×òî æå åñòü ó ìåíÿ? Äûðû â äðàíûõ êàðìàíàõ, Òðè ìîðùèíû íà ëáó, Äà èñò¸ðòûé ïÿòàê... Íî íå æàëêî íè äíÿ- Ìíå ñóäüáîþ ïðèäàííûõ, Õîòü ïîðîé ÿ æèâó Ïîïîäàÿ â ïðîñàê. Âñ¸ ÷òî åñòü ó ìåíÿ: Ñîâåñòü, ÷åñòü è óìåíüå. ß îòäàì íå ñêóïÿñü- Ïðîñòî òàê çà ïóñòÿê. Çà ïîñòåëü ó îãíÿ, Äîáðîòó áåç ñòåñíåíüÿ. È çà òî, ÷òî ïðîñòÿñü, Íå çàáûòü ìíå íè êàê... Âñ¸ ÷

Atra?das

Atra?das Blake Pierce Um Mist?rio de Riley Paige #4 Uma obra-prima de thriller e mist?rio! O autor fez um trabalho magn?fico no desenvolvimento das personagens com um lado psicol?gico t?o bem trabalhado que temos a sensa??o de estar dentro das suas mentes, sentindo os seus medos e aplaudindo os seus sucessos. A hist?ria ? muito inteligente e mant?m-nos interessados durante todo o livro. Pleno de reviravoltas, este livro obriga-nos a ficar acordados at? ? ?ltima p?gina. Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (re Sem Pistas) ATRA?DAS ? o livro #4 na s?rie de mist?rio de Riley Paige que come?ou com o bestseller SEM PISTAS (Livro #1) – um livro de download gratuito com mais de 100 opini?es com cinco estrelas! Est?o a aparecer mulheres mortas numa extens?o solit?ria de uma autoestrada no Delaware. Algumas desaparecem durante muito tempo e outras aparecem mortas, sendo os corpos exibidos de formas estranhas e misteriosas. Quando ? detetado um padr?o, torna-se ?bvio para o FBI que um assassino em s?rie est? ? solta – atraindo mulheres em esquemas duvidosos – e que nunca parar? de matar. Desesperado para resolver o caso, o FBI pede a ajuda da Agente Especial Riley Paige. Mas a brilhante Riley, ainda a recuperar de casos recentes, encontrou finalmente a paz na sua vida familiar e est? determinada a ajudar a filha April a reerguer-se. Mas quando os homic?dios se tornam demasiado perturbadores, demasiado urgentes – e quando o antigo parceiro lhe implora para intervir – Riley finalmente compreende que n?o pode recusar este pedido de ajuda. A ca?ada de Riley leva-a at? ao ?mago do perturbador mundo de caroneiros, de pessoas ? deriva, de mulheres a quem ningu?m d? qualquer import?ncia. Quando descobre que v?rias mulheres s?o mantidas vivas e que h? tempo para as salvar, Riley sabe que nada a impedir? de ir at? ao limite num caso que a obceca. Entretanto a sua vida parece colapsar e a sua mente fr?gil mal consegue aguentar a press?o. Numa fren?tica corrida contra o tempo, ela ter? que mergulhar fundo na mente do assassino para salvar aquelas mulheres – e a si pr?pria – do colapso total. Um thriller psicol?gico negro com suspense de cortar a respira??o, ATRA?DAS ? o livro #4 de uma nova s?rie alucinante – com uma inesquec?vel nova personagem – que o obrigar? a n?o largar o livro at? o terminar. O Livro #5 da s?rie de Riley Paige estar? em breve dispon?vel. ATRA?DAS (UM MIST?RIO DE RILEY PAIGE – LIVRO 4) BLAKE PIERCE Blake Pierce Blake Pierce ? autor da s?rie bestseller de mist?rios RILEY PAGE, que inclui sete livros (e ainda h? mais por vir). Ele tamb?m ? o autor da s?rie de mist?rio MACKENZIE WHITE, que inclui cinco livros (mais est?o previstos); da s?rie de mist?rio AVERY BLACK, composta por quatro livros (mais por vir); e da nova s?rie de mist?rio KERI LOCKE. Um leitor ?vido e f? de longa data dos g?neros de mist?rio e suspense, Blake adora ouvir as opini?es de seus leitores. Ent?o, por favor, sinta-se ? vontade para visitar o site www.blakepierceauthor.com e manter contato. Copyright© 2016 Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto como permitido sob o Copyright Act dos Estados Unidos de 1976, nenhuma parte desta publica??o pode ser reproduzida, distribu?da ou transmitida por qualquer forma ou meios, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recupera??o sem a autoriza??o pr?via do autor. Este ebook est? licenciado apenas para seu usufruto pessoal. Este ebook n?o pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se gostava de partilhar este ebook com outra pessoa, por favor compre uma c?pia para cada recipiente. Se est? a ler este livro e n?o o comprou ou n?o foi comprado apenas para seu uso, por favor devolva-o e compre a sua c?pia. Obrigado por respeitar o trabalho ?rduo deste autor. Esta ? uma obra de fic??o. Nomes, personagens, empresas, organiza??es, locais, eventos e incidentes ou s?o o produto da imagina??o do autor ou usados ficcionalmente. Qualquer semelhan?a com pessoas reais, vivas ou falecidas, ? uma coincid?ncia. Jacket image Copyright GongTo, usado sob licen?a de Shutterstock.com. LIVROS ESCRITOS POR BLAKE PIERCE S?RIE DE MIST?RIO DE RILEY PAIGE SEM PISTAS (Livro #1) ACORRENTADAS (Livro #2) ARREBATADAS (Livro #3) ATRA?DAS (Livro #4) PERSEGUIDA (Livro #5) S?RIE DE ENIGMAS MACKENZIE WHITE ANTES QUE ELE MATE (Livro n?1) ANTES QUE ELE VEJA (Livro n?2) S?RIE DE ENIGMAS AVERY BLACK MOTIVO PARA MATAR (Livro n?1) MOTIVO PARA CORRER (Livro n?2) S?RIE DE MIST?RIO KERI LOCKE RASTRO DE MORTE (Livro 1) INDICE PR?LOGO (#ub73da8ac-5fd5-51b4-9bea-a2f39f755b40) CAP?TULO UM (#u3f930d6d-94ab-5fa2-934c-43a80b2c8484) CAP?TULO DOIS (#u85aba4da-9d02-5a13-b49e-0fc0f4ca6cf1) CAPITULO TR?S (#u2abe659b-4507-5d82-ba96-f53e9d844ed8) CAP?TULO QUATRO (#u09043522-5ad5-5de8-b7dc-18619548d2c7) CAP?TULO CINCO (#u9cc40795-54ba-56d2-bd54-911589f4fc7d) CAP?TULO SETE (#u6ebf2daa-630e-5a3d-aa33-5cde59b22c2c) CAP?TULO OITO (#uadf5effa-89f7-5254-8a5a-aba9dbb8c77a) CAPITULO NOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZ (#litres_trial_promo) CAP?TULO ONZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DOZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO TREZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO CATORZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUINZE (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZASSEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZASSETE (#litres_trial_promo) CAPITULO DEZOITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO DEZANOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E UM (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E DOIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E TR?S (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E QUATRO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E CINCO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E SEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E SETE (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E OITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO VINTE E NOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E UM (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E DOIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E TR?S (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E QUATRO (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E CINCO (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E SEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E SETE (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E OITO (#litres_trial_promo) CAP?TULO TRINTA E NOVE (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUARENTA (#litres_trial_promo) CAPITULO QUARENTA E UM (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUARENTA E TR?S (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUARENTA E QUATRO (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUARENTA E CINCO (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUARENTA E SEIS (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUARENTA E SETE (#litres_trial_promo) CAP?TULO QUARENTA E OITO (#litres_trial_promo) PR?LOGO Sentado no carro, o homem dava sinais de alguma preocupa??o. Ele sabia que tinha que se apressar. Naquela noite era importante que tudo corresse bem. A grande quest?o era saber se a mulher seguiria aquele percurso ? hora habitual. Eram onze horas da noite e o momento aproximava-se. O homem recordou-se da voz que ouvira, uma voz que ecoara na sua cabe?a antes de chegar ?quele local. A voz do av?. “Espero que tenhas raz?o quanto ao hor?rio dela, Mafarrico.” Mafarrico. O homem sentado no carro n?o gostava daquela forma de tratamento. N?o era o seu nome. Era um dos nomes que se dava ao diabo com origem no folclore popular. Para o av?, ele n?o era mais do que uma “semente maligna”. O av? chamara-o de Mafarrico desde sempre. Apesar de todas as outras pessoas o chamarem pelo seu nome, o nome que lhe ficara gravado de forma mais profunda fora Mafarrico. Ele odiava o av?, mas n?o o conseguia tirar da cabe?a. Mafarrico esbofeteou-se v?rias vezes numa tentativa de fazer desaparecer aquela voz. Doera e, por alguns instantes, fora inundado por uma sensa??o de calma. Apesar do riso mon?tono do av? ainda ecoar algures dentro de si, naquele momento parecia ter-se esbatido ligeiramente. Olhou ansiosamente para o rel?gio. Passavam alguns minutos das onze. Ser? que ela se atrasaria? Iria para outro lugar? N?o, n?o era o seu estilo. Ele vigiara os seus movimentos durante v?rios dias e constatara que era sempre pontual e mantinha sempre a mesma rotina. Se ao menos ela soubesse tudo o que estava em jogo. O av? castig?-lo-ia se estragasse tudo. Mas era mais do que isso. O pr?prio mundo parecia ter os dias contados. A sua responsabilidade era enorme e Mafarrico sentia esse peso indelevelmente. Entretanto, luzes de far?is trespassaram a escurid?o da estrada e o homem suspirou de al?vio. S? podia ser ela. Aquela estrada rural fazia liga??o a poucas casas. Estava quase sempre deserta ?quela hora da noite, exceto no momento em que a mulher regressava do trabalho em dire??o ? casa onde alugara um quarto. Mafarrico dispusera o seu carro de forma a ficar de frente para o da mulher e parou-o bem no meio daquela pequena estrada de terra batida. O homem estava fora do carro com as m?os a tremer, manuseando uma lanterna sobre o cap?, esperando que o estratagema resultasse. O seu cora??o bateu com mais for?a quando o carro da mulher passou ao lado do seu. Para! Pediu ele, silenciosamente. Para, por favor! E logo de seguida o carro parou a pouca dist?ncia do seu. O homem reprimiu um sorriso. Mafarrico virou-se e olhou em dire??o ?s luzes. Sim, era o carrinho maltrapilho da mulher, tal como previra. Agora, restava-lhe apenas atra?-la at? ele. Ela baixou o vidro, ele encarou-a e sorriu-lhe de forma agrad?vel. “Parece que fiquei apeado,” Disse ele. Apontou de forma descontra?da a lanterna na dire??o do seu rosto. Sim, n?o havia d?vida de que era ela. Mafarrico reparou que ela tinha um rosto encantador e franco. Mais importante de tudo, ela era muito magra, algo que ia ao encontro do que pretendia. Era uma pena o que teria que lhe fazer. Mas era como o av? sempre dissera: “? para o bem comum.” Era verdade e Mafarrico sabia-o. Se a mulher ao menos compreendesse, talvez at? estivesse disposta a sacrificar-se. Afinal de contas, o sacrif?cio era uma das mais nobres carater?sticas da natureza humana. Ela devia dar-se por contente por poder contribuir. Mas ele sabia que isso seria esperar demais. As coisas iriam desenrolar-se de forma violenta e confusa, como ali?s sempre acontecia. “O que se passa?” Perguntou a mulher. A forma como a mulher falava tinha algo de apelativo, mas ainda n?o percebera o qu?. “N?o sei,” Respondeu. “Morreu.” A mulher espreitou para fora da janela. Ele olhou diretamente para ela. O seu rosto sardento emoldurado por uma cabeleira ruiva e encaracolada, era aberto e sorridente. N?o parecia estar minimamente incomodada com o inconveniente. Mas confiaria o suficiente para sair do carro? Se as outras mulheres servissem como bar?metro, provavelmente sim. O av? dizia-lhe constantemente que era feio e ele n?o conseguia evitar pensar em si dessa forma. Mas tamb?m sabia que as outras pessoas – sobretudo as mulheres – consideravam-no bem-parecido. O homem gesticulou na dire??o do cap? aberto. “N?o percebo nada de carros,” Disse-lhe. “Nem eu,” Respondeu a mulher. “Bem, talvez os dois consigamos descobrir o que se passa,” Disse ele. “N?o se importa de tentar?” “De maneira nenhuma, mas n?o pense que vou ser grande ajuda.” Ela abriu a porta, saiu do carro e caminhou na dire??o do homem. Sim, tudo corria na perfei??o. Conseguira atra?