Какое, в сущности, нелепое занятие писать стихи: ......................и "глаз луны", и "солнца диск" как мир стары. ............................Души широкие объятия толпе навстречу распахнуть... - ................................................подобный риск к чему тебе? - ........................Глухой стеной - непонимание; раздавлен тяжестью

Raz?o Para Se Apavorar

Raz?o Para Se Apavorar Blake Pierce “Uma hist?ria din?mica que te agarra desde o primeiro cap?tulo e n?o te solta mais.”--Midwest Book Review, Diane Donovan (sobre Sem Pistas)Do autor n?mero 1 de bestsellers Blake Pierce, essa ? a nova obra prima de suspense psicol?gico—a s?rie AVERY BLACK—que continua agora com RAZ?O PARA TEMER (Livro 6), mais uma obra ?nica. A s?rie come?a com RAZ?O PARA SE APAVORAR (Livro 1)—que tem download gr?tis e conta com mais de 200 avalia??es de 5 estrelas!Uma mulher ? encontrada morta em seu pr?prio apartamento, trancada no closet, com seu corpo no ch?o sob aranhas venenosas, e a pol?cia de Boston fica perplexa. Sem saber por onde investigar, eles temem que o assassino v? agir novamente. Desesperada, a pol?cia n?o tem outra alternativa sen?o recorrer ? mais brilhante e controversa detetive de homic?dios da cidade—Avery Black. Agora aposentada, Avery, passando por dias ruins em sua vida pessoal, reluta, mas concorda em ajudar no caso. No entanto, quando outros corpos come?am a aparecer, mortos de maneiras grotescas e nada comuns, Avery n?o pode deixar de se perguntar: um assassino em s?rie est? ? solta?Com muita press?o da m?dia e sob o estresse de ter um parceiro novo e inexperiente, Avery ? levada a seu limite para tentar resolver esse caso bizarro—sem se deixar cair em um abismo.Avery encontra-se cada vez mais se aprofundando na mente do assassino, que tem mais segredos do que ela poderia imaginar.O livro mais arrebatador e chocante da s?rie, uma hist?ria psicol?gica com suspense de parar o cora??o, RAZ?O PARA SE APAVORAR vai fazer voc? ler p?ginas e p?ginas noite adentro.“Uma obra-prima de suspense e mist?rio. Pierce fez um trabalho magn?fico criando personagens com lados psicol?gicos t?o bem descritos que nos fazem sentir dentro de suas mentes, acompanhando seus medos e celebrando seu sucesso. Cheio de reviravoltas, este livro vai lhe manter acordado at? que voc? chegue ? ?ltima p?gina.”--Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (sobre Sem Pistas) R A Z ? O P A R A S E A P A V O R A R (UM MIST?RIO DE AVERY BLACK—LIVRO 6) B L A K E P I E R C E Blake Pierce Blake Pierce ? a autora da s?rie bestselling um mist?rio de RILEY PAGE, composta por quinze livros (a continuar). Blake Pierce ? tamb?m a autora da s?rie um mist?rio de MACKENZIE WHITE, composta por nove livros (a continuar); da s?rie um mist?rio de AVERY BLACK, composta por seis livros; da s?rie um mist?rio de KERI LOCKE, composta por cinco livros; da s?rie um mist?rio dos PRIM?RDIOS DE RILEY PAIGE, composta por tr?s livros (a continuar); da s?rie um mist?rio de KATE WISE, composta por dois livros (a continuar); da s?rie um thriller psicol?gico de CHLOE FINE, composta por tr?s livros (a continuar); s?rie um thriller psicol?gico de JESSIE HUNT, composta por tr?s livros (a continuar). Uma leitora ?vida e uma f? desde sempre dos g?neros de mist?rio e thriller, Blake adora ouvir sua opini?o, pelo que, por favor, sinta-se ? vontade para visitar www.blakepierceauthor.com (http://www.blakepierceauthor.com) para saber mais e para se manter em contacto. Copyright © 2018 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido na Lei de Direitos Autorais dos Estados Unidos (US. Copyright Act of 1976), nenhuma parte desta publica??o pode ser reproduzida, distribu?da ou transmitida de nenhuma forma e por motivo algum, ou colocada em um sistema de dados ou sistema de recupera??o sem permiss?o pr?via do autor. Este e-book est? licenciado apenas para seu aproveitamento pessoal. Este e-book n?o pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se voc? gostaria de compartilhar este e-book com outra pessoa, por favor compre uma c?pia adicional para cada benefici?rio. Se voc? est? lendo este e-book e n?o o comprou, ou ele n?o foi comprado apenas para uso pessoal, ent?o por favor devolva-o e compre seu pr?prio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho ?rduo do autor. Esta ? uma obra de fic??o. Nomes, personagens, empresas, organiza??es, lugares, eventos e acontecimentos s?o obras da imagina??o do autor ou ser?o usadas apenas na fic??o. Qualquer semelhan?a com pessoas de verdade, em vida ou falecidas, ? totalmente coincid?ncia. Imagem de capa: Copyright Karuka, usada sob licen?a de Shutterstock.com. LIVROS DE BLAKE PIERCE S?RIE UM THRILLER PSICOL?GICO DE JESSIE HUNT A ESPOSA PERFEITA (Livro #1) O PR?DIO PERFEITO (Livro #2) A CASA PERFEITA (Livro #3) O SORRISO PERFEITO (Livro #4) S?RIE UM MIST?RIO PSICOL?GICO DE CHLOE FINE A PR?XIMA PORTA (Livro #1) A MENTIRA MORA AO LADO (Livro #2) BECO SEM SA?DA (Livro #3) VIZINHO SILENCIOSO (Livro #4) VOLTANDO PRA CASA (Livro #5) S?RIE UM MIST?RIO DE KATE WISE SE ELA SOUBESSE (Livro #1) SE ELA VISSE (Livro #2) SE ELA CORRESSE (Livro #3) S?RIE OS PRIM?RDIOS DE RILEY PAIGE ALVOS A ABATER (Livro #1) ? ESPERA (Livro #2) A CORDA DO DIABO (Livro #3) AMEA?A NA ESTRADA (Livro #4) S?RIE UM MIST?RIO DE RILEY PAIGE SEM PISTAS (Livro #1) ACORRENTADAS (Livro #2) ARREBATADAS (Livro #3) ATRA?DAS (Livro #4) PERSEGUIDA (Livro #5) A CAR?CIA DA MORTE (Livro #6) COBI?ADAS (Livro #7) ESQUECIDAS (Livro #8) ABATIDOS (Livro #9) PERDIDAS (Livro #10) ENTERRADOS (Livro #11) DESPEDA?ADAS (Livro #12) SEM SA?DA (Livro #13) ADORMECIDO (Livro #14) S?RIE UM ENIGMA DE MACKENZIE WHITE ANTES QUE ELE MATE (Livro #1) ANTES QUE ELE VEJA (Livro #2) ANTES QUE ELE COBICE (Livro #3) ANTES QUE ELE LEVE (Livro #4) ANTES QUE ELE PRECISE (Livro #5) ANTES QUE ELE SINTA (Livro #6) ANTES QUE ELE PEQUE (Livro #7) ANTES QUE ELE CACE (Livro #8) S?RIE UM MIST?RIO DE AVERY BLACK RAZ?O PARA MATAR (Livro #1) RAZ?O PARA CORRER (Livro #2) RAZ?O PARA SE ESCONDER (Livro #3) RAZ?O PARA TEMER (Livro #4) RAZ?O PARA SALVAR (Livro #5) RAZ?O PARA SE APAVORAR (Livro #6) S?RIE UM MIST?RIO DE KERI LOCKE RASTRO DE MORTE (Livro #1) RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro #2) UM RASTRO DE IMORALIDADE (Livro #3) UM RASTRO DE CRIMINALIDADE (Livro #4) UM RASTRO DE ESPERAN?A (Livro #5) ?NDICE PR?LOGO (#u2d9b120f-d024-5b0f-9c40-127c24ad0d0c) CAP?TULO UM (#ubc5b9fc1-a036-5ad3-a191-95f85934bd59) CAP?TULO DOIS (#ub5c6d5bc-115d-5988-af0b-7951964bd970) CAP?TULO TR?S (#u91ab13b3-c435-53a5-9719-d2d040ff341c) CAP?TULO QUATRO (#uc90be6ad-c4ed-59e1-a157-f1e403d29ac8) CAP?TULO CINCO (#uded1d892-80c6-54c1-925c-e2acb44bc921) CAP?TULO SEIS (#u3846cc8c-5783-5f1b-a7e5-8e92c54874d1) CAP?TULO SETE (#litres_trial_promo) CAP?TULO OITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO NOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZ (#litres_trial_promo) CAP?TULO ONZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DOZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO TREZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUATORZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUINZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZESSEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZESSETE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZOITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZENOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E UM (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E DOIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E TR?S (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E QUATRO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E CINCO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E SEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E SETE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E OITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E NOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E UM (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E DOIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E TR?S (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E QUATRO (#litres_trial_promo) EP?LOGO (#litres_trial_promo) PR?LOGO Seu nome – Rosie – era a ?nica coisa delicada naquele homem. Roosevelt “Rosie” Dobbs caminhou at? a entrada do apartamento 2B com seu habitual andar desajeitado—se algu?m estivesse por perto, poderia ter ouvido seus xingamentos, palavras obscenas que o seguiam como uma sombra. Com seu punho gigante, Rosie bateu na porta. A cada batida, via nela o rosto do homem que morava no 2B. Um cara folgado, chamado Alfred Lawnbrook—do tipo que sempre pensava que era melhor do que todos, mesmo morando em um apartamento simples em uma das piores partes da cidade. Ele nunca pagava o aluguel na data certa. Nos dois anos em que estava morando no apartamento, sempre atrasara ao menos uma semana. Dessa vez, j? eram tr?s semanas de atraso. E Rosie j? estava cansado daquilo. Se Lawnbrook n?o pagasse o aluguel ? o fim do dia, ele o expulsaria. Era s?bado, logo depois das nove da manh?. O carro de Lawnbrook estava estacionado em sua vaga de sempre, ent?o Rosie sabia que ele estava em casa. Mesmo assim, mesmo batendo na porta, Lawnbrook n?o o atendeu. Rosie bateu mais uma vez com for?a na porta com seu punho e ent?o gritou. - Lawnbrook, saia da?! E ? melhor voc? estar com o dinheiro do aluguel em m?os quando abrir a porta. Rosie tentou ser paciente. Esperou dez segundos antes de chamar novamente. - Lawnbrook! Ainda sem reposta, Rosie pegou o enorme molho de chaves que carregava no quadril. Ele procurou entre as chaves at? encontrar uma onde a etiqueta dizia 2B. Sem dizer mais nada, colocou a chave na fechadura, virou a ma?aneta e entrou no apartamento. - Alfred Lawnbrook! Aqui ? Rosie Dobbs, o dono do apartamento. Seu aluguel est? atrasado h? tr?s semanas e— Mas Rosie viu imediatamente que n?o haveria resposta. Havia um