*** Òâîåé Ëóíû çåëåíûå öâåòû… Ìîåé Ëóíû áåñïå÷íûå ðóëàäû, Êàê ñâåòëÿ÷êè ãîðÿò èç òåìíîòû,  ëèñòàõ âèøíåâûõ ñóìðà÷íîãî ñàäà. Òâîåé Ëóíû ïå÷àëüíûé êàðàâàí, Áðåäóùèé â äàëü, òðîïîþ íåâåçåíüÿ. Ìîåé Ëóíû áåçäîííûé îêåàí, È Áðèãàíòèíà – âåðà è ñïàñåíüå. Òâîåé Ëóíû – ïå÷àëüíîå «Ïðîñòè» Ìîåé Ëóíû - äîâåð÷èâîå «Çäðàâñòâóé!» È íàøè ïàðàëëåëüíûå ïóòè… È Ç

A Ascens?o dos Drag?es

A Ascens?o dos Drag?es Morgan Rice Reis e Feiticeiros #1 Se voc? achou que n?o havia mais motivos para viver ap?s o final da s?rie O Anel do Feiticeiro, voc? estava enganado. Em A ASCENS?O DOS DRAG?ES, Morgan Rice come?a o que pode se se tornar mais uma s?rie brilhante, que nos levar? a um mundo de fantasia com trolls e drag?es em uma hist?ria de luta, honra, coragem, m?gina e confian?a quanto ao destino. Morgan mais uma vez conseguiu criar personagens fortes que deixar?o todos na torcida a cada p?gina.. Recomendado para fazer parte da biblioteca permanente de leitores que apreciam o g?nero de fantasia. Books and Movie Reviews, Roberto MattosBestseller n?1! Da autora Besteseller Morgan Rice surge uma nova s?rie de fantasia ?pica: A ASCENS?O DOS DRAG?ES (REIS E FEITICEIROS – Livro 1) . Kyra, 15 anos, sonha em se tornar uma guerreira famosa, como seu pai, embora ela seja a ?nica garota em uma fortaleza de meninos. Enquanto luta para entender suas habilidades especiais, – sua misteriosa for?a interior, ela percebe que ? diferente dos demais. Mas um segredo quanto ao seu nascimento e sobre uma profecia est? sendo guardado, deixando Kyra se perguntando quem ela realmente ?. Quando Kyra atinge a idade prevista e um senhor local se aproxima para lev?-la embora, seu pai planeja realizar um casamento para salv?-la. Mas Kyra se recusa, e come?a sua pr?pria jornada, por uma floresta perigosa, onde ela encontra um drag?o ferido – e inicia uma s?rie de eventos que mudar?o o reino para sempre. Enquanto isso, Alec, um garoto de 15 anos, se sacrifica pelo irm?o, assumindo o seu lugar durante a convoca??o e sendo levado para as Chamas, uma parede de fogo com cem metros de altura, pra impedir o avan?o do ex?rcito de trolls em dire??o ao Ocidente. Do outro lado do reino, Merk, um mercen?rio que luta para deixar seu passado para tr?s, atravessa a floresta em busca de se tornar um Vigilante das Torres e ajudar a proteger a Espada de Fogo, a fonte de todo o poder m?gico do reuno. Mas os Trolls tamb?m querem a Espada – e se preparam para uma invas?o em massa que poderia destruir o reino para sempre. Com esta forte atmosfera e personagens complexos, A ASCENS?O DOS DRAG?ES ? uma saga de cavaleiros e guerreiros, reis e senhores, honra e coragem – uma hist?ria m?gica, repleta de monstros e drag?es. ? uma hist?ria de amor e cora??es partidos; de decep??es, ambi??o e trai??es. O melhor do g?nero de fantasia, levando os leitores de todas as idades a um mundo que nunca ser? esquecido. Livro n? 2 da s?rie REIS E FEITICEIROS ser? publicado em breve. A ASCENS?O DOS DRAG?ES ? um sucesso – desde o come?o.. Uma excelente hist?ria de fantasia.. Ela come?a, como deveria, com as dificuldades de um protagonista e se desenvolve em uma s?rie de eventos envolvendo cavaleiros, drag?es, m?gica, monstros e destino.. Todos os ingredientes do g?nero da fantasia est?o presentes, desde soldados e batalhas a questionamentos internos.. Uma ?tima recomenda??o para os f?s de fantasia, em uma narrativa impulsionada por protagonistas fortes e jovens. Midwest Book Review, D. Donovan, eBook Reviewer Morgan Rice A Ascens?o Dos Drag?es (Reis E Feiticeiros–Livro 1) Sobre Morgan Rice Morgan Rice ? a autora do bestseller N?1 DI?RIOS DE UM VAMPIRO, uma s?rie destinada a jovens adultos composta por onze livros (em progresso); da s?rie bestseller N?1 TRILOGIA DE SOBREVIV?NCIA, um thriller p?s-apocal?ptico composto por dois livros (em progresso); e da s?rie bestseller N?1 de fantasia ?pica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por treze livros (e contando). Os livros de Morgan est?o dispon?veis em ?udio e vers?es impressas, e tradu??es dos livros est?o dispon?veis em alem?o, franc?s, italiano, espanhol, portugu?s, japon?s, chin?s, sueco, holand?s, turco, h?ngaro, eslovaco (e mais idiomas em breve). TRANSFORMADA (Livro N?1 da s?rie Di?rios de um Vampiro), ARENA UM (Livro N?1  da s?rie Trilogia de Sobreviv?ncia) e EM BUSCA DE HER?IS (Livro N?1  da s?rie O Anel do Feiticeiro) est?o dispon?veis gratuitamente no Google Play! Morgan gosta de ouvir sua opini?o, ent?o por favor, sinta-se ? vontade em visitar www.morganricebooks.com para se juntar ? lista de correspond?ncia, receber um livro gr?tis, receber brindes, efetuar o download do aplicativo gratuito, receber as ?ltimas not?cias exclusivas, se conectar com o Facebook e o Twitter, e manter contato! Cr?ticas aos livros de Morgan Rice “Uma fantasia espirituoso que inclui elementos de mist?rios e intriga em sua trama. Em Busca de Her?is mostra onde nasce a coragem e como a busca por um prop?sito leva ao crescimento, amadurecimento e excel?ncia… Para aqueles que buscam aventuras, os protagonistas, acontecimentos e a??o oferecem uma s?rie de acontecimentos relacionados ? evolu??o de Thor de uma crian?a sonhadora a um jovem adulto e sua busca pela sobreviv?ncia apesar de todas as dificuldades… Este ? apenas o come?o de uma s?rie de literatura juvenil ?pica.”     Midwest Book Review (D. Donovan, Cr?tica de E-livros) “O ANEL DO FEITICEIRO re?ne todos os ingredientes para um sucesso instant?neo: tramas, intrigas, mist?rio, bravos cavaleiros e relacionamentos repletos de cora??es partidos, decep??es e trai??es. O livro manter? o leitor entretido por horas e agradar? a pessoas de todas as idades. Recomendado para fazer parte da biblioteca permanente de todos os leitores do g?nero de fantasia.”     --Books and Movie Reviews, Roberto Mattos. “A fantasia ?pica de Rice [O ANEL DO FEITICEIRO] inclui as caracter?sticas cl?ssicas do g?nero – um lugar marcante, altamente inspirado pela antiga Esc?cia e sua hist?ria, e uma boa medida de intriga da corte.”     —Kirkus Reviews “Adorei como Morgan Rice construiu o personagem de Thor e o mundo em que ele vive. A paisagem e as criaturas que vivem no lugar s?o bem descritas… Eu gostei de trama, curta e doce… A quantidade ideal de personagens secund?rios me ajudou a n?o ficar confusa. H? bastante aventura e momentos angustiantes, mas a a??o contida no livro n?o ? excessivamente violenta. O livro ? ideal para leitores adolescentes… H? ind?cios de algo realmente marcante no primeiro livro da s?rie…"     --San Francisco Book Review “Neste livro recheado de a??o, o primeiro da s?rie de fantasia O Anel do Feiticeiro (que atualmente conta com 14 livros), Rice introduz os leitores ao garoto de 14 anos Thorgrin "Thor" McLeod, cujo sonho ? juntar-se ao Ex?rcito Prata, os cavaleiros de elite do rei… A narrativa de Rice ? s?lida e intrigante.”     --Publishers Weekly “[EM BUSCA DE HER?IS] ? de leitura r?pida e f?cil. Os finais dos cap?tulos fazem com que voc? queira ler mais e ? imposs?vel deixar o livro de lado. H? alguns erros ortogr?ficos no livro e alguns nomes est?o trocados, mas isso n?o interfere no andamento da hist?ria. O final do livro fez com que eu adquirisse o livro seguinte imediatamente. Todos os livros dispon?veis da s?rie O Anel do Feiticeiro podem atualmente ser adquiridos na loja da Kindle e Em Busca de Her?is est? dispon?vel gratuitamente para que voc? comece a ler! Se estiver ? procura de algo r?pido e divertido para ler nas f?rias, este ? o livro ideal.”     --FantasyOnline.net Livros de Morgan Rice REIS E FEITICEIROS A ASCENS?O DOS DRAG?ES (Livro n?1) O ANEL DO FEITICEIRO EM BUSCA DE HER?IS (Livro n?1) UMA MARCHA DE REIS (Livro n?2) UM DESTINO DE DRAG?ES (Livro n?3) UM GRITO DE HONRA (Livro n?4) UM VOTO DE GL?RIA (Livro n?5) UMA CARGA DE VALOR (Livro n?6) UM RITO DE ESPADAS (Livro n?7) UM ESCUDO DE ARMAS (Livro n?8) UM C?U DE FEITI?OS (Livro n?9) UM MAR DE ESCUDOS (Livro n?10) UM REINADO DE A?O (Livro n?11) UMA TERRA DE FOGO (Livro n?12) UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro n? 13) UM JURAMENTO DE IRM?OS (Livro n? 14) UM SONHO DE MORTAIS (Livro n? 15) UMA JUSTA DE CAVALEIROS (Livro n? 16) O PRESENTE DA BATALHA (Livro n? 17) TRILOGIA DE SOBREVIV?NCIA ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro n? 1) ARENA DOIS (Livro n? 2) MEM?RIAS DE UM VAMPIRO TRANSFORMADA (Livro n? 1) AMADA (Livro n? 2) TRA?DA (Livro n? 3) PREDESTINADA (Livro n? 4) DESEJADA (Livro n? 5) COMPROMETIDA (Livro n? 6) PROMETIDA (Livro n? 7) ENCONTRADA (Livro n? 8) RESSUSCITADA (Livro n? 9) ALMEJADA (Livro n? 10) DESTINADA (Livro n? 11) Fa?a o dwnload dos livros de Morgan Rice no Google Play agora mesmo! Copyright © 2014 por Morgan Rice Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos Autorais dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publica??o pode ser reproduzida, distribu?da ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recupera??o, sem a autoriza??o pr?via da autora. Este e-book ? licenciado para o seu uso pessoal.  Este e-book n?o pode ser revendido ou cedido a outras pessoas.  Se voc? gostaria de compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma c?pia adicional para cada destinat?rio.  Se voc? estiver lendo este livro sem t?-lo comprado, ou se ele n?o foi comprado apenas para seu uso pessoal, por favor, devolva-o e adquira sua pr?pria c?pia.  Obrigado por respeitar o trabalho da autora. Esta ? uma obra de fic??o.  Nomes, personagens, empresas, organiza??es, entidades, eventos e incidentes s?o produto da imagina??o do autor ou foram usados de maneira fict?cia.  Qualquer semelhan?a com pessoas reais, vivas ou falecidas, ? mera coincid?ncia. Imagem da capa copyright Photosani, usada com autoriza??o da Shutterstock.com. “Os homens ?s vezes s?o senhores de seus destinos: A culpa, caro Brutus, n?o ? das estrelas, Mas de n?s mesmos, que somos  subalternos.”     --William Shakespeare     Julio C?sar CAP?TULO UM Kyra fica no topo de uma colina gramada com o solo congelado sob suas botas e a neve caindo ao seu redor, e tenta ignorar o frio cortante ao erguer seu arco e se concentrar em seu alvo. Ela aperta os olhos, ignorando o resto do mundo – o vento que sopra, o som de um corvo distante – e se esfor?a para ver apenas a ?rvore de vidoeiro magro, distante, branca, destacando-se no meio da paisagem de pinheiros roxos. A quarenta metros, este ? exatamente o tipo de tiro que seus irm?os n?o conseguem acertar – um alvo que nem mesmo os homens de seu pai poderiam acertar – o que a deixa ainda mais determinada, sendo a mais jovem do grupo e a ?nica garota entre eles. Kyra nunca se sente ? vontade com eles. Uma parte dela gostaria, ? claro, de fazer o que se espera dela e passar seu tempo com as outras meninas, onde ? o seu lugar, cuidando de assuntos dom?sticos; mas no fundo, isso n?o representa quem ela ?. Ela ? filha de seu pai e tem o esp?rito de um guerreiro como ele, – e n?o seria contida pelas paredes de pedra de sua fortaleza ou sucumbiria a uma vida sentada diante de uma lareira. Ela ? melhor atiradora do que esses homens – na verdade, ela j? consegue superar os melhores arqueiros de seu pai – e faria o que fosse preciso para provar a todos eles – acima de tudo, para seu pr?prio pai, – que ela merece ser levada a s?rio. Seu pai a ama, ela sabe, mas ele se recusa a v?-la por quem ela ?. Kyra consegue treinar melhor longe do forte, ali na plan?cie de Volis, sozinha – o que lhe conv?m, j? que ela, a ?nica menina em um forte de guerreiros, havia aprendido a apreciar a solid?o. Ela est? acostumada a ir at? ali todos os dias, no seu local preferido, no alto do plat? com vista para as enormes paredes de pedra do forte, onde ela poderia encontrar boas ?rvores, ?rvores jovens e dif?ceis de acertar. O barulho de suas flechas havia se tornado um som constante ecoando sobre a vila; nenhuma ?rvore tinha sido poupada de suas flechas, seus troncos carregam cicatrizes e algumas delas j? est?o se inclinando. A maioria dos arqueiros de seu pai, Kyra sabe, fazia dos ratos que cobrem as plan?cies seus alvos; quando ela havia come?ado, tinha tentado acert?-los ela mesma, e descoberto que podia mat?-los com muita facilidade. Mas isso a tinha enojado. Ela era destemida, mas tamb?m sens?vel, e matar um ser vivo sem qualquer prop?sito a tinha desagradado. Ela havia prometido, ent?o, que nunca mais usaria um ser vivo como alvo novamente, a n?o ser que ele fosse perigoso, ou que a atacasse, – como os morcegos-lobo que surgiam durante a noite e voavam muito perto do forte de seu pai. Ela n?o tinha escr?pulos em acert?-los, especialmente depois que seu irm?o mais novo, Aidan, tinha sido mordido por um dos morcegos-lobo e adoecido por meia lua. Al?m disso, eles eram as criaturas mais r?pidas que ela conhecia, e Kyra sabe que se conseguisse acertar um deles, especialmente ? noite, ela seria capaz de acertar qualquer alvo. Certa vez, ela tinha passado uma noite inteira de lua cheia atirando de cima da torre de seu pai, e tinha ansiosamente corrido at? o p?tio ao nascer do sol, encantada ao ver as dezenas de morcegos-lobo espalhados pelo ch?o, suas flechas ainda enfiadas neles enquanto os moradores se aglomeravam ao redor deles, com olhares espantados. Kyra se esfor?a para se concentrar. Ela repassa o lance em sua mente, vendo-se erguendo o arco, puxando-o rapidamente em dire??o ao seu queixo e soltando a flecha sem hesita??o. O tiro verdadeiro, ela sabe, acontece antes que a flecha seja lan?ada. Ela j? tinha visto muitos arqueiros com a sua idade – catorze anos, prepararem seus arcos e vacilarem, – e ela soube imediatamente que os seus tiros n?o acertariam os alvos. Ela respira fundo, erguendo o seu arco e, em um movimento decisivo, solta a flecha sem hesitar. Ela nem sequer precisa olhar para saber que tinha acertado a ?rvore. Um momento depois, ela ouve o som da batida – mas ela j? tinha se afastado e j? estava ? procura de outro alvo, ainda mais distante. Kyra ouve um gemido aos seus p?s e ela olha para Leo, seu lobo, caminhando ao seu lado, como sempre fazia, esfregando-se contra sua perna. Leo j? ? um lobo adulto, atingindo quase at? a cintura de Kyra, e ? t?o protetor em rela??o ? Kyra quanto Kyra dele, os dois s?o sempre vistos juntos no forte de seu pai. Kyra n?o pode ir a qualquer lugar sem que Leo corra para alcan??