-la para fora do carro. Mas ainda corria contra o tempo. “Vamos l? ver isto,” Disse ela, colocando-se ao seu lado e olhando para o motor. E ent?o o homem compreendeu o que lhe agradara na sua voz. “Tem um sotaque interessante,” Disse ele. “? Escocesa?” “Irlandesa,” Declarou agradavelmente. “S? c? estou h? dois meses, tenho uma carta verde para trabalhar com uma fam?lia.” Ele sorriu. “Bem-vinda ? Am?rica,” Disse. “Obrigada. At? agora estou a adorar.” Ele apontou para o motor. “Espere l?,” Disse o homem. “O que ? aquilo?” A mulher inclinou-se para ver melhor. E ele soltou o apoio e bateu o cap? contra a sua cabe?a com estrondo. De seguida, abriu o cap?, esperando que n?o tivesse que lhe bater novamente com ele. Felizmente, a mulher j? estava inconsciente com o rosto e tronco estirados contra o motor. Olhou ? sua volta. Ningu?m ? vista. Ningu?m vira o sucedido. Estremeceu com prazer. Pegou na mulher ao colo, reparando que o rosto e vestido estavam agora manchados com ?leo. Era leve como uma pena. Contornou o carro e deitou-a no banco de tr?s. E ao faz?-lo teve a certeza de que esta iria servir bem os seus prop?sitos. * Quando Meara come?ou a recuperar a consci?ncia, ouviu um ru?do ensurdecedor. Parecia uma mistura infind?vel de sons. Gongos, sinos, chilreares e diversas melodias que pareciam sair de dezenas de caixas de m?sica. Todos os sons pareciam deliberadamente hostis. Abriu os olhos, mas n?o conseguiu ver nada. A cabe?a explodia de dor. Onde estou? Pensou. Algures em Dublin? N?o, n?o perdera a no??o de tempo. Viera de l? h? dois meses e come?ara a trabalhar mal se instalara. Estava no Delaware. Com algum esfor?o lembrou-se de ter parado o carro para ajudar um homem. Depois algo acontecera. Algo mau. Que lugar era aquele com todo aquele ru?do horr?vel? Apercebeu-se que estava a ser levada ao colo como uma crian?a. Ouviu a voz do homem que a transportava, uma voz que se sobrepunha ao barulho. “N?o te preocupes, cheg?mos a tempo.” Os seus olhos come?aram a distinguir o que a rodeava. A sua vis?o abarcava um inacredit?vel n?mero de rel?gios de todos os tamanhos, formas e estilos. Viu gigantescos rel?gios de p? rodeados de rel?gios de menores dimens?es, alguns rel?gios de cuco, outros exibindo pequenas paradas de pessoas mec?nicas. Espalhados nas prateleiras, avistavam-se ainda rel?gios mais pequenos. Est?o todos a bater a hora certa, Pensou. Mas no meio de todo aquele barulho, n?o conseguia distinguir o n?mero de gongos e sinos. Virou a cabe?a para ver quem a levava. Ele olhou para ela. Sim, era ele – o homem que lhe pedira ajuda na estrada. Tinha sido uma idiota em parar. Ca?ra na sua armadilha. O que iria ele fazer-lhe? Quando o ru?do dos rel?gios se diluiu, Meara ficou impossibilitada de ver as coisas que a rodeavam. N?o conseguia manter os olhos abertos. Sentiu-se a perder a consci?ncia. Tens que ficar acordada, Pensou para si. Ouviu um barulho met?lico, depois sentiu que o homem a pousava com cuidado numa superf?cie fria e dura. Outro barulho se seguiu, seguido de passos e, finalmente, ouviu uma porta a abrir e fechar. A imensidade de rel?gios continuava o seu persistente tique-taque. Depois ouviu vozes femininas. “Est? viva.” “Pior para ela.” As vozes eram roucas e sussurradas. A custo, Meara conseguiu abrir os olhos. Percebeu que o ch?o era de cimento. Virou-se dolorosamente e viu tr?s formas humanas sentadas no ch?o junto a si. Ou pelo menos pensou tratarem-se de seres humanos. Pareciam ser jovens, adolescentes, mas estavam descarnadas, pouco mais do que esqueletos, com os ossos a sobressa?rem visivelmente debaixo da pele. Uma parecia quase inconsciente, a cabe?a pendurada para a frente e os olhos fixos no ch?o cinzento. Aquelas figuras lembravam-lhe fotografias que vira de prisioneiros de campos de concentra??o. Estariam realmente vivas? Sim, tinham que estar vivas. Acabara de as ouvir falar. “Onde estamos?” Perguntou Meara. Mal ouviu a resposta sussurrada. “Bem-vinda,” Disse uma delas, “ao inferno.” CAP?TULO UM Riley Paige n?o se apercebeu do primeiro soco. Ainda assim, os seus reflexos responderam bem. Sentiu o tempo a abrandar quando o primeiro golpe quase a atingiu no est?mago. Desviou-se sem problemas. Depois um gancho esquerdo apontava ? sua cabe?a. Saltou para o lado e esquivou-se. Quando ele se aproximou para lhe acertar com um golpe final no rosto, defendeu-se e o soco atingiu-lhe as luvas. Depois o tempo retomou o seu ritmo normal. Ela sabia que a combina??o de golpes viera em menos de dois segundos. “?timo,” Disse Rudy. Riley sorriu. Agora Rudy estava mais do que preparado para o seu ataque. Riley sacudia-se, fingia, tentava faz?-lo adivinhar qual seria o seu pr?ximo movimento. “N?o ? preciso teres pressa,” Disse Rudy. “Pensa bem. Encara isto como um jogo de xadrez.” Ela sentiu-se algo aborrecida ao manter o seu movimento lateral. Ele estava a facilitar. Porque ? que ele tinha que facilitar? Mas ela sabia que era indiferente. Esta era a sua primeira vez no ringue de boxe com um opositor real. At? ? data, ela testara combina??es num saco. N?o se podia esquecer que era apenas uma principiante nesta forma de luta. O melhor era mesmo n?o se apressar. A ideia de experimentar o boxe fora de Mike Nevins. O psiquiatra forense que colaborava com o FBI, tamb?m era um grande amigo de Riley. Tinha-a acompanhado em v?rias crises pessoais. Queixara-se recentemente a Mike que tinha dificuldades em controlar os seus impulsos agressivos. Perdia as estribeiras com frequ?ncia. Sentia-se no limite. “Tenta o boxe,” Aconselhara-a Mike. “? uma ?tima forma de libertar tens?es.” Naquele momento, ela tinha a certeza absoluta de que Mike tinha raz?o. Sabia bem pensar com os p?s bem assentes na terra, lidar com amea?as reais e n?o com amea?as imagin?rias, e era relaxante lidar com amea?as que n?o colocavam a sua vida em risco. Tamb?m fora uma boa ideia frequentar um gin?sio que a afastasse da sede do FBI em Quantico. Passava demasiado tempo por l?. Era uma mudan?a bem-vinda. Mas j? perdera demasiado tempo. E conseguia ver no olhar de Rudy que ele se preparava para um novo ataque. Escolheu mentalmente a sua pr?xima combina??o. Saltou abruptamente na dire??o do advers?rio. O seu primeiro golpe foi uma esquerda da qual Rudy se desviou, ripostando com uma direita cuzada que atingiu o seu capacete. Ela respondeu em menos de um segundo com um golpe de direita que ele recebeu com a luva. Rapidamente Riley desferiu um gancho de esquerda do qual ele se desviou guinando para o lado. “?timo,” Disse Rudy outra vez. Mas a Riley n?o parecia ?timo. N?o tinha conseguido acertar um ?nico golpe, enquanto ele fora bem-sucedido mesmo quando se defendia. Come?ou a sentir invadir-se por uma onda de irrita??o. Mas recordou-se do que Rudy lhe dissera logo no in?cio… “N?o esperes acertar muitos golpes. Ningu?m acerta muitos. Pelo menos, n?o no pugilismo.” Agora observava as suas luvas, adivinhando que desferiria outro ataque. E foi nesse momento que uma estranha transforma??o sucedeu na sua imagina??o As luvas transformaram-se numa chama ?nica – a chama branca e sibilante de um ma?arico. Ela estava novamente aprisionada nas trevas, cativa de um assassino s?dico chamado Peterson. Ele brincava com ela, fazia-a desviar-se da chama para fugir ao seu calor abrasador. Mas ela estava cansada de ser humilhada. Desta vez estava determinada a reagir. Quando a chama se aproximou do seu rosto, ela baixou-se e desferiu um golpe potente que n?o resultou. A chama voltou a aproximar-se e ela reagiu com um golpe cruzado que tamb?m n?o atingiu o alvo. Mas antes de Peterson encetar o pr?ximo movimento, ela desferiu um uppercut em cheio no queixo… “Ei!” Gritou Rudy. A sua voz teve o efeito de fazer Riley regressar ao momento presente. Rudy estava deitado de costas no tapete. Como ? que ele foi ali parar? Interrogou-se Riley. Depois compreendeu que o tinha atingido – e com muita for?a. “? meu Deus!” Exclamou Riley. “Pe?o desculpa, Rudy!” Rudy sorria enquanto se tentava levantar. “N?o pe?as desculpa,” Disse ele. “Isso foi bom.” Retomaram o combate. O resto da sess?o decorreu sem problemas e nenhum deles acertou qualquer golpe. Mas agora Riley sentia-se melhor. Mike Nevins tinha raz?o. Esta era precisamente a terapia de que ela precisava. Ainda assim, n?o cansava de se perguntar quando ? que seria capaz de afastar aquelas recorda??es. Talvez nunca, Pensou. * Riley atacou o seu bife com entusiasmo. O Chef do Blaine’s Grill era fant?stico na confe??o de v?rios pratos menos convencionais, mas o exerc?cio daquele dia no gin?sio deixara Riley a salivar por um bom bife e uma salada. A sua filha April e a amiga Crystal pediram hamb?rgueres. Blaine Hildreth, o pai de Crystal, estava na cozinha, mas estaria de volta a qualquer momento para terminar o seu mahi-mahi. Riley relanceou o confort?vel restaurante com um profundo sentimento de satisfa??o. Tinha a no??o que a sua vida n?o tinha suficientes noites calorosas como aquela na companhia de amigos, fam?lia e uma boa refei??o. As cenas que o seu trabalho lhe oferecia eram, regra geral, bem mais desagrad?veis e perturbadoras. Dali a alguns dias, iria testemunhar numa audi?ncia de liberdade condicional de um assassino de crian?as que esperava sair da pris?o sem cumprir a totalidade da pena. E ela tinha que se assegurar que ele n?o se safava. H? v?rias semanas atr?s, resolvera um caso perturbador em Phoenix. Ela e o parceiro, Bill Jeffreys, tinham apanhado um assassino que matava prostitutas. Riley ainda tinha alguma dificuldade em perceber se tinha dado um contributo positivo na resolu??o desse caso. A realidade era que agora sabia demasiado para o seu pr?prio bem a respeito de um doloroso mundo de mulheres e jovens exploradas. Mas estava determinada em manter esses pensamentos ? dist?ncia naquele momento. Sentia-se paulatinamente a descontrair. Comer num restaurante com um amigo e as filhas de ambos recordava-a do que era viver uma vida normal. Agora vivia numa casa agrad?vel e estava cada vez mais pr?xima de um vizinho simp?tico. Entretanto, Blaine regressou e sentou-se. Mais uma vez Riley pensou que ele era muito atraente. O cabelo que come?ava a rarear dava-lhe uma apar?ncia agradavelmente madura. “Desculpem,” Disse Blaine. “Isto funciona muito bem sem mim quando n?o estou c?, mas se me apanham ? vista, toda a gente passa a querer a minha ajuda.” “Sei o que ? isso,” Disse Riley. “Da minha parte s? espero que se me mantiver fora de vista, a UAC se esque?a de mim por uns tempos.” April disse, “Nem penses. N?o tarda nada ligam-te e enviam-te para algum lugar distante do pa?s.” Riley suspirou. “Bem que me habituava a estar incontact?vel.” Blaine comeu um peda?o do mahi-mahi. “J? pensaste em mudar de emprego?” Perguntou Blaine. Riley encolheu os ombros. “E o que faria? Passei grande parte da minha vida adulta como agente.” “Oh, tenho a certeza que h? imensas coisas que uma mulher com o teu talento pode fazer,” Disse Blaine. “A maior parte delas bem mais segura do que ser agente do FBI.” Ele pensou durante alguns instantes. “Imaginava-te como professora,” Declarou. Riley riu. “E pensas que ? mais seguro?” Perguntou. “Depende do local onde lecionas,” Disse Blaine. “Que tal na universidade?” “Isso ? uma bela ideia, m?e,” Disse April. “N?o tinhas que estar sempre a viajar. E conseguias continuar a ajudar as pessoas.” Riley n?o disse nada enquanto refletia. Ensinar na universidade seria bastante semelhante ? experi?ncia de ensino que tivera na academia em Quantico. Ela gostara da experi?ncia. Dera-lhe a oportunidade de recarregar baterias. Mas quereria ela ser uma professora a tempo inteiro? Conseguiria passar o dia inteiro dentro de um edif?cio, inativa? Remexeu num cogumelo com o garfo. Posso tornar-me numa coisa destas, Pensou. “E que tal tornares-te numa investigadora privada?” Aventou Blaine. “N?o me parece,” Disse Riley. “N?o me ? muito apelativo andar a desenterrar segredos sobre casais divorciados.” “Os investigadores privados n?o fazem s? isso,” Disse Blaine. “Que tal investigar fraude ao n?vel dos seguros? Sabes, tenho um cozinheiro que anda a colecionar incapacidades, diz que tem problemas nas costas. Tenho a certeza que ? uma tanga, mas n?o o posso provar. Podias come?ar com ele.” Riley riu-se. ? claro que Blaine estava a gozar. “Ou podias procurar pessoas desaparecidas,” Disse Crystal. “Ou animais de estima??o desaparecidos.” Riley riu-se novamente. “Ora a? est? uma coisa que me faria sentir ?til!” April desinteressara-se da conversa. Riley reparou que estava a enviar SMSs e a dar risadinhas. Crystal debru?ou-se sobre a mesa para Riley. “A April tem um novo namorado,” Disse Crystal. Depois, num sussurro, disse, “N?o gosto dele.” Riley ficou aborrecida pelo facto da filha n?o dar aten??o a quem estava na mesa. “Para de fazer isso,” Disse a April. “? m? educa??o.” “M? educa??o porqu??” Perguntou April. “J? fal?mos sobre isto,” Disse Riley. April ignorou-a e continuou a escrever a mensagem. “Larga isso,” Disse Riley. “S? um minuto, m?e.” Riley reprimiu um esgar. H? muito que aprendera que “um minuto”, em linguagem adolescente, era o mesmo que “nunca”. E naquele preciso momento o seu telefone tocou. Ficou aborrecida consigo pr?pria por n?o o ter desligado antes de sair de casa. Olhou para o telefone e viu que se tratava de uma mensagem do seu parceiro Bill. Pensou em n?o l?