sil?ncio estranho no local, que o fez perceber que Lawnbrook n?o estava em casa. N?o, n?o ? isso, Rosie pensou. ? algo diferente... algo est? estranho. Tem algo de errado aqui. Rosie deu mais alguns passos pelo apartamento, parando ao chegar ao centro da sala. Foi quando percebeu o cheiro. Primeiro, o cheiro o lembrou de batatas que haviam apodrecido. Mas tratava-se de algo diferente, mais sutil. - Lawnbrook? – ele chamou novamente, dessa vez com uma onda de medo em sua voz. Mais uma vez, n?o houve resposta... n?o que Rosie estivesse esperando ouvir algo. Ele caminhou pela sala e olhou na cozinha, imaginando que talvez alguma comida tivesse sido esquecida no fog?o. Mas a cozinha estava limpa e, por ser pequena, rapidamente ele pode ver que nada estava errado ali. Chame a pol?cia, a parte sensata de Rosie pensou. Voc? sabe que tem algo errado aqui, ent?o chame a pol?cia e n?o se envolva nisso. Mas curiosidade ? algo viciante, e Rosie n?o conseguiu sair dali. Ele caminhou pelo corredor e algo estranho chamou sua aten??o no caminho para o quarto. Dando alguns passos pelo corredor, o cheiro ficou mais forte e ele soube exatamente o que iria encontrar. Mesmo assim, n?o conseguiu parar. Ele precisava ver... precisava saber. O quarto de Lawnbrook estava levemente desarrumado. Alguns itens haviam sido derrubados do criado-mudo: carteira, livro, porta-retratos. Na janela, a persiana de pl?stico estava levemente inclinada, com as bordas dobradas. Ali, o cheiro estava pior. N?o era insuport?vel, mas tamb?m n?o era algo que Rosie queria respirar por muito tempo. A cama estava vazia e n?o havia nada entre o guarda-roupa e a parede. Com um n? na garganta, Rosie virou-se para o closet. A porta estava fechada, trazendo uma sensa??o pior do que o cheiro. Ainda assim, sua curiosidade m?rbida o fez seguir at? l?. Ele encostou na ma?aneta e, por um momento, pareceu sentir o cheiro terr?vel de algo pegajoso e quente. Antes de virar a ma?aneta, viu algo com o canto dos olhos. Olhou para seus p?s, imaginando que seu nervosismo estivesse fazendo-o ver coisas. Mas n?o... ele tinha mesmo visto algo. Duas aranhas estavam vindo rapidamente debaixo da porta. As duas eram grandes, uma do tamanho de uma moeda e a outra t?o grande que mal passava debaixo da porta. Surpreso, Rosie pulou para tr?s e soltou um pequeno grito de medo. As aranhas correram para debaixo da cama e, quando ele se virou para olh?-las, havia outras ali. A maioria eram pequenas, mas havia uma maior, do tamanho de um selo postal, andando pelo travesseiro. Com a adrenalina a mil, Rosie virou a ma?aneta e abriu a porta. Ele tentou gritar, mas seus pulm?es pareciam estar paralisados. Apenas um barulho seco saiu de sua garganta, enquanto ele se afastava do que tinha visto no closet. Alfred Lawnbrook estava jogado no canto do closet. Seu corpo estava p?lido e im?vel. Al?m disso, completamente coberto por aranhas. Havia v?rios fios de teia grossos nele. Um, em seu bra?o direito, era t?o grosso que Rosie nem conseguia ver a pele. A maioria das aranhas eram pequenas e pareciam ser inofensivas, mas assim como as outras que Rosie havia visto, algumas no grupo eram maiores. Enquanto ele olhava apavorado, uma aranha do tamanho de uma bola de golfe desfilava sob a testa de Lawnbrook. Outra, menor, subia em seu l?bio. Aquilo tirou Rosie de seu estado de congelamento. Ele quase trope?ou nos pr?prios p?s ao sair correndo do quarto, gritando, sentindo que milh?es de aranhas estavam vindo atr?s dele. CAP?TULO UM Dois meses antes... Ao abrir uma das muitas caixas ainda espalhadas por sua casa nova, Avery Black perguntou-se porque havia esperado tanto tempo para se afastar da cidade. Ela n?o sentia nenhuma falta e, na verdade, estava arrependida por ter perdido tanto tempo l?. Ela olhou dentro de uma caixa, esperando encontrar seu iPod. N?o havia etiquetado nada ao deixar seu apartamento em Boston. Havia, basicamente, jogado tudo em v?rias caixas e se mudado em apenas um dia. Aquilo fora tr?s semanas antes, e Avery ainda n?o havia terminado de esvaziar as caixas. Na verdade, at? seus len??is ainda estavam escondidos em algum lugar nas caixas, e ela havia escolhido dormir no sof? desde ent?o. A caixa escolhida n?o continha seu iPod, mas tinha algumas garrafas de licor das quais Avery nem se lembrava mais. Ela tirou um copo da caixa, encheu de whisky e caminhou at? a varanda. Fechou os olhos ao se deparar com a luz da manh? e deu um gole em seu whisky. Sentiu a bebida descendo e tomou mais um gole. Depois, olhou seu rel?gio e viu que eram dez horas da manh?. Encolheu os ombros e sentou-se na velha cadeira de pedra, que j? estava na casa quando Avery a comprara. Olhou em volta e sentiu, novamente, que poderia viver ali o resto de sua vida, totalmente confort?vel. A casa n?o era uma cabana, mas tinha um toque r?stico. Tinha s? um andar e era moderna por dentro. Seu endere?o dizia que Avery agora morava pr?ximo ao lago Walden, mas ela estava longe o suficiente para poder se considerar “no meio do nada”. Seu vizinho mais pr?ximo estava a quase um quil?metro de dist?ncia, e apenas ?rvores podiam ser vistas desde a porta da frente. N?o havia buzinas. Nem pedestres com pressa enquanto mexiam nos celulares. Nem tr?nsito. Nem cheiro de gasolina saindo dos motores. Avery tomou mais um gole de seu whisky matinal e escutou em volta. Nada. Absolutamente nada. Bom, quase nada. Ela pode ouvir dois p?ssaros cantando entre as ?rvores enquanto sentia a brisa da manh?. Ela havia feito o poss?vel para que Rose tamb?m viesse morar ali. Sua filha havia passado por muita coisa, e s? Deus sabia se ficar na cidade a ajudaria a se recuperar. Mas Rose havia recusado. Na verdade, recusado veementemente. Depois que a fuma?a do ?ltimo caso havia baixado, Rose decidira que precisava culpar algu?m pela morte do seu pai. E, como sempre, a culpa recaiu sobre os ombros de Avery. Por mais que doesse, Avery entendia. Ela teria se comportado da mesma forma se os papeis fossem invertidos. Durante sua mudan?a para a floresta, Rose havia a acusado de estar fugindo de seus problemas. E Avery n?o havia tido problemas em concordar. Ela estava ali para escapar das mem?rias de seu ?ltimo caso—dos ?ltimos meses de sua vida, na verdade. Elas haviam chegado muito perto de recuperar o relacionamento que um dia tiveram. Mas quando o pai de Rose morrera—assim como Ramirez, o homem que ela tinha come?ado a aceitar como o novo amor de sua m?e—tudo fora por terra. Rose culpou Avery pela morte de seu pai e, aos poucos, Avery come?ou a culpar a si mesma tamb?m. Avery fechou os olhos e deu o ?ltimo gole em seu whisky. Escutou o sil?ncio da floresta e deixou que o whisky a confortasse. Ela havia feito aquilo v?rias vezes durante as ?ltimas semanas, bebendo tanto que, em uma das vezes, tinha desmaiado por v?rias horas. Aquela noite, ela passara debru?ada sobre o vaso e chorando, pensando em Ramirez e no futuro que eles poderiam ter tido. Olhando para tr?s, Avery sentia-se envergonhada. Aquilo a fazia querer beber para se sentir bem. Ela nunca fora de beber muito, mas nas ?ltimas semanas, whisky e vinho vinham ajudando bastante. Ajudando a que? Ela se perguntou ao se levantar da cadeira de pedra e voltar para dentro de casa. Olhou para o whisky, querendo beber mais e pegar no sono antes do meio dia apenas para passar por mais um dia. Mas ela sabia que seria covarde. Precisava passar por aquilo sozinha, com a mente limpa. Ent?o, guardou o whisky e as outras garrafas na cozinha. Depois, come?ou a mexer em outras caixas, ainda procurando o iPod. Em uma das caixas, havia v?rios ?lbuns de fotos. Por estar pensando em Rose enquanto estava na varanda, Avery decidiu abri-los. Havia tr?s, e um deles tinha fotos de sua ?poca da faculdade. Ignorou-o completamente e pegou o segundo. Rose apareceu imediatamente. Ela tinha doze anos, e vestia um chap?u coberto por neve. Na pr?xima foto, ainda com doze anos, Rose estava pintando o que parecia ser um campo de girass?is em seu antigo quarto. Avery folheou o ?lbum at? a metade, onde encontrou uma foto que havia tirado tr?s natais antes. Rose e Jack, o pai de Rose, estavam dan?ando em frente ? ?rvore de natal. Os dois estavam sorrindo abertamente. O gorro de Papai Noel de Jack estava caindo de sua cabe?a e havia outros artigos de decora??o nos fundos da foto. Foi como uma facada no cora??o. A vontade de chorar apareceu como uma bomba. Avery n?o havia sentido aquilo desde que se mudara, mexendo nas caixas que continham os objetos de sua carreira. Mas ali, de repente, ela n?o conseguiu lutar contra seus sentimentos. Come?ou a chorar como se a faca estivesse, de fato, cravada em seu peito. Tentou se levantar, mas seu corpo parecia estar paralisado. N?o, ele parecia dizer. Voc? vai se permitir esse momento e vai chorar. Vai chorar muito. Vai sentir o luto. Voc? vai se sentir melhor depois. Avery fechou o ?lbum e o pressionou contra seu peito. Chorou com for?a, permitindo-se ser vulner?vel por um momento. Odiou sentir que era muito bom tirar aquele sentimento de si. Chorou sem dizer nada—sem chamar ningu?m nem pedir ajuda divina. Simplesmente, chorou. Avery sentiu-se bem. Como se estivesse exorcizando seus dem?nios. Ela n?o soube por quanto tempo ficou ali, sentada entre as caixas. S? soube que, ao se levantar, n?o queria mais depender de algo como ?lcool para se sentir bem. Ela precisava clarear sua mente e organizar seus pensamentos. Sentiu uma dor familiar nas m?os, algo mais forte do que a necessidade de beber para afastar suas emo??es. Cerrou os dedos e pensou em alvos de papel e na dist?ncia entre a arma e seus alvos. Seu cora??o ent?o confortou-se um pouco ao pensar em alguns poucos itens que tinha para decorar o quarto nos pr?ximos dias. N?o havia muita coisa, mas havia algo do qual Avery quase tinha se esquecido nos ?ltimos dias. Devagar, tentando tomar coragem enquanto caminhava pela sala repleta de caixas, entrou no quarto. Parou na porta por um momento e olhou para a arma, parada num canto. O rifle era uma Remington 700 que pertencera a Avery desde sua formatura na faculdade. Durante seu ?ltimo ano, ela havia feito planos de se mudar para algum lugar remoto, para poder ca?ar veados no inverno. Era algo que seu pai sempre fizera e, mesmo n?o sendo t?o boa naquilo, Avery gostava. Suas amigas tiravam sarro por conta disso e provavelmente ela havia assustado um ou dois namorados na ?poca da escola por conta de seu gosto pela ca?a. Quando seu pai morrera, sua m?e havia implorado para que ela ficasse com a arma, dizendo que seu pai gostaria que ela a guardasse. E a arma a acompanhara, de mudan?a em mudan?a, geralmente ficando guardada em um guarda-roupas ou debaixo da cama. Dois dias depois de se mudar para a casa nova, Avery havia levado a arma at? uma concession?ria para limp?