-la. E Leo ficava o tempo todo ao lado dela, a n?o ser que um esquilo ou coelho cruzassem o seu caminho, e ent?o ele poderia desaparecer por horas. "Eu n?o me esqueci de voc?, garoto," Kyra diz, colocando a m?o no bolso e entregando um osso que havia sobrado da festa daquele dia. Leo pega o osso e continua caminhando feliz ao lado dela. Enquanto Kyra caminha sua respira??o forma uma n?voa diante dela, e ela apoia seu arco em cima do ombro e assopra suas m?os frias. Ela atravessa o planalto e aprecia a paisagem. Daquele ponto de vista, ela pode ver toda a regi?o, as colinas de Volis, geralmente verdes, mas agora cobertas de neve, a prov?ncia do forte de seu pai, situada no canto nordeste do reino de Escalon. Dali de cima Kyra tem uma vis?o panor?mica de todos os acontecimentos na fortaleza de seu pai, as idas e vindas do povo da aldeia e dos guerreiros, outro motivo pelo qual ela gosta de ir at? ali. Ela gosta de estudar os contornos antigos das pedras na fortaleza de seu pai, o formato de suas muralhas e torres que se estendem de forma impressionante pelas colinas, parecendo nunca ter fim. Volis ? a estrutura mais alta da regi?o, e alguns dos seus edif?cios se erguem por quatro andares e s?o rodeados por impressionantes ameias. O forte ainda possui uma torre circular no lado mais distante – uma capela para o povo, mas para ela, apenas um lugar onde subir para apreciar a paisagem e ficar sozinha. O complexo de pedra ? cercado por um fosso, acessado por uma estrada principal ampla e uma ponte de pedra em arco; esta, por sua vez, ? cercada por taludes externos impressionantes, colinas, valas, muros – um lugar condizente com um dos mais importantes guerreiros do rei – o pai dela. Embora Volis, a fortaleza final antes das Chamas, fique v?rios dias de dist?ncia de Andros, a capital de Escalon, ela ? o lar de muitos dos famosos guerreiros do antigo rei. Ela havia se tornado como um farol, um lar para as centenas de moradores e agricultores que viviam dentro ou perto de suas paredes, sob a sua prote??o. Kyra observa as dezenas de pequenas casas de barro situadas sobre as colinas nos arredores da fortaleza, com fuma?a saindo das chamin?s e agricultores correndo para l? e para c? para se prepararem para o inverno e para o festival da noite. O fato de que os alde?es se sentem seguros o suficiente para viver do lado de fora das paredes do forte, Kyra reconhece, ? um sinal de grande respeito pela for?a de seu pai, e algo jamais visto em outros lugares de Escalon. Afinal, eles precisam apenas soar um alarme para que as for?as de seu pai se re?nam para lhes dar prote??o. Kyra olha para a ponte levadi?a, sempre lotada com uma multid?o de pessoas – agricultores, sapateiros, a?ougueiros, ferreiros, e claro, guerreiros – todos correndo pra dentro e pra fora da fortaleza, cumprindo com seus afazeres. As muralhas do forte n?o lhes d?o apenas um lugar para morar e treinar, mas tamb?m um infind?vel n?mero de p?tios de paralelep?pedos que serve de ponto de encontro para os comerciantes. Todos os dias eles alinham as barracas para vender suas mercadorias, negociando, mostrando a ca?a ou promo??o do dia, algum tecido ou especiarias ex?ticas, ou doces trazidos do outro lado do oceano. Os p?tios do forte est?o sempre tomados por algum cheiro ex?tico, seja ele de um ch? estranho ou um ensopado; ela poderia ficar ali por horas. E um pouco al?m das paredes da fortaleza, ao longe, seu cora??o se acelera ao ver o p?tio de treinamentos circular dos homens de seu pai, o Portal dos Lutadores e o muro baixo de pedra que o rodeia, e ela assiste com entusiasmo enquanto seus homens atacam em linhas organizadas montados em seus cavalos, tentando acertar com suas lan?as os escudos que servem de alvos. Ela  metas de escudos pendurados em ?rvores. Ela anseia em treinar com eles. Kyra de repente ouve um grito – t?o familiar quanto a sua pr?pria voz, vindo da dire??o da guarita, e ela se vira imediatamente em estado de alerta. H? uma como??o no meio da multid?o, e ela v? quando do meio da agita??o, abrindo caminho entre a multid?o, surge pela estrada principal seu irm?o mais novo, Aidan, liderado por seus dois irm?os mais velhos, Brandon e Braxton. Kyra fica tensa, em guarda. Ela percebe pelo tom de ang?stia na voz de seu irm?o mais novo que seus irm?os mais velhos n?o t?m boas inten??es. Os olhos de Kyra se estreitam enquanto ela observa seus irm?os mais velhos, sentindo uma raiva familiar crescendo dentro dela e, inconscientemente, apertando as m?os ao redor de seu arco.  Aidan chega mais perto, marchando entre seus irm?os mais velhos, bem mais altos que ele, que seguram seus bra?os e o arrastam a contragosto para longe do forte, na dire??o do campo. Aidan, um garoto franzino e sens?vel de quase dez anos, parece ainda mais vulner?vel imprensado entre seus dois irm?os, dois brutos de dezessete e dezoito anos. Todos eles t?m caracter?sticas e colora??o semelhantes, com suas mand?bulas fortes, queixos orgulhosos, olhos castanhos escuros e cabelos castanhos ondulados – embora Brandon e Braxton tenham um corte curto, e Aidan ainda deixe os seus cabelos mais compridos, caindo na frente de seus olhos. Todos eles se parecem – mas ningu?m ? como ela, com seus cabelos loiros e olhos cinza-claro. Vestida com suas cal?as justas, t?nica de l? e casaco, Kyra ? alta e magra, – p?lida demais como costumam lhe dizer, com uma testa larga e um nariz pequeno, aben?oada com tra?os marcantes que fazem os homens virarem os rostos para olhar para ela. Agora que ela est? fazendo quinze anos, ela nota estes olhares com cada vez mais freq??ncia. Essa situa??o a deixa desconfort?vel. Ela n?o gosta de chamar a aten??o para si mesma, e n?o se v? como uma garota bonita. Ela n?o d? a m?nima para as apar?ncias – importando-se apenas com seu treinamento, seu valor e sua honra. Ela gostaria – como seus irm?os, de ser parecida com seu pai – o homem que ela admira e ama mais do que qualquer outra pessoa no mundo, a ter os tra?os delicados que possui. Ela sempre procura no espelho algo de seu pai em seus olhos, mas n?o importa o quanto ela se observe, ela n?o consegue encontrar nada. "Eu disse, solte-me!" Aidan grita, e sua voz ? ouvida de longe. Ao ouvir o chamado angustiante de seu irm?o ca?ula, um menino que Kyra ama mais do que qualquer pessoa no mundo, ela fica em aten??o, como um le?o assistindo seu filhote. Leo tamb?m fica aflito e o pelo de suas costas se arrepia. Com a morte de sua m?e h? tantos anos, Kyra se sente obrigada a vigiar Aidan, para compensar a m?e que ele nunca teve. Brandon e Braxton o arrastam bruscamente pela estrada, para longe do forte, no caminho solit?rio que leva ? floresta distante, e ela v? quando eles tentam for??-lo a empunhar uma lan?a, uma arma grande demais para ele. Aidan tinha se tornado um alvo demasiado f?cil para as brincadeiras deles; Brandon e Braxton s?o valent?es. Eles s?o fortes e um pouco corajosos, mas t?m mais bravata do que habilidades reais, e sempre parecem se envolver em problemas dos quais eles n?o conseguem sair sozinhos. ? enlouquecedor. Kyra percebe o que est? acontecendo: Brandon e Braxton est?o arrastando Aidan com eles para uma de suas ca?adas. Ela v? os sacos de vinho em suas m?os e sabe que eles estavam bebendo, e se irrita. N?o basta que eles estejam prestes a matar um animal sem motivo, eles agora est?o arrastando o seu irm?o mais novo junto com eles, apesar de seus protestos. Os instintos de Kyra tomam conta dela e ela entra em a??o, correndo ladeira abaixo para enfrent?-los, com Leo correndo ao seu lado. "Voc? j? tem idade o suficiente agora," Brandon fala para Aidan. "J? passou da hora de se tornar um homem," completa Braxton. Correndo pela relva que ela conhece de cor, n?o demora muito tempo para Kyra alcan??-los. Ela corre at? a estrada e para diante deles, bloqueando seu caminho enquanto respira com dificuldade, com Leo ao seu lado, e seus irm?os param de andar e olham para ela, surpresos. Aidan demonstra claramente estar aliviado em v?-la. "Voc? est? perdida?" Braxton zomba. "Voc? est? bloqueando nosso caminho," diz Brandon. "Volte para suas flechas e varinhas." Os dois riem ironicamente, mas ela franze a testa, decidida, e Leo solta um rugido ao lado dela. "Deixe esse monstro longe de n?s," ordena Braxton, tentando parecer corajoso, mas com o medo evidente em sua voz quando ao apertar ainda mais sua lan?a. "E onde voc?s acham que est?o levando Aidan?" ela pergunta em tom s?rio, olhando para eles sem recuar. Eles param, e suas fei??es lentamente se tornam s?rias. "Vamos lev?-lo onde bem quisermos," afirma Brandon. "Ele vai nos acompanhar em uma ca?ada para aprender como se tornar um homem,” diz Braxton, enfatizando a ?ltima palavra como uma forma de provoc?-la. Mas ela n?o pretende ceder. "Ele ? muito jovem," ela responde com firmeza. Brandon faz uma careta. "Quem disse?" ele pergunta. "Eu estou dizendo." "E voc? por acaso ? a m?e dele?" Pergunta Braxton. Kyra enrubesce, cheia de raiva, desejando que sua m?e estivesse ali, agora mais do que nunca. "Tanto quanto voc? ? pai dele," ela responde. Eles ficam parados, em meio a um sil?ncio tenso, e Kyra olha para Aidan e v? que ele a observa com um olhar assustado. "Aidan," ela pergunta para ele: "isso ? algo que voc? deseja fazer?" Aidan olha para o ch?o, envergonhado. Ele fica ali em sil?ncio, evitando seu olhar, e Kyra percebe que ele est? com medo de falar, com receio de provocar a ira de seus irm?os mais velhos. "Bem, voc? mesma est? vendo," diz Brandon. "Ele n?o se op?e." Kyra continua ali, queimando com a frustra??o, querendo que Aidan comunique sua vontade, mas incapaz de for??-lo. "N?o ? sensato que voc?s o levem em sua ca?a," ela afirma. "Uma tempestade se aproxima, e ficar? escuro em breve. A floresta ? repleta de perigos, – se voc?s querem ensin?-lo a ca?ar, esperem outro dia, quando ele for mais velho." Eles fazem uma careta para ela, claramente irritados com sua intromiss?o. "E o que voc? entende de ca?a?" Pergunta Braxton. "O que voc? j? ca?ou, al?m daquelas ?rvores que voc? tanto gosta?" "Alguma delas por acaso j? te mordeu?" Acrescenta Brandon. Os dois caem na risada, e Kyra se irrita, debatendo sobre o que fazer. Sem a resposta de Aidan, n?o h? muito que ela possa fazer. "Voc? se preocupa demais, irm?," Brandon finalmente diz. "Nada vai acontecer com Aidan enquanto estivermos com ele. Queremos fortalec?-lo um pouco, e n?o mat?-lo.Voc? realmente acha que ? a ?nica pessoa que se importa com ele?" "Al?m disso, Papai est? assistindo," informa Braxton. "Voc? quer desapont?-lo?" Kyra olha imediatamente para tr?s e, no alto da torre, ela v? seu pai em p? diante da janela arqueada, observando-os. Ela fica bastante decepcionada com ele por n?o impedir aquilo. Eles tentam passar por ela, mas Kyra continua no lugar, obstinadamente bloqueando o caminho. Brandon e Braxton parecem querer empurr?-la, mas Leo se coloca entre eles, rosnando, e eles reconsideram. "Aidan, n?o ? tarde demais," ela diz para ele. "Voc? n?o tem que fazer isso. Voc? quer voltar para o forte comigo?" Ela analisa seu irm?o ca?ula e v? seus olhos lacrimejando, mas ela tamb?m pode ver o seu tormento. Um longo sil?ncio se segue sem qualquer ru?do, exceto o vento e a neve que cai. Finalmente, ele se manifesta. "Eu quero ca?ar," ele responde sem entusiasmo. Seus irm?os de repente passam por ela, batendo em seu ombro enquanto arrastam Aidan, e se apressam em descer pela estrada. Kyra se vira e os acompanha com o olhar, com um pressentimento ruim. Ela se vira na dire??o do forte e olha para a torre, mas seu pai j? n?o est? mais l?. Kyra observa enquanto seus tr?s irm?os desaparecem de sua vista, para a tempestade que se aproxima e para a floresta de espinhos, e sente um vazio no est?mago. Ela pensa em agarrar Aidan e traz?-lo de volta, mas n?o quer envergonh?-lo. Ela sabe que deveria deix?-lo ir, mas ela n?o consegue. Algo dentro dela n?o permite que ela fa?a isso. Ela sente o perigo, especialmente na v?spera da Lua de Inverno. Ela n?o confia em seus irm?os mais velhos; eles n?o machucariam Aidan, ela sabe, mas eles s?o imprudentes e muito ?speros. E pior ainda, eles s?o excessivamente confiantes em suas habilidades, e isso ? uma combina??o ruim. Kyra n?o aguenta mais, se seu pai n?o pretende interferir, ela o far?. Ela tem idade suficiente agora – e n?o precisa responder a ningu?m, exceto para si mesma. Kyra sai em disparada, correndo pela estrada com Leo ao seu lado, indo direto para a Floresta de Espinhos. CAP?TULO DOIS Kyra entra na sombria Floresta de Espinhos a oeste do forte, uma floresta t?o densa que ela mal consegue ver atrav?s dela. Enquanto caminha lentamente com Leo, pisando sobre a neve e o gelo no ch?o, ela olha para cima. Ela ? ofuscada pelas ?rvores espinhosas que parecem estender-se para sempre, – antigas ?rvores negras com galhos retorcidos que se assemelham a espinhos e grossas folhas pretas. Aquele lugar, ela sente, ? amaldi?oado; nada de bom jamais vinha dali. Os homens de seu pai sempre voltavam feridos de suas ca?as, e mais de uma vez um troll, tendo atravessado as chamas, havia se refugiado ali e usado a floresta como forma de atacar um morador. Assim que Kyra entra na floresta, ela imediatamente sente um arrepio. Est? mais escuro ali, mais frio e mais ?mido, e o cheiro das ?rvores espinhosas paira no ar, misturando-se ao cheiro de terra em decomposi??o, enquanto as ?rvores enormes obstruem o que resta da luz do dia. Kyra, alarmada, tamb?m est? furiosa com seus irm?os mais velhos. ? perigoso se aventurar at? ali sem a companhia de v?rios guerreiros – especialmente ao entardecer. Todo barulho a assusta. H? um grito distante de um animal e ela se encolhe, voltando-se e olhando na dire??o do ru?do. Mas a floresta ? densa, e ela n?o consegue encontr?