-la, mas n?o foi capaz. Quando abriu a mensagem, relanceou e viu April a sorrir. A filha estava a apreciar a ironia. A ferver em sil?ncio, Riley leu a mensagem de Bill O Meredith tem um novo caso. Quer discuti-lo connosco o mais rapidamente poss?vel. O Agente Especial Respons?vel Brent Meredith era o chefe de Riley e de Bill. E Riley era-lhe extremamente leal. N?o s? era um chefe bom e justo, como j? a defendera muitas vezes quando tivera problemas no trabalho. Ainda assim, Riley estava determinada a n?o se deixar arrastar para um novo caso, pelo menos para j?. N?o posso viajar neste momento, Respondeu. Bill respondeu, ? mesmo aqui na zona. Riley abanou a cabe?a desanimada. N?o ia ser f?cil levar a sua vontade avante. Enviou-lhe nova mensagem, J? te digo alguma coisa. Bill n?o respondeu e Riley colocou o telem?vel na mala. “Pensei que tinhas dito que era m? educa??o, m?e,” Disse April num tom de voz caprichoso. April continuava a escrever no telem?vel. “Eu j? terminei,” Disse, tentando n?o parecer t?o aborrecida como estava. April ignorou-a. O telefone de Riley vibrou outra vez e Riley praguejou em sil?ncio. Viu que a mensagem, desta feita, era do pr?prio Meredith. Esteja na UAC para uma reuni?o amanh? ?s 09:00. Riley estava a tentar pensar numa forma de se desculpar quando chegou outra mensagem. Isto ? uma ordem. CAP?TULO DOIS Riley ficou logo abatida quando vislumbrou duas fotos vis?veis nos ecr?s acima da mesa de reuni?es da UAC. Uma delas era a foto de uma rapariga despreocupada com olhos claros e um sorriso cativante. A outra mostrava o seu cad?ver, horrivelmente macilento, os bra?os apontando em dire??es estranhas. Tendo em considera??o que lhe tinham ordenado participar naquela reuni?o, Riley partiu logo do princ?pio que deveria haver outras v?timas como aquela. Sam Flores, um t?cnico laboratorial sagaz com ?culos de aros escuros, operava o dispositivo multim?dia na presen?a de quatro outros agentes sentados ? volta da mesa. “Estas fotos s?o de Metta Lunoe, dezassete anos,” Disse Flores. “A fam?lia vive em Collierville, New Jersey. Os pais participaram o seu desaparecimento em Mar?o – uma fuga.” Acrescentou ? apresenta??o um mapa do Delaware, indicando um local em espec?fico com um ponteiro. Disse, “O corpo apareceu num campo ? sa?da de Mowbray, Delaware, no dia 16 de Mar?o. O pesco?o foi partido.” Flores mostrou outras duas imagens – numa era poss?vel ver outra jovem de aspeto vigoroso e na outra a mesma rapariga, simplesmente irreconhec?vel com os bra?os esticados de uma forma semelhante ? v?tima anteriormente mostrada. “Estas fotos s?o de Valerie Bruner, tamb?m com dezassete anos, tamb?m fugitiva de Norbury, Virginia. Desapareceu em Abril.” E Flores indicou outro local no mapa. “O corpo foi encontrado largado numa estrada de terra batida perto de Redditch, Delaware no dia 12 de Junho. Trata-se obviamente do mesmo MO. O Agente Jeffreys foi chamado para investigar.” Riley ficou alarmada.Como ? que o Bill trabalhara num caso em que ela n?o estava envolvida? Depois lembrou-se. Ela tinha estado hospitalizada em Junho devido ?s mazelas deixadas pelo cativeiro de Peterson. Mesmo assim, o Bill tinha-a visitado com frequ?ncia no hospital e nunca tinha feito qualquer refer?ncia ?quele caso. Voltou-se para Bill. “Porque ? que n?o me falaste nisto?” Perguntou. O rosto de Bill estava sombrio. “N?o era o melhor momento,” Disse ele. “Tinhas os teus pr?prios problemas.” “Quem foi o teu parceiro?” Questionou Riley. “O Agente Remsen.” Riley reconheceu o nome. Bruce Remsen tinha sido transferido para outro local antes dela ter regressado ao trabalho. Ent?o, depois de uma breve pausa, Bill acrescentou, “N?o consegui resolver o caso.” Riley compreendeu a sua express?o e tom. Ap?s tantos anos de amizade e trabalho conjunto, ela conhecia Bill melhor do que ningu?m. E percebeu o qu?o profundamente desapontado estava consigo pr?prio. Flores exibiu as fotos tiradas pelo m?dico-legista das costas nuas das raparigas. Os cad?veres estavam de tal forma degradados que mal pareciam reais. As costas tinham cicatrizes antigas e verg?es recentes. Riley sentiu um desconforto agudo. E fora apanhada de surpresa por essa sensa??o. Desde quando ? que ficava perturbada com fotos de cad?veres? Flores prosseguiu, “Antes dos pesco?os serem partidos, estavam praticamente mortas de fome. Tamb?m foram espancadas e o mais certo ? que o tenham sido durante muito tempo. Os corpos foram levados para os locais onde foram encontrados post mortem. N?o sabemos onde ter?o sido mortas.” Tentando vencer o seu crescente desconforto, Rilley refletiu nas semelhan?as com os casos que ela e Bill tinham resolvido nos ?ltimos meses. O “assassino das bonecas” deixava os corpos nus das v?timas em lugares onde pudessem ser facilmente encontradas e em posi??es grotescas. O “assassino das correntes” pendurava os corpos das v?timas envoltas em correntes pesadas. Agora Flores mostrava a foto de outra jovem mulher – uma ruiva de aspeto risonho. Ao lado da foto encontrava-se a imagem de um velho Toyota. “Este carro pertencia a uma imigrante Irlandesa de vinte e quatro anos chamada Meara Keagan,” Declarou Flores. “O seu desaparecimento foi participado ontem de manh?. O seu carro foi encontrado abandonado junto a um pr?dio em Westree, Delaware. Trabalhava l? para uma fam?lia como criada e ama.” Agora era a vez do Agente Especial Brent Meredith falar. Meredith era um Afro-Americano altivo, grande, com tra?os angulares e uma atitude racional. “Saiu do turno ?s 23:00 na noite de anteontem,” Disse Meredith. “O carro foi encontrado cedo na manh? seguinte.” O Agente Especial Respons?vel Carl Walder debru?ou-se para a frente. Era o chefe de Brent Meredith – um homem sardento com rosto de menino e cabelo acobreado encaracolado. Riley n?o gostava dele. N?o o considerava particularmente competente. E ? claro que tamb?m n?o ajudava a este ju?zo o facto de ele j? a ter despedido. “Porque ? que estamos a partir do princ?pio que este desaparecimento est? relacionado com aqueles crimes?” Perguntou Walder. “A Meara Keagan ? mais velha do que as outras v?timas.” Chegara a vez de Lucy Vargas intervir. Lucy era uma novata jovem e inteligente com cabelo e olhos negros, e um tom de pele bronzeado. “A resposta est? no mapa. Keagan desapareceu na mesma ?rea onde os dois corpos foram encontrados. Pode ser uma coincid?ncia, mas parece-me altamente improv?vel. N?o tratando-se de um per?odo de cinco meses, todos t?o pr?ximos.” Apesar do seu crescente desconforto, Riley gostou de ver Walder estremecer ligeiramente. Sem qualquer inten??o, Lucy tinha-o remetido ? sua insignific?ncia. Riley s? esperava que ele n?o encontrasse uma forma de se vingar de Lucy mais tarde. Walder podia ser mesquinho a esse ponto. “Exatamente, Agente Vargas,” Disse Meredith. “Pensamos que as raparigas mais novas foram raptadas quando pediam boleia, provavelmente na autoestrada que atravessa esta ?rea.” E apontou para uma linha espec?fica no mapa. Lucy perguntou, “N?o ? proibido pedir boleia no Delaware?” E acrescentou, “? claro que ? uma situa??o dif?cil de aplicar.” “Sem d?vida,” Disse Meredith. “E esta nem sequer ? uma interestadual ou a maior autoestrada do estado, por isso o mais certo ? usarem-na para esse fim. E parece que os assassinos tamb?m. Um corpo foi encontrado junto a esta estrada e os outros dois a menos de 16 quil?metros dela. Keagan foi levada a cerca de 96 quil?metros a norte dessa mesma estrada. Mas com ela o raptor usou um estratagema diferente. Se ele seguir o seu padr?o habitual, vai mant?-la viva at? estar perto de morrer ? fome. Depois, parte-lhe o pesco?o e livra-se do corpo da mesma forma.” “N?o vamos permitir que isso aconte?a,” Disse Bill num tom de voz r?gido. Meredith disse, “Agentes Paige e Jeffreys, quero que comecem j? a trabalhar nisto.” Empurrou uma pasta repleta de fotos e relat?rios na dire??o de Riley. “Agente Paige, aqui tem toda a informa??o de que precisa para ficar a par de tudo.” Riley fez um movimento para pegar na pasta, mas a m?o retraiu-se num espasmo de horr?vel ansiedade. O que ? que se passa comigo? A sua cabe?a andava ? roda e imagens desfocadas come?aram a assumir forma no seu c?rebro. Seria isto o SPT do caso Peterson? N?o, era algo diferente, algo completamente diferente. Riley levantou-se e saiu da sala de reuni?es. Ao percorrer o corredor na dire??o do seu gabinete, as imagens na sua cabe?a tornaram-se mais n?tidas. Havia rostos – rostos de mulheres e raparigas. Riley viu Mitzi, Koreen e Tantra – jovens acompanhantes cujo vestu?rio respeit?vel escondia a sua degrada??o at? delas pr?prias. Viu Justine, uma prostituta envelhecida debru?ada sobre uma bebida num bar, cansada e amarga, completamente preparada para morrer de uma morte horr?vel. Viu Chrissy, virtualmente prisioneira do seu marido violento e proxeneta num bordel. E pior que tudo, viu Trinda, uma menina de quinze anos que j? tinha vivido um pesadelo de explora??o sexual e que n?o se conseguia imaginar a ter outra vida. Riley chegou ao seu gabinete e rapidamente se atirou para uma cadeira. Agora compreendia o seu ataque de repugn?ncia. As imagens que acabara de ver haviam desencadeado aquelas mem?rias dolorosas. Tinham trazido ? superf?cie as suas mais sombrias d?vidas sobre o caso de Phoenix. ? verdade que tinha apanhado um assassino brutal, mas sentia que n?o fizera justi?a ?s mulheres e raparigas que conhecera. Todo um mundo de explora??o permanecia inalterado, impune. Riley n?o tinha sequer conseguido arranhar a superf?cie dos males que aquelas mulheres tinham que suportar. E agora vivia assombrada e perturbada de uma forma que nunca antes lhe sucedera. E parecia-lhe algo bem pior que o SPT. No final de contas, ela podia libertar a sua raiva e horror num gin?sio de pugilismo, mas n?o tinha forma de se livrar daqueles novos sentimentos. E conseguiria ela trabalhar noutro caso como o de Phoenix? Ouviu a voz de Bill ? porta. “Riley.” Ergueu o olhar e viu o seu parceiro a observ?