-la. Ao busc?-la, tamb?m comprou tr?s caixas de muni??o. Imaginando que poderia sentir vontade de atirar a qualquer momento, Avery vestiu suas cal?as t?rmicas. N?o estava t?o frio naquela manh?—um pouco acima de zero—mas ela n?o estava acostumada a andar pela floresta. Ela n?o tinha roupas camufladas, ent?o se contentou com um par de cal?as verde-escuro e um su?ter preto. Ela sabia que aquela n?o era a vestimenta mais segura para ca?ar veados, mas era o que ela tinha naquele momento. Avery vestiu um par de luvas finas (tendo que buscar nas caixas para encontr?-las), colocou seu par de t?nis mais velho e saiu. Entrou no carro e dirigiu por tr?s quil?metros at? uma extens?o da estrada que levava a uma enorme floresta, que pertencia ao homem de quem ela havia comprado a casa. Ele havia lhe dado permiss?o para ca?ar em suas terras, quase como um b?nus aleat?rio pela compra da casa por dez mil d?lares acima do valor pedido. Ela encontrou um lugar ao lado da estrada onde claramente ca?adores vinham passando h? anos. Estacionou ali, com o lado do motorista quase dentro da pista. Ent?o, pegou seu rifle e entrou na floresta. Avery sentiu-se boba desfilando pela floresta. Ela n?o ca?ava h? pelo menos cinco anos—justamente no final de semana em que recebera a arma de sua m?e. Estava sem o equipamento adequado—botas, aroma de veado para borrifar nas ?rvores, chap?us ou coletes laranjas. Mas tamb?m sabia que aquela era uma manh? de quarta-feira, e que a floresta estaria basicamente sem nenhum outro ca?ador. Sentiu-se um pouco como aquela crian?a t?mida que s? joga basquete sozinha e sai correndo quando as crian?as mais talentosas chegam. Caminhou por vinte minutos e chegou a uma subida. Caminhou em sil?ncio, com a mesma precau??o que tinha enquanto detetive de homic?dios. A arma ca?a bem em suas m?os, ainda que parecesse um pouco estranha. Avery era acostumada a usar armas menores, principalmente sua Glock, e por isso o rifle parecia muito poderoso. Ao chegar ao topo da pequena subida, viu carvalho ca?do a v?rios metros. Utilizou-o para se abaixar e se esconder, sentada no ch?o e encostando-se em uma ?rvore. Reclinada, soltou o rifle a seu lado e olhou para o topo das ?rvores. Avery ficou ali em paz, sentindo-se ainda mais cercada pelo mundo do que quando estivera em sua varanda, um hora antes. Sorriu ao imaginar Rose ali com ela. Rose odiava estar ao livre e provavelmente desaprovaria se soubesse que sua m?e estava sentada em uma floresta, com um rifle, procurando um veado para matar. Pensando em Rose, Avery pode limpar sua mente e focar em tudo a seu redor. E quando pode fazer isso, os instintos de sua carreira apareceram. Ela ouviu folhas mexendo no ch?o, assim como nas ?rvores, enquanto as ?ltimas folhas teimosas teimavam em sobreviver ao inverno. Escutou algo ? sua direita, um pouco acima, provavelmente um esquilo. Acostumada com seu entorno, finalmente pode relaxar. Ouviu tudo aquilo, mas tamb?m viu seus pr?prios pensamentos tomando forma. Jack e sua namorada, ambos mortos. Ramirez, morto. Pensou em Howard Randall, caindo na ?gua, provavelmente tamb?m morto. E por fim... viu Rose... como ela estivera constantemente em perigo por conta do trabalho de sua m?e. Rose n?o merecia aquilo. Ela havia feito o poss?vel para ser uma filha querida at? que finalmente chegara a seu limite. Na verdade, Avery havia se impressionado por quanto tempo Rose havia segurado aquela barra. Especialmente depois do ?ltimo caso, onde a vida dela estivera literalmente em perigo. E aquela n?o fora a primeira vez. O barulho de um galho se quebrando atr?s de Avery chamou sua aten??o. Seus olhos se abriram rapidamente e, mais uma vez, ela olhou para o topo das ?rvores. Devagar, pegou o rifle ao ouvir um outro barulho vindo de tr?s de si. Aproximou o rifle de seu corpo e lentamente o engatilhou. Levantou-se com cautela. Respirou fundo, cuidando para n?o mover as folhas. Seus olhos escanearam a ?rea embaixo da pequena subida onde ela estava escondida. Ela viu um veado ? esquerda, a cerca de cem metros. Era um macho pelo que ela podia ver. N?o era grande, mas j? era algo. Avery viu outro mais longe, por?m parcialmente coberto por duas ?rvores. Voltou a se mexer, colocando o rifle ao lado do carvalho ca?do. Flexionou o dedo para encontrar o gatilho e firmou a m?o. Tentou mirar e teve mais dificuldade do que estava esperando. Finalmente, acertou a mira e disparou. O barulho do tiro tomou conta da floresta. A arma ricocheteou, mas apenas levemente. Ao atirar, Avery sentiu seu bra?o desviar para a direita. Ent?o, viu o veado escapando. Quando o som da bala encheu seus ouvidos em meio ? floresta, algo em sua mente pareceu congel?-la. Em um momento paralisante, Avery n?o pode se mexer. Naquele momento, ela n?o estava na floresta, tendo falhado na ca?a a um veado. Ao inv?s disso, estava na sala de Jack. Havia sangue por todos os lados. Ele e sua namorada haviam sido mortos. Ela n?o havia conseguido evitar e, por isso, sentia que ela tinha matado os dois. Rose estava certa. Era culpa dela. Ela poderia ter evitado se fosse mais r?pida—se tivesse sido melhor. Os olhos ensanguentados de Jack a olhavam, mortos e parecendo pedir ajuda. Por favor, diziam. Por favor, volte e fa?a tudo certo. Avery largou a arma. O rifle caiu no ch?o e, novamente, ela viu-se chorando. L?grimas quentes, abundantes. Pareciam pequenas corredeiras de fogo descendo por seu rosto frio. - ? minha culpa – ela disse, sozinha na floresta. – ? minha culpa. Tudo isso. N?o s? Jack e a namorada... n?o. Ramirez, tamb?m. E todos que ela n?o havia conseguido salvar. Ela deveria ter feito melhor, muito melhor. Avery viu a foto de Jack e Rose na frente da ?rvore de Natal em sua mente. Ela encolheu-se como uma bola no carvalho ca?do e come?ou a tremer. N?o, pensou. N?o agora, n?o aqui. Recomponha-se, Avery. Segurou a onda de emo??es e respirou fundo. N?o foi t?o dif?cil. Afinal de contas, ela vinha lidando com aquilo por pelo menos uma d?cada. Devagar, levantou-se, pegando a arma do ch?o. Olhou rapidamente para o lugar onde estavam os dois veados. N?o se arrependeu de ter errado o tiro. Simplesmente, n?o se importou. Virou-se para o lado de onde tinha vindo, carregando o rifle no ombro e uma d?cada de culpa no cora??o. *** No caminho de volta para casa, Avery imaginou que era algo bom n?o ter matado o veado. Ela n?o tinha ideia de como tiraria o animal da floresta. Arrastaria at? o carro? Amarraria em uma corda para traz?-lo at? em casa? Ela conhecia o suficiente sobre ca?a para saber que era ilegal deixar um animal morto na floresta. Em qualquer outro momento, ela teria achado a imagem de um veado no topo de seu carro hil?ria. Mas, naquela hora, pareceu apenas algo sem gra?a. Apenas mais um assunto indefinido em sua mente. Prestes a chegar ? estrada, Avery sentiu seu telefone tocando. Pegou-o e viu um n?mero que n?o reconheceu, mas com um c?digo de ?rea que havia visto durante quase toda sua vida. A liga??o vinha de Boston. C?tica, Avery atendeu, sabendo por conta de sua carreira que liga??es de n?meros desconhecidos geralmente traziam problemas. - Al?? - Ol?, ? a senhora Black? Senhora Avery Black? – uma voz feminina perguntou. - Sim. Quem fala? - Meu nome ? Gary King. Sou o dono do lugar onde sua filha est? morando. Seu nome est? nos formul?rios dela e— - Rose est? bem? – Avery perguntou. - At? onde eu sei, sim. Mas estou ligando por outro motivo. Primeiro, ela est? com aluguel atrasado. Est? duas semanas atrasado e ? a segunda vez em tr?s meses. Eu tentei ir at? l? e falar com ela, mas ela n?o atende a porta. E ela n?o atende minhas liga??es. - Com certeza voc? n?o precisa de mim para isso – Avery disse. – Rose ? uma mulher crescida e pode lidar com o dono do apartamento onde ela mora. - Bom, n?o ? s? isso. Eu recebi liga??es de uma vizinha reclamando de barulhos de choro alto ? noite. A mesma vizinha diz ser bem amiga de Rose. Ela diz que Rose anda muito diferente ultimamente. Que ela fica falando que tudo ? uma droga e que a vida n?o faz sentido. Ela diz que est? preocupada com Rose. - Quem ? essa amiga? – Avery perguntou. Era dif?cil negar a si mesma que ela estava praticamente entrando no modo detetive. - Desculpe, mas n?o posso dizer. ? a lei. Avery sabia que o senhor King estava certo, ent?o n?o pressionou. - Eu entendo. Obrigado por ligar, senhor King. Vou falar com ela agora mesmo. E vou me certificar de que voc? receba seu dinheiro. - Tudo bem, obrigado... mas eu estou sinceramente mais preocupado com o que pode estar acontecendo com a Rose. Ela ? uma menina do bem. - Sim, ? mesmo – Avery disse e encerrou a liga??o. Naquele momento, ela j? estava a menos de um quil?metro de sua nova casa. Discou o n?mero de Rose e telefonou ao pisar mais fundo no acelerador. Tinha certeza que sua filha n?o atenderia, mas ainda assim tinha uma ponta de esperan?a a cada toque. Como esperava, a liga??o caiu na caixa de mensagens. Rose havia atendido apenas uma de suas liga??es desde a morte de seu pai, e fora quando ela estava muito b?bada. Avery optou por n?o deixar mensagens, sabendo que Rose n?o escutaria, muito menos retornaria a liga??o. Avery estacionou na cal?ada, deixando o motor ligado, e correu para dentro de casa apenas para vestir algo mais apresent?vel. Voltou ao carro tr?s minutos depois, seguindo na dire??o de Boston. Ela tinha certeza que Rose ficaria brava com sua m?e indo at? l?, mas sabia que n?o tinha outra escolha, dada a liga??o de Gary King. Quando a estrada come?ou a apresentar menos curvas, Avery aumentou a velocidade. Ela n?o sabia o que o futuro a reservava sobre seu antigo trabalho, mas sabia que sentia falta de uma coisa sobre trabalhar nas for?as a lei: a permiss?o para quebrar os limites de velocidade sempre que precisasse. Rose estava em apuros. Ela sabia. CAP?TULO DOIS Era pouco mais de uma hora quando Avery chegou ? casa de Rose. Ela morava em um apartamento no t?rreo de um pr?dio em uma zona boa da cidade. Conseguia pag?