-lo. Leo, por?m, rosna ao seu lado e de repente sai correndo atr?s do barulho. "Leo!" Ela grita. Mas ele j? tinha ido embora. Ela suspira, irritada;  ? sempre assim quando um animal cruza o caminho de Leo; ela sabe que ele vai voltar – eventualmente. Kyra continua, – agora sozinha ? medida que a floresta se torna cada vez mais escura, lutando para seguir o rastro de seus irm?os, quando ela ouve o riso distante. Ela segue o barulho, correndo na dire??o dele em meios ?s ?rvores, at? que ela localiza seus irm?os um pouco ? frente. Kyra permanece um pouco atr?s, mantendo uma boa dist?ncia, sem querer ser vista. Ela sabe que se Aidan a visse, ficaria envergonhado e a mandaria embora. Ela pretende assistir tudo de longe, apenas para se certificar de que eles n?o entrariam em apuros. ? a melhor op??o que Aidan n?o seja humilhado, e se sinta como um homem adulto. Um galho estala sob seus p?s e Kyra abaixa, preocupada que o som entregue sua presen?a – mas seus irm?os mais velhos est?o b?bados e distra?dos, j? uns bons trinta metros ? frente dela e andando rapidamente, e o ru?do ? abafado pelo som da risada deles. Ela pode ver pela linguagem corporal de Aidan que ele est? tenso, quase como se estivesse prestes a chorar.  Ele segura sua lan?a com for?a, como se estivesse tentando provar para si mesmo que j? ? um homem, mas ? um aperto estranho em uma lan?a muito grande, e ele luta sob o peso dela. "Vem logo!" Braxton grita, virando-se para Aidan, que se arrasta alguns metros atr?s deles. "O que voc? tanto teme?" Brandon pergunta para ele. "Eu n?o estou com medo-" Aidan insiste. "Sil?ncio!" Brandon diz de repente, parando e segurando uma palma da m?o contra o peito de Aidan com uma express?o s?ria pela primeira vez desde que haviam chegado. Braxton tamb?m para, e a tens?o ? evidente em ambos. Kyra se esconde atr?s de uma ?rvore enquanto observa seus irm?os. Eles est?o ? beira de uma clareira, olhando pra frente, como se tivessem visto algo. Ela avan?a um pouco, em estado de alerta, tentando enxergar melhor o que est? acontecendo, e ao passar entre duas grandes ?rvores ela para, espantada quando tem um vislumbre do que eles estavam vendo. Ali, em p? sozinho no meio da clareira, h? um javali. Ele n?o ? um javali ordin?rio; ? um monstruoso, Javali Chifre-Negro, o maior que ela j? tinha visto, com longas presas brancas curvadas e tr?s longos chifres pretos afiados, um saindo de seu nariz e dois de sua cabe?a. Ele ? quase do tamanho de um urso, uma criatura rara, famosa por sua crueldade e velocidade-rel?mpago, – um animal muito temido, que nenhum ca?ador fazia quest?o de conhecer. Eles teriam problemas. Kyra, com os cabelos de seus bra?os arrepiados, gostaria que Leo estivesse ali, mas tamb?m fica grata que ele n?o esteja, – sabendo que ele iria atr?s da criatura e sem saber se ele seria capaz de ganhar o confronto. Kyra d? um passo adiante, removendo lentamente o arco de seu ombro enquanto instintivamente usa a outra m?o para pegar uma flecha. Ela tenta calcular a dist?ncia que o javali est? dos meninos, e a dist?ncia em rela??o a ela – e sabia que aquilo n?o era bom. H? muitas ?rvores no caminho para que ela consiga um tiro certeiro – e com um animal daquele tamanho, n?o h? espa?o para erros. Ela duvida que uma seta seja capaz de derrub?-lo. Kyra percebe um flash de medo nos rostos de seus irm?os, em seguida, v? Brandon e Braxton esconderem rapidamente o medo com um olhar de bravata – um olhar que ela tem certeza ? resultado da bebida. Ambos erguem suas lan?as e d?o alguns passos ? frente. Braxton v? Aidan preso no lugar, e ele se vira, agarrando o ombro do menino e fazendo com que ele d? um passo ? frente tamb?m. "Eis uma chance de fazer de voc? um homem de verdade," Braxton diz. "Mate esse javali e o povo ir? cantar a seu respeito por muitas as gera??es." "Traga-nos a sua cabe?a e voc? ser? famoso pelo resto da vida," emenda Brandon. "Eu estou… com medo," responde Aidan. Brandon e Braxton zombam dele, rindo ironicamente. "Medo?" Diz Brandon. "E o que Papai diria se ouvisse voc? dizer isso?" O javali, em alerta, levanta a cabe?a, revelando brilhantes olhos amarelos, e olha para eles com uma express?o irritada no rosto. Ele abre a boca, revelando enormes presas repletas de saliva, e emite um rosnado aterrorizante que parece surgir do fundo de sua barriga. Kyra, mesmo daquela dist?ncia, sente uma pontada de medo, e s? pode imaginar o terror que Aidan est? sentindo. Kyra corre pra frente, deixando a cautela de lado, determinada a alcan??-los antes que seja tarde demais. Quando ela est? poucos metros atr?s de seus irm?os, ela grita: "Deixe-o em paz!" Sua voz rouca corta o sil?ncio da floresta, e seus irm?os olham para tr?s, claramente assustados. "Voc?s j? se divertiram bastante," ela acrescenta. "Deixe-o em ir." Enquanto Aidan parece aliviado, Brandon e Braxton olham irritados para ela. "E quem ? voc? para dizer quando ? o bastante?" Brandon rebate. "Pare de interferir com homens de verdade." O grunhido do javali soa mais alto, ? medida que ele se aproxima deles, e Kyra, com medo e furiosa, d? um passo adiante. "Se voc? ? tolo o suficiente para contrariar esta besta, ent?o v? em frente," ela diz. "Mas voc? vai mandar Aidan de volta at? mim." Brandon faz uma careta. "Aidan vai ficar exatamente aqui," Brandon rebate. "Ele est? prestes a aprender a lutar. N?o ? mesmo, Aidan?" Aidan fica em sil?ncio, atordoado pelo medo. Kyra est? prestes a dar mais um passo ? frente e agarrar o bra?o de Aidan quando ela ouve um farfalhar na clareira. Ela v? o javali se aproximando deles, um passo de cada vez, de forma amea?adora. "Ele n?o vai atacar se n?o for provocado," Kyra fala para seus irm?os. "Deixe-o ir." Mas seus irm?os a ignoram, e ambos ficam de frente para o javali com suas lan?as em punho. Eles avan?am para o meio da clareira, como se querendo provar como s?o corajosos "Eu vou apontar para a cabe?a," diz Brandon. "E eu, pra garganta," Braxton concorda. O javali rosna mais alto, abrindo ainda mais a boca e salivando excessivamente, e d? mais um passo amea?ador. "Voltem aqui!" Kyra grita desesperada. Mas Brandon e Braxton d?o um passo adiante e erguem suas lan?as, arremessando-as de repente. Kyra assiste em suspense enquanto as lan?as voam pelo ar, preparando-se para o pior. Ela v?, para seu desespero, quando a lan?a de Brandon passa raspando pela orelha do javali – o suficiente para tirar sangue e provoc?-lo – enquanto a lan?a de Braxton passa diretamente acima dele, errando o seu alvo por v?rios metros. Pela primeira vez, Brandon e Braxton parecem sentir medo. Eles ficam parados ali, de bocas abertas e com um olhar bobo no rosto, e o brilho causado pela bebida ? rapidamente substitu?do pelo medo. O javali, enfurecido, abaixa a cabe?a, fazendo um som horr?vel, e de repente ataca. Kyra assiste horrorizada enquanto ele parte para cima de seus irm?os. O animal ? a coisa mais r?pida que j? tinha visto daquele tamanho, saltando pela grama como se fosse uma gazela. ? medida que o javali se aproxima, Brandon e Braxton correm para salvar suas vidas, afastando-se em dire??es opostas. Eles deixam Aidan ali, completamente sozinho, paralisado pelo medo.  Ele abre a boca, deixando sua lan?a cair no ch?o, e Kyra sabe que isso n?o faria muita diferen?a; Aidan n?o conseguiria se defender, mesmo que tentasse – nem mesmo um homem adulto seria capaz de se defende daquela criatura. E o javali, como se sentindo isso, fixa seu olhar em Aidan, partindo na dire??o dele. Kyra, com o cora??o aos pulos, explode em a??o, sabendo que s? teria uma chance. Sem pensar, ela salta pra frente, esquivando-se entre as ?rvores, e j? segurando seu arco ? sua frente, sabendo que poderia usar apenas uma flecha e que teria que ser um tiro e perfeito. Aquele seria um alvo dif?cil, mesmo se o javali n?o estivesse se movendo, mas naquele estado de p?nico, ela teria que acert?-lo se pretendesse sobreviver. "AIDAN, ABAIXE-SE!" Ela grita. A princ?pio, ele n?o se mexe. Aidan bloqueia seu caminho, impedindo um tiro certeiro e, quando Kyra ergue o arco e corre pra frente, ela percebe que se Aidan n?o se movesse, aquele seria um tiro perdido. Trope?ando atrav?s da floresta, com seus p?s deslizando na neve e terra ?mida, por um momento, Kyra sente que tudo est? perdido. "AIDAN!" Ela grita de novo, desesperada. Por algum milagre ele a ouve desta vez, e se joga no ch?o no ?ltimo segundo, deixando o caminho livre para Kyra. Quando o javali ataca Aidan, o tempo de repente parece parar para Kyra. Ela sente como se estivesse entrando em uma zona alterada, e algo acontece dentro dela que ela nunca havia experimentado e que ela n?o consegue compreender totalmente. O mundo se parece diminuir e entra em foco; ela consegue ouvir o som das batidas de seu pr?prio cora??o, de sua respira??o, do farfalhar das folhas, de um corvo grasnando acima dela. Ela se sente em maior sintonia com o universo do que nunca, como se tivesse entrado algum reino onde ela e o universo s?o um s?. Kyra sentiu suas m?os come?arem a formigar com uma energia quente que ela n?o compreende, como se algo estranho estivesse invadindo seu corpo. ? como se, por um breve instante, ela tivesse se tornado algu?m maior do que ela, algu?m com poderes muito maiores. Kyra entra em um estado de n?o-pensamento, e ela se permite ser conduzida apenas pelos seus instintos, e por aquela nova energia que flui atrav?s dela. Ela planta seus p?s e levanta o arco, coloca a flecha no lugar, e a solta em seguida. Ela sabe no mesmo instante que aquele seria um tiro especial. Ela n?o precisa acompanhar a seta para saber que ela est? indo exatamente onde ela queria: no olho direito da fera. Ela havia atirado com tanta for?a que a seta perfura o seu alvo quase meio metro antes de parar. A besta de repente geme enquanto suas pernas fraquejam embaixo dele, caindo de cara na neve. Ele desliza pelo que resta da clareira, contorcendo-se, ainda vivo, at? chegar at? Aidan. Ele finalmente para diante de Aidan, t?o perto que eles quase se tocam. Ele se contorce no ch?o e Kyra, j? com outra flecha em seu arco, d? um passo adiante, parando sobre o javali, e coloca outra flecha na parte traseira de seu cr?nio. O javali finalmente para de se mover. Kyra fica parada na clareira em meio ao sil?ncio, com seu cora??o batendo forte, enquanto o formigamento nas palmas de suas m?os lentamente recua e a estranha energia sutilmente parece adormecer, e se pergunta o que teria acontecido. Ela tinha realmente dado aquele tiro? Ela se lembra imediatamente de Aidan, e quando ela vira e o segura pelos ombros, ele a observa com os olhos cheios de l?grimas, parecendo assustado, por?m ileso. Ela sente uma pontada de al?vio quando ela percebe que ele est? bem. Kyra se vira e v? seus dois irm?os mais velhos, ainda deitados na clareira, olhando para ela com choque – e pavor. Mas h? algo mais no olhar deles, algo que a deixa abalada: suspeita. Eles a observam como se ela fosse diferente deles. Uma pessoa de fora. ? um olhar que Kyra j? tinha visto antes, raramente, mas um n?mero suficiente de vezes para deix?-la curiosa a respeito de si mesma. Ela olha mais uma vez para o animal morto, monstruoso, enorme, jogado aos seus p?s, e se pergunta como ela, uma menina de quinze anos de idade, poderia ter feito aquilo. Aquilo tinha sido um golpe al?m de suas habilidades, e ela sabe disso. Era algo mais al?m de um golpe de sorte. Ela sempre soube que havia algo diferente sobre ela. Ela fica ali, entorpecida, querendo se mover, mas incapaz de faz?-lo. Porque o que a tinha deixado abalado n?o era aquela criatura, mas a maneira como seus irm?os tinham olhado para ela. E ela n?o consegue deixar de fazer, pela milion?sima vez, a pergunta que ela tinha medo de enfrentar durante toda a sua vida: Quem era ela? CAP?TULO TR?S Kyra anda atr?s de seus irm?os enquanto todos sobem pela estrada de volta para o forte, e ela os observa lutando sob o peso do javali, acompanhada de Aidan e com Leo, que retornou de sua ca?a, em seus calcanhares. Brandon e Braxton se esfor?am para levar o animal morto, preso ?s suas duas lan?as apoiadas em seus ombros. O humor sombrio tinha mudado drasticamente assim que haviam deixado a floresta e ficado a c?u aberto, especialmente agora com o forte de seu pai ? vista. A cada passo, Brandon e Braxton se tornam mais confiantes, quase t?o arrogantes quanto antes, e agora eles riem entre si e se gabam de sua matan?a. "Foi a minha lan?a que passou raspando por ele," diz Brandon para Braxton. "Mas," rebate Braxton, "foi a minha lan?a que o levou para a dire??o da flecha de Kyra." Kyra ouve, enrubescendo ao ouvir as mentiras deles; seus irm?os com cabe?a de vento est?o praticamente convencidos de sua pr?pria hist?ria, e parecem realmente acreditar no que dizem. Ela j? pode prever sua vangl?ria no sal?o de seu pai, contando a todos sobre a matan?a deles. ? enlouquecedor. No entanto, ela sente que n?o deve corrigi-los. Ela acredita firmemente nas rodas da justi?a, e sabe, eventualmente, a verdade sairia vitoriosa. "Voc?s s?o uns mentirosos," Aidan diz, caminhando ao lado de Kyra, claramente ainda abalado pelos acontecimentos. "Voc?s sabem muito bem que foi Kyra que matou o javali." Brandon olha por cima do ombro com ironia, como se Aidan fosse um inseto. "E voc? por acaso viu alguma coisa?" Ele pergunta para Aidan. "Voc? estava ocupado demais mijando nas cal?as." Os dois s?o risadas, como se fortalecendo a sua hist?ria a cada passo. "E voc?s n?o estavam morrendo com medo?" Pergunta Kyra, saindo em defesa de Aidan, incapaz de suportar mais um segundo daquela conversa. Com isso, os dois ficam em sil?ncio. Kyra poderia facilmente dizer-lhes algumas verdades, mas ela n?o precisa levantar a voz. Ela caminha alegremente, sentindo-se bem consigo mesma, sabendo no fundo de seu cora??o que ela havia salvado a vida de seu irm?o; e essa ? toda a satisfa??o de que ela precisa. Kyra sente uma pequena m?o em seu ombro, e ao olhar para lado v? Aidan, sorrindo, consolando-a, claramente grato por estar vivo e sem