-la com uma express?o triste. Segurava na pasta que Meredith lhe tentara dar. “Preciso de ti neste caso,” Disse Bill. “? pessoal para mim. N?o o ter conseguido resolver deixa-me louco. E n?o consigo deixar de pensar se terei falhado porque o meu casamento estava a desmoronar. Conheci a fam?lia da Valerie Bruner. S?o boas pessoas. Mas n?o mantive o contacto porque… Bem, porque os desiludi. Tenho que os compensar de alguma forma.” Bill colocou a pasta em cima da secret?ria de Riley. “L? isto. Por favor.” E saiu do gabinete de Riley. Ela ali permaneceu sentada, indecisa, a fitar o dossi?. Nem parecia dela. Ela sabia que tinha que reagir. Enquanto refletia, lembrou-se de algo relacionado com Phoenix. Tinha conseguido salvar uma rapariga chamada Jilly. Ou pelo menos tinha tentado. Ligou para o n?mero do abrigo para adolescentes em Phoenix, Arizona. Atendeu uma voz familiar. “Fala Brenda Fitch.” Riley ficou contente por Brenda ter atendido a chamada. Tinha estado em contacto com ela no caso de Phoenix. “Ol? Brenda,” Saudou. “Fala Riley. Lembrei-me de perguntar como est? a Jilly.” Jilly era uma menina que Riley tinha salvo do tr?fico sexual – uma menina magricela de cabelo negro com treze anos. Jilly tinha como ?nica fam?lia um pai violento. Riley ligava de vez em quando para saber como ? que ela estava. Riley ouviu um suspiro do outro lado da linha. “Que bom ter ligado,” Disse Brenda. “Quem me dera que mais pessoas mostrassem alguma preocupa??o. A Jilly continua connosco.” Riley ficou triste. Esperava que algum dia ligasse para o abrigo e lhe fosse dito que a Jilly tinha sido acolhida por uma fam?lia adotiva carinhosa. Mas o dia ainda n?o tinha chegado. Riley ficou preocupada. Disse, “Da ?ltima vez que fal?mos, receava que tivesse que a mandar para junto do pai.” “Oh, n?o, isso j? est? resolvido. J? temos uma ordem judicial para ele n?o se aproximar dela.” Riley suspirou de al?vio. “A Jilly pergunta muitas vezes por si,” Disse Brenda. “Quer falar com ela?” “Sim, por favor.” Riley ficou ? espera. E enquanto esperava pensou se seria boa ideia falar com Jilly. Sempre que falava com ela, acabava sentindo-se culpada. N?o compreendia porque ? que se sentia assim. Afinal, tinha salvo Jilly de uma vida de explora??o e viol?ncia. Mas tinha-a salvo para qu?? Pensava. Com que tipo de vida podia Jilly sonhar? Finalmente, ouviu a voz de Jilly. “Ol?, Agente Paige.” “Quantas vezes ? que tenho que te dizer para n?o me chamares isso?” “Desculpe. Ol? Riley.” Riley deu uma risadinha. “Ol? Jilly. Como est?s?” “Acho que bem.” O sil?ncio ocupou a dist?ncia entre ambas. Uma t?pica adolescente, Pensou Riley. Era sempre dif?cil convencer Jilly a falar. “Ent?o, que fazes?” Perguntou Riley. “Acabei de acordar,” Disse Jilly com uma voz ainda rouca. “Vou tomar o pequeno-almo?o.” S? ent?o Riley se apercebeu que eram menos tr?s horas em Phoenix. “Desculpa ter ligado t?o cedo,” Disse Riley. “Esque?o-me sempre da diferen?a hor?ria.” “N?o faz mal. Gosto que ligue.” Riley ouviu um bocejo. “Ent?o, hoje vais para a escola?” Perguntou Riley. “Sim. Deixam-nos sair da prisa todos os dias para fazermos isso.” Era uma piadinha de Jilly, chamar o abrigo de “prisa” como se estivesse numa pris?o. Riley n?o achava piada nenhuma. Por fim, Riley disse, “Bem, vou deixar-te tomar o pequeno-almo?o e preparares-te para a escola.” “Ei, espere,” Interpelou Jilly. Outro momento de sil?ncio se instalou. Pareceu a Riley ouvir Jilly conter um solu?o. “Ningu?m me quer, Riley,” Desabafou Jilly, chorando. “As fam?lias adotivas nunca me querem. N?o gostam do meu passado.” Riley ficou impressionada. O seu “passado”? Pensou. Meu Deus, como ? que uma menina de treze anos pode ter um “passado”? O que ? que se passa com as pessoas? “Lamento,” Disse Riley. Jilly falava hesitantemente no meio das l?grimas. “? que… Bem, sabe, ?… Quero dizer, Riley, parece que voc? ? a ?nica pessoa que se preocupa.” Riley sentiu um n? na garganta e os olhos a marejarem de l?grimas. N?o conseguiu responder. Jilly continuou, “N?o podia viver consigo? Eu n?o dou muito trabalho. Tem uma filha, n?o ?? Ela pode ser como uma irm?. Podemos cuidar uma da outra. Tenho saudades suas.” Riley lutava para conseguir falar. “Eu… N?o me parece que isso seja poss?vel, Jilly.” “Porque n?o?” Riley estava desfeita. A pergunta atingiu-a como uma bala. “Simplesmente… N?o ? poss?vel,” Disse Riley. Ainda ouvia Jilly a chorar. “Ok,” Respondeu Jilly. “Tenho que ir tomar o pequeno-almo?o. Adeus.” “Adeus,” Disse Riley. “Telefono em breve.” Jilly desligou o telefone. Riley debru?ou-se sobre a secret?ria com as l?grimas a correrem-lhe pelo rosto. A pergunta de Jilly continuava a ecoar na sua cabe?a… “Porque n?o?” Havia milhares de raz?es. April j? lhe dava tanto que fazer. O seu trabalho consumia em demasia o seu tempo e energia. E estaria ela qualificada ou preparada para lidar com as cicatrizes psicol?gicas de Jilly? ? claro que n?o. Riley limpou os olhos e endireitou-se na cadeira. Deixar-se levar pela autocomisera??o n?o a ajudaria. Chegara a altura de voltar ao trabalho. Havia raparigas a morrer e elas precisavam dela. Pegou no dossi? e abriu-o. Chegara o momento, pensou, de regressar ? arena? CAPITULO TR?S Mafarrico estava sentado no seu baloi?o no alpendre a observar as crian?as a circular nos seus fatos de Halloween. Geralmente gostava que lhe viessem bater ? porta, mas naquele ano parecia-lhe uma ocasi?o agridoce. Quantos destes mi?dos v?o estar vivos daqui a algumas semanas? Pensou. Suspirou. Provavelmente nenhum. O prazo limite aproximava-se e ningu?m prestava aten??o ?s suas mensagens. As correias do baloi?o do alpendre chiavam. Ca?a uma chuva leve e quente, e Mafarrico esperava que as crian?as n?o se constipassem. Tinha um cesto com doces no colo e estava a ser muito generoso. Fazia-se tarde e, em breve, n?o haveria mais crian?as. Na mente de Mafarrico ainda conseguia ouvir o av? a reclamar, apesar do velho rabugento ter morrido h? v?rios anos. E n?o importava que Mafarrico j? fosse adulto, nunca se libertava das tiradas do velho. “Olha s? para aquele com a capa e m?scara de pl?stico preta,” Dissera o av?. “? suposto aquilo ser um fato?” Mafarrico s? esperava que ele e o av? n?o fossem ter outra discuss?o. “Est? vestido de Darth Vader, av?,” Disse. “N?o quero saber de que ? que est? vestido. ? um fato barato comprado numa loja. Quando t?nhamos que te vestir, faz?amos sempre os teus fatos.” Mafarrico lembrava-se bem desses fatos. Para o transformar numa m?mia, o av? embrulhava-o em len??is rasgados. Para o transformar num cavaleiro andante, o av? cobria-o com uma pesada tabuleta para cartazes de alum?nio e carregava uma lan?a feita do cabo de uma vassoura. Os fatos do av? eram sempre criativos. Ainda assim, Mafarrico n?o recordava esses Halloweens com saudade. O av? praguejava e queixava-se sempre enquanto lhe vestia os fatos. E quando Mafarrico regressava a casa da recolha de doces… Por um instante, Mafarrico sentiu-se novamente um rapazinho. Ele sabia que o av? tinha sempre raz?o. Mafarrico nem sempre entendia porqu?, mas isso n?o importava. O av? tinha raz?o e ele n?o. Era assim que as coisas eram. Era assim que as coisas sempre tinham sido. Mafarrico ficara aliviado quando j? era demasiado velho para andar de porta em porta a pedir doces. Desde ent?o, era livre de se sentar no alpendre para dar doces ?s crian?as. Ficava feliz por elas. Ficava feliz por desfrutarem da inf?ncia, mesmo que ele n?o tivesse tido essa sorte. Tr?s crian?as subiram at? ao alpendre. Um rapaz estava vestido de Homem-Aranha, uma menina de Catwoman. Aparentavam ter cerca de nove anos. O fato da terceira crian?a arrancou um sorriso a Mafarrico. Uma menina com cerca de sete anos envergava um fato de abelh?o. “Do?ura ou travessura!” Gritaram em un?ssono em frente a Mafarrico. Mafarrico riu-se e remexeu o cesto ? procura de doces. Deu-lhes alguns, eles agradeceram e foram-se embora. “Para de lhes dar doces!” Rosnou o av?. “Quando ? que vais deixar de encorajar estas pestes?” Mafarrico desafiava silenciosamente o av? h? j? algumas horas. Pagaria por isso mais tarde. Entretanto, o av? ainda rabujava. “N?o te esque?as, temos trabalho a fazer amanh? ? noite.” Mafarrico n?o respondeu, limitou-se a ouvir o baloi?o a chiar. N?o, ele n?o esqueceria o que tinha que ser feito amanh? ? noite. Era um trabalho sujo, mas tinha que ser feito. * Libby Clark seguiu o irm?o mais velho e a prima na dire??o do bosque escuro nas traseiras dos quintais do bairro. Ela n?o queria estar ali. Ela queria estar em casa aninhada no conforto da sua cama. O irm?o, Gary, iluminava o caminho com uma lanterna. Parecia estranho no seu fato de Homem-Aranha. A prima Denise seguia Gary no seu fato de Catwoman. Libby trotava desconfortavelmente atr?s dos dois. “Venham da?,” Instigou Gary, avan?ando destemidamente. Ele e Denise passaram por entre dois arbustos sem problemas, mas o fato de Libby era tufado e ficou preso em alguns ramos. Agora tinha algo mais com que se preocupar. Se o fato de abelh?o ficasse estragado, a mam? passava-se. Libby conseguiu libertar-se e apressou-se para os apanhar. “Quero ir para casa,” Disse Libby. “For?a,” Disse Gary. Mas ? claro que Libby tinha demasiado medo para voltar para tr?s. J? tinham andado demais. Ela n?o se atreveria a regressar sozinha. “Talvez dev?ssemos mesmo voltar,” Aventou Denise. “A Libby est? com medo.” Gary parou e voltou-se. Libby desejava poder ver o seu rosto atr?s da m?scara. “Qual ? o problema, Denise?” Perguntou. “Tamb?m tens medo?” Denise riu nervosamente. “N?o,” Disse. Libby percebeu que ela estava a mentir. “Ent?o venham da?,” Desafiou Gary. O pequeno grupo continuou a caminhar. O solo estava encharcado e escorregadio, e Libby estava quase imersa em erva molhada. Pelo menos tinha parado de chover. A lua come?ava a mostrar-se por entre as nuvens. Mas tamb?m estava a esfriar e Libby estava toda ensopada e a tremer, e cheia, cheia de medo. Por fim, os arbustos e ?rvores abriram para uma ampla clareira. Vapor elevava-se do solo molhado. Gary parou mesmo na margem do espa?o. Denise e Libby imitaram-no. “Cheg?mos,” Sussurrou Gary, apontando. “Vejam s? – ? quadrada, como se aqui tivesse havido uma casa ou algo do g?nero. Mas n?o h? casa. N?o h? nada. As ?rvores e os arbustos n?o conseguem crescer aqui. S? ervas daninhas. ? porque ? solo amaldi?oado. Aqui vivem fantasmas.” Libby lembrou-se do que o pap? dissera. “N?o h? fantasmas.” Ainda assim, tinha os joelhos a tremer. Estava prestes a fazer chichi. A mam? n?o ia gostar nada disso. “O que ? aquilo?” Perguntou Denise. A menina apontava na dire??o de duas formas que se erguiam do solo. A Libby pareciam dois grandes tubos dobrados na extremidade, quase completamente cobertos de hera. “N?o sei,” Disse Gary. “Parecem perisc?pios de submarinos. Talvez os fantasmas nos estejam a observar. Vai dar uma espreitadela, Denise.” Denise libertou uma risada de medo. “Vai tu!” Exclamou Denise. “Ok, vou mesmo,” Disse Gary. Gary entrou corajosamente na clareira e caminhou em dire??o a uma das formas. Parou a cerca de um metro de dist?ncia. Depois voltou-se e regressou para junto da prima e da irm?. “N?o sei o que ?,” Disse. Denise riu. “Isso ? porque nem sequer olhaste!” Disse. “Olhei sim senhora,” Ripostou Gary. “N?o olhaste nada! Nem te aproximaste!” “Ai isso ? que me aproximei. Se est?s assim t?o curiosa, vai l? ver por ti mesma.” Durante uns instantes, Denise n?o disse nada. Depois, caminhou para o terreno ermo. Aproximou-se um pouco mais da forma do que Gary, mas regressou rapidamente sem parar. “Tamb?m n?o sei o que ?,” Informou Denise. “? a tua vez de ir l? ver, Libby,” Disse Gary. O medo de Libby trepava por si ? semelhan?a daquela hera. “N?o a obrigues a ir, Gary,” Disse Denise. “? muito pequena.” “N?o ? muito pequena. Est? a crescer. J? ? altura de o mostrar.” Gary deu um encontr?o a Libby. E, de repente, j? se encontrava a curta dist?ncia do local. Virou-se e tentou voltar para tr?s, mas Gary estendeu a m?o para a impedir. “Nem penses,” Disse. “A Denise e eu fomos. Tu tamb?m tens que ir.” Libby engloliu a saliva a custo, virou-se e enfrentou o espa?o vazio com aquelas duas coisas dobradas. Tinha o sentimento assustador de que tamb?m a estavam a observar. Lembrou-se novamente das palavras do pap?… “Os fantasmas n?o existem.” O pap? nunca mentiria sobre aquilo. Por isso, de que ? que ela afinal tinha medo? Al?m disso, j? estava a ficar zangada com o Gary por estar a aborrec?