-lo por conta das gorjetas que recebia como bartender em um bar chique—um trabalho que havia conseguido antes da mudan?a de Avery para a floresta. Seu trabalho anterior havia sido um pouco menos glamoroso, como gar?onete em um restaurante simples, ao mesmo tempo que editava an?ncios para algumas ag?ncias trabalhando de casa. Avery queria que Rose apenas estudasse e terminasse a faculdade, mas sabia que quanto mais pressionasse, mais Rose escolheria outro caminho. Avery bateu na porta, sabendo que Rose estava em casa porque seu carro estava estacionado na rua. Mesmo sem aquela dica, Avery sabia que desde quando fora morar sozinha, Rose escolhera optar por trabalhar com hor?rios ? noite, para que pudesse dormir at? tarde e ficar em casa durante o dia. Ela bateu mais forte na porta e quase chamou o nome de Rose. Decidiu n?o falar nada, percebendo que sua voz seria menos bem-vinda do que a do dono do pr?dio que queria cobrar o aluguel. Ela provavelmente sabe que sou eu porque eu tentei ligar antes, pensou. Por conta disso, Avery sabia que a melhor op??o seria outra: negociar. - Rose – disse, batendo novamente. – Abra. ? sua m?e. Est? frio aqui fora. Avery esperou por um momento e n?o ouviu nada. Ao inv?s de bater novamente, ela aproximou-se da porta, o m?ximo poss?vel. Quando voltou a falar, levantou a voz apenas o suficiente para ser ouvida, mas sem causar uma cena na rua. - Voc? pode continuar me ignorando se quiser, mas eu vou continuar ligando, Rose. E se eu quiser fazer disso uma obsess?o, lembre-se de qual era meu trabalho. Se eu quiser saber onde voc? est? a qualquer hora, eu posso. Ou voc? pode facilitar as coisas para n?s duas e s? abrir a porta. Ao dizer aquilo, Avery bateu novamente na porta. Dessa vez, foi atendida em alguns segundos. Rose abriu devagar. Ela colocou apenas a cabe?a para fora, como se n?o confiasse na pessoa que estava do outro lado da porta. - O que voc? quer, m?e? - Entrar por um ou dois minutos. Rose pensou naquilo por um momento e ent?o abriu a porta. Avery fez o poss?vel para n?o dar muita aten??o ao fato de que Rose havia perdido peso. Bastante, na verdade. Ela tamb?m havia pintado o cabelo de preto e o alisado. Avery entrou e encontrou o apartamento totalmente limpo. Havia um ukulele no sof?, algo que n?o parecia pertencer ?quele lugar. Avery apontou para o instrumento com um olhar desconfiado. - Eu queria aprender a tocar algo – Rose disse. – Viol?o consome muito tempo e piano ? muito caro. - Voc? j? aprendeu algo? – Avery perguntou. - J? sei fazer cinco notas. Quase posso tocar uma m?sica. Avery assentiu, impressionada. Ela quase pediu para ouvir a m?sica, mas percebeu que estaria for?ando as coisas. Ent?o, pensou em sentar-se no sof?, mas n?o queria parecer intrometida. Ela sabia que Rose n?o estenderia o convite. - Estou bem, m?e – Rose disse. – Se ? por isso que voc? est? aqui... - ? sim – Avery disse. – Eu queria falar com voc? h? tempos. Eu sei que voc? me odeia e me culpa por tudo o que aconteceu. ? uma merda, mas eu posso lidar com isso. Mas hoje recebi uma liga??o do dono da casa. - Senhor – Rose disse. – Esse ot?rio n?o me deixa em paz e— - Ele s? quer o aluguel, Rose. Voc? tem? Voc? tem dinheiro para pagar? Rose riu da pergunta. - Eu ganhei trezentos d?lares de gorjeta s? ontem ? noite – ela disse. – E quase o dobro disso no s?bado. Ent?o n?o... n?o tenho dinheiro. - Que bom. Mas... bem, ele tamb?m disse que est? preocupado com voc?. Que soube de coisas que voc? falou. N?o me engane, Rose. Como voc? est? de verdade? - De verdade? – Rose perguntou. – Como estou de verdade? Bom, eu sinto falta do meu pai. E quase fui morta pelo mesmo babaca que matou ele. E eu sinto sua falta, tamb?m, mas n?o consigo lembrar de voc? sem lembrar de como ele morreu. Eu sei que isso ? uma merda, mas sempre que eu penso no pai e em como ele morreu, isso me faz te odiar. E me faz perceber que desde que voc? entrou a fundo na carreira de detetive, minha vida sofreu muito, de um jeito ou de outro. Era dif?cil para Avery ouvir aquilo, mas ela sabia que as palavras poderiam ter sido muito piores. - Como voc? tem dormido? – ela perguntou. – E comido? Rose... quanto peso voc? perdeu? Rose balan?ou a cabe?a e come?ou a caminhar novamente para a porta. - Voc? perguntou como eu estou e eu te respondi. Estou feliz? N?o. Mas n?o sou do tipo que vai fazer algo est?pido, m?e. Quando tudo passar eu vou ficar bem. E vai passar. Eu sei que vai. Mas para passar, voc? tem que ficar longe. - Rose, eu— - N?o, m?e... voc? me faz mal. Eu sei que voc? tentou e muito deixar as coisas bem entre a gente—voc? tentou por muitos anos. Mas n?o est? dando certo e eu acho que nunca vai dar, considerando os ?ltimos acontecimentos. Ent?o... por favor, v? embora. V? e pare de me ligar. - Mas Rose, isso ?— Rose ent?o come?ou a chorar, abrindo a porta e gritando. - M?e, tem como voc? ir embora, porra? Rose ent?o olhou para o ch?o, solu?ando. Avery lutou contra suas pr?prias l?grimas e obedeceu sua filha. Ao passar por Rose, ela precisou se esfor?ar para n?o abra??-la nem dizer mais nada. Por fim, simplesmente saiu pela porta, em dire??o ? rua fria. Mas o barulho da porta batendo foi muito mais frio do que a temperatura l? fora. *** Avery come?ou a chorar antes mesmo de ligar o carro. Ao voltar ? estrada em dire??o a sua nova casa, fez o poss?vel para controlar seus solu?os. Com l?grimas caindo em seu rosto, deu-se conta de que havia chorado mais nos ?ltimos cinco ou seis meses do que no restante de sua vida. Primeiro, a morte de Jack. Depois, Ramirez. E agora isso. Talvez Rose estivesse certa. Talvez ela fizesse mesmo mal ? filha. Porque, l? no fundo, as mortes de Jack e Ramirez eram culpa dela. Sua carreira ambiciosa havia levado um assassino at? as pessoas que ela mais amava. Ao mesmo tempo, ela havia afastado Rose. Sem falar que a carreira em quest?o havia acabado. Avery aposentara-se logo ap?s o funeral de Ramirez, e mesmo sabendo que Connelly e O’Malley tinham deixado uma porta aberta para ela, aquele era um convite que Black sabia que jamais aceitaria. Ela estacionou em sua cal?ada e entrou em casa com l?grimas ainda caindo. A parte ruim era que, ao abandonar completamente a carreira, sua vida estava vazia. Seu futuro marido havia sido morto, seu ex-marido tamb?m e, agora, seu ?nico la?o com o passado, sua filha, n?o queria nada com ela. E ao inv?s de consertar isso, o que voc? fez? Alguma parte de Avery a perguntou. Parecia quase a voz de Ramirez, mostrando que ela estava piorando as coisas. Voc? saiu da cidade e se escondeu na floresta. Ao inv?s de enfrentar a dor e o que a vida te proporcionou, voc? fugiu e passou dias bebendo sozinha. E agora, o que voc? faz? Foge de novo? Ou tenta consertar? De volta ? casa, no entanto, Avery sentiu-se mais segura do que quando estava na frente da casa de Rose. Estar em casa pareceu diminuir a dor por sua filha ter batido a porta em sua cara. Sim, Avery sentiu-se covarde, mas simplesmente n?o via outra madeira de lidar com aquilo. Ela est? certa, pensou. Eu fa?o mal para ela. Nos ?ltimos anos eu s? deixei a vida dela mais dif?cil. Come?ou quando coloquei minha carreira acima do pai dela, e depois tudo piorou. Por mais que eu tentasse, meu trabalho ficou acima dela tamb?m. E aqui estamos de novo, mesmo depois da aposentadoria. Ela me culpa pela morte do pai dela. E n?o est? totalmente errada. Avery caminhou devagar at? a cama que ainda precisava montar. Seu cofre pessoal ainda estava entre as caixas. Ao abri-lo, lembrou-se de entrar na sala de Jack e encontr?-lo morto. Pensou em Ramirez no hospital, seriamente ferido antes de ter sido assassinado. Suas m?os estavam sujas com aquelas duas mortes. E ela jamais havia conseguido limp?