Недавно я проснулся утром тихим, А в голове – настойчивая мысль: Отныне должен я писать стихи. И так наполнить смыслом свою жизнь! Я первым делом к зеркалу пошёл, Чтоб убедиться в верности решенья. Взгляд затуманен. В профиль – прям орел! Типичный вид поэта, без сомненья. Так тщательно точил карандаши, Задумчиво сидел в красивой позе. Когда душа

Um Reino de Sombras

Um Reino de Sombras Morgan Rice Reis e Feiticeiros #5 Uma a??o carregada de fantasia que ir? certamente agradar aos f?s das hist?rias anteriores de Morgan rice, juntamente com os f?s de trabalhos tais como O CICLO DA HERAN?A de Christopher Paolini…F?s de fic??o para jovens adultos ir?o devorar este ?ltimo trabalho de Rice e suplicar por mais. The Wanderer, A Literary Journal (referente a Ascens?o dos Drag?es) Em UM REINO DE SOMBRAS, Kyra v?-se no meio de uma capital em chamas, atacada por uma s?rie de drag?es, agarrando-se ? vida. Com a sua amada terra natal destru?da, as Chamas em baixo e os trolls a chegarem, Kyra deve urgentemente ir para Marda para recuperar a arma m?gica antes que seja tarde demais – mesmo se isso a levar exatamente para o cora??o das trevas. Duncan v?-se preso, com os outros, na capital a arder, e usa toda a sua intelig?ncia para encontrar os seus homens, tentar fugir e reunir as suas for?as para se reagrupar e atacar Pandesia. Por todo o reino, Merk navega com a filha do Rei Tarnis atrav?s da Ba?a da Morte, ao abandonarem a Torre de Kos e navegarem para a ilha guerreira de Knossos. Perseguido por Ves?vio e pelo seu ex?rcito de trolls, cruzando as ?guas mais trai?oeiras do mundo, eles sabem que t?m poucas hip?teses de alcan?ar a ilha, e ainda menos hip?teses de escapar. Deirdre e Marco sobrevivem ao maremoto que destruiu Ur, encontrando a sua amada cidade debaixo de ?gua. Com todos os que eles conheciam e amavam perdidos e mortos, eles devem recomp?r-se e viajar at? ? ?nica pessoa que eles sabem que resta viva: Kyra. Alec, entretanto navega de volta para Escalon com o povo das Ilhas Perdidas, segurando a preciosa espada que poderia simplesmente mudar tudo. Mas ningu?m esperava encontrar uma terra destru?da, uma terra que agora estava repleta de drag?es. Com a sua atmosfera forte e personagens complexos, UM REINO DE SOMBRAS ? uma saga arrebatadora de cavaleiros e guerreiros, de reis e senhores, de honra e valor, de magia, destino, monstros e drag?es. ? uma hist?ria de amor e cora??es partidos, de engano, ambi??o e trai??o. ? a fantasia no seu melhor, convidando-nos para um mundo que vai viver connosco para sempre, que vai apelar a todas as idades e sexos. O sexto livro de REIS E FEITICEIROS ser? brevemente publicado. Se pensava que j? n?o havia motivo para viver depois do fim da s?rie O Anel do Feiticeiro, estava enganado. Morgan Rice surgiu com o que promete ser mais uma s?rie brilhante, fazendo-nos imergir numa fantasia de trolls e drag?es, de valentia, honra, coragem, magia e f? no seu destino. Morgan conseguiu mais uma vez produzir um conjunto forte de personagens que nos faz torcer por eles em todas as p?ginas… Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores que adoram uma fantasia bem escrita. Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (referente a Ascens?o Dos Drag?es) Morgan Rice UM  REINO   DE    SOMBRAS REIS E FEITICEIROS—LIVRO 5 Morgan Rice Morgan Rice ? a best-seller n?1 e a autora do best-selling do USA TODAY da s?rie de fantasia ?pica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por dezassete livros; do best-seller n?1 da s?rie OS DI?RIOS DO VAMPIRO, composta por onze livros (a continuar); do best-seller n?1 da s?rie TRILOGIA DA SOBREVIV?NCIA, um thriller p?s-apocal?ptico composto por dois livros (a continuar); e da nova s?rie de fantasia ?pica REIS E FEITICEIROS, composta por tr?s livros (a continuar). Os livros de Morgan est?o dispon?veis em ?udio e vers?es impressas e as tradu??es est?o dispon?veis em mais de 25 idiomas. TRANSFORMADA (Livro n 1 da s?rie Di?rios de um Vampiro), ARENA UM  (Livro n 1 da s?rie A Trilogia da Sobreviv?ncia) e EM BUSCA DE HER?IS (Livro n 1 da s?rie O Anel do Feiticeiro) e A ASCEN??O DOS DRAG?ES (Reis e Feiticeiros – Livro n 1) est?o dispon?veis gratuitamente! Morgan adora ouvir a sua opini?o, pelo que, por favor, sinta-se ? vontade para visitar www.morganricebooks.com (http://www.morganricebooks.com/) e juntar-se ? lista de endere?os eletr?nicos, receber um livro gr?tis, receber ofertas, fazer o download da aplica??o gr?tis, obter as ?ltimas not?cias exclusivas, ligar-se ao Facebook e ao Twitter e manter-se em contacto! Aclama??es selecionadas para Morgan Rice "Se pensava que j? n?o havia motivo para viver depois do fim da s?rie O ANEL DO FEITICEIRO, estava enganado. Em A ASCENS?O DOS DRAG?ES Morgan Rice surgiu com o que promete ser mais uma s?rie brilhante, fazendo-nos imergir numa fantasia de trolls e drag?es, de valentia, honra, coragem, magia e f? no seu destino. Morgan conseguiu mais uma vez produzir um conjunto forte de personagens que nos faz torcer por eles em todas as p?ginas… Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores que adoram uma fantasia bem escrita." –-Books and Movie Reviews Roberto Mattos "A ASCENS?O DOS DRAG?ES ? um sucesso – logo desde o in?cio… Uma fantasia excecional… Come?a, como n?o podia deixar de ser, com as lutas e movimenta??es ordenadas de um protagonista num c?rculo mais amplo de cavaleiros, drag?es, magia e monstros e destino… Toda a ornamenta??o da alta fantasia est? aqui, desde os soldados e batalhas a confronta??es com o pr?prio. Uma vencedora recomendada para qualquer um que aprecia a escrita de fantasia ?pica alimentada por protagonistas jovens adultos poderosos e confi?veis." –-Midwest Book Review D. Donovan, eBook Reviewer "Uma a??o carregada de fantasia que ir? certamente agradar aos f?s das hist?rias anteriores de Morgan rice, juntamente com os f?s de trabalhos tais como O CICLO DA HERAN?A de Christopher Paolini…F?s de fic??o para jovens adultos ir?o devorar este ?ltimo trabalho de Rice e suplicar por mais." –-The Wanderer,A Literary Journal(referente a Ascens?o dos Drag?es) "Uma fantasia espirituosa que entrela?a elementos de mist?rio e intriga no seu enredo. EM BUSCA DE HER?IS tem tudo a ver com a cria??o da coragem e com a compreens?o do prop?sito da vida e como estas levam ao crescimento, maturidade e excel?ncia… Para os que procuram aventuras de fantasia com sentido, os protagonistas, estratagemas e a??es proporcionam um conjunto vigoroso de encontros que se relacionam com a evolu??o de Thor desde uma crian?a sonhadora a um jovem adulto que procura a sobreviv?ncia apesar das dificuldades… Apenas o princ?pio do que promete ser uma s?rie de literatura juvenil ?pica." --Midwest Book Review (D. Donovan, eBook Reviewer) "O ANEL DO FEITICEIRO re?ne todos os ingredientes para um sucesso instant?neo: enredos, intrigas, mist?rio, valentes cavaleiros e relacionamentos repletos de cora??es partidos, decep??es e trai??es. O livro manter? o leitor entretido por horas e agradar? a pessoas de todas as idades. Recomendado para fazer parte da biblioteca permanente de todos os leitores do g?nero de fantasia." –-Books and Movie Reviews, Roberto Mattos. "Neste primeiro livro cheio de a??o na s?rie de fantasia ?pica Anel do Feiticeiro (que conta atualmente com 14 livros), Rice introduz os leitores ao Thorgrin de 14 anos "Thor" McLeod, cujo sonho ? juntar-se ? Legi?o de Prata, os cavaleiros de elite que servem o rei… A escrita de Rice ? s?lida e a premissa intrigante." --Publishers Weekly Livros de Morgan Rice REIS E FEITICEIROS A ASCENS?O DOS DRAG?ES (Livro n?1) A ASCENS?O DOS BRAVOS (Livro n?2) O PESO DA HONRA (Livro n?3) UMA FORJA DE VALENTIA (Livro n?4) UM REINO DE SOMBRAS (Livro n?5) A NOITE DOS CORAJOSOS (Livro n?6) O ANEL DO FEITICEIRO EM BUSCA DE HER?IS (Livro n 1) UMA MARCHA DE REIS (Livro n 2) UM DESTINO DE DRAG?ES (Livro n 3) UM GRITO DE HONRA (Livro n 4) UM VOTO DE GL?RIA (Livro n 5) UMA CARGA DE VALOR (Livro n 6) UM RITO DE ESPADAS (Livro n 7) UM ESCUDO DE ARMAS (Livro n 8) UM C?U DE FEITI?OS (Livro n 9) UM MAR DE ESCUDOS (Livro n 10) UM REINADO DE A?O (Livro n 11) UMA TERRA DE FOGO (Livro n 12) UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro n 13) UM JURAMENTO DE IRM?OS (Livro n 14) UM SONHO DE MORTAIS (Livro n 15) UMA JUSTA DE CAVALEIROS (Livro n 16) O PRESENTE DA BATALHA (Livro n 17) TRILOGIA DE SOBREVIV?NCIA RENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro n 1) ARENA DOIS (Livro n 2) MEM?RIAS DE UM VAMPIRO TRANSFORMADA (Livro n 1) AMADA (Livro n 2) TRA?DA (Livro n 3) PREDESTINADA (Livro n 4) DESEJADA (Livro n 5) COMPROMETIDA (Livro n 6) PROMETIDA (Livro n 7) ENCONTRADA (Livro n 8) RESSUSCITADA (Livro n 9) ALMEJADA (Livro n 10) DESTINADA (Livro n 11) Oi?a REIS E FEITICEIROS na sua edi??o de Audiobook! 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E depois, n?o mais ? ouvida.”     --William Shakespeare, Macbeth CAP?TULO UM O capit?o da Guarda Real estava em cima da sua torre de vigia e olhava para baixo para as centenas de Guardi?es, todos jovens soldados que patrulhavam as Chamas sob o seu olhar atento. Ele suspirava com ressentimento. Sendo um homem digno dos principais batalh?es, sentia que era para si um insulto di?rio estar ali colocado, nos confins de Escalon, vigiando um grupo rebelde de criminosos que eles gostavam de chamar soldados. Aqueles n?o eram soldados – eram escravos, criminosos, rapazes, homens velhos, os indesejados da sociedade, todos alistados para vigiar uma parede de chamas que n?o havia mudado em mil anos. Era simplesmente apenas uma pris?o glorificada e ele merecia coisa melhor. Ele merecia estar em qualquer lugar menos ali, posicionado para guardar os port?es reais de Andros. O capit?o olhou para baixo, pouco interessado, quando outra escaramu?a se seguiu, a terceira daquele dia. Aquela parecia ser entre dois rapazes crescidos, que lutavam por um peda?o de carne. Uma multid?o de rapazes a gritar rapidamente se colocou ? volta deles, incentivando-os. S? aquilo os conseguia entreter. Estavam todos demasiado aborrecidos, de p? a vigiar as Chamas dia ap?s dia, todos desesperadamente com sede de sangue – e ele deixou-os ter a sua divers?o. Se eles se matassem uns aos outros, tanto melhor – seriam menos dois rapazes para ele vigiar. Ouviu-se um grito quando um dos rapazes levou a melhor o outro, enfiando uma adaga no seu cora??o. O rapaz ficou fl?cido enquanto os outros celebravam a sua morte, tendo rapidamente, imediatamente a seguir, pilhado o cad?ver por qualquer coisa que pudessem encontrar. Foi, pelo menos, uma morte misericordiosamente r?pida, muito melhor do que as lentas que os outros teriam de ali enfrentar. O vencedor deu um passo em frente, empurrou os outros para o lado, baixou-se e tirou o peda?o de p?o do bolso do homem morto, guardando-o no seu pr?prio bolso. Era apenas mais um dia em Chamas e o capit?o ardia indignado. Ele n?o merecia aquilo. Ele tinha errado, em tempos, desobedecendo a uma ordem direta e como castigo tinha sido mandado para ali. Era injusto. O que ele n?o daria para ser capaz de voltar atr?s e mudar aquele momento no seu passado. A vida, pensou, podia ser demasiado exigente, absoluta e cruel. O capit?o, resignado ao seu destino, virou-se e olhou para as Chamas. Havia algo sobre o seu sempre presente crepitar, mesmo depois de todos aqueles anos, que ele sentia ser sedutor, hipn?tico. Era como olhar para o rosto do pr?prio Deus. Perdendo-se no brilho, pensava sobre a natureza da vida. Tudo parecia t?o sem sentido. O seu papel ali – todos os pap?is daqueles rapazes ali – pareciam t?o sem sentido. As Chamas mantinham-se h? milhares de anos e nunca iriam morrer e, enquanto ardessem, a na??o de Trolls nunca conseguiria avan?ar. Marda bem podia estar do outro lado do mar. Se lhe competisse a ele, ele pegaria nos melhores rapazes e coloc?