qualquer arranh?o. Kyra se pergunta se seus irm?os mais velhos tamb?m apreciam o que ela tinha feito por eles; afinal de contas, se ela n?o tivesse aparecido naquele exato momento, eles tamb?m teriam sido mortos. Kyra observa o javali balan?ando diante dela, e ela faz uma careta; ela gostaria que seus irm?os tivessem deixado o javali na clareira, onde era o seu lugar. Aquele era um animal amaldi?oado, ele n?o era de Volis, e n?o deveria estar ali. Ele representa um mau press?gio, especialmente vindo da Floresta de Espinhos e, especialmente, na v?spera da Lua de Inverno. Ela se lembra de um velho ditado que ela tinha lido: n?o se orgulhe depois de ser poupado da morte. Seus irm?os, ela sente, estavam tentando o destino, levando a escurid?o de volta para sua casa. Ela n?o consegue evitar a sensa??o de que aquilo tudo ? um sinal de coisas ruins que est?o por vir. Eles chegam ao topo de uma colina e assim que o fazem, a fortaleza surge diante deles, juntamente com uma vista deslumbrante da paisagem ao redor dela. Apesar da rajada de vento e da neve cada vez mais intensa, Kyra ? tomada por uma grande sensa??o de al?vio por estar em casa. H? fuma?a saindo das chamin?s que pontilham o campo, e o forte de seu pai emite um brilho suave e aconchegante, completamente iluminado com fogueiras e tochas, recha?ando a chegada do crep?sculo. A estrada se alarga quando eles se aproximam da ponte, e todos aumentam o ritmo e caminham a passos largos na etapa final. A estrada est? repleta de pessoas, ansiosas para o festival, apesar do tempo ruim e da noite que cai. Kyra n?o est? surpresa. O festival da Lua Inverno ? um dos feriados mais importantes do ano, e todos est?o ocupados se preparando para a festa por vir. Uma grande multid?o de pessoas se amontoa sobre a ponte levadi?a, correndo para pegar suas mercadorias nos fornecedores, para juntar-se ? festa do forte – enquanto um n?mero igual de pessoas corre para fora do port?o, apressando-se para retornar para suas casas e celebrar com suas fam?lias. Bois puxam carrinhos e levam mercadorias em ambas as dire??es, enquanto pedreiros erguem mais um muro que est? sendo constru?do para prote??o do forte, o som de seus martelos uma constante no ar, pontuando o barulho do gado e de c?es. Kyra se pergunta como eles podem trabalhar com este tempo, como eles evitam que suas m?os se congelem. Ao entrarem na ponte, misturando-se com as massas, Kyra olha para frente e seu est?mago se contrai quando ela v?, de p? perto da porta, v?rios dos homens do Lorde, os soldados do Lorde Governador, designados pela Pand?sia, vestindo suas distintivas cotas de malha escarlate. Ela sente um lampejo de indigna??o com a vis?o, compartilhando o mesmo ressentimento que o restante de seu povo. A presen?a dos homens do Lorde ? opressiva a qualquer momento – sobretudo durante a Lua Inverno, quando eles certamente s? poderiam estar ali para recolher os recursos que puderem de seu povo. Em sua mente, eles n?o passavam de coletores, coletores valent?es para os aristocratas desprez?veis que tinham se colocado no poder desde a invas?o Pandesiana. O antigo rei e sua fraqueza eram respons?veis por aquela situa??o, tendo se rendido a eles – mais isso fazia pouca diferen?a agora. Agora, para sua desgra?a, eles tinham que respeitas aqueles homens, o que deixa Kyra furiosa. A situa??o faz de seu pai e seus grandes guerreiros, e todo o seu povo, nada mais do que servos elevados; ela desesperadamente deseja que todos eles se revoltem, – que lutem por sua liberdade, para lutar a guerra que o antigo rei havia temido. No entanto, ela tamb?m sabe que se eles se revoltarem agora, ter?o que enfrentar a ira do ex?rcito Pandesiano. Talvez eles pudessem ter oferecido resist?ncia se nunca os tivessem deixado entrar; mas agora que eles est?o entrincheirados, seu povo tem poucas op??es. Eles chegam ? ponte, misturando-se com a multid?o, e quando eles passam as pessoas param, olham, e apontam para o javali. Kyra tem uma pequena satisfa??o ao ver que seus irm?os est?o suando sob o peso do animal, ofegantes. Enquanto eles andam, cabe?as se viram e as pessoas ficam boquiabertas, plebeus e guerreiros igualmente, todos impressionados com a enorme criatura. Ela tamb?m v? alguns olhares supersticiosos, algumas das pessoas querendo saber, como ela, se aquilo seria um mau press?gio. Todos os olhos, no entanto, olham para seus irm?os com orgulho. "Uma excelente ca?a para o festival!" Um fazendeiro grita, guiando seu boi ao se juntar ? eles na rua. Brandon e Braxton sorriem orgulhosos. "Ele deve ser suficiente para alimentar metade da corte de seu pai!" Grita um a?ougueiro. "Como voc?s conseguiram fazer isso?" Pergunta um seleiro. Os dois irm?os trocam um olhar, e Brandon finalmente sorri de volta para o homem. "Um lance perfeito e falta de medo," ele responde com ousadia. "Se voc? n?o se aventurar na Floresta," Braxton acrescenta, "nunca saber? o que poderia encontrar." Alguns homens gritam, dando tapinhas nas costas deles. Kyra, apesar de tudo, segura a l?ngua. Ela n?o precisa da aprova??o dessas pessoas; ela sabe o que tinha feito. "Eles n?o mataram o javali!" Aidan grita, indignado. "Cale-se," Brandon dispara, olhando para ele. "Diga mais uma palavra e eu vou contar a todos que voc? mijou nas cal?as quando ele atacou." "Mas isso n?o aconteceu!" Aidan protesta. "E voc? acha que eles v?o acreditar em voc??" Acrescenta Braxton. Brandon e Braxton d?o risadas, e Aidan olha para Kyra, como se quisesse saber o que fazer. Ela balan?a a cabe?a. "N?o desperdice o seu tempo," ela fala para ele. "A verdade sempre prevalece." A multid?o aumenta ? medida que eles atravessam a ponte, e logo eles est?o ombro a ombro com as massas, caminhando sobre o fosso. Kyra pode sentir a emo??o no ar com o anoitecer, tochas s?o acesas ao longo da ponte, e a neve se intensifica. Ela olha para cima e seu cora??o dispara, como sempre, ao ver o enorme port?o de pedra de acesso ao forte, guardado por uma d?zia dos homens de seu pai. Na parte superior h? lan?as de uma grade levadi?a, com suas pontas afiadas e barras grossas e fortes o suficiente para impedir a entrada de qualquer inimigo, pronta para ser fechada com o simples tocar de uma buzina. O port?o tem nove metros de altura, e no topo h? uma ampla plataforma, e ao redor de toda a fortaleza, largas muralhas de pedra repletas de mirantes, sempre mantendo um olhar vigilante. Kyra sempre havia considerado Volis uma bela fortaleza, sentindo orgulho dela. O que lhe d? ainda mais orgulho s?o os homens em seu interior, os homens de seu pai, muitos dos melhores guerreiros de Escalon, lentamente se reagrupando em Volis depois terem se separado durante a rendi??o do antigo Rei, atra?dos como um ?m? para o pai. Mais de uma vez ela havia pedido ao pai que se declarasse o novo rei, como todo o seu povo queria que ele fizesse, mas ele apenas balan?ava a cabe?a, dizendo que aquele n?o era o seu caminho. Ao se aproximarem do port?o, uma d?zia dos homens de seu pai saem montados em seus cavalos, e as massas abrem caminho para eles, que se dirigem ao campo de treinamento, uma grande ?rea circular nos campos do lado de fora do forte, cercado por um muro baixo de pedra. Kyra se vira para v?-los partir com o cora??o acelerado. Os campos de treinamento s?o seu lugar favorito. Ela costuma ir at? l? para v?-los treinar por horas, estudando cada movimento que eles fazem, a forma como eles montam seus cavalos, a maneira como eles sacam as espadas, arremessam lan?as e usam flagelos. Aqueles homens cavalgam para treinar apesar da neve que cai e da noite que se aproxima, mesmo na v?spera de uma grande gesta, porque querem treinar, querem aprimorar suas habilidades, porque eles preferem passar um tempo no campo de batalha do que dentro de casa banqueteando – exatamente como ela. Aqueles, ela sente, eram seu verdadeiro povo. Outro grupo dos homens de seu pai sai pelos port?es, e quando Kyra chega perto do port?o com seus irm?os, os homens se afastam, assim como as massas, abrindo caminho para Brandon e Braxton quando eles se aproximam com o javali. Eles assobiam em admira??o e se re?nem ao redor deles, grandes homens musculosos, mais altos at? do que seus irm?os, que n?o eram baixos, a maioria deles usando barbas salpicadas com cinza, todos eles homens endurecidos, com trinta ou quarenta anos, que j? tinham visto muitas batalhas, tendo servido o antigo rei e sofrido a indignidade de sua rendi??o. Homens que nunca teriam se rendido por conta pr?pria. Aqueles eram homens que j? tinham visto de tudo e que n?o ficavam impressionados com muita coisa – mas eles certamente parecem espantados com o javali. "Voc?s mataram isso sozinhos, foi?" Pergunta um deles para Brandon, chegando perto e examinando o javali. A multid?o engrossa e Brandon e Braxton finalmente param, aceitando os elogios e admira??o daqueles grandes homens, tentando n?o demonstrar a dificuldade que est?o sentindo para respirar. "Sim, senhor!" Braxton grita com orgulho. "Um Chifre-Negro," exclama outro guerreiro, chegando mais perto e passando a m?o pelas costas do animal. "N?o vejo um desses desde que eu era um menino. Ajudei a matar um desses, uma vez, mas eu estava com um grupo de homens – e dois deles perderam alguns dedos." "Bem, n?s n?o perdemos nada," Braxton afirma corajosamente. "S? a ponta de uma lan?a." Kyra se irrita quando os homens d?o risadas, claramente admirados com o feito, enquanto outro guerreiro, seu l?der, Anvin, adianta-se e examina atentamente a criatura. Os homens abrem caminho para ele, dando-lhe espa?o em sinal de respeito. O comandante de seu pai, Anvin, o favorito de Kyra entre todos os homens, responde apenas ao seu pai, e comanda todos aqueles excelentes guerreiros. Anvin ? como um segundo pai para ela, e ela o conhece desde que consegue se lembrar. Ele a ama muito, ela sabe, e sempre cuida dela; mas o mais importante para Kyra, ? que ele sempre parece ter tempo para ela, mostrando-lhe t?cnicas de duelo e armamento quando os outros nunca pareciam se interessar. Ele tinha at? mesmo deixado que ela treinasse com seus homens em mais de uma ocasi?o, e ela tinha saboreado cada segundo da experi?ncia. Ele ? o mais forte de todos eles, no entanto tamb?m tem um grande cora??o – para aqueles de quem ele gosta. Mas Anvin tem pouca toler?ncia para a mentira; ele ? o tipo de homem que sempre precisa chegar ? verdade absoluta de tudo, por mais obscura que ela seja. Ele tem um olhar meticuloso, e quando ele se adianta e examinada o javali de perto, Kyra observa quando ele para e examina os dois ferimentos de flecha. Ele tem um olho para o detalhe, e se algu?m ? capaz de reconhecer a verdade, essa pessoa ? Anvin. Anvin examina as duas feridas, inspecionando as pequenas pontas de flecha que ainda est?o alojadas, os fragmentos de madeira, onde seus irm?os tinham partido as flechas. Eles as tinham partido pr?ximo da ponta, de modo que ningu?m pudesse ver o que realmente tinha derrubado o javali. Mas Anvin n?o ? qualquer um. Kyra assiste enquanto Anvin estuda as feridas, v? seus olhos concentrados, e sabe que ele tinha deduzido a verdade em um piscar de olhos. Ele estende a m?o, tira a luva, enfia um dedo no olho do bicho, e extrai uma das pontas de flecha. Ele a ergue, ensanguentada, e em seguida, se vira lentamente para seus irm?os com um olhar c?tico. "A ponta de uma lan?a, n?o ? mesmo?" Ele pergunta em tom de desaprova??o. Um sil?ncio tenso cai sobre o grupo quando Brandon e Braxton parecem nervosos pela primeira vez. Eles se contorcem no lugar. Anvin olha para Kyra. "Ou a ponta de uma flecha?" Ele acrescenta, e Kyra pode ver as rodas girando em sua cabe?a, quando ele chega ?s suas pr?prias conclus?es. Anvin caminha at? Kyra, pega uma flecha em sua aljava, e a coloca ao lado da ponta de flecha em suas m?os. ? uma combina??o perfeita, para que todos possam ver. Ele olha para Kyra com orgulho, um olhar significativo, e Kyra sente todos os olhos se voltarem para ela. "Esse foi um tiro seu, n?o foi?" ele pergunta para ela. ? mais uma afirma??o do que uma pergunta. Ela assente com a cabe?a. "Sim," ela responde sem rodeios, amando Anvin por dar-lhe o reconhecimento e, finalmente, sentindo-se vingada. "E foi o tiro que o matou," ele conclui. ? uma observa??o, n?o uma pergunta, sua voz dura, final, enquanto ainda estuda o javali. "Eu n?o vejo outros ferimentos al?m destes dois," acrescenta ele, passando a m?o ao longo do animal – parando pr?ximo ? orelha. Ele a examina e, em seguida, se vira e olha para Brandon e Braxton desdenhosamente. "A menos que voc? chame esse arranh?o de ferimento." Ele levanta a orelha do javali, Brandon e Braxton enrubescem, e o grupo de guerreiros cai na gargalhada. Outro dos famosos guerreiros de seu pai se adianta – Vidar, amigo pr?ximo de Anvin, um homem baixo e magro com uns trinta anos, de rosto fino com uma cicatriz no nariz. Com seu pequeno porte, ele n?o parece ser grande coisa, mas Kyra sabe a verdade: Vidar ? duro como pedra, famoso por seu combate corpo-a-corpo. Ele ? um dos homens mais duros que Kyra j? havia conhecido, famoso por enfrentar e vencer homens com o dobro do seu tamanho. Muitos homens, por causa de seu tamanho diminuto, haviam cometido o erro de provoc?