tantas oficinas na S?rvia, ele escolheu minha garagem. Azra o trouxe para me lembrar. Depois de mais um gole, coloco a carne no forno e levo a travessa de volta para o quarto. A televis?o transmite o programa de ano novo, como naquele dia. Cerimonial e pomposo. Em vez de apresentadores de TV cafonas e cantoras tradicionais seminuas, vejo os amigos de papai ? mesa, mam?e na cozinha e minha irm?zinha no balan?o. Em outros canais, as mesmas imagens de minhas mem?rias se misturam com os programas de ano novo. Me levanto e olho a carne, ela n?o vai ficar pronta por um tempo. Eu quero comer, ficar b?bado, deitar e mergulhar no esquecimento. Antes da meia noite. Dos apartamentos pr?ximos, ou?o risos e m?sica. Em todo o meu redor, e eu, como que amaldi?oado, fico sozinho com uma garrafa de licor, meus dem?nios e mem?rias horr?veis daquela noite, ent?o tomo outro gole e desfruto do l?quido que alivia minha garganta e aquece minha barriga. Uma sombra se move na minha frente. Ele. Eu o vejo entrar no corredor com a cabe?a baixa. - Indo para onde, pai? Voc? viu seu Fiat hoje? - pergunto zombeteiramente. Ele fica parado na porta. Eu tomo outro gole e continuo: - Ainda tem o adesivo embaixo do r?dio que voc? comprou para mim na loja da esquina. Ele n?o se move e come?a a mordiscar as unhas. Os primeiros acordes soam na TV: "Love me tender", de Elvis Presley. Mais uma vez a calamidade segue seu caminho, n?o pode ser coincid?ncia, houveram muitas delas hoje. Essa m?sica estava tocando naquela vez, naquela v?spera de ano novo em que papai voltava do trabalho, do po?o K-14, de Azra. De repente, tudo fica claro para mim, talvez por causa da bebida ou talvez devido ao seu comportamento incomum, por?m as nuvens de terror deixam minha alma e desaparecem para sempre. A culpa n?o foi dele. Eu sabia disso o tempo todo, estava em meu subconsciente, mas eu nunca aceitei. Eu precisava de sua culpa como o ar que respiro para justificar a minha. Elvis continua cantando, me levando de volta ?quela noite. Mam?e faz um bolo e canta junto com Elvis, minha irm? pula em volta da mesa e eu sento na sala lendo quadrinhos. Nunca gostei do Elvis e ? por isso que n?o presto aten??o ? TV. O piscar das luzes na ?rvore de Natal que papai e eu montamos e decoramos me entedia. De repente mam?e grita da cozinha para eu pegar uma faca grande na despensa, est? na bandeja com os outros bolos. Titio adora o bolo da mam?e, ela fez especialmente para ele. Este ano, celebramos o Ano Novo juntos. Fingi n?o ouvir, por causa de Elvis e sua can??o nojenta, que contagiou as mulheres da casa. Meu pai sempre dizia - quem entende, filho, elas s?o mulheres - e ele ria, mas minha m?e franzia a testa e respondia com raiva e com palavras desagrad?veis. Mam?e chama novamente e pede a faca. Pregui?osamente, saio do sof?, caminho pelo corredor em dire??o ? despensa, abro a porta e encontro a lata na prateleira e a faca dentro dela. A porta da frente se abre. Papai passa por mim, n?o me v? e deixa uma nuvem fedorenta de carv?o e poeira. Eu pego a faca. Ele n?o foi ao banheiro para se lavar, como sempre faz quando chega do trabalho, ao inv?s disso foi direto para a cozinha. Ele nem mesmo tinha os presentes prometidos com ele. Tenho certeza de que ele os deixou no Fiat. Agora a m?e vai repreend?-lo por entrar na cozinha com roupas sujas. Eu o sigo e ou?o mam?e: - V? se lavar, por que voc? est? entrando assim? O pai n?o responde. Ela continua: - Voc? est? b?bado? Pelo amor de Deus, o tio est? prestes a chegar, e voc?... Ela n?o terminou a frase. Papai agarra o cabelo dela e esmaga o cr?nio dela contra a mesa. Sua express?o ? fria como pedra e seus olhos negros como o carv?o que ele estava cavando. Minha irm? come?a a gritar. Elvis canta sobre ternura e amor. Horrorizado, n?o saio da porta da cozinha e n?o consigo acreditar nos meus pr?prios olhos, como se visse a cena diante de mim em um sonho. Papai continua, a cabe?a da m?e est? ensanguentada, e quando