-los-ia noutros lugares de Escalon, ao longo da costa, onde eles realmente fizessem falta, colocando todos os criminosos no meio deles at? ? morte. O capit?o perdeu a no??o do tempo, como frequentemente lhe acontecia, perdendo-se no brilho das Chamas. No entanto, ao final do dia, de repente, semicerrou os olhos, em alerta. Ele tinha visto algo, algo que n?o conseguia entender bem. Esfregou os olhos, pensando que devia estar a ver coisas. No entanto, ao observar, lentamente ele percebeu que n?o estava a ver coisas. O mundo estava a mudar diante dos seus olhos. Lentamente, o crepitar sempre presente, para o qual ele acordava todos os dias desde que ali tinha chegado, silenciou-se. O calor que emanava das Chamas desapareceu de repente, fazendo com que sentisse um arrepio, um verdadeiro arrepio, pela primeira vez desde que ali havia chegado. E ent?o, ele viu a brilhante coluna de chamas vermelhas e alaranjadas, a que lhe tinha queimado os olhos, a que tinha iluminado o dia e a noite incessantemente, a desaparecer pela primeira vez. Tinha desaparecido. O capit?o esfregou os olhos novamente, perguntando-se. Estava a sonhar? Ele viu as chamas a diminu?rem at? ao ch?o, como uma cortina a ser deixada cair. E um instante depois, j? n?o havia absolutamente nada l?. Nada. A respira??o do capit?o parou. O p?nico e a incredulidade lentamente apoderaram-se dele. Ele deu por si a olhar, pela primeira vez, para o que havia do outro lado: Marda. Ele tinha uma vis?o clara e desobstru?da. Era uma terra preenchida de preto – montanhas pretas e ?ridas, rochas pretas e escarpadas, terra preta, ?rvores pretas e mortas. Era uma terra que n?o era suposto ele alguma vez ver. Uma terra que n?o era suposto ningu?m em Escalon alguma vez ver. Seguiu-se um sil?ncio estonteante e os rapazes l? em baixo, pela primeira vez, pararam de lutar entre si. Todos eles, congelados em estado de choque, viraram-se e ficaram boquiabertos. A parede de fogo tinha desaparecido e, l? do outro lado, encarando-os com avidez, estava um ex?rcito de trolls, ocupando a terra, ocupando o horizonte. Uma na??o. O capit?o ficou apavorado. Ali, a curta dist?ncia, estava uma na??o de animais, dos mais repugnantes que j? tinha visto, gigantescos, grotescos, deformados, todos empunhando alabardas enormes e todos pacientemente aguardando o seu momento. Milh?es deles olhavam tamb?m, aparentando estar igualmente atordoados, uma vez que, obviamente, se tinham apercebido que agora n?o havia nada a separ?-los de Escalon. As duas na??es permaneceram ali, encarando-se, olhando uma para a outra. Os trolls estavam radiantes com a vit?ria e os humanos estavam em p?nico. Afinal, estavam ali simplesmente centenas de humanos contra um milh?o de trolls. Quebrando o sil?ncio, ouviu-se um grito, vindo do lado dos trolls, um grito de triunfo, seguido por um grande trov?o, quando estes avan?aram para o ataque. Eles ressoavam como uma manada de b?falos, erguendo as suas alabardas e decepando as cabe?as dos rapazes atingidos pelo p?nico que nem sequer conseguiam ter coragem para correr. Era uma onda de morte, uma onda de destrui??o. O pr?prio capit?o ficou na sua torre, demasiado apavorado para fazer alguma coisa, at? mesmo para sacar da espada, ? medida que os Trolls corriam na sua dire??o. Logo depois, ele sentiu-se a cair, enquanto a multid?o enfurecida derrubava a sua torre. Aterrou nos bra?os dos trolls, gritando ao ser agarrado pelas garras deles e desfeito em peda?os. E ali deitado no ch?o a morrer, sabendo o que ia acontecer a Escalon, um ?ltimo pensamento atravessou-lhe a mente: o rapaz que fora esfaqueado, que tinha morrido por um bocado de p?o, fora o mais afortunado de todos. CAP?TULO DOIS Dierdre sentia os seus pulm?es a comprimirem-se ao trope?ar de um lado para o outro, fora de p?, desesperada por ar. Ela tentava orientar-se, mas n?o conseguia, com as enormes ondas de ?gua a faz?-la andar ?s voltas e o seu mundo a virar-se de cabe?a para baixo uma e outra vez. Mais do que tudo ela queria respirar profundamente. O seu corpo inteiro gritava por oxig?nio, mas ela sabia que faz?-lo significaria certamente a sua morte. Ela fechou os olhos e chorou. As suas l?grimas fundiam-se com a ?gua e ela questionava-se se aquele inferno alguma vez acabaria. O seu ?nico consolo era pensar em Marco. Ela tinha-o visto a cair com ela na ?gua. Tinha-o sentido a segurar a sua m?o. E ela virou-se e procurou por ele. No entanto, ao procurar, ela n?o conseguia ver nada para al?m da escurid?o e das ondas de espuma a rebentar e a atir?-la para baixo. Ela assumiu que Marco estava morto h? muito tempo. Dierdre queria chorar, mas o sofrimento vencia na sua mente qualquer pensamento de autopiedade, fazendo-a pensar apenas na sobreviv?ncia. Quando ela pensava que as ondas n?o poderiam ficar mais fortes, estas atiravam-na ao ch?o, uma e outra vez, prendendo-a l? com tanta for?a que ela sentia como se todo o peso do mundo estivesse em cima dela. Ela sabia que n?o iria sobreviver. Que ironia, pensava ela, morrer ali, na sua cidade natal, esmagada sob uma enorme onda criada pelo fogo do canh?o dos Pandesianos. Ela preferia morrer de outra maneira qualquer. Ela podia, pensou, lidar com praticamente qualquer forma de morte – exceto com o afogamento. Ela n?o conseguia aguentar aquele sofrimento horr?vel, aquele balan?ar selvagem, sendo incapaz de abrir a boca e respirar o que cada gota do seu corpo t?o desesperadamente ansiava. Ela sentiu-se a ficar mais fraca, cedendo ao sofrimento – e, em seguida, assim que sentiu que os seus olhos estavam a ponto de se fecharem, assim que percebeu que n?o aguentava nem mais um segundo, viu-se, de repente, ?s voltas, a rodopiar rapidamente para o topo, com a onda a atir?-la para cima com a mesma for?a com que a tinha atirado para baixo. Ela elevou-se com o impulso de uma catapulta, apressando-se para a superf?cie, vendo a luz do sol e sofrendo com a press?o nos ouvidos. Para sua surpresa, logo depois, ela chegou ? superf?cie. Arfou, inspirando repentinamente, mais grata do que nunca. Engasgou-se, sugando o ar e, logo a seguir, para seu pavor, ela foi novamente sugada de volta para debaixo de ?gua. Desta vez, por?m, ela tinha oxig?nio suficiente para sobreviver um pouco mais de tempo e, desta vez, a ?gua n?o a levou t?o para baixo. Ela veio logo novamente para cima, para a superf?cie, inspirando um pouco mais de ar, antes de ser levada para baixo mais uma vez. Era sempre diferente, com as ondas a enfraquecer. Ao vir novamente ? superf?cie, ela percebeu que a onda estava a chegar ? ponta da cidade e a esmorecer. Dierdre deu por si a passar os limites da cidade, a passar por todos os grandes edif?cios que agora estavam debaixo de ?gua. Ela foi levada novamente para debaixo de ?gua, mas de forma lenta o suficiente para ser capaz de finalmente abrir os olhos e ver todos os grandes edif?cios por baixo de onde j? haviam estado. Ela via dezenas de cad?veres a passarem por ela a flutuar na ?gua, como peixes, corpos cujas express?es sem vida ela tentava j? afastar do seu pensamento. Finalmente, sem Dierdre saber quanto tempo depois, veio ? tona, desta vez para sempre. Ela era suficiente forte para lutar com a fraca onda final que a tentava sugar de volta para baixo e, com um ?ltimo ?mpeto, ela ficou ? tona. A ?gua do porto tinha entrado bastante por terra adentro e n?o havia lugar nenhum para onde a ?gua pudesse ir. Logo depois, quando as ?guas recuaram, voltando apressadamente ao mar, Dierdre ficou sozinha algures num campo coberto de ervas. Ali de bru?os, com o rosto plantado nas ervas encharcadas, Dierdre gemia de dores. Ela ainda estava ofegante, com os pulm?es a doerem-lhe, respirando profundamente e saboreando cada respira??o. Sem for?as, conseguiu virar a cabe?a e, olhando por cima do ombro, ficou horrorizada ao ver que, o que tinha sido em tempos uma grande cidade, agora n?o era mais do que apenas mar. Ela apenas vislumbrou a parte mais alta da torre sineira, que estava um pouco fora de ?gua, estranhando o facto de, em tempos, aquela se erguer no ar centenas de p?s. Completamente exausta, Dierdre finalmente deixou-se ir. O rosto dela caiu no ch?o enquanto ela permanecia ali deitada, deixando a dor do que havia acontecido apoderar-se dela. Se tentasse mover-se ela n?o conseguiria. Momentos depois, ela estava a dormir, quase morta num campo remoto num canto do mundo. Mas fosse como fosse, estava viva. * "Dierdre", disse uma voz, acompanhada de um pequeno toque. Dierdre tentou abrir os olhos, atordoada ao ver que o sol se estava a p?r. Gelada, com a roupa ainda molhada, ela tentou recompor-se, imaginando h? quanto tempo estaria ali deitada, questionando-se se estaria viva ou morta. Em seguida, sentiu a m?o novamente a tocar-lhe no ombro. Dierdre olhou para cima e ali, para seu imenso al?vio, estava Marco. Ele estava vivo. Ela ficou felic?ssima ao v?-lo. Ele parecia espancado, abatido, demasiado p?lido. Parecia que tinha envelhecido cem anos. No entanto, ele estava vivo. Fosse como fosse, ele tinha conseguido sobreviver. Marco ajoelhou-se ao lado dela, sorrindo apesar de os seus olhos estarem tristes, olhos que n?o brilhavam com vida como antes. "Marco", ela respondeu fracamente, espantada com a sua pr?pria voz rouca. Ela reparou que ele tinha um corte de lado no rosto e, preocupada, esticou a m?o para lhe tocar. "Pareces t?o mal quanto eu me sinto", disse ela. Ele ajudou-a a levantar-se e ela ficou de p?. O seu corpo estava em sofrimento de todas as dores e contus?es, arranh?es e cortes, acima e abaixo nos seus bra?os e pernas. No entanto, ao verificar cada membro, ela viu que n?o tinha partido nada. Dierdre respirou fundo e preparou-se ao virar-se e olhar para tr?s. Como ela temia, era um pesadelo: a sua amada cidade tinha-se ido, agora nada mais do que uma parte do mar, sendo que a ?nica coisa que se via era uma pequena parte da torre do sino. No horizonte, para al?m da torre, ela viu uma frota de negros navios Pandesianos, aproximando-se cada vez mais de terra. "N?o podemos ficar aqui", disse Marco apressadamente. "Eles est?o a aproximar-se." "Para onde ? que podemos ir?", perguntou ela, sentindo-se desesperada. Marco ficou a olhar para ela, em branco, claramente tamb?m sem saber. Dierdre olhou para o p?r-do-sol, tentando pensar, sentido o sangue a pulsar-lhe nos ouvidos. Todas as pessoas que conhecia e amava estavam mortas. Ela sentia que j? nada a prendia ? vida, que n?o tinha nenhum lugar para onde ir. Para onde ? que ela podia ir se a sua cidade natal tinha sido destru?da? Para onde ? que ela podia ir quando o peso do mundo lhe ca?a em cima dos ombros? Dierdre fechou os olhos e abanou a cabe?a em desgosto, desejando que tudo desaparecesse. Ela sabia que o seu pai estava l?, morto. Os seus soldados estavam todos mortos. As pessoas que ela tinha conhecido e amado durante toda a vida, estavam todas mortas, tudo gra?as a esses monstros Pandesianos. Agora n?o havia mais ningu?m para det?