-lo, somente para aprender a li??o da maneira mais dif?cil. Ele, tamb?m, tinha colocado Kyra sob suas asas, e se tornado seu protetor. "Parece que eles erraram," Vidar conclui, "e a menina os salvou. Quem ensinou voc?s dois a arremessar lan?as?" Brandon e Braxton parecem cada vez mais nervosos, claramente pegos em uma mentira, e n?o dizem uma palavra. "? uma coisa triste mentir sobre uma ca?a," Anvin diz sombriamente, voltando-se para seus irm?os. "Vamos logo com isso, seu pai quer que voc?s digam a verdade." Brandon e Braxton ficam ali, contorcendo-se, claramente desconfort?veis, olhando um para o outro como se estivessem decidindo o que dizer. Pela primeira vez desde que consegue se lembrar, Kyra percebe que eles n?o sabem como responder. Quando eles est?o prestes a abrir a boca, de repente, uma voz estrangeira atravessa a multid?o. "N?o importa quem o matou," diz a voz. "Ele agora ? nosso." Kyra se vira com todos os outros, assustada com o tom ?spero da voz desconhecida, e seu est?mago embrulha quando ela v? um grupo dos homens do Lorde, distintos em sua armadura escarlate, darem um passo ? frente no meio da multid?o quando os moradores abrem caminho para eles. Eles se aproximam do javali, olhando-o com admira??o, e Kyra percebe que eles o querem como um trof?u – n?o porque precisam dele, mas como uma forma de humilhar seu povo, levando embora algo de que eles se orgulham. Ao lado dela, Leo rosna, e ela coloca uma m?o reconfortante em seu pesco?o, segurando-o no lugar. "Em nome do Lorde Governador," diz um dos homens do Lorde, um soldado corpulento com uma testa baixa, sobrancelhas grossas, uma grande barriga, e um rosto nitidamente est?pido, "n?s reivindicamos este javali. Ele agradece antecipadamente pelo presente neste festival." Ele faz um gesto para seus homens e eles andam na dire??o ao javali, se preparando para agarr?-lo. Assim que eles se aproximam, Anvin de repente d? um passo adiante, com Vidar ao seu lado, e bloqueia o caminho deles. Um sil?ncio at?nito cai sobre a multid?o – ningu?m jamais havia confrontado os homens do Lorde; como se houvesse uma regra n?o escrita. Ningu?m propositalmente provocava a ira de Pand?sia. "Ningu?m lhe ofereceu um presente, que eu tenha visto," ele diz, sua voz firme como o a?o, "ou ao Lorde Governador." A multid?o engrossa, centenas de moradores se re?nem para assistir o tenso impasse, sentindo que um confronto est? prestes a acontecer. Ao mesmo tempo, outros recuam, abrindo espa?o em torno dos dois homens, ? medida que a tens?o no ar se intensifica. Kyra sente seu cora??o batendo acelerado. Inconscientemente, ela apertou a m?o em torno de seu arco, sabendo que a situa??o est? ficando s?ria. Por mais que ela queria uma briga, queria sua liberdade, ela tamb?m sabe que seu povo n?o pode dar-se ao luxo de incitar a ira do Lorde Governador; mesmo se por algum milagre eles o derrotarem, o Imp?rio Pandesiano os defenderia. Eles poderiam convocar divis?es de homens t?o vastas quanto o oceano. No entanto, ao mesmo tempo, Kyra se sente orgulhosa de Anvin por defender seu povo. Finalmente, algu?m o tinha feito. O soldado olha com raiva, encarando Anvin. "Voc? se atreve a desafiar o seu Lorde Governador?" ele pergunta. Anvin se mant?m firme. "Esse javali ? nosso, ningu?m est? dando ele pra voc?s" afirma Anvin. "Ele era  seu," o soldado o corrige, "e agora ele nos pertence." Ele se vira para os seus homens. "Peguem o javali", ele ordena. Os homens do Governador se aproximam e uma d?zia dos homens de seu pai d? um passo adiante, oferecendo apoio para Anvin e Vidar, que bloqueiam o caminho dos homens do Governador com as m?os em suas armas. A tens?o aumenta, e Kyra aperta seu arco at? que as juntas de seus dedos ficam brancas, sentindo-se mal, como se de alguma forma ela fosse respons?vel por tudo aquilo, j? que ela havia matado o javali. Ela sente que algo muito ruim est? prestes a acontecer, e ela amaldi?oa seus irm?os por trazer o animal de volta para a sua aldeia, especialmente durante a Lua de Inverno. Coisas estranhas sempre acontecem nos feriados, ?pocas m?sticas em que os mortos s?o capazes de passar de um mundo para o outro. Por que seus irm?os tinham de provocar os esp?ritos desta forma? Enquanto os homens se enfrentam, e os homens de seu pai se preparam para sacar suas espadas, prestes a come?arem o derramamento de sangue, uma voz autorit?ria de repente corta o ar, atravessando o sil?ncio. "A ca?a pertence ? garota!" diz a voz. ? uma voz forte, cheia de confian?a, uma voz que chama a aten??o, e que Kyra admira e respeita mais do que qualquer outra coisa no mundo: a voz de seu pai, o Comandante Duncan. Todos os olhos se voltam para seu pai, que se aproxima ? medida que a multid?o abre caminho, dando-lhe amplo espa?o para passagem em sinal de respeito. L? est? ele, grande como uma montanha, duas vezes mais alto que os outros homens, com os ombros duas vezes mais largos, uma barba castanha indomada e cabelos castanhos compridos com mechas cinza, vestindo peles sobre os ombros e com duas longas espadas em seu cinto e uma lan?a em suas costas. Sua armadura, na cor negra de Volis, tem um drag?o esculpido em seu peitoral, o s?mbolo de sua casa. Suas armas apresentam riscos e arranh?es de batalhas anteriores e ele sua imagem projeta toda a sua experi?ncia. Ele ? um homem a ser temido, um homem a ser admirado, um homem que todos sabiam ser justo e correto. Um homem amado e, acima de tudo, respeitado. "O animal pertence ? Kyra," ele repete, olhando com desaprova??o para os irm?os dela e, em seguida, voltando-se e olhando para Kyra, ignorando os homens do Governador. "Ela deve decidir o seu destino." Kyra fica chocada com as palavras de seu pai. Ela n?o esperava por isso, n?o esperava que ele fosse colocar a responsabilidade em suas m?os, deixando para ela uma decis?o t?o importante. Pois n?o se trata apenas da decis?o sobre o javali, ambos sabem, mas do destino de seu pr?prio povo. Soldados tensos se alinham em ambos os lados, todos com as m?os sobre suas espadas, e quando ela olha para seus rostos, todos olhando para ela e aguardando sua resposta, ela sabe que sua escolha, – suas pr?ximas palavras, seriam as mais importantes ela j? havia pronunciado. CAP?TULO QUATRO Merk caminha lentamente pela trilha na floresta, abrindo caminho atrav?s da Floresta Branca e refletindo sobre sua vida. Seus quarenta anos tinham sido duros; ele nunca tinha tido a oportunidade de caminhar atrav?s de uma floresta, admirando a beleza ao seu redor. Ele olha para as folhas brancas sendo esmagadas sob seus p?s, ouvindo o som de seu cajado batendo no ch?o macio da floresta; ele olha para cima enquanto caminha, admirando a beleza das ?rvores de Esopo, com suas resplendorosas folhas brancas e brilhantes galhos vermelhos, brilhando sob sol da manh?. As folhas caem, derramando sobre ele como neve, e pela primeira vez em sua vida, ele sente uma sensa??o real de paz. De tamanho e altura medianos, com cabelos castanhos escuros, a barba perpetuamente por fazer, uma grande mand?bula, ma??s do rosto proeminentes, e grandes olhos negros com enormes olheiras, Merk sempre aparentava n?o ter dormido h? dias. E ? exatamente assim que ele se geralmente se sentia. Exceto agora. Agora, finalmente, ele se sente descansado. Ali, em Ur, no lado noroeste de Escalon, n?o h? neve. A brisa temperada do oceano, apenas um dia de viagem a oeste, lhe oferece um clima mais quente e permite que folhas de todas as cores flores?am. O clima tamb?m permite que Merk fa?a sua peregrina??o vestindo apenas um manto, sem a necessidade de se esconder dos ventos congelantes, como as pessoas fazem em grande parte de Escalon. Ele ainda est? se acostumando com a id?ia de usar um casaco em vez de armadura, de empunhar um cajado em vez de uma espada, de tocar as folhas com o seu cajado, em vez de perfurar seus inimigos com um punhal. ? tudo novo para ele. Ele est? tentando ver como se sentiria ao se tornar a nova pessoa que ele tanto deseja ser. ? tranquilo, mas estranho, como se ele estivesse fingindo ser algu?m que n?o ?. Pois Merk n?o ? um viajante, ou um monge – ou um homem pac?fico. Ele ainda ?, no fundo de seu ser, um guerreiro. E n?o apenas qualquer guerreiro; ele ? um homem que luta segundo suas pr?prias regras, e que nunca havia perdido uma batalha. Ele ? um homem que n?o tem medo de levar suas batalhas das pistas de justas para os becos atr?s das tabernas que ele adora frequentar. Ele ? o que algumas pessoas gostam de chamar de mercen?rio. Um assassino, uma espada contratada. H? muitos nomes para ele, alguns at? menos lisonjeiros, mas Merk n?o se importa com r?tulos, ou sobre o que as outras pessoas pensam. Tudo o que lhe importa ? que ele ? um dos melhores. Merk, como se para se ajustar ao seu papel, tinha usado muitos nomes, alterando-o segundo seu pr?prio capricho. Ele n?o gosta do nome que seu pai havia lhe dado – na verdade, ele tamb?m n?o gostava de seu pai, – e n?o estava disposto a passar o resto de sua vida carregando um nome que lhe tinha sido imposto. Merk ? o nome que ele usa com mais frequ?ncia, e ele gosta do nome, por ora. Ele n?o importa com o nome que as pessoas usam para cham?-lo. Ele se preocupa apenas com duas coisas na vida: encontrar o local perfeito para a ponta de sua adaga, e que seus empregadores o paguem com ouro rec?m cunhado – e em grande quantidade. Merk havia descoberto em tenra idade que ele tinha um dom natural, que era superior a todos os outros no que conseguia fazer. Seus irm?os, assim como seu pai e todos os seus antepassados famosos, s?o cavaleiros orgulhosos e nobres, que usam as melhores armaduras, empunham as melhores armas, e desfilam em seus cavalos agitando suas bandeiras com cabelos esvoa?antes, acostumados a ganhar competi??es enquanto mulheres jogam flores aos seus p?s. Eles n?o poderiam se sentir mais orgulhosos de si mesmos. Merk, por?m, odeia a pompa, detesta ser o centro das aten??es. Aqueles cavaleiros lhe parecem desajeitados ao matar, muito ineficientes, e Merk n?o tem qualquer respeito por eles. Ele tamb?m n?o precisa do reconhecimento, das ins?gnias ou bandeiras e bras?es pelos quais os cavaleiros tanto anseiam. Isso ? para pessoas que n?o possuem o que mais importa: a habilidade de tirar a vida de um homem, rapidamente, em sil?ncio, e de forma eficiente. Em sua mente, n?o h? mais nada a discutir. Quando ele era jovem e seus amigos, muito pequenos para se defenderem, tinham sofrido nas m?os de valent?es, eles o procuravam, pois suas habilidades com a espada j? eram conhecidas, e ele aceitava um pagamento para defend?-los. Seus agressores nunca mais os atormentavam, pois Merk se certificava disso.  As not?cias de suas proezas haviam se espalhado rapidamente, e ? medida que Merk aceitava pagamentos com mais e mais freq??ncia, suas habilidades progrediam. Merk poderia ter se tornado um cavaleiro, um guerreiro famoso como seus irm?os. Mas ele preferia trabalhar nas sombras. Vencer ? o que lhe interessa; com sua efici?ncia letal, ele havia descoberto rapidamente que cavaleiros, por mais belas que fossem suas armas e armaduras, n?o poderiam matar com metade da velocidade e efici?ncia dele, um homem solit?rio com uma camisa de couro e um punhal afiado. Enquanto caminha, cutucando as folhas com o seu cajado, ele se lembra de uma noite em uma taverna com seus irm?os, quando espadas tinham sido empunhadas contra alguns cavaleiros rivais. Seus irm?os tinham sido cercados, em menor n?mero, e enquanto todos os cavaleiros assistiam com cerim?nia, Merk n?o havia hesitado. Ele correu por todo o beco com sua adaga e cortou todas as suas gargantas antes que os homens pudessem reagir. Seus irm?os deveriam ter lhe agradecido por salvar suas vidas, mas em vez disso, todos se distanciaram dele. Eles o temiam, e olhavam para ele com desd?m. Essa ? a gratid?o que ele havia recebido, e a dor da trai??o tinha afetado Merk mais do que ele era capaz de dizer. O ocorrido havia aprofundado ainda mais a divis?o entre ele e seus irm?os, e toda a nobreza. Eles s?o todos hip?critas e autosservientes em seus olhos;  com suas armaduras brilhantes e desd?m, se n?o fosse por ele e sua adaga todos eles estariam mortos no beco at? hoje. Merk caminha sem parar, suspirando, e tentando se liberar do passado. Enquanto ele reflete, Merk percebe que realmente n?o compreendia a origem do seu talento. Talvez fosse porque ele era muito r?pido e ?gil; talvez porque ele era r?pido com as m?os e os pulsos; talvez fosse porque ele tinha um talento especial para encontrar os pontos vitais dos homens; ou talvez fosse porque ele nunca hesitava em dar o ?ltimo passo, um impulso final que outros homens temiam; talvez fosse porque ele nunca tinha que atacar duas vezes; ou porque ele sabia como improvisar, e era capaz de matar com qualquer ferramenta ? sua disposi??o – uma pena, um martelo, um tronco velho. Ele ? mais habilidoso que outros, mais adapt?vel e mais r?pido em seus p?s – uma combina??o mortal. Enquanto Merk crescia, todos aqueles cavaleiros orgulhosos tinham se distanciado dele, e at? zombado dele por tr?s (ningu?m zombaria dele abertamente). Mas agora, quando eles est?o mais velhos, e seus poderes come?am a diminuir enquanto a fama dele se espalha, ele ? o ?nico alistado por reis, enquanto todos eles s?o esquecidos. Porque o que seus irm?os jamais entenderiam ? que o cavalheirismo n?o transforma homens em reis. ? a viol?ncia brutal, o medo primitivo, a total elimina??o de seus inimigos, um de cada vez, a matan?a horr?vel que ningu?m est? disposto a fazer, que tornava um homem um rei. E ? ele a quem os reis recorriam quando tinham um verdadeiro servi?o real a ser feito. Com cada toque do seu cajado, Merk se lembra de cada uma de suas v?timas. Ele tinha matado os piores inimigos do rei – n?o com veneno – para isso, eles costumavam usar assassinos mesquinhos, botic?rios e mulheres sedutoras. Para os piores inimigos,  muitas vezes os reis desejavam mandar algum recado, e para isso, eles precisavam dele. Algo horr?vel, algo p?blico: um punhal no olho; um corpo exibido em uma pra?a p?blica, pendurado em uma janela, para que todos possam ver com o nascer do sol, para que todos vejam o que espera aqueles que ousavam se opor ao rei. Quando o velho rei Tarnis havia rendido o reino, abrindo as portas para Pand?sia, Merk havia se sentido vazio, sem prop?sito, pela primeira vez em sua vida. Sem um rei a quem servir, ele sentia ? deriva. Algo que h? muito tempo existia dentro dele, e por algum motivo que ele n?o compreendia, ele havia come?ado a se perguntar sobre a vida. Durante toda sua vida ele tinha sido obcecado com a morte, com a matan?a, em tirar a vida das pessoas. Isso havia se tornado f?cil – f?cil at? demais. Mas agora, algo dentro dele est? mudando; ? como se ele mal pudesse sentir o ch?o est?vel sob seus p?s. Ele sempre soube, em primeira m?o, como a vida era fr?gil, a facilidade com que pode ela podia lhe ser tirada, mas agora ele come?a a se perguntar sobre como preserv?