ele a puxa e a esmaga, vejo que o rosto dela n?o est? mais l?. Ele desapareceu na po?a de sangue sobre a mesa. Minha irm? continua a gritar, cobrindo os olhos. Ele larga a m?e, que desaba como um trapo do fog?o, e se vira para minha irm?. Finalmente me recomponho e pego for?a nas pernas, ando at? ele pela cozinha e grito: "Por favor, pai, pare, por favor, pare!" Repito isso, aparentemente in?meras vezes, mas papai n?o me ouve. Ele agarra minha irm?, levanta-a sobre a cabe?a e a joga no ch?o da cozinha com todas as suas for?as. O horror est? permanentemente gravado em minha consci?ncia. Minha irm? est? ca?da no ch?o como uma de suas bonecas. Seus olhos est?o vidrados, parece que a vida saiu dela. Sangue escorre de seus ouvidos. Papai se abaixa e bate nela com o punho. Lentamente, ele levanta o bra?o e a golpeia novamente. Ele est? de costas para mim, sinto o peso da faca em minha m?o, minhas pernas come?am a se mover e eu cravo a l?mina em suas costas largas. Ele n?o sente a picada, continua batendo em minha irm? sem se importar comigo ou com a ferida que eu lhe causei. Eu o esfaqueio uma e outra vez, mas ele n?o para de agredir a garota indefesa cuja vida j? havia se esva?do. Por fim, ele cai no ch?o de lin?leo, ao lado do pequeno corpo, morto. As m?os de titio me agarram, minha tia grita e Elvis termina sua m?sica. Outro grande gole da garrafa desce pela minha garganta enquanto as l?grimas escorrem pelo meu rosto. N?o me lembro do rosto da minha m?e, nem do da minha irm?, mas me lembro de cada momento daquela noite enquanto Elvis cantava aquela mesma m?sica. Eu enxugo as l?grimas que n?o enxuguei em d?cadas. As ?ltimas ca?ram enquanto eu implorava a meu pai para parar. Morar em um orfanato as afastou para sempre. At? agora. Ele em seu casaco verde, cal?a branca e bon? na cabe?a, est? na soleira da porta, parado como uma l?pide. Ele n?o move as m?os nem sussurra. Pela primeira vez, eu o vejo assim, im?vel. Como se ele pudesse ler meus pensamentos. - Pai... - eu chamo. Ele lentamente vira a cabe?a para me encarar e finalmente, depois de todos esses anos, vejo seus olhos. N?o est?o pretos como naquela noite, mas castanhos e calorosos, como sempre foram. Olhamos um para o outro por alguns momentos, momentos que parecem t?o longos quanto os anos que passei sem minha m?e, meu pai e minha irm?. - Pai, eu te perdoo. Eu te perdoo de todo meu cora??o. Todos n?s te perdoamos. Por favor, me perdoe tamb?m. L?grimas escorrem por seu rosto. Ele se aproxima de mim, abre os bra?os e me oferece um abra?o. Eu o abra?o, sinto suas m?os e inspiro o cheiro doce. Inspiro todos os anos passados, o sorriso de minha m?e, a tagarelice da minha irm?, o nosso jardim, o balan?o e a casa pobre. Todos os passeios no nosso Fiat e os anos roubados por Azra. Sua voz, que n?o ou?o h? tantos anos, de repente enche a sala. - Est? tudo bem, meu filho. Est? tudo certo, n?o tenho nada pelo que te perdoar. Ent?o ele desaparece. E com ele, o cheiro. - Pai? N?o recebo resposta. De repente sou preenchido de vazio e saudade, mas esses sentimentos n?o s?o nada comparados ao al?vio que se abre como um po?o em minha consci?ncia, um po?o no qual toda a culpa, remorso e tristeza afundam, embora eu saiba que a mina deixou cicatrizes de terror em mim e que algo ainda a assombra. O telefone est? na mesa. Eu pego e disco um n?mero, agora n?o quero ficar sozinho. - ? tarde demais para mim? N?o recebo a resposta de imediato, ela fica bastante surpresa. - Claro que n?o, apresse-se, estou t?o feliz. Desligo, me arrumo e procuro papai, mas n?o o encontro. Ele se foi para sempre. Mas a vida ainda existe e a felicidade tamb?m. Eu sei o que fazer. Apesar do po?o de minera??o K-14, Azra. Конец ознакомительного фрагмента. Текст предоставлен ООО «ЛитРес». Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=64891851&lfrom=688855901) на ЛитРес. Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.
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