-los. Que causa ? que a podia fazer continuar em frente? Dierdre, para seu pesar, desatou a chorar. A pensar no seu pai, ela caiu de joelhos, sentindo-se devastada. Chorou copiosamente, querendo morrer ali sozinha, desejando que ela tivesse morrido, amaldi?oando os c?us por permitirem que ela vivesse. Porque ? que ela simplesmente n?o se afogou naquela onda? Porque ? que n?o podia simplesmente ter morrido juntamente com os outros? Porque ? que a vida a tinha amaldi?oado? Ela sentiu uma m?o reconfortante no ombro. "Est? tudo bem, Dierdre", disse Marco suavemente. Dierdre encolheu-se, envergonhada. "Desculpa", finalmente disse, a chorar. "? s? que… o meu pai … Agora eu n?o tenho nada." "Tu perdeste tudo", disse Marco, numa voz pesarosa tamb?m. "Eu tamb?m. Eu tamb?m n?o quero prosseguir. Mas n?s temos de o fazer. N?o podemos ficar aqui e morrer. Seria desonr?-los. Seria desonrar tudo pelo qual eles viveram e lutaram." No longo sil?ncio que se seguiu, Dierdre endireitou-se lentamente, percebendo que ele estava certo. Al?m disso, ao olhar para os olhos castanhos de Marco, que olhavam para ela com compaix?o, ela percebeu que efetivamente tinha algu?m. Ela tinha Marco. Ela tamb?m tinha o esp?rito do seu pai, a olhar para baixo, a olhar por ela, desejando que ela fosse forte. Ela for?ou-se a afastar aqueles pensamentos. Ela tinha de ser forte. O seu pai quereria que ela fosse forte. Ela percebeu que a autocomisera??o, n?o ajudaria ningu?m. E nem a sua morte. Ela olhou para Marco podendo ver mais do que compaix?o – ela tamb?m podia ver o amor por ela nos seus olhos. Sem sequer estar plenamente consciente do que estava a fazer, Dierdre, com o cora??o a bater com for?a, inclinou-se e beijou-o inesperadamente nos l?bios. Por um momento, ela sentiu-se transportada para um outro mundo e todas as suas preocupa??es desapareceram. Lentamente chegou-se para tr?s, olhando para ele, surpreendida. Marco parecia igualmente surpreso. Ele agarrou-lhe a m?o. Incentivada e cheia de esperan?a, ela foi capaz de pensar com clareza de novo – e teve uma ideia. Havia mais algu?m, havia mais um lugar, havia mais uma pessoa a quem recorrer. Kyra. Dierdre sentiu uma s?bita onda de esperan?a. "Eu sei onde devemos ir", disse emocionada e apressadamente. Marco olhou para ela, questionando-se. "Kyra", disse ela. "N?s conseguimos encontr?-la. Ela vai ajudar-nos. Onde quer que ela esteja, ela est? a lutar. N?s podemos juntar-nos a ela." "Mas como ? que sabes que ela est? viva?", perguntou. Dierdre abanou a cabe?a. "N?o sei", respondeu. "Mas Kyra sobrevive sempre. Ela ? a pessoa mais forte que eu j? conheci." "Onde ? que ela est??", perguntou. Dierdre pensou e lembrou-se da ?ltima vez que tinha visto Kyra, a bifurcar para norte, para a Torre. "A Torre de Ur", disse ela. Marco olhava para ela, surpreso; em seguida, um lampejo de otimismo atravessou-se nos seus olhos. "Os Sentinelas est?o l?. Assim como est?o outros guerreiros. Homens que podem lutar connosco", concordou ele abanando a cabe?a, animado. "Uma boa escolha", acrescentou. "N?s podemos ficar seguros naquela torre. E se a tua amiga l? estiver, ent?o melhor ainda. ? a um dia de dist?ncia daqui a caminhar. Vamos. Temos de ser r?pidos." Ele agarrou na m?o dela e, sem mais palavras, partiram. Dierdre estava otimista. Dirigiram-se ambos para a floresta e, algures no horizonte, para a Torre de Ur CAP?TULO TR?S Kyra preparava-se enquanto caminhava para um campo de fogo. As chamas subiam at? ao c?u e, depois, baixavam com a mesma rapidez, passando por todas as cores, acariciando-a enquanto ela caminhava balan?ando os bra?os. Ela sentia a intensidade das chamas, sentia que a envolviam, embrulhando-a num abra?o ligeiro. Ela sabia que estava a caminhar para a morte e, no entanto, ela n?o conseguia ir para nenhum outro lado. E ainda assim, de alguma forma, incrivelmente, ela n?o sentia dor. Ela tinha uma sensa??o de paz. Uma sensa??o de que a sua vida estava a terminar. Ela olhou atrav?s das chamas e viu a sua m?e, que a esperava algures na outra extremidade, no lado oposto do campo. Ela teve uma sensa??o de paz ao saber, finalmente, que estaria nos bra?os dela. Eu estou aqui, Kyra, chamou ela. Vem at? mim. Kyra espreitou pelas chamas apenas conseguindo distinguir o rosto da sua m?e, quase transl?cida, ficando parcialmente escondida quando uma parede de fogo disparou. Ela caminhou mais para dentro das chamas crepitantes, incapaz de parar, at? ficar cercada por todos os lados. Um rugido cortou o ar, mesmo acima do som do fogo. Ela olhou para cima e ficou em ?xtase ao ver um c?u cheio de drag?es. Eles circulavam e guinchavam e, enquanto ela observava, um enorme drag?o rugiu e mergulhou na sua dire??o. Kyra sentiu que era a morte que a vinha buscar. Quando o drag?o se aproximou, estendeu as suas garras e, de repente, o ch?o saiu debaixo dela. Kyra deu por ela a cair, sendo arremessada para terra, uma terra cheia de chamas, um lugar do qual ela sabia que nunca iria escapar. Kyra abriu os olhos num sobressalto, respirando com dificuldade. Olhou ao redor, perguntando-se onde estaria, sentindo dor em todos os cantos do seu corpo. Do?a-lhe a cara. Tinha a ma?? do rosto inchada, latejante e, quando ela lentamente levantou a cabe?a, com dificuldade para respirar, descobriu que o seu rosto estava envolto em lama. Ela percebeu que estava deitada com a cara na lama. Colocou l? as m?os lentamente fazendo for?a para cima e, depois, limpou a lama do rosto, perguntando-se o que estava a acontecer. Um s?bito rugido rasgou o ar. Kyra olhou para cima e ficou aterrorizada ao ver algo no c?u que era muito real. O ar estava cheio de drag?es de todas as formas, tamanhos e cores, todos a circular, a guinchar, a cuspir fogo para o ar, furiosos. Enquanto ela observava, um desceu e soprou uma coluna de chamas na dire??o do ch?o. Kyra deu uma vista de olhos e assimilou os arredores, ficando surpreendida ao perceber onde estava: Andros. Veio-lhe tudo ? mem?ria. Ela estava a voar em cima de Theon, a correr de volta para Andros para salvar o seu pai, quando foi atacada no c?u por aquele bando de drag?es. Eles tinham aparecido do nada, tinham mordido Theon e tinham-os atirado ao ch?o. Kyra apercebeu-se de que deveria ter desmaiado. Agora, ela tinha acordado com uma sensa??o de calor, de gritos horr?veis, de uma capital em caos e, ao olhar em volta, viu a capital em chamas. Por todos os lados, as pessoas estavam a correr pelas suas vidas, a gritar, enquanto o fogo descia em ondas, como uma tempestade. Parecia que o fim do mundo havia chegado. Kyra respirava com dificuldade e ficou devastada ao ver Theon deitado ali perto, de lado, ferido, com o sangue a escorrer-lhe das escamas. Os seus olhos estavam fechados, com a l?ngua pendurada de lado e ele parecia ? beira da morte. Ela percebeu que a ?nica raz?o pela qual ela e Theon ainda estavam vivos devia ser porque estavam cobertos por um monte de entulho. Eles deviam ter sido atirados para um edif?cio que desmoronou em cima deles. Pelo menos aquilo tinha-os mantido abrigados, fora de vista dos drag?es l? em acima. Kyra sabia que tinha de arranjar forma de ela e Theon sa?rem dali de uma vez por todas. Eles n?o tinham muito tempo at? serem descobertos. "Theon!", ela insistiu. Ela virou-se e elevou-se, esmagada pelos escombros, conseguindo, finalmente, empurrar um enorme peda?o de escombros das suas costas, libertando-se. Ela ent?o correu para Theon e freneticamente empurrou o monte de entulho de cima dele. Ela foi capaz de empurrar a maioria das rochas, mas n?o conseguiu empurrar de cima das costas dele a grande pedra que o prendia ao ch?o. Ela empurrou uma e outra vez, mas independentemente do quanto tentasse, a pedra n?o se mexia. Kyra correu e agarrou o rosto de Theon, desesperada por despert?-lo. Ela acariciou as suas escamas, e, lentamente, para seu al?vio, Theon abriu os olhos. No entanto, ele fechou os olhos novamente e ela sacudiu-o com mais for?a. "Acorda!", exigiu Kyra. "Eu preciso de ti!" Os olhos de Theon abriram-se novamente, ligeiramente. Em seguida, virou-se e olhou para ela. A dor e a f?ria nos seus olhos suavizaram enquanto ele a reconheceu. Ele tentou mexer-se, para se levantar, mas era evidente que estava muito fraco; a pedra prendia-o ao ch?o. Kyra empurrou a pedra furiosamente, mas desatou a chorar ao perceber que n?o conseguia faz?-la mover. Theon estava preso. Ele morreria aqui. E ela tamb?m. Kyra, ouvindo um rugido, olhou para cima e viu que um enorme drag?o, com escamas verdes perfurantes, os tinha visto. Ele gritou com f?ria e, de seguida, come?ou a descer a pique na dire??o deles. Deixa-me. Kyra ouviu uma voz reverberando profundamente dentro dela. A voz de Theon. Esconde-te. Vai para longe daqui. Enquanto ainda h? tempo. "N?o!", gritou ela, tremendo, recusando-se a deix?-lo. Vai, insistiu ele. Sen?o vamos morrer aqui os dois. "Ent?o vamos ambos morrer!", gritou ela, com uma determina??o de a?o a apoderar-se dela. Ela n?o iria abandonar o seu amigo. Nunca. O c?u escureceu e Kyra olhou para cima e viu o enorme drag?o a descer a pique, com as garras estendidas. Ele abriu a boca, com filas de dentes afiados ? vista. Ela sabia que n?o ia sobreviver. Mas ela n?o se importava. Ela n?o abandonaria Theon. A morte ia lev?-la. Mas a cobardia n?o. Ela n?o tinha medo de morrer. Apenas de n?o viver bem. CAP?TULO QUATRO Duncan corria juntamente com os outros pelas ruas de Andros, mancando, dando o seu melhor para conseguir acompanhar o ritmo de Aidan, de Motley e da jovem que estava com eles, Cassandra, enquanto o c?o de Aidan, Branco, lhe mordiscava os calcanhares e instava-o a continuar. A arrastar o seu bra?o estava o seu velho e confi?vel comandante, Anvin e, ao seu lado, o seu novo escudeiro Septin, dando o seu melhor para mant?-lo em movimento, ainda claramente em m? forma ele pr?prio. Duncan podia ver o qu?o ferido estava o seu amigo e comovia-o ver que ele tinha ido naquele estado, arriscando a sua vida e viajado por todo aquele caminho para libert?