-las. Avery abriu o cofre e pegou sua Glock. Em suas m?os, a arma parecia algo familiar, como uma velha amiga. L?grimas ainda estavam caindo quando ela encostou-se na cabeceira. Olhou para a arma, estudando-a. Aquela ou outras muito parecidas haviam lhe acompanhado pelas ?ltimas duas d?cadas, muito mais de perto do que qualquer pessoa. Por isso, sentiu-se muito natural ao colocar o cano da arma em seu queixo. O toque da arma era gelado, por?m lhe fez bem. Avery suspirou ao posicionar a arma de maneira que, ela sabia, faria a bala passar no melhor ?ngulo. Seu dedo encontrou o gatilho e tremeu. Imaginou se chegaria a ouvir o som do tiro antes de apagar e, caso ouvisse, se o barulho seria t?o alto quanto Rose batendo a porta. Seu dedo encontrou no gatilho e ela fechou os olhos. A campainha tocou, lhe fazendo pular. Seu dedo soltou o gatilho e seu corpo inteiro amoleceu. A Glock caiu no ch?o. Quase, Avery pensou ao sentir o cora??o pulsando de tanta adrenalina. Mais um segundo e meu c?rebro estaria espalhado pelo ch?o. Ela olhou para a Glock e a jogou longe, como se fosse uma cobra venenosa. Escondeu seu rosto com as m?os e secou as l?grimas. Voc? quase se matou, a voz que poderia ou n?o ser Ramirez disse. Isso n?o te faz se sentir covarde? Avery afastou aquele pensamento ao se levantar e seguir para a porta. Ela n?o fazia ideia de quem poderia estar ali. Ousou esperar que fosse Rose, mas sabia que n?o seria o caso. Rose era exatamente como sua m?e—teimosa demais. Ela abriu a porta e n?o viu ningu?m. Viu, no entanto, um carro dos correios indo embora. Olhou para a entrada da casa e viu uma pequena caixa. Pegou-a e leu seu pr?prio nome e seu novo endere?o nela. O lado do remetente n?o tinha nome, apenas um endere?o de Nova York. Avery abriu a caixa devagar. N?o era pesada e, dentro, havia muitos papeis de jornal. Retirou-os e encontrou apenas uma coisa no fundo. Era um simples peda?o de papel, dobrado ao meio. Ela abriu, e quando leu a mensagem, seu cora??o parou por um momento. Instantaneamente, Avery n?o sentiu mais a necessidade de se matar. Ela leu a mensagem v?rias vezes, tentando encontrar algum sentido. Seu c?rebro trabalhou, buscando uma resposta. E com algo como aquilo para descobrir, o simples fato de pensar na morte j? estava fora de quest?o. Sentou-se no sof? e olhou para o papel, lendo v?rias e v?rias vezes. quem ? voc?, avery? Com amor, Howard CAP?TULO TR?S Nos dias seguintes, Avery seguiu tocando a ?rea embaixo de seu queixo onde havia colocado a arma. Sua pele parecia irritada, como quando picada por um inseto. Sempre que se deitava para dormir e seu pesco?o esticava quando sua cabe?a encostava no travesseiro, aquela ?rea parecia ficar exposta e vulner?vel. Ela precisava encarar o fato de que havia chegado ao fundo do po?o. Mesmo que tivesse conseguido escapar, ela havia chegado l?. Para sempre, aquela seria uma lembran?a, e parecia que seu corpo n?o queria que ela se esquecesse daquilo. Nos tr?s dias seguintes ao seu quase suic?dio, Avery esteve mais depressiva do que nunca em sua vida. Passou aqueles dias jogada no sof?. Tentou ler, mas n?o conseguia se concentrar. Tentou motivar-se para correr, mas sentiu-se muito cansada. Seguiu lendo o bilhete de Howard, segurando-o por tanto tempo que o papel j? estava gasto. Avery parou de beber tanto ap?s receber a carta de Howard. Devagar, como uma larva, come?ou a sair do seu casulo de auto-pena. Aos poucos, come?ou a se exercitar. Tamb?m fez palavras cruzadas e Sudoku, apenas para trabalhar a mente. Sem trabalho, e sabendo que tinha dinheiro suficiente para passar um ano sem se preocupar com nada, seria muito f?cil tornar-se pregui?osa. Mas a encomenda de Howard havia apagado sua letargia. Avery agora tinha um mist?rio para resolver, algo que se tornou uma tarefa. E quando Avery Black tinha uma tarefa, ela n?o parava at? resolv?-la. Uma semana depois de receber a carta, seus dias come?aram a ter uma rotina. Ainda era a rotina de um eremita, mas ela estava se sentindo melhor. Avery estava sentindo que poderia haver algo pelo qual ela poderia viver. Desafios mentais sempre a inspiravam, e estavam lhe inspirando para as semanas por vir. Suas manh?s come?avam ?s sete. Ela sa?a para correr, fazendo um trajeto de tr?s quil?metros ao redor da casa na primeira semana. Voltava para casa, tomava caf? da manh? e relia os arquivos de seus casos antigos. Tinha mais de cem em seu arquivo pessoal, todos resolvidos. Mas ela os relia apenas para se manter ocupada e para lembrar a si mesma que, mesmo com algumas falhas, ela havia tido sucesso na maioria dos casos. Tamb?m passava uma hora por dia tirando suas coisas das caixas e as organizando. Depois, almo?ava e fazia palavras cruzadas ou outro tipo de desafio. Ent?o, fazia um circuito de exerc?cios no quarto—uma sess?o r?pida de abdominais, flex?es, prancha e outros exerc?cios de core. Passava algum tempo vendo os arquivos de seu ?ltimo caso—o caso que acabara com a morte de Jack e Ramirez. Alguns dias, olhava-os por dez minutos. Outros, por duas horas. O que havia dado errado? O que ela tinha deixado passar? Ela teria sobrevivido ao caso se n?o fosse pela interfer?ncia de Howard Randall? Ent?o, era hora de jantar, ler um pouco, limpar um pouco mais a casa e, ent?o, dormir. Era uma rotina sem muitos acontecimentos, mas ainda assim, uma rotina. Avery levou dois meses para deixar a casa limpa e em ordem. Por fim, suas corridas de tr?s quil?metros j? haviam se tornado oito. Ela j? n?o estava mais lendo os arquivos antigos ou os relat?rios do ?ltimo caso. Ao inv?s disso, estava lendo livros que tinha comprado na Amazon, com dramas e crimes da vida real e obras policiais de n?o-fic??o. Tamb?m havia escolhido alguns livros com avalia??es psicol?gicas dos assassinos em s?rie mais famosos da hist?ria. Avery n?o estava completamente ciente de que aquela era sua maneira de preencher o vazio que seu trabalho deixara. Quanto mais o tempo passava, mais ela imagina o que seria de seu futuro. Em uma manh?, enquanto corria em volta do lago Walden, com o frio queimando seus pulm?es e trazendo uma sensa??o mais prazerosa do que qualquer outra coisa, aquele pensamento a atingiu mais forte do que nunca. Sua mente estava cheia de perguntas sobre a encomenda de Howard Randall. Primeiro, como ele sabia onde ela estava morando? Por quanto tempo ele sabia? Antes da encomenda, Avery imaginava que ele tinha morrido ao cair na ?gua na noite que finalizou aquele terr?vel caso. Seu corpo nunca fora encontrado, mas a pol?cia acreditava que ele havia sido atingido por um tiro de um dos policiais antes de cair na ?gua. Enquanto corria, Avery tentou pensar em uma lista de pr?ximas passos para descobrir onde ele estava e porque ele tinha enviado aquela mensagem estranha: Quem ? voc?? A encomenda veio de Nova York, mas obviamente ele est? perto de Boston. Como ele saberia que eu me mudei? Como ele saberia onde ou moro? Aquilo, ? claro, trouxe ? sua mente imagens de Randall escondido entre as ?rvores e olhando para sua casa. Que sorte a minha, ela pensou. Todo mundo na minha vida morreu ou me expulsou. Faz sentido que um assassino seja o ?nico que pare?a se importar comigo. Ela sabia que a encomenda em si n?o traria respostas. J? sabia quando e de onde a caixa havia sido enviada. Era apenas Randall a provocando, fazendo-a saber que ele ainda estava vivo, ? solta, e interessado nela de um jeito ou de outro. A encomenda estava em sua mente quando Avery voltou da corrida. Ao tirar as luvas e a touca, com a bochecha rosa do frio, caminhou at? onde havia deixado a caixa. Ela j? tinha olhado a caixa inteira, procurando por pistas ou por significados escondidos deixados por Randall, mas n?o encontrara nada. Tamb?m n?o encontrara nada nas folhas de jornal amassadas. Havia lido todos os artigos no papel amassado, e nada parecia fazer sentido. Era apenas papel amassado. Mesmo assim, Avery havia lido e relido cada linha dos artigos v?rias vezes. Ela estava mexendo ansiosamente na caixa quando seu telefone tocou. Pegou-o da mesa da cozinha e olhou o n?mero na tela por um momento. Sorriu hesitantemente e tentou ignorar a alegria que tomou conta de seu cora??o. Era Connelly. Seus dedos congelaram por um momento porque, na verdade, ela n?o sabia o que fazer. Se ele tivesse ligado duas ou tr?s semanas antes, Avery teria simplesmente ignorado a liga??o. Mas agora... bom, algo era diferente agora, certo? E por mais que ela odiasse admitir, sabia que precisava agradecer a Howard Randall e sua carta por aquilo. No ?ltimo toque antes que a chamada ca?sse na caixa de mensagens, Avery atendeu. - Ei, Connelly – ela disse. Houve um sil?ncio do outro lado da linha antes que Connelly respondesse. - Ei, Black. Eu... bom, eu vou ser sincero. Eu estava esperando falar com sua caixa de mensagens. - Desculpe te decepcionar. - N?o, nada disso. Estou feliz em ouvir sua voz. J? faz um tempo. - Sim, tem sido estranho. - Devo entender que voc? se arrependeu de se aposentar t?o cedo? - N?o, eu n?o diria tanto. Como v?o as coisas? - V?o... v?o bem. Digo, tem um vazio na equipe que costumava ser preenchido por voc? e Ramirez, mas estamos nos virando. Finley est? melhorando muito. Ele tem trabalhado muito pr?ximo ao O’Malley. Acho que Finley, c? entre n?s, levou a s?rio quando voc? saiu. Ele decidiu que se algu?m fosse pegar seu lugar, seria ele. - Bom ouvir isso. Diga a ele que eu sinto falta dele. - Bom, eu esperava que voc? pudesse vir e dizer isso a ele pessoalmente – Connelly disse. - Acho que ainda n?o estou pronta para uma visita – ela respondeu. - Bom, eu nunca fui bom em conversa fiada – Connelly disse. – Vou direto ao ponto. - ? o que voc? faz de melhor – Avery disse. - Olhe... temos um caso— - Pode parar – ela disse. – N?o vou voltar. N?o agora. Provavelmente nunca, ainda que eu n?o possa negar totalmente essa possibilidade. - S? me ou?a, Black – ele disse. – Espere at? ouvir os detalhes. Na verdade, voc? provavelmente j? ouviu sobre ele. Est? nos jornais todo dia. - N?o assisto jornal – ela disse. – Cara, eu s? uso o computador para entrar na Amazon. N?o me lembro da ?ltima vez que li uma not?cia. - Bem, ? estranho demais e n?s n?o estamos conseguindo entender. Eu e O’Malley bebemos at? tarde ontem e decidimos que precis?vamos ligar para voc?. Isso n?o se trata somente de eu puxando seu saco e tentando te convencer... mas voc? ? a ?nica pessoa em quem n?s pensamos que poderia resolver essa. Se voc? n?o viu nos jornais, eu posso te contar o que— - A resposta ? n?o, Connelly – Avery disse, interrompendo. – Eu agrade?o a ideia e o convite, mas n?o. Se um dia eu estiver pronta para pensar em voltar, eu vou te ligar. - Um homem est? morto, Avery, e o assassino pode n?o ter acabado seu servi?o – ele disse. Por algum motivo, ouvi-lo dizer seu primeiro nome a chamou aten??o. - Desculpe, Connelly. Por favor mande um oi para o Finley. E ent?o, ela desligou. Olhou para o telefone, perguntando-se se havia cometido um erro. Avery estaria mentindo se dissesse a si mesma que a ideia de voltar ao trabalho n?o era animadora. At? o fato de ouvir a voz de Connelly a fez ter saudades daquela parte de sua antiga vida. Voc? n?o pode, disse a si mesma. Se voc? voltar ao trabalho agora, basicamente voc? estar? dizendo a Rose que voc? n?o est? nem a? para ela. E voc? estar? correndo para os bra?os da criatura que te