-la. Estava quase t?o zangada quanto assustada. Eu j? lhe mostro, Pensou. As pernas tremiam-lhe e dava pequenos passos em dire??o ao grande espa?o quadrado. Ao caminhar para a coisa met?lica, Libby sentiu-se mais corajosa. Quando se aproximou da coisa – estava mais perto do que Gary ou Denise haviam estado – sentiu-se bastante orgulhosa de si mesma. Mas ainda assim, n?o conseguia perceber de que se tratava. Com mais coragem do que julgara poss?vel, Libby estendeu a m?o nessa dire??o. Empurrou os dedos pelas folhas de hera, esperando que a m?o n?o fosse arrebatada ou comida ou algo pior. E os dedos encontraram finalmente o tubo met?lico, frio e duro. O que ser?? Pensou. De repente, sentiu uma ligeira vibra??o no tubo. E ouviu algo. Parecia vir do tubo. Ajoelhou-se muito pr?xima do tubo. O som era d?bil, mas ela sabia que n?o era fruto da sua imagina??o. O som era real e parecia uma mulher a chorar e a lamentar-se. Libby afastou a m?o do tubo. Estava demasiado assustada para falar ou mexer-se ou gritar ou fazer o que quer que fosse. Nem conseguia respirar. Era como quando ca?ra de uma ?rvore de costas e o ar dos pulm?es lhe parecia ter sido sugado. Ela sabia que tinha que fugir. Mas ficou im?vel, incapaz de reagir. Era como se tivesse de explicar ao seu corpo como ? que tinha que se mexer. Vira-te e foge, Pensou. Mas durantes alguns segundos intermin?veis, n?o conseguiu obedecer ? sua pr?pria ordem. De s?bito, as suas pernas pareceram ganhar vida e deu por si a sair da clareira. Assustava-a a possibilidade de algo muito mau a alcan?ar e agarr?-la e lev?-la de volta para aquele local. Quando saiu da clareira, dobrou-se sobre si mesma, ofegante. Naquele momento compreendeu que todo aquele tempo sustivera a respira??o. “O que ? que se passa?” Perguntou Denise. “Um fantasma!” Gritou Libby. “Ouvi um fantasma!” E nem sequer esperou por uma resposta. Desatou a correr o mais r?pido que conseguia pelo caminho que tinham percorrido. Ouviu o irm?o e a prima a correrem atr?s de si. “Ei, Libby, para!” Gritava o irm?o. “Espera por n?s!” Mas n?o havia a m?nima hip?tese dela parar de correr antes de estar s? e salva em casa. CAP?TULO QUATRO Riley bateu ? porta do quarto de April. Era meio-dia e j? era tempo da filha se levantar. Mas a resposta que ouviu n?o era bem aquela que desejava. “O que ? que queres?” Surgiu uma r?plica abafada e rabugenta do interior do quarto. “Vais ficar a dormir o dia todo?” Perguntou Riley. “J? acordei e j? des?o.” Riley desceu as escadas suspirando. Quem lhe dera que Gabriela ali estivesse, mas o domingo era o seu dia de folga. Riley sentou-se no sof?. Durante todo o dia anterior April estivera rabugenta e distante. Riley n?o sabia como atenuar a n?o identificada tens?o entre elas e ficara aliviada por ver que April tinha ido a uma festa de Halloween ? noite. Como era na casa de uma amiga a apenas alguns quarteir?es de dist?ncia, Riley n?o se preocupara. Pelo menos n?o se preocupara at? ? uma da manh? quando a filha ainda n?o tinha regressado a casa. Felizmente, April aparecera quando Riley ainda estava indecisa quanto ao que deveria fazer de seguida. Mas April regressara e fora logo para a cama sem dirigir praticamente uma palavra ? m?e. E pelo que Riley se pudera aperceber, naquela manh? April n?o parecia estar mais inclinada a comunicar. Riley estava feliz por estar em casa para resolver o que quer que estivesse errado. N?o se tinha comprometido em rela??o ao novo caso e ainda tinha sentimentos contradit?rios quanto a isso. Bill n?o parava de a informar sobre todos os desenvolvimentos por isso, sabia que no dia anterior ele e Lucy Vargas tinham come?ado investigar o desaparecimento de Meara Keagan. Interrogaram a fam?lia para a qual Meara trabalhava e tamb?m os vizinhos no pr?dio onde vivia. N?o tinham quaisquer pistas. Naquele dia Lucy ia liderar uma busca geral, coordenando v?rios agentes que distribu?am panfletos com a foto de Meara. Entretanto, Bill demonstrava tudo menos paci?ncia face ? indecis?o de Riley em se juntar ao caso. Mas ela n?o tinha que decidir j?. Toda a gente em Quantico sabia que Riley n?o estaria dispon?vel no dia seguinte. Um dos primeiros assassinos que apanhara ia ser ouvido numa audi?ncia de liberdade condicional em Maryland. Estava completamente fora de quest?o n?o testemunhar naquela audi?ncia. Enquanto Riley refletia sobre as suas escolhas, April descia as escadas j? vestida. Dirigiu-se de imediato ? cozinha sem sequer olhar para a m?e. Riley levantou-se e seguiu-a. “O que h? para comer?” Perguntou April, olhando para o interior do frigor?fico. “Posso preparar-te o pequeno-almo?o,” Disse Riley. “N?o ? preciso, eu encontro alguma coisa.” April tirou um peda?o de queijo e fechou a porta do frigor?fico. Na bancada cortou uma fatia de queijo e serviu-se de caf?. Acrescentou natas e a??car ao caf?, sentou-se na mesa e come?ou a mordiscar o queijo. Riley sentou-se junto ? filha. “Como foi a festa?” Perguntou Riley. “Tudo bem.” “Chegaste um bocado tarde a casa.” “N?o, n?o cheguei.” Riley optou por n?o discutir. Talvez uma da manh? n?o fosse assim t?o tarde para mi?das de quinze anos que iam a festas. Como ? que ela poderia saber? “A Crystal disse-me que tens um namorado,” Disse Riley. “Sim,” Respondeu April, bebericando o seu caf?. “Como se chama?” “Joel.” Depois de uns instantes de sil?ncio, Riley perguntou, “Quantos anos tem?” “N?o sei.” Subitamente, Riley sentiu invadir-se por uma onda de ansiedade e raiva. “Quantos anos tem?” Repetiu Riley. “Quinze, ok? A mesma idade que eu.” Riley tinha a certeza que April estava a mentir. “Gostava de o conhecer,” Disse Riley. April revirou os olhos. “Por amor de Deus, m?e. Cresceste em que ?poca? Nos anos cinquenta?” Riley sentiu-se picada. “N?o me parece que seja pouco razo?vel,” Disse Riley. “Tr?-lo c?. Apresenta-mo.” April pousou a caneca de caf? com tanta for?a que entornou um pouco do l?quido na mesa. “Porque ? que me est?s sempre a controlar?” Atirou April. “N?o te estou a tentar controlar. S? quero conhecer o teu namorado.” Durante alguns instantes, April limitou-se a olhar silenciosa e soturnamente para o caf?. Depois levantou-se de rompante da mesa e saiu intempestivamente da cozinha. “April!” Gritou Riley. Riley seguiu April pela casa. April dirigiu-se ? porta de entrada e pegou na mala, pendurada no bengaleiro. “Onde vais?” Perguntou Riley. April n?o respondeu. Abriu a porta e saiu, batendo-a atr?s de si. Riley permaneceu plantada num sil?ncio surpreendido durante alguns momentos. Pensou que com toda a certeza, April regressaria de imediato. Riley esperou durante um minuto. Depois foi para a porta, abriu-a e olhou na dire??o da rua. N?o havia sinal de April. Riley sentiu-se abalada. Interrogou-se como ? que as coisas tinham chegado ?quele ponto. J? tinham passado por momentos dif?ceis no passado. Mas quando as tr?s – Riley, April e Gabriela – se mudaram para aquela casa no ver?o, a April ficara muito feliz. Ficara amiga de Crystal e a escola corria bem. Mas agora, apenas dois meses depois da mudan?a, April passara de adolescente feliz a adolescente rabugenta. Ser? que o SPT regressara? April sofrera um efeito retardado depois de Peterson a ter aprisionado e ter tentado mat?-la. Mas estava a consultar uma boa terapeuta e parecia estar a ultrapassar o trauma. Ainda na porta de entrada aberta, Riley pegou no telem?vel e enviou um SMS a April. Volta aqui. Imediatamente. A mensagem fora entregue. Riley aguardou. Nada aconteceu. Teria April deixado o telem?vel em casa? N?o, n?o era poss?vel. April agarrara na mala ? sa?da e nunca ia a lado nenhum sem o telem?vel. Riley n?o parava de olhar para o telem?vel. A mensagem ainda estava marcada como “entregue” e n?o como “lida”. Estaria April simplesmente a ignor?-la? E naquele momento, Riley teve a certeza para onde April tinha ido. Pegou numa chave que se encontrava numa mesa junto ? porta e dirigiu-se ao alpendre fronteiro. Desceu as escadas da sua casa na dire??o do relvado da casa vizinha onde Blaine e Crystal viviam. Olhando novamente para o telem?vel, tocou ? campainha. Quando Blaine abriu a porta e a viu, o rosto do homem inundou-se de um amplo sorriso. “Ent?o!” Disse. “Que bela surpresa. O que te traz por c??” Riley gaguejou de forma estranha. “Ser? que… A April est? por c?? Com a Crystal?” “N?o,” Disse Blaine. “A Crystal tamb?m n?o est?. Disse que ia ? cafetaria. Sabes, aquela mais pr?xima.” Blaine franziu o sobrolho preocupado. “O que ? que se passa?” Perguntou. “Algum problema?” “Tivemos uma discuss?o,” Disse Riley. “Ela saiu de rompante. Eu pensei que ela pudesse ter vindo para c?. Acho que est? a ignorar a minha mensagem.” “Entra,” Disse Blaine. Riley seguiu-o at? ? sala de estar onde se sentaram no sof?. “N?o sei o que se passa com ela,” Disse Riley. “N?o sei o que se passa connosco.” Blaine sorriu tristemente. “Sei bem o que est?s a sentir,” Disse Blaine. Riley ficou um pouco surpreendida. “Sabes?” Perguntou. “Sempre me pareceu que tu e a Crystal se davam perfeitamente.” “A maior parte do tempo, sim. Mas desde que ? adolescente que as coisas ?s vezes n?o s?o f?ceis.” Blaine olhou para Riley com uma express?o de compreens?o. “N?o me digas,” Disse. “Que tem a ver com um namorado.” “Parece que sim,” Disse Riley. “N?o me conta nada sobre ele. E recusa-se a apresent?-lo.” Blaine abanou a cabe?a. “Elas est?o nessa idade,” Disse ele. “Ter um namorado ? um assunto de vida ou de morte. A Crystal ainda n?o tem um, o que para mim n?o tem mal nenhum, mas para ela tem. Est? absolutamente desesperada a esse respeito.” “Talvez eu tamb?m tenha sido assim com essa idade,” Disse Riley. Blaine deu uma risadinha. “Acredita em mim quando te digo que quando tinha quinze anos, s? pensava em raparigas. Queres caf??” “Quero, obrigada. Simples, se faz favor.” Blaine foi para a cozinha. Riley olhou ? sua volta, reparando mais uma vez como a casa estava bem decorada. Blaine tinha mesmo bom gosto. E l? regressou ele com duas canecas de caf?. Riley tomou um gole. Estava delicioso. “Eu juro que n?o sabia no que me estava a meter quando fui m?e,” Disse. “Talvez n?o tenha ajudado o facto de ser demasiado nova.” “Quantos anos tinhas?” “Vinte e quatro.” “Eu era mais novo. Casei-me aos vinte e um. Para mim a Phoebe era a rapariga mais bonita que j? vira. Sexy como o raio. De certa forma, descurei o facto de que ela tamb?m era bipolar e j? bebia muito.” Agora Riley estava cada vez mais interessada. Ela sabia que Blaine estava divorciado, mas pouco mais. Parecia que ela e Blaine tinham cometido erros comuns na juventude. Tinha sido demasiado f?cil para eles ver a vida atrav?s do brilho dourado da atra??o f?sica. “Quanto tempo estiveste casado?” Perguntou Riley. “Cerca de nove anos. Dev?amos ter acabado muito antes. Eu deveria ter acabado. N?o parava de acreditar que conseguiria salvar a Phoebe. Foi uma ideia est?pida. A Crystal nasceu quando a Phoebe tinha vinte e um e eu vinte e dois anos, um estudante de chef. ?ramos demasiado pobres e imaturos. A Phoebe abortou e nunca conseguiu ultrapassar isso. Tornou-se completamente dependente do ?lcool. Tornou-se violenta.” O olhar de Blaine era vago agora. Riley pressentiu que estaria a reviver mem?rias amargas de que n?o queria falar. “Quando a April nasceu, eu estava a fazer forma??o para ser agente do FBI,” Disse Riley. “O Ryan queria que eu desistisse, mas n?o desisti. Ele estava morto por se tornar num advogado de sucesso. A verdade ? que ambos tivemos as carreiras que quer?amos. Mas n?o t?nhamos nada em comum a longo curso. N?o conseguimos criar as funda??es s?lidas necess?rias a um casamento.” Riley calou-se sob o olhar de compreens?o de Blaine. Sentiu-se aliviada por poder falar com outro adulto sobre aquilo. Come?ava a perceber que era praticamente imposs?vel sentir-se desconfort?vel na presen?a de Blaine. Sentia que conseguia falar com ele sobre quase tudo. “Blaine, estou bastante dividida neste momento,” Disse Riley. “Sou necess?ria num caso importante, mas tudo est? uma grande confus?o em casa. Sinto que n?o estou a passar tempo suficiente com a April.” Blaine sorriu. “Ah, claro. O velho dilema entre trabalho e fam?lia. Tamb?m o conhe?o bem. Acredita em mim, ser dono de um restaurante requer muito tempo. Ter tempo para a Crystal ? um desafio.” Riley olhou para os carinhosos olhos azuis de Blaine. “Como encontras o equil?brio?” Perguntou Riley. Blaine encolheu ligeiramente os ombros. “N?o encontro,” Disse. “N?o h? tempo suficiente para tudo. Mas tamb?m n?o vale a pena castigarmo-nos por n?o sermos capazes de conseguir o imposs?vel. Acredita em mim, desistir da carreira n?o ? solu??o. Quero dizer, a Phoebe tentou ficar em casa. E foi parte do que a enlouquecia. Tens que te contentar com o que tens.” Riley sorriu. Parecia uma ideia fant?stica – contentar-se com o que tinha. Talvez conseguisse. Parecia realmente poss?vel. Tocou na m?o de Blaine. Ele pegou na m?o dela e apertou-a na sua. Riley sentiu uma tens?o deliciosa entre eles. Por um momento, pensou que talvez pudesse ficar mais um momento com Blaine, agora que ambas as filhas estavam noutro lugar. Talvez pudessem… Mas no exato momento em que este pensamento se come?ava a forma na sua cabe?a, sentiu afastar-se dele. Ainda n?o estava pronta a agir em concord?ncia com aqueles novos sentimentos. Retirou a m?o suavemente. “Obrigada,” Agradeceu. “? melhor ir para casa. A April j? l? deve estar.” Despediram-se. Ao sair, o telem?vel vibrou. Era uma mensagem de April. Acabei de ler a tua mensagem. Desculpa ter agido assim. Estou na cafetaria. Volto num instante. Riley suspirou. N?o fazia a m?nima ideia do que responder. Talvez fosse melhor n?o o fazer. Elas teriam que ter uma conversa s?ria mais logo. Riley acabara de entrar em casa quando o telem?vel tocou novamente. Uma chamada de Ryan. O seu ex-marido era a ?ltima pessoa com quem queria falar naquele momento. Mas ela sabia que ele n?o ia parar de enviar mensagens se n?o falasse com ele agora. Atendeu a chamada. “O que queres, Ryan?” Perguntou rispidamente. “Estou a ligar em m? altura?” Riley queria dizer-lhe que no que lhe dizia respeito nenhuma altura era boa. Mas manteve o pensamento para si pr?pria. “Podemos falar agora,” Disse Riley. “Estava a pensar em passar por a? para te ver a ti e ? April,” Disse. “Gostava de falar com as duas.” Riley reprimiu um grunhido. “Preferia que n?o viesses.” “Pensava que tinhas dito que o momento era bom.” Riley n?o respondeu. Era t?pico de Ryan, retorcer as suas palavras para tentar manipul?