-lo. O variado grupo corria pelas ruas de Andros devastadas pela guerra, com o caos em erup??o ao redor deles e com todas as probabilidades de sobreviv?ncia contra eles. Por um lado, Duncan sentia-se muito aliviado por estar livre, muito feliz por ver o seu filho novamente, muito grato por estar com todos eles. No entanto, ao olhar para o c?u, ele tamb?m sentia que tinha deixado uma cela para ser atirado para uma morte certa. O c?u estava cheio de drag?es a circular, a descer, que passavam por edif?cios, destruindo a cidade ao expelirem as suas terr?veis colunas de chamas. Ruas inteiras estavam repletas de fogo, bloqueando o grupo a cada esquina. As ruas, ao ficarem destru?das uma de cada vez, tornavam a fuga da capital cada vez menos prov?vel. Evidentemente, Motley conhecia bem aquelas ruelas e liderou-os habilmente, virando numa ruela ap?s a outra, encontrando atalhos em todos os lugares, conseguindo evitar os grupos itinerantes de soldados Pandesianos, que eram a outra amea?a ? fuga deles. No entanto, Motley, por muito astuto que fosse, n?o podia evitar os drag?es e, ao virarem noutra ruela, esta ficou de repente, tamb?m, em chamas. Todos pararam nos seus trilhos, com as caras a arder do calor. E retiraram-se. Duncan, coberto de suor ao recuar, olhou para Motley, n?o obtendo consolo porque, desta vez, Motley virava-se para todos os lados com a sua cara esculpida em p?nico. "Por aqui!", disse finalmente Motley. Ele virou-se e levou-os por outra ruela. Eles agacharam-se por baixo de um arco de pedra, mesmo antes de um drag?o ter enchido o local onde eles estavam com uma nova onda de fogo. Ao correr, Duncan sofria por ver aquela grande cidade dilacerada, aquele lugar que ele tinha em tempos amado e defendido. Ele n?o conseguia evitar sentir que Escalon nunca iria ser devolvido ? sua antiga gl?ria. Que a sua terra natal estava destru?da para sempre. Ouviu-se um grito e Duncan olhou para tr?s e viu que dezenas de soldados Pandesianos os tinham visto. Eles estavam a persegui-los pelas ruelas fora, aproximando-se. Duncan sabia que n?o podia lutar contra eles e que n?o podia correr mais que eles. A sa?da da cidade ainda estava longe e o tempo deles tinha-se esgotado. De repente ouviu-se um grande estrondo – e Duncan olhou para cima e viu um drag?o a roubar a torre do sino do castelo com as suas garras. "Cuidado!", gritou ele. Ele saltou para a frente e atirou Aidan e os outros para fora do caminho imediatamente antes dos restos da torre ca?rem ao lado deles. Um grande peda?o de pedra aterrou atr?s dele com um estrondo ensurdecedor, levantando um monte de p?. Aidan olhou para o seu pai, em choque e gratid?o. Duncan sentiu-se satisfeito por ter, ao menos, salvado a vida do seu filho. Duncan ouviu os gritos abafados e virou-se apercebendo-se com gratid?o que os escombros tinham, pelo menos, bloqueado o caminho dos soldados que os perseguiam. Eles continuaram a correr. Duncan lutava para continuar, com a sua fraqueza e ferimentos, decorrentes do seu aprisionamento, a atorment?-lo; ele ainda estava subnutrido, ferido e mal tratado e cada passo era um esfor?o doloroso. No entanto, ele obrigou-se a continuar, se n?o por outra raz?o, para garantir que o seu filho e os seus amigos sobreviveriam. Ele n?o podia dececion?-los. Eles viraram numa esquina apertada e chegaram a uma bifurca??o. Fizeram uma pausa, todos a olhar para Motley. "Temos de sair desta cidade!", gritou Cassandra para Motley, claramente frustrada. "E tu nem sequer sabes para onde est?s a ir!" Motley olhou para a esquerda, depois para a direita, claramente perplexo. "Costumava haver um bordel nesta ruela que vai dar ? parte de tr?s da cidade", disse ele, olhando para a direita." "Um bordel?", replicou Cassandra. "Andas em boas companhias." "Eu n?o me importo com as tuas companhias", Anvin acrescentou, "desde que nos tires daqui." "Vamos esperar que n?o esteja bloqueado", acrescentou Aidan. "Vamos!", gritou Duncan. Motley come?ou a correr novamente, virando ? direita, fora de forma e ofegante. Eles viraram tamb?m e seguiram-no, todos esperan?ados em Motley enquanto ele corria pelas vielas desertas da capital. Eles viraram uma e outra vez e, finalmente, depararam-se com uma arcada baixa de pedra. Todos se agacharam ao passarem por ela e, ao emergirem do outro lado, Duncan ficou aliviado ao encontr?-la aberta. Ele ficou emocionado ao ver, ao longe, o port?o traseiro de Andros e, para l? daquele, as plan?cies e o deserto. Um pouco al?m do port?o estavam dezenas de cavalos Pandesianos, amarrados, claramente abandonados pelos seus cavaleiros mortos. Motley sorriu. "Eu disse-te", disse ele. Duncan correu com os outros, ganhando velocidade, sentindo-se de volta a si pr?prio, sentindo uma nova onda de esperan?a – quando, de repente, ouviu um lamurio que perfurou a sua alma. Ele parou, escutando. "Esperem!", gritou ele para os outros. Todos pararam e olharam para ele como se fosse louco. Duncan ficou ali, ? espera. Poderia ser? Ele podia jurar que tinha ouvido a voz da sua filha. Kyra. Estaria ele a ouvir coisas? Claro, ele deve ter imaginado. Como ? que ela poderia estar aqui, em Andros? Ela estava muito longe daqui, do outro lado de Escalon, na Torre de Ur, s? e salva. No entanto, ele n?o saiu dali depois de ouvi-lo. Ele ficou ali, congelado, ? espera – e, depois, ouviu-o novamente. Ele ficou todo arrepiado. Desta vez ele tinha a certeza. Era Kyra. "Kyra!", disse ele em voz alta, arregalando os olhos. Sem pensar, ele virou-lhes as costas, virou as costas para a sa?da e correu de volta para a cidade em chamas. "Onde vais!?", gritou Motley atr?s dele. "Kyra est? aqui!", disse ele, ainda a correr. "E est? em perigo!" "Est?s louco?", disse Motley, apressando-se e agarrando-lhe o ombro. "Est?s a correr para uma morte certa!" Mas Duncan, determinado, empurrou a m?o de Motley e continuou a correr. "Uma morte certa", respondeu ele, "seria virar as costas ? filha que eu amo." Duncan n?o se deteve e virou sozinho numa ruela, correndo de volta para a morte, numa cidade em chamas. Ele sabia que isso significaria a sua morte. E n?o se importava. Desde que pudesse ver Kyra novamente. Kyra, ele pensou. Espera por mim. CAP?TULO CINCO O Sant?ssimo e Supremo Ra sentou-se no seu trono de ouro na capital, no seio de Andros, olhando para baixo para a c?mara repleta com os seus generais, escravos e suplicantes, esfregando as palmas das m?os nos bra?os do trono, ardendo de insatisfa??o. Ele sabia que devia sentir-se vitorioso, saciado, depois de tudo o que tinha conseguido. Afinal, Escalon tinha sido o ?ltimo basti?o da liberdade no mundo, o ?ltimo lugar no seu imp?rio n?o completamente sob sua subjuga??o e, nos ?ltimos dias, ele tinha conseguido derrotar as for?as de Andros, numa das suas grandes derrotas de todos os tempos. Ele fechou os olhos e sorriu, saboreando a imagem ao correr pelo Port?o do Sul, sem entraves, ao arrasar todas as cidades a sul de Escalon, ao abrir caminho para norte, para a capital. Ele sorria ironicamente ao pensar que aquele pa?s, em tempos t?o abundante, era agora uma enorme sepultura. Ele sabia que, a norte, Escalon n?o se tinha sa?do melhor. A sua armada tinha conseguido inundar a grande cidade de Ur, agora n?o mais do que uma mem?ria. Na costa leste, a sua armada tinha ocupado o Mar de L?grimas e destru?do todas as cidades portu?rias ao longo da costa, come?ando com Esephus. Dificilmente qualquer peda?o de Escalon ficava fora do seu alcance. Acima de tudo, o comandante desafiador de Escalon, o agitador que tinha come?ado tudo aquilo, Duncan, estava numa masmorra enquanto prisioneiro de Ra. Na verdade, Ra olhava para fora e via o nascer do sol atrav?s da janela, estando louco de entusiasmo com a ideia de levar pessoalmente Duncan at? ? forca. Ele, pessoalmente, puxaria a corda e v?-lo-ia morrer. Sorria s? de pensar. Hoje seria um dia bonito. A vit?ria de Ra estava completa em todas as frentes – e mesmo assim, ele n?o se sentia saciado. Ra ali sentado em introspe??o, tentava entender aquela sensa??o de insatisfa??o. Ele tinha tudo o que queria. O que ? que o estava a incomodar? Ra nunca se tinha sentido saciado, em nenhuma das suas campanhas, em toda a sua vida. Havia sempre algo que ardia dentro dele, um desejo por mais e mais. Mesmo agora, ele sentia isso. Que mais poderia ele fazer para satisfazer os seus desejos? Ele questionava-se. Para sentir que a sua vit?ria estava realmente completa? Lentamente, teve um plano. Ele podia matar qualquer homem, mulher e crian?a que restassem em Escalon. Ele podia estuprar as mulheres e torturar os homens primeiro. Ele sorriu largamente. Sim, isso ajudaria. Na verdade, ele podia come?ar imediatamente. Ra olhou para baixo para os seus conselheiros, centenas dos seus melhores homens, todos ajoelhados diante dele, de cabe?as baixas, nenhum a ousar estabelecer contacto visual. Todos olhavam para o ch?o sem fazer barulho, como deviam. Afinal, eles tinham a sorte de estar na presen?a de um deus como ele. Ra pigarreou. "Tragam-me as dez mulheres mais bonitas que restam em Escalon imediatamente", ordenou, numa voz profunda que ressoava pela c?mara. Um dos seus servos abaixou a cabe?a at? tocar o ch?o de m?rmore. "Sim, meu senhor!", disse ele, virando-se e saindo a correr. No entanto, quando o servo chegou ? porta esta abriu-se antes e um outro servo irrompeu na c?mara, fren?tico, correndo diretamente em dire??o ao trono de Ra. Todos os outros na sala ficaram em sobressalto, horrorizados com a afronta. Nunca ningu?m se atreveu a entrar numa sala, muito menos para abordar Ra, sem um convite formal. Fazer aquilo significava uma morte certa. O servo lan?ou-se de cara ao ch?o. Ra olhou para baixo indignado. "Matem-no", ordenou. Imediatamente, v?rios dos seus soldados aproximaram-se a correr e agarraram o homem. Eles arrastaram-no para longe, em agita??o e, enquanto isso, ele gritou: "Espere, meu grandioso Senhor! Eu vim trazer-lhe not?cias urgentes – not?cias que deve ouvir imediatamente!" Ra deixou o homem ser arrastado para longe, n?o se importando com as not?cias. O homem agitou-se durante todo o caminho, at? que, finalmente, ao chegar ? sa?da, com a porta prestes a fechar-se, ele gritou: "Duncan fugiu!" Ra, sentindo uma onda de choque, de repente, levantou a palma da m?o direita. Os seus homens pararam, segurando o mensageiro ? porta. Carrancudo, Ra processou lentamente a not?cia. Levantou-se e respirou fundo. Desceu os degraus de marfim, um de cada vez, com as botas douradas a ecoar, enquanto atravessava toda a c?mara. A sala estava em sil?ncio, em tens?o, quando ele finalmente parou bem diante do mensageiro. A cada passo que dava, Ra podia sentir a f?ria a crescer dentro dele. "Diz-me de novo", Ra ordenou, numa voz escura e sinistra. O mensageiro tremeu. "Lamento muito, meu Grande e Sant?ssimo Senhor Supremo", disse ele com uma voz tr?mula, "mas Duncan fugiu. Algu?m o ajudou a fugir das masmorras. Os nossos homens est?o a persegui-lo pela capital enquanto estamos a falar!" Ra sentiu o seu rosto a ruborizar-se, sentiu o fogo a queim?-lo por dentro. Ele cerrou os punhos. N?o o iria permitir. Ele n?o se permitiria ser roubado do seu ?ltimo peda?o de satisfa??o. "Obrigado por me trazeres esta not?cia", disse Ra. Ra sorriu e, por um momento, o mensageiro pareceu relaxado, at? come?ou a sorrir-lhe, enchendo-se de orgulho. Ra recompensou-o efetivamente. Aproximou-se e, lentamente, colocou as m?os ? volta do pesco?o do homem e, em seguida, apertou e apertou. Os olhos do homem tornaram-se protuberantes na sua cabe?a e ele agarrou os pulsos de Ra – mas foi incapaz de retir?-los. Ra sabia que ele n?o seria capaz de o fazer. Afinal, ele era apenas um homem e Ra era o Supremo e Sant?ssimo Ra, o Homem Que Foi Em Tempos um Deus. O homem caiu no ch?o, morto. Ainda assim, dando a Ra pouca satisfa??o. "Homens!", Ra trovejou. Os seus comandantes ficaram alerta, olhando para ele com medo. "Bloqueiem todas as sa?das da cidade! Enviem todos os soldados que temos de forma a encontrar este Duncan. E enquanto estiveram a faz?