-la. A vida ? t?o fr?gil, preserv?-la n?o seria um desafio maior do que tir?-la? E, apesar de si mesmo, ele come?a a se perguntar: o que era essa coisa que ele estava arrancando dos outros? Merk n?o sabe o que tinha causado aquela autorreflex?o, mas ela o deixa profundamente desconfort?vel. Algo tinha surgido dentro dele, uma grande n?usea, e ele havia se sentido cansado de matar, e tinha desenvolvido um sentimento de repulsa por aquilo de que tanto gostava. Ele gostaria de ser capaz de indicar algo que pudesse ter ocasionado essa mudan?a – o assassinato de uma pessoa em particular, talvez, mas ele n?o consegue. A sensa??o tinha simplesmente tomado conta dele, sem qualquer motivo aparente. E isso o perturba mais que tudo. Ao contr?rio de outros mercen?rios, Merk s? aceitava causas em que acreditava. Foi apenas mais tarde na vida, quando ele havia se tornado bom no que fazia, quando os pagamentos se tornaram muito grandes, as pessoas que o contratavam demasiado importantes, que ele tinha come?ado a misturar as coisas, aceitando pagamento para matar pessoas que n?o eram necessariamente culpadas – e algumas at? eram inocentes. E ? o que o est? incomodando. Merk tinha desenvolvido uma paix?o igualmente forte por desfazer tudo o que ele tinha feito, para provar aos outros que ele poderia mudar. Ele queria acabar com seu passado, consertar todos os erros que havia cometido no passado, para fazer penit?ncia. Ele havia feito um voto solene para si mesmo de nunca mais voltar a matar; nunca mais levantar um dedo contra ningu?m;  passar o resto de seus dias pedindo perd?o a Deus, dedicando-se a ajudar os outros e se tornar uma pessoa melhor. E isso o tinha levado at? aquela trilha na floresta, ouvindo o clique de seu cajado no ch?o. Merk v? a trilha na floresta subir um pouco ? frente, e em seguida desaparecer, brilhando com folhas brancas, e ele procura no horizonte pela Torre de Ur mais uma vez. Ainda n?o h? sinal dela. Ele sabe que, eventualmente, o caminho o levaria at? l?, em uma peregrina??o que havia chamado por ele h? meses. Desde quando ainda era um menino, ele se interessava pelos contos dos Vigilantes, a ordem secreta de monges / cavaleiros, parte homens e parte alguma outra coisa, cujo trabalho era residir nas duas torres – a Torre de Ur, a noroeste e da Torre de Kos a sudeste – para vigiar a rel?quia mais preciosa do Reino: a Espada de Fogo. Era a Espada de Fogo, dizia a lenda, que mantinha as Chamas acesas. Ningu?m sabia ao certo em qual torre ela estava guardada, um segredo muito bem guardado conhecido por ningu?m, exceto os Vigilantes mais antigos. Se ela fosse movida, ou roubada, as chamas seriam perdida para sempre e Escalon ficaria vulner?vel a ataques. Dizia-se que vigiar as torres era uma voca??o, um dever sagrado e honroso – se os Vigilantes o aceitassem. Merk sempre havia sonhado com os Vigilantes enquanto crian?a, indo para a cama ? noite se perguntando como seria juntar-se ?s suas fileiras. Ele quer se perder na solid?o, no servi?o, na autorreflex?o, e sabe que n?o h? maneira melhor do que se tornar um Vigilante. Merk se sente pronto. Ele havia descartado sua cota de malha de couro, trocando sua espada por um cajado e, pela primeira vez em sua vida, ele tinha passado uma lua inteira sem matar ou ferir uma alma. Ele est? come?ando a se sentir melhor. Quando Merk alcan?a o topo de uma pequena colina, ele olha pra frente esperan?oso, como j? fazia h? dias, que aquele pico pudesse revelar a Torre de Ur em algum lugar no horizonte. Mas n?o h? nada para ser visto – nada, exceto mais floresta, chegando at? onde seus olhos podem ver. No entanto, ele sabe que est? chegando perto – depois de tantos dias de caminhada, a torre n?o poderia estar muito mais longe. Merk continua descendo a trilha e a floresta se torna mais densa, at? que l? embaixo, ele chega a uma enorme ?rvore derrubada bloqueando o caminho. Ele para e olha para ela, admirado com o seu tamanho e se perguntando como faria para contorn?-la. "Eu diria que voc? j? foi longe o suficiente," diz uma voz sinistra. Merk reconhece o mal naquela voz imediatamente, algo em que ele havia se tornado especialista, e nem sequer precisa se virar para saber o que est? por vir. Ele ouve as folhas sendo esmagadas em torno dele, e de dentro da floresta surgem rostos para combinar com a voz: assassinos, cada um mais desesperado do que o outro. S?o os rostos dos homens que mataram sem motivo. Os rostos de ladr?es e assassinos comuns que atacavam os fracos com viol?ncia aleat?ria e sem sentido. Aos olhos de Merk, eles eram os mais baixos dos baixos. Merk v? que ele est? cercado e sabe que ele tinha ca?do em uma armadilha. Ele olha a sua volta rapidamente, sem deixar que eles percebam, deixando seus velhos instintos agirem, e consegue contar oito deles. Todos eles seguram punhais, vestidos com trapos, com rostos, m?os e unhas sujos e a barba por fazer, todos com um olhar desesperado que mostra que n?o eles n?o comem nada h? v?rios dias. E que eles est?o entediados. Merk fica tenso quando o l?der dos ladr?es se aproxima, n?o porque ele o teme; Merk poderia mat?-lo – poderia mat?-los em um piscar de olhos, se assim desejasse. O que o deixa tenso ? a possibilidade de ser for?ado a praticar um ato de viol?ncia. Ele est? determinado a manter seu voto, custe o que custar. "E o que temos aqui?" Pergunta um deles, aproximando-se, rodeando Merk. "Parece que um monge," diz outro, em tom de zombaria. "Mas essas botas n?o combinam." "Talvez ele seja um monge que pensa que ? um soldado," fala outro. Todos eles caem na gargalhada, e um deles, um idiota de um homem na casa dos quarenta anos com um dente da frente faltando, inclina-se com seu mau h?lito e cutuca Merk no ombro. O velho Merk teria matado o homem que ousasse chegar t?o perto. Mas o novo Merk est? determinado a ser um homem melhor, a se elevar acima da viol?ncia, mesmo que ela pare?a persegui-lo. Ele fecha os olhos e respira fundo, obrigando-se a manter a calma. N?o recorra ? viol?ncia, ele diz a si mesmo uma e outra vez. "O que ? este monge est? fazendo?" Pergunta um deles. "Orando?" Todos caem na gargalhada novamente. "Seu Deus n?o vai te salvar agora, garoto!" Exclama outro. Merk abre os olhos e olha para o cretino. "Eu n?o quero machuc?-lo" ele diz calmamente. As risadas ficam ainda mais altas do que antes, e Merk percebe que ficar calmo e n?o reagir com viol?ncia ? a coisa mais dif?cil que ele j? tinha feito. "Sorte para n?s, ent?o!" Responde um deles. Eles riem de novo, ent?o todos ficam em sil?ncio enquanto o l?der se adianta e para diante de Merk. "Mas talvez," ele fala com a voz grave, t?o perto que Merk pode sentir seu mau h?lito, "n?s queremos machuc?-lo." Um homem se aproxima por tr?s Merk, passa um bra?o em torno de sua garganta, e come?a a apertar. Merk engasga quando come?a a ser sufocado, o aperto ? forte o suficiente para causar dor, mas n?o para cortar todo seu ar. Seu reflexo imediato ? esticar o bra?o e matar o homem. Seria f?cil; ele conhece o ponto de press?o perfeito no antebra?o para fazer com que o bandido o solte. Mas ele se obriga a n?o fazer nada. Deixe-os passar, ele repete para si mesmo. O caminho para a humildade deve come?ar em algum lugar. Merk enfrenta o l?der. "Peguem o que desejarem," diz Merk, ofegante. "Peguem o que quiserem e sigam o seu caminho." "E se n?s pegarmos o que quisermos e quisermos continuar aqui?" O l?der responde. "Ningu?m est? perguntando o que podemos ou n?o podemos fazer, garoto,” diz outro. Um deles se adianta e pega os itens na cintura de Merk, vasculhando seus bolsos com m?os gananciosas ? procura dos poucos pertences que ele ainda possui. Merk se obriga a manter a calma enquanto aquelas m?os vasculham os seus pertences. Finalmente, eles extraem sua adaga revestida de prata, sua arma favorita e Merk, ainda assim e por mais doloroso que seja, n?o reage. Deixe, ele diz para si mesmo. "O que ? isso?" Pergunta um dos bandidos. "Uma adaga?" Ele olha para Merk. "O qu? um monge extravagante como voc? est? fazendo com um punhal?" Pergunta um deles. "O que voc? est? fazendo, menino, esculpindo ?rvores?" Pergunta outro. Todos riem, e Merk range os dentes, se perguntando quanto mais ele poderia suportar. O homem que havia tirado a adaga dele para, olha para o pulso de Merk, e puxa a manga de sua t?nica para cima. Merk se prepara, sabendo que eles haviam encontrado. "O que ? isso?" Pergunta o ladr?o, segurando seu pulso para examin?-lo. "Parece que ? uma raposa," um deles responde. "O que ? um monge fazendo com uma tatuagem de uma raposa?" Pergunta outro. Outro homem d? um passo ? frente, um homem ruivo, alto e magro, que agarra seu pulso e o examina de perto. Ele solta o bra?o de Merk e olha para eles com um olhar cauteloso. “Isso n?o ? raposa, seu idiota," ele fala para seus homens. "? um lobo. ? a marca dos homens do rei – ele ? um mercen?rio." Merk sente seu rosto corar quando ele percebe que eles est?o olhando para sua tatuagem. Ele n?o queria ser descoberto. Os ladr?es permanecem em sil?ncio, olhando para ele e, pela primeira vez, Merk sente a hesita??o em seus rostos. "Essa ? a ordem dos assassinos," um deles fala, em seguida, olha para ele. "Como voc? conseguiu essa marca, menino?" "Provavelmente ele mesmo a fez," um dos bandidos responde. "A marca deixa a estrada mais segura." O l?der acenou para seu homem, que solta a garganta de Merk, que respira fundo, aliviado. Mas o l?der ent?o estende o bra?o e segura a faca na garganta dele, e Merk se pergunta se iria morrer ali, hoje, naquele lugar. Ele se pergunta se aquele seria sua puni??o por toda a matan?a que tinha feito. E se pergunta se ele est? pronto para morrer. "Responda a pergunta," o l?der dispara. "Voc? fez isso em si mesmo, rapaz?  Dizem que ? preciso matar uma centena de homens para conseguir essa marca." Merk respira e, durante o longo sil?ncio que se segue, reflete sobre o que dizer. Finalmente, ele suspira. "Mil,"  ele fala. O l?der continua olhando para ele, confuso. "O qu??" ele pergunta. "Mil homens," explica Merk. "? ent?o que voc? recebe a tatuagem. Ela me foi dada pelo pr?prio Rei Tarnis." Todos olham para ele, chocados, e um longo sil?ncio cai sobre a floresta, que fica t?o silenciosa que Merk pode ouvir o barulho dos insetos. Ele se pergunta o que aconteceria em seguida. Um deles d? um riso hist?rico e todos os outros o seguem. Eles riem enquanto Merk fica ali, claramente pensando que aquilo ? a coisa mais engra?ada que j? tinham ouvido. "Essa ? boa, rapaz," diz um deles. "Voc? ? t?o bom mentiroso quanto voc? ? um monge." O l?der empurra o punhal contra sua garganta, com for?a suficiente para come?ar a tirar sangue. "Eu lhe disse para responder a pergunta," o l?der repete. "Diga a verdade. Voc? quer morrer agora, rapaz?" Merk fica ali, sentindo a dor, e considera a pergunta – ele realmente pensa em sua resposta. Ser? que ele quer morrer? ? uma boa pergunta, uma pergunta ainda mais profunda do que o ladr?o supunha. Enquanto pensa sobre isso, realmente considerando como responder, ele percebe que uma parte dele quer morrer. Ele est? cansado da vida, cansado de tudo aquilo. Mas, ao continuar pensando, Merk em ?ltima an?lise percebe que n?o est? pronto para morrer. N?o agora, n?o hoje. N?o quando ele est? pronto para come?ar de novo. N?o quando ele est? apenas come?ando a aproveitar a vida. Ele quer uma chance de mudar. Ele quer uma chance para servir na Torre, e se tornar um Vigilante. "N?o, na verdade n?o quero," Merk responde. Ele finalmente olha diretamente nos olhos de seu captor, sentindo uma vontade crescente dentro dele. "E por causa disso," ele continua, "eu vou lhe dar uma chance para me soltar, antes que eu mate todos voc?s." Todos olham para ele em choque e sil?ncio, at? que o l?der faz uma careta e come?a a partir para a a??o. Merk sente a l?mina come?ar a cortar sua garganta, e algo dentro dele o for?a a agir. ? o seu lado profissional, algo que ele havia treinado durante toda a sua vida, uma parte dele que ele n?o consegue mais controlar. Aquilo significaria quebrar seu voto, mas ele n?o se importa mais com isso. O velho Merk assume o controle rapidamente, como se nunca tivesse sido abandonado – e em um piscar de olhos, Merk se v? mais uma vez no modo assassino. Merk se concentra e consegue enxergar todos os movimentos de seus oponentes, cada contra??o, cada ponto de press?o, cada vulnerabilidade. O desejo de mat?-los toma conta dele, como um velho amigo, e Merk permite que ele assuma o controle de suas a??es. Em um movimento extremamente r?pido, Merk agarra o pulso do l?der, enfiando o seu dedo em um ponto de press?o, e torce o bra?o dele at? ouvir um estalo; em seguida, ele pega a adaga quando ela cai e com outro movimento r?pido, corta a garganta do homem de orelha a orelha. O l?der olha para ele com um olhar espantado antes de cair ao ch?o, morto. Merk se vira e olha para os outros, que o encaram atordoados. Agora ? a vez de Merk sorrir, e ele olha para todos eles, saboreando o que est? prestes a acontecer. "?s vezes, meninos," ele diz, "voc?s escolhem o homem errado para importunar." CAP?TULO CINCO Kyra est? no centro da ponte lotada, sentindo todos os olhos sobre ela, aguardando sua decis?o quanto ao destino do javali. Suas bochechas est?o coradas; ela n?o gosta de ser o centro das aten??es. Mas ela ama seu pai por ter reconhecido sua participa??o, e ela sente um grande senso de orgulho, especialmente por ele ter colocado a decis?o em suas m?os. Mas, ao mesmo tempo, ela tamb?m sente uma grande responsabilidade. Ela sabe que a escolha que ela fizesse decidiria o destino de seu povo. Por mais que ela deteste os Pandesianos, ela n?o quer ser respons?vel por lan?ar seu povo em uma guerra que eles n?o poderiam vencer. No entanto, ela tamb?m n?o quer voltar atr?s, encorajando os homens do Governador e fazendo seu povo parecer fraco, especialmente depois que Anvin e os outros tinham t?o corajosamente oferecido resist?ncia. O pai dela, ela percebe, era um homem s?bio: ao colocar a decis?o em suas m?os, ele fez parecia que a decis?o era deles, e n?o dos homens do Governador, e isso j? havia poupado a honra de seu povo. Ela tamb?m percebe que ele tinha colocado a decis?o em suas m?os por um motivo: ele sabia que aquela situa??o exigia uma voz externa para poupar a honra de todos os envolvidos – e ele a tinha escolhido porque era conveniente, e porque ele sabia que ela n?o seria imprudente, e que ela usaria a voz da raz?o. Quanto mais ela pensa sobre isso, mais ela percebe que ? exatamente por isso que ele a escolheu: n?o para incitar uma guerra – ele poderia ter escolhido Anvin para isso – mas para salvar o seu povo de uma. Ela chega a uma decis?o. "A besta est? amaldi?oada," ela afirma com desd?m. "Ele quase matou meus irm?os. O javali vem da Floresta de Espinhos e foi morto na v?spera da Lua de Inverno, um dia em que somos proibidos de ca?ar. Foi um erro traz?