colocou onde voc? est? agora. Avery levantou-se e olhou pela janela. Olhou as ?rvores, as sombras, e ent?o pensou na carta de Howard Randall. E na pergunta de Howard Randall. Quem ? voc?? Ela estava come?ando a achar que n?o sabia a resposta. E talvez estar longe do trabalho fosse o motivo. *** Avery mudou sua rotina naquela tarde pela primeira vez desde que havia a estabelecido. Dirigiu at? o sul de Boston, no cemit?rio de St. Augustine. Era um lugar que ela vinha evitando desde a mudan?a, n?o s? pela culpa, mas tamb?m porque o destino parecia ter sido manipulado para for?ar aquele golpe em sua vida. Ramirez e Jack estavam enterrados naquele cemit?rio, e ainda que estivesse a v?rias filas de dist?ncia, aquilo n?o importava para Avery. Para ela, o resultado de suas falhas estava representado no mesmo peda?o de grama. Por isso aquela era sua primeira visita ao local desde os funerais. Ela ficou no carro por um momento, olhando para a l?pide de Ramirez. Saiu do carro devagar e caminhou at? onde o homem com quem ela teria se casado descansava. O t?mulo era modesto. Algu?m havia recentemente colocado um buqu? de flores ali—provavelmente a m?e dele. Flores que morreriam no frio em poucos dias. Avery n?o sabia o que dizer, mas imaginou que fosse normal. Se Ramirez soubesse que ela estava ali e se ele pudesse ouvir suas palavras (e Avery realmente acreditava naquilo), ele saberia que ela nunca fora a melhor com sentimentos. Provavelmente, seja l? onde ele estivesse, ele estava surpreso por ela estar ali. Ela colocou a m?o no bolso e puxou o anel que Ramirez pretendia entreg?-la. - Saudades de voc? – disse. – Sinto sua falta e estou... perdida. N?o preciso mentir para voc?... n?o ? s? porque voc? se foi. N?o sei o que fazer. Minha vida est? destru?da e a ?nica coisa que poderia deixar tudo est?vel de novo—o trabalho—? provavelmente a pior ideia. Avery tentou imaginar ele ali, a seu lado. O que ele diria? Ela sorriu ao imaginar ele franzindo a testa, de seu jeito sarc?stico. Ligue o foda-se e entre nessa. Ele diria isso. Volte ao trabalho e fa?a o que voc? quer da sua vida. - Voc? n?o est? ajudando – Avery disse com sua pr?pria express?o de sarcasmo. Ela assustou-se um pouco ao perceber o qu?o natural era conversar com a l?pide de Ramirez. – Voc? me diria para voltar ao trabalho e ver o que acontece, n?o ?? Avery olhou para o t?mulo, como se estivesse esperando uma resposta. Uma l?grima caiu de seu olho direito. Ela a secou e virou-se, na dire??o do t?mulo de Jack. Ele havia sido enterrado no outro lado do cemit?rio, em uma lugar que ela mal podia ver dali. Caminhou pelo caminho estreito e aproveitou o sil?ncio. N?o deu aten??o ?s outras poucas pessoas que estavam ali, deixando-os tamb?m aproveitar sua privacidade. No entanto, ao se aproximar do t?mulo de Jack, Avery viu algu?m parado ali. Era uma mulher, pequena e com a cabe?a baixa. Com mais alguns passos, Avery viu que era Rose. Suas m?os estavam nos bolsos e ela vestia um moletom com touca, que cobria seu rosto. Avery n?o queria cham?-la, esperando poder chegar perto o suficiente para que elas pudessem conversar. Mas depois de mais alguns passos, Rose pareceu sentir que algu?m estava se aproximando. Ela virou-se, viu Avery, e imediatamente come?ou a se afastar. - Rose, n?o seja assim – Avery disse. – Podemos conversar s? um minuto? - N?o, m?e. Senhor, como voc? consegue estragar at? isso? - Rose! Mas Rose n?o tinha mais nada a dizer. Ela acelerou seus passos e Avery fez o poss?vel para n?o segui-la. Mais l?grimas ca?ram de seu rosto quando ela virou sua aten??o para o t?mulo de Jack. - De quem ela puxou essa teimosia? – Avery perguntou ao t?mulo. Assim como Ramirez, obviamente a l?pide de Jack estava em sil?ncio. Avery virou-se para a direita e viu Rose se distanciando. Ela caminhou rapidamente, at? sumir completamente ao longe. CAP?TULO QUATRO Quando Avery entrou no consult?rio da Doutora Higdon, sentiu-se vivendo um clich?. A doutora em si era muito equilibrada e educada. Ela parecia ter a cabe?a sempre levemente apontada para cima, mostrando perfeitamente a ponta de seu nariz e seu queixo. Era uma mulher bonita, talvez at? mais do que isso. Avery havia lutado contra a vontade de ir a uma psic?loga, mas conhecia sua mente o suficiente para saber que precisava daquilo. E era dif?cil admitir aquilo a si mesma. Ela odiava a ideia de visitar uma psic?loga e n?o queria recorrer aos servi?os fornecidos pela pol?cia de Boston—com profissionais que ela havia visitado algumas vezes ao longo dos anos em outros momentos dif?ceis da carreira. Por isso, Avery escolheu visitar a Doutora Higdon, uma psic?loga de quem havia ouvido falar um ano antes, durante um caso envolvendo um suspeito que visitara a profissional para superar uma s?rie de medos irracionais. - Agrade?o por voc? me atender t?o rapidamente – Avery disse. – Eu estava esperando conseguir um hor?rio s? para daqui a algumas semanas. Higdon encolheu os ombros e sentou-se em sua cadeira. Quando Avery sentou-se no sof?, a sensa??o de se tornar um clich? ambulante aumentou. - Bom, eu j? vi seu nome algumas vezes nos notici?rios – Higdon disse. – E seu nome j? apareceu aqui com outros pacientes, pessoas que aparentemente cruzaram seu caminho no trabalho. Ent?o, eu tinha um hor?rio livre hoje e imaginei que seria legal te conhecer. Percebendo que n?o era comum conseguir uma consulta com uma psic?loga respeitada apenas dois dias depois de telefonar, Avery sabia que n?o deveria fazer pouco caso da oportunidade. E, sabendo que n?o era de rodeios, decidiu ir direto ao ponto. - Eu quis visitar uma psic?loga porque, sinceramente, minha cabe?a est? uma bagun?a ultimamente. Uma parte me diz que vou melhorar com o tempo. Outra me diz que eu s? vou melhorar se fizer algo produtivo e familiar—o que me levaria de volta ao trabalho. - Eu sei muito pouco sobre a melhora que voc? est? procurando – Higdon disse. – Voc? pode me explicar melhor? Avery passou os dez minutos seguintes contando sua hist?ria. Ela come?ou contando como seu ?ltimo caso havia terminado, com a morte de seu ex-marido e de seu poss?vel noivo. Falou tamb?m sobre ter se mudado para longe da cidade e dos epis?dios recentes com Rose, tanto no apartamento da filha quanto ao lado da l?pide de Jack. A Doutora Higdon come?ou a fazer perguntas imediatamente, e n?o parou de tomar anota??es durante o tempo todo que Avery falou. - A mudan?a para o lago Walden... o que te fez querer isso? - Eu n?o queria ver gente. L? ? mais isolado, mais quieto. - Voc? sente que ? mais f?cil ficar bem, emocional e fisicamente, quando est? sozinha? – Higdon perguntou. - N?o sei. Eu s?... eu n?o queria estar em um lugar onde as pessoas poderiam vir ver como eu estou centenas de vezes por dia. - Voc? sempre teve problemas com as pessoas no que diz respeito ao seu bem-estar? Avery encolheu os ombros. - N?o mesmo. ? mais sobre vulnerabilidade, eu acho. No meu trabalho, vulnerabilidade leva ? fraqueza. - Eu duvido disso. No que diz respeito ? percep??o, provavelmente—mas n?o no estado real das coisas. – A doutora parou por um momento e depois continuou. – Eu n?o vou tentar ficar enrolando com outros assuntos para ir sutilmente ao ponto chave – ela disse. – Eu sei que voc? perceberia. Al?m disso, o fato de voc? admitir um medo de vulnerabilidade me diz muita coisa. Ent?o acho que posso ir direto ao ponto. - Eu preferiria – Avery disse. - O tempo que voc? passou sozinha em casa... voc? acredita que te ajudou a melhorar ou atrapalhou? - Acho que ? um exagero dizer que ajudou, mas tornou as coisas mais f?ceis. Eu sabia que n?o teria que lidar com o ataque das pessoas perguntando como eu estou. - Voc? tentou falar com algu?m durante esse tempo? - S? minha filha – Avery disse. - Mas ela rejeitou todas suas tentativas de se reconectar? - Isso. Tenho certeza que ela me culpa pela morte do pai. - Para ser sincera, provavelmente isso ? verdade – Higdon disse. – E ela vai se dar conta disso no tempo dela. O luto de cada pessoa ? diferente. Ao inv?s de fugir para uma casa no meio da floresta, sua filha escolheu colocar a culpa em voc?. Agora, deixe-me perguntar... por que voc? saiu do trabalho? - Porque eu senti que tinha perdido tudo – Avery disse. Ela nem precisou pensar para responder. – Senti que tinha perdido tudo e falhado no trabalho. N?o podia ficar, porque aquilo me lembrava que eu n?o era t?o boa. - Voc? ainda sente que voc? n?o ? t?o boa? - Bom... n?o. Posso parecer arrogante, mas eu sou muito boa no que eu fa?o. - E voc? sentiu falta do trabalho pelos ?ltimos tr?s meses, certo? - Sim – Avery admitiu. - Voc? acha que seu desejo de voltar ? s? para voltar a ter sua vida de antes ou voc? acha que pode ter algum progresso a ser feito l?? - Ent?o, eu n?o sei. Mas estou chegando ao ponto onde eu acho que tenho que descobrir. Eu acho que tenho que voltar. A Doutora Higdon assentiu e escreveu algo. - Voc? acha que sua filha vai reagir negativamente se voc? voltar? - Sem d?vidas. - Tudo bem, ent?o vamos dizer que ela n?o est? nessa conta. Vamos dizer que Rose n?o est? nem a? se voc? vai voltar ou n?o. Voc? hesitaria em voltar? A resposta atingiu Avery como uma pontada na cabe?a. - Provavelmente n?o. - Acho que sua resposta est? a? – Higdon disse. – Acho que, nesse ponto do processo de luto, voc? e sua filha n?o podem se intrometer uma no luto da outra. Rose precisa culpar algu?m nesse momento. ? o jeito dela de lidar com isso... e a rela??o dif?cil de voc?s deixa tudo mais f?cil para ela. E voc?... eu quero dizer que voltar ao trabalho ? o que vai poder te ajudar. - Voc? quer dizer? – Avery perguntou, confusa. - Sim, eu acho que ? o que faz mais sentido, dada sua hist?ria e seus relatos. No entanto, durante esse tempo sozinha, isolada de todos, voc? chegou a ter pensamentos suicidas? - N?o – Avery mentiu. A mentira foi f?cil e sem arrependimentos. – Eu ando mal, de fato. Mas n?o tanto. Sim, ela havia omitido seu quase-suic?dio. Tamb?m n?o havia