-lo, matem at? ao ?ltimo homem, mulher e crian?a dentro da cidade de Escalon. AVANCEM!" "Sim, Senhor Supremo!", responderam os homens, a uma s? voz. Todos eles sa?ram a correr da sala, trope?ando uns sobre os outros, cada um a correr para cumprir mais rapidamente do que os outros as ordens do seu mestre. Ra virou-se a ferver e a respirar fundo e atravessou sozinho a c?mara agora vazia. Ele saiu para uma ampla varanda com vista para a cidade. Ra saiu l? para fora e sentiu o ar fresco enquanto inspecionava a ca?tica cidade l? em baixo. Ele ficou contente ao ver que os seus soldados ocupavam a maior parte dela. Questionava-se onde ? que Duncan podia estar. Ele admirava-o, tinha de admiti-lo; talvez ele at? visse algo de si pr?prio nele. Ainda assim, Duncan iria aprender o que significava atravessar-se no caminho do Grande Ra. Ele iria aprender a aceitar a morte graciosamente. Ele iria aprender a submeter-se, como o resto do mundo. Come?aram-se a ouvir gritos e Ra olhou para baixo e viu os seus homens a levantar as espadas e lan?as e a esfaquear pelas costas homens, mulheres e crian?as inocentes. Sob as suas ordens, come?ou a correr sangue pelas ruas. Ra suspirou, contentando-se e obtendo alguma satisfa??o com aquilo. Todos aqueles Escalonites iriam aprender. Era o mesmo onde quer que ele fosse, em todos os pa?ses que ele tinha conquistado. Eles pagariam pelos pecados do seu comandante. Por?m, um ru?do s?bito cortou o ar, ouvindo-se mesmo por cima dos gritos, tirando de forma sobressaltada Ra do seu devaneio. Ele n?o conseguia entender o que era ou porque ? que o perturbava tanto. Era um burburinho baixo e profundo, parecido como um trov?o. Ao questionar-se se o tinha realmente ouvido, ouviu-o de novo, mais alto, percebendo que n?o estava a vir do ch?o – mas do c?u. Ra olhou para cima, perplexo, espreitando pelas nuvens, perguntando-se. O som ouviu-se uma e outra vez. Ele sabia que n?o era um trov?o. Era algo muito mais amea?ador. Ao examinar as nuvens cinzentas a deslizar, Ra, de repente, viu algo que nunca iria esquecer. Ele pestanejou, certo de que estava a imaginar. Mas independentemente do n?mero de vezes que ele desviava o olhar, eles ainda l? estavam. Drag?es. Um bando inteiro. Eles desceram para Escalon, com as garras estendidas, as asas levantadas, expelindo chamas de fogo. E voavam diretamente para ele. Mesmo antes de ele conseguir processar o que estava a acontecer, centenas dos seus soldados l? em baixo eram incendiados pela respira??o dos drag?es, gritando, capturados pelas colunas de fogo. Mais centenas gemiam enquanto os drag?es os despeda?avam. Permanecendo ali, entorpecido em p?nico, com descren?a, um enorme drag?o escolheu-o. Ele apontou para a sua varanda, levantou as suas garras e desceu a pique. Um momento depois, ele cortou a pedra ao meio, n?o lhe acertando porque ele se agachou. Ra, em p?nico, sentiu a pedra a dar de si sob os seus p?s. De seguida, ele sentiu-se a cair, agitando-se, gritando em agonia, para o ch?o l? em baixo. Ele tinha pensado que era intoc?vel, melhor do que todos eles. Mas a morte, afinal de contas, tinha-o encontrado. CAP?TULO SEIS Kyle balan?ou o seu bast?o com toda a sua for?a, cambaleando de exaust?o ao atingir quer os soldados Pandesianos quer os trolls que se aproximavam dele por todos os lados. Ele derrubava homens e trolls ? esquerda e ? direita. As espadas e alabardas deles ecoavam ao baterem no bast?o de Kyle, com fa?scas a voar por toda parte. Mesmo ao derrot?-los, do?am-lhe os ombros. Ele estava a lutar contra eles h? horas, estando agora cercado por todos os lados. Ele sabia que a sua situa??o era terr?vel. Ao princ?pio, os Pandesianos e os trolls lutavam entre si, deixando-o livre para lutar com quem ele desejava, mas quando viram Kyle a derrubar todos ao seu redor, obviamente perceberam que era do seu melhor interesse juntarem-se contra ele. Por um momento os Pandesianos e os trolls pararam de se tentarem matar uns aos outros e, em vez disso, focaram-se antes em mat?-lo. Ao balan?ar e atirar para tr?s tr?s trolls, um Pandesiano conseguiu esgueirar-se por tr?s de Kyle e golpear-lhe o est?mago com a sua espada. Kyle gritou e cambaleou de dor, rodopiando para evitar o pior, ainda que estivesse a sangrar. Simultaneamente e antes de se conseguir esquivar, um troll ergueu um taco e bateu-lhe no ombro, atirando Kyle ao ch?o e fazendo-lhe cair o bast?o da sua m?o. Kyle ficou ali ajoelhado, sentindo uma dor pelo ombro acima e abaixo, a latejar, enquanto tentava recuperar o f?lego. Antes de se conseguir recuperar, aproximou-se a correr mais um Troll, pontapeando-o no rosto, atirando-o de costas para o ch?o. Um Pandesiano ent?o avan?ou com uma longa lan?a, ergueu-a alto com ambas as m?os e baixou-a na dire??o da cabe?a de Kyle. Kyle, n?o estando pronto para morrer, desviou-se rodopiando e a lan?a espetou-se no ch?o mesmo ao p? da sua cara. Ele continuou a rebolar, p?s-se de p? e, ao ser atacado por mais dois trolls, agarrou uma espada do ch?o, girou e esfaqueou-os. Outros tantos se aproximaram e Kyle rapidamente agarrou no seu bast?o e atirou-os a todos ao ch?o, lutando como um animal encurralado e formando um c?rculo ? sua volta. Ele ficou ali, a respirar pesadamente, com o sangue a escorrer-lhe dos l?bios, enquanto os seus opositores formavam um denso c?rculo em torno dele, todos a aproximarem-se, com sangue nos olhos. As dores no est?mago e no ombro eram insuport?veis. Kyle tentava ignor?-las, tentava focar-se enquanto ali estava. Ele sabia que enfrentava uma morte iminente e consolava-se apenas por ter resgatado Kyra. Isso tinha feito com que tudo valesse a pena e ele estava disposto a pagar o pre?o. Ele olhou para o horizonte e consolou-se por ela ter ficado longe daquilo tudo, por se ter ido embora nas costas de Andor. Ele questionava-se se ela estaria segura, rezando para que sim. Kyle tinha lutado de forma brilhante, durante horas, um homem contra ambos os ex?rcitos, matando milhares deles. No entanto, ele sabia que agora estava demasiado fraco para continuar. Eles eram demasiados e nunca pareciam terminar. Ele viu-se no meio de uma guerra, com os trolls a inundar a terra vindos do norte, enquanto os Pandesianos apareciam do Sul. Ele j? n?o conseguia lutar contra ambos. Kyle sentiu uma dor s?bita nas suas costelas quando um troll investiu contra ele por tr?s e espetou-lhe nas costas o eixo do seu machado. Kyle virou-se com o seu bast?o, decepando o troll na garganta, mandando-o ao ch?o – mas simultaneamente dois soldados Pandesianos aproximaram-se a correr e esmagaram-no com o seu escudo. Com uma dor de cabe?a avassaladora, Kyle caiu para o ch?o e, desta vez, ele sabia, de vez. Ele estava demasiado fraco para se levantar novamente. Kyle fechou os olhos e na sua mente passaram imagens da sua vida. Ele viu todos os Sentinelas, pessoas com que ele tinha servido durante s?culos, viu todas as pessoas que ele tinha conhecido e amado. Acima de tudo, ele viu o rosto de Kyra. A ?nica coisa que lamentava era que n?o a veria novamente antes de morrer. Kyle olhou para cima quando tr?s trolls hediondos se aproximaram, erguendo as suas alabardas. Ele sabia que tinha chegado o momento. Ao baixarem-nas tudo ficou mais claro. Ele foi capaz de ouvir o som do vento; sentir realmente o cheiro do ar fresco e puro. Pela primeira vez em s?culos, ele sentia-se verdadeiramente vivo. Ele questionou-se porque ? que nunca tinha sido capaz de realmente apreciar a vida at? estar quase morto. De repente, enquanto Kyle fechava os olhos e se preparava para o abra?o da morte, um rugido perfurou o c?u, acordando-o do devaneio. Ele pestanejou e olhou para cima, vendo algo a surgir atrav?s das nuvens. Ao in?cio pensou serem anjos que vinham para levar o seu corpo. Mas depois ele viu que os trolls que estavam por cima dele estavam eles pr?prios congelados e confusos, todos ? procura no c?u – e Kyle sabia que era real. Era outra coisa. E ent?o, ao vislumbrar o que era o seu cora??o parou. Drag?es. Um bando de drag?es circulava, descendo a pique em f?ria, expelindo fogo. Eles desciam rapidamente, com as garras estendidas, soltando a sua chama e, sem aviso, mataram centenas de soldados e trolls de uma vez. Uma onda de fogo desceu, espalhando-se e, em poucos segundos, os trolls que estavam sobre Kyle ficaram todos queimados. Kyle, ao ver as chamas a aproximarem-se, agarrou num enorme escudo de cobre ao lado dele e abrigou-se atr?s dele, enrolando-se como uma bola. O calor era intenso quando as chamas l? tocavam, quase a queimar-lhe as m?os, mas ele manteve-se firme. Os trolls e os soldados mortos ca?ram em cima dele, com a sua armadura a proteg?-lo ao vir mais uma onda de chamas, esta mais poderosa. Ironicamente, aqueles trolls e Pandesianos estavam agora a salv?-lo da morte. Ele manteve-se firme, suando, mal capaz de suportar o calor enquanto os drag?es mergulhavam a pique uma e outra vez. Incapaz de aguentar por mais tempo, ele desmaiou, rezando para que n?o fosse queimado vivo. CAP?TULO SETE Ves?vio estava ? beira do precip?cio, ao lado da Torre de Kos, olhando para as ondas do Mar do Arrependimento a rebentar, com o vapor a continuar a subir do local a partir do qual a Espada de Fogo se tinha afundado – e ele sorriu ironicamente. Ele tinha conseguido. A Espada de Fogo j? n?o existia. Ele tinha roubado a Torre de Kos, tinha roubado Escalon do seu mais precioso artefacto. Ele tinha, de uma vez por todas, baixado as Chamas. Ves?vio irradiava alegria, vertiginoso com a excita??o. A sua m?o da palma ainda latejava no s?tio onde ele tinha agarrado a ardente Espada de Chamas e, ao olhar para baixo, ele viu nele a marca da ins?gnia. Ele passou o dedo ao longo das suas cicatrizes recentes, sabendo que iriam ficar l? para sempre, um sinal do seu sucesso. A dor era ofuscante, mas ele for?ava-se a n?o pensar nisso, for?ava-se a n?o se deixar incomodar por isso. Na verdade, ele tinha aprendido sozinho a desfrutar da dor. Depois de todos aqueles s?culos, agora, finalmente, o seu povo teria o que lhes era devido. J? n?o seriam relegados para Marda, para os confins setentrionais do imp?rio, para a terra inf?rtil. Agora eles iriam vingar-se por terem sido colocados em quarentena por detr?s de uma parede de chamas, inundariam Escalon, rasg?-lo-iam em peda?os. Ele ficou muito entusiasmado, inebriado com aquele pensamento. Ele n?o conseguia esperar para voltar, atravessar o Dedo do Diabo, voltar para o continente e encontrar o seu povo no meio de Escalon. Toda a na??o de trolls iria convergir em Andros e, juntos, um peda?o de cada vez, iam destruir Escalon para sempre. Tornar-se-ia a nova p?tria dos trolls. No entanto, ali a olhar para as ondas no local onde a espada se tinha afundado, algo atormentava Ves?vio. Ele olhava para o horizonte, examinando as ?guas negras da Ba?a da Morte e havia algo que persistia, algo que tornava a sua satisfa??o incompleta. Ao observar o horizonte, ele avistou ao longe um pequeno navio solit?rio, com velas brancas, que navegava ao longo da Ba?a da Morte. Navegava para oeste, para longe do Dedo do Diabo. Ao v?