-lo para dentro de nossos port?es – ele deveria ter sido deixado para apodrecer na selva, onde ? o seu lugar." Ela se vira ironicamente para homens do Governador. "Leve-o para o seu Lorde Governador," diz ela, sorrindo. "Voc? nos fazem um favor." Os homens do Governador olham para ela e para o javali, e suas express?es se transformam; eles agora parecem ter mordido algo podre, como se n?o o quisessem mais. Kyra v? Anvin e os outros olhando para ela com aprova??o, sentindo-se gratos – seu pai, acima de tudo. Ela havia conseguido – ela tinha permitido que seu povo n?o fosse envergonhado, poupando-os de uma guerra, e tinha conseguido provocar os Pandesianos ao mesmo tempo. Seus irm?os deixar o javali cair no ch?o, e ele bate na neve com um baque. Eles recuam humilhados, com os ombros claramente doloridos. Todos os olhos se voltam para os homens do Governador, que ficam ali parados, sem saber o que fazer. Claramente as palavras de Kyra tinham causado um efeito profundo; eles agora olham para a besta como se o javali fosse algo sujo que tinha sido arrastado para fora das entranhas da terra. Obviamente, eles j? n?o o querem. E agora que o animal lhes pertence, eles parecem ter perdido todo o interesse nele. O comandante, depois de um longo e tenso sil?ncio, finalmente faz um gesto para que seus homens peguem o animal, em seguida, ele lhes d? as costas, carrancudo, e marcha para longe, claramente irritado, como se soubesse que tinha sido enganado. A multid?o se dispersa, a tens?o desaparece e ? substitu?da pela sensa??o de al?vio. Muitos dos homens de seu pai se aproximam dela com aprova??o, colocando as m?os em seus ombros. "Muito bem," Anvin diz, olhando para ela com aprova??o. "Voc? ser? uma boa governante algum dia." O povo da aldeia retoma seus afazeres, a tens?o se dissipa, e Kyra se vira e come?a a procurar os olhos de seu pai. Ela o encontra olhando para ela, em p? a poucos metros de dist?ncia. Na frente de seus homens, ele era sempre reservado em rela??o a ela, e desta vez n?o ? diferente – ele carrega uma express?o indiferente, mas ele acena ligeiramente para ela, um aceno de cabe?a que, ela sabe, comunica sua aprova??o. Kyra olha e v? Anvin e Vidar, segurando suas lan?as, e seu cora??o acelera. "Posso me juntar a voc?s?" Ela pede para Anvin, sabendo que eles est?o indo para os campos de treinamento, assim como o resto dos homens de seu pai. Anvin olha nervosamente para seu pai, sabendo que ele n?o aprovaria. "A neve est? ficando mais forte," Anvin finalmente responde hesitante. "Est? anoitecendo, tamb?m." "Isso n?o est? impedindo a sua partida," Kyra rebate. Ele sorri pra ela. "N?o, n?o est?," ele admite. Anvin olha mais uma vez para o pai dela, e ela v? quando ele sacode a cabe?a negativamente, antes de se virar e voltar para dentro. Anvin suspira. "Eles est?o preparando uma festa grandiosa," ele fala. "? melhor voc? ir." Kyra j? pode sentir o cheiro do banquete, o ar est? pesado com o cheiro das carnes finas assando, e ela v? seus irm?os entrarem, junto com dezenas de moradores, todos correndo para se preparar para o festival. Mas Kyra se vira e olha longamente para os campos de treinamento. "Uma refei??o pode esperar," ela diz. "O treinamento n?o pode. Deixe-me ir." Vidar sorri e balan?a a cabe?a. "Tem certeza que voc? ? uma menina e n?o um guerreiro?" Pergunta Vidar. "Eu n?o posso ser os dois?" Ela responde. Anvin deixa escapar um longo suspiro e, finalmente, balan?a a cabe?a. "Seu pai vai pedir minha cabe?a por isso," ele diz. Ent?o, finalmente, ele assente. "Voc? n?o vai aceitar um n?o como resposta," conclui ele, "e voc? tem mais coragem do que metade dos meus homens. Acho mais uma pessoa n?o vai nos prejudicar." * Kyra corre em meio ? neve na trilha de Anvin, seguida por Vidar e v?rios dos homens de seu pai e com Leo ao seu lado, como de costume. A neve se intensifica, mas ela n?o se importa. Ela sente uma sensa??o de liberdade e alegria, como sempre tinha ao passar pelo Portal dos Lutadores, uma abertura em arco nas paredes de pedra na entrada do campo de treinamento. Ela respira fundo quando o c?u se abre, e entra correndo no lugar que ela mais ama no mundo, com suas colinas verdes, agora cobertas de neve, cercadas por uma parede de pedra com quase um quarto de milha de largura e profundidade. Ela tem a sensa??o de que tudo est? exatamente como deveria ser ao ver todos os homens em treinamento, atravessando o campo em seus cavalos, empunhando lan?as, apontando para alvos distantes e aprimorando suas habilidades. Isso, para ela, ? o significado de viver. Aquele campo de treinamento ? reservado para homens de seu pai; e mulheres n?o podiam entrar ali, nem os meninos que ainda n?o tinham atingido dezoito anos – e que n?o tinham sido convidados. Brandon e Braxton, todos os dias, esperam com impaci?ncia para serem convidados – e Kyra suspeita que isso nunca v? acontecer. O Portal dos Lutadores ? para guerreiros honrosos e endurecidos pela batalha, e n?o para perdedores como seus irm?os. Kyra corre pelos campos, sentindo-se mais feliz e viva ali do que em qualquer outro lugar na Terra. A energia ? intensa e se mistura ?s dezenas dos melhores guerreiros de seu pai, todos vestindo armaduras um pouco diferentes, vindos de todas as regi?es de Escalon, guerreiros que ao longo do tempo haviam se dirigido ao Forte de seu pai. H? homens do sul, de Thebus e Leptis; das Midlands, a parte vinda da capital, Andros, mas tamb?m das montanhas de Kos; h? ocidentais de Ur; homens ribeirinhos de Thusis e seus vizinhos de Esephus. H? homens que moravam perto do Lago de Ire, e os homens de lugares t?o distantes como as cachoeiras em Everfall. Todos usam armaduras de cores diferentes, empunham armas diferentes, todos eles homens de Escalon, ainda que representassem seu pr?prio reduto. ? um conjunto deslumbrante e variado de poder. Seu pai, o ex-campe?o do rei, um homem que comanda grande respeito, ? o ?nico homem nestes tempos, neste reino em frangalhos, a quem os homens poderiam recorrer. Na verdade, quando o antigo rei havia rendido seu reino sem oferecer resist?ncia, foi o pai dela que as pessoas haviam pressionado a assumir o trono e liderar a luta. Com o tempo, os melhores guerreiros do antigo rei o tinham procurado, e agora, com sua for?a crescendo a cada dia, Volis tinha alcan?ado uma for?a que quase rivalizava com a da capital. Talvez fosse por isso, Kyra percebe, que os homens do Governador sentiam a necessidade de humilh?-los. Em outros lugares em toda Escalon, o Lorde Governadores de Pand?sia n?o permite que os cavaleiros se re?nam, n?o permitindo tais liberdades por medo de uma revolta. Mas ali, em Volis, ? diferente. Ali, eles n?o t?m escolha: eles precisam permitir aquilo, porque eles precisam dos melhores homens poss?veis para manter as Chamas. Kyra se vira e olha al?m das paredes, al?m das colinas cobertas de branco e, ao longe, no horizonte distante, mesmo atrav?s da neve, ela pode ver, por pouco, o brilho ofuscante das Chamas. A parede de fogo que protege a fronteira ocidental de Escalon, as Chamas, uma parede de fogo de cinquenta p?s de profundidade e v?rias centenas de p?s de altura, ardendo com tanta intensidade quanto sempre, iluminando a noite, seu contorno vis?vel no horizonte e se tornando mais pronunciado ? medida que a noite cai. Com quase oitenta quil?metros de largura, as chamas s?o a ?nica coisa permanente entre Escalon e a na??o de trolls selvagens a leste. Mesmo assim, trolls suficientes conseguem atravess?-las a cada ano para criar o caos, e se n?o fosse pelos Guardi?es, bravos homens de seu pai que mantinham as Chamas acesas, Escalon seria uma na??o de escravos para os trolls. Os trolls, que temem a ?gua, s? podem atacar Escalon por terra, e as Chamas s?o a ?nica coisa os mant?m ? dist?ncia. Os Guardi?es montam guarda em turnos, patrulhando em rota??o, e Pand?sia precisa deles. Outros tamb?m est?o estacionados nas Chamas – alistados, escravos e criminosos, mas os homens de seu pai, os Guardi?es, s?o os ?nicos verdadeiros soldados do grupo, e os ?nicos que sabem como manter as Chamas. Em troca, Pand?sia permite a Volis e seus homens suas muitas pequenas liberdades, como aqueles campos de treinamento e armas de verdade – uma pequena mostra de liberdade para fazer com que ainda se sintam como guerreiros livres, mesmo que isso seja uma ilus?o. Eles n?o s?o homens livres, e todos eles sabem disso. Eles vivem em um equil?brio estranho entre liberdade e servid?o que ningu?m consegue tolerar. Mas ali, pelo menos, no Portal dos Lutadores, aqueles homens s?o livres, como um dia tinham sido, guerreiros que ainda podem competir e treinar e aprimorar suas habilidades. Eles representam o melhor de Escalon, os melhores guerreiros que qualquer Pand?sia tinha para oferecer, todos eles veteranos das Chamas – e todos eles prestando servi?o l?, a um dia de viagem. Kyra n?o quer outra coisa a n?o ser juntar-se a suas fileiras; provar que ? capaz, ser enviada para o posto nas Chamas para combater trolls de verdade quando eles tentassem atravessar, e ajudar a proteger o seu reino de uma invas?o. Ela sabe, ? claro, que isso nunca seria permitido. Ela ? muito jovem para ser eleg?vel, e ? uma menina. N?o h? outras meninas nas fileiras e, mesmo se houvesse, seu pai nunca permitiria isso. Seus homens, tamb?m, a tinham tratado como uma crian?a quando ela tinha come?ado a visit?-los h? anos, se divertindo com a sua presen?a, como espectadores. Mas depois que os homens iam embora, ela tinha ficado para tr?s, sozinha, treinando todos os dias e noites nos campos vazios, usando as armas e os alvos deles. Eles haviam sido surpreendidos a princ?pio, ao chegar no dia seguinte e encontrar marcas de flechas em seus alvos, – e ainda mais surpresos quando elas estavam no centro. Mas com o tempo, eles haviam se acostumado com isso. Kyra havia ganhado seu respeito, especialmente nas raras ocasi?es em que tinha sido autorizada a se juntar a eles. Agora, dois anos depois, todos eles sabem que ela ? capaz de atingir alvos que a maioria deles n?o consegue – e a toler?ncia deles em rela??o a ela havia se transformado em outra coisa: respeito. ? claro que ela ainda n?o tinha lutado em batalhas, como aqueles outros homens, ela nunca tinha matado algu?m, montado guarda nas Chamas, ou enfrentando um troll em uma batalha. Ela n?o ? capaz de empunhar uma espada, um machado de batalha ou alabarda, ou lutar como aqueles homens. Ela n?o tem a mesma for?a f?sica que eles, para sua pr?pria tristeza. No entanto, Kyra havia aprendido que ela tinha uma habilidade natural com duas armas, que a tornavam, apesar de seu tamanho e sexo, um advers?rio formid?vel: seu arco, e seu cajado. A primeira ela tinha aprendido naturalmente, enquanto a ?ltima ela tinha encontrado acidentalmente, luas atr?s, quando ela n?o conseguiu levantar uma espada de duas m?os. Naquela ?poca, os homens tinham rido de sua incapacidade para manejar a espada, e como um insulto, um deles ironicamente havia lhe dado um cajado. "Veja se voc? pode levantar esta vara em vez disso!" Ele havia dito, para deleite dos outros. Kyra nunca tinha esquecido a sua vergonha naquele momento. A princ?pio, os homens de seu pai tinham visto o cajado como uma piada; afinal de contas, eles a usavam apenas como uma arma de treinamento, – aqueles bravos homens que carregavam espadas e machados e alabardas de duas m?os, que poderiam cortar atrav?s de uma ?rvore com um ?nico golpe. Eles consideravam aquele peda?o de madeira como um brinquedo; a arma havia dado a Kyra ainda menos respeito do que ela j? tinha. Mas ela havia transformado a piada em uma inesperada arma de vingan?a, uma arma a ser temida. Uma arma contra a qual muitos dos homens de seu pai agora n?o conseguiam se defender. Kyra tinha se surpreendido com o seu baixo peso, e ainda mais surpresa ao descobrir que ela era naturalmente boa com a arma – t?o r?pida que ela era capaz de desferir golpes enquanto os soldados ainda estavam levantando suas espadas. Mais do que um dos homens que a enfrentaram havia sa?do com hematomas ? medida que, um golpe de cada vez, ela tinha conquistado seu respeito. Kyra, atrav?s de noites intermin?veis de treinamento, sozinha, havia ensinado a si mesma movimentos que deslumbravam os homens, movimentos que nenhum deles conseguia entender. Eles haviam se interessado por seu cajado, e ela lhes havia ensinado. Na mente de Kyra, seu arco e seu cajado se complementavam, cada um de igual necessidade: o arco para o combate de longa dist?ncia, e seu cajado para a luta corpo a corpo. Kyra tamb?m tinha observado que ela possu?a um dom inato que aqueles homens n?o tinham: ela era ?gil. Ela era como um peixinho em um mar de tubar?es lentos em movimento, e enquanto aqueles homens envelhecidos tinham grande poder, Kyra pode dan?ar ao redor deles, saltar no ar, pode pular sobre eles e cair com uma cambalhota perfeita ou em p?. E ao combinar sua agilidade com sua t?cnica pessoal, Kyra consegue uma combina??o letal. "O que ? que ela est? fazendo aqui?" diz uma voz rouca. Kyra, em p? ao lado de Anvin e Vidar, ouve a aproxima??o de cavalos, e se v? Maltren se aproximar a cavalo, ladeado por alguns de seus amigos soldados, – ainda ofegante enquanto segura uma espada, rec?m sa?do dos campos de treinamento. Ele olha para ela com desd?m e seu est?mago fica embrulhado. De todos os homens de seu pai, Maltren ? a ?nica pessoa que n?o gosta dela. Ele a odiava, por algum motivo, desde a primeira vez que ele havia colocado os olhos em cima dela. Maltren continua montado em seu cavalo, irritado; com seu nariz achatado e cara feia, ele ? um homem que ama odiar, e que parece ter encontrado um alvo em Kyra. Ele sempre se opunha ? sua presen?a ali, provavelmente porque ela era uma menina. "Voc? deveria estar no forte de seu pai, menina," ele fala, "preparando-se para a festa com todas as outras jovens ignorantes." Leo, ao lado de Kyra, rosna para Maltren, e Kyra coloca uma m?o reconfortante em sua cabe?a, acalmando-o. "E por que ? que esse lobo tem permiss?o para ficar em nossas terras?" Acrescenta Maltren. Anvin e Vidar olham para Maltren com um olhar frio e duro, ficando do lado de Kyra, e Kyra se mant?m firme e sorri de volta, sabendo est? protegida e que ele n?o poderia for??