-la. “Como est? a April?” Perguntou Ryan. Quase se engasgou com o riso. Ela sabia que ele estava apenas a tentar fazer conversa. “Que simp?tico da tua parte perguntares,” Disse Riley sarcasticamente. “Est? ?tima.” ? claro que era mentira. Mas envolver Ryan naquela situa??o n?o era a melhor forma de a melhorar. “Ouve Riley…” A voz de Ryan apagou-se. “Cometi muitos erros.” N?o me digas, Pensou Riley. Mas manteve o sil?ncio. Depois de alguns instantes, Ryan disse, “As coisas n?o me t?m corrido muito bem nos ?ltimos tempos.” Riley ainda assim permaneceu em sil?ncio. “Bem, s? me queria certificar de que tu e a April est?o bem.” Riley mal conseguia acreditar na lata de Ryan. “Estamos bem. Porque ? que perguntas? Uma namoradinha nova deixou-te, foi, Ryan? Ou as coisas est?o a correr mal no escrit?rio?” “Est?s a ser muito dura comigo, Riley.” A ela parecia-lhe estar a ser t?o meiga quanto poss?vel. Ela percebeu a situa??o. Ryan devia estar sozinho. A socialite que se tinha mudado para casa dele depois do div?rcio devia t?-lo abandonado ou algum caso novo devia ter dado para o torto. Ela sabia que Ryan n?o suportava estar sozinho. Ia sempre para junto de Riley e April como ?ltimo recurso. Se ela o deixasse voltar, seria s? at? ele se interessar por outra mulher. Riley disse, “Acho que deves resolver as coisas com a tua ?ltima namorada. Ou a que tiveste antes dessa. J? nem sei quantas tiveste desde que estamos divorciados. Quantas, Ryan?” Ouviu um ligeiro esgar do outro lado da linha. Riley tinha tocado num ponto fraco. “Ryan, a verdade ? que este n?o ? o melhor momento.” Era a mais pura verdade. Acabara de visitar um homem simp?tico de quem gostava. Porqu? estragar tudo agora? “Quando ? um bom momento?” Perguntou Ryan. “N?o sei,” Respondeu Riley. “Depois digo-te. Adeus.” E desligou a chamada. Desde que come?ara a falar com Ryan que andava de um lado para o outro. Sentou-se e respirou fundo para se acalmar. Depois enviou um SMS a April. Vem para casa imediatamente. Alguns segundos depois recebeu uma resposta. OK. Estou a caminho. Desculpa m?e. Riley suspirou. Agora April j? parecia bem. E estaria durante algum tempo. Mas algo n?o batia certo. O que ? que se estava a passar com ela? CAP?TULO CINCO No seu covil parcamente iluminado, Mafarrico andava freneticamente no meio de milhares de rel?gios, tentando ter tudo preparado na hora certa. Faltavam apenas alguns minutos para a meia-noite. “Concerta o que tem o cavalo!” Gritava o av?. “Est? um minuto atrasado!” “J? l? vou,” Dizia Mafarrico. Mafarrico sabia que seria castigado de qualquer das formas, mas seria ainda pior se n?o tivesse tudo preparado a tempo. Naquele momento, estava demasiado ocupado com outros rel?gios. Concertou o rel?gio com as flores retorcidas de metal que se atrasara cinco minutos. De seguida, abriu um rel?gio de p? e moveu o ponteiro dos minutos um pouco para a direita. Verificou o grande rel?gio com um chifre de veado no topo. Atrasava-se com frequ?ncia, mas naquele momento parecia estar bem. Finalmente, conseguiu arranjar o que tinha um cavalo empinado e ainda bem porque estava atrasado sete minutos. “Tem que bastar,” Resmungou o av?. “Sabes o que tens a fazer a seguir.” Mafarrico dirigiu-se para a mesa obedientemente e pegou no chicote. Era do tipo “gato de nove caudas” e o av? tinha-lhe batido com ele quando ainda era demasiado jovem para se lembrar. Caminhou para a extremidade do covil que se encontrava separada por uma veda??o com elos de corrente. Atr?s da veda??o estavam quatro mulheres aprisionadas, num local sem qualquer mobili?rio, a n?o ser uns beliches de madeira sem colch?es. Havia um arm?rio atr?s deles onde faziam as suas necessidades fisiol?gicas. O fedor deixara de incomodar Mafarrico h? j? algum tempo. A mulher Irlandesa que apanhara h? algumas noites observava-o com aten??o. Ap?s a sua longa dieta de migalhas e ?gua, as outras estavam devastadas e cansadas. Duas delas raramente faziam mais do que chorar e gemer. A quarta estava sentada no ch?o junto ? veda??o, encolhida e cadav?rica. N?o emitia qualquer som. Mal parecia estar viva. Mafarrico abriu a porta da jaula. A mulher Irlandesa saltou para a frente, tentando fugir. Mafarrico atingiu-a na cara violentamente com o chicote. Ela recuou, virando-se de costas. Ele chicoteou-lhe as costas vezes sem conta. O homem sabia por experi?ncia pr?pria que do?a bastante, mesmo tendo a blusa de permeio e sobretudo considerando os verg?es e cortes que j? ostentava. Subitamente o ambiente foi preenchido pelo ru?do ensurdecedor de todos os rel?gios a baterem a meia-noite. Mafarrico sabia bem o que devia fazer naquele momento. Enquanto o barulho prosseguia impiedosamente, dirigiu-se ? rapariga mais magra e fraca, aquela que nem parecia estar viva. Ela olhou para ele com uma express?o estranha. Era a ?nica que estava ali h? tempo suficiente para saber o que ele iria fazer de seguida. Ela aparentava estar como que preparada para aquilo, parecia quase desejar aquilo. Mafarrico n?o tinha escolha. Ajoelhou-se atr?s dela e partiu-lhe o pesco?o. Quando a vida se esvaiu daquele corpo, Mafarrico olhou para um rel?gio ornamentado antigo que se encontrava do outro lado da veda??o. Uma Morte esculpida ? m?o marchava de um lado para o outro no seu manto negro, com a sua caveira assustadora a espreitar atrav?s do capuz. Levava cavaleiros e reis e rainhas e pobres, sem distin??o. Era o rel?gio preferido de Mafarrico. O ru?do circundante come?ou a desvanecer lentamente. E dali a pouco j? nada se ouvia a n?o ser o coro dos rel?gios a trabalhar e o choro das mulheres que ainda estavam vivas. Mafarrico colocou a rapariga morta num ombro. Era t?o leve que n?o precisou de fazer qualquer esfor?o. Abriu a jaula, saiu e fechou-a novamente. Ele sabia que o momento havia chegado. CAP?TULO SEIS Que grande atua??o, Pensou Riley. A voz de Larry Mullins tremia ligeiramente. Quando terminou a declara??o que havia preparado para o conselho da audi?ncia de liberdade condicional e para as fam?lias das suas v?timas, parecia estar prestes a chorar. “Tive quinze anos para pensar no que fiz,” Disse Mullins. “N?o passa um dia em que n?o me arrependa. N?o posso voltar atr?s e mudar o que aconteceu. N?o posso voltar a dar vida a Nathan Betts e a Ian Harter. Mas ainda me restam v?rios anos para poder pagar a minha d?vida ? sociedade de uma forma ?til. D?em-me, por favor, a oportunidade de o fazer.” Mullins sentou-se. O seu advogado deu-lhe um len?o e ele limpou os olhos humedecidos nele – apesar de Riley n?o ter visto l?grimas reais. O auditor e gestor do caso conferenciaram entre si sussurrando. Tamb?m os membros do conselho de liberdade condicional o fizeram. Riley sabia que em breve chegaria o momento de dar o seu testemunho. Entretanto, estudava o rosto de Mullins. Lembrava-se muito bem dele e pensou que n?o mudara muito. Mesmo no passado, ele mostrara-se bem-falante e preparado, nimbado por uma aura sincera de inoc?ncia. Se tinha endurecido, conseguia esconder essa caracter?stica atr?s de express?es de pesar abjeto. No passado trabalhara como ama – ou a vers?o masculina, como o seu advogado preferia mencionar. O que mais surpreendia Riley era o pouco que tinha envelhecido. Tinha vinte e cinco anos quando fora preso e ainda possu?a a mesma express?o jovem e amig?vel daquele tempo. O mesmo n?o se podia dizer dos pais das v?timas. Os dois casais apresentavam um aspeto prematuramente envelhecido e psicologicamente quebrado. Riley n?o podia deixar de se compadecer daquelas pessoas que haviam suportado anos de sofrimento e dor. S? lhes desejava ter feito justi?a no momento certo. E tamb?m o seu primeiro parceiro no FBI, Jake Crivaro. Tinha sido um dos primeiros casos de Riley enquanto agente e Jake fora um magn?fico mentor. Larry Mullins tinha sido preso sob a acusa??o de morte de uma crian?a num parque infantil. No decorrer da sua investiga??o, Riley e Jake descobriram que uma outra crian?a tinha morrido em circunst?ncias praticamente id?nticas quando ao cuidado de Mullins noutra cidade. Ambas as crian?as tinham sido asfixiadas. Quando Riley prendeu Mullins, lhe leu os direitos e o algemou, a sua express?o de j?bilo matreiro fora o suficiente para saber que ele era culpado. “Boa sorte,” Dissera-lhe de forma sarc?stica. De facto, logo de in?cio, a sorte n?o acompanhou Riley e Jake. Ele negara firmemente ter assassinado as crian?as. E apesar dos tremendos esfor?os de Riley e Jake, as provas contra ele eram perigosamente escassas. Fora imposs?vel determinar o modo como os meninos tinham sido asfixiados e n?o fora encontrada a arma do crime. O pr?prio Mullins apenas admitira neglig?ncia e negara t?-los assassinado. Riley recordara-se do que o Procurador lhe dissera a ela e a Jake. “Temos que ter cuidado ou o filho da m?e sai impune. Se o tentarmos acusar de todas as acusa??es, perdemos tudo. N?o podemos provar que o Mullins era a ?nica pessoa com acesso ?s crian?as quando foram mortas.” Depois veio a tentativa de acordo. Riley detestava aquelas negocia??es judiciais. Ali?s, a sua avers?o por esse tipo de acordo surgira precisamente com aquele caso. O advogado de Mullins tentou fazer um acordo. Mullins declarava-se culpado de ambos os homic?dios, mas enquanto homic?dios n?o premeditados, e as penas seriam cumpridas em simult?neo. Era uma porcaria de acordo. Nem sequer fazia sentido. Se o Mullins tinha morto as crian?as, como ? que tamb?m poderia ser ao mesmo tempo meramente negligente? As duas conclus?es eram absolutamente contradit?rias. Mas o Procurador chegou ? conclus?o de que n?o lhes restava alternativa que n?o fosse aceitar aquele acordo. Por fim, Mullins foi condenado a trinta anos de cadeia com a possibilidade de liberdade condicional ou liberta??o precoce por bom comportamento. A rea??o das fam?lias fora de horror e incredulidade. Culparam Riley e Jake por n?o fazerem o seu trabalho de forma competente. Jake, amargurado e zangado, reformou-se mal o caso terminou. Riley prometera ?s fam?lias dos meninos que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para manter Mullins atr?s das grades. H? alguns dias atr?s, os pais de Nathan Bett haviam ligado a Riley para lhe dar conhecimento da audi?ncia de liberdade condicional. Chegara o momento de fazer cumprir a sua promessa. Os sussurros terminaram. A Oficial da Audi?ncia Julie Simmons olhou para Riley. “Creio que a Agente Especial Riley Paige deseja fazer uma declara??o,” Disse Simmons. Riley engoliu em seco. O momento por que aguardava h? quinze anos tinha finalmente chegado. Ela sabia que o conselho da audi?ncia j? tinha conhecimento de todas as provas, por muito insuficientes que fossem. N?o valia a pena repisar o assunto. Tinha que fazer um apelo mais pessoal. Levantou-se e falou. “Segundo creio, Larry Mullins est? a ser ouvido nesta audi?ncia de liberdade condicional por ser um ‘recluso exemplar’” Com uma nota de ironia, acrescentou, “Sr. Mullins, dou-lhe os parab?ns pelo seu feito.” Mullins acenou, o rosto vazio. Riley prosseguiu. “’Comportamento exemplar’ – qual ? o significado exato disto? Parece-me estar menos relacionado com o que fez do que com o que n?o fez. N?o quebrou regras da pris?o. Comportou-se. E ? tudo.” Riley lutava para manter a voz firme. “Muito honestamente, n?o estou surpreendida. N?o existem muitas crian?as para matar na pris?o.” Ouviram-se sussurros e murm?rios na sala. O sorriso de Mullins transformou-se num olhar fixo. “Pe?o desculpa,” Disse Riley. “Tenho consci?ncia que Mullins nunca admitiu que os homic?dios foram premeditados e a acusa??o nunca foi por esse caminho. Mas de qualquer das formas, declarou-se culpado. Matou duas crian?as. N?o h? forma de o ter feito com boas inten??es.” Parou por um momento, escolhendo as palavras que proferiria de seguida cuidadosamente. Riley queria provocar Mullins, obrig?