-lo ir, ele percebeu que algo estava errado. Ves?vio virou-se para tr?s e olhou para a Torre ao lado dele. Estava vazia, com as portas abertas. A Espada tinha estado ? espera dele. Aqueles que a guardavam tinham-na abandonado. Tinha sido tudo demasiado f?cil. Porqu?? Ves?vio sabia que o assassino Merk andava a perseguir a Espada; ele tinha-o seguido todo o caminho at? ao outro lado do Dedo do Diabo. Ent?o porque ? que ele a iria abandonar? Porque ? que ele estava a navegar para longe dali, para o outro lado da Ba?a da Morte? Quem era aquela mulher que navegava com ele? Ser? que ela havia estado a guardar aquela torre? Que segredos ? que ela estava a esconder? E para onde ? que eles estavam a ir? Ves?vio olhava para o vapor que subia do mar e, em seguida, olhava de novo para o horizonte. As suas veias latejavam. Ele n?o conseguia evitar sentir que, de alguma forma, tinha sido enganado. Que uma vit?ria completa lhe tinha sido arrancada. Quanto mais Ves?vio pensava naquilo, mais percebia que algo estava errado. Era tudo demasiado conveniente. Ele observava o mar violento l? em baixo, as ondas a rebentar nas rochas, o vapor a subir e percebeu que nunca iria saber a verdade. Ele nunca iria saber se a Espada de Chamas se tinha realmente afundado at? ao fundo. Se havia alguma coisa que lhe estivesse a escapar. Se sequer tinha sido a espada certa. Se as chamas se iam manter baixas, tamb?m. Ves?vio, indignado, tomou uma decis?o: ele tinha de persegui-los. Ele nunca iria saber a verdade at? o fazer. Haveria algures uma outra torre secreta? Outra espada? Mesmo se n?o houvesse, mesmo se ele tivesse conseguido tudo o que precisava, Ves?vio era famoso por n?o deixar as suas v?timas vivas. Sempre. Ele perseguia sempre cada ?ltimo homem at? ? sua morte e, ficar ali de p?, a observar aqueles dois a escaparem-se do seu alcance, n?o lhe assentava. Ele sabia que n?o podia simplesmente deix?-los ir. Ves?vio olhou para as dezenas de navios ainda amarrados ?s margens, abandonados, balan?ando descontroladamente nas ondas, como se estivessem a esperar por ele. E tomou uma decis?o imediata. "Para os navios!", ordenou ao seu ex?rcito de trolls. Como um, eles agitaram-se para cumprir a sua ordem, correndo at? a costa rochosa, embarcando nos navios. Ves?vio seguiu-os, embarcando na popa do ?ltimo navio. Ele virou-se, ergueu a sua alabarda e cortou a corda. Um momento depois, ele estava pronto, acompanhado de todos os trolls, todos eles amontoados em navios, partindo pela lend?ria Ba?a da Morte. Algures no horizonte navegavam Merk e aquela mi?da. E Ves?vio n?o iria parar, independentemente para onde tivesse de navegar, at? que ambos ficassem mortos. CAP?TULO OITO Na proa do pequeno navio Merk segurava-se ? amurada, com a filha do ex-rei Tarnis ao lado dele, cada um perdido no seu pr?prio mundo enquanto eram sacudidos pelas ?guas agitadas da Ba?a da Morte. Merk olhou para as ?guas negras, varridas pelo vento, salpicadas com carneirinhos e n?o podia deixar de ser questionar sobre a mulher ao lado dele. O mist?rio em torno dela n?o deixava de se aprofundar desde que haviam deixado a Torre de Kos, embarcando naquele navio para algum lugar misterioso. O seu pensamento estava inundado de perguntas para ela. A filha de Tarnis. Era dif?cil para Merk acreditar. O que ? que ela estava a fazer ali, no fim do Dedo do Diabo, barricada na Torre de Kos? Estaria a esconder-se? Em ex?lio? Sendo protegida? De quem? Merk sentiu que ela, com os seus olhos transl?cidos, com a sua tez demasiado p?lida e pose imperturb?vel, era de outra ra?a. Mas se assim era, ent?o quem era a sua m?e? Porque ? que ela tinha sido deixada sozinha a proteger a Espada de Chamas, a Torre de Kos? Para onde tinha ido todo o seu povo? E mais premente, para onde ? que ela os estava a levar agora? Com uma m?o no leme, ela dirigia o navio cada vez mais para a ba?a em dire??o a um qualquer destino no horizonte que intrigava Merk. "Ainda n?o me disseste para onde ? que estamos a ir", disse ele, erguendo a voz para se conseguir fazer ouvir por causa do vento. Seguiu-se um longo sil?ncio, t?o prolongado que ele n?o tinha a certeza se ela iria alguma vez responder. "Ent?o, diz-me pelo menos o teu nome", acrescentou, percebendo que ela nunca lhe o tinha dito. "Lorna", ela respondeu. Lorna. Ele gostou da forma como soava. "As Tr?s Adagas", acrescentou ela, voltando-se para ele. "? para l? que vamos." Merk franziu a testa. " As Tr?s Adagas?", perguntou ele, surpreendido. Ela simplesmente olhou em frente. Merk, por?m, ficou perplexo com a not?cia. As ilhas mais remotas em todo o Escalon. As Tr?s Adagas eram t?o nas profundezas da Ba?a da Morte que ele n?o conhecia ningu?m que alguma vez tivesse viajado at? l?. Knossos, claro, a lend?ria ilha e fortaleza, era a mais afastada e a lenda sempre disse que tinha os guerreiros mais ferozes de Escalon. Eram homens que viviam numa ilha deserta de uma pen?nsula deserta, na mais perigosa massa de ?gua que havia. Falava-se que eram homens t?o violentos quanto o mar que os cercava. Merk nunca tinha conhecido um em pessoa. Ningu?m tinha. Eles eram mais lend?rios do que reais. "Os teus Sentinelas retiraram-se para l??", perguntou. Lorna assentiu. "Eles est?o ? nossa espera agora", disse ela. Merk virou-se e olhou para tr?s, querendo dar uma ?ltima olhadela ? Torre de Kos e, ao faz?-lo, ficou aterrorizado com o que viu: l?, no horizonte, a persegui-los, estavam dezenas de navios com as velas cheias. "Temos companhia", disse ele. Lorna, para sua surpresa, nem sequer se virou, assentindo simplesmente. "Eles v?o perseguir-nos at? os confins da terra", disse ela calmamente. Merk ficou intrigado. "Mesmo tendo eles a Espada de Chamas?" "N?o era atr?s da Espada que eles estavam.", corrigiu ela. "Era da destrui??o. Da destrui??o de todos n?s." "E quando eles nos apanharem?", perguntou Merk. "N?o podemos lutar sozinhos contra um ex?rcito de trolls. Nem uma pequena ilha de guerreiros pode, n?o importa o qu?o ferozes eles possam ser." Ela assentiu com a cabe?a, continuando imperturb?vel. "N?s podemos realmente morrer", respondeu ela. "No entanto, devemos faz?-lo na companhia dos nossos colegas Sentinelas, lutando por aquilo que sabemos que ? verdadeiro. Ainda h? muitos segredos guardados." "Segredos?", perguntou ele . Mas ela ficou em sil?ncio, observando as ?guas. Ele estava prestes a question?-la mais, quando uma ventania s?bita quase virou o barco. Merk caiu de barriga, batendo na lateral do casco e deslizando sobre a borda. Oscilando, ele agarrou na amurada para salvar a sua querida vida enquanto as suas pernas se afundavam na ?gua. A ?gua era t?o gelada que ele sentiu que iria congelar at? a morte. Ele ficou pendurado por uma ?nica m?o, quase todo submerso e, quando olhou para tr?s, ficou aterrorizado ao ver, de repente, um grupo de tubar?es vermelhos que se aproximava. Ele sentiu uma dor horr?vel quando dentes se enfiaram na barriga das suas pernas e viu sangue na ?gua que sabia que era seu. De seguida Lorna aproximou-se e rachou as ?guas com o seu bast?o; ao faz?-lo, espalhou-se uma luz branca brilhante sobre a superf?cie e os tubar?es dispersaram. No mesmo movimento, ela agarrou na m?o dele e arrastou-o de volta para o navio. O navio endireitou-se quando o vento diminuiu e Merk sentou-se no conv?s, molhado, cheio de frio, a respirar com dificuldade e com uma terr?vel dor na barriga das pernas. Lorna examinou a sua ferida, rasgou um peda?o de pano da sua camisa e envolveu-o em torno da sua perna, estancando-lhe o sangue. "Salvaste-me a vida", disse ele, cheio de gratid?o. "Havia dezenas daquelas coisas ali. Eles iam matar-me." Ela olhou com intensidade para ele com os seus olhos azuis-claros hipnotizantes. "Aquelas criaturas s?o a menor das tuas preocupa??es aqui", disse ela. Eles navegaram em sil?ncio, com Merk a conseguir lentamente voltar a p?r-se de p?, a olhar para o horizonte, certificando-se que segurava a amurada com for?a, com ambas as m?os desta vez. Ele observava o horizonte, mas tanto quanto o conseguia fazer, n?o via nenhum sinal das Tr?s Adagas. Ele olhava para baixo e examinava as ?guas da Ba?a da Morte com um novo respeito e medo. Ele olhava com cuidado e via grupos de pequenos tubar?es vermelhos sob a superf?cie, quase invis?veis, escondidos principalmente pelas ondas. Ele sabia agora que entrar naquela ?gua significava a morte – e ele n?o conseguia evitar questionar-se que outras criaturas habitariam aquela massa de ?gua. O sil?ncio aprofundou-se, pontuado apenas pelo uivo do vento. Depois de muitas horas passarem, Merk, sentindo-se desolado ali, precisava falar. "O que fizeste com aquele bast?o…", disse Merk, virando-se para Lorna. "Eu nunca vi nada parecido." Lorna permaneceu inexpressiva, ainda a olhar para o horizonte. "Fala-me sobre ti", ele pressionou. Ela olhou para ele e depois olhou de volta para o horizonte. "O que gostarias de saber?", perguntou ela. "Qualquer coisa", respondeu ele. "Tudo." Ela remeteu-se ao sil?ncio por um longo per?odo e, ent?o, finalmente, disse: "Come?a tu." Merk ficou a olhar para ela, surpreso. "Eu?", perguntou ele. "O que ? que queres saber?" "Conta-me sobre a tua vida", disse ela. "Qualquer coisa que me queiras dizer." Merk respirou fundo virando-se e olhando para o horizonte. A sua vida era a ?nica coisa sobre a qual ele n?o queria falar. Finalmente, percebendo que tinha uma longa jornada pela frente, ele suspirou. Ele sabia que alguma vez teria de se encarar a si mesmo, mesmo n?o estando orgulhoso disso. "Eu tenho sido um assassino durante a maior parte da minha vida", disse ele lentamente, pesarosamente, olhando fixamente para o horizonte, numa voz grave e cheia de rep?dio por si pr?prio. "Eu n?o tenho orgulho disso. Mas eu era o melhor no que fazia. Eu era procurado por reis e rainhas. Ningu?m podia rivalizar com as minhas habilidades." Merk remeteu-se a um longo sil?ncio, preso em mem?rias de uma vida de que se arrependia, mem?rias de que ele preferia n?o se lembrar. "E agora?", perguntou ela em voz baixa. Merk estava grato por n?o detetar qualquer julgamento na sua voz, como habitualmente acontecia com os outros. Ele suspirou. "Agora", ele disse, "j? n?o ? o que eu fa?o. J? n?o ? quem eu sou. Eu comprometi-me a renunciar ? viol?ncia. A colocar os meus servi?os a uma causa. No entanto, por muito que tente, n?o consigo libertar-me disso. A viol?ncia parece encontrar-me. H? sempre, ao que parece, uma outra causa." "E qual ? a tua causa?", perguntou ela. Ele ficou a pensar naquilo. "A minha causa, inicialmente, era tornar-me um Sentinela", respondeu ele. "Dedicar-me ao servi?o. Proteger a Torre de Ur, proteger a Espada de Chamas. Quando isso falhou, eu senti que a minha causa era chegar ? Torre de Kos, para salvar a espada." Ele suspirou. "E, no entanto, aqui estamos n?s, a navegar pela Ba?a da Morte, com a Espada desaparecida, os trolls a seguirem-nos e em dire??o a uma s?rie de ilhas ?ridas", Lorna respondeu com um sorriso. Merk franziu a testa, aborrecido. "Eu perdi a minha causa", disse ele. "Eu perdi o meu prop?sito de vida. Eu j? n?o me conhe?o a mim pr?prio. Eu n?o sei a minha dire??o." Lorna assentiu. "Isso ? um bom lugar para se estar", disse ela. "Um lugar de incerteza ? tamb?m um lugar de possibilidade." Merk observava-a, perguntando-se. Ele estava tocado por ela n?o condenar. Qualquer outra pessoa que tivesse ouvido a sua hist?ria iria vilipendi?