mencionado a encomenda de Howard Randall ao contar sobre seus ?ltimos meses. Ela n?o sabia porque. Naquele momento, aquilo apenas parecia algo muito particular. - Se ? assim – Higdon disse, - n?o vejo problemas em voc? voltar ao trabalho. Mas acho que voc? deveria ter algu?m como parceiro. E eu sei que pode ser dif?cil, pensando em quem era seu ?ltimo parceiro. Mesmo assim... voc? n?o pode ser colocada em situa??es de muito estresse sozinha, pelo menos n?o j?. Eu recomendaria que voc? fizesse um trabalho mais leve por enquanto. Talvez algo de escrit?rio. - Sendo sincera... isso n?o vai acontecer. Higdon sorriu levemente. - Ent?o voc? acha que ? isso o que voc? vai fazer? Voc? vai ver se a volta ao trabalho pode ajudar voc? a se livrar dessas d?vidas e culpas sobre si mesma? - Logo, logo – Avery disse, pensando na liga??o de Connelly, dois dias antes. – Sim, acho que pode ajudar. - Bom, te desejo sorte - Higdon disse, estendendo a m?o para cumprimentar Avery. - Enquanto isso, sinta-se ? vontade para me ligar se precisar de algo. Avery apertou a m?o de Higdon e saiu do consult?rio. Ela odiava admitir, mas estava se sentindo melhor do que nas ?ltimas semanas—desde quando havia finalmente encontrado uma rotina de exerc?cios f?sicos e da mente. Percebeu que, agora, poderia pensar mais claramente, e n?o porque Higdon tinha descoberto alguma verdade escondida. Avery precisava simplesmente que algu?m a dissesse que, mesmo que Rose fosse a ?nica pessoa restante em sua vida fora do trabalho, aquilo n?o significava que seu medo de como Rose a via deveria ditar como ela viveria o resto de sua vida. Avery entrou em seu carro e dirigiu de volta at? sua casa. Ela viu os pr?dios altos de Boston ficando para tr?s. A sede do A1 ficava a cerca de vinte minutos dali. Ela poderia ir at? l?, visitar a todos e ser bem recebida. Poderia simplesmente tirar o curativo e ir at? l?. Mas ela n?o merecia ser bem recebida. Na verdade, ela n?o sabia o que merecia. E talvez era da? que vinha sua hesita??o. *** O pesadelo daquela noite n?o era novo, mas havia apresentado uma mudan?a na hist?ria. Nele, Avery estava em uma sala de visita??o de uma pris?o. N?o era a mesma onde ela havia visitado Howard Randall algumas vezes, mas sim algo muito maior e quase com apar?ncia grega. Rose e Jack estavam na mesa, com um tabuleiro de xadrez entre eles. Todas as pe?as seguiam no tabuleiro, mas os reis estavam ca?dos. - Ele n?o est? aqui – Rose disse, com sua voz ecoando pela sala. – Sua pequena arma secreta n?o est? aqui. - ? isso – Jack disse. – J? ? hora de aprender a resolver seus maiores casos sozinha. Jack ent?o passou uma m?o pelo rosto e, num piscar de olhos, estava exatamente como Avery tinha encontrado seu corpo no dia de sua morte. O lado direito do rosto estava lavado de sangue. Quando ele abriu a boca para falar, n?o havia l?ngua em sua boca. Havia apenas uma escurid?o entre os dentes, um abismo de onde vinham suas palavras e onde, Avery suspeitava, Jack queria que ela estivesse. - Voc? n?o conseguiu me salvar – ele disse. – N?o conseguiu me salvar e agora eu tenho que confiar minha filha a voc?. Rose levantou-se nesse momento e come?ou a se afastar da mesa. Avery levantou-se tamb?m, certa de algo muito ruim aconteceria se Rose sa?sse de seu campo de vista. Ela tentou seguir sua filha, mas n?o conseguiu se mover. Olhou para baixo e viu que seus dois p?s estavam pregados no ch?o com pregos de estradas de ferro. Seus p?s estavam machucados, uma mistura de sangue, ossos e carne. - Rose! Mas sua filha apenas olhou para tr?s, sorrindo e acenando. E quanto mais longe ela ia, maior a sala parecia. Sombras vinham de todas as dire??es enquanto Rose diminu?a. - Rose! - Tudo bem – uma voz disse atr?s de Avery. – Eu vou cuidar dela. Ela virou-se e viu Ramirez, segurando sua arma e olhando para as sombras. Ramirez come?ou a seguir Rose, e as sombras vieram atr?s dele. - N?o! Fique! Avery tentou sair do ch?o, mas seus p?s seguiam trancados. Ela pode apenas ver as duas pessoas que mais amava no mundo sendo engolidas pela escurid?o. E nessa hora ela come?ou a gritar, fugindo da sombra, com Rose e Ramirez sumindo da sala, tomada por gritos de agonia. Ainda ? mesa, Jack disse: - Pelo amor de Deus, fa?a algo! Foi nesse momento que Avery pulou na cama, com um grito saindo de sua garganta. Ela acendeu o abajur com as m?os tremendo. Por um momento, n?o pode entender o quarto enorme a sua frente, mas logo seus olhos se acostumaram com a luz. Olhou em volta pelo quarto e, pela primeira vez, perguntou-se se um dia se sentiria em casa ali. Avery encontrou-se pensando na liga??o de Connelly. E depois na encomenda de Howard Randall. Sua antiga vida estava a assombrando, claro, mas al?m disso, estava invadindo a nova vida, isolada, que ela estava tentando construir. Parecia n?o haver escapat?ria. Ent?o talvez—apenas talvez—fosse hora de escapar. CAP?TULO CINCO Ao decidir parar de beber muito durante o per?odo mais triste de seu processo de luto, Avery havia come?ado vagarosamente a trocar o ?lcool por cafe?na. Suas sess?es de leitura geralmente eram acompanhadas de duas x?caras de caf? com uma Coca Diet entre elas. Por conta disto, ela havia come?ado a sentir pequenas dores de cabe?a quando passava mais de um dia sem caf?. N?o era a maneira mais saud?vel de viver, mas com certeza era melhor do que ingerir ?lcool todos os dias. Por isso Avery foi at? uma cafeteria depois do almo?o no dia seguinte. Ela havia sa?do de casa para ir ? mercearia porque estava sem caf? em casa, mas como s? havia tomado uma x?cara no dia, decidiu ir ? cafeteria para solucionar o problema rapidamente. Ela tinha um livro para terminar de ler, mas tamb?m pretendia ir ? floresta para mais uma ca?a aos veados. A cafeteria era um local popular na localidade, e quatro pessoas estavam trabalhando em seus MacBooks por l?. A fila no balc?o era grande, mesmo ainda sendo bem cedo. O burburinho das conversas tomava conta do local, misturando-se ao barulho da m?quina de caf? e ao volume baixo da TV, nos fundos do estabelecimento. Avery foi at? o caixa, pediu seu caf? expresso e escolheu um lugar na ?rea de espera. Passou o tempo olhando para o pequeno quadro de corti?a, repleto de fliers de eventos locais: shows, corridas, eventos beneficentes, etc. Ent?o, percebeu uma conversa a seu lado. Fez o poss?vel para n?o parecer ?bvio que ela estava prestando aten??o, mantendo seu olhos focados no quadro de eventos. Havia duas mulheres a seu lado. Uma tinha vinte e poucos anos e tinha um sling no peito. O beb? descansava tranquilamente no aconchego da m?e. A outra mulher era um pouco mais velha e tinha um caf? em m?os, mas n?o parecia estar prestes a sair da cafeteria. As duas estavam prestando aten??o ? TV. Elas conversavam em voz baixa, mas Avery pode entender com facilidade. - Meu Deus... voc? soube dessa hist?ria? – a m?e da crian?a dizia. - Sim – a outra mulher respondeu. – Parece que as pessoas est?o encontrando novas maneiras de machucar umas ?s outras. Que tipo de mente doente voc? precisa ter para simplesmente pensar em algo assim? - Parece que ainda n?o encontraram o maluco – a m?e disse. - Provavelmente nem v?o encontrar – a outra respondeu. Se fossem pegar esse cara, eles j? teriam pelo menos pistas. Senhor... imagine a fam?lia desse pobre cara, tendo que ver todas essas not?cias. A aten??o de Avery voltou-se ent?o para a barista, que chamou seu nome e a entregou o caf? no balc?o. Avery o pegou e, agora olhando para a TV, permitiu-se assistir ao notici?rio pela primeira vez em quase tr?s meses. Uma morte havia acontecido nos arredores da cidade uma semana antes, em um complexo de apartamentos simples. N?o fora uma morte qualquer, e sim um assassinato bizarro. A v?tima fora encontrada em seu closet, coberta de aranhas de v?rias esp?cies. A pol?cia estava trabalhando com a hip?tese de que o ato fora intencional, j? que metade das aranhas eram de esp?cies que n?o eram nativas da regi?o. Mesmo com muitas aranhas na cena do crime, apenas duas picadas haviam sido encontrados no corpo, e nenhuma fora venenosa. De acordo com o notici?rio, at? ent?o, a pol?cia estava trabalhando com a hip?tese de que o homem havia sido morto ou por estrangulamento, ou de ataque card?aco. S?o duas causas bem diferentes para uma morte, Avery pensou ao come?ar a se virar. Ela n?o pode deixar de imaginar se aquele era o quase para o qual Connelly havia lhe chamado tr?s dias antes. Um caso totalmente bizarro e, at? ent?o, sem respostas concretas. ?, provavelmente ? esse o caso, ela pensou. Com seu caf? em m?os, Avery saiu. Ela tinha o resto da tarde pela frente, mas j? sabia onde deveria ir. Gostando da ideia ou n?o, provavelmente ela ficaria de frente com muitas aranhas. *** Avery passou o restante da tarde se familiarizando com o caso. A hist?ria em si era t?o m?rbida que ela n?o teve dificuldades em encontrar muitas informa??es. Ao realizar sua pesquisa, encontrou onze fontes confi?veis que contavam a hist?ria do que havia acontecido com um homem chamado Alfred Lawnbrook. O dono do apartamento onde Lawnbrook morava havia entrado na casa querendo cobrar um atraso de duas semanas no aluguel e notara que algo estava errado imediatamente. Ao ler aquilo, Avery n?o pode deixar de comparar a situa??o com sua recente experi?ncia com Rose e o dono do apartamento que sua filha alugava e, na verdade, assustou-se muito com isso. Alfred Lawnbrook havia sido encontrado em seu closet. Ele estava parcialmente enrolado em pelo menos tr?s diferentes teias de aranha, com duas picadas diferentes—picadas que, pelo que o notici?rio havia dito, n?o haviam causado muitos danos. Mesmo sendo imposs?vel ter um n?mero exato, a estimativa era de que entre quinhentas e seiscentas aranhas haviam sido encontradas na cena. Algumas delas eram ex?ticas e n?o fazia sentido que elas estivessem em um apartamento em Boston. Uma aracn?loga havia sido chamada para ajudar no caso e encontrado pelo menos tr?s esp?cies que n?o eram nativas dos Estados Unidos, muito menos de Massachusetts. Ent?o foi algo intencional, Avery pensou. Muito. T?o intencional que faz pensar que esse cara vai agir de novo. E se ele vai agir de novo da mesma maneira, tem que ser poss?vel encontr?