-lo a mostrar a sua raiva, a mostrar o seu verdadeiro Eu. Mas ? claro que ele sabia que se o fizesse, arruinaria o seu registo de bom comportamento e nunca sa?ria da pris?o. A melhor estrat?gia de Riley era obrigar os membros do conselho a encarar a realidade do que ele tinha perpetrado. “Eu vi o corpo sem vida de Ian Harter, quatro anos, no dia seguinte a ser assassinado. Parecia estar a dormir com os olhos abertos. A morte tinha-lhe roubado toda a express?o e o seu rosto estava pac?fico. Ainda assim, consegui discernir o terror nos seus olhos mortos. Os seus ?ltimos momentos nesta terra foram momentos de um absoluto terror. Vi o mesmo no pequeno Nathan Betts.” Riley ouviu as m?es de ambas as crian?as come?arem a chorar. Ela odiava ter que trazer ? tona aquelas mem?rias horr?veis, mas n?o tinha outra hip?tese. “N?o nos podemos esquecer do seu terror,” Disse Riley. “E n?o nos podemos esquecer que Mullins demonstrou pouca emo??o durante o julgamento e nenhum sinal de arrependimento. O seu arrependimento veio muito, muito mais tarde – se ? que ? sincero.” Riley respirou fundo. “Quantos anos de vida foram retirados ?queles dois meninos se os juntarmos? Muitos, muito mais do que cem, parece-me. Ele foi sentenciado a trinta anos. S? cumpriu quinze. N?o ? suficiente. Nunca viver? o suficiente para compensar todos aqueles anos perdidos.” Agora a voz de Riley tremia. Sabia que tinha que se controlar. N?o podia desatar a chorar ou gritar de raiva. “Ser? que chegou o momento de perdoar a Larry Mullins? Deixo isso ao crit?rio das fam?lias das crian?as. Esta audi?ncia n?o tem nada a ver com perd?o. N?o ? essa a quest?o essencial. A quest?o mais importante ? o perigo que ele ainda constitui. N?o podemos arriscar a probabilidade de mais crian?as morrerem ?s suas m?os.” Riley reparou que alguns membros do conselho olhavam para os seus rel?gios. Sentiu um ligeiro p?nico. O conselho j? tinha revisto dois outros casos naquela manh? e ainda tinham mais quatro at? ao meio-dia. Estavam a ficar impacientes. Riley tinha que concluir imediatamente. Olhou-os diretamente nos olhos. “Senhoras e senhores, imploro-vos que n?o concedam esta liberdade condicional.” E ainda acrescentou, “Talvez mais algu?m queira falar em nome do recluso.” E sentou-se. As suas ?ltimas palavras tinham uma dupla inten??o. Ela sabia perfeitamente que ningu?m falaria em defesa de Mullins. Apesar do seu “bom comportamento”, n?o tinha um ?nico amigo ou pessoa que o defendesse no mundo. E Riley tinha a certeza de que n?o o merecia. “Algu?m deseja pronunciar-se?” Perguntou a Oficial. “S? gostaria de acrescentar algumas palavras,” Disse uma voz vinda do fundo da sala. Riley conhecia bem aquela voz. Virou-se para tr?s e viu um homem baixo e entroncado em p?. Era Jake Crivaro – a ?ltima pessoa que esperava encontrar naquele dia. Riley estava simultaneamente surpreendida e deliciada. Jake aproximou-se, disse o seu nome e dirigindo-se aos membros do conselho, disse, “Posso dizer-vos que este tipo ? um grande manipulador. N?o acreditem nele. Est? a mentir. N?o mostrou qualquer remorso quando o apanh?mos. O que est?o a ver ? uma farsa.” Jake dirigiu-se ? mesa em que se encontrava Mullins. “Aposto que n?o estavas ? espera de me ver aqui hoje,” Disse com um tom de voz repleto de desprezo. “N?o o perderia por nada deste mundo – seu grandess?ssimo filho da puta assassino de crian?as.” A Oficial bateu com o martelo. “Ordem!” Advertiu. “Oh, pe?o desculpa,” Disse Jake de forma falsamente apolog?tica. “N?o era minha inten??o insultar o nosso recluso modelo. Afinal de contas, ele agora est? reabilitado. Ele ? um filho da puta assassino de crian?as arrependido.” Jake limitou-se a ficar ali a olhar para Mullins. Riley estudou a express?o do homicida. Ela sabia perfeitamente que Jake estava a dar o seu m?ximo para provocar uma explos?o da parte de Mullins. Mas o rosto do recluso permanecia impass?vel e calmo. “Sr. Crivaro, sente-se, por favor,” Disse a Oficial. “O conselho j? pode tomar uma decis?o.” Os membros do conselho, reuniram-se para partilhar as suas notas e pensamentos. Os seus sussurros eram animados e tensos. Entretanto, Riley nada mais podia fazer a n?o ser esperar. Donald e Melanie Betts solu?avam. Darla Harter chorava e o marido Ross segurava-lhe a m?o. Olhava de forma penetrante para Riley. O seu olhar era afiado como o gume de uma faca. O que pensaria ele do testemunho que ela acabara de dar? Consideraria ele que compensava o seu falhan?o de h? tantos anos atr?s? A sala estava quente e ela sentia a transpira??o a escorrer-lhe no rosto. O seu cora??o batia ansiosamente. Demorou apenas alguns minutos para os membros do conselho tomarem uma decis?o. Um deles sussurrou qualquer coisa ? Oficial. Ela voltou-se para todos os presentes. “A liberdade condicional n?o ? concedida,” Disse. “Vamos passar ao pr?ximo caso.” Riley ficou perplexa com a brusquid?o da mulher, como se o caso n?o fosse mais do que uma multa de estacionamento. Mas de repente lembrou-se que o conselho estava com pressa de passar aos pr?ximos casos que ainda tinham que analisar naquela manh?. Riley levantou-se e ambos os casais se precipitaram na sua dire??o. Melanie Betts abra?ou-se a Riley. “Obrigada, obrigada, obrigada…” N?o parava de dizer. Os outros tr?s juntaram-se ? sua volta, sorrindo por entre as l?grimas e dizendo “obrigado” vezes sem conta. Riley viu que Jake estava ? parte no corredor. Logo que pode foi ao encontro dele. “Jake!” Disse, dando-lhe um abra?o. “H? quanto tempo!” “Demasiado tempo,” Disse Jake com aquele sorriso de lado t?pico dele. “Voc?s jovens nunca escrevem ou telefonam.” Riley suspirou. Jake sempre a tratara como uma filha. E era bem verdade que ela n?o devia ter perdido o contacto com ele. “Ent?o, como tens passado?” Perguntou Riley. “Tenho setenta e cinco anos,” Disse ele. “Tive que ser operado aos joelhos e ? anca. Os meus olhos s?o fracos. Tenho um aparelho nos ouvidos e um pacemaker. E todos os meus amigos tirando tu j? bateram a bota. Como achas que tenho passado?” Riley sorriu. Tinha envelhecido muito desde a ?ltima vez que o vira. Mesmo assim, n?o parecia t?o fr?gil como tentava aparentar. Tinha a certeza que era bem capaz de fazer o seu trabalho de antigamente caso fosse necess?rio. “Bem, estou contente por teres conseguido dar o teu testemunho,” Disse Riley. “Bem sabes que sou t?o bem falante como aquele filho da m?e do Mullins.” Disse Jake. “O teu depoimento ajudou imenso,” Disse Riley. Jake encolheu os ombros. “Bem, gostava de o ter instigado mais. Adorava t?-lo visto perder as estribeiras ? frente da comiss?o. Mas ele ? frio e esperto. Talvez a pris?o lhe tenha ensinado isso. De qualquer das formas, conseguimos uma boa decis?o mesmo sem o fazer passar-se dos carretos. Talvez fique atr?s das grades de vez.” Durante alguns instantes Riley n?o disse nada. Jake olhou-a de forma curiosa. “H? alguma coisa que eu n?o saiba?” Perguntou Jake. “Temo que n?o seja assim t?o simples,” Disse Riley. “Se o Mullins continuar a ter um bom comportamento na pris?o, a liberta??o precoce poder? ser inevit?vel num outro ano. E nem eu, tu ou qualquer outra pessoa pode fazer o quer que seja para o impedir.” “Meu Deus,” Disse Jake, parecendo t?o zangado e amargo como no passado. Riley sabia como ? que ele se sentia. Era devastador imaginar Mullins em liberdade. A pequena vit?ria daquele dia parecia agora mais amarga do que doce. “Bem, tenho que ir andando,” Disse Jake. “Foi bom voltar a ver-te.” Foi com tristeza que Riley viu o seu antigo companheiro afastar-se. Ela compreendia porque ? que ele n?o estava para alimentar sentimentos negativos. N?o era a sua forma de estar. Riley fez quest?o de n?o se esquecer que tinha que entrar em contacto com ele em breve. Riley tamb?m tentou ver o lado positivo do que tinha acabado de acontecer. Ap?s quinze longos anos, os Bett e os Harter tinham-na finalmente perdoado. Mas Riley n?o ficou com a sensa??o de que merecia ser perdoada, n?o mais do que Larry Mullins. Naquele preciso momento, Larry Mullins sa?a da sala algemado. Ele virou-se para a enfrentar e sorriu abertamente, murmurando inaudivelmente as suas palavras mal?volas. “At? para o ano.” CAP?TULO SETE Riley ia a caminho de casa no seu carro quando recebeu uma chamada de Bill. Colocou o telem?vel em alta voz. “O que se passa?” Perguntou. “Encontr?mos outro corpo,” Disse Bill. “No Delaware.” “Era Meara Keagan?” Perguntou Riley. “N?o. Ainda n?o identific?mos a v?tima. ? uma situa??o muito semelhante ? que aconteceu com as outras v?timas, mas muito pior.” Riley anotou mentalmente uma s?rie de factos relacionados com o caso. Meara Keagan ainda estava presa. O mais certo era o assassino manter cativas outras mulheres. Os homic?dios continuariam, quantos ? que ningu?m podia saber. A voz de Bill denotava muita agita??o. “Riley, este caso est? a enlouquecer-me,” Disse. “Sei que n?o estou a pensar com clareza. A Lucy ? fant?stica, mas ainda est? muito verde.” Riley sabia bem demais como ? que ele se estava a sentir. A ironia era evidente. Ali estava ela a dar o couro pelo caso Mullins. Entretanto, no Delaware, o Bill sentia como que se o seu fracasso passado tivesse custado a vida a uma terceira mulher. Riley pensou de imediato em ir ter com Bill, apesar da viagem demorar pelo menos tr?s horas. “J? terminaste o que tinhas a fazer a??” Perguntou Bill. Riley tinha dito tanto a Bill como a Brent Meredith que naquele dia estaria no Maryland numa audi?ncia de liberdade condicional. “Sim,” Respondeu Riley. “Ainda bem,” Disse Bill. “Mandei um helic?ptero buscar-te.” “Fizeste o qu??” Disse Riley exasperadamente. “H? um aeroporto privado perto da?. Envio-te a localiza??o. O helic?ptero j? deve l? estar. A bordo segue um cadete que te leva o carro.” Sem dizer mais uma palavra, Bill desligou. Riley conduziu silenciosamente durante alguns instantes. Ficara aliviada quando a audi?ncia terminou. Queria estar em casa quando a filha regressasse da escola. N?o houvera mais discuss?es no dia anterior, mas April n?o dissera grande coisa. Naquela manh? Riley tinha sa?do antes de April acordar. Estivesse ou n?o pronta, j? estava a trabalhar no novo caso. Teria que falar com April mais tarde. Mas n?o teve que pensar muito mais para saber que estava certa. Deu meia volta e seguiu as indica??es que Bill lhe enviara. A cura mais segura para o seu sentimento de fracasso, seria apanhar outro assassino e faz?