-lo. "Tu n?o me julgas por quem eu sou", observou ele, surpreendido. Lorna olhou fixamente para ele, com um olhar t?o intenso que era como olhar para a lua. "Isso era quem tu eras", ela corrigiu. "N?o ? quem tu ?s agora. Como ? que te posso julgar por quem foste em tempos? Eu s? julgo o homem que est? perante mim." Merk sentiu-se restabelecido pela sua resposta. "E quem sou eu agora?", perguntou ele, querendo saber a resposta, sem ele pr?prio saber qual era. Ela olhou fixamente para ele. "Eu vejo um guerreiro bom", respondeu ela. "Um homem altru?sta. Um homem que quer ajudar os outros. E um homem cheio de nostalgia. Vejo um homem que est? perdido. Um homem que nunca se conheceu a si mesmo." Merk pensava nas palavras dela que ressoavam dentro dele. Ele sentiu que todas aquelas palavras eram verdadeiras. Demasiado verdadeiras. Um longo sil?ncio abateu-se entre eles, enquanto o seu pequeno navio oscilava nas ?guas, fazendo lentamente o seu caminho para oeste. Merk vigiava atr?s vendo a frota de trolls ainda no horizonte, ainda a uma dist?ncia suficiente boa. "E tu?", perguntou ele finalmente. "?s filha de Tarnis, n?o ?s?" Ela procurou o horizonte, com os olhos a brilhar e, finalmente, assentiu. "Sou", respondeu ela. Merk ficou surpreendido ao ouvi-lo. "Ent?o porque ? que estavas aqui?", perguntou ele. Ela suspirou. "Eu tenho estado aqui escondida desde crian?a." "Mas porqu??", pressionou ele. Ela encolheu os ombros. "Eu suponho que era demasiado perigoso ficar na capital. As pessoas n?o podiam saber que eu era a filha ileg?tima do rei. Era mais seguro aqui." "Mais seguro aqui?", perguntou ele. "Nas extremidades do mundo?" "Eu fiquei a guardar um segredo", explicou ela. "Mais importante ainda do que o reino de Escalon". O cora??o dele batia com for?a ao questionar-se o que poderia ser. "Vais dizer-me?", perguntou. Mas Lorna lentamente virou-se e apontou para a frente. Merk seguiu o seu olhar e l?, no horizonte, onde o sol brilhava sobre tr?s ilhas ?ridas, erguia-se do oceano, a ?ltima fortaleza de pedra s?lida. Era o lugar mais desolado e, no entanto, o mais belo que Merk j? tinha visto. Um lugar distante o suficiente para armazenar todos os segredos da magia e do poder. "Bem-vindo a Knossos", disse Lorna. CAP?TULO NOVE Duncan, sozinho, coxeando por causa das dores nos tornozelos e pulsos, corria pelas ruas de Andros, ignorando-as, estimulado pela adrenalina ao pensar numa coisa apenas: em salvar Kyra. Os gritos de socorro dela ecoavam na sua mente, na sua alma, fazendo-o esquecer os seus ferimentos enquanto corria pelas ruas, a transpirar, em dire??o ao som. Duncan serpenteava-se pelas estreitas ruelas de Andros, sabendo que Kyra estava logo a seguir ?s espessas paredes de pedra. A toda ? sua volta os drag?es desciam a pique, lan?ando fogo a todas as ruas, com um calor tremendo irradiando das paredes, t?o quente que Duncan conseguia senti-lo, mesmo do outro lado da pedra. Ele esperava e rezava para que eles n?o descessem para aquela ruela – sen?o, seria o seu fim. Mesmo com dores, Duncan n?o parava. Nem se virava. N?o podia. Impulsionado pelo instinto de um pai, ele fisicamente n?o poderia ir a nenhum lado, exceto em dire??o ao som da sua filha. Passou-lhe pela cabe?a que estava a correr para a morte, perdendo qualquer hip?tese que teria de escapar. No entanto, isso n?o o deteve. A sua filha estava presa e, agora, isso era tudo o que o importava. "N?O!", ouviu-se o grito. Duncan arrepiou-se. Ouviu novamente o grito dela. O seu cora??o teve um abalo ao ouvir o som. Ele correu mais r?pido, com todas as suas for?as, virando em mais uma ruela. Finalmente, ao virar novamente, ele avan?ou por um baixo arco de pedra e o c?u abriu-se diante dele. Duncan foi dar a um p?tio aberto e, ficando ali ao canto, ele ficou atordoado com o que viu diante de si. Do outro lado do p?tio as chamas enchiam o ar e drag?es passavam de um lado para o outro, expelindo fogo e, debaixo de uma sali?ncia de pedra, mal protegida contra todo o fogo, estava a sua filha. Kyra. Ali estava ela, ao vivo, viva. Ainda mais chocante do que v?-la ali, viva, era ver o drag?o beb? deitado ao lado dela. Duncan olhou fixamente, confundido com o que via. Ao princ?pio, tinha-lhe parecido que Kyra estava a lutar para matar um drag?o que tinha ca?do do c?u. Mas ent?o viu que o drag?o estava preso por um pedregulho. Ele ficou perplexo ao ver Kyra a empurr?-lo. O que ? que ela estava a tentar fazer, ele perguntava-se? Libertar um drag?o? Porqu?? "Kyra!", ele gritou. Duncan atravessou a correr o p?tio a c?u aberto, evitando colunas de chamas, evitando a pancada violenta da garra de um drag?o, ainda a correr at? finalmente chegar ao lado da sua filha. Ao faz?-lo, Kyra olhou para cima e ficou em choque. E, em seguida, feliz. "Pai!", disse ela. Ela correu para os seus bra?os. Duncan abra?ou-a e ela abra?ou-o tamb?m. Segurando-a nos seus bra?os, ele sentiu-se mais uma vez recuperado, como se uma parte de si tivesse voltado. L?grimas de alegria corriam pelo seu rosto. Ele mal podia acreditar que Kyra estivesse realmente ali e viva. Ela agarrou-o e ele agarrou-a. Acima de tudo, enquanto a sentia tremer nos seus bra?os, ele ficou aliviado por ela n?o estar ferida. Lembrando-se, ele afastou-a, virou-se para o drag?o, tirou a sua espada e ergueu-a, prestes a cortar a cabe?a do drag?o para proteger sua filha. "N?o!", gritou Kyra. Ela surpreendeu Duncan ao aproximar-se a correr e agarrar-lhe o pulso com uma for?a inesperada, segurando-lhe o golpe. Esta n?o era a filha d?cil que ele tinha deixado l? tr?s em Volis; agora ela era claramente uma guerreira. Duncan olhou para ela, perplexo. "N?o o magoes", ordenou numa voz segura, a voz de uma guerreira. "Theon ? meu amigo." Duncan olhou para ela, atordoado. "Teu amigo?", perguntou. "Um drag?o?" "Por favor, Pai", disse ela, "h? pouco tempo para explicar. Ajuda-nos. Ele est? preso. Eu n?o consigo remover este pedregulho sozinha." Duncan confiou nela apesar de estar em choque. Ele embainhou a espada, colocou-se ao lado dela, e empurrou o pedregulho com toda a sua for?a. No entanto, por muito que tentasse, ele mal se moveu. "? muito pesado", disse ele. "N?o consigo. Lamento." De repente, ouviu-se o barulho de armaduras atr?s dele e Duncan virou-se e ficou muito feliz ao ver Aidan, Anvin, Cassandra e Branco, todos a aproximarem-se apressadamente. Eles tinham voltado para ele, tinham arriscado as suas vidas, tamb?m, mais uma vez. Sem hesitar, todos eles correram at? ao pedregulho e empurraram-no. O pedregulho rebolou um pouco, mas, ainda assim, eles n?o conseguiram tir?-lo. Ouviu-se o som de uma respira??o ofegante e Duncan virou-se e viu Motley a correr para recuperar o atraso relativamente aos outros, sem f?lego. Ele juntou-se a eles, atirando o seu peso contra o pedregulho – e, desta vez, come?ou realmente e ceder. Motley, o ator, o tonto com excesso de peso, aquele de quem eles esperavam menos, fez a diferen?a para retirarem o pedregulho de cima do drag?o. Com um empurr?o o pedregulho aterrou com um estrondo, numa nuvem de poeira. O drag?o estava livre. Theon levantou-se, guinchando, arqueando as costas, estendendo as suas garras. Em f?ria, ele olhou para o c?u. Um grande drag?o roxo tinha-os visto e estava a descer a pique diretamente na dire??o deles. Theon, sem parar, saltou no ar, abriu as suas mand?bulas e voou diretamente para cima, firmando-se na jugular macia do incauto drag?o. Theon aguentou-se com toda a sua for?a. O enorme drag?o gritava em f?ria, apanhado desprevenido, n?o estando claramente ? espera de tanto do beb? drag?o. Os dois foram embater numa parede de pedra do outro lado do p?tio. Duncan e os outros trocavam olhares de choque enquanto Theon lutava com o drag?o, recusando-se a desistir do grande drag?o que se contorcia, prendendo-o do outro lado do p?tio. Theon, enfurecido, retorcendo-se, rosnando, n?o desistia at? que o drag?o maior finalmente ficou sem for?as. Por um momento, tiveram uma tr?gua. "Kyra!", gritou Aidan. Kyra olhou para baixo e reparou no seu irm?o mais novo. Duncan viu com alegria Aidan a correr para os bra?os de Kyra. Ela abra?ou-o, enquanto Branco saltava e lambia as palmas das m?os de Kyra, claramente emocionado. "Meu irm?o", disse Kyra com os olhos cheios de l?grimas. "Est?s vivo." Duncan conseguia ouvir o al?vio na sua voz. Os olhos de Aidan, de repente, encheram-se de tristeza. "Brandon e Braxton est?o mortos", ele anunciou a Kyra. Kyra empalideceu. Ela virou-se e olhou para Duncan. Ele balan?ou a cabe?a em solene confirma??o. De repente Theon voou e pousou diante deles, batendo as suas asas e gesticulando para que Kyra subisse para as suas costas. Duncan ouviu os rugidos l? bem no alto e olhou para cima e viu-os a todos a circular, preparando-se para descer a pique. Para espanto de Duncan, Kyra montou-se em Theon. L? estava ela, no topo de um drag?o, forte, feroz, com toda a postura de uma grande guerreira. A menina que em tempos ele tinha conhecido j? n?o existia; ela tinha sido substitu?da por uma guerreira orgulhosa, uma mulher que podia comandar legi?es. Ele nunca se tinha sentido t?o orgulhoso como hoje. "N?o temos tempo. Venham comigo ", disse-lhe. "Todos voc?s. Juntem-se a mim." Olharam todos uns para os outros surpreendidos e Duncan sentiu um buraco no est?mago com a ideia de montar um drag?o, especialmente quando ele lhes rosnou. "Depressa!", disse ela. Duncan vendo o bando de drag?es a descer e sabendo que eles tinham pouca escolha, entrou em a??o. Ele apressou-se juntamente com Aidan, Anvin, Motley, Cassandra, Septin e Branco, saltando todos para as costas do drag?o. Ele agarrou nas pesadas e antigas escamas, maravilhado por estar, efetivamente, sentado nas costas de um drag?o. Era como um sonho. Ele segurou-se com todas as suas for?as e o drag?o levantou no ar. O seu est?mago sentiu-se aliviado e ele mal podia acreditar no que sentia. Pela primeira vez na sua vida, ele estava a voar no ar, por cima das ruas, mais r?pido do que nunca. Theon, mais r?pido do que todos eles, voava mesmo acima das ruas, girando e virando, t?o rapidamente que os outros drag?es n?o conseguiam alcan??-lo no meio de toda a confus?o e p? da capital. Duncan olhou para baixo e ficou espantado de ver a cidade de cima, de ver os topos de edif?cios, as ruas sinuosas dispostas como um labirinto. Kyra dirigia Theon de uma forma brilhante e Duncan estava t?o orgulhoso da sua filha, t?o espantado por ela ser capaz de controlar um animal como este. Em poucos momentos, eles ficaram livres, a c?u aberto, para al?m das paredes da capital, a sobrevoar a paisagem. "Temos de ir para sul!", Anvin gritou. "H? forma??es rochosas l?, para al?m do per?metro da capital. Todos os nossos homens est?o ? nossa espera! Eles retiraram-se para l?." Kyra dirigia Theon e, em pouco tempo, eles estavam todos a voar para sul, em dire??o a um enorme afloramento de rocha no horizonte. Duncan viu ? frente centenas de pedregulhos enormes, pontilhados por pequenas cavernas no interior, no horizonte, a sul das muralhas da capital. Ao aproximaram-se, Duncan viu a armadura e armamento no interior das cavernas, brilhando ? luz do deserto, ficando satisfeito por ver centenas dos seus homens l? dentro, esperando por ele naquele ponto de encontro. Kyra levou Theon para baixo e eles desceram na entrada de uma caverna enorme. Duncan pode ver o medo espelhado nos rostos dos homens l? em baixo quando o drag?o se aproximou, preparando-se para um ataque. Mas, de seguida, eles avistaram Kyra e os outros nas suas costas e as suas express?es mudaram para express?es de surpresa. Eles baixaram a guarda. Duncan desmontou com Kyra e os outros e correu para abra?ar os seus homens, muito feliz por v?-los novamente, vivos. Estavam l? Kavos e Bramthos, Seavig e Arthfael, homens que arriscaram as suas vidas por ele, homens que ele pensava que nunca mais veria. Duncan virou-se e viu com espanto que Kyra n?o tinha desmontado com os outros. "Porque ? que ainda ai est?s sentada?", perguntou. "N?o ficas connosco?" Mas Kyra ficou l?, orgulhosa e de costas direitas, abanando solenemente a cabe?a. "N?o devo, Pai. Eu tenho uns assuntos muito importantes noutro lugar. Em nome de Escalon." Duncan olhava para ela, perplexo, maravilhado com a forte guerreira em que a sua filha se tinha tornado. "Mas onde?", perguntou Duncan. "Onde ? que ? mais importante do que ao nosso lado?" Ela hesitou. "Marda", ela respondeu. Duncan sentiu um arrepio ao ouvir a palavra. "Marda?", engasgou-se. "Tu? Sozinha? Nunca vais conseguir voltar!" Ela assentiu com a cabe?a e ele via nos olhos dela que ela j? sabia. "Eu jurei que ia", respondeu ela, "e eu n?o posso abandonar a minha miss?o. Agora que est?s seguro, o meu dever chama-me. N?o me ensinaste sempre que o dever vem em primeiro lugar, Pai?" Duncan sentiu-se a inchar de orgulho pelas palavras dela. Ele aproximou-se e abra?ou-a, apertando-a contra ele, enquanto os seus homens se posicionavam ? volta deles. "Kyra, minha filha. Tu ?s a melhor parte da minha alma". Ele viu os olhos dela cheios de l?grimas e ela assentiu de volta, mais forte, mais poderosa, sem os sentimentos que ela costumava ter. Ela deu um pequeno pontap? e Theon ficou rapidamente no ar. Kyra voava orgulhosamente nas suas costas, mais e mais alto, para o c?u. O cora??o de Duncan ficou destro?ado ao v?-la ir, em dire??o ao norte, perguntando-se se nunca mais a veria, enquanto ela voava algures para a escurid?o de Marda. CAP?TULO DEZ Kyra inclinava-se para a frente agarrando as escamas de Theon enquanto voavam, segurando-se com firmeza enquanto o vento passava a rasgar pelos seus cabelos. Eles voavam por dentro e por fora das nuvens. As m?os dela tremiam por causa da humidade e do frio e, no entanto, Kyra ignorava tudo aquilo enquanto eles atravessavam Escalon na dire??o de Marda. Agora nada a poderia deter. Kyra n?o parava de pensar em tudo pelo qual ela tinha acabado de passar, ainda a tentar process?-lo. Ela lembrava-se do seu pai e estava feliz ao pensar que ele estava seguro com os seus homens fora de Andros. Ela sentia-se muito satisfeita. Ela quase morreu, uma e outra vez, a tentar alcan??-lo, tendo sido avisada para se manter longe pela sua sobreviv?ncia. No entanto, ela n?o tinha desistido, sentindo profundamente no seu cora??o que ele precisava dela. Ela tinha aprendido uma li??o valiosa: ela devia sempre confiar nos seus instintos, independentemente de quantas pessoas a alertassem para se manter longe. Na verdade, ao refletir sobre isso, ela percebia agora que era precisamente por isso que Alva a tinha advertido para ela se manter longe: era um teste. Ele havia deixado claro que ela morreria se voltasse para o seu pai porque ele queria testar a sua determina??o, testar a sua coragem. Ele sempre soubera que ela iria viver. Por?m, ele queria ver se ela iria para combate se pensasse que iria morrer. Claro que, ao mesmo tempo, o seu pai tinha-a salvado; se ele n?o tivesse chegado quando chegou, Theon ainda estaria preso sob os escombros e ela certamente estaria morta. Pensar no seu pai a sacrificar tudo por ela enchia-lhe o cora??o, tamb?m. Pensar nele enfrentando as chamas, os drag?es e a morte, tudo simplesmente por ela, f?-la chorar. Kyra sorriu ao pensar no seu irm?o Aidan, t?o feliz por ele estar vivo e seguro, tamb?m. Ela pensou nos seus dois irm?os mortos e, por muitos conflitos e rivalidade que tivesse havido entre eles, ainda lhe do?a. Ela desejava poder ter l? estado para proteg?-los. Kyra pensou em Andros, em tempos a grande capital, agora um caldeir?o de fogo e ficou destro?ada. Voltaria Escalon alguma vez ? sua antiga gl?ria? Tanta coisa havia acontecido ao mesmo tempo que Kyra mal podia processar. Era como se o mundo estivesse a girar fora de controlo abaixo dela, como se a ?nica constante daqueles dias de hoje fosse a mudan?a. Kyra tentou sacudir tudo da sua mente e concentrar-se na jornada diante dela: Marda. Kyra sentiu-se infundida com um sentido de prop?sito enquanto voava, com o seu cora??o a bater, ansiosa para chegar l?, para encontrar o Bast?o da Verdade. Ela desceu a pique atrav?s das nuvens, olhando para baixo, ? procura de marcadores, tentando ver o qu?o perto estava da fronteira, as Chamas. Ao procurar na paisagem, ficou destro?ada ao ver o que tinha acontecido ? sua terra natal: ela viu uma terra dilacerada, com cicatrizes, queimada pelas chamas. Ela viu fortalezas inteiras destru?das, quer por soldados Pandesianos ou por trolls saqueadores, ou por drag?es enfurecidos, ela n?o sabia. Ela viu uma terra t?o devastada que estava irreconhec?vel relativamente ao lugar que ela j? havia conhecido e amado. Era dif?cil de acreditar. O Escalon que ela conhecia j? n?o existia. Tudo lhe parecia surreal. Era dif?cil imaginar que tal mudan?a podia vir de forma t?o dr?stica e t?o rapidamente, o que a fazia pensar. E se, naquela noite de neve, ela nunca tivesse encontrado o ferido Theos? O destino de Escalon teria tomado um rumo diferente? Ou estava tudo predestinado? Era ela a ?nica respons?vel por tudo aquilo, por tudo o que ela via l? em baixo? Ou ela era apenas o ve?culo? Teria tudo acontecido de outra maneira, indiferentemente? Kyra queria desesperadamente descer a pique, ? terra l? em baixo, ficar ali em Escalon e ajudar a montar guerra contra os Pandesianos, contra os trolls, para ajudar a arranjar tudo o que conseguisse. No entanto, apesar de uma sensa??o de pavor iminente, ela for?ou-se a olhar para cima, a manter-se focada na sua miss?o, a manter-se a voar para norte, algures na dire??o da escurid?o de Marda. Kyra estremeceu. Ela sabia que seria uma viagem ? pr?pria ess?ncia das trevas. Marda tinha sido sempre, desde que ela era jovem, um lugar de lenda, um lugar de tanto mal, t?o fora dos limites, que ningu?m jamais iria ter a ideia de visit?-la. Era, pelo contr?rio, um lugar para ser isolado do mundo, do qual se deviam proteger, um lugar que o seu povo todos os dias agradecia ao universo pelo facto de estar protegido pelas Chamas. Agora, incrivelmente, um lugar que ela estava ? procura. Por um lado, era loucura. No entanto, por outro, a m?e de Kyra tinha-a enviado para ali e ela sentia profundamente que a miss?o era verdadeira. Ela sentia que Marda era onde ela era necess?ria, onde estava o seu teste final. Onde estava o Bast?o da Verdade, que s? ela podia recuperar. Era uma loucura, mas ela j? conseguia sentir o bast?o, nas profundezas da sua coragem, convocando-a, atraindo-a para Marda como um velho amigo. Ainda assim, Kyra, pela primeira vez tanto quanto se conseguia lembrar, sentiu uma onda de inseguran?a a domin?-la. Era ela realmente forte o suficiente para fazer aquilo? Para ir para Marda, um lugar at? mesmo os homens do seu pai temiam aventurar-se? Ela sentia uma batalha feroz dentro da sua pr?pria alma. Tudo dentro dela gritava que ir para Marda seria ir para a sua morte. E ela n?o queria morrer. Kyra tentou for?ar-se a ser forte, para n?o se desviar do caminho. Ela sabia que essa era uma viagem que tinha de fazer e ela sabia que n?o podia fugir do que lhe era exigido. Ela tentou empurrar da sua mente os horrores que a aguardavam no lado mais distante das Chamas. Uma na??o de trolls. Vulc?es, lava, cinzas. A na??o do mal, da bruxaria. Criaturas e monstros inimagin?veis. Ela tentava n?o se lembrar das hist?rias que ouvira quando crian?a. Um lugar onde as pessoas se despeda?avam umas ?s outras por divertimento, lideradas pelo l?der demon?aco Ves?vio. Uma na??o que vivia para o sangue, para a crueldade. Eles desceram a pique para baixo das nuvens por um momento e Kyra olhou para baixo e viu, muito abaixo, que eles estavam a passar por cima do canto nordeste de Escalon. Ela ficou atordoada quando come?ou a reconhecer a paisagem: Volis. Ali estavam as colinas da sua cidade natal, outrora t?o belas, agora uma cicatriz do que eram antes. Ela estava despeda?ada com o que via. Ali, ? dist?ncia, estava a fortaleza do seu pai, agora toda em ru?nas. Era um grande monte de escombros, salpicados com cad?veres que, de forma negligenciada, estavam espalhados em posi??es n?o naturais, vis?veis mesmo dali, olhando para o c?u, como se perguntando a Kyra como ? que ela tinha deixado que aquilo acontecesse com eles. Kyra fechou os olhos e tentou afastar a imagem da sua mente – ainda que n?o conseguisse. Era muito dif?cil voar simplesmente sobre este lugar que outrora tinha significado tanto para ela. Ela olhou para o horizonte, na dire??o de Marda, sabendo que devia continuar, mas algo dentro dela simplesmente n?o a conseguia fazer passar pela sua cidade natal. Ela teve de parar e ver por si mesma antes de deixar Escalon, naquela que podia ser a sua ?ltima viagem. Kyra dirigiu Theon para descer a pique e ela conseguia senti-lo a resistir – como se ele tamb?m se sentisse impulsionado a manter a sua miss?o e encaminhar-se para Marda. Relutantemente, por?m, ele cedeu. Desceram a pique e pousaram no centro do que tinha sido outrora Volis, uma vez um basti?o movimentado cheio de vida – crian?as, dan?a, m?sica, cheiros de comida, os orgulhosos guerreiros do seu pai andando empertigados para a frente e para tr?s. A respira??o de Kyra susteve-se quando ela desmontou e andou. Ela soltou um choro involunt?rio. N?o havia nada ali agora. Apenas entulho e um sil?ncio opressivo, quebrado apenas pelo som da respira??o pesada de Theon e pelo raspar no ch?o das suas garras, como se ele pr?prio estivesse furioso, como se ansioso para sair. Ela n?o podia culp?-lo: esta cidade era agora um t?mulo. O cascalho rangia sob as botas de Kyra enquanto ela caminhava lentamente pelo lugar. Uma rajada de vento passava pelas plan?cies queimadas que cercavam a fortaleza. Ela olhava para todos os lados, necessitando ver, mas tamb?m necessitando desviar o olhar: era como um pesadelo. As Lojas Row, agora n?o passavam de um grande amontoado de escombros carbonizados; no seu outro lado estava o arsenal, agora completamente destru?do, um monte de pedra, tendo o seu port?o da frente cedido. Diante dela, a grande e imponente fortaleza, onde o seu pai tinha realizado tantas festas, onde ela mesma tinha vivido, agora estava em ru?nas. Apenas algumas paredes restavam. A sua porta estava aberta, escancarada, como se convidando o mundo a entrar para ver o que em tempos tinha sido. Конец ознакомительного фрагмента. Текст предоставлен ООО «ЛитРес». Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=43696743&lfrom=688855901) на ЛитРес. Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.
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