-lo e par?-lo. O relat?rio do legista dizia que Lawnbrook havia morrido de ataque card?aco, provavelmente pelo medo sentido diante da situa??o. Claro, j? que ningu?m havia presenciado a cena do crime, havia muitos outros cen?rios poss?veis. Ningu?m poderia ter certeza. Era, de fato, um caso interessante... e um tanto quanto m?rbido. Avery n?o tinha muito medo, mas aranhas gigantes certamente estavam no topo de sua lista de Coisas Para Ficar Longe. E mesmo que imagens do crime n?o tivessem sido divulgadas pela m?dia (ainda bem!), Avery podia imaginar a cena. De posse de todas as informa??es, Avery olhou pela janela por um bom tempo. Depois, foi at? a cozinha e moveu-se em sil?ncio, como se estivesse com medo de ser flagrada. Pegou uma garrafa de whisky pela primeira vez em meses e serviu uma dose a si mesma. Tomou-a rapidamente e pegou seu telefone. Procurou o n?mero de Connelly e apertou em LIGAR. Ele atendeu ao segundo toque—algo muito r?pido para os padr?es de Connelly. Avery imaginou que aquilo queria dizer algo, dada toda a situa??o. - Black – ele disse. – Eu n?o esperava que voc? ligasse. Avery ignorou as formalidades e disse: - Ent?o, esse caso pelo qual voc? me ligou... Era esse envolvendo Alfred Lawnbrook e as aranhas? - Sim – Connelly respondeu. – A cena j? foi analisada, o corpo tamb?m, e n?o temos absolutamente nada. - Eu vou entrar nessa – ela disse. – Mas s? nesse caso. E eu quero fazer isso nas minhas condi??es. N?o quero ningu?m atr?s de mim s? porque passei por momentos dif?ceis. Pode ser? - Vou fazer o poss?vel. Avery suspirou, resignada ao perceber como era bom se sentir ?til e como sua vida em breve voltaria a ser como antes. - Tudo bem – ela disse. – Vejo voc? no A1 amanh? cedo. CAP?TULO SEIS Avery n?o sabia ao certo o que esperar quando voltou ? sede da pol?cia pela primeira vez depois de mais de tr?s meses. Talvez algumas borboletas no est?mago ou uma onda de nostalgia. Talvez uma sensa??o de seguran?a, que a faria pensar em porque ela achou que seria uma boa ideia se demitir. O que ela n?o esperava era n?o sentir nada. Mesmo assim, essa foi a sensa??o. Ao voltar ao A1 na manh? seguinte, n?o sentiu nada especial. Parecia quase que ela havia apenas perdido um dia de trabalho e estava voltando para outro dia—um outro dia comum, exatamente como antes. No entanto, aparentemente, ela era a ?nica no local que estava se sentindo daquele jeito. Ao entrar no pr?dio e caminhar em dire??o a sua velha sala, Avery percebeu que a movimenta??o t?pica das manh?s ia ficando em sil?ncio quando ela passava. Era quase como se uma onda de sil?ncio estivesse lhe seguindo. As recepcionistas ao telefone ficavam quietas, os murmurinhos de conversa eram interrompidos. Todos pareciam estar vendo uma celebridade entrando no pr?dio. Os olhos se arregalavam e as express?es eram de incredulidade. Avery perguntou-se por um momento se Connelly havia se preocupado em avisar a algu?m que ela estava voltando. Ao caminhar pela parte central do pr?dio em dire??o aos fundos, onde ficavam os escrit?rios e as salas de reuni?o, tudo pareceu mais natural. Miller, um funcion?rio de relat?rios e pesquisa, acenou para ela. Denson, uma agente mais velha, prestes a se aposentar, sorriu, a cumprimentou e disse: - ? bom ter voc? de volta. Avery retribuiu o sorriso, pensando: Eu n?o voltei. No entanto, logo depois, outro pensamento veio ? tona. Enfim. Minta para si mesma se quiser. Mas tudo parece muito natural. Parece a coisa certa. Avery viu Connelly saindo de sua sala no fim do corredor. O homem que havia sido o motivo de v?rias de suas dores de cabe?a ao longo dos anos. Mesmo assim, Avery estava feliz em v?-lo. O sorriso no rosto dele mostrava que a felicidade era m?tua. Ele a encontrou no corredor e Avery pode ver que o capit?o do A1—geralmente um dur?o de m?o cheia—estava se segurando para n?o abra??-la. - Como foi entrar aqui de novo? – ele perguntou. - Estranho – Avery disse. – Est?o olhando para mim como se eu fosse uma celebridade ou algo do tipo. N?o consegui decifrar se eles querem me matar com os olhos ou me aplaudir. - Na verdade, eu estava preocupado, achei que eles iam se levantar e te ovacionar quando voc? entrasse. As pessoas sentem sua falta aqui, Black. Bom... sua e do Ramirez tamb?m. - Agrade?o, senhor. - Bom. Porque eu estou prestes a te mostrar algo que vai te irritar. Olhe... l? no fundo, eu tinha a esperan?a de que voc? voltaria algum dia. Mas n?s n?o poder?amos deixar o A1 inteiro parado, esperando esse dia chegar. Ent?o voc? meio que n?o tem mais uma sala. Connelly explicou aquilo a Avery enquanto a levava pelo corredor, na dire??o de sua antiga sala. - Isso n?o ? importante – Avery disse. – Quem ficou com aquela sala? Connelly n?o respondeu. Ao inv?s disso, ele deu os ?ltimos passos at? a antiga sala de Avery e acenou com a cabe?a para ela. Avery aproximou-se da porta e colocou a cabe?a para dentro. Seu cora??o se aqueceu ao ver quem estava ali. Finley estava sentado ? mesa, tomando um gole de uma x?cara de caf? e lendo algo no notebook. Quando ele viu Avery, seu rosto demonstrou v?rias emo??es: susto, felicidade e um pouco de vergonha. Ele n?o teve a mesma restri??o de Connelly. No mesmo momento, levantou-se e encontrou Avery na porta com um abra?o. Ela havia subestimado o quanto sentia falta dele. Mesmo os dois nunca tendo trabalhado de fato juntos, Avery havia gostado de ver Finley, aos poucos, crescendo como agente. Ele era engra?ado, leal e tinha um cora??o genuinamente bom. Avery sempre o vira como um irm?o distante no trabalho. - ? bom ter voc? de volta – Finley disse. – Sentimos sua falta por aqui. - Eu j? disse tudo isso para ela – Connelly disse. – N?o vamos fazer ela ouvir tudo de novo no primeiro dia de volta. Cara, eu n?o voltei, Avery pensou. Mas seu pensamento pareceu mais falso do que cinco minutos antes. - Voc? quer que eu a leve at? l?? – Finley perguntou. - Sim, e logo. O’Malley vai querer conversar com ela depois e eu quero que ela saiba de tudo quando ele chegar aqui. Leve ela l? e conte tudo o que n?s sabemos. Tente sair em menos de dez minutos, se voc? puder. Finley assentiu, visivelmente feliz com a tarefa que lhe foi dada. Enquanto ele voltava para seu computador, Connelly voltou a falar com Avery. - Venha comigo – ele disse. Avery o seguiu pelo corredor, at? a grande sala nos fundos. A sala de Connelly n?o havia mudado muito desde que Avery sa?ra. Ainda era desarrumada, mas de um jeito bom. Ele abriu a primeira gaveta de sua mesa e pegou duas coisas das quais Avery sentia mais falta do que provavelmente todas as pessoas naquele pr?dio. Sua arma e seu distintivo. Ela sorriu ao peg?-los. - Eu j? preenchi os formul?rios para voc? – Connelly disse. – S?o seus. E sobre pagamentos e o tempo que voc? vai trabalhar, j? estou lidando com a papelada tamb?m. Avery realmente n?o se importava com o pagamento ou com o per?odo que ela deveria ficar no caso. Quando seus dedos tocaram o distintivo e a Glock, ela sentiu algo voltando para o lugar certo em seu cora??o. Por mais triste que fosse, o distintivo e a arma eram algo familiar. Ela se sentia em casa com eles. *** O crime havia acontecido seis dias antes e, portanto, a cena j? estava vazia quando Avery e Finley chegaram ao local. Eles passaram por baixo da fita amarela e Avery viu Finley destrancar a porta do apartamento de Alfred Lawnbrook com uma chave que estava no envelope no bolso de sua camisa. - Voc? tem medo de aranhas? – Finley perguntou quando eles entraram. - Um pouco – Avery respondeu. – Mas essa informa??o n?o sai daqui, pode ser? Finley assentiu, com um leve sorriso. - S? pergunto porque mesmo que os aracn?logos tenham vindo e tirado elas daqui, pode ser que tenham sobrado algumas. As mais comuns, nada perigoso. Finley levou Avery pelo apartamento. Era bem simples, e o design fez Avery pensar que Lawnbrook era ou divorciado, ou solteiro. - Mas havia algumas que n?o eram esp?cies comuns aqui, certo? - Com certeza – Finley disse. – Pelo menos tr?s esp?cies. Uma era origin?ria da ?ndia, eu acho. Eu tenho as anota??es detalhadas no meu telefone se voc? quiser. O especialista em aranhas que analisou o local disse que havia pelo menos duas esp?cies na cena do crime quando o corpo foi encontrado que devem ter sido encomendadas de um traficante. E que elas devem ter sido dif?ceis de conseguir. - Alguma era muito grande? – Avery perguntou. - Acho que eles falaram que a maior tinha o tamanho de uma bola de golfe. E, para mim, isso j? ? grande demais. Eles entraram no quarto e Avery fez o poss?vel para n?o come?ar a procurar aranhas nas paredes e no ch?o. Ela escaneou o local rapidamente e o encontrou muito limpo. A porta do closet estava aberta, o que permitiu que Finley entrasse e acendesse a luz. Ele o fez rapidamente e saiu com a mesma velocidade. - Lawnbrook estava ca?do aqui, no canto esquerdo – Finley disse. – Temos as fotos no A1 e tenho certeza que O’Malley vai querer analis?-las com voc?. Esse cara est? fascinado com esse caso. Avery parou na porta do closet. Al?m de algumas teias de aranha perdidas, n?o havia nada para ser visto. Depois, ela saiu do quarto e come?ou a caminhar pela apartamento procurando sinais de entrada for?ada. Finley a seguiu, mantendo dist?ncia e deixando-a trabalhar. Avery procurou por qualquer sinal de algo fora do lugar, mesmo alguma foto na sala, mas n?o encontrou nada. Ela analisou os livros na pequena prateleira ao lado da TV e n?o encontrou nada que conectasse Lawnbrook a aranhas. Конец ознакомительного фрагмента. Текст предоставлен ООО «ЛитРес». Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=51923570&lfrom=688855901) на ЛитРес. 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