-lo enfrentar a justi?a – justi?a verdadeira. Chegara o momento. * Riley observou a rapariga morta no ch?o de madeira do coreto. A manh? estava luminosa e fresca. O coreto estava situado num mirante bem no centro da pra?a da cidade, cercado por ?rvores e relvados bem tratados. A v?tima era chocantemente semelhante ?s anteriores raparigas mortas nos meses precedentes. Estava deitada de barriga para cima e t?o macilenta que parecia, sem exagero, estar mumificada. A roupa suja e rasgada que outrora lhe servira, apresentava-se agora grotescamente larga no seu corpo. Apresentava cicatrizes antigas e feridas mais recentes do que pareciam ser marcas de um chicote. Parecia a Riley que teria cerca de dezassete anos, a idade das outras v?timas assassinadas. Ou talvez n?o, Pensou. Afinal, Meara Keagan tinha vinte e quatro. O assassino podia estar a alterar o seu Modus Operandi. Esta rapariga estava demasiado deteriorada para Riley conseguir determinar ao certo a sua idade. Riley estava entre Bill e Lucy. “Pareceu ter passado mais fome do que as outras duas,” Observou Bill. “Deve t?-la mantido cativa por muito mais tempo.” As palavras de Bill denotavam uma profunda auto repreens?o. Riley olhou para o parceiro. No seu rosto tamb?m era vis?vel uma indiz?vel amargura. Riley sabia em que ? que Bill estava a pensar. Esta rapariga estaria de certeza viva e j? prisioneira quando ele come?ara a investigar aquele caso e n?o descobrira nada. Bill sentia-se culpado pela sua morte. Riley sabia que ele n?o se devia culpar. Mesmo assim, n?o sabia o que dizer para o fazer sentir-se melhor. Os seus pr?prios remorsos do caso Larry Mullins haviam-lhe deixado um sabor amargo na boca. Riley virou-se para abarcar o lugar em que se encontravam. De onde estavam, a ?nica estrutura completamente vis?vel era o tribunal do outro lado da rua – um edif?cio de tijolo de grandes dimens?es com uma torre de rel?gio. Redditch era uma encantadora e pequena cidade colonial. Riley n?o ficaria propriamente admirada se o corpo ali tivesse sido colocado a meio da noite sem que ningu?m reparasse. A cidade j? estaria a dormir h? muito. A pra?a era delimitada por passeios pelo que, dessa forma, o assassino n?o deixara pegadas. A pol?cia local tinha vedado a pra?a e mantinha os curiosos ? dist?ncia. Mas Riley conseguia ver que alguns elementos da imprensa estavam reunidos junto ?s fitas amarelas que delimitavam o local onde o corpo havia sido encontrado. Riley estava preocupada. At? ?quele momento, a imprensa ainda n?o tinha feito a liga??o entre os dois homic?dios anteriores e o desaparecimento de Meara Keagan. Mas com este novo crime, o mais certo era algu?m conseguir fazer essa liga??o. O grande p?blico saberia mais tarde ou mais cedo. E depois a investiga??o seria bem mais dificultosa. Pr?ximo deles estava o Chefe da pol?cia de Redditch, Aaron Pomeroy. “Como e quando ? que foi encontrado o corpo?” Perguntou-lhe Riley. “Temos um varredor de rua que come?a a trabalhar antes da alvorada. Foi ele que a encontrou.” Pomeroy parecia estar muito abalado. Era um homem envelhecido e com excesso de peso. Riley pensou que mesmo numa pequena cidade como aquela, o mais prov?vel era que um pol?cia da sua idade j? tivesse lidado com um ou dois casos de homic?dio. Mas talvez nunca tivesse lidado com nada t?o perturbador. A Agente Lucy Vargas ajoelhou-se junto ao cad?ver e observou-o com aten??o. “O nosso assassino ? algu?m tremendamente confiante,” Disse Lucy. “Como chegaste a essa conclus?o?” Perguntou Riley. “Bem, ele est? a exibir os corpos,” Disse Lucy. “Metta Lunoe foi encontrada num campo aberto, Valerie Bruner ao lado de uma estrada. Apenas cerca de metade dos assassinos em s?rie transportam as suas v?timas para fora dos locais onde o crime ? perpetrado. Dos que o fazem, cerca de metade esconde-as. E a maior parte dos corpos que s?o deixados ? vista s?o despejados. Este tipo de apresenta??o sugere que ele ? bastante convencido.” Riley ficou satisfeita pelo facto de Lucy ter estado atenta nas aulas. Mas sem saber bem porqu?, julgava, por seu lado, que o objetivo deste assassino n?o estava minimamente relacionado com exibi??o de habilidades. Ele n?o estava a exibir-se ou a provocar as autoridades. O objetivo dele era outro e Riley ainda estava ?s cegas. Contudo, tinha a certeza que estava relacionado com a forma como o corpo estava deitado. Era t?o estranho como propositado. O bra?o esquerdo da rapariga estava esticado bem acima da cabe?a. O bra?o direito tamb?m estava esticado mas colocado de um lado do corpo. Mesmo a cabe?a, com o seu pesco?o partido, tinha sido endireitada para ficar alinhada t?o bem quanto poss?vel com o resto do corpo. Riley pensou nas fotos que vira das outras v?timas. Reparou que Lucy trazia consigo um tablet. Pediu-lhe, “Lucy, podes mostrar-me as fotos dos outros cad?veres?” Lucy demorou apenas alguns segundos a mostr?-las. Riley e Bill rodearam Lucy para ver as duas fotos. Bill apontou e disse, “O corpo de Meta Lunoe estava exatamente como este. Bra?o esquerdo levantado, bra?o direito ao lado do corpo. O bra?o direito de Valerie Bruner estava levantado mas o bra?o esquerdo estava ao longo do corpo apontando para baixo.” Riley abaixou-se, pegou no pulso do cad?ver e tentou mov?-lo. Todo o bra?o estava im?vel. O rigor mortis j? se tinha instalado em pleno. Era necess?rio um m?dico-legista para determinar a hora exata da morte, embora Riley tivesse a certeza de que esta rapariga estava morta h? pelo menos nove horas. E tal como as outras raparigas, tinha sido levada para aquele local pouco depois de ter sido morta. Quanto mais Riley olhava, mais algo a incomodava. O assassino dera-se a tanto trabalho para dispor o corpo. Tinha carregado o corpo pela pra?a, subido seis degraus e tinha-o manipulado meticulosamente. Ainda assim, a sua posi??o final, parecia n?o fazer sentido. O corpo n?o estava alinhado com nenhuma das paredes do mirante. N?o estava alinhado com a abertura do mirante ou com o tribunal ou com o que quer que fosse que Riley estivesse a ver. Parecia estar colocado num ?ngulo casual. Mas este tipo n?o faz nada de forma casual, Pensou. Riley pressentiu que o assassino estava a tentar comunicar alguma coisa, mas n?o fazia a m?nima ideia do que poderia ser. “O que te parecem as poses?” Perguntou Riley a Lucy. “N?o sei,” Disse Lucy. “N?o h? muitos assassinos que disponham os corpos. ? estranho.” Ainda est? mesmo muito verde, Fez quest?o de se recordar Riley. Lucy parecia ainda n?o ter abarcado o facto de que eles eram precisamente chamados a resolver os casos mais estranhos. Era essa a sua rotina. Para agentes experientes como Riley e Bill, as coisas estranhas j? se tinham h? muito tornado parte da sua normalidade profissional. Riley disse, “Lucy, vamos observar o mapa.” Lucy mostrou o mapa onde era poss?vel visionar os locais onde os outros dois corpos tinham sido encontrados. “Os corpos foram colocados numa ?rea bastante restrita,” Disse Lucy, apontando novamente. “Valerie Bruner foi encontrada a menos de dezasseis quil?metros do local onde Metta Lunoe foi descoberta. E esta est? a menos de dezasseis quil?metros do local onde Valerie Bruner foi encontrada.” Riley sabia que Lucy estava certa. No entanto, Meara Keagan tinha desaparecido a alguns quil?metros para norte em Westree. “Algu?m v? alguma liga??o entre os locais?” Perguntou Riley a Bill e a Lucy. “Nem por isso,” Disse Lucy. “O corpo de Metta Lunoe estava num campo ? sa?da de Mowbray. O de Valerie Bruner na berma de uma autoestrada. E agora este est? no meio de uma pequena cidade. Quase parece que o assassino est? ? procura de lugares que n?o t?m nada em comum.” Naquele preciso momento, Riley ouviu algu?m a gritar no meio dos curiosos. “Eu sei quem a matou! Eu sei quem a matou!” Riley, Bill e Lucy viraram-se. Um homem jovem acenava e gritava para l? da fita amarela da ?rea reservada ?s equipas de investiga??o. “Eu sei quem a matou!” Gritou o homem novamente. CAP?TULO OITO Riley olhou atentamente para o homem que gritava. Apercebeu-se que v?rias pessoas ? sua volta faziam gestos de concord?ncia com a cabe?a. “Eu sei quem a matou! Todos n?s sabemos quem a matou!” “O Josh tem raz?o,” Disse uma mulher que se encontrava ao seu lado. “S? pode ter sido o Dennis.” “Ele ? estranho,” Disse outro homem. “Aquele tipo foi sempre uma bomba rel?gio.” Bill e Lucy apressaram-se para o local onde o homem gritava, mas Riley permaneceu im?vel. Chamou um dos pol?cias que se encontravam fora da zona restrita. “Traga-mo c?,” Disse, apontando na dire??o do homem que gritava. Riley sabia que era importante separ?-lo do grupo. Se come?assem a correr hist?rias, a verdade poderia tornar-se imposs?vel de alcan?ar. Se ? que havia alguma verdade no que aquelas pessoas diziam. Para al?m disso, os jornalistas come?avam a rode?-lo. N?o era plaus?vel Riley interrogar o homem mesmo debaixo do nariz da imprensa. O pol?cia ergueu a fita amarela e conduziu o homem para junto de Riley. N?o parava de gritar, “Todos sabemos quem a matou! Todos sabemos quem a matou!” “Acalme-se,” Pediu-lhe Riley, levando-o pelo bra?o para um local onde pudessem falar tranquilamente sem serem ouvidos. “Perguntem a qualquer pessoa sobe o Dennis,” Dizia o homem num grande estado de agita??o. “? solit?rio. ? estranho. Assusta as raparigas. Aborrece as mulheres.” Riley pegou no seu bloco de notas. Bill fez o mesmo. Viu o intenso interesse no olhar de Bill. Mas tamb?m sabia que aquele depoimento devia ser encarado com muito cuidado. Mal sabiam o que quer que fosse. Para al?m disso, aquele homem estava t?o agitado que Riley estava receosa do seu julgamento, Parecia ser tudo menos neutro. “Qual ? o seu nome completo?” Perguntou Riley. “Dennis Vaughn,” Respondeu o homem. “Continua a falar com ele,” Pediu Riley a Bill. Bill acenou e continuou a tirar notas. Riley regressou ao mirante onde o chefe da pol?cia Aaron Pomeroy ainda se encontrava junto do corpo. “Chefe Pomeroy, o que me pode dizer sobre Dennis Vaughn?” Riley percebeu pela sua express?o que o nome lhe era mais do que familiar. “O que quer saber a seu respeito?” Perguntou. “Pensa que pode ser um prov?vel suspeito?” Pomeroy co?ou a cabe?a. “Agora que o refere, talvez. Pelo menos talvez seja algu?m com quem valer? a pena falar.” “Porqu??” “Bem, temos tido imensos problemas com ele ao longo dos anos. Atentado ao pudor, comportamento obsceno, esse tipo de coisa. H? alguns anos atr?s, espeitava pelas janelas e passou algum tempo no Centro Psiqui?trico de Delaware. No ano passado, ficou obcecado com uma cheerleader do secund?rio, escreveu-lhe cartas e perseguiu-a. A fam?lia da rapariga obteve uma ordem do tribunal, mas ele ignorou-a. Por esse motivo, esteve preso seis meses.” “Quando ? que foi libertado?” Perguntou Riley. “Em Fevereiro.” Riley estava a ficar cada vez mais interessada. Dennis Vaughn tinha sa?do da pris?o pouco antes dos homic?dios terem come?ado. Seria uma coincid?ncia? “As raparigas e mulheres da terra come?am a queixar-se,” Disse Pomeroy. Os boatos dizem que anda a tirar-lhes fotos. Ainda n?o ? o suficiente para o prendermos.” “Que mais me pode dizer a seu respeito?” Perguntou Riley. Pomeroy encolheu os ombros. “Bem, ele ? uma esp?cie de vagabundo. Deve ter uns trinta anos e nunca se conseguiu aguentar num trabalho. N?o liga nenhuma ? fam?lia que tem na cidade – tias, tios, av?s. Sei que ultimamente anda muito soturno. Culpa toda a cidade pelo facto de ter estado na pris?o. Est? sempre a dizer ?s pessoas, ‘um destes dias,’” Êîíåö îçíàêîìèòåëüíîãî ôðàãìåíòà. Òåêñò ïðåäîñòàâëåí ÎÎÎ «ËèòÐåñ». Ïðî÷èòàéòå ýòó êíèãó öåëèêîì, êóïèâ ïîëíóþ ëåãàëüíóþ âåðñèþ (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=43693559&lfrom=688855901) íà ËèòÐåñ. Áåçîïàñíî îïëàòèòü êíèãó ìîæíî áàíêîâñêîé êàðòîé Visa, MasterCard, Maestro, ñî ñ÷åòà ìîáèëüíîãî òåëåôîíà, ñ ïëàòåæíîãî òåðìèíàëà, â ñàëîíå ÌÒÑ èëè Ñâÿçíîé, ÷åðåç PayPal, WebMoney, ßíäåêñ.Äåíüãè, QIWI Êîøåëåê, áîíóñíûìè êàðòàìè èëè äðóãèì óäîáíûì Âàì ñïîñîáîì.
Íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë Ëó÷øåå ìåñòî äëÿ ðàçìåùåíèÿ ñâîèõ ïðîèçâåäåíèé ìîëîäûìè àâòîðàìè, ïîýòàìè; äëÿ ðåàëèçàöèè ñâîèõ òâîð÷åñêèõ èäåé è äëÿ òîãî, ÷òîáû âàøè ïðîèçâåäåíèÿ ñòàëè ïîïóëÿðíûìè è ÷èòàåìûìè. Åñëè âû, íåèçâåñòíûé ñîâðåìåííûé ïîýò èëè çàèíòåðåñîâàííûé ÷èòàòåëü - Âàñ æä¸ò íàø ëèòåðàòóðíûé æóðíàë.