-la a sair. "Talvez voc? devesse voltar para o campo de treinamento," ela responde em tom zombaria, "e n?o perder tempo com as idas e vindas de uma jovem garota ignorante." Maltren enrubesce, incapaz de responder. Ele se vira, preparando-se para partir, mas n?o sem emitir uma ?ltima provoca??o. "Estamos treinando com lan?as hoje," ele fala. "? melhor voc? ficar fora do caminho dos homens de verdade que treinam com armas de verdade." Ele se vira e come?a a se afastar, juntamente com seus companheiros, e ao v?-lo partir, a alegria de Kyra se mistura ao desagrado com a presen?a dele. Anvin olha para ela com um olhar consolador e coloca uma m?o em seu ombro. "A primeira li??o de um guerreiro," ele diz, "? aprender a conviver com os que te odeiam. Goste ou n?o, voc? vai se encontrar lutando lado a lado com eles, dependendo da ajuda deles para salvar sua vida. Muitas vezes, seus piores inimigos n?o vir?o de fora, mas de dentro." "E aqueles que n?o podem lutar, usam suas bocas," diz uma voz. Kyra se vira e v? Arthfael se aproximando, sorrindo, rapidamente saindo em defesa dela, como sempre fazia. Assim como Anvin e Vidar, Arthfael, um guerreiro feroz e alto com uma cabe?a completamente careca e uma longa barba negra, tinha uma queda por ela. Ele ? um dos melhores espadachins, raramente superado, est? sempre pronto para sair em sua defesa. Ela se sente confortada pela sua presen?a. "Isso ? papo furado," continua Arthfael. "Se Maltren fosse um guerreiro melhor, ele estaria mais preocupado consigo mesmo do que com os outros." Anvin, Vidar e Arthfael montam em seus cavalos e partem com os outros, e Kyra fica ali a observ?-los, pensando. Por que algumas pessoas a odeiam? Ela se pergunta. Ela n?o sabe se algum dia conseguiria se entender isso. Enquanto eles avan?am pelo terreno, correndo em c?rculos largos, Kyra estuda os grandes cavalos de guerra admirada, ansiosa pelo dia em que poderia ter o seu pr?prio cavalo. Ela observa os homens circular o campo, cavalgando ao lado dos muros de pedra, e seus cavalos ?s vezes escorregam na neve. Os homens seguram lan?as entregues a eles por escudeiros ansiosos, e ao fazerem a curva, eles jogam as lan?as contra alvos distantes: escudos pendurados em galhos. Quando acertam, o barulho distinto de metais ressoa pelo local Kyra sabe que arremessar lan?as de cima de um cavalo ? mais dif?cil do que parece, e v?rios homens erram o alvo, especialmente ? medida que passam a apontar para os escudos ainda menores. Daqueles que atingem o alvo, poucos acertam o centro, com exce??o de Anvin, Vidar, Arthfael e alguns outros. Maltren, ela nota, erra v?rias vezes, xingando baixinho e olhando para ela, como se ela fosse a culpada. Para continuar aquecida, Kyra pega seu cajado e come?a a gir?-lo em suas m?os, por cima da cabe?a e ao redor de seu corpo, torcendo e girando o cajado como se ele fosse uma coisa viva. Ela desfere golpes em inimigos e bloqueia ataques imagin?rios, alternando as m?os, ao longo de seu pesco?o, em volta da cintura, usando o cajado de madeira gasta ap?s anos de uso como um terceiro bra?o. Enquanto os homens circulam os campos, Kyra corre para seu pr?prio campo, uma pequena ?rea dos campos de treinamento negligenciada pelos homens, mas que ela usa para si mesma. Pequenos peda?os de armadura pendem de cordas em um bosque de ?rvores, espalhados em diferentes alturas. Kyra passa por cada uma delas, fingindo que cada alvo ? um advers?rio, batendo nos alvos com seu cajado. O ar ? tomado pelo som de seu cajado enquanto ela corre pelo bosque, cortando, costurando e esquivando-se ? medida que eles oscilam de volta para ela. Em sua mente, ela ataca e defende gloriosamente, conquistando um ex?rcito de inimigos imagin?rios. "J? conseguiu matar algu?m?" diz uma voz zombeteira. Kyra v? Maltren montado em seu cavalo, rindo ironicamente dela antes de se afastar. Ela se irrita, desejando que algu?m o colocasse em seu lugar. Kyra faz uma pausa quando ela v? alguns homens, empunhando suas lan?as, desmontarem e formarem um c?rculo ao redor da clareira. Seus escudeiros correm para lhes entregar espadas de treinamento de madeira feitas de carvalho grosso, que pesam quase tanto quanto o a?o. Kyra fica na periferia, com seu cora??o acelerado, enquanto observa aqueles homens se enfrentando, querendo mais do que qualquer outra coisa se juntar a eles. Antes que eles comecem, Anvin entra no meio e encara todos os presentes. "Neste feriado, duelamos por uma recompensa especial," ele anuncia. "O vencedor ter? direito as melhores por??es do banquete!" Um grito de excita??o se segue e os homens atacam uns aos outros, com o barulho de suas espadas de madeira enchendo o ar, enquanto se alternam entre recuar e atacar. A disputa ? marcada pelo som de uma buzina, soando cada vez que um lutador ? atingido por um golpe, sendo enviado para a lateral da clareira.  A buzina soa com frequ?ncia, e logo as fileiras come?am a diminuir ? medida que a maioria dos homens agora est? em p? assistindo. Kyra fica ao lado com eles, morrendo de vontade de participar, embora ela n?o tenha permiss?o. No entanto, ? seu anivers?rio, ela completa quinze anos hoje e se sente preparada. Ela sente que ? hora de insistir um pouco. "Deixe-me juntar a eles!" Ela implora para Anvin, que est? perto, observando. Anvin balan?a a cabe?a, sem tirar os olhos da a??o. "Hoje ? meu d?cimo quinto anivers?rio!" Ela insiste. "Permita que eu participe!" Ele olha para ela com ceticismo. "Este ? um campo de treinamento para homens," opina Maltren, em p? pr?ximo a eles, depois ter sido eliminado. "N?o ? um lugar para garotas. Voc? pode sentar e assistir com os outros escudeiros, e nos trazer ?gua se n?s pedirmos." Kyra fica corada. "Voc? est? com medo que uma menina possa derrot?-lo?" Ela responde, mantendo-se firme, sentindo uma onda de raiva dentro dela. Ela ? filha de seu pai, afinal, e ningu?m pode falar com ela dessa forma. Alguns dos homens d?o risadas e, desta vez, Maltren enrubesce. "Ela tem raz?o," Vidar entra na conversa. "Talvez dev?ssemos deix?-la participar. O que temos a perder?" "E ela vai usar o qu??" Maltren rebate. "Meu cajado!" Kyra grita. "Contra suas espadas de madeira." Maltren ri. "Isso ? algo que eu pagaria para ver," ele retruca. Todos os olhos se voltam para Anvin, que fica parado, considerando o assunto. "Se voc? se machucar, seu pai vai me matar," ele fala. "Eu n?o vou me machucar," afirma ela. Ele fica parado mais uns instantes, – uma eternidade para Kyra, at? que, finalmente, ele suspira. "N?o vejo nenhum mal nisso, ent?o," ele declara. "No m?nimo, isso a manter? calada. Caso nenhum destes homens tenha alguma obje??o," ele acrescenta, voltando-se para os soldados. "Claro!" Grita uma d?zia dos homens de seu pai, em un?ssono, todos entusiasmados e torcendo por ela. Kyra se sente agradecida por isso, mais do que ela poderia dizer. Ela v? a admira??o que eles sentem por ela, o mesmo amor que reservam para seu pai. Ela n?o tem muitos amigos, e aqueles homens significam o mundo para ela. Maltren zomba. "Ent?o deixem a menina fazer uma tola de si mesma," ele fala. "Pode ser que isso lhe ensine uma li??o de uma vez por todas." A buzina soa, e quando um dos homens sai do c?rculo, Kyra corre para o centro. Kyra sente todos os olhos nela quando os homens a observam, claramente n?o esperando por aquilo. Ela se v? diante de seu advers?rio, um homem alto, de complei??o robusta, com aproximadamente trinta anos, – um poderoso guerreiro que ela conhecia desde os tempos de seu pai na corte. Tendo observado ele antes, ela sabe que ele ? um bom lutador, mas tamb?m excessivamente confiante – atacando logo no in?cio de cada luta, um pouco imprudente. Ele se vira para Anvin, franzindo a testa. "Que insulto ? esse?" ele pergunta. "N?o vou lutar contra uma menina." "Voc? se insulta por medo de lutar comigo," Kyra responde indignada. "Eu tenho duas m?os e duas pernas, assim como voc?. Se voc? n?o vai lutar comigo, ent?o admita sua derrota!" Ele pisca, em choque, depois faz uma careta para ela. "Muito bem, ent?o," ele fala. "N?o v? correndo para o seu pai depois que voc? perder." Ele ataca a toda a velocidade, como ela sabia que ele faria, erguendo a espada de madeira, e dando um golpe direto, apontando para o ombro dela. ? um movimento que ela j? tinha antecipado, tendo observado ele realizar o golpe muitas vezes – um movimento que ele inconscientemente sinaliza pelo movimento de seus bra?os. Sua espada de madeira ? poderosa, mas tamb?m ? pesada e desajeitada em compara??o ao cajado de Kyra. Kyra observa atentamente, esperando at? o ?ltimo momento, e ent?o desvia, fazendo com que o poderoso golpe passe ao lado de seu corpo. No mesmo movimento, ela gira seu cajado e acerta um golpe na lateral do ombro de seu advers?rio. Ele geme ao cair para o lado. Ele fica parado, atordoado, irritado por ter que admitir a derrota. "Mais algu?m?" Pergunta Kyra, sorrindo abertamente, virando-se de frente para o c?rculo de homens. A maioria deles est? sorrindo, claramente orgulhosos dela, orgulhosos de v?-la crescer e chegar a este ponto. Exceto, ? claro, Maltren, que franze a testa como se estivesse prestes a desafi?-la, quando de repente outro soldado aparece, encarando Kyra com uma express?o s?ria. Este homem ? mais baixo e mais largo, com uma barba vermelha desgrenhada e olhos ferozes. Ela percebe pelo jeito que ele empunha sua espada que ele ? mais cauteloso do que seu advers?rio anterior. Ela toma isso como um elogio: finalmente, eles est?o come?ando a lev?-la a s?rio. Ele ataca, e Kyra n?o sabe por que, mas por alguma raz?o, saber o que fazer ? f?cil para ela. ? como se seus instintos assumissem o controle e decidissem por ela. Ela percebe que ? muito mais leve e mais ?gil do que aqueles homens com suas armaduras e espadas de madeira pesadas. Todos est?o lutando pelo poder, e todos esperam que seus advers?rios desfiram golpes e se defendam. Kyra, por?m, fica feliz em desvi?-los, e se recusa a lutar nos termos deles. Eles lutam com a for?a – e ela usa a velocidade. O cajado de Kyra se move em sua m?o como uma extens?o de seu bra?o; ele gira t?o rapidamente que seus oponentes n?o t?m tempo de reagir, ainda na metade de seus golpes enquanto ela j? se encontra atr?s deles. Seu novo advers?rio se aproxima dela com uma estocada no peito, mas ela apenas se esquiva e leva seu cajado para cima, atingindo o pulso dele e tirando a espada de suas m?os. Ela, ent?o, bate na cabe?a dele com a outra extremidade de sua arma. A buzina soa, atribuindo o ponto a Kyra, e ele olha para ela em estado de choque, segurando a testa, sua espada no ch?o. Kyra examina o seu feito e, percebendo que ainda est? de p?, fica um pouco admirada. Ela havia se tornado a pessoa a vencer, e agora os homens, sem qualquer sinal de hesita??o, alinham-se para testar suas habilidades contra ela. A tempestade de neve se alastra e tochas s?o acesas enquanto Kyra enfrenta um homem ap?s o outro. Eles n?o carregam mais sorrisos: suas express?es agora s?o s?rias, perplexas e abertamente irritadas, j? que ningu?m conseguia toc?-la – todos s?o derrotados por ela. Contra um homem, ela salta sobre sua cabe?a enquanto ele a ataca, dando uma cambalhota e aterrissando atr?s dele antes de bater em seu ombro; contra outro, ela se abaixa e rola, trocando o cajado de m?o e dando um golpe decisivo, de forma inesperada, com a m?o esquerda. Para cada um, seus movimentos s?o diferentes, parte ginasta, parte espadachim, de modo que ningu?m consegue antecipar seus movimentos. Os homens caminham envergonhados de volta para a margem da arena, todos espantados por terem sido derrotados. Logo resta apenas um punhado de homens. Kyra fica no centro do c?rculo, respirando com dificuldade, girando em todas as dire??es ? procura de seu pr?ximo advers?rio. Anvin, Vidar e Arthfael observam tudo do lado de fora da clareira, todos com sorrisos em seus rostos e olhares de admira??o. Se seu pai n?o poderia estar ali para testemunhar aquilo e sentir orgulho dela, pelo menos aqueles homens estavam. Êîíåö îçíàêîìèòåëüíîãî ôðàãìåíòà. Òåêñò ïðåäîñòàâëåí ÎÎÎ «ËèòÐåñ». Ïðî÷èòàéòå ýòó êíèãó öåëèêîì, êóïèâ ïîëíóþ ëåãàëüíóþ âåðñèþ (https://www.litres.ru/morgan-rice/a-ascensao-dos-dragoes/?lfrom=688855901) íà ËèòÐåñ. Áåçîïàñíî îïëàòèòü êíèãó ìîæíî áàíêîâñêîé êàðòîé Visa, MasterCard, Maestro, ñî ñ÷åòà ìîáèëüíîãî òåëåôîíà, ñ ïëàòåæíîãî òåðìèíàëà, â ñàëîíå ÌÒÑ èëè Ñâÿçíîé, ÷åðåç PayPal, WebMoney, ßíäåêñ.Äåíüãè, QIWI Êîøåëåê, áîíóñíûìè êàðòàìè èëè äðóãèì óäîáíûì Âàì ñïîñîáîì.
Íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë Ëó÷øåå ìåñòî äëÿ ðàçìåùåíèÿ ñâîèõ ïðîèçâåäåíèé ìîëîäûìè àâòîðàìè, ïîýòàìè; äëÿ ðåàëèçàöèè ñâîèõ òâîð÷åñêèõ èäåé è äëÿ òîãî, ÷òîáû âàøè ïðîèçâåäåíèÿ ñòàëè ïîïóëÿðíûìè è ÷èòàåìûìè. Åñëè âû, íåèçâåñòíûé ñîâðåìåííûé ïîýò èëè çàèíòåðåñîâàííûé ÷èòàòåëü - Âàñ æä¸ò íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë.